“A nossa cultura e modo de trabalhar ainda continuam a ser, para as autoridades locais, muito difíceis de entender, não conseguem acompanhar os objectivos e a forma que damos às nossas coisas. Penso, também, que muitas vezes o desconhecimento mútuo, infelizmente, cria barreiras de ambos os lados” estacionamento aqui torna-se mais fácil e disponível e, na organização de eventos, ao fim-de-semana, deixa de haver a preocupação com os vizinhos. Como explica que os emigrantes solicitem esses serviços quando podem recorrer, e até gratuitamente, a outras instituições vocacionadas para a resolução dos problemas que apresentam? Acho que todos os serviços têm o seu lugar e são importante para a comunidade, pois nem todos somos obrigados a vestir a mesma “t-shirt”, usar a mesma cor, nem comprar nas mesmas lojas. Não me cabe, a mim, falar dos outros serviços existentes, com que já fizemos parcerias, mas posso falar das nossas diferenças. No “TEC” há a necessidade de cobrar uma quantia pelos serviços porque não somos subsidiados por nenhuma organização ou governo e temos de pagar os nossos custos. Vivemos daquilo que os clientes pagam e da rentabilidade que nos trazem as áreas comerciais. Por outro lado, o nosso horário de atendimento pessoal é muito mais alargado. Existe uma permanente preocupação em que as pessoas saiam com os problemas apresentados resolvidos e não apenas a preocupação de os reencaminhar. Temos o apoio do BES e todo o tipo de serviços financeiros disponíveis. Temos apoio legal, quer aqui, em Inglaterra, quer em Portugal, temos muitos outros serviços que oferecemos e muitos outros em fase de projecto. Se as pessoas preferem pagar no “TEC” em vez de irem a organizações cujos serviços são
gratuitos, não temos de ser nós a matar a cabeça para encontrar as razões, mas sim essas organizações é que devem meditar e encontrar respostas à sua pergunta... Não somos melhores nem piores que os outros, consideramo-nos, apenas, diferentes, mas trabalhando, como todos os outros, para o bem comum. Acha que a Embaixada ou os serviços consulares de Portugal poderiam (leia-se deveriam) apoiar e colaborar nas acções que o “TEC” desenvolve? Penso que isso seria, mutuamente, um passo importante a dar. A nossa leitura dos consulados e embaixada é que devem também apoiar as comunidade por todo o país e não exclusivamente as das grandes cidades onde se encontram. O “TEC” poderia tornar-se um excelente e importante “braço” do consulado e todos tirariam proveito dessa situação. Tal já existiu, no passado, com a “META”, mas inexplicavelmente foi-nos retirado esse “privilégio”. Mais uma vez não nos cabe, a nós, tirar ilações dos serviços consulares ou da embaixada. Caberia ao Conselho das Comunidades, ao embaixador e aos cônsules-gerais trabalharem em conjunto connosco e com outras organizações similares, para melhorarem os serviços de apoio aos portugueses. E criarem mais postos consulares, ou criarem o consulado itinerante, tal como já foi organizado pela “META” com o cônsul da Polónia. Os bons exemplos podem e devem ser seguidos. O “TEC” já realizou vários eventos. Conta com algumas parcerias, privadas ou públicas, na realização desses eventos?
Já realizámos, com sucesso, alguns eventos ao serviço da comunidade e vamos continuar a fazê-lo, tentando atingir intervalos cada vez mais curtos. O próximo será a vinda do cantor Fernando Correia Marques, o primeiro de muitos artistas que estamos a contar trazer à nossa região, descentralizando os eventos. Cabe-nos, também, desenvolver outros eventos de cariz mais informativo, educativo e cultural, como foram a conferência sobre emigração, ministrada pelo gabinete de advogadas de Londres, o “Nabas Legal Consultant” (a próxima conferência a agendar será sobre reformas); o lançamento do livro do escritor Luis Abisague, as festas do 10 de Junho, assim como a divulgação do uso de contraceptivos e uma sessão de aconselhamento de hábitos alimentares, abordando situações como a bulimia e a anorexia. Depois, teremos o “work shop” para ingleses sobre o Fado, a apresentação de produtos portugueses, o desenvolvimento de uma vertente desportiva, os bailaricos ao longo do ano, alusivos a temas e datas específicas, o turismo em Portugal… e muitos outros, pela mão de outras organizações ou grupos que queiram utilizar as instalações para o efeito. O que é o “Clube T”? Tem justificado, ao longo deste ano, a sua existência? Sem dúvida! Um clube, uma associação, seja como queiram chamar, faz falta nesta comunidade que se queixa de que não há nada para fazer a não ser trabalhar e ir para casa. Os jovens não têm actividades extra curriculares para se ocuparem, por isso urge a implementação dessas actividades. Nós não
temos, como os ingleses, a cultura do pub e, por isso, procuramos actividades que vão de encontro às nossas tradições. Agora, como tudo na vida, em todas as caminhadas há sempre uma aprendizagem e para isso é preciso experimentar, tentar, melhorar, fazer menos bem e aprender. Nem tudo na vida é “só juntar água”, é preciso dar tempo para que as coisas cresçam, se desenvolvam e estabilizem. Se tornem adultas e maduras. Houve alguns problemas com a unidade de restauração que deveria apoiar o “Clube T”, que se reflectem, agora, em prejuízo do próprio “TEC”. Que desenvolvimentos há a registar nesta situação? Sentem-se prejudicados por acções a que são alheios? Depois de um período de incertezas e algumas dúvidas, um novo processo deu entrada no Borough Council. O 1º andar já está sob nova gerência, depois do “TEC” ter dado tudo por tudo para que o apoio de “catering” continuasse, e assim se conseguiu. Agora, com a situação mais estabilizada, há então mais tempo para desenvolver actividades. Não podemos negar que houve prejuízos para o “TEC”, por ter ajudado nas actividades do “Clube T”. Os outros projectos ficaram um pouco descalços e teve de haver mesmo um investimento financeiro no clube, por parte do “TEC”. Os erros de um marinheiro (membro) prejudicam, sempre, todos os outros que navegam no mesmo barco e isso aconteceu no “TEC”. Mas como membros da mesma equipa, saltámos para ajudar a reparar os erros e assumi-los. É preciso continuar a navegar... Acha que as entidades oficiais souberam separar as águas, isto é, não misturaram o incidente ocorrido com todo o processo de implementação do “TEC”? Acho que sim, ou pelo menos há o beneficio da dúvida. A nossa cultura e modo de trabalhar ainda continuam a ser, para as autoridades locais, muito difíceis de entender, não conseguem acompanhar os objectivos e a forma que damos às nossas coisas. Penso, também, que muitas vezes o desconhecimento mútuo, infelizmente, cria barreiras de ambos os lados. A mim só me fica a dúvida se, por vezes, essa falta de conhecimento não dará um certo jeito?! Tudo se resume à forma como tem sido entendida e implementada a diversidade... e o pisar das fronteiras entre a integração e a assimilação. O futuro é já amanhã. Que planos têm para este ano que acaba de entrar e que se adivinha difícil? Embora já tenha mencionado alguns dos nossos projectos, volto a referir que o maior, e mais importante de todos, são as obras do 2º andar, que será dividido em vários escritórios de forma a criar um centro de serviços em português: a criação de uma biblioteca e/ou uma pequena loja onde se possam comprar e ler livros, ouvir música e ter acesso à cultura portuguesa; o desenvolvimento das aulas de inglês, assim como das aulas de português; a dinamização e diversificação das conferências e actividades lúdicas. Mas, para isso, é preciso que nos deixem trabalhar em paz. Não temos, nem nunca tivemos, culpa do insucesso dos outros. Este Centro não foi criado contra nada nem contra ninguém! Somos todos pessoas de convicções fortes e determinadas – e este segundo ano terá de ser o ano da concretização do sonho da comunidade portuguesa residente na área, em harmonia com tudo e todos.