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15 Janeiro 2009
aí nada se fazia. Fui o primeiro a cantar para 125000 pessoas o hino nacional, no Estádio da Luz, no jogo contra a Estónia (10.11.93), dia anterior em que o Dino Meira faleceu e que me tinha deixado à espera dele na cabine de som, juntamente com o Rui Reininho e o Represas. Fui o primeiro, cá, a falar no meio de um jogo internacional e a puxar pelo público no meio de jogo, como se fazia na Holanda, coisa que até lá era excomungado. Ó pá, outros tempos… Eu era conhecido pelo “Fernando Maluco”… e ainda hoje o sou, sabe porquê? Porque sempre disse o que os outros pensavam e não diziam. Como agora, meu amigo… Mas o importante é que fiz o que a minha alma dizia para fazer e em cada jogador deixei um amigo e, em muitos, mais do que um amigo, quase uma irmandade e em cada colega outro amigo (fui presidente da Associação dos Funcionários da FPF por 5 vezes, pertenci à comissão de trabalhadores). Em cada jornalista/cronista/radialista deixei outro amigo e até em colegas federativos estrangeiros amigos deixei. Percebe-se, pelo seu percurso de vida, que será um homem de esquerda. Ainda mantém esse fervor idealista dos tempos do MDP/CDE ou já está mais calmo? Serei sempre esquerdista, escrevendo com a mão direita, hehehe! O MDP/CDE foi bom… o CDE foi melhor… a UDP foi ainda melhor… mas o célebre sistema infelizmente é igual para todos. Cá em baixo todos gritam e todos têm razão… o problema é que quando estão em cima… são todos iguais! Meu amigo, ser de esquerda não significa ser um comedor de criancinhas… Ser de esquerda também poderá ser cristianista, é ser solidário, é fazer bem sem olhar a quem, é dividir, é dar e não esperar receber… Todas as minhas cantigas são de intervenção e, graças a elas, a brincar se dizem coisas sérias. C o m o “ Ya , M e u ” f a l o u - s e d e toxicodependência, projecto vida… Com “O Burrito” falaram de autoestradas, de poluição, da extinção dos mesmos… Com “A Pulga” falaram de agressões, de vítimas, e hoje já existe a APAV. Com “Melga” se falou do nuclear, da Mururoa e dos “amigos de Peniche”. Com “O Carocha” falou-se dos anseios do povo, do crescer, de ter algo de seu…(o carro do povo). Com “A Foca” fala-se das peles, dos massacres das focas bebés, da aniquilação das baleias, etc. Caro amigo, ser esquerdista é um ideal, um sentimento, uma busca constante do ser, uma redescoberta em nós, uma nova motivação, enfim é lutarmos por aquilo em que acreditamos, seja de que maneira for. Como estamos nós, portugueses, de política e de políticos? E os burros somos só nós? E os outros? Amigo, não é só em Portugal que estamos mal… estamos mal em todo o Mundo. Não basta dizer que ele é como o Pinóquio… A toda a hora a conjuntura muda. Imagina que, de hora a hora, mudas de mulher… Uns e umas gostam, outras e outros nem por isso. Nem para advogado fui, pois não gosto de mentir… Quanto mais para político… Já se deixou da chamada “música de intervenção”? Trocou-a pela música mais popular por questões comerciais? Já te respondi mais atrás. Tenho muito orgulho em ter tocado e actuado, desde que cheguei a Portugal e a partir de 1971/72, com pessoas como o Samuel, JJ Letria, JM Branco, Xico Fanhais, Zeca Afonso, o pessoal da Comuna teatro experimental Melim Teixeira, Manuela de Freitas, João, etc., etc. Tenho orgulho de ter sido membro fundador da Pró-Fapir, de ter sido membro dos Gac, do meu GDP. Nunca reneguei, nem renegarei, o meu passado e com todos aprendi a ser o homem que hoje penso que sou - mais justo comigo e com os outros.
“Eu era conhecido pelo “Fernando Maluco”… e ainda hoje o sou, sabe porquê? Porque sempre disse o que os outros pensavam e não diziam. Como agora, meu amigo...” Nunca serei o Judas da música. Se é comercial ou não…. isso é outra questão. Não tenho nenhum partido, nem ninguém a sustentar-me, por isso é sempre o público que ou gosta ou não gosta. Uma coisa é certa: não roubei, não roubo canções de ninguém para atingir os meus objectivos. Há quem o catalogue de cantor pimba, na senda de Toy, Quim Barreiros e outros. Considera-se como tal ? Nessas coisas terá de ir ao arquivo da TVI e pedir uma entrevista que dei à Dra. Fernanda Mestrinho (1996) em horário prime-time e num programa a que só iam presidentes disto e vices daquilo! Teve influências de Quim Barreiros ou a semelhança das vossas músicas e letras, pelo menos na brejeirice, é coincidência? Não… como sabe, a cultura portuguesa é
brejeira, ou seja, poderá ter dois sentidos, como a Lei, e ela nasceu no Norte e vai até ao Sul. Se reparar, o folclore minhoto é semelhante ao algarvio nas deixas, nas frases, no sentido. Só a cretinice lisboeta, com os intelectuais de meia tigela, é que poderá dizer o contrário. Mas graças a mim o Quim tornou-se na Quimania pois, indirectamente, fui o causador de terem existido os populares mixes e eu, sem conhecer nenhuma das músicas dele e de outros como ele, me pus a cantá-las (1990/91 em diante). Mas a verdade tem que ser dita - tive a ajuda do meu querido amigo angolano Carlos Ribeiro, a quem ofereci a fita com os cinco primeiros temas (4 deles cantados por mim) e ele fez o favor de os pôr a passar na antiga “Comercial”. Como também fui eu quem lhe pediu, e ao Luís
SEXTA, 16 E SÁBADO, 17
Espectáculos em Londres e Thetford Fernando Correia Marques vem mais uma vez ao Reino Unido, onde já esteve noutras ocasiões, das quais, segundo nos relata na entrevista, guarda excelentes recordações. Assim, amanhã, sexta-feira, dia 16, o músico actua no recinto do Sporting de Londres, colectividade que ele já bem conhece, e no sábado, dia 17, apresenta-se ao público de Thetford num espectáculo a realizar no Carnegie Room, pelas 21 horas. A presença de Fernando Correia Marques em Thetford fica a dever-se ao promotor Francisco Maciel (O “Ti Chico” do “Clube T”) que, na sua recente deslocação a Portugal, negociou com o artista a sua vinda a esta cidade, iniciando, deste modo, uma sequência de espectáculos com artistas portugueses, estando já na forja a vinda de Roberto Leal a Thetford. Amigo do cantor, para quem já fez a promoção de outros espectáculos, Francisco Maciel mostra-se confiante na receptividade dos portugueses aqui residentes, que poucas ou nenhumas oportunidades têm de assistir a actuações de artistas portugueses de notória popularidade, como é o caso de Fernando Correia Marques, celebrizado por temas como “O Burrito”, “Melga” e muitos outros que os emigrantes residentes nesta zona, e em todo o Reino Unido, sobejamente conhecem. Os bilhetes podem ser adquiridos em vários cafés e restaurantes de Thetford, no “TEC”, no “Clube T” ou no próprio dia, no local do espectáculo.
A r r i a g a e a o Va s c o D i n i s , e n t ã o n a “Renascença”, para darem força ao Tony Carreira, quando o lancei em Portugal. Vem actuar, no próximo fim-de-semana, no Sporting, em Londres. Já cá esteve antes? E sente algo de especial quando actua para os emigrantes? Eu tenho um fascínio enorme pela GrãBretanha. A primeira vez que aí estive foi em Norwich, em 1981, a actuar no bar/restaurante “O Navegador”, pertença de um casal amigo do tempo da tropa. Cheguei com o restaurante vazio e parti 15 dias depois com filas à porta do mesmo. Desde aí tenho voltado lá e conquistado o meu espaço junto da comunidade lusa, a quem eu devo muito do que sou. O “Dia de Portugal”, em Londres, é sempre um marco histórico na vida de todos nós… e eu já tive esse privilégio 3 ou 4 anos. O Sporting de Londres é quase como que uma paragem obrigatória. Pensa que deveria existir algum apoio institucional que ajudasse a promover a realização de espectáculos para os emigrantes portugueses? Haver, há, mas é só para quem faz parte do círculo ministerial ou presidencial. A música não deveria ser entendida, também, como veículo de divulgação da nossa cultura? Pensa que os responsáveis por esse pelouro estão conscientes de tal ou só se interessam pelos emigrantes em épocas eleitorais? Qualquer dúvida terá que ser posta aos emigrantes… eu não duvido que as eleições, por vezes, ajudam alguns artistas. Como vê, a música é a parente pobre da cultura portuguesa. Os livros têm desconto de 5% no IVA e nós temos 20% e já tivemos 21% . A música é tratada como o papel higiénico, que é considerado de luxo, visto também pagar 20%. E como só temos dois deputados artistas musicais, perdemos sempre. Está contente com a sua carreira? Se pudesse recuar no tempo abraçaria, à mesma, a carreira musical? Como já disse, uma carreira constrói-se… A moda faz-se. Faria sempre a mesma coisa…. Arriscaria sempre como arrisquei, com os erros se conseguem as vitórias. Além das mulheres que já tive, e que espero continuar a ter, e dos meus filhos, só tenho mais estes amores… música e futebol! Tem três filhos mas só o Axel lhe segue as pisadas. Os outros não vão em cantigas? O Axel (30) tornou-se num fenómeno e estou muito feliz com isso… faz as suas músicas, escreve a sua poesia e livros, é presidente da Wrestling Portuguesa e esteve, até há 1 mês atrás, no top dos mais vendidos, com o tema “Fica Comigo”, das telenovelas. A outra é dos “Morangos com Açúcar”. O Miguel (19), está na faculdade, onde tira o curso de cinema e realização tendo já feito uma obra experimental e também participou no 2ª versão do “Carlitos”, em 1998. O Rafael (8), já cantou a 3ª versão do “Carlitos” na TV e já está no curso de piano. A vida é deles… se gostam, que lutem para ter o seu espaço pois eu também lutei e luto. Só assim se dá valor ao que temos. Tenho muito orgulho neles. Falta-me é uma cachopa…. Alguma se oferece como voluntária? De 10 em 10 eu provo a fruta!!! Quer deixar alguma mensagem especial para todos os portugueses emigrantes? Força, rapaziada, que os tempos são chatos. Saúde para todos e sejam solidários uns com os outros, ok? Não resisto a esta última pergunta. Porquê o chapéu à cowboy? Porque não gostava dos outros, mas agora já há mil e um gajos e gajas a copiar… por isso já arranjei outro tipo (hehehe)… de chapéu, claro. Entrevista de DANIEL SANTOS