Leis De Asimov

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CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

TAB SAÚDE, CIÊNCIA & VIDA 31

Vida, Saúde & Ciência A31

JORNAL DO BRASIL

DOMINGO, 15 DE JULHO DE 2007

A ênfase dada à colaboração e à interatividade entre humanos e robôs, bem como a inserção gradual dessas máquinas inteligentes na vida diária, gera a necessidade de normas de segurança. Na ficção, as regras mais famosas para a convivência em harmonia de humanos e robôs foram criadas pelo escritor russo imigrado para os EUA Isaac Asimov. As três leis da robótica expressas em Eu, robô (1950) – narrativa adaptada para o cinema em 2004 – estabelecem que um robô não pode machucar um ser humano, seja por ação ou omissão, deve obedecer ordens, salvo se entrarem em conflito com o dever de proteger a vida, e resguardar sua própria existência, a não ser que isso coloque em risco uma pessoa. De acordo com especialistas, as leis de Asimov não são adequadas a todos os contextos. Jackson Matsuura, coordenador da Itandroids, equipe brasileira de robôs do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e técnico da seleção que viajou para Atlanta para a RoboCup 2007, expli-

Máquina seria soldado em guerras

I

“Por que robôs não seriam capazes de fazer a guerra, se podem jogar futebol?” Quem faz a pergunta é Alexandre Simões, integrante da seleção brasileira em Atlanta para a RoboCup 2007. Simões informa que a Darpa, agência americana responsável pelo desenvolvimento de novas tecnologias de Defesa, investe pesado em pesquisas na área da robótica. A pretensão da agência é enviar robôs em vez de soldados para as áreas de conflito. Robôs que levantem as questões éticas discutidas por filmes como Metrópolis (1927), 2001: Uma odisséia no espaço (1968), Blade runner (1982), Matrix (1999) e IA: Inteligência artificial (2001) ainda não são uma realidade. Para Simões, máqui-

Relação entre robôs e homens exige leis reguladoras ca que as recomendações geram problemas de interpretação. – Se um médico pede a um robô que aplique determinada injeção a um paciente, por exemplo, como a máquina distinguirá se está fazendo bem ou mal à pessoa? Com essa ação, pode tanto salvar uma vida como cometer eutanásia – diz Matsuura. Para Rosário, o ideal é criar dois grupos de regras: um mais geral e outro restrito, aplicado conforme as atividades desempenhadas pelo robô. – Todas as condições de perigo para o homem precisam ser previstas – defende. Ubbo Visser, coordenador da RoboCup 2006, que aconteceu em Bremen, Alemanha, acredita ainda ser cedo para pensar em uma legislação especial para robôs. Matsuura pondera que, para dotar os robôs de capacidade decisória confiável, é preciso entender mais sobre o próprio funcionamento cognitivo do ser humano. – Hoje, eu não confiaria em um robô-babá ou em um para cuidar de doentes – comenta o pesquisador do ITA. – Para vigilância ou limpeza, não vejo problemas. Essas tarefas simples também não exigem leis especiais sobre a interação humano-robô, já que os homens e as máquinas não travam um contato tão próximo. Toshiharu Mukai, um dos pesquisadores envolvidos no desenvolvimento do Ri-Man, sente falta de orientações específicas para a construção de robôs que dividem o ambiente

nas tão sofisticadas como as retratadas pelos estúdios de cinema estarão disponíveis no mercado dentro de 50 ou 100 anos. – Competições como a RoboCup servem para desmistificar o conceito de robô – conta Simões. – Queremos que as pessoas percam o medo e não vejam os robôs como máquinas mais perigosas

com seres humanos. – As regras atuais são próprias para robôs industriais – explicou Mukai – Não existe nenhuma diretriz para robôs que têm contato físico direto com seres humanos, como é o caso do Ri-Man. O robô humanóide japonês mede 1,58

metros e pesa 100 quilos. O Ri-Man foi projetado para cuidar de idosos. Uma grande parcela da população do Japão está na terceira idade e o país tem enfrentado problemas com o número de cuidadores disponíveis. O Ri-Man é equipado com câmeras, sensores táteis e para cheiro e sistemas de localização, fala e reconhecimento de comandos de voz. Até o momento, o robô é capaz de carregar volumes com até 35 quilos. Os cientistas acreditam que, com o prosseguimento das pesquisas, em cinco anos o robô será capaz de levantar um ser humano. – Mas antes de chegar ao mercado, os custos de produção precisam ser calculados e leis sobre a interação humano-robô têm de ser estabelecidas – conta Mukai.

“ “

Não existe nenhuma diretriz para robôs que têm contato físico direto com seres humanos Toshiharu Mukai, engenheiro que desenvolveu o Ri-Man

Hoje, eu não confiaria em um robô-babá ou em um para cuidar de doentes Jackson Matsuura, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)

Regras do escritor imigrado para os EUA Isaac Asimov estabelecem que um robô não pode machucar um ser humano, seja por ação ou omissão, deve obedecer ordens, salvo se entrarem em conflito com o dever de proteger a vida, e resguardar sua própria existência, a não ser que isso coloque em risco uma pessoa

AFP

Juliana Anselmo da Rocha

na dependem de uma programação anterior: – E somos nós, os seres humanos, que inserimos esses códigos na máquina – lembra. Rosário esclarece que há 20 anos, quando começaram as pesquisas nos campos da robótica e da inteligência artificial, os robôs eram pensados como substitutos do homem. Hoje, a tônica dos estudos neste campo é outra: o objetivo é desenvolver máquinas inteligentes que trabalhem em colaboração com os seres humanos. – Os robôs devem desenvolver as tarefas mais árduas ou repetitivas, em cooperação com as pessoas – pondera Rosário. É nessa linha que surgem os robôs domésticos e de entretenimento. Exemplos do grupo são o Aibo, cão-robô da Sony, não mais fabricado, e o Ri-Man.

Agência americana responsável por novas tecnologias de Defesa tem investido na área de robótica do que realmente são. João Maurício Rosário, do Laboratório de Automação e Robótica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), acredita que as histórias ficcionais sobre disputas entre humanos e robôs são factíveis. Mas, de acordo com o pesquisador, todas as tarefas desenvolvidas pela máqui-

AFP

ROBÓTICA I Na ficção, as regras mais famosas são do escritor russo Isaac Asimov, feitas em 1950

Robôs inteligentes, como o Ri-MAn, poderiam colaborar com humanos

I Comente a necessidade de leis para robôs em www.jb.com.br/24 horas

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