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JORNAL DO BRASIL
DOMINGO, 18 DE MARÇO DE 2007
INFORMÁTICA I Empresa canadense demonstra primeiro modelo comercialmente viável
Chip quântico resolve enigma DIVULGAÇÃO
Juliana Anselmo da Rocha
Para demonstrar a capacidade seu computador quântico, a empresa canadense D-Wave Systems pôs a máquina para resolver diagramas de Sudoku. A apresentação do protótipo do primeiro modelo quântico comercialmente viável aconteceu no Museu de História da Computação, em Mountain View, nos EUA, atraindo a atenção e a desconfiança de pesquisadores e hackers do mundo todo. Nos computadores tradicionais, toda a informação é construída pelo posicionamento de “chaves” , que são ligadas ou desligadas para traduzir os dados para o código binário. Nos computadores quânticos, as menores unidades da matéria cuidam do processamento. – Átomos em estados diferentes de energia são os componentes de um chip quântico – explica o professor do Instituto de Física da UFRJ Luiz Davidovich. – Em vez dos bits, os zeros e uns que representam a informação, temos os q-bits. No mundo das partículas, é possível estar em dois lugares ao mesmo tempo. E é essa a grande vantagem dos q-bits: são ao mesmo tempo zero e um – chaves ligadas e desligadas que representam a seqüência da informação. – A superposição permite maior velocidade – completa Davidovich. – Computadores quânticos conseguem solucionar cálculos complexos, como criar criptografias invioláveis, para os quais as máquinas atuais não apresentam resultados. Orion realizou três ativida
des: buscou entre uma série de estruturas aquela que se encaixava com perfeição em uma molécula-alvo, criou complicados planos de assentamento e preencheu diagramas de Sudoku. – Embora outros chips quânticos já tenham sido construídos, não eram tão poderosos – comemora Herb Martin, executivo-chefe da D-Wave Systems. Para o ano que vem, a empresa promete rodar aplicações mais robustas. – Alugaremos sua capacidade por 100 dólares o minuto de processamento – planeja Martin. A velocidade da máquina é medida pela freqüência dos processadores, ou seja, pela quantidade de instruções – as ordens que enviamos ao chip toda vez que solicitamos a realização de uma tarefa – com as quais são capazes de lidar por segundo. – As leis da física impõe limitações a qualquer tipo de computador, seja comum ou quântico – pondera o pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas
Físicas Ivan Oliveira. – Estima-se em 10 elevado a 51 Hz a frequência limite natural de um computador quântico. Os computadores atuais operam em torno de 10 elevado a nove Hz. O tamanho das instruções é medido em bits – ou q-bits – e determina sua complexidade. Orion opera com ordens de 16 q-bits e supera modelos anteriores de 12 q-bits, mas ainda está aquém da “inteligência” dos computadores modernos. Apesar de um q-bit conseguir armazenar mais dados que um bit, os 16 q-bits do computador quântico da D-Wave ainda não superam os processadores de 32 ou 64 bits instalados nos PCs espalhados pelas casas e escritórios. – Precisaríamos de informações detalhadas da D-Wave para tirarmos conclusões sobre a operação de Orion – diz Davidovich. – Uma notícia assim faz subir em centenas de dólares as ações da empresa, mas ainda é prematura para a ciência.
Mas para que serve isso afinal?
I
Mantido próximo a zero grau absoluto, o chip atraiu a atenção de cientistas
Os computadores quânticos vêm resolver um problema previsto em 1965 por Gordon Moore, co-fundador da Intel. Moore verificou que a cada 18 meses o número de transistores – as “chaves” que processam os dados – por polegada quadrada em um chip dobrava. A velocidade dos PCs crescia, mas surgia o entrave da escala: como colocar mais chaves no mesmo espaço? Estima-se que o limite seja alcançado em 2020, mas especialistas dizem que a previsão de Moore pode deixar de funcionar. De todo modo, novos materiais e formas de processamento de dados estão sob análise. O computador quântico é uma das soluções propostas, mas Davidovich alerta ser improvável sua universalização. – Os modelos quânticos serão úteis para cálculos pesados e gerenciamento de bancos de dados – explica. – Ficarão restritos às universidades e empresas. O modelo quântico também tem problemas de escalabilidade, pois muitos átomos no mesmo chip causam “interferência” interna. Filtrar esse ruído é uma das dificuldades para levar essa novidade para a casa. – Uma alteração mínima no ar ao redor do chip pode causar a perda da informação – diz Davidovich. Oliveira é mais otimista e lembra que “ninguém imaginava um laptop, quando em 1936 o matemático Alan Turing inventou a computação”. (J.A.R)
Além do fato I NOEL DE CARVALHO, secretário de Habitação do Estado do Rio de Janeiro
Sem inclusão digital é impossível criar uma sociedade mais justa A exclusão digital aprofunda as diferenças socioeconômicas, as desigualdades sociais e regionais, e é também estímulo para a violência. O objetivo da inclusão digital é, por um lado, equipar o cidadão com instrumentos que lhe permitam inserção no mercado de trabalho e, por outro, lhe abram a janela para o mundo do conhecimento e para a interação com as pessoas. Desta forma, se pretendemos uma sociedade mais justa, deve ser garantido à população o direito de acesso à informática, tanto no âmbito técnico e físico, quanto no intelectual. Isso abrange educação, formação, participação e criação. Estamos falando de equiparação de oportunidades,
sem a qual a cidadania é apenas uma palavra desprovida de conteúdo. É claro que toda sociedade inclui extratos com necessidades especiais. Esses segmentos, é óbvio, devem ter um tratamento diferenciado, considerando-se suas limitações. Não podemos esquecer, também, que um programa de inclusão digital deve abranger todo o território nacional. Segundo a consultoria comScore Networks, o Brasil tem quase 15 milhões de pessoas com acesso à internet – fato que torna o país 11º do mundo em quantidade de usuários da Rede. A pesquisa registrou um aumento de 16% no número de internautas no Brasil entre janeiro do ano passado e o deste ano. Entre os 15 paí-
ses com o maior número de internautas, o Brasil teve o quinto maior crescimento na quantidade de usuários, só ficando atrás de Índia (33%), Rússia (21%), China (20%) e México (18%). Apesar dos pesares, o Brasil avança. O informativo online WNews, de outubro do ano passado, mostra que, entre 40 nações avaliadas, o Brasil é o sétimo que mais evoluiu no oferecimento aos cidadãos de acesso à tecnologia digital. A evolução das tecnologias digitais é mais veloz do que as transformações de valores e atitudes na sociedade. Recentemente, por um convênio entre Cehab-RJ e Faetec, formamos 320 jovens da comunidade Nova Sepetiba, na Zona Oeste. Agora eles são técnicos e dominam vá-
rios programas de informática. Temos certeza de que, doravante, terão outra visão do mundo. Estamos em meio a uma veloz revolução tecnológica, onde internet, computadores pessoais e automação de serviços diversos são necessidades essenciais. Foi, portanto, uma boa iniciativa
Informática ajuda cidadão a entrar no mercado de trabalho e acessar fontes de conhecimento o programa PC Conectado, do governo federal, que cria linhas especiais para aquisição do primeiro computador a preço baixo, destinado a professores, famílias com renda entre cinco e 10 salários mínimos e micro e pequenas empresas. A inclusão digital é tam-
bém um fator importante no combate à violência, na medida em que amplia as oportunidades de trabalho e tira jovens da marginalidade. Entendida assim, e respeitando-se as condições concretas das comunidades a serem integradas, a capacitação e o treinamento devem ser sempre previstos nos orçamentos públicos, no âmbito de uma ação conjunta envolvendo todos os poderes. No sábado que vem, dia 24, comemora-se o Dia da Inclusão Digital no Estado do Rio de Janeiro – projeto de minha autoria, transformado em lei. O uso de recursos e conceitos tecnológicos avançados em comunidades excluídas, com a massificação da informática, deve ser considerado um estímulo, ponte para se transpor a vala das desigualdades. Este é um bom caminho para a superação do atraso e da promoção do ser humano. O futuro é hoje.