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TAB SAÚDE, CIÊNCIA & VIDA 32
A32 Saúde, Ciência & Vida
JORNAL DO BRASIL
DOMINGO, 13 DE AGOSTO DE 2006
TECNOLOGIA I IBM PC, criado há 25 anos, foi a espoleta da computação pessoal e da internet
A revolução da informática para todos Juliana Anselmo da Rocha
Há 25 anos, cientistas criaram o aparelho que revolucionou o mundo. O IBM PC iniciou a clonagem de computadores, que permitiu a empresas como Compaq, Dell, HP e outras criarem máquinas semelhantes que invadiram o mercado e a vida das pessoas. O processo ficou conhecido como computação pessoal e deflagrou a internet. O IBM 5150 ficou pronto em 13 meses, contra os três anos estimados para um projeto deste tamanho. Ele não foi o primeiro computador pessoal – o mercado já tinha opções como o Apple
II e os vários CP/M. Mas, a 12 cientistas da equipe do laboratório de Boca Raton, EUA, foi determinado criar um micro com uma arquitetura aberta e com peças encontradas no mercado. – A BIOS foi a chave para o sucesso do IBM PC. Forçou a empresa a competir pelos méritos do produto, e não por alguma barreira artificial capaz de manter os rivais do lado fora – pondera Dave Bradley, engenheiro responsável pela criação da BIOS do modelo. A BIOS surge quando um computador é iniciado e o prepara para o controle do sistema operacional, como o Windows
Dispositivos compatíveis surgiram graças à arquitetura aberta
Passado e presente IBM 5150 Processador Intel 8088 com 4,77 MHz. Memória RAM de 16 Kb a 256 Kb. Vídeo CGA com quatro cores, teclado, cassete e drive de disquete opcional
PC com Pentium 4 Processador Intel com 3,8 GHz. Memória RAM de 512 MB. Vídeo com 128 MB de memória, milhões de cores e som digital. Drive de CD e DVD, teclado e mouse
ou Linux. A tecnologia é uma das criadas para o IBM PC que sobrevive até hoje. A Big Blue licenciou a BIOS para o uso por outras empresas, criando assim o mercado de clones e a explosão de máquinas compatíveis com o IBM PC. Entre as beneficiadas estava uma pequena empresa de software, a Microsoft, que forneceu os programas usados pelo computador e por suas cópias, como o Basic, DOS e o Windows – que, hoje, domina o mercado com mais de 90% de penetração. Os clones forneceram o meio para outra revolução tecnológica: o surgimento da internet e da web, na década de 90. – Para garantir o sucesso da Rede era preciso torná-la acessível a todos. O IBM PC garantiu essa condição ao aproximar o computador das pessoas – analisa Mel Hallerman, programador-chefe da equipe. No ano passado, a IBM vendeu sua divisão de computadores pessoais à chinesa Lenovo, concentrando seu trabalho em servidores e serviços.
Entrevista I MEL HALLERMAN
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A próxima fronteira é tornar os micros invisíveis ao usuário O programador-chefe da equipe de cientistas que desenvolveu o IBM PC aposta que os avanços da tecnologia levarão o usuário a acionar um computador sem se dar conta disso. O americano Mel Hallerman, 62 anos, cita os celulares, os micros de bolso e os fornos de microondas programáveis como exemplos de computadores embutidos e invisíveis. Hallerman sente-se lisonjeado por ter participado de uma grande mudança na vida das pessoas. Entre suas contribuições,
ele é o criador da combinação de teclas Ctrl+Alt+Del, que encerra programas e religa o micro e que virou sinônimo da ineficiência do Windows. Para Hallerman, hoje aposentado, o impacto causado pelo PC no cotidiano só é comparável ao do aparecimento da internet. Ele exercita o conhecimento em tecnologia ao prestar consultoria na área de informática como membro da Comissão Tecnológica da Associação de Corretores de Imóveis de Nevada. (J.A.R.)
Por que abrir a arquitetura do IBM PC? – Foram dois motivos: a Apple havia publicado sua BIOS para o Apple II e os desenvolvedores precisavam de uma interface de suas aplicações para a BIOS. O sucesso da IBM somado ao da indústria de clonagem fez com que a arquitetura do
PC suplantasse as concorrentes, como a Apple. Como surgiu o Ctrl+Alt+Del? – Na época, alguns computadores traziam um botão para reiniciar a máquina sem desligá-la. Como o IBM PC não tinha esse hardware, criamos outra forma para fazê-lo. A se-
Gates e Hallerman se encontraram em janeiro, em Las Vegas, e conversaram sobre o IBM PC quência foi escolhida por não poder ser acidentalmente pressionada.
ao olharmos do ponto de vista social, sobre como contribui para disseminar a computação.
Por que você acha que a IBM deixou de fabricar PCs? – A margem de lucro do negócio de PCs é pequena se comparada à de servidores e serviços. O impacto do IBM PC é estrondoso
O que você acha do Windows? – Ele finalmente se aproxima da funcionalidade, desempenho e segurança que o OS/2, [da IBM e que teve o desenvolvimento interrompido] tinha há anos.
Qual é o futuro do computador? – O PC é a transição para a era da ferramenta. No futuro, as funções serão oferecidas ao público sem que ele perceba que está usando um computador. Com celulares, PDAs, sistema de navegação GPS e outros aparelhos, já vemos o começo da era dos computadores embutidos.
Além do fato I A INVENÇÃO SOB O PONTO DE VISTA DA ‘BIG BLUE’
Da ‘caixa bege’ ao computador pessoal sobre a sua mesa Cezar Taurion
Em 12 de agosto de 1981 era lançado pela IBM o primeiro PC. O que seria um simples anúncio de um novo e sensacional computador transformou a sociedade, popularizando a informática, até então, restrita a grandes empresas – as únicas que podiam adquirir sistemas caros de computação.
A “caixa bege”, com um preço de menos de 1.600 dólares (3.500 dólares atuais) e cassetes de áudio para carregar e salvar dados, mudou a maneira de fazer negócios. Hoje não podemos imaginar o mundo sem o computador pessoal. Ele é tão essencial ao nosso dia-a-dia quanto o automóvel. É verdade que já existiam outros micros para uso caseiro,
mas o computador 5150 da IBM deu tão certo que seu codinome “PC – Personal Computer” virou sinônimo de computador pessoal. Em quatro anos foram vendidas mais de um milhão de unidades. Hoje ninguém fala em microcomputador, já em PC... A entrada da IBM neste mundo também mudou a percepção das empresas em rela-
ção a estas máquinas. O microcomputador passou a ser usado nas corporações e deixou de ser visto apenas como um eletrodoméstico divertido, restrito ao uso caseiro. O projeto do PC foi uma ruptura nos moldes de negócios da IBM. Foi projetado por uma pequena equipe e desenhado com arquitetura aberta, para utilizar componentes de “prateleira”, que poderiam ser fabricados por várias empresas. Hoje, pelo menos 90% dos micros são máquinas compatíveis com o PC. Muitas das tecnologias que usamos em ou-
tros equipamentos, como o envio de e-mails pelos celulares, foram tecnologias incubadas no próprio PC. Passados 25 anos, o mundo está muito diferente. O PC não está mais sozinho: celulares, TV digitais, câmeras digitais e outros equipamentos fazem parte do nosso arsenal tecnológico. Mas, sem sombra de dúvida, o PC continuará conosco, metamorfoseado, disfarçado e fundamental para nossa sociedade. Gerente de Novas Tecnologias Aplicadas da IBM