S I N D I C AT O
ANDES NACIONAL
SEDUFSM
OUTUBRO DE 2009 Publicação Mensal
Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
Motivos para comemorar:
Dia do Professor e 20 anos do sindicato GLAUCIO MAIA
Olimpíadas de 2016 no Rio: bom ou ruim? Ponto & Contraponto, págs. 04 e 05 Arquivo/SEDUFSM
Momento do “parabéns à SEDUFSM” uniu diretores e público presente
O jantar-baile do Dia do Professor em 2009 aconteceu no salão do Park Hotel Morotin, na sexta, 16 de outubro. Além de homenagear os educadores, a direção da SEDUFSM também inovou, trazendo um motivo mais que justo para a festa: a homenagem a todos aqueles que, ao longo de duas décadas, fizeram parte das diretorias do sindicato. A Seção Sindical dos Docentes da UFSM completa 20 anos no próximo dia 7 de novembro. Acompanhe a cobertura da festa na página 10 e também o editorial à página 02. RENATO SEERIG
Santa Maria sedia debates dos GTs do ANDES-SN O V Encontro de Grupos de Trabalho (GTs) do ANDES-SN aconteceu em Santa Maria, de 23 a 25 de outubro (ver foto). Págs. 06 e 07
Felipe Müller defende expansão e evita polêmica das fundações Em entrevista, o reitor eleito da UFSM defende a expansão das universidades federais e evita a polêmica envolvendo as fundações de apoio. Com a palavra, págs. 08 e 09
Ainda nesta edição: SEDUFSM homenageada da Câmara de Vereadores Ponto a ponto, pág. 02
70 anos depois: as feridas da Guerra Civil Espanhola Extra-classe, pág. 11
AN DES-SN - N osso únic o e le gít im o re pre se nt a nt e
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Publicação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM / ANDES
EDI TORI AL
Clauber
Dia do Professor No dia 15 de outubro foi comemorado o Dia do Professor. A cada ano a data é lembrada, entretanto, sabe-se pouco sobre sua origem. Recorrendo à buscas na internet, fica-se sabendo que em 15 de outubro de 1827 (data consagrada à educadora Santa Tereza D'Ávila), Dom Pedro I baixou um decreto imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil. O decreto falava também sobre salário de professores, descentralização do ensino e até a forma de contratação dos educadores. Entretanto, mesmo sendo uma decisão imperial, registra-se que não foi cumprida e, que, somente em 1947 foi pela primeira vez comemorado 15 de outubro como o Dia do Professor. A oficialização da data para comemoração do Dia do Professor só veio a ocorrer em 1963. Prescrevia a lei da época que para “comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino farão promover solenidades, em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias". Como se percebe, a história sobre o professor no Brasil é longa. E, apesar das sugestões de comemorações à profissão, os exemplos negativos em relação aos educadores causam tristeza, pois não são recentes. Em quase 200 anos desde o decreto de Dom Pedro I, o que se vê no Brasil é a prioridade apenas no discurso. Em meio aos descalabros no campo administrativopolítico, continuamos a ver professores e alunos tendo aula em contêineres; merendas apodrecidas em depósitos e, docentes com salários aviltados. Não precisamos ir muito longe. Mesmo em Santa Maria, recentemente, professores de uma escola estadual tiveram que ministrar aulas no pátio, no ginásio, na biblioteca, pois as salas foram interditadas devido a problemas sérios de conservação. Por outro lado, no terceiro grau, a realidade é menos pior, o que não quer dizer que seja boa. No ensino privado mantémse a “selvageria” de o docente ser contratado por hora e demissível a qualquer momento. Na esfera pública, cada vez mais parecida com a privada, ganha corpo o 'produtivismo', com a possibilidade de o professor ter a remuneração ampliada a partir da sua capacidade de obter recursos para a instituição através de projetos com empresas. O vencimento básico fica cada dia mais achatado diante da prioridade às gratificações. Aqueles que estão aposentados são esquecidos diante do fato de não serem mais “produtivos”. Infelizmente, a realidade pintada sem retoques não nos leva ao otimismo. Entretanto, a história não é pensada apenas por décadas ou séculos. E, através da postura crítica, dos atos de bravura e resistência certamente podem ser obtidas muitas vitórias. E, no que se refere a isso, a SEDUFSM certamente pode se orgulhar, pois no dia 7 de novembro completa 20 anos de história e muitas lutas.
EX PEDI EN T E A diretoria da SEDUFSM é composta por : Presidente em exercício: Fabiane A. Tonetto Costas (Dep. Fundamentos da Educação – CE); Vice-Presidente- Júlio Ricardo Quevedo dos Santos (Dep. História – CCSH); Secretário-Geral: Rondon Martin Souza de Castro (Dep. Ciências da Comunicação - CCSH); Primeiro secretário - Maristela da Silva Souza (Dep. Desportos Individuais - CEFD); Tesoureiro-geral – Hugo Blois (Dep. Arquitetura – CT); Primeiro tesoureiroCícero Urbanetto Nogueira (Colégio Politécnico); Primeiro suplente: Hélio Neis ( Aposentado); Segundo suplente: Ricardo Rondinel ( Dep. Ciências Econômicas CCSH) Jornalista responsável: Fritz R. F. Nunes (MTb nº 8033) Relações Públicas: Vilma Luciane Ochoa Diagramação e projeto gráfico: J. Adams Propaganda Ilustrações: Clauber Sousa e Reinaldo Pedroso Impressão: Gráfica Pale, Vera Cruz (RS) Tiragem: 1.500 exemplares Obs: As opiniões contidas neste jornal são da inteira responsabilidade de quem as assina. Sugestões, críticas, opiniões podem ser enviadas via fone(fax) (55)3222.5765 ou pelo e-mail
[email protected] Informações também podem ser buscadas no site do sindicato: www.sedufsm.com.br A SEDUFSM funciona na André Marques, 665, cep 97010-041, em Santa Maria(RS).
PON TO A PON TO Visita ao Cesnors
CLAUDIONÉIA PETRY
Diretores da Seção Sindical dos Docentes (SEDUFSM) foram a Palmeira das Missões e Frederico Westphalen no dia 2 de outubro. O motivo foi fazer uma visita aos professores do Centro de Educação Superior do Norte do Rio Grande do Sul (CESNORS), que é parte integrante da UFSM. Em Palmeira das Missões, pela manhã, a presidente da SEDUFSM, Fabiane Costas, acompanhada dos diretores Hugo Blois Filho e Julio Quevedo dos Santos, apresentou aos docentes os temas que têm mobilizado o sindicato nos últimos anos, explicando ainda qual o papel de um sindicato, como funciona o encaminhamento das ações judiciais e a luta atual pela manutenção da carreira, ameaçada pelas políticas governamentais. Na parte da tarde deste mesmo dia, os diretores foram às instalações da CESNORS em Frederico Westphalen. Falando para 10 professores (foto), integrantes do sindicato abordaram temas como o papel do ANDES- SN, as fundações de apoio, as mudanças na Dedicação Exclusiva e na Carreira e a atuação dos grupos de trabalho. Também ouviram reivindicações dos docentes daquela instituição.
Proifes contra o ANDES O ANDES - Sindicato Nacional informou que no último dia 8 de setembro de 2009 foi citado para contestar mandado de segurança (MS 14.690), impetrado pelo Proifes contra o ato do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que restabeleceu o registro sindical do ANDES-SN, em 5 de junho desse ano. A ação foi proposta no Superior Tribunal de Justiça – STJ e teve o pedido de liminar indeferido pelo ministro Humberto Martins, relator designado para o processo. A Assessoria Jurídica Nacional já está trabalhando no caso e oferecerá a defesa no prazo legal. Importante destacar que o ANDES também contesta a legitimidade do Proifes, “transformado” em entidade sindical no dia 6 de setembro de 2008, na sede da CUT-SP, numa assembleia na qual os docentes que lá compareceram foram impedidos de se credenciar.
Vereadores homenageiam sindicato A Seção Sindical dos Docentes da UFSM (SEDUFSM) receberá uma homenagem especial da Câmara de Vereadores. Devido aos 20 anos, que estarão sendo comemorados no dia 7 de novembro de 2009, o sindicato terá uma sessão solene, que foi solicitada pelo vereador Jorge Trindade (PT), o Jorjão. O evento acontece às 18h de quinta-feira, 5 de novembro, após a sessão plenária ordinária do Legislativo santa-mariense. Além do autor da homenagem, discursa na tribuna da Câmara um representante da diretoria da SEDUFSM. As atividades de comemoração às duas décadas de fundação da seção sindical do ANDES-SN prosseguem ao longo do mês de novembro. Já está confirmado para o sábado, dia 7 de novembro, uma apresentação da Orquestra Sinfônica de Santa Maria na praça Saldanha Marinho.
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RADAR
Estudantes questionam relação entre a UFSM e as fundações FRITZ NUNES
Machado (DCE): relações que aprofundam privatização das universidades
Os representantes do segmento estudantil estão questionando no Conselho Universitário (Consun) da UFSM o conteúdo de três resoluções que visam à regulamentação da relação entre as fundações de apoio e a universidade. Em linhas gerais, as resoluções procuram regulamentar os convênios e os contratos existentes, concedem bolsas aos servidores envolvidos em projetos e criam um sistema de registros institucional de projetos, formalizando também órgãos de fiscalização. O coordenador-geral do Diretório Central de Estudantes (DCE) da UFSM, Anderson Machado, explica que a entidade pediu “vistas” às minutas das três resoluções na reunião do Consun do último dia 28 de agosto. Segundo ele, os estudantes divergem da “natureza” da relação entre a universidade e as fundações. Machado comenta que a principal alegação é de que as fundações facilitam o processo de “gestão”, contudo, segundo ele, o que se tem observado é um processo de “privatização da universidade” a partir da atuação desmedida dessas instituições. Não está claro, ressalta, o que a universidade irá fazer para sanar as irregularidades que o Tribunal de Contas da União (TCU) tem apontado. Um dos pontos das resoluções trata da incorporação do patrimônio dessas fundações ao patrimônio da universidade. Machado ressalta que
não há clareza em relação ao que vai ser incorporado, pois o texto não traz uma relação dos bens a serem incorporados. Portanto, diz ele, se aprovado da forma como está, o que se poderá fazer é dar uma espécie de “cheque em branco”. O dirigente estudantil defende que essas resoluções sejam analisadas pelo Ministério Público Federal antes de serem aprovadas. Anderson Machado chama a atenção para os apontamentos da comissão nomeada pelo reitor Clovis Lima (Portaria nº 52592/08), que analisou a atual forma de relação da UFSM com as fundações de apoio. Na análise feita pela comissão está dito que “as prestações de contas das fundações chegam de última hora, impossibilitando uma verificação eficaz e transparente para os membros do Conselho”. O Coordenador do DCE destaca especialmente um dos pontos da conclusão do trabalho, no relatório assinado no dia 2 de setembro de 2008, pelo professor Paulo Roberto Magnago, que “recomenda a não presença de Conselheiros dos Órgãos Colegiados em Diretorias e Conselhos Deliberativos das Fundações (...) a fim de se manter independência e transparência nas atividades das mesmas com seus relacionamentos com a UFSM”. Por que a Administração não cumpre essa recomendação, questiona Machado. NAJLA PASSOS / ANDES-SN
Ato público reúne entidades em defesa da Educação O ANDES-SN, a Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação das Universidades Brasileiras – FASUBRA e o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica – SINASEFE, com o apoio do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra – MST, promoveram na terça, 20 de outubro, um ato público na Câmara dos Deputados, em Brasília, para discutir a Reforma Universitária e a Carreira no Serviço Público. Os manifestantes lotaram a sala 04 das Comissões da Câmara para denunciar projetos em tramitação no parlamento que colocam em xeque a educação como direito do cidadão, transformando-a em mera mercadoria. Durante o evento, que se estendeu das 9h às 12 horas, eles contaram com manifestações de apoio do Movimento de Oposição ao DCE da UnB e de deputados de diferentes legendas. O 1º vice-presidente da Regional Rio Grande do Sul do ANDES-SN, Fernando Molinos Pires, que presidiu a mesa, disse que a tentativa de diálogo das três entidades que representam os trabalhadores da educação com o parlamento, acrescida do apoio do MST, é uma demonstração de que nenhuma força política conseguirá dividir os trabalhadores na luta pela educação pública e de qualidade. Representando o SINASEFE, Marcos Aurélio Neves também frisou a importância histórica da rearticulação das entidades da área de educação em defesa da escola pública em todos os níveis, e reafirmou a importância de que elas empreendam uma ação direta no parlamento, em um momento no qual os trabalhadores do serviço público federal vêm sofrendo tantos ataques em seus direitos, por parte do governo federal. “Nós, do SINASEFE, não aceita-
Manifestação em Brasília reuniu entidades críticas à reforma universitária
mos, por exemplo, a diferenciação entre carreiras típicas do estado e carreiras não típicas, como o executivo vem propondo”, afirmou Marcos Aurélio. Janine Teixeira, representando a FASUBRA, elogiou o desprendimento do MST de abraçar a luta pela educação pública, mesmo em um momento em que o movimento sofre vários ataques dos setores conservadores, inclusive a ameaça da criação de uma CPI para investigá-lo. “Nós do movimento sindical, como o MST, enfrentamos uma fase difícil. Estamos desarticulados, não estamos conseguindo realizar ações importantes. Enquanto isso, o governo continua legislando e aprovando o que lhe convêm. Não há mais luta neste país justamente porque parte do movimento sindical/popular aderiu ao governo e parte se afastou das esferas decisórias”, afirmou ela. (Fonte: ANDES-SN)
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SIM
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PON TO &
A re a liza ç ã o de e ve nt os c om o a Copa do M undo
Perenidade esportiva
Antonio Guilherme Schmitz Filho Professor Adjunto do Departamento de Desportos Coletivos/CEFD/UFSM. • Coordenador do Grupo de Pesquisa Análise dos Cenários Esportivos na Mídia.
Com a realização do PAN na cidade do Rio de Janeiro, o Brasil ingressou no circuito dos grandes eventos esportivos. Embora, tradicionalmente, acostumada com coberturas de Copas do Mundo de Futebol, a sociedade brasileira, ao longo dos tempos, obteve raras oportunidades de se envolver com eventos desta magnitude. Obviamente que prós e contras sobrarão para infinitas “coberturas de bolo”, o que não deve ser desprezado. Principalmente, consi-
derando-se as peculiaridades que envolvem o universo esportivo. Os brasileiros, mesmo aqueles cercaram a conquista da realizamenos preocupados com ção da Olimpíada de questões do gênero, 2016 no Rio; uma pre“O esporte não poderão elimiparação, um envolnar da sua cotidiavimento e uma ascendeu. Saiu nidade a enxurrada cobertura nunca dos bastidores de informações e a vistos. e ganhou o produção de cenáDesde o PAN, palco” rios esportivos que passando pela Copa de 2014, até a realizasurgirão com maior ou ção da olimpíada, mantemenor protagonismo. remos um relacionamento direto Outra questão que surge com e regular com as questões que clareza sem precedentes é o valor
político-econômico agregado aos eventos. Neste sentido, o esporte ascendeu e passou a se diferenciar. Saiu dos bastidores e ganhou o palco. Algumas modalidades saltaram diretamente da plateia para o palco. Ao passar à frente e ao expor benefícios e mazelas, provavelmente o esporte, a política esportiva e o mercado esportivo comecem a ser discutidos e analisados de forma diferenciada. Entidades como o COB e a CBF, bem como seus dirigentes, estarão na berlinda e com luzes suficientes para que as diferentes áreas do conhecimento os escrutinem. Talvez, sem ponderar antecipadamente aspectos envolvidos entre o “bem e o mal”, o fenômeno esportivo marcado desde a realização do PAN no Rio proporcionará um momento sem igual e com perenidade suficiente para todos os tipos de apreciação e propostas. A questão maior diz respeito à nossa capacidade de interpretação e, sobretudo, à nossa capacidade de desenvolvimento a partir da interação com o fenômeno esportivo em tempo real. Outra possibilidade interessante a se verificar na balança cultural será a polarização entre o futebol e os demais esportes, ou a equiparação deste com os demais em conformidade aos resultados obtidos no campo esportivo. Talvez a notoriedade e a popularidade esportiva ganhem novas colorações e outros atributos que por ora são desconhecidos.
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CON T RAPON TO
e a s Olim pía da s é posit iva pa ra o Bra sil?
Quem paga essa conta?
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NÃO Valdelaine Mendes
Professora da Escola Superior de Educação Física (ESEF), da Universidade Federal de Pelotas
Nas últimas semanas fomos bombardeados pelos meios de comunicação com informações sobre a incontestável e promissora realização dos jogos olímpicos de 2016 no Brasil. Espaço para a contestação e para a crítica à realização de um evento de tamanha envergadura parecia desnecessário num cenário de notícias que davam conta de um consenso nacional sobre o megaevento esportivo. Não é de hoje que os grandes meios de comunicação nos convencem da importância e da inevitabilidade de determinadas ações. Basta lembrar a década de 1990 e os apelos que bem formaram a opinião pública em torno da “necessária” privatização da telefonia, da energia, sem contar na entrega à iniciativa privada do patrimônio desconhecido da Vale do Rio Doce. Voltando aos jogos olímpicos, o primeiro aspecto que precisa ser levado em consideração é que não há qualquer problema com a realização de um evento com tais proporções, desde que os recursos necessários a sua efetivação sejam provenientes do setor privado. Um cidadão mais desavisado poderia argumentar que os governantes afirmam ser o setor privado o principal responsável pela origem dos recursos para esse tipo de evento. Entretanto, nem acreditando em conto de fadas dá para se convencer com esse discurso, ou será que todos já se esqueceram do Pan que sediamos em 2007? Naquele episódio os gastos foram algumas vezes maiores do que o previsto e não vieram da iniciativa privada. A prova disso estava escancarada no predomínio absoluto das marcas das estatais que
decoravam todos os espaços de saneamento ou educação o princicompetição. O Ministro do pal argumento a que recorrem os governantes é sobre a origem Esporte, Orlando Silva, em dos recursos. Os debates entrevista ao Programa sobre a implantação Roda Viva da TV “Será que da lei do piso salariCultura (SP), logo precisamos de após o término do al dos professores, Pan, foi claro ao desde o ano passauma Olimpíada dizer que devido à do, bem ilustram para poder falta de interesse isso, já que muitos construir privado foi preciso governadores, para estradas” haver a interferência não aumentar os saláfinanceira do Estado rios dos educadores, para assegurar a realização chegaram a levar a questão do evento. ao Supremo Tribunal Federal aleSempre que a sociedade reivin- gando inconstitucionalidade na dica mais investimentos em saúde, lei. Entretanto, em relação aos
jogos olímpicos não vi nenhum governante preocupado com a origem dos bilhões de reais que serão usados para adequar a cidade do Rio de Janeiro às necessidades do evento. Certamente, dinheiro novo não haverá, mas uma redistribuição daqueles já existentes para cumprir as metas acordadas com o Comitê Olímpico Internacional. Assistiremos nos próximos anos significativas importâncias sendo destinadas a obras e serviços no Rio de Janeiro. Provavelmente, algumas dessas obras serão relevantes para a população daquela cidade, mas e quantas outras serão abandonadas ou entregues à administração do setor privado por preço de banana? Isso não é um exercício de futurologia, mas uma reflexão a partir daquilo que acompanhamos há bem pouco tempo com o Pan. E o resto do país como fica? Afinal, somos nós cidadãos deste Brasil que vamos pagar essa conta e continuar sofrendo com a falta de saneamento básico, de atendimento na área da saúde e de qualidade na educação. Mas, as necessidades desses milhões de cidadãos que estão à margem do que é mais básico para garantir a existência de um ser humano, parece pouco importar aos grupos que dominam política e economicamente o país e que já estão se capitalizando com os jogos olímpicos. Eventos como o de 2016 são reveladores da falta de vontade política dos setores que governam o país para solucionar históricos problemas da nação. Fica a questão: será que precisamos de uma olimpíada para construir estradas, melhorar a rede de transporte e garantir segurança à população?
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OPI N I ÃO
A realização das Olimpíadas de 2016 no Brasil é importante para a sociedade? Fotos: FRITZ NUNES
Ricardo Rossato, 63 anos, professor aposentado, ex-vicereitor da UFSM. “Acho que tem vários aspectos essa questão das Olimpíadas no Brasil. Um deles seguramente é que nós vamos pagar uma conta. Eu fiz pós-doutorado em Montreal (Canadá) em 1994 e, em 1976 eles tinham tido as Olimpíadas e, até 2000 a sociedade continuaria pagando o custo do evento. Portanto, é uma conta cara e que será transformada em impostos. Um outro aspecto e que foi até cobrado do presidente (Lula), é que nós temos o risco de uma não-transparência dos gastos, como aconteceu no Panamericano (do Rio, em 2006). O lado bom, sem dúvida, é o da projeção do país em nível internacional. O que fica de bom também é se forem bem aproveitadas as instalações, que posteriormente podem ser transformadas em escolas ou em centros de preparação física. Contudo, é preciso destacar que devemos evitar o superdimensionamento desse evento. Sediar a olimpíada não significa que passamos de subdesenvolvidos a desenvolvidos. Os problemas continuarão a existir”.
Pedro Sérgio da Silveira, 22 anos, aluno do 6º semestre de História na UFSM. “Eu acredito que esse tipo de ação do governo é contraditória. São bilhões de reais que serão investidos nas Olimpíadas, mas que poderiam ser usados em outras políticas sociais, principalmente na área de esporte. Ao mesmo tempo em que o governo retira recursos do ministério do Esporte em função do corte de gastos, no contexto da crise, acaba destinando recursos para o esporte de alta competitividade, que representa o padrão dominante”. Eduardo Luft, 30 anos, agrônomo e também aluno do curso de Formação de Professores para a Educação Profissional na UFSM. “Eu penso que o problema para o país não é a Olimpíada, mas a forma como está sendo vista. Agora serão sete anos até 2016 para chegarmos nas Olimpíadas, na qual serão investidos bilhões, com a infraestrutura toda do Rio voltada para a organização do evento, que durará um mês. Embora o governo diga que essa estrutura será deixada depois para a cidade, será direcionada. Então, eu penso que esse recurso seria muito melhor investido se fosse pensado mais globalmente, com ações importantes como a reforma urbana. Além disso, também estamos pensando em investimentos num esporte de alta competição, em que a grande maioria da população está excluída, pois o mesmo é voltado para atletas”.
Governo impõe modelo de universidade FRITZ NUNES
O Movimento Docente sempre defendeu um projeto de universidade pública, gratuita e de qualidade, baseado no tripé ensino, pesquisa e extensão, completamente independente do mercado. Pois bem, esse modelo parece estar “superado” para integrantes do governo que têm feito uma reforma no ensino superior por decretos, usando uma estratégia Mesa de debates: Pedro (DCE), Henrique (ADUFPel), Lisboa (ANDES) e Rogério (Assufsm) para encontrar menos resistência. O modelo em construção pelo educação. Enquanto existem 14 projetos governo federal está intimamente atrelado a uma protocolados na Câmara Federal tratando da visão mercadológica, com base nas orientações de reforma universitária, a comissão especial que organismos como o Banco Mundial e a Organização analisa o assunto selecionou quatro para serem os Mundial do Comércio (OMC). A análise é do fios condutores do relatório final, sendo que estes professor Antonio Lisboa Leitão de Souza, diretor são os que mais exprimem uma visão de educação do Sindicato Nacional dos Docentes (ANDES-SN) não mais como “direito de todos” e sim como e membro da coordenação do Grupo de Trabalho de “mercadoria”, destaca o diretor do ANDES-SN. Políticas Educacionais (GTPE) do ANDES-SN. Quando se fala em “flexibilização”, Lisboa ressalta Lisboa, que é docente na Universidade Federal do que isso significa “flexibilizar os modelos Rio Grande do Norte, falou na manhã de sábado, 24 institucionais” e também “flexibilizar os modelos de outubro, no painel “Reforma Universitária e suas de formação”. conseqüências para a sociedade brasileira”, durante Quando se fala em “flexibilizar o modelo” o V Encontro de Grupos de Trabalho do ANDES- significa que a concepção em curso é de que não há SN, ocorrido em Santa Maria. Participaram ainda mais necessidade de uma universidade que esteja do mesmo painel, o representante do Sindicato dos embasada no modelo ensino, pesquisa e extensão. Servidores (ASSUFSM), Rogério Silva, e o Esse modelo custaria caro, então, torna-se mais fácil dirigente do Diretório Central dos Estudantes fazer uma expansão como na atualidade, em que a (DCE) da UFSM, Pedro da Silveira. precariedade torna-se a marca fundamental. As A afirmação do integrante da Coordenação do estruturas multicampi, com déficit de funcionários, GTPE se embasa na concepção que tem norteado as poucos laboratórios, faz parte dessa lógica de que, políticas do Ministério da Educação para as se o modelo não é mais aquele que atrela as três universidades. Segundo Lisboa, o que tem ocorrido funções, então, pode-se ter uma expansão mais é um processo de “desregulamentação” da barata.
Preocupações e omissões O dirigente do Sindicato dos Servidores da “honrado” pelo convite para poder participar do UFSM (ASSUFSM), Rogério Silva, concordou debate junto com o ANDES e destacou que com as críticas levantadas no painel em relação à concorda com a maioria das preocupações do expansão de cursos e vagas nas universidades. Ele Movimento Docente. Segundo ele, a lei de disse que a categoria tem “sentido na carne” os inovação tecnológica, as parcerias públicoprivadas e as fundações de apoio têm levado a efeitos dessa expansão precária, com a realium processo de privatização das univerzação de concursos em “conta-gotas”. sidades públicas. Entretanto, diz ele, Um outro problema que preocupa os “Temos apesar dos inúmeros consensos, o técnico-administrativos é a tentativa sentido na carne que dificulta a atuação, especialdo governo de transformar os mente do segmento estudantil, é a hospitais universitários em “fundaa expansão falta de unidade. A superação disso, ções públicas de direito privado”. precária” segundo Pedro Silveira, é a Segundo Rogério, a privatização da (Rogério Silva, dirigente construção de uma pauta que universidade tem ocorrido aos da ASSUFSM) unifique a todos. Um dos elementos poucos, exemplificando a terceirique poderiam dar coesão seria a luta em zação no hospital e no restaurante defesa de um projeto de universidade universitário. E, o que é pior, segundo ele, é esse conjunto de problemas sendo tratado de pública, gratuita e de qualidade. O debate da manhã de sábado acabou antecipado em virtude de forma “omissa” pela reitoria. O coordenador de políticas educacionais do que o painel sobre as fundações de apoio não DCE da UFSM, Pedro da Silveira, se disse ocorreu pela ausência de um dos palestrantes.
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V Encontro de GTs reúne docentes de vários estados em Santa Maria VILMA OCHOA
O balanço do V Encontro de Grupos de Trabalho (GTs) do ANDES-SN, realizado em Santa Maria, de 23 a 25 de outubro, foi considerado “positivo” pelos organizadores. Além de representantes das universidades federais do estado (UFRGS, UFPel, FURG, UFSM e Unipampa), participaram docentes de vários estados como Pará, Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Norte. Em torno de 40 pessoas estiveram nos painéis mais gerais bem como nas reuniões em grupo. Na avaliação do 1º vice-presidente da Regional RS do ANDES-SN, Fernando Grupos de Trabalho tiveram a participação também de estudantes Molinos Pires, a presença de estudantes e de servidores em algumas das reuniões são “imprescindíveis”. em grupo foi o ponto alto da atividade. REPÚDIO- O Grupo de Trabalho de Política No domingo, dia 25, na parte da tarde, os relatores Agrária e Meio Ambiente (PAMA) também esteve dos GTs expuseram de forma resumida o que havia reunido em Santa Maria. Dentre os encaminhasido discutido. O professor do CEFET-MG, Elcio mentos, a necessidade de se discutir em um semináQueiroz, que integra o GT Carreira, destacou que o rio uma forma de questionamento às políticas públiaspecto mais relevante das discussões foi de que não cas do governo para a área de política agrária e meio se deseja uma carreira que tome como base aspectos ambiente. Também propuseram e tiveram o apoio “quantitativos e produtivistas”. Deve se levar em unânime em relação a uma Moção de Repúdio a conta o tempo de serviço e a formação/titulação. O diversos órgãos federais tratando da redução da detalhamento desses aspectos deve ser feito em um faixa de fronteira, que vai do Mato G. do Sul ao RS, seminário nacional sobre Carreira, marcado para os iniciativa que objetiva beneficiar as empresas dias 20, 21 e 22 de novembro, em Brasília. multinacionais de celulose. Outro grupo que se reuniu em Santa Maria, no Finalizando os relatos, o professor Fernando prédio da Antiga Reitoria (CCSH), foi o das Molinos citou que o GT de Seguridade Social proFundações. No relatório apresentado pelo professor moverá em Florianópolis, de 20 a 22 de novembro, o Rondon de Castro (SEDUFSM), e corroborado pela Encontro de Assuntos de Aposentadoria, que terá coordenadora do GT, professora Solange Bretas, entre os pontos de discussão, a análise da PEC 270destacou-se que uma das propostas é buscar saber A, que trata dos critérios para aposentadoria por que tipos de projetos são desenvolvidos e invalidez. O encerramento do V Encontro de GTs financiados através das fundações ditas de apoio. foi feito pela presidente da SEDUFSM, professora Tornar público os projetos que passam por lá é uma Fabiane Costas, que agradeceu a todos e enalteceu a forma de transparência e ao mesmo tempo de “qualidade dos debates”. contraposição ao discurso de que essas entidades
Privatização do Estado brasileiro
RENATO SEERIG
O V Encontro de Grupos de Trabalho (GTs) do ANDES-SN iniciou na sexta, 23, pela manhã, na Câmara de Vereadores. A mesa de abertura foi composta pela secretária-geral do ANDES-SN, professora Solange Bretas, que representou o presidente da entidade, Ciro Correia. Estiveram ainda o 1º vice-presidente da Regional RS do ANDES-SN, Fernando Molinos Pires, a presidente da SEDUFSM, Fabiane Costas, e os representantes do DCE – Anderson Machado; da ASSUFSMEloiz Cristino; do CPERS- Sindicato dos Professores Estaduais, Carmem Santos e do Sinprosm - Sindicato dos Professores Conferência que abriu o V Encontro de GTs Municipais, Martha Najar. Logo após a abertura ocorreu a conferência sobre “A privatização do Estado brasileiro e suas consequências”. Os conferencistas foram a professora Rosa Maria Marques, da PUC-SP, economista e escritora, autora do livro “O Brasil sob a nova ordem- A economia brasileira contemporânea”. E, na seqüência, o professor do Instituto de Sociologia e Política da Universidade Federal de Pelotas, Luiz Carlos Gonçalves Lucas. Na tarde de sexta, a atividade foi diferenciada. Todos os dirigentes sindicais, estudantes, técnico-administrativos, e integrantes de movimentos sociais que manifestaram interesse puderem participar das reuniões em grupo, nas salas da Antiga Reitoria. Ao final do dia foi feito um debate com o resultado dos grupos a partir de questões formuladas pela organização. O tema do debate se baseou na conferência da manhã.
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Cyro Knackfuss, 57 anos, professor do departamento de Desportos Coletivos do CEFD. “Evidente que um evento com a grandiosidade da Olimpíada vai trazer coisas importantes para o Brasil. Mas, o Brasil tem tantos problemas a resolver que eu não sei se era o momento. Essa decisão de trazer as Olimpíadas sem dúvida nenhuma é uma decisão mais política do que qualquer outra coisa. E, infelizmente, nós temos a comprovação de que quando saem esses megaeventos no Brasil, como foi o caso do Panamericano, que, aliás, foi um sucesso, a gente observa a quantidade de dinheiro que sai pelo ralo. É claro que eu gostaria que o Brasil trouxesse sempre eventos como esses, mas eu gostaria que as coisas fossem mais transparentes no Brasil. Eu tenho convicção que com a Olimpíada, muita gente vai ganhar dinheiro e muitas outras pessoas vão continuar como estão. Não sei se vai mudar alguma coisa no Brasil, inclusive na área esportiva. O país não precisa das Olimpíadas para se tornar uma potência esportiva”. ARQUIVO/SEDUFSM
Reinaldo Apolônio da Silva Pedroso, 65 anos, professor aposentado do curso de Desenho Industrial do Centro de Artes e Letras (CAL). “Nunca antes na história este país teve tamanha visibilidade. Lula vende bem o Brasil. A avaliação financeira "custo/ benefício" sinaliza olímpicos 30 para 100 bilhões em gastos, respectivamente. A efetiva e transparente aplicação desses valores em desenvol vimento social é o que exijo na condição de contribuinte sangrado”.
ELES DI SSERAM “Não há condição de tu falar. Não tem que falar. Nada. Absolutamente nada. Tudo o que tu falar te prejudica. A verdade te prejudica”. (Frase atribuída ao deputado federal Eliseu Padilha, do PMDB-RS, em gravação telefônica de 2008, orientado o ex-secretário de Canoas, Chico Fraga, investigado pela Operação Solidária. Publicado em Zero Hora de 27.10.2009) “O cafezinho servido num copo de vidro no bar é uma realidade que está sendo relegada ao passado”. (Senador Gerson Camata, do PMDB-ES, defendendo a regulamentação pelo Congresso da profissão de barista, na Folha de São Paulo de 25.10.2009, pág. A10). “O que sobrou do jantar do PT com PMDB? O arroto. Nada mais do que isso.” (Roberto Requião, governador do Paraná, sobre o encontro de integrantes do PMDB com o presidente Lula. Na Folha de São Paulo de 26.10.2009 de A4).
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COM A PALAV RA
Felipe Müller
Fotos: ANA PAULA NOGUEIRA / Arquivo SEDUFSM / OUTUBRO DE 2006
Sofrimento da expansão é passageiro
A partir da sua confirmação junto ao Ministério da Educação, o professor Felipe Martins Müller será, indubitavelmente, um dos mais jovens reitores a dirigir a UFSM, iniciando um mandato no final de 2009 e que deve se estender até o final de 2013. Até mesmo pela sua juventude, não há quem discorde de que Felipe Müller é um provável candidato a ficar mais uma gestão no cargo. Contudo, ele não admite publicamente esse interesse, até mesmo porque enfrentará ainda um período de turbulência, resultado de toda a investigação feita pela Polícia e Ministério Público Federal a partir de suspeitas de mau uso do dinheiro público pelo braço financeiro da UFSM, no caso, as fundações de apoio. Sobre isso, aliás, o atual vice-reitor e reitor eleito pela comunidade universitária, quer evitar declarações. Das perguntas relacionadas à polêmica envolvendo a Fatec, Müller disse que não quer fazer comentários “no momento”. O mesmo valeu para perguntas relacionadas às acusações feitas pelo reitor anterior, que é réu da Operação Rodin, professor Paulo Sarkis, em entrevista ao Jornal da SEDUFSM na edição de agosto/setembro, na qual relaciona Müller e o atual reitor, Clovis Lima, como os artífices em um processo de manipulação de dados que incriminariam a ele (Sarkis), no caso do escândalo envolvendo Fatec e Detran. Contudo, o reitor eleito não se esquiva de responder questões referentes ao processo de expansão universitária. Para ele, não há como negar os avanços e, que, as dificuldades decorrentes de todo esse processo são inerentes, mas, que eventuais sofrimentos são “passageiros”. Acompanhe a seguir a íntegra da entrevista, concedida através de correio eletrônico. Devido à alegada extensa agenda de compromissos, Felipe Müller preferiu responder as perguntas através do e-mail.
PERGU N TAS &RESPOSTAS Pergunta- Professor Felipe, quando o sr. deve tomar posse oficialmente como reitor da UFSM? Resposta- Imagino que, provavelmente, entre o Natal e o início de 2010. Na última semana de 2009 deverá acontecer a posse e, na primeira semana de janeiro de 2010, a transmissão do cargo. Isso dependerá do acerto de agendas dos dirigentes do Ministério da Educação e a UFSM. P - Qual a prioridade ao assumir a Administração da UFSM? R- Estabelecer uma transição coerente com o trabalho desenvolvido juntamente com o professor Clovis Lima, num quadriênio de muitas realizações e de amadurecimento da UFSM, do que resultou em expressivos avanços quantitativos e qualitativos da Instituição, incorporando a partir do início do próximo ano a competência acadêmica e administrativa do professor Dalvan Reinert, assim dando seqüência às inúmeras frentes de trabalho já entabuladas. Iniciando outras pensadas e socializadas com todos aqueles que contribuíram na definição de propostas de gestão para o período 2009-2013. Em síntese, numa meta global, praticar uma gestão pública com transparência, eficiência, na perspectiva da expansão do ensino superior público, gratuito e de qualidade, com resolutividade e, em prol da comunidade universitária, centrada no comprometimento de aprimoramento das rotinas administrativas e atividades de ponta a ponta do ensino, da pesquisa e da extensão, sempre tendo foco nas capacidades de nossos sujeitos envolvidos, voltados em suas ações ao interesse sócio-educacional. P - O ANDES-SN e a SEDUFSM têm questionado desde o início a forma como o governo vem implementando a expansão universitária, antes do REUNI, como é o caso da Unipampa, bem como após o REUNI. Qual a sua avaliação sobre a qualidade da expansão em vigor? R- Considero politicamente correto a criação de mais universidades públicas e a revitalização das já existentes, ficando à nossa geração a responsabilidade de avançar e buscar a qualificação tão desejada por todos, com um diferencial importante: existem recursos humanos muito qualificados que estão adentrando nas universidades e disposição governamental de bancar as demandas necessárias de infraestrutura. Então, a nós cabe o desafio de agirmos na mesma perspectiva política com competência para gerir tal interesse público. P- No caso da UFSM, muitos professores e mesmo estudantes manifestam preocupação sobre a ampliação de vagas e cursos sem a contrapartida ideal na contratação de docentes, e também na questão da ampliação de espaço físico. Como a
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Administração está solucionando esses problemas? maioria dos conselheiros e da gestão executiva. R- Encaramos essas preocupações com tranqüilidade e atenção, isto é, com muita seriedade. Levamos anos para concluir as Casas de Estudantes, ou mesmo para P- Professor Felipe, existe uma reclamação de setores da imprensa de que, a partir expandir serviços nos Restaurantes Universitários, nos Laboratórios de Ensino e de uma decisão sua, em meados de setembro de 2007, os jornalistas passaram a Pesquisa ou mesmo contar com aportes expressivos de materiais em nossas fazer cobertura jornalística das reuniões dos conselhos superiores somente do lado Bibliotecas, e mesmo assim alcançamos o reconhecimento público de sermos uma de fora do recinto. O sr. confirma essa iniciativa e se pretende mantê-la? das melhores universidades do Brasil, já passados quase cinquenta anos. Atualmente, R- Na verdade isto é regramento regimental, no intuito de garantir a palavra livre e temos em fase de término mais de 60 obras de infraestrutura, como são exemplos soberana aos membros conselheiros dos diferentes Conselhos Superiores da UFSM, inúmeras salas de aula e laboratórios, e mais de 40 já em fase de licitação e/ou início e no intuito de que não sejam desviados os assuntos em debate, com captação de das construções, o que sinaliza que logo teremos os espaços plenamente adequados imagens ou entrevistas. Quando a comunidade universitária julgar pertinente a aos novos cursos e à expansão dos já existentes, o que vem acompanhado mudança de tais regras caberá aos dirigentes o seu cumprimento. Ao ser tomada paulatinamente da contratação de novos servidores docentes e técnico- decisão neste sentido certamente deveremos pensar na ocupação e/ou ampliação do administrativos em educação. Nesse sentido, a “solução” deve ser encarada como um espaço das reuniões, que nesse momento já demonstra sua exigüidade, até mesmo processo, cuja demanda será sempre crescente e desafiadora. Felizmente, isso é para alocar ali integrantes da imprensa e/ou público em geral interessados em assistir demonstrativo que a UFSM está se tornando de fato na prática uma Universidade de às sessões. Afora o colocado, tenho certeza que também, com o tempo, teremos ponta no cenário nacional. Mas, claro, sempre teremos desafios como gestores transmissões ao vivo pela internet, TV Campus e Rádio Universidade. públicos para atender demandas dos inúmeros setores, já que literalmente Considero muito importante a publicização das informações de interesse somos uma “cidade” com aproximadamente 30 mil habitantes, que social. demandam diretamente serviços e/ou que atende milhares de expectativas da comunidade externa, em sua maioria de parcelas ‘‘Considero P- Qual o futuro político do professor Felipe Müller? Pode ser menos favorecidas, e cuja administração da Reitoria e das Unidades considerado candidato a um segundo mandato? muito importante R- O futuro político é administrar democraticamente a UFSM nos deve ser eficiente e resolutiva. próximos quatro anos. Isso é uma etapa da construção política de a publicização das minha P- A precariedade em alguns casos não é uma abstração. Em vida pública na comunidade universitária. O resultado da encontro ocorrido em Bagé, no mês de agosto, um dirigente da consulta me qualifica e ao mesmo tempo requer uma atuação informações” Sesunipampa falou que muitos professores são obrigados a coerente com a perspectiva política que a democracia brasileira assumir funções que seriam dos técnico-administrativos. construiu e consolidou em nossas vidas. Convém lembrar que, Reclamação semelhante foi ouvida por diretores da seção sindical em vencemos o último pleito nas regras estabelecidas democraticamente visita recente ao Cesnors. Esses exemplos não demonstrariam que a pelas instâncias deliberativas, mesmo tendo afirmado ser necessário e chamada ampliação das universidades federais tem se dado de forma açodada? urgente modernizar, atualizar e expandir os processos participativos. Nossa R- Certamente que ainda temos óbices a serem equacionados, e essa será ainda uma plataforma política foi construída para esse período estabelecido pelo processo realidade de muitos anos das universidades públicas federais. Os problemas serão democrático, de onde saímos vencedores, felizes e esperançosos de uma UFSM cada sempre crescentes se crescentes forem as expansões dessas Instituições. A UFSM vez melhor, maior e mais acessível para todos. como um todo tem demandas reprimidas de pessoal, nos seus diferentes setores, sejam os administrativos, sejam os das atividades fins. Exemplo histórico tem sido o do HUSM, mas isso depende de planejamento e priorização de instâncias políticas dos ministérios da República. Como servidores públicos, procuramos contribuir o Na correspondência eletrônica enviada ao Jornal da SEDUFSM, o professor Felipe máximo possível para bem servir à Sociedade, e assim temos que entender que as Müller considerou que as perguntas abaixo não “devem ser respondidas por mim deficiências ainda existentes não impedem a solução de continuidade do interesse nesse momento”. Veja quais foram as perguntas: sócio-educacional, isto é, cada vez mais oportunizar o acesso das comunidades local e regional às Universidades públicas. Como dirigentes públicos, envidamos todas as ‘‘P- Entrando no tema das fundações, o que a UFSM tem feito para enquadrar-se na energias para encaminhar a solução das demandas. Reconheço que as novas recomendação feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU), procurando assim Universidades públicas e/ou as novas Unidades da UFSM podem sofrer, evitar relações promíscuas com as fundações de apoio? momentaneamente com este processo de criação e sustentabilidade institucional, o P- Em entrevista ao Jornal da SEDUFSM, na edição de que já passamos de forma mais intensa há alguns anos. Mas cabe reconhecer que agosto/setembro de 2009, o ex-reitor, Paulo Sarkis, acusa estamos avançando muito em pouquíssimo tempo. o atual reitor, Clovis Lima e o senhor, de terem omitido documentos ao Ministério Público Federal (MPF). Na P- No relatório de setembro de 2008 de uma comissão presidida pelo professor ótica de Sarkis, essa omissão levou a que o MPF Paulo Roberto Magnago, uma das recomendações é de que “não haja presença investigasse apenas ele. Como o sr. analisa esse tipo de de conselheiros dos órgãos colegiados, em diretorias e conselhos deliberativos acusação? das Fundações (...), a fim de se manter a independência e transparência nas atividades (...)”. (Ver matéria a respeito na página 03). A reitoria pretende P- O professor Sarkis afirma que o sr. defendeu junto cumprir essa orientação? ao Conselho da Fatec a mudança no convênio, em R- Esses são encargos que a legislação atual ainda mantém. Pela vontade 2007, passando o projeto com o DETRAN para a da maioria das pessoas que lá transitam, o ideal seria uma Fundae. Como é possível explicar essa situação, tendo gestão independente, constituída por em vista que a maioria do público leigo desconhece pessoas da comunidade e técnicos como é que se deu essa mudança? especializados, fincando o Conselho Superior como um órgão fiscalizador. P- Numa entrevista concedida ao Jornal da Nesses últimos quatro anos fizemos SEDUFSM em outubro de 2006, o sr. elencou inúmeras sugestões no sentido de algumas mudanças na questão do realizar mudanças profundas nas gerenciamento dos recursos próprios da relações Universidade-Fundações, e Fatec à época, que seriam administrados de modo especial na FATEC. Isto pelo gabinete do reitor anterior. Já se ocorrendo mesmo antes da eclosão da percebia na época algum tipo de Operação Rodin, expondo irregularidade? Foi o sr. e o possibilidades de cumprimento da lei professor Lima que acabaram por com adequações e ajustes subsidiar o MPF nessa necessários. Mudanças profundas se investigação que levou à demonstram cada vez mais Operação Rodin?” necessárias, mas elas estão sempre na dependência da alçada da legislação federal e da vontade da
Perguntas que não foram respondidas
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Momento de celebração: Dia do Professor e 20 anos do sindicato Fotos: GLAUCIO MAIA
Fabiane Costas, junto com atuais diretores e funcionários, homenageou os professores
O já tradicional jantar-baile em comemoração ao Dia do Professor, em 2009 teve um motivo a mais para ser celebrado: os 20 anos de fundação da Seção Sindical dos Docentes da UFSM (SEDUFSM), que se dará oficialmente no próximo dia 7 de novembro. A festa aconteceu na sexta, 16 de outubro, no salão de eventos do Park Hotel Morotin. Cerca de 200 pessoas prestigiaram o jantar, as homenagens aos diretores que passaram pelo sindicato ao longo de duas décadas, a apresentação do ator Marcos Bahrone, que interpretou “O Aprendiz”, de William Shakespeare, e, evidentemente, o baile, que teve a animação da banda “Realce”. As crianças acima de três anos também tiveram o apoio de 'Cris Recreações'. A atual diretoria da SEDUFSM, liderada pela professora Fabiane Costas, fez a recepção aos professores e familiares que foram até o Park Hotel Morotin. Na hora do cerimonial, a presidente da entidade destacou a construção histórica da seção sindical, citou os docentes que dirigiram a entidade, alguns deles presentes, lembrou as conquistas e destacou a expectativa de que a luta continuará por pelo menos mais 20 anos. Após o jantar, foi trazido o bolo, que celebrava o aniversário da seção sindical.
Uma história de lutas Simbolizando a história da SEDUFSM, pois além de ser um dos fundadores, presidiu a entidade de 1994 a 1996, prestou homenagem aos presentes o professor Ricardo Rondinel. Ele fez um breve histórico da seção sindical usando como inspiração um poema de Antonio Machado que diz “caminhante não há caminho, faz-se o caminho ao andar”. Rondinel lembrou do final dos anos 1980, quando a Associação dos Professores (APUSM) realizou um plebiscito em que ficou definido que não se transformaria em seção sindical do ANDES. Inconformados com isso, dezenas de professores se reuniram e no dia 7 de novembro de 1989 iniciaram a construção de um sonho - a SEDUFSM, entidade que congregaria a luta da categoria docente e que não se desvincularia do movimento sindical em nível nacional. Do pequeno grupo que iniciou a caminhada, hoje podem ser contados mais de 1.200 Ricardo Rondinel lembrou um pouco da história dos 20 anos da SEDUFSM filiados. Dos 16 metros quadrados que o sindicato tinha no prédio da reitoria, no campus da UFSM, hoje dispõe de uma sede própria no centro de Santa Maria, inclusive com auditório para a realização de eventos da entidade e que servem também a outros sindicatos da cidade. Segundo Rondinel, houve muitas greves, e com elas diversos ganhos, mas, como a vida não é feita somente de acertos, também existem erros e derrotas. Entretanto, para ele, as vitórias superam as derrotas e, exatamente por isso, o sindicato conseguiu chegar até os dias de hoje, completando duas décadas de trabalho.
Aos estão Aosque que ainda ainda estão e e aos que já se foram aos que já se foram Em nome dos diretores, o professor Ricardo Rondinel agradeceu a todos os filiados, que entendem a importância da luta. Agradeceu aos Marcos Bahrone emocionou o público com a interpretação de funcionários atuais e a todos "O aprendiz", de Shakespeare aqueles que fazem parte da história de construção e consolidação da entidade. Também destacou os primeiros lutadores que ajudaram no processo de fundação, citando em nome desses o professor Clovis Guterres. E, não esqueceu daqueles que lutaram mas não estão mais entre nós, como é o caso do professor de História da UFSM, que também foi diretor do sindicato, Joel Abílio Pinto dos Santos, falecido em março de 2007. Rondinel encerrou sua fala dando “gracias a la vida”, como cantava Mercedes Sosa, e conclamou os presentes a cantar os “parabéns” à SEDUFSM.
Baile adentrou a madrugada de sábado com a animação da banda "Realce"
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Guerra Civil Espanhola, 70 anos depois Fotos: FRITZ NUNES
Na década de 1930 a Espanha era um país com algumas marcas importantes: a monarquia decadente; o capitalismo incipiente, com uma elite conservadora, que se negava a promover transformações básicas como a reforma agrária que possibilitaria desconcentrar a posse da terra. Colaboravam para a manutenção dessa realidade visões culturais de uma sociedade de tradição autoritária, com a influência de setores da Igreja Católica. O conflito resultante dessa realidade, com os conservadores e nacionalistas de um lado e os republicamos com apoio de militantes de esquerda do outro, simbolizou e antecipou a divisão ideológica que ocorreria em termos globais após a 2ª Guerra Mundial. Resumidamente, esse foi o contexto trazido pelo historiador e professor da Faculdade Montserrat, de Caxias do Sul, Gerson Wasen Fraga, na noite do dia 5 de outubro, em mais uma edição do Cultura na SEDUFSM. O tema da atividade foi “Os 70 anos da Guerra Civil Espanhola” e contou ainda com a presença da professora Luciana Ferrari Montemezzo, do departamento de Letras Estrangeiras e Modernas da UFSM. A coordenação foi do professor Rondon de Castro, do departamento de Ciências da Comunicação da UFSM. Mesmo com a chuva torrencial, cerca de 15 pessoas compareceram. Além das discussões e debates, um dos elementos que enriqueceram o evento promovido pelo sindicato foi a exposição do trabalho artístico do professor João Luiz Roth. Na parede do Auditório da SEDUFSM foram expostas infogravuras relativas a Federico Garcia Lorca. O poeta e dramaturgo espanhol foi assassinado logo no início da guerra civil a mando do general Francisco Franco, que após o conflito, viria a ser o ditador daquele Titi Roth fez exposição de infogravuras país. sobre Garcia Lorca
As feridas abertas O segundo momento do Cultura na SEDUFSM, após a palestra do professor Gerson Fraga tratou das “feridas” não cicatrizadas pelo conflito. A professora Luciana Ferrari Montemezzo, do curso de Letras/Espanhol da UFSM, apresentou alguns textos de escritores que tratam das fraturas após um conflito que durou três anos, mas que até poucos anos atrás era bem pouco discutido no meio intelectual espanhol. O ditador Francisco Franco faleceu em 1975, mas, somente mais recentemente começaram a surgir, conforme Luciana, intelectuais da Espanha dispostos a “expiar” esse período. Um dos autores resgatados para esse fim, ou seja, Fraga: guerra civil resultou de uma Espanha ainda buscar as raízes de todo o sofrimento enfrentado pelo atrasada povo espanhol durante a guerra é Alberto Mendéz, autor de “Los girasoles ciegos” – Os girassóis cegos. Mendéz, escritor e ex-militante comunista, faleceu em dezembro de 2004 aos 63 anos. Ganhou um prêmio póstumo em 2005 por esse livro, que em 2008 foi transformado em filme. “Los girasoles ciegos” é dividido em quatro partes, ou quatro relatos: “Si el corazón pensara dejaría de latir"; "Manuscrito encontrado en el olvido"; "El idioma de los muertos" e a quarta e última parte, "Los girasoles ciegos". A OBRA- Para quem se interessar pela obra “Os girassóis cegos”, a internet disponibiliza algumas opções para que a mesma possa ser conhecida. Conforme a livraria Cultura, a publicação possui 160 páginas e teve sua primeira edição em 2007. Na sinopse que consta na página da livraria está descrito que o “livro é o regresso às histórias reais do pós-Guerra Civil Espanhola, narradas em voz baixa por aqueles que não queriam simplesmente contar histórias, mas sim falar de seus amigos, de seus familiares desaparecidos e de ausências irreparáveis. Histórias dos tempos do silêncio, quando dava medo alguém saber que sabia de algo. Quatro versões, sutilmente entrelaçadas, mostram que a derrota é a verdadeira protagonista de todas elas, pois, Luciana: intelectuais foram tantos os horrores que, todos os medos, todos os espanhóis aos poucos sofrimentos, todos os dramas, só tinham uma coisa em vivem "expiação" comum: os mortos”.
Gerson Fraga (e) e Luciana Montemezzo resgataram aspectos diferentes do conflito
O conflito como um laboratório Segundo o professor Gerson Fraga, há estudiosos que questionam se o termo correto para designar os enfrentamentos que dividiram a Espanha e levaram a milhares de mortos entre 1936 e 39, efetivamente se caracterizaria como Guerra Civil. Isso porque não havia apenas facções nacionais na disputa, mas contingentes de estrangeiros em ambos os lados. Entre os nacionalistas, o apoio do governo fascista da Itália e do governo nazista da Alemanha mostrou-se extremamente importante. Já do lado dos republicanos, o apoio de esquerdistas do mundo se personificou nas Brigadas Internacionais, que contou até mesmo com a participação de brasileiros. Contudo, Fraga destaca que o conflito espanhol acabou se tornando um grande laboratório para o uso de armamentos e técnicas de guerra que se consolidariam logo em seguida, durante a 2ª Guerra Mundial. Ele cita o exemplo do bombardeio à cidade espanhola de Guernica por aviões da força aérea alemã. O local, em que morreram milhares de pessoas, foi submetido a bombardeios severos ao longo de um dia inteiro, com a técnica do “tapete de bombas”. Os horrores de Guernica foram eternizados pela obra do pintor Pablo Picasso.
REINALDO PEDROSO
- As Olimpíadas têm início na competição para sediá-las.
- Corrida do Ouro.
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DI CA CU LT U RAL
ART I GO
Mercedes Sosa:
Livro CINE PRIVÊ
guerreira da música No último dia 4 de outubro morreu Mercedes Sosa, uma artista argentina que desde a adolescência cantava, dançava e encenava o folclore da cultura latino-americana. Porém, foi num contexto de ditaduras militares que se destacou no movimento de resistência pela via da arte e incitação da cultura latino-americana. É sabido que na velha ordem mundial, o mundo era dividido em primeiro mundo, segundo mundo e terceiro mundo. Este último compreendia toda a América Latina que sofria com o imperialismo político do primeiro mundo, e resistia com a utopia ideológica do segundo mundo. Há que se lembrar que até esse momento, a América Latina importava quase tudo do que o primeiro mundo produzia em cultura, e é aí que surge um movimento de integração e unidade latino-americana, o da nova canção. O movimento nova canção, ou nueva canción, que se consolidou nas décadas de 1960/70, integrava artistas de quase todas as nacionalidades da latino-américa, e acreditava na unidade do continente e manutenção de sua cultura popular como resistência política. Já na década de 1980, organizou vários espetáculos com artistas latinoamericanos como Milton Nascimento, Pablo Milanés, Teresa Parodi, Chico Buarque, Charly
García, Fito Páez e Raimundo Fagner, entre outros, sob o título de amígos mío, corazón americano, sin fronteras e diversos outros. E é esse o grande momento da Mercedes Sosa na condição de ícone de um movimento. O que hoje parece tão demodê, e
“Cantora combinava doçura com a força de uma guerreira”
propriedade da esquerda intelectual, outrora foi vanguarda da resistência. O folclore, a arte popular e a cultura de massa, tão cosmopolita na América latina, com elementos dos povos nativos, afros e europeus, principalmente
ibéricos, estavam tão ameaçados pelos regimes fechados das políticas imperialistas, ao qual nosso povo estava submetido. Segundo o jornal Correio Braziliense, para Cristovam Buarque, ex-reitor da Universidade de Brasília e organizador do Festival Latino-Americano de Arte e Cultura, em 1989, no qual entre os mais de 500 artistas e ativistas da cultura latino-americanos ela se apresentou, “Ela foi como um Che Guevara da música”. No Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 7 de outubro de 2008, Mercedes Sosa foi condecorada com a Ordem do Mérito Cultural, 14ª edição, que teve como tema central Homenagem a Machado de Assis, assinalando o centenário de morte do maior expoente das letras nacionais e um dos mais expressivos da literatura mundial. Todos os méritos consensuais desta grande artista, que afirmava não cantar apenas por cantar, não podem prescindir da forma absoluta com que enfrentava os palcos nos shows em que se apresentava. A felicidade que tive em vê-la cantar na década de 1980, em Santa Maria-RS, marcou em minha mente uma imagem paradoxal, na qual ela combinava simplicidade e doçura com a força de uma guerreira.
Rita Inês Paetzhold Pauli Profª Adjunta do Departamento de Ciências Econômicas da UFSM
Quem Leu? Pedro Brum Santos (* ) Editora: Companhia das Letras, 2009, 128p. Autor: Antonio Carlos Viana
A ficção contemporânea incorpora uma máxima antiga da literatura: desgraça de pobre não tem componente trágico. Cine Privê, de Antonio Carlos Viana, dá preferência a primeira pessoa e, com isso, investe numa forma de relato confessional, estratégia que soa familiar ao leitor de hoje. Afinal, vivemos um tempo marcado pela exposição da privacidade e, mesmo, da intimidade das pessoas. Rigorosamente, não há mais segredo nesta época de blogs e flogs. Viana, porém, ausculta uma intimidade que vem da margem, vagidos oriundos das franjas da urbanidade. Rigorosamente, eles se referem à gente que está fora do sistema, excluída do mundo que conta. Essa é a gente que ganha voz nas páginas de Cine Privê, algo que, no fundo, pela desconexão com o todo, é do campo da pornografia – como apropriadamente sugere o título do livro. Viana é um bom exemplar da ficção que se faz hoje, esta que, interessada na “vida como ela é”, mexe com a nossa condição social não raro acomodada na indiferença diante da miséria e da ignorância alheias. (* Professor do departamento de Letras Vernáculas da UFSM)