Folclore

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VIEIRA, Alberto (1996), Folclore e Religiosidade Popular

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO: VIEIRA, Alberto (1996), Folclore e Religiosidade Popular, Funchal, CEHA-Biblioteca Digital, disponível em: http://www.madeira-edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/avieira/folclore.pdf, data da visita: / /

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FOLCLORE E RELIGIOSIDADE POPULAR

A TRADI O E A CONJUNTURA POL TICA. Hoje, a necessidade de valorização da vivência e cultura populares é cada vez mais premente. A exaltação do “popular” expressa-se através do estudo e publicação, mas também na recriação destas vivências ou da sua institucionalização com os chamados grupos folclóricos1. As comemora es e o turismo s o um momento mpar desta exalta o. Como exemplo disso, ao n vel da ilha, temos as festas do Quinto Centen rio do Descobrimento de Madeira2 (Dezembro 1922) e do bicenten rio de eleva o do lugar de S. Vicente categoria de Vila (1944)3, a que dever o juntar-se as festas centen rias de 1940. Tamb m, o turismo e as festas de fim de ano que tiveram, a partir da d cada de trinta, um grande incremento, contribu ram para esta valoriza o na 4 presente cent ria . , tamb m, nesta conjuntura que surgiram os primeiros estudos sobre cultura popular, apostados em afirmar a identidade cultural madeirense. Aqui, merecem a nossa aten o os trabalhos de Fernando Augusto da Silva(1921-22), Jayme Sanches de Camara(1931), Fernando Aguiar(1937-1951), Visconde do Porto da Cruz(1924-1963), Alberto Artur Sarmento(1940-1956), Carlos Maria dos Santos(1942-1953), Jaime Vieira Santos(1948-1956) e Eduardo Antonino Pestana(1957-1970). Com estes temos uma tradi o, que por ser escrita e divulgada, ganhou foros de evidencia, da liga o ntima das tradi es populares - ao n vel das dan as e cantares - com os escravos africanos da costa de Guin e Marroquina5. A dois de Julho de 1420 desembarcou Jo o Gon alves Zarco no vale de Machico e, de imediato, procedu posse da terra em nome do rei, sua sagra o com a primeira missa pelos franciscanos que o acompanhavam, tal como o testemunha Francisco Alcoforado6. Tudo isto parece-nos indicar que o povoamento da Madeira e a organiza o da estrutura eclesi stica, foram concretizados de acordo com um plano definido, pois Jer nimo Dias Leite refere que o objectivo dos primeiros madeirenses era “p r em obra a edifica o das igrejas e das vilas e lugares e lavran a de terras”. Tais princ pios nortearam, n o s , o caso da Madeira, mas tamb m, o de outros arquip lagos atl nticos onde os portugueses chegaram. No per odo de 1433 a 1514 a ilha estava a cargo do mestre da Ordem de Cristo que, no caso da al ada religiosa, determinara a sua superintend ncia pelo vig rio da vila de Tomar. De acordo com a bula de 1456 as novas reas atl nticas eram consideradas “nullius diocesis”, estando dependente daquele vig rio. Era ele que determinava a constru o das primeiras igrejas e nomeava os prelados para o servi o religioso. A al ada do vig rio de Tomar sobre as ilhas continuou at 1514, altura em que foi criado o bispado com sede no Funchal. 1

.O primeiro foi o Grupo Folcl\rico da Camacha constituRdo em 1948. 34. Fernando Augusto da Silva, Elucid
AS PAR QUIAS. As sedes das capitanias, em data que deconhecemos, tiveram o primeiro vig rio que, depois, o progresso e a consequente press o do movimento demogr fico conduziram ao aparecimento de novas igrejas e par quias. O templo religioso o ponto de diverg ncia do processo de povoamento e foi em torno dele que surgiram as primeiras habita es de madeira para dar abrigo aos colonos. Daqui resulta a import ncia da igreja em todo o processo. As primeiras par quias surgem no s culo XV a partir dos principais n cleos de fixa o litoral B C mara de Lobos, Calheta, Funchal, Machico, Ponta do Sol e Ribeira Brava. E destas freguesias se retiraram outras na primeira metade da cent ria Campan rio, Estreito de C mara de Lobos, Faial, Gaula, Ponta do Pargo, Santana e Santo Ant nio- secundado na d cada de setenta por novas: Porto da Cruz, Canhas, Madalena do Mar, S. Roque e S. Martinho. OS CONVENTOS. A ordem ser fica firmou-se na vida religiosa madeirense criando conventos, cen bios ou orat rios no Funchal(1480), C mara de Lobos(1450), Santa Cruz(1527), Ribeira Brava(1724), Calheta(1670) e Machico7. Neste contexto relevam-se os de S.Francisco do Funchal e o de Santa Clara8. O primeiro foi constru do a partir de 1474, enquanto o segundo, de freiras, foi erguido por iniciativa de Jo o Gon alves Camara, segundo capit o do Funchal, no espa o onde o seu pai havia edificado a capela da Concei o de Cima (em oposi o da Concei o de Baixo, erguida junto ao mar) e teve o padroado do mesmo por bula (1476) de Sixto IV. Por breve (1496) de Alexande VI ficou estabelecida a sua regular observ ncia e o in cio da clausura, sendo abadessa D.Isabel de Noronha, filha do capit o, que se encontrava no Convento da Concei o de Beja. Por fim, registe-se o Convento de Nossa Senhora da Piedade, fundado por legado estabelecido no testamento (1518) de Urbano Lomelino numa sua granja, situada no local onde hoje se encontra o actual aeroporto do Funchal.Id ntico ideal moveu o c nego Henrique Cala a de Viveiros, que em 1650 ergueu um convento de Nossa Senhora da Encarna o em 9 honra da restaura o da independ ncia . Este foi o segundo convento feminino da regra franciscana de Santa Clara. Mais tarde, em 1654, Gaspar Berenguer de Andrade fundou o das Merc s. Em 1485, retirou-se na ilha Frei Pedro da Guarda, criando o pequeno eremit rio de S o Bernardino em Camara de Lobos. Este franciscano, conhecido como o santo servo de Deus, ficou c lebre na ilha pelas suas virtudes e milagres, o que motivou um culto arreigado s popula es de Camara de Lobos, que se manteve at 1835, ano em que foi proibido. O BISPADO. O rei concedeu o direito de padroado Ordem de Cristo. Primeiro em 1433 o arquip lago da Madeira alargado, depois, em 1454, a todos os territ rios descobertos, situa o confirmada por bula papal de 17 de Mar o de 1456. O governo espiritual ficou entregue ao vig rio de Tomar, sede da Ordem de Cristo e na condi o de nullius diocese, enquanto ao administrador da ordem competia a constru o dos templos, a nomear os ministros e pagar o seu vencimento. Situa o que n o agradou diocese de T nger que queria alargar os seus dom nios s ilhas10. parte isso, em 7

. Fernando Carlos Azevedo Vaz, "S. Francisco do Funchal. A ihgreja, o convento, os frades", in DAHM, 1948-49, IV, n1.23, 1956; Joaquim Pl
todas as ilhas, estabeleceram-se ouvidorias com o objectivo de organizar e exercer o governo eclesi stico. A situa o mudou em 1514 com a cria o do bispado do Funchal e, depois em 30 de Dezembro de 1551, com o regresso coroa do padroado. Extinto o senhorio, a Ordem de Cristo atrav s do vig rio de Tomar continuou a superintender o governo eclesi stico das ilhas at que em 12 de Junho de 1514, pela bula “Pro excellenti”, foi criado o bispado do Funchal com jurisdi o sobre toda a rea ocupada pelos portugueses no Atl ntico e Indico. At este momento todo o servi o episcopal era feito por bispos titulares a enviados pelo referido vig rio,como sucedeu em 1507 e 1508. Mas, o progresso econ mico e social deste vasto espa o levou cria o em 1534 de novas dioceses, cujas reas foram desanexadas do Funchal: as de Goa, Angra, Santiago e S. Tom . Mais tarde a 31 de Janeiro de 1533 a diocese do Funchal foi elevada categoria de metropolitana e primaz, englobando “a Madeira e Porto Santo, as ilhas Desertas e Selvagens, aquela parte continental de frica, que entesta com a diocese de Safi[m] e bem assim as terras do Brasil, tanto as j descobertas, como as que se vierem a descobrir”. O primeiro bispo a pisar o solo da diocese foi D. Ambr sio Brand o, em nome do arcebispo D. Martinho de Portugal11, que a esteve em 1538 acompanhado de dois visitadores (Jord o Jorge e lvaro Dias). Foi a partir da que se reorganizaram as par quias, estabelecendo-se normas rigorosas para a sua fixa o nas igrejas e moraliza o dos actos atrav s dos livros de registo. Depois da sua morte, em 1547, a S permaneceu vaga at 1551. Neste per odo esteve no Funchal o bispo D. Sarello, das Can rias, que deu “ordens a muitas pessoas e correu a ilha toda crismando comumente a todos os que disso tinham necessidade”. E, em 1552, foi provido D. Frei Gaspar do Casal, que n o residiu na ilha, sendo o facto mais saliente ter participado no Conc lio de Trento. O sucessor, D. Jorge de Lemos, nomeado em 1556 foi quem, na verdade, deu forma aplica o das ordens do conc lio, sendo seguido depois por D. Jer nimo Barreto (1574-85) e D. Lu s de Figueiredo de Lemos (1586-1608) considerados os verdadeiros obreiros desta reforma na Madeira. A reorganiza o das institui es religiosas e do ritual religioso, iniciados em 1578 por D. Jer nimo Barreto tiveram continuidade com D. Lu s Figueiredo de Lemos (1597, 160212), Frei Louren o de T vora (1615), D. Fernando Jer nimo (1622, 1629, 1634), D. Frei Ant nio da Silva Teles e D. Frei Jos de Santa Maria (1610). Todos estes prelados realizaram um s nodo onde foram aprovadas diversas constitui es, mas apenas se publicaram as de 1578 e 1597 e conhecem-se as de outro manuscritas, tendo-se perdido as restantes. Estas medidas corresponde ao apelo da pr pria estrutura da igreja e dos leigos que em 1546, atrav s da c mara, fizeram ouvir a sua voz de descontentamento junto da coroa13. At s reformas pombalinas o ensino manteve-se na al ada da igreja, exercendo aqui a Companhia de Jesus uma ac o relevante. Deste modo onde estavam os jesu tas poder amos contar com a presen a de escolas organizadas e por um elevado grau de alfabetiza o de certos grupos, o que contribu u para elevar o ambiente cultural, propiciador do aparecimento de importantes vultos das letras. Os jesu tas surgem 11

. Confronte-se Gaspar FRUTUOSO, Saudades da Terra, 290-291; Paulo Drumond BRAGA, " A actividade diocesana de D. Martinho de Portugal na arquidiocese funchalense", in Actas. III Col\quio Internacional de Hist\ria da Madeira, Funchal, 1993, 557-562. 12 . Confronte-se Isabel R. Drumond BRAGA, "A acHno de D. LuRs Figueiredo de Lemos, bispo do Funchal.1585-1608", Actas. III Col\quio Internacional de Hist\ria da Madeira, Funchal, 1993, 563-583. 13 .ANTT, CC, parte I, maHo 78, doc. 58, 16 de Agosto.

tamb m na Madeira e criaram na cidade um dos mais importantes col gios, que abriu as suas portas a 6 de Maio de 1570 14 e manteve-se at 1759. Os col gios dos jesuitas permitiram a continuidade dos estudos aqueles que haviam dado os primeiros passos nas escolas de par quia e tamb m lhes abriram a possibilidade de cursarem nas universidades do reino e estrangeiras. As bases do ensino paroquial e as condi es econ micas da ilha foram respons veis pela forma o deste elite cultural, inevitalvemente ligada s principais fam lias madeirenses15. supersti o como sin nimo de feiti aria, sortil gios, agoiros, benzedura, idolatria e pacto com o dem nio. A religiosidade popular expressa-se de diversas formas, sendo de real ar as festas populares, manifesta es colectivas e as cren as e ritos de devo o particular. No primeiro caso de temos as festividades populares, com ou sem rela o com o ritual oficial. Natal, Carnaval, S. Jo o, S. Pedro. Note-se que estas festas populares t m origem em cultos natural sticos e que a quase todas estas manifesta es est o associadas manifesta es particulares, por vezes, com car cter m gico. , todavia, dentro dos rituais ou supersti variedade de manifesta es:

es individuais que encontramos uma maior

1. Ora es populares - ensalmos, coplas, conjuros, responsos, ladainhas - adequadas a todos os momentos e circunst ncias do nosso quotidiano. 2. Lendas e milagres - que depois se imp em como forma de religiosidade oficial. Neste caso temos as lendas sobre as apari es - caso de N0 Sr0 do Monte - ou achado de imagens - Bom Jesus, Senhor dos Milagres - que formalizam ou refor am o culto e devo o a uma determinada imagem16. Este culto tanto pode ser expresso atrav s de uma p blica manifesta o de autoflagela o ou atrav s dos ex-votos propriamente ditos, isto objectos pessoais, como fotos, imagens, pinturas ou ofertas em cera17.

Fontes e materiais de recolha

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o Bibliogr fica,3 vols., Funchal,

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