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COMERCIO INTER-INSULAR NOS
SÉCULOS XV
MADEIRA,
E XVI
AÇORES E CANÁRIAS
REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA
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COMERCIO
I N T E R - lN S U LA R NOS
SÉCULOS
MADEIRA,
AÇORES
XV
E
XVI
E CANÁRIAS
(ALGUNS ELEMENTOS PARA O SEU ESTUDO)
ALBERTO
VIEIRA
SECRETARIA REGIONAL DO TURISMO E CULTURA CENTRO· DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DO ATLÂNTICO
1 987
Capa, gráficos e mapas: Fotografia: Esc.
VIRGfLIO GOMES
MANUELA ARANHA
ABREVIATURAS
A.A.P.D. Arquivo da Alfândega de Ponta Delgada. A.C.M.R.G. Arquivo da Câmara Municipal da Ribeira Grand.e. A.C.M.V. Arquivo da Câmara Municipal das Velas (S. Jorge). A.E.A. Anuário de Estudos Atlânticos. A.H.M. Arquivo Histórico da Madeira. A.H.P.L.P. Arquivo Histórico e Provincial de Las Palmas. A.N.T.T. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. A.R.M. Arquivo Regional da Madeira. B.C.R.C.A. Boletim da Comissão Reguladora dos Cereais do Arquipélago dos Açores. B.I.H.I.T. Boletim do Instituto Histórico da Ilha' Terceira. B.P.A.A.H. Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroísmo. B .P.A.P.D. Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada. C.C. Corpo Cronológico. C.H.C.A. Colóquio de História Canário-Americana. J.R.C. Julgado de Resíduos e Capelas. Ma Misericórdia. N.A. Núcleo Antigo.
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INTRODUÇÃO
A abordagem e conhecimento das sociedades insulares tem sido, em certa medida, um domínio de investigação histórica muito solicitado nas últimas décadas. Desde Fernand Braudel, Pierre Chaunu, A. Rumeu de Armas, Frédéric Mauro, T. Bentley Duncan e Magalhães Godinho reconheceu-se a necessidade de um estudo atento da história insular, como componente basilar do conhecimento do processo histórico atlântico-europeu. Daí a valorização dos fundos arquivísticos regionais e o seu aproveitamento para a explicitação da análise da expansão atlântica. Os autores supracitados exerceram uma acção muito importante na análise global ou comparativa deste restrito mundo insular, como forma de clarificar os vectores dominantes do seu processo histórico. Assim as ilhas atlânticas que até então mereciam, apenas, monografias delimitadas espacio-temporalmente, passam a ser encaradas no contexto mais amplo do Atlântico, destacando-se aí como principal área da influência nos séculos XV e XVI. Neste contexto valoriza-se o seu inter-relacionamento com o litoral africano, americano e europeu, passando a ser consideradas corno pontos-chave para a afirmação da hegemonia no Atlântico. Em síntese, a historiografia insular ou pró-insular ultrapassou a fase introspectiva, mediante o impulso teórico-metodológico externo, mantendo-se até ao momento, em parte arreigada a essas perspectivas de análise impostas pela historiografia europeia. Tal circunstância terá condicionado a proliferação de títulos bem como uma maior atenção por este domínio hístoriográfico. Aí valoriza-se quer o desenvolvimentó do processo histór!co, num âmbito restrito, quer, num campo mais vasto, o seu inter-relacionamento com o Velho e o Novo Mundo. Pouca ou nenhuma atenção foi dada às conexões internas do mundo das ilhas que deveras marcaram a vivência destas sociedades insulares. Só muito recentemente com os trabalhos de Artur Teodoro de Matos e Manuel Lobo Cabrera foi posta em destaque esta nova e importante faceta da História Insulana. Gaspar Frutuoso (1522-1591), pela sua importante obra sobre a História dos arquipélagos atlânticos (Canárias, Cabo Verde, Madeira e Açores), pOderá ser considerado o
e)
et)
Artur Teodoro de Matos, "Las relaciones entre Azares, Canarias y America Espaiiola en los siglas XVI
y XVII .. , in V C.H.C.A .. Las Palmas, 1982 (no prelo); Manuel Lobo Cabrera, "Gran Canaria y los contactos com las islas portuguesas atlanticas: Azores Madera, Cabo Verde y Santo Tomé.. , in Congresso lnlemacional de Historia Maritima. Las Palmas, 1982 (no prelo) Manuel Lobo Cabrera. Elisa Torres Santana, "Aproximación 'de las relaciones entre Canarias y Azares em los siglas XVI y XVII .. , in Os Açores e o Atiam/cD (séculos XVI-XVII). Angra do Heroísmo, 1984,352-375. Manuel Lobo Cabrera e Margarida I. Martín Socas. «Emigracion y comercio entre Madeira y Canarias en el siglo XV)", in ihidem, 678-700.
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pioneiro desta inovadora perspectivação da realidade histórica insular. Ele terá sido ainda o pioneiro a evidenciar e delinear os traços comuns destas sociedades nascentes, tanto ao nível geográfico, como ao administrativo e económico (2). Na realidade não estava equivocado quando tentou essa abordagem, pois os referidos arquipélagos pertencem à Macaronésia ao mesmo tempo que fazem parte de um conjunto, que é o Atlântico. A perspicácia e pormenor das suas descrições atestam, por um lado, o conhecimento profundo que havia destas ilhas em finais do século XVI e, por outro, as possibilidades ou assiduidade dos contactos entre as diversas ilhas. Para escrever os referidos relatos Gaspar Frutuoso terá percorrido algumas delas, apoiando-se, ainda, no testemunho oral do viajante e do mercador que frequentavam a ilha de S. Miguel Talvez o facto de ser filho do mercador Frutuoso Dias, natural de Ponta Delgada, tenha contribuído para essa familiarização com os arquipélagos vizinhos, com que os açorianos mantinham contactos assíduos (4). Para além desta tentativa de análise comparada e de conjunto dos arquipélagos atlânticos, o texto frutuosiano poderá ser considerado ainda como a primeira memória atenta que preserva o cotejo do inter-relacionamento destes arquipélagos, dando conta do movimento migratório e comercial entre a Madeira, os Açores e as Canárias. Todavia o seu apelo para a fundamentação da sociedade e economia insulares e do sistema de inter-conexões maJ;lteve-se no esquecimento por várias gerações, sendo aproveitado, apenas, no nosso século. Partindo das tentativas já referenciadas e cientes da importância desse tipo de abordagem lançamos mãos, em 1982, de um projecto de estudo do Mediterrâneo Atlântico nas suas peculiaridades, fazendo-o incidir nas relações entre estes três arquipélagos, situados. às portas do Atlântico Sul. Aqui conclui-se a primeira fase desse plano, cujo objectivo primordial é o conhecimento da realidade histórica insular. Assim, esta monografia define-se pelo seu carácter introdutório ao tratamento do tema. As lacunas da documentação nos três arquipélagos são imensas, pelo que fomos impossibilitados de estabelecer as séries cronológicas necessárias para um estudo desta índole. Deste modo o tratamento do comércio inter-insular ficou muito limitado em termos documentais e expositivos, não pela sua importância no contexto económico insular, mas sim pelas referidas lacunas. Todavia, a informação respigada nessa documentação, ainda que diminuta em termos numéricos, é suficientemente elucidativa para podermos afirmar a sua importância na economia insular. . Além disso os reflexos da compartimentação geográfica, aliados à dificuldade de contactos com as ilhas fizeram-se sentir, de modo evidente, neste primeiro resultado da investigação em curso. Assim, a dispersão geográfica da documentação açoriana, em consonância com a impossibilidade material de uma adequada permanência no arquipélago canário, impossibitaram-nos de um maior aprofundamento destes arquipélagos. Se nas Canárias essa lacuna foi colmatada parcialmente pela riquíssima produção historiográfica deste século, nomeadamente da Universidade de La Laguna e da Casa Colón (Las Palmas), nos Açores apenas podemos ficar agradecidos ao brilhante e minucioso trabalho de recolha de Ernesto do Canto, reproduzido parcialmente no Ar.quivo dos Açores. Uma maior familiarização com o riquíssimo acervo documental madeirense, aliada à importância deste arquipélago no sistema de inter-conexões insulares, levaram-nos a apostar nessa documentação e partir dela para a análise pretendida. Além disso, porque reconhecemos ter sido a Madeira a ilha onde se lançou a primeira experiência de ocupação atlântica, com
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Rodrigo Rodrigues. «Notícia biográfica do Dr. Gaspar Frutoso .. , in Saudades do da Terra, L.0 I, Ponta Delgada, 1984, XV-CVX; Manuel Lobo Cabrera «Aproximacion a las relaciones entre Canarias y Azores ... ", 354-356. (3) Rodrigo Rodrigues, arl. cit., XL-XLI, LXIV. (4) Idem, Ibidem. XXVI, LXVII.
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implicações nas ilhas vizinhas, estruturámos a nossa exposlçao a partir daí. associando depois os Açores e as Canárias. Aliás, a Madeira contribuiu em muito para o arranque da ocupação e valorização sócio-económica desses arquipélagos vizinhos. Este impacto madeirense terá condicionado o desenvolvimento das suas sociedades, evidenciando a similitude de processos, técnicas e produtos. Neste sentido poderá considerar-se o colono madeirense como o principal obreiro desta sociedade e economia insulares. A concretização deste estudo não seria possível sem a prestimosa colaboração de instituições, amigos e mestres a quem agradecemos vivamente. De entre estes distinguimos o contributo do Professor Doutor Manuel Lobo Cabrera, que nos encaminhou pelas sendas da investigação arquivística e bibliográfica canária, e o Professor Doutor Artur Teodoro de Matos, timoneiro deste cruzeiro atlântico, pela orientação e impulsionamento dado a este trabalho. Para a presente edição deste nosso trabalho estamos gratos a todos os elementos da Comissão Instaladora do Centro de Estudos de História do Atlântico por nos confiarem a honra da primeira edição desta instituição. Ao Professor Doutor Luís de Albuquerque o nosso especial agradecimento pelos sábios conselhos dados, quando da preparação do texto para edição, e pelo empenho e acompanhamento da impressão.
Ponta Delgada, Janeiro-Maio de 1985
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PRIMEIRA PARTE
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ATLÂNTICO E AS ÁREAS INSULARES
1. A ECONOMIA INSULAR
O processo de ocupação do mundo insular atlântico surge, nos séculos XV e XVI, como um movimento ímpar da expansão e da colonização do Ocidente. A expectativa do Novo Mundo aliada aos incentivos da nova economia de mercado condicionaram a valorização, não só destas ilhas, mas do Atlântico em geral. Os arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias, porque próximos da Europa e posicionados estratégicamente nos rumos da navegação atlântica, surgem desde muito cedo como pólos importantes para o domínio do Atlântico. Talvez por isso mesmo Frédéric Mauro não hesite em afirmar: «iles sans doute, mais iles aussi important que des continents» e). A sua ocupação e valorização sócio-económica faz parte de uma estratégia do Ocidente, marcada pela paulatina desvalorização do mercado mediterrânico em favor do novo mercado atlântico. Esta transmutação de centros de influência foi responsável pela valorização dos arquipélagos atlânticos. Talvez por isso mesmo certa historiografia ocidental não hesitou em denominar este Novo Mundo insular de Mediterrâneo Atlântico. Pierre Chaunu vai mais longe e divide o Atlântico em duas áreas de influência perfeitamente definidas: o Mediterrâneo Atlântico e o Americano CZ). A imagem do Mediterrâneo como centro dominante das trocas comerciais, exóticas ou não, domina o imaginário dos ocidentais na expansão do litoral insular, africano e americano e). A tudo isso vem juntar-se a constante presença de gentes ribeirinhas da bacia mediterrânica, interessadas em impôr as suas técnicas de negócio, o seu capital, os seus produtos (4). , As ilhas dos arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias situadas às portas do Novo Mundo e, porque próximas do velho centro de comércio surgem, nos séculos XV e XVI, como o último resquício mediterrânico e a esperança dõ novo centro atlântico. Daí o referido epíteto que sintetiza as aspirações dos europeus na alvorada de uma nova era. Esta premência e constância do Mediterrâneo nos primórdios da expansão atlântica poderá ser corresponsabilizada pela dominante mercantil das novas experiências de arroteamento nesta área inexplorada. Certamente os povos peninsulares e ribeirinhos da bacia
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De,\' produit,\' et de,\' hommes. Paris. 1972. 53
(2) Sevilla y América. Siglos XVI y XVII. Sevilha. 1982, 43 (3) Frédéric Mauro. La XVI". siécle européen. A,\'pects économiqlles, Paris. 1970. 103; Femand Braudel,
La Mediterranée et le monde Mediterranéen ( ... ), vol. I, Paris, 1976, 141-142. (4) Manuel Nunes Dias. O capitalismo monárquico português. vaI. II. Coimbra, 1964, 171, 179. 182,
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meditelTânica, ao comprometerem-se com o processo de expansão atlântica, não puseram de parte a sua tradição agrícola, incentivadora das trocas comerciais. Por isso na bagagem dos primeiros cabouqueiros insulares eram imprescindíveis as cepas, as socas de cana, alguns grãos do precioso cereal, de mistura com os artefactos de uso corrente. O processo de ocupação e domínio do Atlântico foi, deste modo, definido por uma transplantação material e mental de que os colonos peninsulares foram os principais obreiros. Mais do que uma tentativa de recriação do velho rincão natal, este processo foi a primeira experiência de ajustamento das arroteias às directrizes da nova economia de mercado (5). Assim, a aposta preferencial de cultura irá incidir nos produtos em falta na Europa e naqueles mais valorizados nessa economia nascente, como o açúcar e o pastel. A sociedade e economia insulares surgem na confluência destes vectores externos em consonância com as condições mesológicas do multifacetado mundo insular. Todavia, a sua distribuição e a sua valorização não foram simultâneas nem obedeceram aos mesmos princípios organizativos, mercê da sua repartição pelas coroas peninsulares e senhorios ilhéus. Na Madeira e nos Açores o arranque sócio-económico dependeu, de modo uniforme, da intervenção da coroa e senhorio (1433-1497), enquanto nas Canárias os mesmos agentes tiveram uma acção diversificada e localizada em ilhas. Nesta última situação o processo de integração do arquipélago foi muito moroso e variou de ilha para ilha, sendo comum distinguir as ilhas realengas das senhoriais. Não obstante esta forma diversificada de direcção e domínio, é notória a dominância dos princípios definidores da nova economia de mercado, visível na selecção das culturas e no incentivo que lhes foi dado. As Canárias, pela riqueza dos seus recursos humanos e naturais surgiu, desde o século XIV, como primeiro alvo preferencial dos povos peninsulares e mediterrânicos. Todavia o seu processo de conquista e ocupação foi retardado pela disputa entre Portugal e Castela, bem como, pelo afrontamento da população guanche. Deste modo, a Madeira e o Porto Santo irão assumir a posição dianteira neste processo, surgindo, desde princípios do século XV, como importantes focos de recepção e materialização das necessidades e dos anseios sociais, políticos e económicos do Ocidente. O arquipélago açoriano, colocado nllma posição excêntrica em relação ao principal pólo de atracção atlântica nas primeiras décadas do século XV e, mercê da premência dos fenómenos sísmicos e vulcânicos, não se apresentava muito favorável a esse desenvolvimento inicial. Apenas na segunda metade do século este espaço multifacetado atrairá as atenções dos peninsulares e até dos descontentes com a situação madeirense. Assim, a partir da década de 70 as ilhas açorianas surgem como uma concorrente da Madeira, galvanizando as atenções de madeirenses e peninsulares. A experiência adquirida pelos colonos imigrantes da Madeira foi importante para a valorização sócio-económica deste arquipélago bem como do canúrio. A Madeira, que se encontrava a pouco mais de meio século da sua existência como sociedade insular, estava já em condições de oferecer contingentes de colonos preparados para o lançamento de novas arroteias e culturas nas ilhas vizinhas. Assim terá sucedido com a transplantação da cana-de-açúcar para as ilhas de Santa Maria, S. Miguel, Terceira, Oran Canaria e Tenerife. Deste modo o arquipélago madeirense, posicionado estrategicamente nesse mundo de ilhas, dominará todas as conexões atlântico-insulares; será um intermediário entre os dois arquipélagos do extremo ocidental e oriental e um importante veículo que assegurará a unidade e a vizinhança, e aproximará as parcelas deste Novo Mundo; pelo seu lado, ambos os arquipélagos vizinhos integrarão a Madeira nos circuitos comerciais do litoral africano e americano. A aproximação e vizinhança das ilhas que compõem o Mediterrâneo 'Atlântico serão
(5) José V. Torres, lntrodução à História Económica e Social da Europa. Coimbra, 1983, 83-85; Maria Olímpia da Rocha Gil, .. Os Açores e a nova economia de mercado (séculos XVI-XVII)>>, in Arquipélago, série Ciências Humanas, vol. III, 1981, 371-375; Pierre Chaunu, Sévil/e et I'Atlalltique, vol. VIII. 79.
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corresponsabilizadas por esta identidade, bem como pelas assimetrias e complementaridades do seu desenvolvimento económico. Estas características dominantes do mundo insular são o único meio estabilizador dos mecanismos sócio-económicos insulares, uma vez que criaram as condições necessárias à resolução dos problemas quotidianos e à valorização das potencialidades locais. Foi, certamente, a única possibilidade da economia insular se afirmar em face da premência e dominância da Europa Ocidental; assim sucedeu com os cereais que, produzidos ápenas em algumas ilhas, foram suficientes, em condições normais, para satisfazer as necessidades da dieta local. Esta conjugação de interesses marcará, por todo o século XVI, as linhas complicadas das conexões insulares. O afrontamento das economias das ilhas aparece apenas no domínio das culturas coloniais - pastel, açúcar, vinho - impostas pelo Ocidente com a única finalidade de suprir as suas carências; tal imposição externa, dominante em todo esse mundo, conduziu a um afrontamento e a uma crítica desarticulação da economia insular. Todos estes produtos são o suporte mais poderoso do domínio europeu na economia das ilhas (6). O açúcar na Madeira, Gran Canaria, Tenerife, La Palma e o pastel, em S. Miguel, Terceira, exerceram uma acção devastadora do equilíbrio da exploração económica local, retirando o espaço agricultado às culturas similares. Tal circunstancionalismo culminou sempre numa situação de forte dependência em relação ao mercado externo que, para além de consumidor exclusivo destes produtos, surge como o principal fornecedor dos produtos ou artefactos que os povos das ilhas carecem. Qualquer eventualidade que pusesse em causa a produção dessas culturas era o prelúdio da estagnação do comércio e da fome. Assim sucedeu em 15]3 na ilha de Tenerife com a acção do bicho da cana que destruiu grande parte das fazendas de açúcar que, segundo reclamação dos seus vizinhos, «es lo principal de la isla., (). De igual modo se poderá definir a situação madeirense, na segunda metade do século XVI, mercê da concorrência do açúcar brasileiro que abateu o comércio do «da ilha que he o fruito e comercio principal dclla e remedio dos lavradores., (8). Terá sido com base nesta ambiência que Fernand Braudel defendeu, em 1949, para estas ilhas um regime produtivo de monocultura No entanto nesse mesmo ano Orlando Ribeiro esclarecia o carúcter de não monocultura do regime de exploração agrícola madeirense eo). E, volvidos vinte anos, Elias Serra Rafols respondia a Francisco Marales Lezcano, enunciando que nas Canárias nunca existiu um regime de monocultura, uma vez que a economia canária foi dominada por uma variedade de culturas, cuja actuação não é unifonne no tempo e no espaçoet 1). Mais tarde, Frédéric Mauro, secundado por Vitorino Magalhães Godinho, retomam a questão, enunciando que a economia insular se definiu apenas por um regime de produtos dominantes e não de monocultura (12).
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(6) Femand Braudel, ibidem. I, 182, Pierre Chaunu, ibidem. vol. VIII, 79.
ç7) Acuados dei Cabildo de Tenerife, III. 277-283, n.O 42, .. Capitulaciones que presenta ai Rey la isla de Tenerife por mano de mensagero ... (8) A. R. M., C. M.F., Tombo Velho, fi. 178, 5 de Dezembro de 1598. (9) Ob. cit .• ed. de 1949, 123. eo) L'fie de Mlldere ( ... ), Lisboa, 1949, 67. (11) .. E! gofio nuestro de cada dia .. , in Estudios Canarios, XIV-XV, 1969-1970,97-99; corroborado por M. A. Ladero Quesada (Espana en 1492, Madrid, 1978, 205-218), Eduardo Aznar Vallejo (La illfegración de las islas Canarias en la ('(}rona da ,Castilla, La Laguna, t983, 455) e Fernando Clavijo Hernandez .. Los documentos de tletamentos ( .. ')'" in IV C. H. C. A.. vol. 1,36. A tese de Victor Morales Lezcano, baseada em F. Braudel surgiu pela primeira vez em Sillfesis de la historia economicá de Canarias, Tenerife, 1966. sendo depois reforçada em Las relaciones mercantiles entre Inglaterra y los archipélagos allallfico ibéricos ( ... ) La Laguna, 1970 e em .. Cultivos dominantes y ciclos agrícolas en la historia Modema de las islas Canarias .. , in Historia General de las Islas Cal/arias, IV, 11-22. 2 ) Frédéric Mauro, Le Portugal el I'Allantique au XVlle. siecle( ... ), Paris, 1960 50 I; Idem, ",c0njoncture économique et structure sociale en Amérique latine depuis I'époque coloniale .. , in COl/jol/ctllre Economique. Structure Sociales, Hommage à Ernest Labrousse, Paris, 1974,237-251; Vitorino Magalhães Godinho, "A divisão da história de Portugal em períodos .. , in Ensaios !l, 2." cd., Lisboa, 1978. t2-14.
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Deste modo, e em face de uma análise aturada da economia insular, parece-nos que a mesma não se rege por princípios exclusivistas, de acordo com a premência das solicitações externas. Antes pelo contrário, o seu desenvolvimento sócio-económico processou-se de forma variada, sendo a exploração económica dominada por esses vectores dominadores, confrontados com as condições e recursos do meio, com solicitações da economia de subsistência. É difícil, senão impossível, conseguir definir um ciclo em que impere a monocultura de exportação, num espaço amplo e multifacetado como é o mundo insular, ou em cada arquipélago em particular. O espírito de inter-ajuda atrás enunciado é a prova cabal disso. Os modelos, embora perfeitamente delineados, não se ajustam à realidade sócio-económica, que é extremamente variada e enriquecida de múltiplas matrizes. Embora alguns produtos, como o trigo, o açúcar, o vinho e o pastel, surjam em épocas e ilhas diferenciadas como os mais importantes e definidores das trocas externas, não são os únicos na economia insular. A análise dos produtos na exploração agrícola comercial do mundo insular comprovará esse facto.
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2. AS ÁREAS INSULARES A EXPANSÃO E O COMÉRCIO NO ATLÂNTICO: AS ROTAS DE NAVEGAÇÃO E COMÉRCIO A valorização do Atlântico nos séculos XV e XVI conduziu a um intrincado liame de rotas de navegação e de comércio que ligavam o Velho Continente ao litoral atlântico Esta multiplicidade de rotas resultou das complementaridades económicas e de formas de exploração adoptadas. Se é certo que esses vectores geraram as referidas rotas, não é menos certo que as condições mesológicas deste oceano, dominadas pelas correntes, ventos e As mais importantes e duradouras de todas as tempestades, delinearam o seu rumo traçadas neste mar foram sem dúvida a da Índia e a das Índias, que galvanizaram as atenções dos monarcas, da população europeia e insular, dos piratas e corsários. e). No traçado de ambas situava-se o Mediterrâneo Atlântico com uma actuação primordial na manutenção e apoio à navegação atlântica. As ilhas da Madeira e das Canárias surgem nos séculos XV e XVI como entrepostos para o comércio no litoral africano, americano e asiático. Os portos principais das ilhas da Madeira, Gran Canaria, La Gomera, Hierro, Tenerife e Lanzarote animam-se de forma diversa com o apoio a essa navegação c comércio nas rotas da ida, enquanto os Açores, com as ilhas de Flores, Corvo, Terceira e S. Miguel, surgem como a escala necessária e fundamental da rota de retomo. Segundo Pierre Chaunu a rota das Índias de Castela assentou em quatro vértices fundamentais: Sevilha, Canárias, Antilhas, Açores (4). Nesse traçado, portanto, a Madeira mantinha-se numa posição excêntrica, pois apenas servia as rotas portuguesas do Brasil e da costa africana. As dificuldades do espaço entre as Canárias e Castela, devido ao golfo de las Yéguas (ou golfo das Éguas), em consonância com o prolongado percurso até às Antilhas, fizeram das Canárias uma escala obrigatória e imprescindível para a carreira das Índias (5). Aí as
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Avelino Teixeira da Mota, «As rotas marítimas portuguesas no Atlântico de meados do século XV ao penúltimo quartel do século XVJ.>, in Do Tempo e da História, III, 1970, 18-19: Frédéric Mauro, «Les routes océaniques et la domination de I' Atlantique", in Études SUl' /' expansion portllgaise 1500-1900, Paris, 1970, 98, 106, (2) Pierre et Hughette Chaunu, Séville et /'Atlamique, t. VII, 18-21; t. VIII, 349; Joaquim Navarro y Morgado, Navegación dei ocea/lO Atlantlco( , , ,), Madrid, 1876: Derrotero de las islas Cl/Ill/rias y archlpiélago de la Madera, Madrid. 1864; Glyn Daniel, The Atlantlc Seaways (as rotas do Atlântico), Lisboa, 1961, sep. do «Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa". Julho-Setembro de 1961: Ed. le Danais, L' Atlantiqlle. Histolre et vle d'un océan. Paris, 1939, 150-184, São múltiplas as obras e estudos sobre as carreiras da Índia e Índias. Sobre a carreira da Índia e rotas portuguesas no atlântico citaremos: Gabriel Pereira, Roteiros portllgueses de Lisboa índia /lOS séculos XVI e XVII. Lisboa. 1898: Frazão de Vasconcellos, Subsídios para a história da carreira da Indla ao tempo dos Filipes. Lisboa, 1960. António da Silva Rego, "Viagens portuguesas à Índia no século XVI», in. Aliais da Acad;mlll Portuguesa de História, " série. vaI. V. 1951. \09-242; Virgínia Rau, "Les escates de la carreira de India (XVo-XVIIIo siécle) ... in X Colloque Maritime. Bruxelas. 1968; Avelino Teixeira da Mota, Jorge Borges de Macedo c Frédéric Mauro. «Les routes portugaises de I'Atlantique. in Allluzrlo de Estlldos Americanos XXV, 1968. 129-151: José Robcrto do Amaral Lapa. "Variação triangular da rota do Cabo (séculos XVI, XVII, XVIII). in Ibidem, XXV. 1968.507-513: Luís de Albuquerque. "Escalas da carreira da Índia .. , in Revista da UI/iversidade de Coimbra. XXV\, 1978. 137-144, Sobre a Carrera de las índias veja-sc: Pierre Chaunu, art. dI.; Francisco Morales Padrón ... Sevilla, Canarias y América". in Historia General de las islas Cal/ar/as, fl, 225-240: Augustin Guimerá Ravina. "Canarias en la Carrera de Índias 1564-1778 .. , in Ibidem. II, 169-174, Uma primeira análise comparativa das duas rotas foi feita por Artur Teodoro de Matos. "As carreiras da Índia e Índias no século XVI. Esboço de estudo comparativo ... in VI Coloquio de Historia CWlllrlo-Ame";cana, Las Palmas, 1984 (no prelo), (4) Sel'illtt" América, SIglo,l' XVI -" XVI!. 43-48, (5) Ibldem.'43-54: Francisco Mora1es Padrón. "Canárias en los cronistas de Índias .. , in A.E,A .. X. 1964.
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naus faziam aguada, procediam aos necessários reparos e se reabasteciam de lenha e géneros imprescindíveis para a longa caminhada de um a dois meses. As ilhas de Tenerife, Gran Canaria, Hierro, La Gomera e Lanzarote eram favorecidas com essa escala técnica, pois para além de poderem escoar os seus produtos no abastecimento das naus, estava facilitada a sua intervenção no comércio americano (6). O arquipélago canário, nomeadamente a ilha de Tenerife, mereceu também a preferência dos navegadores portugueses nas suas viagens ao Brasil, à costa africana e à Índiae). Assim terá sucedido, por várias vezes, no século XVI, sendo de referir em 1530, a escala da armada de Martim Afonso de Sousa em Tenerife e, em 1563, a viagem do jesuíta Sebastião de Pina(8). As ilhas Canárias surgem, pois como uma importante base de aprovisionamento para as naus portuguesas com destino ao Brasil, Cabo Verde, Guiné e Angola e, mesmo, como relevantes entrepostos do comércio ilegal de escravos na costa africana (9). Os ingleses serviram-se igualmente das Canárias como o ponto de apoio para as suas navegações de comércio e corso nas costas africana e americana. Entre 1524 e 1600 contam-se treze viagens em que aportaram a este arquipélago, sendo de salientar a de John Hawkins em 1564 e a de Francis Drake em 1581 eo). A escala da rota de retorno das principais carreiras oceânicas passava obrigatoriamente pelos Açores. Este arquipélago surge, desde princípios do século XVI, como o principal ponto de apoio para essa navegação, sendo para os espanhóis as «Canárias de los retomas» (11). Ambas as escalas são imprescindíveis à navegação e comércio atlântico. As dificutdades e delongas da viagem de retorno implicavam uma paragem retemperadora em pleno oceano, onde fosse possível reparar os danos das embarcações, fazer o aprovisionamento de víveres e de água. Por vezes os portos açorianos apresentavam-se como o reduto seguro para a protecção e defesa de qualquer assalto corsário. Tudo isso oferecerá a praça de Angra, onde a càroa portuguesa centralizou serviços e infraestruturas de apoio, como a Provedoria das Armas, a partir de 1527et2 ). Segundo o testemunho de viajantes, na segunda metade do século XVI a cidade de Angra, mercê de uma forte rede de fortificações e de bom porto de abrigo, era o principal entreposto comercial do tráfego oceânico na rota de retorno. Pompeo Arditi, em 1567, refere que "à ilha afluem muitos navios por ser mais cómodo à navegação do que qualquer das outras; por isso nela tocam todos os vindos das Índias orientais e ocidentais, do Brasil, São Tom6; Mina e Cabo Verde, a abastecer-se de mantimentos, parecendo que Deus põe milagrosamente esta ilha no meio de tão grande oceano para salvação dos míseros
211-213; Manuel Lobo Cabrera, "Oran Canaria y Indias ( ... h in IV C.H.C.A., vol. I, 111-128; Clarence H. Haring, Comercio y navegación entre Espana y las fndias. México, 1979, 23. (6) Gaspar Frutuoso (Saudades da Terra. L.o I. 87) refere que o comércio, do vinho em Las Palmas se desenvolveu pela necessidade que havia dele para abastecer os navios da carreira de Indias; veja-se infra II. a parte, cap. II, sobre o comércio canário-americano. Pierre Chaunu, Séville et I'Atlantique. T. VIII, 378-380. (8) J. G. Salvador, Os cristãos novos e o comércio atlântico meridional. S. Paulo, 1978, 241-242. (9) Enriqueta Vila Vilar, "Las Canarias como base de aprovisionamento de navios portuguêses", in II C.H.C.A .. vaI. I. 1977, 287, 293; Idem, Hispanoamerica y el comercio de esclavos. Sevilha, 1977. o) Richard Hakluyt, The Principal navegations ( ... ), 12 vais., Glasgow, 1903-1905 (reedição de 1982), t. VIII, 160, 297, 310, 407; t. IX, 361, t. X, 11-12,98, 184,204,452; t. XI, 44, 278, 384; J. W. Blake, Europeans in West A/rica. 1450-1560. voI. II, Londres, 1946, 250; Antonio Rume~ de Annas, Pirater~as y ataques Iwvales col1lra las islas Canarias, 5 vais., Madrid, 1947-1950; Idem, Los vwges de John Hawkl1ls a Canarias. Sevilha, 1947. (11) Pierre Chaunu, Sevilla y America. Siglos XVI y XVII. 44, 55-58. (12) Artur Teodoro de Matos, "A Provedoria das Annadas da Ilha Terceira e a carreira da Índia no século XVI, in /I Seminario Internacional de Historia Indo-Portuguesa (no prelo).
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navegantes, que muitas vezes lá chegam sem mastros nem velas, ou sem mantimentos e aí se fornecem de tudo» 3 ). Vinte anos volvidos Mosquera de Figueiroa corrobora esse movimento do porto de Angra, dizendo que «es mucho el comercio com las Índias Orientales y Ocidentalis, por ser escala importantissima para el refresco y refugio de sus armadas, por tener en si agua en abundancia muy delgada y saludable» 4 ). A participação madeirense na carreira das Índias foi esporádica. justificando-se esta ausência pela posição marginal em relação à sua rota. Todavia a Madeira representa um porto de escala muito importante para as navegações portuguesas para o Brasil, Golfo da Guiné e Índia s ). Desde o século XV que ficou demarcada essa posição da escala madeirense para as explorações geográficas e comerciais dos portugueses na costa ocidental africana. Esta opção pela Madeira adveio dos conflitos latentes com Castela pela posse das Canárias. A expansão comercial de finais do século XV, com a abertura da rota do Cabo, veio valorizar mais uma vez esta escala aquém equador, surgindo inúmeras referências, em roteiros e relatos de viagens. à escala madeirense 6 ). Os mesmos ingleses que utilizaram as Canárias tocavam com assiduidade a Madeira, onde se proviam de vinho para a viagemet 7). A Madeira, como as Canárias, muito raramente foi escolhida como escala de retorno - uma vez que essa missão estava, por condicionalismos geográficos, reservada aos Açores. Todavia verificou-se ocasionalmente a escala das embarcações vindas da Mina. Índia e Índias na Madeira. Em 1520 o monarca determinava o modo de transporte de carga da nau de D . Diogo de Lima, originário da Índia, para o reino, enquanto em 1528 André Soares. capitão de uma nau oriunda de Mina, reclamava ao provedor da fazenda . Aí atacavam não só as naus do comércio americano e índico, mas também as embarcações do comércio insular 1581, mas de acordo com a opinião de Filipe II essa prática era assídua nestas últimas décadas do séculoe 9 ). A posição demarcada do Mediterrâneo Atlântico no comércio e na navegação atlântica fez com que as coroas peninsulares investissem aí todas as tarefas de apoio, defesa e controle do trato comercial. As ilhas eram os bastiões avançados, suportes e símbolos da hegemonia peninsular no Atlântico. A disputa pela riqueza em movimento neste oceano será feita na área definida por elas, pois para aí incidiam piratas e corsários ingleses, franceses e holandeses, ávidos das riquezas em circulação nas rotas americanas e índicas. Uma das maiores preocupações das coroas peninsulares terá sido a defesa das embarcações que sulcavam o Atlântico em relação às investidas dos corsários europeus. A área definida pela
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"Viagem de Pompeo Arditi ... », in B./B./.T., VI, 1968, 179. "Conquista da Ilha Terceira em 1583», in Arquivo dos Açores. IV, 281. Idêntica é a opinião de J. H. Linschoot cm 1589 ("História da Navegação ( ... )>>, in B.l.H./.T.. I, 1943, 154) de Gaspar Frutuoso (Ob. cil .. lo" VI, 1963, 13) c do Pe. Manuel Luis Maldonado (Phoenix AnW'ense, cit. por Hélder Lima, Os Açores na economia atlântica ( ... ), Angra do Heroísmo, 1978, 125-127). Veja-se ainda Marcelino Lima, Anais do Município da Horta, Famalicão, 1940, 629; Cesareo Fernandez Duro, La conquista de los Açores ell /583, Madrid, 1886, p. 9; Maria Olímpill dll Rochll Gil, «O porto de Ponta Delgada e o comércio açoreano no século XVII ( ... )>>, in Do Tempo I' d" HistlÍria, III, 1970, 67-70. s ) Pierre Chaunll, Séville et I'Atlantique. t. VIII. 442-448; José Gonçalves Salvador, ob. cil .. 242. 6 ) Em 1508 a armadll de Jorge de Aguiar com destino il Índill pllSSOU pelll MlIdeim (José RlImos Coelho, Alf(un.\' documentos do Arquivo NlIciorlul da Torre do Tombo acerca das NllVef(ações dos Portllgllêses. Lisboll, 1892. 197), Veja-se Luis de Albuquerque, m·t, cit,. 142; António dll Silva Rego. art. cil .. 81; Frédéric Mauro. Le Portllfial l't I'Atlmltiqlle ali XVlle sil\'le, 490-491. (17) J, W. Blake. Ellropeans in West A/rica. /450-/560, vol. II, Londres, 1942,250,327-328,361,398; Richllrd HlIkluyt, ob, cil .. l. VIII, 424, t. X, 11-12, 93, 266. s ) A.N.T.T .. C.C .. II. 89-137. carlll régia de 26 de Abril de 1520, /bidem, II, 153-26, auto de requerimento de 17 de Dezembro de 1528. (19) Joel Serrão, "Holandeses e ingleses em portos de Portug1l1 no domínio filipino». in D.A.H.M., n.O 3, 9-13. )
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Península Ibérica, Canárias e Açores era o principal foco de intervenção do corso europeu sobre os navios que transportavam açúcar ou pastel ao velho continente 1 ), Sendo o ouro, a prata e as especiarias orientais os principais alvos da cobiça dos corsários, lógico será admitir que a intervenção destes se fizesse em particular entre os Açores e o Cabo de S, Vicente (22), Foi tendo em conta essa insegurança das embarcações e das ilhas açorianas que, em 1543, Bartolomeu Ferraz traçou um plano de fortificação desse arquipélago, justificado, segundo ele, "porque as ilhas Terceiras importarão muito assy pelo que per ssy valem como por serem o velhacoute e socorro muy principal das naos da Índia e os franceses sserem tão dessarrozoados que justo vel injusto tomão tudo que podem» 3 ). Outra e não menos importante preocupação das referidas coroas incidia sobre o comércio ilegal que aí se fazia com as mercadorias do Novo Mundoe 4 ). Deste modo as necessidades da defesa e da vigilância, bem como da guarda e da protecção das armadas ou frotas implicaram a criação de estruturas capazes de manter com segurança e vantagem o monopólio comercial ibérico. Desde o início da escala das rotas que esta situação de insegurança se evidenciará, pelo que ambas as coroas delinearam, em separado, um plano de defesa e apoio às suas ~mbarcações. Da parte portuguesa promulgara-se em 1520 o regimento para as naus da lndia nos Açores, no qual se estabelecem as formas de intervenção à chegada das naus da Índia ao arquipélago. Define-se nesse diploma o modo de segurar a mercadoria das mãos do contrabando e corso, o abastecimento necessário para a viagem até Lisboae s ). A insuficiência destas prerrogativas tornou necessária e urgente a Provedoria das Armadas da Índia, Brasil e Guiné, sendo seu provedor, desde 1527, Pera Anes do Canto. Depois, a partir da década de 30, procurou-se delinear um plano de defesa das principais ilhas do arquipélago, com particular incidência para os portos de apoio de Angra, Ponta Delgada e Horta. Ao provedor competia a superintendência de toda a acção de defesa e abastecimento das embarcações em escala ou em passagem pelos mares açorianos 6 ). Além disso a sua acção de apoio alargava-se à Armada das Ilhas, criada expressamente para comboiar, desde o Corvo até Lisboa, as embarcações vindas do Brasil, Índia e Mina, e a fiscalização do mar dos Açores. No período de 1536 a 1556 há notícia de pelo menos doze armadas terem sido
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eo) Avelino Teixeira da Mota, "As rotas marítimas portuguesas ... »,28.
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l ) Só em meados do século XVI os corsários franceses tomaram 30 navios espanhóis e portugueses carregados com açúcar para Flandres; M. Mollat, Le commerce maritime normand ( ... ), 502. Veja-se António Rumeu de Armas, oh. cit., Frédéric Mauro, oh. cit., 447; Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores 110 século XVII ( ... ), 307-352; Elias Serra Rafols, «Introdución», in Amerdos dei Cabildo de Tenerife, IV, pp. IV-V; Manuel Lobo, Protocolos de Alonso Gutierrez. 11-12; "Defesa da navegação de Portugal contra os Franceses 1552 •• , in Arquivo Histórico Português, VI, 1908, 161-168; v. Fernandez Asis, Epistolario de Filipe /I, Madrid, 1943, passim; Antónia Haredia Herrera, Catálogo de las consultas dei Consejo de lndias, 2 vaIs., Madrid, 1972. (22) Há notícia da presença francesa ao largo dos Açores em 1543, 1551, 1552, 1553, 1557-1561, 1571, 1577, 1581, 1583, 1587, 1590-1591. Veja-se nota 21 e A.G.I. Real Ratronato-gobiernd. leg. 268, fls. 283-90 "Arehivo General de Índias .. , in Boletim de Fi/moteca Ultramarina Portuguesa, n.o 26, 1964, 68-70; A.G.I.. Secretaria de Estado leg. 371. doe. 84, lhidem. n.O 45, 1971,260, 3 ) A.N.T.T., Cartas Missivas, maço 3, n.o 205, s.d., earta de Bartolomeu Ferraz, pubI. in Arquivo dos Açores, V, 364-367. 4 ) Eufemio Lorenzo Sanz. oh. cit., voI. II, 123, 127. 330-342. s ) A.N.T.T., Leis, maço 2, n.O 167, publ. in Arquivo dos Açores, II, 29-33. 6 ) Artur Teodoro de Matos, "A Provedoria das Armadas da ilha Terceira ( ... )>>
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enviadas nessa missãoe 7 ). E, entre 1531-1535, Duarte Coelho era capitão-mar da armada no Atlântico, tendo-se deslocado em Abril de 1535 com os seus navios aos Açores, onde permaneceu até Julhoe s). Por vezes essa armada não chegava atempadamente aos Açores ou os poucos navios que aí chegavam eram insuficientes para a defesa das frotas, pelo que o provedor era forçado a armar ou fretar embarcações para a referida missão. Assim sucedeu entre 1532 e 1555 por onze vezes 9 ). Esta incerteza da vinda da armada das ilhas e a presença constante dos corsários franceses levaram o provedor, em 1537, a apresentar ao monarca um plano de construção de caravelas para a referida armada nas ilhas eo). Aliando a este projecto de criação de uma armada insular surge, em 1543, o plano de defesa dos Açores, traçado por Bartolomeu Ferraz, como forma de dissuasão aos corsários francesese 1 ). Todavia só muito mais tarde, em face do agravamemto da acção dos corsários nórdicos e franceses, se tornou possível a concretização desse plano de fortificação das ilhas, com a construção dos castelo de S. Brás (1553) no porto de Ponta Delgada, do Castelo de S. Sebastião (1572) na baía do Porto Pipas (Angra) e de um baluarte (1572) na baía da Horta (32). Sendo a Terceira o mais importante porto de escala da Carreira das Índias, os monarcas espanhóis viram-se, por diversas vezes, na necessidade de solicitar o apoio do provedor das armadas às embarcações espanholas que por aí passavame 3 ). Mas o menosprezo português ou a necessidade de uma guarda e uma defesa mais eficazes das armadas da América exigiram uma reorganização do sistema de frotas da Carreira de las Indias. Assim desde 1521 estas passaram a representar uma nova estrutura organizativa e defensiva, primeiro com a criação do sistema de frotas anuais armadas ou ocasionalmente escoltadas por uma armada protectora, depois, a partir de 1555, com o estabelecimento de duas frotas anuais para o tráfico americano: Nueva Espãna e Tierra Fiermee 4 ). Para além desta regulamentação rigorosa das frotas definira-se, desde 1521, a necessidade da sua escolta na área definida pelo Cabo de São Vicente, Canárias e Açores. A partir de então as armadas espanholas passaram a surgir com frequência nos Açores, a aguardar as naus da Índiae S ).
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(27) Ihidem; conhecem-se os regimentos dados em 1572 e 1575 a Pedro Correia de Lacerda, veja-se Artur Teodoro de Matos. Os Açores e a carreira das Índias no século XVI, 965. Para o conhecimento da acção desta armada confronte-se Gaspar Frutuoso, oh. cit .. 1.0 IV, cap. XXI; Maria Olímpia da Rocha Gil, O Arquipélago dos Açores no século XXVII, 350-352. es) Avelino Teixeira da Mota, "Duarte Coelho, capitão mor de armadas no Atlântico (1531-1535)", in /I Colóquio Luso-Brasileiro de História do Brasil, publ. in Revista das Çiéncias do Homem, vaI. IV, série A, Lourenço Marques, 1972, 301-352. (29) Artur Teodoro de Matos, "A Provedoria das armadas da ilha Tereeira( ... )" eo) A.N.T.T., C.C., 1-49-91, carta régia de 1 de Setembro de 1532, publ. in Arquivo dos Açores, I, 120-121. t ) Documento já citado na nota 24. 2 ) A.N.T.T., C.C. rV-37-12, 23-III-155I, carta de Manuel Nunes Ribeiro ao rei, publ. in Arquivo dos Açores, III, 18; B.A.P.D. Fundo Ernesto do Canto, ms 10, "Extractos de documentos michaelenses", vol. VIII, n.o 219, carta régia de II de Julho de 1572; Francisco Ferreira Drumond, Anais da !lha Terceira, 1,649; Gaspar Frutuoso, oh. cil., 1.° vr, 23; G. Perbellini, "Fortificazioni delle isole di Sâo Miguel e Terceira nell'archipé1ago delle Açores", in R. Castel/um. n.o 13, Roma, 1971. C3 ) Assim sucedeu em 1518, 1547, 1548 e 1571; veja-se Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a carreira das índias no século XVI, 100-101. No período de 1518 a 1598 há notícia da escala e assistência, por quarenta vezes, à armada da América na Terceira, tendo-se guardado em terra, por dezoito vezes, ouro e prata. Veja-se ainda Manuel Gonçalves da Costa, "Mártires jesuítas nas águas das Canárias (1570-157]) .. , in A.E.A., V, 1959, 445-482. 4 ) Eufemio Lorenzo Sanz, oh. cit .. vol. II, 275-282. CS ) Há notícia da presença de uma armada real n~s Açores em 1530-1532, 1537, 1539, 1552, 1554-1557, 1559.1561,1571,1572,1579-1581,1583,1587, 1590-1598; veja-se Antónia Heredia Herrera, oh.. cit., vaI. I,
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A escolta das frotas das Índias espanholas mereceu maior atenção da coroa peninsular nas duas últimas décadas do século XVI, mercê do reforço das investidas dos corsários franceses, holandeses e ingleses. Depois da invasão de Portugal pelas tropas de Filipe II, importantes almirantes da armada espanhola passaram a surgir com assiduidade no mar açoreano a capitanear armadas de defesa e protecção das referidas frotas. Assim, foram incumbidos dessa missão Don Álvaro Bazan (1580, 1590-1591), D. Pedro de Valdés (1581) e o Marquês de Santa Cruz (1587)(36). Conhecida e sistematizada a importância destes arquipélagos na navegação e comércio Atlântico, importa discernir qual o impacto deste movimento na sociedade insular e qual a paricipação dos insulares nesse trato de mercadorias, sob a forma de contrabando ou não. Muitos estudiosos têm afirmado o reduzido proveito de algumas ilhas que desempenharam um papel de relevo neste trato, como sejam as ilhas açorianas. Todavia as principais contrapartidas económicas da intervenção destas ilhas assentam, fundamentalmente, na prestação de serviço a essas rotas. Se a partir da Madeira e das Canárias estava facilitada a actuação dos insulares com o Novo Mundo, por meio da produção local do vinho, cereais e queijo, nos Açores apenas se verificava uma intervenção de apoio ou então uma intromissão no contrabando das especiarias, açúcar, ouro e pratae 7 ). As possibilidades de comércio directo esbarravam com um apertado sistema de vigilância e limitação criadas pelas coroas peninsulares, que impossibilitava seu desenvolvimento. Deste modo para o ilhéu o maior benefício terá resultado de uma remuneração indirecta por meio do abastecimento das embarcações em escala, da faina de apoio e reparo das mesmas. Pelo menos esta era a situação que se vivia na ilha Terceira, como nos retrata Pedro Frias em finais do século XVI: «a gente desta Ylhas eram inclinadas a seu jnteresse do qual vjvjam e se sostentavão êj era vemderem has armadas de Castela e de Portugal, as crjações, os frutos, que Recolhjam e os oficjaes suas obras que tjnham p.to pera o tempo das frotas e nam podjam vjver sem esta comunjcaram» e s ). O aprovisionamento das naus das diversas frotas que sulcavam o Atlântico era uma preocupação constante das coroas peninsulares, pelo que nos diversos regimentos para as referidas frotas e para as estruturas de apoio nestas criadas nos arquipélagos era dada a especial importância a esse serviçoe 9 ). Os arquipélagos madeirense e canário tiveram uma acção muito influente no aprovisionamento das naus da Índia em vinho, legumes frescos, carne, água e lenha. No caso das Canárias essa situação é-nos descrita, de modo exemplar, por Gonzalo Fernándes de Oviedo
103, 141, 323-326; vol. II, passirns; V. Fernandez Asis, oh. cit., pp. 34-35, 59-60, 63-64, 148, 349; Artur Teodoro de Matos, ibidem. pp. 100-102. 6 ) V. Fernandez, oh. cit., /z.o 673,686,704, 1802, 136, 142; Antónia Heredia Herrera, ob. cit .. vol. I, n.o 870, 872-873 (23 a 24 de Maio de 1581); Archivo General de Simaneas, Guerra Antigua, Legajo 104, doe. 13,17,18,25,148,241 (Junho a Julho de 1580); ibidem, legajo 250, doe. 10,23-27 (Julho a Agosto de 1589). A armada que saíu a 8 de Abril de 1581 era composta de sete navios. dirigindo-se cinco para São Miguel, um para a Terceira e o outro à Madeira ("Archivo General de Simancas» in Boletim da Filmoteca Ultramarina POrtl/fil/l',I'lI, n.o 38 a 40, 1969, 29-31). 7 ) Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a carreira das Índias 110 século XVI, 105-106; Idem. "A Provedoria das Armadas da ilha Terceira ..... ; Maria Olímpia da Rocha Gil. ibidem 339-364. eH) Pedro Frias, Crónica dei-Rei D. António. Coimbra, 1955, 31. 9 ) Tenha-se em consideração o regimento para as naus da Índia nos Açores de 1520, bem como o regimento da armada capitaneada por Fernão Soares (A.N.T.T. Gavetas, 15-20-1. cit, por José Ramos Coelho, ob. cit.• 1160-1183). Segundo Luis de Figueiredo Falcão (Livro em que contem toda a fazenda ( ... ), Lisboa, 1859, 200 e 205) o mantimento e apetrechos de uma nau de quinhentas e cinquenta toneladas com duzentos e cinquenta soldados e cento c doze tripulantes orçava em trezentos e cinquenta e quatro mil reis. Sobre a alimentação a bordo veja-se: Moreira Braga, "Perspectiva sobre a alimentação a bordo de uma caravela portuguesa no século XVI», in Aliais do Clube Militar Naval. n.o 113, 1983.381-390; Jean Merrien, A vida quotidiana dos Marinheiros no tempo do Rei-Sol. Lisboa, s.d., 87-90.
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em 1534: «Tornando el viaje deste camino de muestro Índias, digo pues que de una destas siete islas en especial de Gran Canaria, o la Gomera, o la Palma (porque estan en mas derecha derrota y alproposito, e som fertiles a abundan de abastimentos y de lo que conviene a los que esta larga navegación haccen tomam alli los navios refresco agua e lena e pau fresco e gallinas, e pescados sallados e pagos que las naos saean de Espana» (40). Na Madeira habitualmente faziam escala as naus portuguesas da rota da Mina, Brasil e Índia, que aí se abasteciam de vinho e lenha; por vezes, muitas embarcações espanholas também apartavam à ilha antes do habitual refresco das Canárias. Assim sucedeu em 1498 com a expedição de Colombo (41). Esse serviço de apoio às embarcações portuguesas era assegurado e pago pelo provedor da Fazenda da Ilha (42). Dele apenas se referencia, em 1517, a entrega de oitenta arrobas de lenha a uma nau que se dirigia à Índia e do envio ao reino, em 1531, de duzentas pipas de vinho para a frota da Índia (43). Por vezes as embarcações escalavam a ilha para tomar o vinho necessário para a viagem. Aliás não foram só os portugueses que utilizaram o vinho madeirense na ementa das naus que sulcavam o Atlântico, pois também os ingleses o fizeram por diversas vezes; é o caso, em 1533, da escala de Richard Eraen na sua viagem à Guiné, que tomou algumas pipas de vinho no Funchal (44). A Madeira também provia as embarcações de retomo que por aí passavam; assim sucedeu em 1528 com uma nau régia capitaneada por André Soares, procedente de Mina, que recebeu do provedor da fazenda biscoito, pescado, azeite e vinho para sustento dos dezoito tripulantes, no período de vinte dias de viagem até Lisboa (45). As embarcações régias que iam à Madeira carregar açúcar para o reino ou principais praças italianas e flamengas eram igualmente abastecidas pelo almoxarifado dos quartos e quintos conforme a duração da viagem e número de tripulantes (46). De acordo com o regimento de 1520 o almoxarifado do Funchal deveria assegurar o reparo e abastecimento dos navios. Esse aprovisionamento era atribuído de acordo com a demora do percurso; assim, os que se dirigiam ao reino recebiam mantimentos para vinte dias, sendo de quarenta dias para poente e sessenta para o levante (47); esses mantimentos consistiam em carne, peixe, biscoito e vinho e eram distribuídos em rações individuais à tripulação. Em 1508 há informação da ração completa da nau «S. Martinho» com quarenta e cinco tripulantes que se dirigia para o levante; cada tripulante recebeu duas arrobas de biscoitos, dois almudes e meio de vinho, duas pescadas e meia e uma arroba de carne (48). Nos Açores, desde 1520 que o referido abastecimento às naus da Índia, Brasil, Mina e Guiné fora regulamentado, ficando essa missão a cargo do provedor das armadas. O dinheiro para essas despesas era retirado das receitas do almoxarifado de Angra, tendo-se fixado em 1539 no valor de quarenta mil reais o quantitativo máximo a despender nesse serviço (49).
(40) G. Fernandez de Oviedo, I, lib. 2, cap. 9, p. 36, cit. por Pierre Chaunu, Séville et 'At/antique. t. VIII, vol. I, 354(4). (41) Bartolomeu de Las Casas, História de Las índias, vol. I, México. 1981, 496-497. (42) A.N.T.T., C.C .. 11-87-162. 20 de Fevereiro de 1520. treslado do regimento do almoxarife e oficiais dos contos. (43) lbidem. II, 69-71, 25-IV-1517; ibidem. 11-166-13. 9-XII-1530. (44) J. W. Blake, ob. cit.. vol. II. 314. (45) A.N.T.T., C.C .. II-I 53-26, 17-XII-1528. (46) Idem. NA .. n. o 903, foI. 12; Idem, C.C., II-72-Il. 20-VII-1508; /bidem. II-15-52, 30-VIII-1508; lbidem, II-159-28, 7-X-1529. (47) lbidem. II-87-162, 20-II-1520. (48) lbidem, I1-15-52, 30-VIII-1508. (49) B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto, ms 78, t. I. l.a parte. fls. 2-2 v.o e I. I, 2. a parte, fls. 42-43, provisões de II de Agosto de 1539 e 19 de Maio de 1548. Por vezes há até grandes dificuldades no pagamento. Veja-se Artur Teodoro de Matos, "A Provedoria das Armadas na ilha Terceira ... "
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Em 1523 o refresco da caravela "Santo António», capitaneada por Pedro Camelo, custou quatro mil e seiscentos reais, tendo o dito recebido seis carneiros, duas dúzias de galinhas, uma arroba de azeite, pão fresco, madeira e lenha (50). A assiduidade da escala terceirense, a partir do fim do segundo quartel do século XVI, aliada à conjuntura difícil da produção cerealífera terceirense, vieram causar dificuldades à acção de reabastecimento das naus. As insuficiências de gado, pescado e trigo na Terceira obrigavam o provedor das armadas a adquirir estes produtos nas ilhas vizinhas, designadamente em S. Miguel, S. Jorge, Faial e Pico (51). Em certa me-dida, e de acordo com a opinião do Pe. Manuel Luis Maldonado, esta escala apresentava-se proveitosa para o burgo angrense, uma vez que com ela se adquiriram moeda e metais preciosos a troco de carne, panos, fruta, pão, vinho, legumes e peixe (52). Todavia, a imposição da obrigatoriedade do fornecimento das naus em escala da armada das ilhas apresentava-se como um pesado encargo para os açorianos.
(50) A.N.T.T" C.C., III-7-111, 27 de. Julho de 1523, carta de Pero CaroeHo Pereira ao contador, com recibo, publ. Arquivo dos Açores, II, 42. (51) Gaspar Frutuoso, oh. cit., L,o VI, 13,57-59, Artur Teodoro de Matos, «A Provedoria das Armadas da ilha Terceira ..... ; Alberto Vieira, «A questão cerealífera nos Açores nos séculos XV-XVII (,. ')", in Arquipélago, série História e Filosofia, vol. VII, 1985, 135-136, 142-143. (52) B.P.A.A.H., Fenix Angrense, alento 3. 0 , fl. 96, cit por Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a carreira das índias no século XVI, 104; B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto, ms. 29, fls. 7-21, 28-II-1574, carta do colégio de Angra para as mais províncias.
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SEGUNDA PARTE
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COMÉRCIO INTER-INSULAR
I. FACTORES O comércio no mercado insular depende da intervenção de múltiplos factores, activadores ou não do sistema de trocas. Assim, se os produtos surgem como o elemento justificativo e vitalizador das trocas comerciais, não são por si só suficientes para a sua manutenção. Torna-se, pois, necessário a criação de condições que as favoreçam, como os meios e vias de comunicação adequados, agentes habilitados para os diversos serviços e instrumentos de pagamento ajustados ao volume e duração de trocas. O comércio surge neste contexto como uma consequência lógica de todos esses condicionalismos e o seu nível de desenvolvimento dependerá em muito do estádio atingido por esses factores. Nesse sentido o comércio é, ao mesmo tempo, consequência e causa do desenvolvimento da sociedade e economia insulares, pois resulta de um determinado estádio de desenvolvimento dos factores assinalados e, simultaneamente, influencia estes, bem como a sociedade insular, em geral. Terá sido o surto do comércio açucareiro que, na Madeira e nas Canárias, condicionou o desenvolvimento de infraestruturas portuárias e a valorização patrimonial dos principais centros urbanos. O mesmo sucedeu na ilha de S. Miguel com o surto do pastel. Esta actividade, que mereceu a adesão dos ilhéus e encontrou os mecanismos adequados a um elevado nível de desenvolvimento, não era alheia às venalidades da economia atlântica, bem como aos obstáculos naturais e humanos. O europeu impõe e domina os circuitos de troca, fazendo desta área uma região periférica definida como um mercado de reserva para as suas necessidades mercantis. Além disso as coroas peninsulares, empenhadas num comércio monopolista, intervêm, com assiduidade, por meio da regulamentação exaustiva das actividades económicas, delimitando o campo de manobra dos agentes aí intervenientes. Esse excessivo intervencionismo, as intempéries, as tempestades marítimas, a peste, a pirataria e o corso foram os principais responsáveis pelo bloqueamento dos circuitos comerciais em determinadas épocas das centúrias em análise.
I. I Regulamentação das actividades económicas O comércio, bem como as mais actividades económicas estavam sujeitos a um controle e regulamentação por parte das coroas de Portugal e Castela. Para isso contribuiu, em primeiro lugar, a necessidade de preservar o monopólio real do comércio de determinados produtos em áreas definidas. Em segundo e, em termos restritos das novas áreas de ocupação atlântica, essa intervenção constante da coroa e dos municípios tinha como meta o abastecimento local, bem como a definição dos produtos adequados que merecessem uma troca valio$a no mercado atlântico-mediterrânico. Aí, a coroa, por meio de repartições 27
adequadas (almoxarifado, provedoria da fazenda) e com a colaboração das instituições locais (a vereação) exercia esse controle e ditava as medidas necessárias ao cumprimento e manutenção da sua política económica. Tendo em conta que a primeira situação mereceu já tratamento adequado por especialistas de renome, apenas nos deteremos sobre a segunda, encarada, é certo, ao nível do mercado insulare). A economia insular, como vimos, estrutura-se na consonância dos vectores marcantes da política expansionista europeia, com as diferenças ou as assimetrias resultantes da estrutura do solo, do clima e do seu posicionamento geográfico. Todo este conjunto de factores definirá um processo peculiar de cada grupo destas ilhas. De acordo com esse dimensionamento teremos a definição e regulamentação das actividades económicas da sociedade insular. Há necessidade, por parte das administrações central e insular, de exercer um estrito controle destas actividades nos seus múltiplos aspectos, no sentido de assegurar o cumprimento de uma dada política, acima referida. Esta preocupação é constante e abrange todos os sectores de actividade. As autoridades municipais e régias intervêm na produção, no processo transformador das matérias-primas, na distribuição e no comércio dos produtos locais e estrangeiros. O município legisla sobre a forma de postura e de acórdão, regulamentando com minúcia todas as actividades sectoriais acima enunciadas; a coroa, por sua vez, através das instituições próprias, intervém por meio de regimentos e alvarás. Deste modo os produtos e as actividades que definem a economia de subsistência e de mercado sujeitavam-se ao intervencionismo municipal e régio; esta actuação regia-se pelos princípios básicos da comunidade insular de provisão, qualidade, preço, peso e medida adequados desses produtos. As repartições régias surgem, muitas vezes, como mecanismos coarctivos, tendo como finalidade básica a defesa do património real. A sua acção tem como princípio impedir a vigência e generalização de práticas fraudulentas e lesivas desse património. O contrabando surge, neste circuito, ao mesmo tempo como causa e consequência deste apertado sistema de controle de produtos no mercado insular, pois, como é bem sabido, a excessiva regulamentação dos mecanismos de troca, para além de entorpecer e de retardar esta, cria 0'1 toma inevitável o aparecimento de circuitos paralelos. Ao mercador insular e europeu não satisfazem estas medidas intervencionistas da coroa e do município, pois limitam o seu restrito campo de manobra e oneram a sua acção; daí que ele actue de modo a poder ter uma intervenção activa na formulação das normas, ao mesmo tempo que se serve de subterfúgios para contrariar as leis e normas vigentes. Como atrás enunciamos, este intervencionismo é geral, uma vez que atinge os vários sectores de actividade: produção, actividade artesanal ou transformadora e comércio. De seguida daremos conta dessa intervenção, de modo separado, de acordo com os referidos sectores de actividade e com os produtos, ou seja, com as componentes da economia insular. Produção A intervenção das autoridades inicia-se com a distribuição das terras para arrotear, em que se define não só o proprietário, a forma de sucessão e os limites das arroteias, mas também os produtos adequados para o seu cultivo Esta última situação resultava, em
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Para Portugal veja-se Fernando Navais, Estrutura e Dinâmica do Sistema Colonial (séculos XVI-XV/lJ. Lisboa, 1978; Manuel Nunes Dias, O capitalismo monárquico portllguês, 2 vaIs, Coimbra, 1964. Para Espanha temos: C. H. Haring, Comercio y navegación entre Espana y las Índias. 2." edicão, México, 1979; Francisco Morales Padron, EI comercio canario americano (siglas XVI. XVlI Y XVlIl) , Sevilha, 1955: Idem. Sevilha Canarias y America, Oran Canana, 1970, Eufemio Lorenzo Sanz, Comercio de Espana com America en la época de Filipe 1/, 2 vols. Valladolid, 1979-1980. Acerca da repartição das terras veja-se Fernando Jasmins Pereira, A ilha da Madeira no período
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primeiro lugar, de política expansionista europeia e, em segundo, da necessidade de assegurar a subsistência das ilhas. No primeiro caso salienta-se o lançamento de produtos coloniais, componentes fundamentais do comércio atlântico: o açúcar e o pastel. O mesmo sucede no segundo, com a transplantação dos componentes fundamentais da dieta europeia-mediterrânica: a vinha e os cereais. De acordo com estes dados temos conhecimento de algumas situações bem claras. Assim, na Madeira, em 1492, recomendava-se o plantio das terras aráveis com trigo ou cevada enquanto, em 1508, se ordenava que «se nam rompa em toda essa ylha terra pera se em ella se aver de lavrar e semear pam nem pera outra alguiía cousa somente pera se fazerem canaveaes pera açuquares» Na ilha de S. Miguel definira-se, em 1532, que as terras de cultura estavam reservadas para o trigo e pastel, principais produtos da economia micaelense (4). No que respeita às Canárias é significativa a actuação dos governadores de Tenerife e Gran eanaria, o primeiro apostado na cultura da cana do açúcar e o segundo num conjunto de culturas capazes de assegurarem a subsistência e um comércio rendoso (5). O incentivo à produção açucareira, na Madeira e nas Canárias, derivava das facilidades do seu rápido escoamento e, igualmente, da criação de condições para o normal andamento das tarefas agrícolas e da laboração dos engenhos; por isso se regulamentou o uso das águas, a construção de levadas, o corte e o transporte da lenha e o reparo dos engenhos (6). Definido o proprietário, o regime de exploração e o produto adequado ao solo e às necessidades do momento, não estava ainda concluída a intervenção das autoridades, uma
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hellriquillo, Lisboa. 1959. Sep. de Ultramar; Id .. AlgU/lS elementos para (1 eSludo da Hislória económica da Meuleira (copilallio do FUllchol. século XV). Coimbra. 1959, pp. 87-115; Eduardo Aznar Vallejo, La inlegración de las islas Call1lrios e/l la <'01'0110 de Caslil/a (/478-1526), La Laguna, 1983; Elias Serra Rafais, Las doIas de Tellcr!fc, La Laguna. 1974, Elias Rafols e Leopoldo de La Rosa, Rejormación deI repartimienlo em Tenerife em 1506. La Laguna de Tenerife, 1963; Sebastún Jiménez Sanchez, Primeros repartimienlos de lierras y aguas en Grall CO/loria, Las Palmas, 1940. A.R.M. C.M.F" Ri'gislo gemI, t. I, fls. v. O ; 291. Regimelllo sobre a lenha dado à Madeira em J8 de Agoslo de 1508, puh!. iII A,H.M" Vol. XVIII, 1974, p. 508. (4) B.r.A.p.D., C.P.A" L.0 3 de registo, fi. 98 v.o. Note-se que em 1576 o elevado preço de carne em Ponta Delgada era justificado por seu termo ser «caje toda a terra delle aproveitada de pastes e terras de pam", (Id., ihieiem, L. "4 11. 83 v.", «capítulo de uma carta régia àcerea do talbo da carne", publ. in Arquivo dos Açores, vol. III, p. 55). (5) Veja-se Emma González Yanes, "Importación y exportación en Tenerife, durante los primeros anos de la conquista (l497-1503)", in Revista de lIisl(Jriq, n.O 101-104. pp. 79-91; Leopoldo de La Rosa «EI repoblamiento do los Reinos de kod y Daute", in ESludios Omarios XIV-XV, 1968-1970, 35-43 Manuela Marrero, «Los l1amengos en los comienzos hispânicos de Tenerife", in Sludi ln memoria di Frederigo Melis, t. 1II,1978, pp. 587-588; idem, «Algunas consideraeiones sobre Tenerife en el primer tercio dei siglo XV]", in A.E.A" n.O 23 1977, pp. 373-374. As datas de terra em Tenerife documentam de modo esclarecedor essa situação. Veja-se Elias Serra RafaIs, Las datas de Tel/er(fe, La Laguna, 1974. (6) Na Madeira a regulamentação do corte de árvores foi estabelecida pelos regimentos de 15 de Janeiro de 1515,27 de Agosto 1562 (Veja-se Álvaro Rodrigues de Azevedo, «Anotações" in Saudades da Terra. Funchal, 1873, 436-471). As posturas da eâmara do Funchal de 1587 apresenta um título sobre os engenhos cm que se regullllllenta o transporte de lenha e madeiras para os engenhos (A.R.M., C.M.F" Livro de Posturas, 11. 68-71). O mesmo sucede em Tenerife e Gran Canaria. Veja-se Miguel Angel Ladero Quesada, "Ordenanzas municipales y regulacion de la actividade ecónomica en Andalucia y Canarias. Siglos XIV-XVII", in II C.H.C.A" vaI. II, pp. 142-156. Quanto às águas, na Madeira e regulamentação da sua distribuição e aproveitamento fez-se desde os iníeios do povoamento com o Infante D. Fernando, em 1461, seguindo-se outras medidas legislativas no mesmo sentido. Veja-se Álvaro Rodrigues de Azevedo, ob cil., p. 673; Fernando Augusto da Silva, ',Águas" in Elucidario Madeirense, vol. I, 1940, pp. 24-25; lei" "Levadas" in oh cil. vol. II, 1945,242-243. Nas Canárias estas mereceram igual atenção das autoridades locais, tendo-se regulamentado a sua distribuição por posturas. Veja-se Marcos Guimení Peraza, Regimen jurídico de Las agulls en Callarias, La Laguna de Tenerife, 1960; Francisco Morales Padron, Ordcnallzas deI cimcejo de Grall CallarÍll (l53/), Las Palmas, 1974, 30; José Peraza de Ayala, Las Ordel/allZIIS de Te/wrife ( ... ), Santa Cruz de Tenerife, 1976, V, 12, VII, VIII, 6; X 1 a 27. Em Tenerife, o cabildo definira em 1508 não só o modo de funcionamento dos engenbos, por meio de ordenança, mas também a forma de upanhar II cana de açuear. (Acl/erdos dei cahildo de Tellerife, II, 1952, n.o 1, p. 1, acórdão de 27 de Muio de 1508; ihid" 13, p. 9, acôrdão de II de Agosto de 1508).
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vez que estas pretendiam não só assegurar a sua manutenção, mas também a qualidade e preços condignos. A defesa e manutenção da qualidade do produto colhido no solo insular é uma das constantes da actuação das autoridades régias e locais, atingindo especialmente os produtos da exportação: o vinho, o pastel e o açúcar. A todos se definiam, por regimentos específicos, as tarefas de cultivo, do cuidado e da laboração final do produto, de modo a que este se apresentasse nas condições e quantidades necessárias para a sua comercialização. Assim, para o pastel aparece nos Açores o regimento de 1536, em que se estabeleciam normas para a sua cultura e laboração, ao mesmo tempo que se criavam cargos de aldeadores para assegurar o seu cumprimento Idêntica é a situação na Madeira e nas Canárias com o açúcar, que é alvo de constantes regulamentações e de um controle assíduo dos aldeadores para o efeito eleitos em vereação (8). Deste modo, o monarca D. Manuel, para garantir a boa qualidade do açúcar madeirense de exportação e assegurar o seu crédito no mercado europeu, ordenara, em 1485, que todo o mestre de açúcar deveria ser examinado e aprovado por três homens bons, ao mesmo tempo que estipulava a obrigatoriedade de uma vistoria qualitativa ao açúcar, após a sua laboração, por oficiais competentes: os aldeadores(9). O engenho, estrutura industrial complexa e fundamental para a laboração do açúcar, era o centro de toda a actividade açucareira e mantinha-se activo os doze meses do ano. Enquanto durava a safra, de Janeiro a Junho, tinha intensa actividade com a laboração do açúcar; nos restantes meses aproveitava-se a disponibilidade para as necessárias reparações, abastecimento de lenha e víveres para a safra seguinte. Uma mão de obra especializada assegurava as principais tarefas da sua laboração: mestre de açúcar, caldeireiro, purgador, espumeiro, refinador, caixeiro, etc.; entretanto um grupo numeroso de almocreves garantta a referida laboração, fornecendo as canas e lenha eo). Deste grupo numeroso de assalariados dependia o funcionamento do engenho e bem assim a qualidade do produto laborado. Daí que as autoridades municipais tenham acautelado esta situação ao regulamentarem exaustivamente, por postura, as principais tarefas. Ao mesmo tempo exigia-se que os ofícios empenhados nessas actividades fossem examinados e aprovados pelas autoridades competentes (11). Francisco Morales Padron refere, a propósito, que nas ordenanças de Gran Canaria (1531) tudo gira em torno do açúcar 2 ).
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(7) L. 0 de registo, 1568-1603, fis. 191-195, 13 de Outubro de 1536, «Regimento sobre o beneficiar do pastel e enleição dos lealdeadores» , publ. por Maria Olímpia da Rocha Gil, «Os Açores e a IIOW/ economia de mercado (séculos XVI-XVl/) , in Arquipélago, III, 1981, Série Ciências Humanas, pp. 393-400. Veja-se ainda Francisco Carreiro da Costa, A cultura do pastel nos Açores. Subsídios para a sua história, Ponta Delgada, 1966, Sep. do B.C.R.C.A .. n. o 4 (1966). (8) Para a Madeira veja-se Fernando Jasmins Pereira, Alguns elementos para a História Económica da Madeira ( ... ), pp. 107-115, 129-138; Maria do Carmo Jasmins Pereira Rodrigues, O açucarna ilha da Madeira (século XV/), Lisboa, 1964, pp. 38-46. Para as Canárias temos; Maria Luisa Fabrellas, "La produción de açzucar en Tenerife .. in Revista de História, n. o 100 (1952),468-469; Guilhermo Camacho y Perez Galdós, "EI cultivo de la cana de azúcar y la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535) .. in A.E.A .. n. o 7, 1961, 37-38. (9) A.P.M., C.M.F., Registo Geral, t. I, fi. 219, 17 de Dezembro de 1485, Regimento sobre aldeamento do açucar, publ. in A.H.M.. XV, pp. 192-195. Para o conhecimento da orgânica de funcionamento desta prática veja-se Fernando Jasmins Pereira, ibid., 134-137; Maria do Carmo Jasmins Pereira Rodrigues, ob. cit., pp. 40-46. A negligência dos aldeadores e da população em geral obrigaram D. Manuel I a recomendar com assiduidade esta prática e enviar novo regimento em 1501 (A.R.M., C.M.F., Registo Geral, t. l, fls., 185 v. 0 -187, publ. in A.H.M., XV, pp. 416-417. Ao mesmo tempo impunham-se pesadas penas aos infractores, que iam até à perda do açúcar. eo)' Veja-se Guilhermo Camacho y Pérez Galdós, ob cit., 35-39; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., 392-401. (11) Para a Madeira foi regulamentado por postura de 1587 (A.R.M, C.M.F .. L.0 de Posturas, fis. 68-71). Nas Canárias temos idênticas posturas em Gran Canaria (Francisco Morales Padron, ibid.. 27 e 40) e Tenerife (José Peraza de Ayala. ibid., XVI). (12) Ibidem,pp. 26-27.
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As actividades artesanais As actividades artesanais estavam organizadas em ofícios, sendo estes regulamentados por leis e pragmáticas régias e ordenanças concelhias (13). Esta intervenção das autoridades, e especialmente a das concelhias, tinha como finalidade assegurar a qualidade de matéria-prima, dos ingredientes e dos métodos usados na sua laboração, de modo a que o artefacto se apresentasse no mercado com a qualidade desejável; ao mesmo tempo a vereação actuava no sentido de evitar a especulação, definindo uma tabela de preços para os serviços a prestar aos artefactoset 4 ). Além disso, todo o oficial mecânico deveria ser examinado por um juíz do referido ofício sendo, depois, obrigado a apresentar anualmente fiança e juramento perante a vereação et 5 ). O município, mercê deste apertado sistema de regulamentação, exarado nas posturas, tinha sob controle todos os ofícios, bem como todas as actividades artesanais e transformadoras. Destas algumas houve que, pela sua importância para a vida do burgo, mereceram uma constante vigilância por parte dos almotacés: o moleiro, as padeiras, os vendeiros, as regateiras, os carniceiros sujeitavam-se ao rigoroso controle destes oficiais concelhios et 6 ); esta era uma fonna de assegurar o fornecimento dos produtos essenciais para a vida do burgo.
(13) Miguel Angel Ladero Quesada, ob. cit .. 153-154; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit .. 357-360. Leopoldo de La Rosa Oliveira, "Los orígines de la vida municipal en Canárias», in História General de las islas Canarias. m. pp. 155-172. 4 ) Para a Madeira temos nas posturas de 1587 um título de "Sapateiros. tauxa; alfaytes; boieiros; ferradores; oleiros; barbeiros; carniceiros», (A.R.M., C.M.F.. L,0 de Posturas, fls. 60 v. u -68). Nos Açores essas actividades mereciam idêntica atenção do município, veja-se Urbano de Mendonça Dias, A vida de nossos avós. vol. VIII. Vila Franca do Campo, 1948. 21-133; António dos Santos Pereira, "A administração municipal na Vila das Velas na segunda metade do século XVI". in Os Açores e o Atlântico, séculos XIV-XVlf, pp. 714, 725-726; A,C,M.R.G" L," 4 de Acôrdlios, /599, fi. 45-46 v.o, 24 de Novembro. et 5 ) Na Madeira temos um "Título das examinações fianças. juramentos». A.R.M.• C.M.F., L.0 de Posturas, fls, 31-32 v.o. Nos registos das vereações deparamos com uma referêneia à eleição em vere'ação dos examinadores dos mestres de açucar, A.R.M,. C.M.F.. n." 1302, 1497, fi. 98-100 v.o, vereação de 18 de Janeiro de 1497. O juiz para o exame dos ofícios era eleito entre os membros de cada corporação ou então pelos oficiais de câmara. A 31 de Dezembro de 1596. na Ribeira Grande procedeu-se à eleição do juiz dos sapateiros (A.C.M.G.R. L,°2 dos Acôrdüos, /596, fi. 34). Além disso a aprendizagem do ofício era igualmente autorizada pelo município (A.C.M.R.G .• L,0 3 de Acôrdüos, /578, fls. 139 v.", 18 de Outubro). Veja-se ainda. Urbano de Mendonça Dias. ob. cit., vol. VIII, pp, 40, 47-48, A questão da examinação dos ofícios na Ribeira Grande deu azo a acesa polémica a respeito dos moleiros; o litígio surgiu em 1578 em face das reclamações da população e dos moleiros contra Manuel Afonso; a vereação tomou primeiro a iniciativa de sugerir ao dito Manuel Afonso que solicitasse ao juiz dos moleiros, Afonso Luis. os necessários ensinamentos, e depois, de acordo com as posturas, passou a prover os moleiros para os vários moinhos da vila (A.C.M.R.G .• L, ° 3 de Acórdâos, /578, fls., 101-106. 28 de Julho; ibid, fls. 119 v,o 122. 3 de Setembro); para impedir qualquer desvio recomenda ainda ao juiz examinador que o exame se faça na presença de vereação (ibid. fi, 122 v.o, 13 de Setembro). Saliente-se que os moleiros constituiam um estrato sócio-profissional muito importante no município da Ribeira Grande, pois esta era uma das principais zonas de produção de trigo e aí estavam sediados a maior parte dos moinhos da ilha, Sobre as fianças veja-se A,R,M., C.M.F .. n.o 1297, fls. 44 v.o-45, 20 de Abril de 1482; lbidem, n. u 1298, fls. 154 v.o-156; /bidem, n.o 1299, fls. 124-128; /bidem, n,o \300. fls. 234-247; A.C.M.R.G .• L,o 3 de Acórdãos. fls. 12 v. o-14. 19-28 v. o. Idem, L," 2 de Acórdâos, fls. 40-60; Idem, L.O 4 de Acórdcios. fls, 74-139. 6 ) Na Madeira temos uma postura para os moleiros e outra para as padeiras. A.R.M .• C.M.F .. L.0 de Posturas. fls. 25-30 v. o, 16 v.o-25. Nos Açores há igualmente referência a essa actuação, nomeadamente na vila da Ribeira Grande, A.C.M.R.G., L,0 3 de Acôrdâos, /578, fls. 101-106.28 de Julho; /bid., fls. 119 v.o-I21, 3 de Setembro. O mesmo sucede na Vila elo Topo em S. Jorge; A. Santos Pereira, ob. cit., p. 714. Para as Canárias veja-se Eduardo Aznar Vallejo, ob, cit" pp. 389-391.
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As coroas de Portugal e Castela exerceram um rigoroso controle sobre o comércio com as s~as colónias no AtI~ntico. Através de Lisboa e Sevilha os dois impérios atlânticos mantInham um regular sistema de controle das rotas e do comércio. As ilhas atlânticas posicionadas estrategicamente nesse trama de relações económicas, viram assim toda ~ economia condicionada por uma política intervencionista e proibitivaet 7 ). Deste modo nas Canárias, área charneira para o relacionamento com as Índias de Castela, a coroa, por intermédio da Casa de Contratacción de Sevilha, exercía um assíduo e rigoroso controle nas ligações entre este arquipélago e o novo continente. O seu objectivo era impedir a quebra do monopólio andaluz e evitar o contrabando de nacionais e estrangeiros, com o ouro, prata e açúcar das Índias. Até 1564, altura em que foi criado o lugar de juiz de registo, o comércio feito a partir das Canárias estava sujeito a autorizações especiais, por um determinado períodoet s). Idêntica é a situação relativamente à Madeira e aos Açores, em relação ao comércio no litoral atlântico e, nomeadamente, com o Brasil a partir do século XVII. No período da união das duas coroas tornou-se possível nos três arquipélagos uma política concertada de defesa do exclusivo comercial hispânico et 9 ). O mercado insular, pela sua importância no contexto da economia europeia-atlântica, mereceu igualmente a intervenção da coroa: esta, por meio das diversas repartições régias existentes nas ilhas, exerceu um rigoroso controle sobre o movimento de troca entre o próspero mercado destas e o da Europa mediterrânica e atlântica; tal intervenção não deriva só da necessidade de assegurar a arrecadação dos d.ireitos reais, mas também do exercício do domínio exclusivo do comércio insular. Assim a fiscalidade e a tendência monopolista-intervencionista ditaram o aparecimento de instituições próprias: o almoxarifado e a alfândega, o primeiro com a superintendência de arrecadação dos direitos reais e a segunda com a finalidade de regular as entradas e saídas e de arrecadar os respectivos direitoseo). A alfândega surge como a mais importante instituição para regular e controlar as actividades de troca, sendo uma das vias mais adequadas para o controle do comércio insular. Na Madeira a alfândega surge, desde 1477, como uma necessidade de organizar a actividade fiscal e de regular o trânsito de mercadorias 1 ). A infanta Dona Beatriz organizou naquele ano os serviços de fisco, criando duas alfândegas, uma na capitania do Funchal e outra na
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7 ) Fréderic Mauro, Le portugal et l'Atlantique ali XV/Je siecle ( ... ), Paris, 1960, 433-448; Viclor Morales Lezcano, Relaciones Mercantiles entre Inglaterra y los archipélagos dele Atlantico ( ... ), La Laguna, 1970. s ) A primeira autorização data de 1535, tendo-se pennitido a carga dos produtos locais por um período de dois anos (Reales Cédulas, 2, n.o 52, 1535) sumariado por Leopoldo de la Rosa, «Catálogo dei Archivo Municipal de La Laguna.. , in Revista de História, n.' 101-40 3 115-116; Fransisco Morules Padron, «Fundos Canarios en el Archivo de Índia», in A.E.A., n.O 24-25; Idem, Cedúlario de Canarias, 3 vais. Sevilha, 1970; Eduardo Aznar Val1ejo, ob. cit., pp. 315-317; Francisco Morales Padron «Las relaciones comerciales canario-americanas», in Historia General de las islas Canarias, III, pp. 317-329. As referidas ordenanças, leis e regimentos foram condenadas no livro VIII título XXXXI «Dei comercio, y navegacion de las islas de Canaria", . in Reconpilación de leya de los regnos de las Indias, UI!. Madrid. 1943, 498-508. (19) Veja-se Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a ca"rreira das Índias no século XVI: Lisboa, 1983, Sep. de Estudos de História de Portugal, vol. n, séculos XVI-XX. Note-se que em 1595, 1598 e 1629 o monarca proibira a descarga das naus das Índias no Funchal (A.R.M., C.M.F.. Registo Geral, t. III, fls. 216 e 253; t. VI, fls. 22 v. °-23). 9 )Urbano Medonça Dias, A vida de nossos avós, vaI. II, Vila Franca do Campo, 1964, 57-110; Eduardo Aznar Val1ejo, ob. cit., pp. 121- 141. O primeiro foral e regimento doalmoxarifado da Madeira data de 4 de Julho de 1499, a que se seguiu o foral novo de 1515. Veja-se Utbano de Mendonça,Dias, Ibidem, pp. 11-44. l ) Femando Jasmins Pereira, ob. cit., pp. 183-193; Álvaro Rodrigues da Azevedo, ob. cit., pp. 596-601.
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de Machico; entre esta data e 1483 estes serviços adquirem uma orgânica adequada ao volume das trocas madeirenses 2 ). Em finais do século XV e princípios do seguinte o desenvolvimento do comércio do açúcar implicou a criação de novas alfândegas na Ribeira Brava, Ponta de Sol e Calhetae 3 ). Com a alfândega nova no Funchal, a partir de 1508, todo o serviço de exportação do açúcar passará a fazer-se por aíe 4 ). O monarca, ao estipular esta medida, em 1512, aduzia em seu favor a perda que a coroa tinha com a arrecadação dos direitos em diversas localidades s ). Até princípio do último quartel do século XV o movimento de carga e descarga, no calhau do Funchal, fazia-se na presença dos oficiais do duque ou dos seus rendeiros; desde então o juíz da alfândega, com os almoxarifes e os escrivães, passará a controlar toda essa actividade, lançando os direitos de acordo com o regimento; a partir de 1497 o despacho dos navios era supervisionado por um juíz e vereador da câmara do Funchal 6 ). Se os alvarás e os forais concediam aos naturais o privilégio de isenção da dízima das mercadorias de e para o reino, o mesmo já não sucedia com os estrangeiros que, para além de estarem sujeitos ao pagamento desse direito, viam limitada a sua acção com as medidas proibitivas da coroae 7 ). Assim, para além da interdição de vizinhança, estes viram restringidas as suas possibilidades de comércio pelos contingentes de 1483 e 1485; de facto, os referidos mestres ou mercadores eram obrigados a descarregar a sua mercadoria num prazo de três e, depois, cinco dias, pagando a respectiva dízima; caso contrário perdiam a mercadoria; esteve-lhes também vedada até 1508 a carga na ilha, pois apenas o podiam fazer os naturais s ). Nos Açores a arrecadação dos direitos reais fazia-se do mesmo modo que na Madeira, regendo-se as referidas repartições pelos regimentos das suas similares do Funchal 9 ). No entanto aí elas adquiriram nesse caso uma estrutura mais complexa, e não só também mais adequada à realidade geo-humana como igualmente ajustada à sua importância no contexto da economia açoreana e atlântica. Nas Canárias a fazenda real, transplantada de Castela, organizou-se de acordo com as circunstâncias das ilhas após a conquista e o seu posicionamento no traçado das rotas
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2 ) A.R.M., Registo Geral, l. I, 11. 231-238 v.o, Beja, de 15 de Março de 1477, .. Apontamentos da Infanta D. Biatriz», pubI. in A.H.M., vol. XV, pp. 79-88. 3 ) A.R.M., C.M.F.. Registo Geral, T. I, fi. 8, Beja, 23 de Julho de 1481, «carta do principe sobre a pensam que levam hos esprivães quando despacham os açuquares na alfândega», publ. in A.H.M., vaI. XV, p. 116; ibidem, t. I, fls. 238 v.o-249, Tomar, 12 de Novembro de 1483, «Resposta do Duque e alguüs apomtamentos sobre hos Dereytos», publ. in A.H.M., vol. XV, pp. 147-156; lbidem, t. I. fls. 270-256, /20 de Março de 1485/, .. Apontamentos dei Rey dom Manuell semdo Duque pera esta ylha Da madeyra» pub. in A.H.M., vol. XV, 147-156, lbidem, l. I, I1s. 270-256 v.o /20 de Março de 1485/, .. Apontamentos deI Rey dom Manuell semdo Duque pera esta ylha Da madeyra», pubI. in A.H.M., vol. XVIII. pp. 495-497. (24) Sobre a construção da alfândega do Funchal veja-se José Pereira da Costa, A construção da alfandega nova do Funchal, Lisboa, 1978, Sep. da .. Revista da Universidade de Coimbra»; António Aragão, Para a História do Funchal. Pequenos Passos para a sua História, Funchal, 1979, 103-112. (25) Fernando Augusto da Silva, .. Alfândega .. , inElucidário Madeirense, vaI. I, p. 38. Não obstante já em 3 de Abril de 1509 o monarca em carta ao provedor ordenara a proibição de descarga em Machico, passando esta a fazer-se apenas no Funchal (A.R.M., C.M.F .. Registo Geral, t. I, 66 v.o). Salienta-se que a alfândega da capitania de Machico tinha assento em Santa Cruz e manteve-se em funcionamento todo o século XVI. Não sabemos, é certo, qual a sua forma de organização e actuação após estas medidas centralizadoras. 6 ) A.R.M., C.M.F., n. O 1302, fl. 108 v.o, vereação de 15 de Fevereiro de 1497. (27) Jerónimo Dias Leite, Descobrimento da ilha da Madeira ( ...), Coimbra. 1947, 30; Álvaro Rodrigues de Azevedo, ob. cit., notas XX-XXI. Por carta régia de 1 de Junho de 1439 o monarca concedera a isenção do pagamento da dízima, (Chancelaria de D. Afonso V, L.0 19, fi. 77 v. o, publ. J. M. Silva Marques, Os descobrimentos portuguêses. I, n. o 314, p. 400). s ) A.R.M., D.A .. ex. I, doe. 92. 9 ) Urbano Mendonça Dias, ob. dt .. 11, pp. 9-10; Francisco Ferreira Drumond, Anais da ilha Terceira, 1, 481-90 e 550-551; Arquivo dos Açores, VI, 271-280; Maria Olímpia da Rocha Gil, O Porto de Ponta Delgada e o comércio açoriano no século XVll ( ... ), pp. 58-60 e 72-73.
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comerciais do Atlântico. Assim, o regime fiscal não se apresentou gravoso, pois a coroa concedera ao arquipélago um regime idêntico ao que se fizera na Madeira e nos Açores, várias isenções e privilégios incentivadores da sua ocupação e do seu desenvolvimento económico eo). Todavia a grande preocupação do legislador castelhano neste arquipélago incidia mais sobre o comércio canário-americano do que sobre o comércio canário em geral. Disto resultaram as constantes ordenanças e instruções da Casa de Contratacción de Sevilha aos oficiais régios das ilhas deste arquipélago (31). Legislação A regulamentação do comércio no mercado insular e deste com as restantes áreas do Atlântico era uma das competências que os municípios não descuravam na sua acção governativa. Esta intervenção resultava da necessidade de assegurar o abastecimento do mercado local dos produtos essenciais para o quotidiano da comunidade insular; para isso os oficiais eleitos definiam medidas, exaradas ou não sob a forma de posturas, que vão desde a proibição de exportação de produtos locais ao reajustamento e à regulamentação dos circuitos de distribuição e venda, e, mesmo, à proibição de entrada de produtos lesivos da economia concelhiae 2 ). Em síntese, a sua intervenção incidia, fundamentalmente, nos seguintes domínios: -
definição dos locais de compra e venda: a praça pública com o' seu numeroso grupo de lojas e tendas; controle dos preços, por meio do tabelamento do preço de venda dos produtos agrícolas, dos artefactos e dos serviços prestados pelos vários oficiais mecânicos; controle de pesos e medidas por intermédio de vistorias assíduas dos almotacés; proibição de saída dos produtos considerados essenciais para subsistência da comunidade insular: trigo, gado e derivados, presunto, azeite, cera, cebo, fruta seca e verde, madeiras, pipas vazias, tecidos e artefactos de importaçãoe 3 ).
A venda de qualquer produto deveria fazer-se em praça pública, nas lojas e tendas, sendo proibida a venda em casa ou de porta em porta, como era hábito dos bufarinheiros 4 ). Os vinhos e a comida no Funchal, em 1541, apenas poderiam ser vendidos nas ruas do
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eo) Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., pp. 121-122 e 144; Eduardo Aznar Vallejo e Miguel Angel Ladem Quesada, «La Hacienda Real en Canarias( ... )>>, in IV, C.H.C.A., I, Las Palmas, 1980,79·108; Pedro Cullen dei Castillo, Incorporacion de la islas y fuero y privilegio concedidos a Oran Canaria. Las Palmas, 1978. (31) Em 1573 enviado à ilha de La Palma um oficial real com as necessárias instruções para a carga de mercadorias para as Índias (F. Morales Padron, .. Fondos Canarios en el Archivo de Indías», A.E.A., n,o 28, doe. n.o 8, p. 424). Veja-se Idem, Cedulario de Canaris, 3 vais., Sevilha, 1970. 2 ) Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit.. 51 e 313-317. (33) Cf. Elias Serra Ráfols e Leopoldo de La Rosa, Acuerdos dei cabildo de Tenerife, 3 vais., La Laguna, 1949, 1952, 1970: Eduardo Aznar Vallejo, ob.cit., 108,313-317 e 323; José Peraza de Ayala, ob. cit.; Francisco Morales Padron, Ordenanzas del concejo de Oran Canaria, Las Palmas, 1974; A.R.M., C.M.F., L.0 de Posturas; Urbano Mendonça Dias, A vida de nossos avós. VaI. III, Vila Franca do Campo, 1944. 4 ) Em 6 de Junho de 1489 a vereação Funchalense proibe os bufarinheiros de venderem a retalho pelas casas, só o permitindo em lugares e lojas públicas (A.R.M., C.M.F.. n.o 1299, fi. 103 v.O). Ao mesmo tempo o talhar"e vender da carne só era permitido no talho (ibidem, n.O 1300, fi. 82, vereação de 12 de Maio de 1492), mas apenas ao sábado e domingo, pois a sua venda nos restantes dias da semana estava sujeita a uma licença especial, (ibidem. n.O 1306, fls. 37 v.o·38 v.o, vereação de 28 de Abril de 1531). Em Tenerife a venda de mantimentos por miudo fazia-se apenas nas tendas montadas nas praças públicas dei Adelantado e de La Concepcion. Veja-se Acuerdos dei cabildo de Tenerife, III, n.o 277, pp. 154-155,24 de Janeiro de 1522; Ibidem, I, n.o 108, p. 216, 14 de Agosto de 1523; Leopoldo de La Rosa, «Catalogo deI Archivo Municipal de La Laguna», in Revista de História, n.o 101-104, pp. 249 e 251, cédulas de 1530 e 1533; lbidem, n.o 115-116, p. 110, cédula de 1564; Eduardo Aznar VaIlejo, ob. cit.. p. 313.
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Matoso, dos Peixes e Direita CS ). Idêntica é a situação dos artífices que vêem reduzida a sua disseminação no burgo com a obrigatoriedade de assentarem a sua tenda num arruamento determinado pela vereação. Esta situação facilitava a actividade do município na fiscalidade, inspecção e controle das lojas e tendas. O controle sobre os agentes do mercado local mais se amplia com a obrigatoriedade de pagamento de fiança por todos os oficiais mecânicos e intervenientes nas actividades da praça pública: vendeiros, regatões, carniceiros, etc. Muitas vezes o município vedava o acesso a estas actividades como forma de evitar o roubo. Assim, no Funchal, os escravos e moços solteiros que viviam de sua soldada não podiam exercer o ofício de vendeiro ou regatão Ó ). A venda dos produtos de importação estava sujeita a uma regulamentação especial, de modo a evitar-se o açambarcamento e a especulaçãoC 7 ). Assim, só era permitida a sua venda a retalho nove ou quinze dias após a sua entrada, respectivamente em Tenerife e no Funchal; além disso a sua venda só se poderia efectuar após vistoria dos deputados e sua subsequente licença, ficando o infractor sujeito a pesadas penas s). Nas Canárias duas particularidades evidenciam uma similar orgânica do mercado interno. Assim, entre 1521-1522, funcionou em Tenerife um mercado franco, uma vez por semana, que foi encerrado pelo dano que acarretava às rendas do concelhoC 9 ). Ao mesmo nível funcionaram no século XVI feiras locais com carácter sazonal. Além disso em Gran Canaria, Tenerife e La Palma a venda de determinados produtos de consumo em áreas definidas era muitas vezes entregue, em regime de monopólio, a determinados moradores; as casas de venda eram conhecidas por bodegones(40). O controle das entradas fazia-se de acordo com as carências locais, tendo-se em vista a necessidade de evitar a concorrência dos produtos do estrangeiro ou das ilhas vizinhas, bem como a sua utilização como represália para com as nações inimigas; no primeiro caso temos como exemplo a actuação do cabildo de Tenerife ao proibir a entrada de vinhos de fora e ao incentivar a cultura da vinha(41); no segundo temos as represálias mútuas entre Portugal e Castela, na década de 70, que surgem nas Canárias em ordens de 1476 e 1480 e na Madeira em 1471 (42). Além disso há referência a represálias nas Canárias em 1592 contra a França e
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es ) A.R.M, C.M.F., n.o 1308, fls. 5-6 v.o. Vereação de ( ... ) Janeiro de 1547. e Assim o determinavam as posturas de 1497 e 1596. A.R.M., C.M.F., n.O 1302, f1s. 54 v.o, vereação Ó)
de 18 de Outubro de 1497; Ibidem, fi. 69, vereação de 31 de Outubro de 1497; Ibidem. n.o 1312, f1s. 41 v.0-42, vereação de I de Junho de 1596. Para Tenerife essa interdição abrangia apenas os escravos; Leopoldo de La Rosa. Ibidem. n.O 101-104. doe. n. o 24, p. 262, cédula de 1560. 7 ) Esta é uma das preocupações constantes da vereação Funchalense e do Cabildo de Tenerife que deliberam com assiduidade sobre isso. As penas impostas denunciam o empenho do município e a gravidade com que estes encaravam estas situações. Veja-se A.R.M .. C.M.F.• n.o 1297, f1s. 44 v.0-45, 20 de Abril de 1482; Ibidem. o." 1385. f1s. 42, 27 de Fevereiro de 1527; AClIerdos dei cabi/do de Tenerife. IV, n.O 373, p. 184,20 de Fevereiro de 1523; Ibidem, n.o 374 p. 209. I de Julho de 1523. s ) Nas Canárias esta prática estava definida nas posturas de Tenerife e Oran Canaria; Francisco Mora1es Padroo, ob. cil .. p. 16; Jose Peraza de Aya1a, ob. cil.; Acuerdos dei cabildo de Tellerife I, n.o 707, p. 151. 12 de Fevereiro de 1507. O mesmo sucede na Madeira a partir de 1482; A.R.M., C.M.F., n.o 1297, f1s. 45 v.o, de 26 de Abril de 1482; Ibidem. n. ° 1301, fls. 195 v.o, II de Maio de 1492. 9 ) AClIerdos dei cabildo de Teller!fe. IV. 0.° 261, p. 112, de 15 de Novembro de 1521; Ibidem. n. ° 263, pp. 113-115, 18 de Novembro de 1521; Ibidem, n.o 276, pp. 122-123, 10 de Janeiro de 1522; n.o 282, Ih idem , p. 127, 21 de Fevcreiro de 1522. Elias Serra Rafols comenta, a propósito desta criação efémera: "se dita una amplia ordeoanza que nos deja atónitos por su franquia y libertad tan contrarias ai habitual y minucioso ordenancismo de la época .. (" Introducción" in ACllerdos dei cabildo de Tenerife, IV. p. XI). (40) Eduardo Aznar Val1ejo, oh. cit., p. 108. (41) AClIerdos dei cabildo de Tellerife, 111, 0.° 179, p. 181,22 de Dezembro de 1516; Ibidem, m, n.o 201, p. 199,4 de Setembro de 1517; Ibidem. IV, n.O 44, p. 21, 18 de Maio de 1519; Ibidem. IV, n.o 65, p. 30,15 de Abril de 1519; Ibidem, IV, n.O 66, p. 30, 18 de Abril de 1519; Ibidem, IV, n.o 153, p. 58, 1 de Junho de 1520; Ibidem. IV, n.o 332, p. 160. 18 de Agosto de 1522; José Peraza de Ayala, ob. cit., p. 108. (42) Eduardo Azanar Vallejo, Documentos Callarios ( ... ). La Laguna, 1981, pp. 1-11 does. n. o 1, 6, 24.
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em 1596 contra a Inglaterra, o mesmo sucedendo na Madeira em 1485 contra a Escócia e Bruges (43). Mas se os produtos de fora não deparavam com grandes entraves à entrada, o mesmo já não sucedia à saída; nesse caso o concelho exercia um controle rigoroso sobre esse movimento, no sentido de coibir a saída dos produtos proibidos, porque neéessários ao burgo; deste modo para todo o produto cuja exportação fosse autorizada, o mercador deveria solicitar ao concelho a necessária licença de saída. O trigo, as madeiras, a carne e as verduras faziam parte desse grupo de produtos prescritos. A sua exportação só se fazia em condições específicas e mediante licença dos oficiais do concelho (44); e, muitas vezes, só em condições muito especiais era facultada a sua saída (45). Na Madeira nos séculos XV e XVI, o açúcar galvanizou as atenções das autoridades madeirenses e régias. Este produto era, então, uma componente importante dos réditos da ilha e da coroa e, como tal, estava sob vigilância constante do senhorio, da coroa, do almoxarifado e da vereação. Segundo Vitorino Magalhães Godinho «o regime do comércio [do açúcar] vai oscilar entre a liberdade fortemente restringida pela intervenção quer da coroa quer dos poderosos grupos capitalistas, de um lado, e o monopólio global, primeiro, posteriormente um conjunto de monopólios cada qual em relação com uma escápula de outra banda» (46). Assim, desde 1469 e até princípios do século XVI, o comércio do açúcar madeirense fazia-se num apertado circuito sob controle da coroa e de um reduzido grupo de mercadores estrangeiros. As tentativas levadas a efeito pelo Infante D. Fernando para fazer vigorar o contrato de monopólio mereceram a oposição declarada e firme dos vizinhos do Funchal (47); somente conseguiu vigorar, a partir de 1487, o monopólio régio de exportação deste produto para o levante, um dos principais mercados do açúcar madeirense (48); e, finalmente, em 1498, D. Manuel I, em face da difícil situação de crise comercial, limita esse comércio, estabelecendo um máximo de produção e os contingentes para as diversas escápulas (49). Esta situação foi revogada em 1503, mas o comércio deste produto não obteve a necessária liberalização, pois o escoamento passou a faZer-se sob o regime de contrato entregue, na sua maioria, a estrangeiros ou seus agentes (50). Ao invés, nas Canárias, e mesmo nos Açores, o comércio do açúcar não suscitou a mesma atenção e intervenção da coroa, pois que esse trato foi aí deixado à iniciativa do grupo de mercadores nacionais ou estrangeiros; no caso das Canárias o seu comércio era quase exclusivo dos mercadores genoveses e flamengos. Mais do que o açúcar, o trigo e outros cereais serão o alvo primordial da intervenção
34, 47; A. Cioranescu, História de Santa Cruz. I. p. 376 (nota 44); Victor Morales Lezcano, Sinlesis de la História economica de Canarias, Tenerife, 1966, pp. 23-24. (43) A.R.M, C.M.F .. n. o 1296,fls. 24-24 v. o , s.d., (1471); [bidem, n. o 1298, fis. I-I v. o , 23 de Junho de 1485. (44) Acuerdos dei cabildo de Tenerife, [ n. o 529, pp. 100-101, 20 de Julho de 1506. (45) É o caso do fornecimento das naus e armadas das rotas das índias, Índia e Brasil nos três arquipélagos. Veja-se 1. a parte. (46) Os Descobrimentos e a economia mundial, IV, p. 87. (41) Ernesto Gonçalves, ..João Afonso do Estreito", in D.A.H.M.. n. O 17, 1954, pp. 4-8; Fernando Jasmins Pereira, Alguns elementos para o estudo da história económica da Madeira, pp. 144-162; Maria do Carmo Jasmins Pereira Rodrigues, O açucar na ilha da Madeira, pp. 91-101. (48) Vitorino Magalhães Godinho, ob. cit.. IV, p. 87; A.R.M., C.M.F.. Registo Geral, t. I, fis. 65 v. 0 -75 v. o, Saragoça, 21 de Agosto de 1698. Apontamentos do Rei sobre o açucar, pubI. in A.H.M., XVII, pp. 372-380; [bidem, fi. 293 v. 0 -294, Lisboa, 18 de Janeiro de 1499, carta régia, pubI. in A.H.M" XVII, pp. 382-383. (49) Fernando Jasmins Pereira, O açucar madeirense ( ... ), pp. 56-57. (50) A.R.M .. C.M.F., Registo Geral, t. I, fls. 288-288 v. o, Lisboa, 28 de Agosto de 1503, alvará régio sobre a carga do açucar para Portugal, pubI. in A.H.M., XVII, pp. 445-446; Fernando Jasmins Pereira, [bidem; Virginia Rau e Jorge de Macedo, O açucar da Madeira no fim do século XV ( ... ), Funchal, 1962, pp. 25-33.
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assídua do município. Sendo produtos básicos da dieta alimentar insular, lógico será admitir que os vereadores, tendo a seu cargo o regimento da terra, estivessem preocupados e atentos ao fornecimento do cereal no mercado local (51). Numa breve passagem pelas vereações dos séculos XV e XVI existentes para os três arquipélagos verifica-se que esta questão atemorizava e preocupava constantemente os oficiais da Câmara quando se reuniam em vereação duas vezes por semana (52). A actuação de cada concelho será feita de acordo com as peculiaridades e a conjuntura específica da área a que se circunscreve. Podemos considerar para os três arquipélagos uma linha de conduta que, na globalidade, apresenta muitos pontos comuns. Assim, teremos para a Madeira e Açores a sua inspiração na administração de Lisboa e, para as Canárias, a transplantação e adaptação do modelo andaluz (53). Embora com raíz diferente essa actuação dos municípios insulares poderá definir-se do seguinte modo: -
controle da produção e dos circuitos de abastecimento e conservação de cereal. controle/regulamentação/proibição do comércio e transporte do cereal no mercado interno e externo.
Isto é, toda a acção concelhia é orientada no sentido da regulamentação e do controle da produção e do comércio do cereal, por meio dos exames na Madeira e nos Açores e da tazmia ou cala y cata nas Canárias, das medidas limitativas ou proibitivas da sua exportação. A sua aplicação variava de concelho para concelho consoante a prioridade fosse dada à produção ou à importação; assim nos concelhos de Ponta Delgada, Vila Franca do Campo, Ribeira Grande, Angra, São Sebastião, do arquipélago dos Açores, e em Santa Cruz de Tenerife e de La Palma e certamente nos cabildos de Lanzarote e Fuerteventura, predominam as ordenanças e posturas regulamentadoras da produção do referido cereal, assentes no princípio básico de assegurar as necessidades do consumo local. No Funchal, Las Palmas de Gran Canaria dominam as ordenações facultativas da importação do precioso grão, quer por meio da abertura do mercado a todo o que a ele concorresse, quer por meio de medidas aliciadoras (como sejam, no Funchal, o pagamento da descarga, dos sacos e da loja), quer ainda por meio de medidas proibitivas à sua saída. A concretização da primeira medida da referida política definia-se nos Açores pelo trigo dos exames, isto é, o trigo resultante do exame da produção e dos stocks de abastecimento dos granéis concelhios ou particulares, necessário para o fornecimento à população em momentos de penúria. Segundo o regimento régio de 26 de Junho de 1507 a
(51) Eduardo Aznar Vallejo, oh. cit" p. 253, A. Cioranescu, ob. cit .. I, p. 318, Frédéric Mauro, Ibidem. pp. 300 e 306. Saliente-se que esta ambiência não é típica das ilhas, pois as mesmas preocupações dominam em Coimbra e Algarve; veja-se António Oliveira, A vida económica e social em Coimbra ( ... ). II, 1972, pp. 122-130 e 162; Joaquim Antero Romero Magalhães, Para o estudo do Algarve económico durallte o século XVI. Lisboa, 1970, pp. 66-70. (52) Fizemos um largo tratamento da questão cerealífera em alguns trabalhos já publicados. ,,0 comércio de cereais dos Açores para a Madeira no século XVII», in Os Açores e o Atlântico (Séculos XIV-XVII), Angra do Heroísmo, 1984, sep. do B.I.H.I.T.. vol. XLI, (1983), pp. 651-677; "A questão cerealífera nos Açores nos séculos XV-XVII (elementos para o seu estudo)>> in Arquipélago. História e Filosofia. vol. VII, n.o 1, 1984, pp. l23-201; ,,0 comércio de ccreiais das Canárias para a Madeira nos séculos XVI-XVII, in VI C,H.CA., Las Palmas, 1984 (no prelo). (53) Veja-se Urbano de Mendonça Dias, A vida de nossos avós, vaI. III, Vila Franca do Campo, 1944, idem, A Vila, Vila Franca do Campo, 1927, vaI. VI; Maria Teresa Campos Rodrigues, A administração do município de Lisboa no século XV. separata dos n.OS 101-9 da Revista Municipal. pp. 83-110; Miguel Angel Ladero Quesada, "Ordenanzas municipales y regulacion de la actividad em Andalucia y Canarias siglas XIV-XVII», in II Colóquio Canario-Americano, 1977, Orã Canária, II, pp. 143-56, Eduardo Aznar Vallejo, Integracion de las islas Cana rias en la carona de Castilla (1478-1526), Sevilha, La Laguna, 1983; Emma Conzalez Yanes, "Importación y exportación en Tenerife durante los primeros anos de la conquista (1497-1503)>>, in Revista de História. La Laguna, n.o 101-4, pp. 70-9i.
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vereação tinha a incumbência de fazer, no início do Verão, por altura das colheitas, o orçamento do trigo necessário ao consumo e à sementeira até à nova colheita, armazenando-o depois em granéis à sua guarda, de modo a poder distribui-lo na altura da carência. A partir de 1561 juntar-se-à um quarto dos valores exportados. Para dar cumprimento a estas medidas a vereação ordenará que toda a exportação só deveria ser feita mediante licença sua após vistoria dos granéis a cargo do oficial dos exames (54). Nas Canárias, e mais propriamente em Tenerife, encontramos definida a mesma orientação sob a designação do tazmia ou cala y cata. O cabildo em momento de penúria, antes de autorizar a saída do cereal, procedia ao exame dos granéis e ao arrolamento da população, de modo a avaliar o trigo necessário ao consumo concelhio e assegurar a reserva satisfatória (55). Esta prática derivava das primeiras medidas proibitivas exaradas em finais do século XV e do correcto dimensionamento da política cerealífera pelo cabildo em princípios do século XVI (56). Enquanto no primeiro período apenas se estipulava a proibição de saída, no segundo, ao pressentir-se a ineficácia dessa actuação, alarga-se o seu âmbito. Assim, em 1505, em face da falta de pão, ordena-se a vistoria às principais casas da ilha para, no ano imediato, se promulgar a ordenança sobre o pão, onde se definia o modo de actuar (57). A partir de então esta prática institucionaliza-se, tomando-se um hábito corrente na vida municipal (58). Não obstan~e as medidas proibitivas terem maior força de lei em momentos de maior penúria, o certo é que em anos de abundância estas apresentavam-se como prejudiciais aos vizinhos das ilhas produtoras: Tenerife, La Palma e Fuerteventura. Pior era, no entanto, a situação dos mercadores, obrigados à troca das suas mercadorias por trigo. Daí a reivindicação dos moradores do direito de exportar metade da sua colheita, no que a coroa apenas concordou com um terço (59). Mesmo assim o cabildo passou a exercer um controle rigoroso sobre esta parte, ao definir como obrigatória a solicitação de licença para exportar e, mesmo, revogando essa regalia em momentos de penúria, como sucedeu em 1522 (60). O cabildo de Tenerife perante a contingência da conjuntura de crise e do movimento demográfico conclui que os dois terços não são suficientes para o sustento da população, (54) Esta questão foi tratada em estudo que elaborámos sobre .. A questão cerealífera nos Açores ( ... )>>, pp. 144-158. Veja-se Urbaoo Mendonça Dias, A vida de nossos avós, voI. III, pp, 32-8, 489, 62-63. (55) Conhece-se uma tazmia de 1552,publicada por F. Moreno Fuentes, ..Tazmia de la isla de Tenerife em 1552 .. , in Anuario de Estudios Atlanticos. n.o 25, pp. 411-92. (56) Eduardo Azoar Vallejo, Documentos Canarios ( ... ), La Laguna, 1981, does. n.o 156,440,568, 652, 727, 883. 892, 916. 986. 1193; Acuerdos dei mbi/do de Tenerife. I, n.o 270, p. 48, 28 de Juoho de 1502. (57) Ibidem. I. n.o 436-437, p. 81. 10 de Dezembro de 1505; Ibidem, n.O 540. pp. 103-108.8 de Novembro de 1506; Ibidem. n.o 600-601. pp. 116-117; 12 de Fevereiro de 1507. (58) A primeira referência à cala y cata de 1511 (/bidem. 0.° II, n. ° 185, p. 134. 5 de Dezembro) seguindo-se esta prática em 1514 {/bidem. III, n.O 12, p. 5, 28 de Abril; {bidem. III. n.O 21, p. 18, 16 de Junho; {hidem. III, n.O 22, p. 18, 21 de Julho) e em 1522 ({bidem. IV, n.o 276, p. 123, 17 de Janeiro). (59) A primeira reclamação foi exarada em reunião de Tenerifc em I de Setembro de 1508 (/bidem. II, n.o 15. p. 12) mas só em 28 de Fevereiro de 1512 ê atendida (/bidem. II, n.o 33, pp. 264-265). Não obstante não satisfaz as pretensões dos tenerifenhos (/bidem. n.O 42, pp. 277-283, «capitulaciones que presenta ai rey la isla de Tenerife por mano de mcosagero,,). Veja-se Manuel Marrero, «Algunas viages atlanticos de los veeinos de Tenerife eo el primer tereio deI siglo XVI", II, C.H.C.A .. vol. I, 1977, pp. 64-65. Veja-se, Pierre e Huguette Chaunu. Seville et I'Atlantique, Paris, 1959. t. VIII, vol. I, p. 370; Sebastiao Jimenez Sanchez, «EI trigo uno de los alimentos de Oran Canarios prehispanicos". in Revista de História, La Laguna, n. ° I, p. 213; J. Perez Vida/, «Aportacion portuguesa a la poblacion de Canarias". in Anilaria de Estlldios Atlanticos, n.o 14, pp. 65-6: E. Gonzalez Yanes. ob. cil .. p. 85; Leopoldo de La Rosa, «Catálogo dei Archivo Municipal de La Laguna", in Revista de História, La Laguna. n.o 10 1-104. pp. 256. 261; idem. ibidem, n.o 113-4, assim; Manuela Marrero, «Alguoos viages atlaoticos de los vecioos de Teoerife en el primer tereio dei siglo XVI", io II Colóquio de História Canllrio-Americana. Las Palmas, 1977. vol. I, pp. 64-5;. Idem. «Algunas consideraciones sobre Tenerife .. , in Anilaria de estudios Atlanticos. n.o 23. p. 379. (60) Acuerdos dei cabi/do de Tenerife, IV, n.o 314, p. 150, II de Julho de 1518; {bidem. n.o 335, p. 161. 29 de Agosto de 1522. Ibidem. n.o 337. p. 161.5 de Setembro de 1522; Ibidem. n.o 343, p. 165,26 de Setembro de 1522, Ibidem, n.o 380. p. 189. 26 de Março de 1523.
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pelo que ordena, a partir de Julho de 1522, que de todo o trigo a exportar deveria ficar uma reserva de dez por cento às ordens da câmara, a fim de ocorrer aos momentos de falta (61). De modo a controlar-se o cumprimento desta ordenação regulamentara-se a obrigatoriedade do registo do cereal a exportar e a solicitação da respectiva licença ao cabildo, ao mesmo tempo que se estabeleciam guardas de vigia nos portos (62). Quer em S. Miguel, quer em Tenerife, os produtores e mercadores, entre os quais se colocavam o capitão donatário, o senhorio e alguns funcionários concelhios e régios, usavam de todos os subterfúgios para fazer sair o seu trigo, agravando deste modo a situação de penúria cerealífera (63). No mercado consumidor carente toda a política cerealífera incidia a dois níveis no seu comércio: primeiro procurando assegurar o normal abastecimento de trigo, por meio de incentivos à sua introdução; depois através do controle dos circuitos de fornecimento de mercado local, evitando a sua saída, sob a forma de grão ou de biscoito. Ao nível da Madeira define-se a actuação da vereação funchalense; primeiro, com o estabelecimento de contratos com alguns mercadores para meterem anualmente o trigo necessário ao provimento dela, pagando-se a descarga, os sacos e a loja; depois, com a abertura total do mercado à sua introdução, por meio da isenção da dízima de entrada (64). Caso estas medidas não fossem suficientes, então a vereação punha em prática o seu plano de emergência, que consistia na actuação junto dos mercadores e mestres de navios, obrigando-os a descarregar o trigo que conduziam ao reino ou às Canárias, ou então forçando-os a irem buscar o trigo aos Açores ou outras partes (65). A esta orientação aliavam-se as ordenações régias de 1508 a 1521, que tomavam obrigatória a rota de fornecimento de trigo açoriano ao mercado madeirense (66). Assegurados os circuitos de abastecimento do mercado funchalense, tomava-se necessário controlar e regulamentar os circuitos internos de distribuição e venda, de' modo a evitar-se o açambarcamento e a especulacão. Neste caso a vereação actuava com medidas drásticas, quer por meio do exame das lojas pelos almotacés, quer lançando pesadas multas aos infractores (67). Ao mesmo tempo, desde 1496 proibira-se a saída deste cereal, até mesmo para o fornecimento de naus que escalavam a ilha pois, segundo se dizia, estas deveriam vir devidamente providas de Lisboa (68). Idêntica situação encontra-se definida no arquipélago canário nas ilhas da Gran Canaria, La Gomera, onde estava regulamentada a proibição de saída, e medidas de apoio aos circuitos e rotas abastecedoras com origem em Lanzarote, Tenerife ou Fuerteventura (69). (61) lbidem, n.o 317, p. 15\, 18 de Junho de 1522. (62) Leopoldo de La Rosa,
ob. cit., n.o 101-4, p. 261 (n.o 1-3); 264 (n.o 18); E. Gonzalez Yanes, oh. cit..
p. 88. (63) E. Gonza1ez Yanes, ibidem, p. 87; e o nosso estudo supracitado. (64) A.R.M., C.M.F., n.o 1297, fls. 17 v.0-8, vereação de 4 de Março de 1481; idem lhidem, fls.
23-23 v.o, vereação de 8 de Junho de 1481; idem, lbidem, fls. 27-27 v.o, vereação de 4 de Agosto de 1481; idem, ibidem. fls. 49 v.o, vereação de 21 de Janeiro de 1486; idem, lbidem, fi. 62, vereação de 11 de Fevereiro de 1486; idem, lhidem, fi. 78, vereação de 20 de Março de 1486; idem, /hidem. fi. 130, vereação de 14 de Maio de 1486; idem, ibidem, fls. 138-141, vereação de 5 de Julho de 1486; idem, ib idem, n.o 1301, fi. 48 v.o, vereação de 10 de Agosto de 1496. A referida despesa era assegurada por 2/3 da renda da imposição do vinho, /bidem, fi. 141, carta de 5 de Dezembro de 1581. (65) A.R.M., C.M.F., n.o 1302, fi. 23, vereação de 31 de Agosto de 1496; idem, ibidem, fi. 27, vereação de 7 de Setembro de 1496; idem, ibidem, f1s. 111-2, vereação de 21 de Fevereiro de 1497. (66) Veja-se o nosso estudo "O comércio de cereais ... », já citado. (67) A.R.M., C.M.F .. n. o 1298, fi. 38 v.o, vereação de 28 de Dezembro de 1485; idem, ibidem, n.o 1301, fi. 48 v.o, vereação de 17 de Outubro de 1495; idem, ibidem 1308, fi. 8, vereação de (7) de Janeiro de 1547; idem, ibidem, n.o 1309, f1s. 26 v.o, vereação de 13 de Abril de 1550. (68) Idem, ibidem, n.o 1302, fls. 46-46 v.o, vereação de 26 de Setembro de 1496; idem, ibidem, n.o 1313, fls. 43 v.o, vereação de 20 de Setembro de 1597; idem, ibidem. n.o 1313, fIs. 47 v.0-48, vereação de 8 de Outubro de 1597. (69) Eduardo Aznar Vallejo, oh. cit., pp. 51, 251-2, 313.
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A ilha de Gran Canaria tinha em Tenerife o celeiro de abastecimento anual, mas tal como sucedia na Madeira em relação aos Açores, esse provimento despoletou vários litígios entre as duas ilhas no período de 1531-1603, devido à segunda se negar a esse fomecimento(o); pelo que respeita a La Gomera, o trato foi assegurado por cédula de 1521 (71). Se é certo que as medidas atrás enunciadas atestam o interesse do concelho em assegurar o normal funcionamento dos circuitos de abastecimento de modo a evitar-se qualquer situação de penúria ou de fome, também é verdade que as mesmas documentam, de modo evidente, a premência da crise, resultante do esgotamento do solo e, acima de tudo, do aumento da população insular. Assim, ao nível das áreas produtoras, as medidas regulamentadoras do comércio do cereal surgem com maior acuidade, apontando para uma nítida tendência da sua proibição. Tal como sucede nos Açores, desde a década de 30 do século XVII e, em Tenerife, a partir de 1564-65, evidenciando-se nesta última a partir de princípios do século XVII. Deste modo se as crises de 1502, 1506, 1521 e 1546 surgem como fenómenos isolados, articulando-se com as más colheitas, ocasionadas por factores sazonais, o mesmo já não se poderá dizer em 1574, 1604, 1616, 1625, em que se nota uma marca evidente da crise estrutural, cujo agravamento se salienta de modo periódico em ciclos decenais (2). Esta situação da economia cerealífera das Canárias repercutir-se-á de modo evidente no mercado madeirense, que tinha nesse arquipélago uma fonte importante de abastecimento, em 1589 e 1596(3).
(0) Leopoldo de la Rosa, ob. cit., Revista de História, n. o 113-4; p. 84 (n. o 41) 85 (n. o 72); lbidem, n. o 101-104, p. 251 (n.o 12), 253 (n.o 3); lbidem, n.O 115-6 (1958), p. III (n. o 108). (71) lbidem, n. o 101-4, p. 246 (n.o 5). (72) Veja-se nosso estudo, ,,0 comércio de cereais ... já citado; P. Chaunu ob. cit., pp. 371-373. (3) A.R.M., C.M.F., n.O 1311,!l. 142 v.o, vereação de 20 de Fevereiro de 1596, idem, ibidem, n. o 1311, f1s. 16-17 v. o , vereação de 4 de Fevereiro de 1589. >l,
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1.2 Técnicas A NAVEGAÇÃO
A navegação no mundo insular deriva não só de factores implicítos ao próprio meio geográfico, mas de igual modo da premência de vectores e solicitações externas, resultantes do posicionamento desta área no mercado colonial e do estádio de desenvolvimento dos meios e téenicas de navegação. Os acidentes mesológicos serão perfeitamente ultrapassáveis mediante o avanço da tecnologia naval. Sendo esta vasta área insular dominada pelo oceano Atlântico, seria inevitável que a vivência ribeirinha incidisse fortemente no ilhéu e, ao mesmo tempo se verificasse um domínio das vias de comunicação marítimas, inclusive contactos internos. O mar será assim o elo de ligação e separação. O ilhéu viverá sob o fascínio desta enorme massa de água.
Vias de comunicação e meios de transporte As vias de comunicação e os meios de transporte são factores determinantes do desenvolvimento sócio-economico de uma dada região; tais factores são, de certo modo, os aferidores do estádio da sua evolução. É, por outro lado, evidente a interconexão entre eles e as actividades económicas, pois o valor mercantil implica a existência de meios e circuitos adequados para o seu escoamento; além disso, a facilidade de contacto ou de transporte poderá condicionar de modo positivo o nível e desenvolvimento da economia de áreas determinadas. A este propósito é muito esclarecedora a análise comparativa que Gaspar Frutuoso faz das ilhas açorianas e das Canárias: «A ilha de Tenerife dizem que foi a quárta conquistada e é logo a segunda ilha depois de Gran Canária, principal de todas as outras, ainda que a Palma o seja nas armadas e navegações, como, entre estas ilhas dos Açores, a mais rica e principal é esta ilha de S. Miguel, pois ela rende só mais que todas as outras juntas, mas a ilha Terceira, além de s.er mais principal por ser a cabeça do bispado, o é também por a razão das escalas, armadas e navegações que ali vão ter em diversos tempos» Para o mundo insular o mar é o elo de ligacão e meio de comunicação mais importante. No caso do Mediterrâneo Atlântico esta permissa toma-se mais clara em virtude da descontinuidade e heterogeneidade do solo e costa. Num parco espaço terreste disseminado por dezoito ilhas com um solo acidentado e uma costa alta e escarpada, não é difícil de compreender a dificuldade que aí se depararam nas comunicações internas e externas Elias Serra Rafols, a propósito desta realidade, enuncia de modo esclarecedor: "Para compreender esta vida insular, hay que tener siempre presente esto: que se trata de islas
e).
e).
e)
Saudades da Terra, L,0 I, Ponta Delgada, 1984, p. 91.
(2) Fernando Augusto da Silva (Pela His/oria da Madeira, Funchal, 1947, p. 83) conduz-nos a esta
realidade ao falar da sociedade madeirense nos seus primórdios: ,,- A torturante nostalgia dos mais antigos povoadores e as suas constantes preocupações no árduo trabalho das explorações agrícolas seriam bastantemente agravadas com a falta de notícias de tudo o que saudosamente tinham deixado nos limites do seu sempre tão lembrado rincão natal. Dizem as velhas crónicas que somente de ano a ano havia notícias pela queda de estio, porque então não se navegava no Inverno. E assim devera ser".
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( ... ) todo tiene que venir de fuera o ha de salir pera fora. El camino deI mar lo es todo, vida material espiritual, riqueza y saber; en eI tiene todo su origen y su fin» Sendo certa a importância primordial do Oceano Atlântico nas comunicações insulares e deste com o litoral afro-europeu-americano, não menos o serão em termos restritos das vias de comunicação terrestres, pois é por seu intermédio que se escoam os produtos para os mercados ou postos do litoral, a partir dos quais entram nos circuitos comerciais locais e internacionais. Não obstante o interesse das autoridades municipais na abertura e preservação dos caminhos, nota-se em todo o mundo insular a insuficiência de vias de comunicação terreste e a ineficácia das referidas ordenações (4) A importância das comunicações por terra no espaço insular relaciona-se com a formação orográfica de cada ilha. Assim, enquanto na Madeira elas são relativizadas, em S. Miguel, Terceira, Tenerife e Gran Canaria apresentar-se-ão como fundamentais para a economia local. Na Madeira os meios e vias de comunicação terrestres apenas ganham importância a partir de finais do século XVIII, sendo assim relativa a actuação dos carreteiros, dos boieiros e, mesmo, de bestas de carga na vida local (5). Toda a economia madeirense é dominada pelo mar e define-se pela litoralidade da sua implantação sácio-geográfica. O mesmo não sucede nas ilhas de Gran Canaria e Tenerife, onde há a preocupação de traçar uma rede viária que ligue os canaviais aos engenhos e estes aos portos de cabotagem ou de exportação (6). Assim, deparamo-nos nestas ilhas com uma elevada valorização dos agentes de transporte, sendo numeroso o grupo de carreteiros, de almocreves, de cameleiros, bem como de bestas de carga C). Estas profissões e actividades mereceram uma regulamentação constante por parte dos cabildos (8). Pelas mesmas razões é elevado o número de reclamações dos carregadores da ilha de S. Miguel pela abertura e pela reparação de caminhos (9). Aliás estes eram um importante meio de contacto entre o principal porto de comércio com o exterior - Ponta Delgada - e as áreas produtoras' de pastel e trigo. Os contactos com a Ribeira Grande faziam-se por via terrestre e eram assíduos, havendo para o efeito um numeroso grupo de carreiras eo).
e).
e)
«Introducción», in Acuerdos dei cabildo de Tenerife, II, P. IV.
(4) Maria Luisa Fabrelas.. , "La producion de azúcar em Tenerife», Revista de Histâria. n. o
roo,
pp. 473-474; Eduardo Aznar Vallejo, La integraciân de las islas Canarias en la Corona de Castilha. p. 333-334; Luis Ribeiro "influência das Sesmarias no povoamento da Terceira.. , in Açoreana. IV, 1946-1949, p. 93, Urbano Mendonça Dias, A Vila, IV, 1927, pp. 54, 59-60 e 66-67; Iolanda Silva, "Resenha Histórica.. , in Transportes //lI Madeira, Funchal, 1983, pp. 25-46. (5) Nos testamentos da Misericórdia do Funchal e do Julgado de Resíduos e Capelas há inúmeras referências ao número de bestas de carga. (6) Maria Luísa Fabrellas, Ib/dem. 474-474; Guilhermo Camacho y Perez Galdós, ob. cit., 22-24; Eduardo Aznar ValIejo, ob. cit., 333-334. (') Nos protocolos de Gran Canaria e Tenerife, econtram-se inúmeras referências. Veja-se Maria [sidra Coelho Gomez, Margarita Rodriguez Gonzalez e Avelino Parrilla Lopes, Protocolos de Afonso Gutierrez (/522-1525), Santa Cruz de Tener/fe, 1980; Fernando Clavijo Hernandez, Protocolos de Hermán Guerra (1510-1511), Santa Cruz de Tenerife, 1980: Manuela M~rrero Rodriguez e Emma González Yanes, Protocolos dei esa/bano Hérman Guerra, La Laguna, 150S-1510, La Laguna, 1958, Protocolos de Afonso Gutierrez (/520-1521), Tenerife, 1979; Idem, Indices y extractos de los protocolos de Hérman Gonzalez y de Luis Fernandez Rasco, escrbiano de Las Palmas (1550-1552), Las Palmas, 1980; Manuels Marrero Rodriguez, Protocolo dei escribano luan Ruiz de Berlanga, La Laguna, 1507-150S, Tenerife, 1974. (8) Miguel Angel Ladero Quesada, ob. cito (9) Urbano de Mendonça Dias, A Vila, VI. 54, 58-60. eo) A Câmara da Ribeira Grande zelava pelos interesses económicos do município ao investir na definição e no regulamento deste circuito. Em 1599 a câmara concederá licença a 60 almocreves no transporte de farinha e trigo para Ponta Delgada (A.C.M.R.G.• L.0 4 de acârdãos, fI. 41, 13 de Novembro). A necessidade da reparação dos caminhos era exarada na vereação que ordenava e orientava o serviço, executado por todos os moradores. A.C.M.R.G., L.o I de acórdãos. fi. 25 v. 0 -26. 26 de Março de 1555; Ibidem. p. 38, 23 de Abril de 1555: Ibidem, fi. 80 v.o, 9 de Novembro de 1555; Idem, L.0 2 de acórdãos. fi. 17-18,6 de Junho de 1596; Idem, L.o 4 de acórdãos. fi. 31 v.o, 29 de Julho de 1599.
42
8 •
~01\O Ponos de exponaç;o
Portos de cabotagem
Rotas de cabotagem
Caminhos
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VIAS DE COMUNICAÇÃO E PORTOS NA MADEIRA. Século XVI
sa.\'\\.O
A insuficiência das comunicações terrestres evidencia a importância de actuação das vias marítimas materializadas numa teia complicada de rotas de cabotagem. A sua preferência é muitas vezes relativizada em face dos acidentes e adversidades da costa e do mar, pois os ventos e as correntes maritimas dificultam a sua utilização (11). A Madeira, devido aos condicionalismos de ordem geográfica e climática, apresentava reduzidas possibilidades para o desenvolvimento das vias e meios de comunicação terrestres e marítimas 2 ). Esta condição limitou as possibilidades de desenvolvimento económico, fazendo restringir essa actuação à faixa litoral sul entre Machico e a Calheta, espaço recheado de enseadas e calhetas para o necessário movimento de cabotagem. Assim surgem portos em Machico, Santa Cruz, Funchal, Ribeira Brava, Ponta de Sol e Calheta (13). O transporte da produção de açúcar da Calheta do ano de 1509 para o Funchal fez-se por barqueiros, em conjunto ou individualmente; executava-se ao longo de todo o ano, mas habitualmente no periodo da safra e de maior exportação, entre Março e Julho. Até 1508 todo o movimento de contactos com o exterior era feito a partir do Funchal. Daí que existisse um contínuo movimento de cabotagem, entre este porto e os restantes da ilha, para o escoamento do açúcare 4 ). A partir de então, ao ser permitida a carga e
e
Transporte do açúcar de Calheta para o Funchal BARQUEIRO
Agostinho Fernandes Gonçalo Rodrigues Afonso Luís Pero Lourenço João Gonçalves Joana Aires João de Amorim Pedro Martins Diogo Gonçalves Domingos Fernandes Pedro Farinha Gil Afonso Nuno Gonçalves Galego Batel de Ferreira Camtanhede Francisco Homem Manuel Franca Gil Piris Baroc as Francisco Fernandes
DATA
1509-V a XII 1509-V a XII 1509-VI a XII 1509-III a XII 1510-1-28 1509-VI a XII 1510-1-9 1509-III a Xl 1509-V a XI 1509-VI a XI 1509-IV a X 1509-IV a XI 1509-VIII a XI 1509-X-4 1509-V-25 1509-VI a IX 1509-VI-5-23 1509-VII a X 1509-V-14 1509-VII-26 1509-VIII-31 l509-XI-7 1509-VII-18
ARROBAS DE AÇÚCAR
507 7 145,5 1 399,5 5202,5 6518,5 7963,5 1 820 2092,5 J 962 719 854 16,5 6 234 145,5 129,5 8 12 13 100 6
Fonte: A.N.T.T., N.A., n.o 903'B (11) Cannen G. Galero Martin, Las comunicaciones maritimas interinsulares, Las Palmas, 1979, pp. 8-9. Veja-~e
supra, primeira parte. (12) Veja-se em Gaspar Frutuoso (Saudades da Terra. L.0 II, 1979, caps. XV-XVII) a descrição da costa da ilha da Madeira. O porto do Funchal era considerado, no século XVI, muito perigoso para a navegação; Valentim Fernandes em 1506 dizia a esse propósito: «em o Funchal nenhum navio não pode estar no tempo que começa de ventar até sudeeste por banda do sul. Por isso é mandado do capitão que quantos navios estejam abertos com suas velas e vergas altas para partir quando quer que aqueles ventos ventem" (Manuscrito de Valentim Fernandes. Lisboa, 1940, p. 110). Idêntica é a opinião de Giulio Landi em 1534 e de Hans Sloane em 1687. (António Aragão, A Madeira vista por estrangeiros,Funchal, 1981, pp. 83. 168). (13) A.R.M., C.M.F., Registo Geral, t. I, fIs. 272-272, Almeirim, 21 de Janeiro de 1511, carta régia sobre a carga pelos mercadores estrangeiros, pubI. in A.H.M. XVIII, 531-532. 4 o ) [bidem. fi. 260-261 v. ; [8 de Setembro de 1507] Regimento sobre a arrecadação dos quintos, pubI. in A.H.M., XVIII, 395-396; Idem, C.M.F., Foral da cidade (1515-1736), fIs. 25 v. o-26.
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Porto de Cabotagem
@ Porto de Exportação Rotas de Cabotagem ---- Caminhos
Vilil Franca
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VIAS DE COMUNICAÇÃO EM S. MIGUEL
descarga para a exportação do açúcar, contribuiu-se para a valorização dos portos das p~rtes do fundo em detrimento do Funchal s ). Esta situação manteve-se por pouco tempo, pOIS no ano imediato a medida foi revogadaet 6 ). O porto do Funchal surge no dealbar do século XVI como o principal entreposto madeirense do comércio atlântico 7 ). A zona ribeirinha do burgo funchalense, em redor da alfândega nova, era o principal pólo de animação. Aí convergiam mercadores, carreteiros, barqueiros, mareantes e curiosos. No calhau havia-se instalado em 1488 o cabrestante, cuja exploração foi concedida em regime de monopólio a João Fernando Mauzinho, com o foro anual de cem reais et s). Desde 1568 a sua exploração seria entregue a uma sociedade, passando em finais do século a ser explorado por diversos mareantes que aí construíram um número variado de cabrestantes. O município aforava não só a instalação do cabrestante, mas também as casas e os chãos necessários para a actividade desses mareantes e barqueiros. O foro de um cabrestante variava entre duzentos a trezentos reais, enquanto o de um chão ou casa se cifrava em trezentos reais.
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Cahrestantes do porto do Funchal(19) CABRESTANTES PROPRIETÁRIO
Miguel Fernandes António Lourenço Um Barqueiro (?) Afonso. do Vale Gonçalo Fernandes Vicente Fernandes Amador Fernandes Fernão Dinis Simão Fernandes João Leitão
1583
1585
N."
PREÇO
N."
PREÇO
I 2
300 500 200
I
2
300 500
I
200 200
1592
1587
N."
PREÇO
N.O
1595
PREÇO
N."
PREÇO
1597·1598
N."
PREÇO
250 200 200 300
250 I
2
300 500
250
250 I
2 I
500 300
2
300 500 300 300
O arquipélago açoriano, compartimentado por novas ilhas, define-se por diversas assimetrias, evidenciadas pelo relevo, pela estrutura e pelo clima, que conduziram a um desenvolvimento sócio-económico desarticulado e variado. A diversidade bem como a complementaridade da estrutura sócio-económica açoriana conduziram à definição de uma rede complicada de rotas de cabotagem nas ilhas e entre elas. Deste modo as comunicações marítimas serão de uma importância primordial na sua economiaeo). Aliás,
es) A.R.M., C.M.F.. Registo Geral, t. I, fI.
193 v. o, Sintra, 17 de Agosto de 1508, carta régia, publ. in
A .H.M.. XVIII, p. 541. 6 o ) Ibidem, fls. 201-201 v. , Lisboa, 15 de Janeiro de 1512, carta régia sobre a carga as naus; publ. in A.H.M., XVlll, p. 543.
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e7
) Gaspar Frutuoso (ob. cil .. p. 109), em finais do século XVI, referia a propósito: " ... há pela costa calhau miúdo e areia, o qual é o porto da cidade, onde ancoram naus e navios, que ali decarregam, tão povoado e crusado sempre deles, com tanto tráfego de carregações e descarregas, que parece outra Lisboa... eB) A.R.M., C.M.Foo n. o 1299, fls. 13 v. 0 -14, ver~ação de 31 de Julho de 1498. Veja-se Álvaro Manso de Sousa,«Os Cabrestantes .. , in D.A.H.Moo Supl. ,,0 JornaJ", n. O 5029, 17 de Abril de 1969 pp. 183-184 9 ) A.R.M., C.M.F., n. O 698-720, 866-868. " . (~O) Não o~stante, a costa açoriana não se apresentava muito propícia a essa navegação de cabotagem, pois era mUlto alta e dIspunha de poucas enseadas ou baías. Veja-se sobre isto a descrição,feita por Gaspar Frutuoso em as Saudades da Terra. L. 0 III, IV e VI, da costa açoriana. Cf. com Sarmento Rodrigues, Ancoradouros das ilhas dos Açores. Lisboa, 1970. Em 1589 Linschot dava conta dessa situação, anotando quanto ao porto de Angra: "Mas tem o inconveniente de não ter quaisquer portos de abrigo e sendo necessário que os navios, em caso de
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o próprio arrumar das culturas nas ilhas foi comandado por esta importante via de comu· nicaçãoe 1 ). O desenvolvimento das infraestruturas portuárias do arquipélago fez-se de acordo com a importância das ilhas na economia insular e atlântica. Por estas razões vemos desenvolver-se no século XVI dois portos importantes: Ponta Delgada e Angra, o primeiro para servir o comércio do pastel e dos cereais de S. Miguel e o segundo para o apoio à navegação atlântica. Além disso, em ambos existe uma clara intervenção nos circuitos de redistribuição e escoamento do mercado açoriano 2 ) Tal como na Madeira, no arquipélago das Canárias o movimento de cabotagam está dificultado pelas condições geo-climáticas da área 3 ); não obstante este meio era preferido ao terrestre, pois o transporte de produtos dentro das diversas ilhas fazia-se habitualmente por mar e4)~ por isso o cabildo de Gran Canaria e Tenerife apostavam mais na construção e reparo dos portos locais de cabotagem do que nos caminhos de penetração. Lobo Cabrera refere que o mundo do mar galvanizou os canários e que essa navegação marítima surgiu e se alicerçou nas pescarias, no comércio de cabotagem e de longa distância s ). O mesmo autor define ao nível das infraestruturas portuárias dois tipos de portos, de acordo com o seu vocacionamento: portos de destino e de despacho; aliás, adquiriram variadas designações, de acordo com a dominância de determinados sectores de actividade e das áreas geográficas com que se relacionavam. A existência desta variedade de portos nas Canárias não implica uma acção descentralizadora dos circuitos comerciais, pois tanto em Tenerife, como em Gran Canaria surge um porto que se afirma com entreposto ou área charneira, para onde convergem os rotas de cabotagem e donde divergem os circuitos dos principais produtos, como o açúcar e 6 cereais ). Assim em Gran Canaria o Puerto de Las Isletas e de la Luzyem Tenerife o Puerto de Santa Cruz e Garachicoe 7 ). Nos registos de fretamento do século XVI (1507-
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tempestade, se afastam da costa e se metam ao mar para evitarem o perigo, o que não se poder fazer na Terceira, e por causa disso os navios de frequência vão à ilha de S. Miguel .. (.. História da navegação do Holandes 1. H. Linschot .. , B.l.H.l.T.. I. 1943, 154-155). Gonzalo de Murga (Derrotem dei arquipélago de las Azore.\· o Terceras, Madrid, 1866) refere que .dos Azares son tierras de serrania muy alta, cuya configuración es varia e raral ... I las costas terminam en general por bananas ó fontones cortados a pique y de mucha elevación, a cuyo pié rara vez aparece playa de arena. Además todo el archipélago carece de puertos y fondeadores abrigados, lo mal prejudica mucho a su comercio. Para levasse generalmente es preciso aprovechar [os terreles ... Por sua parte Luis Bernardo d'Athayde (Reminiscências da vida antiga em S. Miguel. Ponta Delgada, 1921, 168-176) refere que o mar influencia a definição e vivência do ilhéu sendo .. para o açoriano, motivo de maior encanto e a mais deslumbrante das maravilhas .. (p. 171). 1 ) Em 1565 justificava-se o concerto do cais de Ponta Delgada "por ser hum dos principais portos das ilhas dos Açores e onde concorrem muitas armadas e navios asy de meus reinos como de fora deles .. (L. o de registos de alfandega de Ponta Delgada, 1568-1603, fi. 242 v. o, ciL por Maria Olímpia da Rocha Gil, O porto de Ponta Delgada e o comércio açoriano no século XVJl ( ... ), p. 77) (22) Veja-se Alberto Vieira, A questüo cerealífera fIOS Açores I ...1, 167-168; Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no século XVII. p. 252. 3 ) Pierra Chaunu (Séville et I'Atlalltique, t. VIII, vaI. I, p. 358) comenta a propósito: "Mais d'ile, de porl cn port, de cabotage est aussi malaise. Les Canaries - c'est le sont spuvent des archipels à la cohésion médiocre _ communiquement mieaux avec I'Espanhe ou les Indes, qu'elles communiquement entre el1es ... Veja-se Maria Luisa Fabrel1as, "Naves y marinas en los comienzos hispanicos de Tenerife», in Revista de História, n. o 105-108 (\954),38-39; Manuel Lobo Cabrera, "E\ mundo de! mar en Gran Canaria I ... 1», in A.E.A., n. o 26 (1982), 322-327; Alejandro Cioranescu, História de Santa Cruz, I (1977), 218-223; Carmen Calero Martin, ob. cil" pp. 7-10. (24) Fernando Clavijo Hemandez .. Los documentos de fretamentos/ .. .1», in C.H.C.A" vaI. I, 1980, p. 44. s ) ob. cit .. 322-327. 6 ) Ibidem; Pierre Chaunu ob. cil., t. VIII, vaI. [, p. 360, nota I. (27) lbidem; t. VIII, vaI. i, p. 361, nota 4 a 7; Maria Luisa Fabrellas, ob. cit" p. 38-39; Alejandro Cioranescu. oh. cit., I, p. 218-223. Este último refere que ..el puerto de Santa Cruz es la obra politica dei cabildo, en lucha mas bian en la colaboración con el1a.. (lbidem. p. 220),
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Graciosa
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Porto de exportação Rotas de Comércio inter-ilhas Rotas de cabotagem Porto de cabotagem
ROTAS E PORTOS DE COMÉRCIO NOS AÇORES
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Lisboa, Cádiz, Anvers, Génova, Funchal, Faial
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ROTAS E PORTOS DE COMÉRCIO NAS CANÀRIAS .j::>
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Portos Cabotagem
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Portos exportação Rotas exportação Rotas cabotagem
-1551), já publicados, esta situação surge com certa evidência: No global temos 64% com origem em Santa Cruz e 26% em Las Isletas, sendo apenas 10% dos restantes portos de Gran Canaria e Tenerife s). A partir dos principais portos processa-se todo o movimento comercial da ilha, pois os portos secundários apenas surgem como escalas intermédias para se proceder à carga; elas aparecem em 33 % dos fretamentos em causa, circunscrevendo-se aos portos de Taganana, Sardina, Agaete, Garachico, Abona, La Orotava e Taoro. Por vezes as embarcações de cereal ou de açúcar para exportação faziam o circuito de cabotagem para carregarem o produto, voltando depois aos portos de Las Isletas ou Santa Cruz donde seguiam o rumo definido. Em Tenerife, das quarenta e sete embarcações saídas de Santa Cruz, entre 1507 e 1520, seis fizeram esta escala nos portos de Taoro, Abona, Garachico e Taganana. Em Gran Canaria apenas se verifica a escala na rota nos portos de Agaete e La Orotava, mas sem o retomo ao ponto de partida. De um modo geral nesta ilha as referidas embarcações não fazem qualquer escala de carga, pois ao porto de Las Isletas vinham parar todos ou quase todos os quantitativos de açúcar de exportação. Nas restantes ilhas do arquipélago os portos existentes serviam apenas o movimento de cabotagem, fazendo escoar os seus produtos para os principais centros de comércio em Las Palmas e Santa Cruz. Apenas as ilhas de La Palma e Gomera contrariam esta tendência, mercê da sua actuação como portos de escala para as naus das rotas atlânticas 9 ).
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A construção naval Sendo o mar o meio de comunicação mais usual e importante da comunidade insular, teremos de admitir que a construção naval tenha aí adquirido grande relevo; ela surge não apenas com a finalidade de assegurar o fornecimento de embarcações de cabotagem, mas também para dar apoio à navegação atlântica, no reparo das embarcações fustigadas pelos acidentes ou pelas tempestades oceânicas. Os estaleiros de construção e reparação naval proliferavam nas principais ilhas do meio insular, sendo esta actividade transformadora regulamentada e apoiada pelas autoridades locais e centrais, que, por exemplo, asseguravam as licenças necessárias para o corte das madeiras e definiam as dimensões e capacidade das embarcações a construir. As madeiras da ilha da Madeira foram muito apreciadas no século XV na construção naval, no reino e na ilha eo). O seu uso imoderado nestas e noutras actividades conduziu à paulatina desarborização da ilha, pelo que as autoridades concelhias actuaram no sentido da defesa do parque florestal madeirense, restringindo o uso das madeiras a sectores essenciais da vida local 1 ). Deste modo proibiu-se a exportação de tabuado e limitou-se a construção naval à construção de caravelões a barcas ,'pera serviço e maneo das cousas e negocias da ylha ... » (32). Em 1515 especificava-se que a madeira apenas deveria satisfazer as necessidades da pesca e carreto, sendo interdita a sua venda para forae 3 ). Por esta razão em 1541
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CZB) Vejam-se quadros n. os 12 e 13. (29) P. Chaunu, oh. cit., VIII, voI. I, p. 364, nota 295; A. Cioranescu, Thomas Nichals / ... /, La Laguna,
1963, p. 118. Thomas Nichols, em 1583, referia a propósito que «Esta isla tiene uma ciudad propria lIamada Gomera, que tiene un puerto a obra muy para navios endonde muchas veces las armadas que von a las Indias toman refrescos para su viaje". eo) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 II, Ponta Delgada, 1968, p. 84; A. Sarmento, A Madeira e as praças de África. Funchal, 1932, pp. 39-41. 1 ) Fernando Augusto da Silva, «Madeiras", in Elucidaria Madeirense, II, 1949. pp. 323-324. (32) A.R.M .• C.M.F" Registo Geral. t. I, fls. 299 v. 0 -300. Lisboa, 4 de Maio de 15403, publ. in A.H.M" XVIII. 440-44 I. 3 ) lbidem, t. I, fls. 123-126, Almeirim, 5 de Março de 1515, «Regimento dei Rey nosso Senor açerqua de cortar madeyra e lenha e outras cousas". publ. in AR.M., XVIII, pp. 563-564.
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50
é incriminado André Lourenço, mestre de moinhos de açúcar em Santa Cruz, por ter construído uma embarcação de maiores dimensões do que as permitidas no regimento C4 ). OS estaleiros de reparação e construção naval da Madeira situar-se-iam no Funchal, principal porto da ilha e em Machico sede da capitania norte, onde as madeiras eram abundantes CS). Nos Açores promovera-se, desde o início da sua ocupação, a construção naval C6 ). Esta actividade ganhou importância nos séculos XV e XVI, nomeadamente nas ilhas de S. Miguel e TerceiraC 7 ). Gaspar Frutuoso na sua crónica das ilhas refere-nos a existência de vários estaleiros de construção naval em S. Miguel: Fenais da Luz, Porto Formoso, Lagoa, Porto dos Bateis, Ponta Delgada e PovoaçãoC s). Para a Terceira alude apenas aos estaleiros de Porto de Pipas e Prainha, dizendo que na cidade de Angra eram cinquenta os carpinteiros de ribeira C9 ). Este numeroso grupo de estaleiros, apenas nas duas ilhas, atesta a importância que esta actividade assumiu nos Açores no século XVI. No entanto as dificuldades no fornecimento de madeiras conduziram à sua delimitação em 1594, altura em que se restringiu a sua construção apenas a embarcações até 40 toneladas e, ao mesmo tempo, se interditava a sua venda para fora (40). Nas Canárias a construção naval teve idêntico relevo nas actividades transformadoras (41). A riqueza de madeiras e as necessidades da navegação de cabotagem e das rotas atlânticas fortaleceram esta arte. Mas num segundo momento as dificuldades no abastecimento de madeiras e pez, em consonância com os problemas de desarborização, conduziram à sua limitação. Os cabildos de Tenerife e Gran Canaria passam a controlar o corte de madeiras mediante a passagem de licenças (42). As limitações impostas à construção naval nesta ilhas conduziram à aquisição de embarcações nos estaleiros navais da Península. Assim, no caso das Canárias, mais propriamente em Tenerife, há notícia da compra de vinte e sete embarcações, na sua maioria ~ ·Põrtugal. O preço destas variava de acordo com o tipo, a tonelagem e a capacidade da embarcação (43).
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4)
Carta de perdão de D. João III de 27 de Junho referenciada por A. Sarmento, ibidem, p. 41.
(35) Gaspar Frutuoso (ob. cit .. p. 204) refere-nos a construção. em finais do século XVI, de uma galé com
17 remos por bordo, em Machico. por ordem de Tristão Vaz de Veiga para uso na defesa da costa. 6 ) O almoxarífado dos Açores de 2 de Julho de 1437 dizia: «Quem nessa ilha fizer algum navio ou navios a mim me praz de lhe quitar a dízima do taboado, e madeira que por eles fizeram. e isto enquanto a mim aprouver .. (F. F. Drummond. Anuis da ilha Terceira, .1. pp. 167-168). Veja-se Luis Bernardo Leite d' Athayde, Notas sobre lIrte. 1915, pp. 176-178); Francisco Carreiro da Costa, «Antigos estaleiros navais dos Açores .. , in A Ilha. n. O 1600,6 de Outubro de 1962; Miguel de Figueiredo Corte Real, A constl'llçcio naval da /lha de S. Miguel nomeadamente /Ia Ribeil'll da Povoaçüo fIOS séculos XVI e XVIl. Ponta Delgada, 1982, pp. 7-19; José Augusto do Amaral Frazão de Vasconcelos. Leandro Raiz. CO/lstrutor naval micaelense dos séculos XVI e XVIl. Lisboa. 1962. (37) Luis Bernardo Leite d'Atahyde, ibidem; Idem, Reminiscencias da vida antiga em S. Miguel, Ponta Delgada, 1929. pp. 61-79; Luis da Silva Ribeiro, «Formação histórica do povo dos Açores .. , in Obras de História, Angra do Heroísmo, 1983, p. 75. B) Saudades da Terra, L.0 IV, caps. XXXI. XXXIX, XLIV, XLVII, LXXVII. 9 ) Ibidem, L.0 VI, (1963), pp. 23-24; Urbano de Mendonça Dias. História dos Açores. p. 172. (40) 1..03 da alfandega de Ponta Delgada, fls. 9 v.o-IO. 28 de Abril de 1594, publ. por Luis Bernardo Leite d'Athayde, Notas sohre arte, pp. 178-179. (41) P. Chaunu, Ibidem. VIII, vaI. i, 367-369 e 355; E. Aznar Vallejo, ob. cit .. 331-332; Manuel Lobo Cabrera, El mundo dei mar en Gran Cana ria / ... /, 318-322; A. Cioranescu, oh. dt .. l, 244-245. (42) Em I de Julho de 1623 o juiz Gallinato solicitou licença ao cabildo para o corte de madeIra de pinho e pau branco a fim de mandar construir uma caravela e um barco de pesca (Acuerdos dei cabi!do de Tenerije, IV, n. O 399. p. 210). (43) Manuel Lobo Cabrera, ob. cil., pp. 310-313.
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51
lPreç" das emba.caçães século XVI LOCALIDADE
Tenerife
Funchal Tenerife
DATA
1507 1509 1510
1518 1519 1520 1526 1529 1553 1546 1553 1554 1555 1556
..
1592 1596
TIPO DE EMBARCAÇÃO
Caravela Caravelão Caravela chalupa 1/2 caravela navio navio caravela 1/2 caravela latina de 60 tonel. navio redondo de 60 toneladas batel navio português 1/2 caravela 1/2 navio português nau caravela de 30 toneladas 1/2 navio de 70 toneladas 1/2 caravela de 35 toneladas 2/3 navio com aparelhos 2/3 caravelão navio de 55 toneladas caravela navio de 35 toneladas naveta caravela caravela latina de 60 toneladas caravela de 55 toneladas navio de 40 toneladas navio de 40 toneladas barco de 75 toneladas
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PREÇO
46 ducados 22,5 ducados 240 fanegas de trigo 300 fanegas de trigo 110 ducados 190 ducados 40 ducados 80 ducados 60 ducados de ouro 520 dobras 277 ducados 145 dobras 90 dobras 80 ducados 3500 ducados 180 ducados 200 dobras 150 ducados 115 dobras de ouro 60 ducados 550 ducados 450 300 140 400 800 350 1100 1100 3500
frete
o contrato de frete, lavrado junto do notário sob a forma de carta de fretamento ou conhecimento, definia as fonnalidades do contrato, a capacidade e o volume da mercadoria a carregar, os portos de destino e de escala, o tempo de demora e a forma e o local de pagamento, O seu preço era estabelecido de duas fonnas: no global ou de acordo com a tonelada, pipa, caixa ou carga. Variava de acordo com uma diversidade de factores: finalidade e destino da viagem, tonelagem da embarcação e a carga a transportar (44); juntavam-se-Ihes variações sazonais e anuais (45). O pagamento fazia-se à altura do embarque na moeda da terra, ou no porto de destino. Nas Canárias os contratos de frete, com o objectivo de resgate e comércio na costa ocidental africana adquiriram outra forma. Assim, a embarcação era fretada na totalidade por períodos de um mês, ficando o fretador sujeito ao pagamento das averias, da soldada e (44) Fernando Clavijo Hernandez, .Los documentos de fletamentos / ... /. IV C.H.C.A" 1,45-46 e 51; Idem. Protocolos dei esaibano Hermán Guerra, Tenerife, 1980, pp. 21-23 Manuel Lobo Cabrera, EI mundo dei mar en Ta Gran Canaria / .. ./, 307, 310: Idem, Protocolos de Alansa Glltiérrez, Tenerife, 1979. p. 37: Maria Olímpia da Rocha Gil, .. Açores. Comércio e Comunicações nos séculos XVI e XVIf". in Arquipélago, série Ciências Humanas, IV. ([983) 349-415. (45) O preço de frete variava consoante a estação do ano e com o decorrer dos anos. No percurso de Santa Cruz de Tenerige e Cádiz o (rete custava. em 1509. 300 maravedis por tonelada, passando em [522 para o dobro (F. Clavijo Hernández. ibidem. 45-46).
52
do mantimento da tripulação. O frete variava entre os cinco mil setecentos e sessenta e os trinta e cinco mil trezentos e setenta maravedis. Ao nível do movimento de cabotagem o custo do transporte dos produtos variava de acordo com a distância, a mercadoria e o período do ano em que se assentava. Na Madeira, em 1503, o frete de um batel para ir aos lugares de baixo (Calheta-Ponta de Sol-Ribeira Brava) orçava os trezentos e cinquenta reais, passando em 1516 para quatrocentos reais (46). E em 1505 o transporte de passageiros entre a Ribeira Brava ou Calheta orçava os cento e cinquenta reais cada (47). O aumento significativo do seu custo só se fazia sentir nas ligaçóes com a costa norte, mercê da demora e das dificuldades do percurso. Em 1517, por exemplo, o transporte de um mastro de barbusano ao Funchal ficou por dois mil e quinhentos reais (48). Toma-se possível em 1591 a comparação do tarifário dos serviços de cabotagem na Madeira e nos Açores, mercê do registo de despesa da visita do inquisidor do Santo Ofício às Ilhas: Preço do transpllrte do inquisidor cm 1591 ITINERÁRIO
PREÇO
Funchal - Machico Machico - Santa Cruz Calheta - Câmara de Lobos Santa Cruz - Funchal Funchal - Calheta Calheta - Porta de Sol Ponta de Sol - Ribeira Brava Funchal - do Calhau ao Navio Funchal - Ribeira Grande Ponta Delgada - Vila Franca S. Miguel - Terceira Terceira - Lisboa
800 reais 360 reais 1000 rs 600 rs 1570 rs 1000 rs 500 rs 300 rs 70000 rs 600 rs 25 680 rs 70000 rs
Fonte: A.N.T.T., Inquisição de Lisboa. 146-6-287. fis. 63-74 v.O
Saliente-se que os trezentos reais que em 1505 davam para uma viagem do Funchal à Calheta, em 1591 apenas dão para despesas de transbordo no calhau do porto do Funchal. Esse percurso ficará então por cinco vezes mais (49). Nas Canárias há, igualmente, conhecimento do custo do frete no comércio de cabotagem entre as diversas ilhas do arquipélago, nos anos de 1509 e 1523: Preço do frete nas Canáll"ills DATA
PERCURSO
15D9-XI-16 1511-IX-4 1517-1II-14 1521-VII-2 1523-V-3D
Santa Cruz - Isletas Santa Cruz - Gomera Agando - La Palma Santa Cruz-Tangana-Telde Santa Cruz - Lanzarote
1523-Vi-30 1523-XII-26
Jerez - Gran Canaria Isletas-Orotava-Gáldar
FRETE
1 1/2 real/caixa 6000 mrs 10 250 mrs 500 mrs/pau I 1/2 real fanega 35 mrsl quintal 47 dobras ouro 24 dobras ouro
MERCADORIA
1000 caÍltas 500 fs de trigo 2 barcas pedra e cal 200 xaprõcs madeira 300 fs de trigo e 300 t. biscoito 47 bolas de vinho madeiras
Fonte: F. Calavijo Hemandez, "Los documentos de fietamentos ..... , 56-75. (46) A.N.T.T.• C.C .. 1I-7-16. 18 de Janeiro de 1503, mandado do contador da fazenda para o recebedor so almoxarifado da alfândega; Idem, Ibidem, 1I-66-66, 30 de Setembro de 1516. mandado do provedor de fazenda. (47) Idem. N.A, n.o 903 B, fis. 13-16. (48) Idem. C.C.. 1I-69-144, mandado de 12 de Maio de 1517. (49) lbidem. II-69-71, 25 de Abril de 1517.
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As relações entre os três arquipélagos eram assíduas, mercê dos contactos estabelecidos para o transporte de produtos e passageiros. Entre as Canárias e a Madeira mantem-se uma rota de fornecimento de pez e trigo. Os custos de transporte de pez variavam entre quinhentos e setecentos maravedis a tonelada e do trigo entre trinta e três e quarenta e cinco maravedis o quintal. No global o frete do navio oscilava entre os doze mil e os dezassete mil e quinhentos maravedis. Note-se que em 1511 se mantinha o mesmo preço por tonelada de cevada a exportar para o Funchal e Faial. O trigo açoriano com destinolJo Funchal era onerado entre mil e mil e seiscentos e cinquenta reais por tonelada. Preço do freie na Madeira ROTA
DATA
Cruz Cruz Cruz Cruz Cruz Cruz
(Tenerife) (Tenerife) (Tenerife) (Tenerife) (Tenerife) (Tenerife)
FRETE
1509-XI-15 151O-II-26 1511-VI-7 1511-VII-7 1520-VII-31 I523-I1I-2 1
Santa Sanla Santa Santa Santa Sanla
-
1524-VIII-16 1552- VI-20 1552- VI-21 1552-VII-II 1591
Angra- Funchal Angra-Funchal Angra-Funchal Angra-Funchal Funchal-Ribeira Grande
Funchal Funchal Faial Funchal Funchal Funchal
12000 mrs 33 mrs/fs., ql. 500 mrs/tonelada 500 mrs/tone1ada 271/2 ducados
700 mrs fanegas e 45 ao quintal 700 mrs tonelada I 000 reais I 450 reais 1 650 reais 70000 rs.
MERCADORIA
Pez 300 qts pez e 40 gts de trigo 200 fs. trigo e 100 de cevada 1000 fs. cevada trigo e passageiros 130 fs trigo e 400 fs. dc pez 600 fs. de trigo trigo trigo trigo Inquisidor
Fonte: F. CaIavijo Hernandez, Ibidem; Maria Olimpia da Rocha Gil, ibidem. A.N.T.T., Inqtlisiçtio de Lisboa. ms 146-6-287.
Nos contactos com o exterior o preço do frete variava de acordo com o porto do destino e o número de escalas intermédias. Assim, da Madeira e dos Açores ao reino o frete custava em 1591 setenta mil reais. Das Canárias para o mesmo destino ele poderia oscilar, em 1520-1521, entre os quatrocentos e sessenta maravedis por tonelada para Lisboa e Setúbal e os quinhentos para Aveiro (50). De Tenerife para Castela, em 1510-1511, o frete variava entre os seiscentos e cinquenta maravedis para Galiza e os quinhentos e cinquenta e quatro para Cádiz (51). O açúcar transportado desde Las Isletas até Cádiz era contabilizado a quatro reais de prata em 1511,e seis e meio em 1572, à caixa. Para Génova ficava em um ducado de ouro a caixa (em 1519), chegando a atingirem 1531 a quantia de quinze reais de prata. Para Anvers o seu preço cifrava-se, em 1533-1534, em cinco ducados ouro.
Meios de pagamento A:J moeda e os usuais meios de pagamento são um factor importante e activador do movimento de troca. Aliás o progresso da actividade comercial depende, em última instância, de situação monetária e das condições de crédito(52). No caso concreto das ilhas
(50) Manuel Lobo, Protocolo de Alonso Gutiérrez. p. 37. (51) F. C1avijo Hernández, Protocolo dei escriba/Jo Herman Guerra. p. 21-23. (52) CF. Kristof. Glamann. "El comercio europeo (1500-1750)" in Historia Eco/lomica da Europa (2) .I'iglos
XVI Y Vil. Barcelona, 1981, 397-409: Frédéric Mauro, ob .. cit .. pp. 395-432: Eduardo Aznar Vallejo, oIJ. cit .. 334-337; Miguel Angel Ladero, Espaiia em 1492. Madrid, 1979,215; Enrique Olte, "Canarias: plaza bancaria europea 1 .. .1, in IV C.H.C.A., I, 159-165; A. Cioranescu. 'História de Sallla Cruz, 1,273-277; José Gentil da Silva, .. As ilhas dos Açores e os metais preciosos e a s\jculação monetária I . .. I" in Os Açores e o Atlântico (séculos XIV-XVI/), Angra do Heroísmo. 1984, p. 596-61j.,
54
atlânticas, onde se afirmará uma ec'onomia colonial, o instrumento de troca tem uma acção primordial na estrutura económica insular. A moeda e seus substitutos são necessários para a compra de manufacturas de importação e aquisição dos bens essenciais de que a sociedade insular carece, pois os produtos dominantes não perfazem nem contrabalançam essa entrada, A situação monetária das ilhas não se apresentava diferente. pois que em todas é dominante a falta do metal amoedável e da sua circulação. Esta é. assim, a característica dominante da sociedade insular, que condiciona de modo vincado as operações financeiras e contribui para o entorpecimento das relações de troca, Esta falta crónica de moeda tornou necessária a criação de novas formas de pagamento e condicionou o aparecimento de novos instrumentos de troca, Assim, ter-se-ia generalizado nestas ilhas o pagamento em géneros, a troca produto a produto e, em circuitos mais amplos, o crédito, a letra de câmbio e o trespasse de dívidas, Como medida padrão do sistema de troca produto a produto vigora em cada área e em cada época o produto ou produtos dominantes e mais importantes em termos sócio-económicos, Este câmbio-vertical da moeda apresentava-se muito prejudicial aos insulares, uma vez que os mercadores nacionais e estrangeiros. que detinham o controle dos circuitos de importação, apresentavam os seus produtos a um preço mais favorável em relação aos produtos de troca locais: pastel, trigo e açúcar. A dominância desta tendência monocultural e a dependência dela decorrente em relação ao mercado externo contribuiram para o reforço da posição estrangeira, o aumento especulativo dos produtos eá'as suas transacções, e o agravar da situação financeira. A moeda corrente nas ilhas era a mesma do mercado hispânico continentaL As coroas de Portugal e Castela mantiveram sempre como privilégio seu a cunhagem da moeda (53). Esta situação não invalida a existência de cunhagens especiais com destino às ilhas, bem como a circulação uniforme de moeda portuguesa e castelhana nos três ar~uipélagos. A , primeira situação surge apenas nas Canárias em 1511 e 1513 com a cunhagem da moeda em Sevilha(54); a segunda aparece desde os primórdios destas sociedades como resultado das interconexões sócio-políticas e económicas dos três arquipélagos. A moeda de prata castelhana, porque se apresentava como a moeda forte, alastrará a todo o mundo atlântico, dominando todas as relações de troca; circulou com abundância no mercado madeirense desde princípios do século XVI (55). As autoridades locais tendo em atenção essa situação regulamentaram desde meados do século o seu valor corrente. que passaria a ser de trinta e seis reais (56). Nas Canárias, ao invés, circulavam os ceutis portugueses, que invadiam o mercado financeiro canário em face da valorização da moeda de ouro e prata espanhola (57); as transacções do mercado interno implicavam a existência de uma moeda fraca e o ceutil português era a mais indicada. . As questões e soluções adequadas para o sistema financeiro insular não er~ um~or mes; pelo contrário, entre as ilhas portuguesas e espanholas apresentavam-se aSSlmetnas. Assim, enquanto nas Canárias se procedia à valorização da moeda (1500-1509, 1521), como forma de assegurar a estabilidade do mercado financeiro, na Madeira e nos Açores,
(53) O donatário das ilhas portuguesas não tinha o direito de cunhar moeda, pois D. Duarte, na doação de 26 de Setembro de 1433, o reservara para a coroa. Fernando Augusto de Silva «Moeda» in Elucidaria Madeirense. /I (1945), 377; Bernardino José de Sena Freitas, "Memória Histórica sobre a moeda nos Açores.. , in Arquivo dos Açores. IX (1887),292-413. A moeda castelhana vinha de Sevilha; veja-se Eduardo Aznar, Docllmentos Cwwrios / ... / n.o 962, p. 193, Valaladolid, la de Maio de 1513. (54) Eduardo Aznar Vallejo, La integración de las islas CCl/laris en la corolla de Caslillw f . ,./. 334. (55) José Madurell Marimón, «Los Seguros maritimos y el comercio en las islas de la Madera y eanarias.. , in A.E.A .. n.o 5, 507-509, II de Abril de t500, seguro marítimo para transporte de moeda de Andaluzia à Madeira a troco de açúcar. (56) A.R.M., C.M.F.. n. O 1309, fls. 85 v.0-86 v.o, 30 de Dezembro de 1500. (57) Eduardo Aznar Vallejo, ibidem, 335; A. Cioranescu, Ibidem. I, 275.
55
mercê de política financeira portuguesa, actuava-se no sentido inverso, com consecutivas desvalorizações (58). A incidência da questão financeira no mercado insular foi igualmente preocupação dos municípios, que intervinham no sentido de assegurar a estabilidade do mercado monetário local, procurando colmatar os problemas derivados da urgente falta de moeda. Em Tenerife, desde finais do século XV, o respectivo cabildo, definiu a sua política financeira, que assentava nas seguintes directrizes: (li
MERCADOR
Açúcar mercadoria de tlroca na Madeira 1508-1509
DATA
João Francisco Affaitati
1508 1509
Claaes
1509-1510
Tristão da Cunha
1507 1506 1508 1509 1509
Rui Freire Marchionni
1508 1508-1509
·Álvaro Pimentel
Lucas Rem
1508 1509 1510 1508
Hutra Deli Rio
1505
-
-
AÇÚCAR/DINHEIRO
MERCADORIA
454 quintais, 2 arrobas e 6 arrateis de pimenta 454 quintais, 2 arrobas e 6 arrateis 1 I 470 arrobas e 19 arrateis de pimenta dívidas diversas 8 282 arrobas e 27,5 arrateis 10 000 arrobas 198 quintais, 17 arrobas e 4 arrateis de pimenta 659 524,5 reais de açúcar mercadoria 273 908 reais de açúcar mercadoria mercadoria de latão e cobre 979 818 reais de açúcar mercadoria de latão e cobre 988 arrobas e II arrateis 240 quintais, 3 arrobas, 19 arrateis 6000 arrobas e 3 onças de pimenta 47 340 reais de pimenta 143 arrobas e 14 arrateis 2 636 quintais, 2 arrobas, 6 arra40 000 arrobas teis e 2 onças de pimenta 12 000 arrobas trato de tenças e casamentos 12 000 arrobas trato de tenças e casamentos 7 936,5 arrobas trato de tenças e casamentos 12000 arrobas e a dízima de saída476 quintais, 2 arrobas, 6 arrateis e 2 onças de pimenta 199 moios de trigo I 326 arrobas e 22 arrateis II 470 arrobas e 19 arrateis
aumento da produção da riqueza local por meio do incentivo à produção com valor mercantil, incentivo à fixação de artesãos como forma de contrabalançar o movimento de troca com o exterior, considerado a principal causa de sangria monetária, dinamização e institucionalização do sistema de trocas por produtos (cereais, açúcar) de acordo com um tabelamento de preços pré-estabelecidos nas posturas e acórdãos, obrigatoriedade dos mercadores efectuarem os seus pagamentos em moeda e de arrecadarem as dívidas locais em produtos, de acordo com o preço estabelecido, proibição de saída da moeda (59).
Em finais do século XV e princípios do século XVI o cabildo ordena que os cereais e o gado sejam considerados como moeda de troca, tendo os mercadores de os aceitar a troco (58) Eduardo Aznar Vallejo,La integración de las islas Canarias en la corona de Castil/a, 335-336: Maria José Ferro Tavares, "A moeda de D, João II aos Filipes (1481-1640)" in História de Portllga/. IV. 1984.273-290. Na Madeira em 1568, segundo ordenação régia, o real sofreu uma quebra de 70%: veja-se A.R.M., C.M.F., RegislC) Geral, 1. fl5. 133 v.o-134 V.O (59) Eduardo Aznar Vallejo. [b/dem. pp. 52, 315 e 33-337: A. Cioranescu, [bidem, I. 273-277: Enrique Otte, /h idem, 159-160; Elias Serra Rafais "Introduccion" in Acuerdos dei Cabildo de Tenerife, II, pp. XV-XVI.
m.
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dos seus produtos (60). A valorização soclo-económica do açúcar obrigou .a uma nova reformulação do sistema de trocas, passando este produto a actuar como medida, a partir de 1508 (61). Nesse sentido poderá considerar-se que os cereais e o açúcar se mantiveram por todo o século XVI como os principais produtos e instrumentos de troca(62). Na Madeira e nos Açores a situação financeira é idêntica e, de igual modo, os produtos dominantes terão uma acção fundamental na organização do sistema de troca. Os cereais, o pastel, o açúcar e o vinho surgirão em cada época como moeda de troca (63). Na Madeira, a dominância de cultura da canasacarina até a primeira metade do século XVI, fará com que o açúcar seja utilizado como meio de pagamento no mercado local e internacional; o açúcar era usado não só no pagamento de soldadas e dos serviços de lavra e safra açucareira, mas também para pagar o trigo e cevada importados dos Açores. A coroa, por vezes, servia-se dos seus réditos para fazer os pagamentos, em pimenta da casa da Índia, das despesas da coroa e das comendas (64). O lavrador e o proprietário do engenho serviam-se usualmente do produto da sua safra para o pagamento da mão de obra assalariada de que necessitavam. Entre 1509 e 1537 há Pagamentos em açúcar na Madeira, 1509·1537 AÇÚCAR ASSALARIADOS
NÚMERO ARROBAS
Albardeiro Alfaiate Almocreve Barbeiro Botidrio Caixeiro Caldeireiro Canavieiro Feitor Ferreiro Mestre Moleiro Ortelão Pedreiro Pescador Purgador Refinador Sapateiro Tacheiro Tanoeiro Trabalhador
2
6 7 [
10 4,5 32,5 4
MÉDIA
13 0,75 4,64 4
6
6 3,5
I
3,5 4 6 2 93,5 8 3 1 9,5 2
2
11,5
1 1
2 2 1 7 1 1 1 3
1
[
6
105,5 4 8 54,5
1 2 15
2 3
2 13 8 3 I 3 6 5,75 I
17,5 4 4 3,6
Fonte: A. N. T. Too Ntícleo Antigo. Livros do quarto e quinto do açúear da Madeira. 1509-1537 (60) ACllerdos dei cabildo de Tellerife. t. I, n.o 49,52,62,74, 112, 189,325,462,464, de 15 de Maio de 1498 a 24 de Julho de 1503. (61) lbidem. n.o 685, 688, 713, 8 a 10 de Janeiro e I de Março de .1507. (62) O pagamento em espécie institucionalizou-se, sendo a prática eorrente e dominante em Tenerife e Gran Canaria. Segundo Gentil da Silva, entre 1509-1510, em Tenerife 32,5 % dos pagamentos foram feitos em moeda e 68,5 % em espécie, sendo, destes últimos, 59.6 % em açúcar, 6,9 % em cereais, 0.6% em gado. (José Gentil da Silva. "Échanges et troe; l'exemple des Canaries au début do XVI" siécle», Annaies, Economiques, So ciétés, CivilisatÍons . . n.o 5, 1691. 1003-1011. Clavijo Hernández (los documentos de jietamentos I ... 1, 33-41)., ao estudar as obrigações de pagamentos entre 1507-1511 e 1520-1523. conclui pela dominância destes produtos, com especial saliência para os cereais. (OJ) José Gentil da Silva, As ilhas dos Açores e os metais preciosos I .. .1. 602-603; Veja-se Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.o IV, II, 18-23. (64) Fernando Jasmins Pereira, O a~'lÍcar madeirense I ... 1, pp. 61-91.
57 8
referência a diversos pagamentos em açúcar por serviços prestados na lavoura e na laboração do engenho e, mesmo, na compra de qualquer manufactura ou prestação de serviço artesanal. Os pagamentos aos serviços da safra do açúcar atingem 31%, sendo 17% no cultivo e apanha da cana e o restante nos serviços, sendo dominados pelos sapateiros (28%) e ferreiros (25 %) . As obrigações do pagamento do trigo açoriano com açúcar surgem apenas entre 1509 e 1519. No global temos 43% em moeda e 57% em açúcar(65). Neste curto período de dez anos movimentaram-se 946,5 arrobas de açúcar em troca de 235,5 moias de trigo, o que dá em média quatro arrobas de açúcar por maio de trigo, avaliado em cerca de mil reais. Obrigações de pagamento do trigo dos Açores AÇÚCAR
DINHEIRO
ANOS
1509 151O 1511 1512 1513 1514 1519
NÚMERO
ARROBAS
I
42 618 e 8 288 e 24 24 e 30
22 22 13
NÚMERO
REAIS
35200 I 40 I
15000 1995459 65000
2
Esta característica da economia e das finanças das ilhas não era a mais conveniente para desenvolvimento do comércio externo do mercado insular; para além de entorpecer os circuitos de troca e de prejudicar os habitantes das ilhas e os estrangeiros, conduziu à paulatina subordinação da economia ao mercado europeu que aí surgia em condições vantajosas com as suas manufacturas. O ilhéu, não dispondo destas e perante a penúria da moeda, via-se obrigado a recorrer à venda antecipada e às hipotecas ou empréstimos. Desta forma os mercadores adquiriam as manufacturas a preços elevados e sujeitavam-se a entregar os cereais e o açúcar a preços inferiores. Perante tal exorbitância dos mercadores estrangeiros, os municípios actuaram no sentido de regularizar a situação, traçando normas de conduta mais convenientes. Primeiro estabeleceram o preço porque deviam ser vendidos os produtos, depois coibiram os mercadores de tais práticas fraudulentas (66). As dificuldades do sistema monetário não implicaram apenas os recurso à troca produto a produto, mas de igual modo a procura de outras formas de pagamento substitutivas da moeda, então em voga na Europa: a carta ou letra de câmbio e o trespasse de dívidas em dinheiro ou produtos (67). Segundo Enrique OUe, Las Palmas surge no século XVI como uma importante praça bancária, situando-se ao nível das de Medina dei Campo e Valência (68). Os genoveses detinham aí a maior parte do movimento de cédulas.
o
(65) A.N.T.T., C.C.. II, Maços 5, 21-29, 33, 36-8, 41-43, 46, 79, 185. (66) Acuerdos dei cabildo de Tenerije I, n. o 356, pp. 33-34, 25 de Maio de 1509; Ibidem, IV, n. o 396, p. 206, 15 de Junho de 1523: Fernando Jasmins Pereira, Alguns elementos paro o estudo da História económica da Madeira, pp. 149-151. (67) Eduardo Aznar Vallejo, Ibidem. 336-337; A. Guimerá Ravina, "La financiacion del comércio de Garachico con las Indias (1566-1612).. , in II C.H.C.A, I., 1977, pp. 266 e 274. (68) Enrique Olte, ob. cit., pp. 157-173.
58
Na Madeira, como nos Açores, a letra de câmbio teve igual importância nas transacções comerciais com o exterior. Este meio de pagamento activou o trato do açúcar, sendo usual nas trocas com o reino, nomeadamente Lisboa (69). A existência de uma importante comunidade de italianos e de flamengos, ligados ao comércio do açúcar com as principais praças europeias, contribuiupara a generalização desta fonna de pagamento. Os florentinos, experientes nas transacções financeiras, surgiram também com grande evidência, sendo particulannente importante a acção de Feducho Lamoroto e de Francisco Lape (0).
Companhias e Sociedades Comerciais A empresa comercial no atlântico, pelo investimento do capital que implicava, pelas dificuldades e longas viagens entre as principais praças, pelo risco constante a que sujeitava homens e haveres, não poderia ser uma iniciativa isolada dos interessados. Apenas com uma redistribuição equitativa de capital investido, perdas e lucros, se toma possível a manutenção desta rede de negócios. Assim, especializam-se as tarefas e surgem os tratantes, os transportistas, os seguradores e o societário. Ao mesmo tempo adaptaram-se a este movimento as estruturas que fundamentam o comércio mediterrâneo-europeu. Surgem, assim,as sociedades comerciais, os contratos de frete e o sistema de seguros, a dar cobertura a essa aspiração de segurança, estabilidade e expansão da burguesia comercial e marítima europeia (1). A sua divulgação e institucionalização ficaram a dever-se aos mercadores italianos e alemães que chegavam às ilhas atraídos pelo comércio do açúcar, do pastel e da urzela. Já instalados nas praças de Lisboa, Sevilha e Cádiz, alargavam a sua acção às principais cidades portuárias insulares: Funchal, Ponta Delgada, Angra, Las Palmas, Santa Cruz (Tenerife) e Garachico. Subestabeleciam as tarefas a desempenhar em familiares ou concidadãos com o estatuto de societários, de agentes ou de procuradores. Os Welsers, por exemplo, tinham um feitor em Lisboa (Lucas Rem) e vários agentes subestabelecidos no Funchal e em La Palma (72). A fonna mais divulgada de associação e de aiargamento da rede de negócios foi a companhia ou sociedade comercial, nas suas diversas modalidades. Estas definiam-se, de um modo geral, pelo seu carácter familiar, pela eventualidade da sua acção e por uma composição variada de intervenientes, que investiam o seu capital ou o seu trabalho. Geralmente são empresas familiares, servindo-se os seus componentes dos laços de parentesco para assegurar a permanência da sua acção, a solidariedade e comunhão de
(69) A.R.M .• Misericórdia do FUllchal, L.o 710. fls. 234-236 v.o. 26 de Junho de 1547, testamento de Fernão Raiz mercador; Ibidem, L. ° 41, fls. 280-284, 24 de Outubro de 1559, procuração de Brás Pires a Baltasar Gonçalves mercador; Idem L.0 de lIotas de .foi/o Tavira, fls, 43.45 v,o. 6 de Setembro de 1597, auto de venda de fo['()s. o) Feducho Lamoroto, mercador florentino. vizinho do Funchal, entregou em 1512 três letras suas no valor de 403 DOO rcais a João Saraiva (A.N.T.T., C.C. 11-41-120); e em 1517 enviou sob a mesma fonna ., 10 000 rs. a André da Silveim (Iii idem , 11-71- 131). Francisco Lape. igualmente florentino, passou uma letra de 300 000 rs. a João Francisco Affaitati, que lhe foi entregue por Francisco Pessoa, tesoureiro do dinheiro do reino e morlllJias (fMliem, 11-7-77: 8-96). Temos, ainda em 1512, referência a duas operações de igual índole. a primeira de João Dias, mercador tlamengo. residente no Funchal, que passou uma letra no valor de 100000 reais e a segunda de Nicolosso Justinhom, genovês, no valor de 106900 reais (lliidem, 11-41-120), Krislo Glamann, "E! comercio europeo (1500-1750)0. in Historia Económica da Europa (2) siglos XV/ I' XVI/o Barcelona, 1981, 387-409 Valentim Vasquez Prada, História ecollómica mundial/. Porto, 1977,302-312: 'Maria Olímpia da Rocha Gil, .. Açores-Comércio e comunicações nos séculos XVI e XVII .. , in Arquipélago. série Ciências Humanas. IV, 1982, 351-357, (72) Maria Thereza Schorer, .. Notas para a história das relações dos banqueiros alemães, .. ". in Revista dll História, XV, S, Paulo, 1977, 277-355.
e
e')
59
interesses (73). Quando tal se tomava impossível recorria-se aos compatrícios avizinhados nas principais praças. Esta última forma surgiu com assiduidade na Madeira. Não obstante as companhias familiares terem à partida uma tendência perdurável, de modo geral a associação de mercadores assume um carácter temporário ou eventual. Todas as companhias são formadas por um período determinado, e surgem com frequência nas transacções comerciais entre as Canárias a Andaluzia e as Índias (4): na Madeira assumem a mesma condição definidas para a compra do açúcar das escápulas, dos direitos reais e também para o arrendamento desses direitos por períodos determinados. O relacionamento dos intervenientes nestas sociedades fazia-se de acordo com o investimento na empresa: capital e trabalho. Quando um dos societários apenas intervém com o seu trabalho poderá ser definido como agente ou feitor (s). Por vezes esses laços são de menor dimensão surgindo assim o procurador que, mediante documento notarial, actua sobre a fazenda do seu parceiro no mercado local, cobrando por isso uma determinada percentagem (6). Ambas as situações aparecem com grande evidência na praça funchalense, enquanto nas Canárias se afirma com muita acuidade a segunda. A rede de negócios funchalense, em tomo do trato do açúcar, foi criada e incentivada pelo mercador estrangeiro, alemão ou italiano, que aí apartou depois da reconfortante e vantajosa escala em Lisboa; ele dominou as principais sociedades intervenientes no comércio açucareiro, não obstante ter morada fixa em Lisboa, Flandres ou Génova (7); o seu domínio atingiu não só as sociedades criadas no exterior com intervenção na ilha, mas também o grupo de agentes ou feitores e procuradores subestabelecidos no Funchal. A escolha destes é criteriosa; primeiro os familiares, depois os compatrícios enraízados na sociedade e, só depois, os madeirenses ou nacionais. Sociedades comerciais no Funchal. 1500-1540
SÓCIOS
AGENTES PROCURADORES
MERCADO
ORIGEM
~_.'--_.-
N.ll
'I,
N,o
C/r
..
TOTAL
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N."
'7,
N.Q
1J,
'--'-~-~-'-~--~-""-"-
Nacionais Estrangeiros Total
22 30 52
42 58 51
12 15 27
44 66 26
3 21 24
13 87 23
37 66 103
36 64
As principais casas intervenientes no trato açucareiro madeirense sob esta forma, podem ser definidas de acordo com o número de representantes, salientando-se entre eles Baptista Morelli, B. Marchioni,Welser, Claaes, Charles Correa, Pero de Ayala e Pero de Mimença (vejam os quadros anexos). Os Welsers e Claaes intervêm na praça do Funchal por intermédio de agentes estabelecidos em Lisboa, respectivamente, Lucas Rem e Erasmo Esquet, que na ilha subestabelecem feitores. O primeiro tinha como seus interlocutores no Funchal, em (73) Eufemio Lorenzo Sanz, Comercio de Espana con America en la época de Filipe II. I, Valladolid, 1979,
159. (4) Manuel Lobo Cabrera, «Gran Canaria y lndias I., ,I» IV C,H,C,A" l, 134-135; Francisco Morales Padron, «Canarias en el Archivo de Protocolos de Sevilha» A.E.A .. n.O lO (1961), 253; Veja-se documento n.o 176 e 216; Eduardo Aznar Vallejo, ob, ri!" 337-338. (5) Manuel Lobo Cabrera, lbidem. 134-136. (6) Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no século XVII, Castelo Branco, 1979, 357-360. (7) Virgínia Rau e Jorge de Macedo, O açúcar da Madeira 1, .. 1, 29.
60
princípios do século XVI, João de Augusta, Bono Broxone, Jorge Emdorfor, Jácome !10lzbuck, Leo Ravenspurger e Hans Schonid. Os produtores e feitores, na sua condição de mterlocut~res dos mercados europeus, não se ligam a uma única sociedade, mas distribuem a sua acçao por um grupo numeroso de societários; e estes, por sua vez, não se prendem
~:1:1:1?::1:1:11 Nacionais
30 -
Estrangeiros
25 -
20 -
15 -
10 -
O
Sócios
SOCIEDADES
Mercadores
COMERCIAIS
NO FUNCHAL.
AgentelProcurador
1500-1540
apenas a um representante, pois fazem distribuir os seus poderes por um grupo razoável de feitores e procuradores. Na primeira situação distingue-se Benoco Amatori que representava B. Marchionni, B. Morelli, Álvaro Pimentel e Jerónimo Sernigi, e, na segunda João Francisco Affaitati que, entre 1500-1529, estava representado por Gabriel Affaitati, Luca Antonio, Cristóvão BocoIlo, Capella e CapeIlani, João Dias, João Gonçalves, Matia Manardi, Mafei RogeIl e Lucas Giraldi (vejam-se os mesmos quadros). 61
Sociedades para o comércio do açúcar DATA
1471-1473 1502 1520-1521 1524 1526 1527 1530 1534 1535 1537
SOCIEDADE
MERCADORIA
açúcar da produção local Martim Anes Boa Viagem, Fernão Nunes Boa Viagem, Fernão Pires, Vicente Gil, Pedro Botelho, Álvaro Esteves, Batista Lomelim, Francisco Calvo e Micer Leão escápulas mediterrânicas António Salvago, João Francisco Affaitati, Jerónimo Sernigi, João Grande Francisco Corvinelli João Francisco Affaitati e Jerónimo Bicudo direitos direitos Jorge Lopes Bixorda e Pedro de Minença direitos Charles Correa e Pedro de Minença Pedro de Ayala. João de Miranda, João de Odom, Diogo de Torres e direitos Nuno Henriques direitos Bernardim de Medina. João Coquet. João Rodrigues Castelhano, João de Quintana e Afonso de Sevilha direitos Manuel Mendes e Gabriel Fernandes Tobias de Marim e Henrique Nunes direitos Afonso de São Victor e Henrique Nunes direitos
Fonte: Fernando Jasmins Pereira, O açúcar Madeirense ... 68-93
Sociedades para arrendamento dos direitos DATA
SOCIEDADE
MERCADORIA
1506-1508
quartos
1506-1508
alfandega
1516-1518
todos
Martim de Almeida, Fernão Alvares, Benoco Amador, Quirino Catanho, Alvaro Dias, Feducho Lamoroto. João Lombarda, Henrique Vamdura Martim de Almeida. Benoco Amador, Onésimo Castanho, Alvaro Dias. João Lombardo, Francisco Viola Maroto Simão Acciaioli, Lopo de Azevedo. Luis Doria. Benedito Morelli, Antonio Spinola, Duarte Fernandes, Gonçalo Pires Gregório Alvares
Fonte: Fernando Jasmins Pereira, O açúcar Madeirense .... 68-93
Fora do âmbito do trato açucareiro fonnam-se companhias com objectivos definidos no comércio ou transporte. Assim em 1597 Rodrigo Fernandes Saía de Veloso, mercador, morador no Funchal, contrata com Afonso Antunes, mercador, morador em Cabo Verde, o comércio de chacina (B). Na mesma data surge uma nova sociedade entre Manuel Vieira Jardim e António Gonçalves d'Araújo, para o transporte e venda de trigo da ilha de São Miguel (9). No sector dos transportes, área onde o risco era maior, existiam também companhias, em que intervinham mercadores e mareantes. Em 1597 referencia-se a venda de uma caravela pertença de uma sociedade composta por António Rodrigues Torzilho, Domingos António e Diogo Gonçalvez, a uma outra, composta pelos mercadores António Lopes de Vila Real e Manuel Gomes e pelo mareante Pero Vaz (BO). O arquipélago açoriano, área privilegiada do comércio transatlântico, foi igualmente atraído pelas sociedades europeias, portuguesas ou não, .que tinham os seus interesses nessa área; elas surgem aí, com muita frequência, interessadas nas riquezas locais ou nas que por aí passavam; estabeleciam contactos com a burguesia e aristocracia locais, que se lhes associavam com o estatuto de agente ou procurador (Sl).
es ) A.R.M., L.0 de Notas de João Tavira, fi. 2 v,o, e lbidem, fls. 18 v.0-22, 2 de Agosto de 1597. 9
)
(so) lbidem. fis. 24 v.0-25 v.o, 24 de Julho de 1597.
(81) Maria Olímpia da Rocha Gil, lbidem, 557-560.
62
31 de Maio de 1597.
Na praça de Angra fomos encontrar um mercador inglês, Thomaz Barnes, associado a um compatrício seu, com interesses nas Canárias (82). E, em Ponta Delgada, Afonso Annes de Chaves surge associado, em sistema de parceria, com Afonso Pires, vizinho e morador no Porto (83); o primeiro comprometia-se a enviar ao Porto vinhos, vinagres, castanhas e sardinhas, enquanto este lhe enviaria couro de cordovão e toalhas de mãos. Nas Canárias as companhias não surgem apenas no sector comercial, pois esta forma de associação alarga-se também ao sector produti vo e aos transportes (84); é de referir em especial, no sector produtivo, a aquisição, em 1513, pelos Welsers, de importantes canaviais em Tazacorte (La Palma), que depois trespassaram aos seus agentes, Juan Bissan e Jácome de Monteverde(85). Em Gran Canaria são frequentes os contratos de companhia entre os lavradores de açúcar e os mercadores ou mesmo entre os primeiros e os canavieiros (86). As sociedades comerciais canárias actuam de modo diverso em três partes distintas mercado europeu nórdico e mediterrânico, no litoral africano e no litoral americano. Nas praças de Las Palmas, Santa Cruz e Garachico formam-se sociedades, compostas por mercadores locais e forasteiros, com o objectivo de comerciar nessas três partes. Geralmente chegam aí a partir de Sevilha e Cadiz, as principais sociedades europeias que subestabelecem o tratamento dos seus interesses em feitores ou procuradores (87). Em 1518 forma-se em Cádiz uma sociedade para comerciar entre Castela e Tenerife, sendo composta por dois mercadores residentes nesta ilha, Juan Pacho e Gaspar Jorba, e outro em Castela, mas com larga experiência no comércio canário, Lorenzo Garcia(88). Quando ela termina, em 1520, dois dos seus intervenientes, Juan Pacho e Lorenzo Garcia, criam nova sociedade por quatro anos (89). O êxito destas iniciativas, bem como a possibilidade de alargamento da rede de negócios à Flandres e Berberia, fê-los fundar em 1533 uma nova companhia, conjuntamente com Lucas deI Burgos e Diego Rodrigues eo). Com os mesmos objectivos surgiu em 1536 outra companhia, fundada por três mercadores de Barcelonae 1); pretendiam comerciar o açúcar das Canárias e escravos, tendo Cádiz como centro de redistribuição. A estes seguiu-se, em 1574, nova iniciativa de mercadores de Barcelona com idêntico objectivo (92). Nesta trama de relações comerciais entre a Andaluzia e as ilhas Canárias dominam, acima de tudo, as companhias de familiares, em que se conjugam os laços de parentesco com os comerciais. As principais famílias italianas, flamengas e andaluzas, organizadas ou não em sociedade, subestabelecem familiares seus nas principais praças destas ilhas, nomeadamente em Las Palmas, Garachico e Santa Cruz. Aí encontramos os Sopranis, Coronas, Veintinigla, etc. (93).
(82) B.P.A.P.D., Livraria Ernesto do Callto. Extractos de Documentos Micaelenses, vaI. IV, p. 28, 26 de Agosto de 1549, testamento de Thomaz Bames. (83) Idem, Escrituras 1518-1599, n.O 9, Porto, 16 de Abril de 1518, carta de quitação. (84) Eduardo Aznar Vallejo, ibidem, 338. (85) Ibidem. 351, nota 177; José Peraza de Ayala, "Historia de la casa de Monteverde", in Nobiliario de Callarias, II, La Laguna, 1959, 491-579; Manuel Lobo Cabrera, "Los Vecinos de Las Palmas y sus viages de pesque ria 1...1" III C.H.C.A., II, 1978, 471. (86) Guilherme Camacho y Perez Galdós, "E! cultivo de la cana de açúcar I ... I" in A.E.A., n. ° 7 (1961) 33-34. (87) Manuel Lobo Cabrera, "Gran Canaria y Indias I .. . /», IV C.H.C.A" I, 143; Manuela Marrero Rodrigues, "Una sociedad para comerciar en Castilla, Canarias y Flandres en la primera mitad deI siglo XVI". III C.H.C.A., I, 1978, 161. (88) Manuel Lobo, Ibidem, 161-173. (89) Ibidem, 172. (90) Ibidem, 163-164. (91) J. M. Madurell Marimon, «Notas sobre el antiguo comercio / .. ./ .. A.E.A., n.o 3, (1957), 563-592; Idem, "E1 antiguo comercio / ... /», A.E.A., n.o 7 (1961), 71-74. (92) Idem, «Miscellanea de documentos historicos Atlânticos», A.E.A .. n.O 25 (1979) 224-225, 235-238. (93) Guilhermo Camacho y Pérez Galdós, ibidem, 52; Eufemio Lorenzo Sanz, ibidem, I, 105-423.
63
1.3 Agentes Os agentes poderão considerar-se como elemento fundamental e activador de todo o sistema de trocas. São eles que executam as principais tarefas inerentes ao movimento de circulação dos produtos. Numa sociedade nascente, a preocupação primordial dos seus vizinhos assenta na necessidade de assegurar a subsistência. A criação de excedentes e o recurso aos produtos com valor mercantil surgem num segundo momento. Só então se fazem sentir as necessidades decorrentes do sistema de troca, tornando-se necessário viabilizar e institucionalizar uma estrutura de mercado adequada às dimensões das permutas internas e externas; as autoridades régias e locais terão nessa fase uma actuação importante. Numa sociedade essencialmente agricola, em que a maioria da população se dedica quase em exclusivo à faina do aproveitamento da terra e a actividades artesanais subsidiárias, torna-se difícil o recrutamento desses novos agentes económicos. A juntar-se a tudo isto verifica-se o domínio de uma mentalidade ruralizada, a insuficiência de meios e de bens disponíveis para uma actividade de tal índole. A sociedade insular define-se pelo seu carácter agrário. A agricultura ocupa a quase totalidade da sua população. O sector artesanal alia-se, muitas vezes, ao agrário, enquanto o sector comercial, embora ligado a essa realidade, mantém um certo distanciamento. O grupo de agentes de transporte e do comércio fixa a morada no burgo ribeirinho, afirmando-se nesse ,meio como um estrato sócio-económico importante e animador do quotidiano das vilas e cidades. Não obstante, a sua representatividade na população insular é muito reduzido, isto é 3 a 4%. Na Madeira essa percentagem atinge os 7%, enquanto nas Canárias não ultrapassa 3 % e ficando-se nos Açores apenas em 0,5 %. Estes dados comprovam o carácter marcadamente rural da sociedade açoriana, em contraste com uma tendência mercantilizadora das sociedades madeirense e canáriaet). A posição dominante da Madeira resulta do desenvolvimento da estrutura sócio-económica, ao longo do séc. XVI, em que se denota a constância e a afirmação do sector mercantil. Aliás, toda a exploração agricola, desde meados do séc. XV, estava subordinada a este sector. Recolher-se-iam produtos, como o açúcar e o vinho, cujo fim primordial é o fornecimento do mercado externo europeu ou o americano e o asiático; daí a forte implantação dos agentes de transporte e comércio. O mesmo não sucederá nos Açores, onde predominará uma agricultura de subsistência, em aliança com uma produção com valor mercantil: trigo, pastel e). As Canárias, por seu turno, debater-se-ão entre uma exploração de subsistência e outra de mercado, sendo a actuação das autoridades régias e locais no sentido de manter um equilíbrio adequado entre o cereal e o açúcar.
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Convém salientar que a informação encontrada na documentação disponível é muito heterogénea e desproporcionada, no que concerne aos três arquipélagos, pelo que o resultado poderá surgir muito viciado, estando muito aquém da realidade. Para a Madeira a existência dos registos paroquiais da freguesia da Sé, desde 1539, e dos testamentos da Misericórdia do Funchal e Julgado de Resíduos e Capelas, facultou um levantamento exaustivo deste e outros grupos de gentes. Nos Açores a insuficiência de documentação dos séculos XV-XVI não permitiu uma análise da mesma índole. Nas Canárias, não obstante o valioso acervo documental dos arquivos provinciais de Las Palmas e Santa Cruz de Tenerife, essa pesquisa foi limitada. Aí privilegiamos a importante colecção de documentos já publicados, nomeadamente os protocolos que abrangem apenas a primeira metade do século XVI. Veja-se o nosso estudo A questão cerealífera nos Açores / ' .. / .
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64
1 ()()() -
CJ
Agentes de Comércio
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Agentes de Transporte
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500 -
Madeira
AGENTES DE TRANSPORTE E
Açores
COMÉRCIO NAS
Canárias
ILHAS. Sécs.
xv a XVI
Esta inadequação ou inapetência do insular para actividades que o desliguem da terra, aliada à intensificação das relações de troca, conduziram a uma solicitação exterior dos principais agentes de comércio, e mesmo de transporte. A sociedade insular recebeu nos séculos XV e XVI 29,8 % dos seus agentes do exterior, sendo 12,1 % no sector dos transportes e 36,7% no comércio. 65 9
As ilhas da Madeira e Canárias exerceram maior atracção, pois totalizam isoladamente 48 % enquanto os Açores atingem apenas 3 %. Esta situação por si só denuncia a importância que os dois sectores tiveram na Madeira e nas Canárias, importantes entrepostos do comércio atlântico. A presença forasteira é mais clara no sector comercial do que no de transporte, pois no primeiro atinge 88,5% e no segundo não ultrapassa os 11,5%. Esta presença é justificada pelo comércio dos produtos de exportação. Além disso ela varia nos três arquipélagos, pois nos Açores é apenas de 3,4% enquanto na Madeira é de 48,1 % e nas Canárias de 50,5%. A situação aludida, para além de reforçar a ideia da importante actuação da classe mercantil forasteira na Madeira e nas Canárias, nos contactos com o exterior, denuncia a sua predominante intervenção no mercado e comércio local. O açúcar e, depois, o vinho atraíram mais facilmente a cobiça do mercado europeu do que o pastel ou os cereais. Neste grupo de estrangeiros evidenciam-se os oriundos do mercado hispânico que representam na Madeira 47,7% e nas Canárias 44,4%. Verificamos assim que a burguesia comercial e marítima hispânica mantém uma posição dominante no mercado insular, que desde os inícios do povoamento atraiu as suas atenções. A activação dos circuitos de troca no mercado insular deriva da acção dos agentes de transporte e de comércio. Os primeiros subdividem-se em agentes de transporte terrestre (carreteiro, boieiro, cocheiro, cameleiro, almocreve) e marítimo (barqueiro, mareante, piloto e mestre de navio). Os segundos ramificam-se de acordo com a incidência da sua actividade no mercado local e externo; assim, teremos o mercador propriamente dito, que se dedicava ao trato por grosso de mercadorias de exportação e importação, e um grupo numeroso de agentes retalhistas, que asseguram a actividade do mercado local - regatão, vendeiro, estalajadeiro, peixeira, especiero, carniceiro e vinhateiro. Numa área onde a economia se define pela litoralidade, em que portanto o transporte dominante é o marítimo, e onde a troca directa ou indirecta da produção é devida à acção dos agentes comerciais, esta fica logicamente valorizada; representam 71,7%, predominando a sua actuação nos três arquipélagos. De acordo com essa situação, o transporte marítimo terá uma posição primordial, representando os seus agentes dois terços do global do grupo de transporte.
Transporte marítimo e terrestre Definida a importância das vias e meios de comunicação na economia insular e sublinhada a dominância do mar nesse relacionamento, apenas nos interessaremos aqui pela actuação dos vários agentes de transporte no mercado insular. Os meios, vias e agentes de transporte terrestre terão a sua acção limitada pela orografia insular e/ou pela facilidade das comunicações marítimas. Não obstante, terão uma importância primordial nos contactos entre as áreas produtoras e os portos de exportação, como acontece em S. Miguel e Gran Canaria. De entre os agentes sobressaem os almocreves, que já na Europa medieval tinham uma acção muito importante no transporte e na comunicação entre as várias regiões do interior e); serão igualmente importantes na economia insular, sendo os principais agentes de transporte na safra do açúcar. O almocreve tanto transporta a lenha e as canas ao engenho, como o açúcar aos principais portos de cabotagem ou exportação (4).
e)
A. Barquero Moreno, .. A acção dos almocreves / .. '/", in Papel das Àreas Regionais na História de Portugal. Lisboa, 1975, 185-215; J. Borges de Macedo, .. Almocreve.. , in Dicionário de História de Portugal. vol. I, Lisboa, 1975, 119-120. (4) A.R.M., C.M.F .• n.o 1313, fIs. 14-14 v.o, vereação de 5 dc Maio de 1597; R. Diaz Hernandez, EI
66
250 -
o
Mareante
~
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Almocreve
[[]]
Barqueiro
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Mestre de Navio
200 -
150 -
100 -
50 -
o Madeira
Açores
Canárias
AGENTES DE TRANSPORTE. Sêculos XV e XVI
67
Na Madeira surgem com maior incidência no século XVI (82,1%), sendo os principais agentes de transporte na safra do açúcar, onde as condições orográficas o permitiam. A área do Funchal e arredores, onde se concentravam todas as actividades comerciais, torna-se o seu principal pólo de acção, seguindo-se a parte ocidental da vertente sul, entre a Ribeira Brava e Calheta, região onde se situava a maior produção açucareira. Nos Açores, não obstante a importância que tiveram nas ligações entre Ponta Delgada e Ribeira Grande e de Angra com a Praia, apenas há notícia de um almocreve (5). Aliás, nos contactos entre a Ribeira Grande e Ponta Delgada, o transporte terrestre, para além de ser mais rápido, estava facilitado pelas condições orográficas. Assim no século XVI os almocreves micaelenses deram um importante contributo à economia cerealífera local, sendo os principais agentes de transporte de cereais e farinhas da Ribeira Grande e áreas limítrofes para Ponta Delgada. A câmara da Ribeira Grande preocupa-se com a sua acção, quer por meio do regimento da sua actividade, quer pela acção de reparo dos caminhos. Em 1599 era autorizada a circulação de 60 almocreves nesse circuito, que deveriam apresentar anualmente fiança na câmara (6). Almocreves na Madeira MORADA
Funchal Santa Cruz Caniço Ribeira Brava Ponta do Sol Calheta
'"
N."
131 I I
4 2 I
93,57 0,71 0,71 2,86 1,43 0,71
Nas Canárias, tal como na Madeira, a sua actividade será justificada pela safra do açúcar.' Deste modo teremos nas ilhas produtoras de açúcar - Gran Canaria e Tenerife um numeroso grupo de almocreves. Todavia, apenas são referenciados 52, sendo 13,5% em Gran Canaria e 86,5% em Tenerife. Destes, quatro são portugueses. Quanto aos restantes agentes de transporte apenas há a salientar os cameleiros e carreteiros nas Canárias e os cocheiros e boieiros na Madeira C). Estes últimos surgem na década de 50, certamente dedicados ao transporte de passageiros. Em Vila Franca do Campo e S. Miguel existiam, em 1566, 14 carreteiros dedicados ao transporte de produtos no município e deste com Ponta Delgada e Ribeira Grande (8). O predomínio dos agentes de transporte marítimo denuncia a cambiante marítima da sociedade e economia insulanas. As vias e meios de transporte desse tipo são um dos aZl/car en Callarias, Las Palmas, 1982, p. 27; G. Camacho y Pérez Galdós, ob. cit., 56-58; Eduardo Aznar ValIejo, oh. cit., 324-326. (5) B.P.A.P.D., Ernesto do Callfo. ms. 20, Tombo de escrituras de compras e dc cartas de sesmarias, 1482-1515, fi. 32 v.o, Angra, 4 de Junho de 1511, escritura de compra de metade de um chão e casa na Rua Direita por Pero Anes do Canto e Pero Álvares Andrade, almocreve. (6) A.C.M.R.G., L.0 de Acórdãos. fls. 31 v.o c 41, vereações de 29 de Junho e 13 de Novembro de 1593. Eduardo Aznar Vallejo. ob. cit .. 325-326: A.R.M., Paroquiais. Baptizados da Sé, fi. 85 v.o, 8 dc Setembro de 1553, Gimena filha de João Martins, cocheiro; ibidem, n.o 10, fl. 14, 17 de Setembro de 1575, Ana, filha de Gonçaleanes, boieiro; Idem, óbitos-sé; n. ° 68, 25 de Outubro de 1552, Maria Fernandez, Carreira. (8) A. Teodoro de Matos e Maria de Jesus dos Mártires Lopes, "Subsídios para a História económica e social do concelho de Vila Franca do Campo no ano de 1566 / ... /0>, in Os Açores e o Atlântico (séculos XlV~XVll), Angra do Heroísmo, 1984, 550.
n
68
e· ·
69
sustentáculos da economia dessa sociedade. A vivência ribeirinha fez do ilhéu um marinheiro nato, ele surge como pescador, barqueiro, mareante e, muito raramente, como piloto ou mestre de navio. Agentes de transporte marítimo nas Ilhas BARQUEIRO N."
Madeira Açores Canárias
56 3
'il:
N."
'*
N."
95
248 12 13
91 4 5
2 5 126
5
CALAFATE
MESTRE
MAREANTE
'il:
N."
'* 10
3 1 1
4 95
60 20 20
Na Madeira dominam os barqueiros (90,8%) enquanto nas Canárias essa pOSlçao é ocupada pelos mestre de navio (96,9%); entretanto os mareantes, como os pilotos e os mestres de navio, surgem com maior evidência. Não obstante, há informação mais esclarecedora sobre arquipélago dos Açores, que aponta uma marcada actuação dos barqueiros, pois só na Vila Franca do Campo, em 1566, existiam 23 barqueiros (9). Estes dados indicam que o movimento comercial da Madeira e Açores estava entregue a um grupo de agentes de transporte forasteiros que, muitas vezes, associavam essa actividade ao comércio. As ilhas portuguesas não dispunham de uma frota adequada ao comércio externo, pois as poucas embarcações existentes estavam ocupadas no comércio de cabotagem; ao visitante do reino ou estrangeiro estava reservada essa actividade. A situação é de tal modo precária que, ao longo dos séculos XVI e XVII, e vereação funchalense tem de recorrer às embarcações visitantes para se abastecer de trigo nos Açores eo). O facto de se documentar uma elevada percentagem de mareantes no Funchal (9%), não é sinónimo do desenvolvimento da navegação a longa distância nestas paragens, mas sim da assiduidade desses contactos e do apelo constante à mão de ol;>ra assalariada, necessária a essa actividade. Em termos globais nota-se que os marinheiros surgem, nos três arquipélagos, na razão inversa dos mestres e pilotos de navios. Agentes de transporte marítimo na Madeira BARQUEIRO
MARINHEIRO
ORIGEM
N."
N."
Funchal Santa Cruz Machico Campanário Ribeira Brava Ponta de Sol Calheta Porto Santo Reino Canárias
Na Madeira, o principal centro de incidência dos homens do mar situava-se na zona ribeirinha do Funchal. Aí deparamo-nos com 82, I % dos barqueiros e 97,9% dos mareantes. (9) lbidem. p. 550.
et 0 ) 70
Veja-se o nosso estudo -
.
.
O comércio de cereais dos Açores para a MadeIra no seculo XVIl. 659.
..: z
II e.·
·
71
Muitos destes encontravam-se lá temporariamente ao serviço de embarcações que aportavam ao Funchal. Desses 12,2% são do reino, nomeadamente de Tavira, Faro, Lagos, AIcacer do Sal, Santarém, Buarcos, Porto, Esposende, Sesimbra, Gaia, Viana, Barcelos e Vila do Conde. Sendo assim, o movimento de embarcações entre a Madeira e os Açores e o reino era intenso, salientando-se neste último o litoral algarvio, a região de Lisboa e a costa norte. A existência de mareantes fora do Funchal - Calheta, Santa Cruz, Machico (3,2%) evidencia também a existência de contactos dessas embarcações de comércio a longa distância nestas zonas costeiras. O mareante e o barqueiro, tal como o pescador, assentaram morada na zona ribeirinha pelo apego ao mar, junto do burburinho do calhau, onde poderiam ouvir o marulhar das ondas. A zona dO calhau, hoje Corpo Santo, acolhia o maior número de marinheiros, barqueiros e pescadores. A sua influência foi dominante nesta área citadina, pois aí construiu no século XV uma capela para o seu padroeiro S. Pedro Gonçalves Telmo, com uma confraria para defesa e apoio dos mesmos mareantes (11). Em Machico, Santa Cruz, Ribeira Brava, Calheta e na ilha do Porto Santo havia igualmente uma diminuta comunidade de homens do mar com morada fixa junto ao calhau ou aos ancoradouros. Nos Açores o barqueiro ou mareante surge em todas as ilhas nas áreas costeiras de maior movimento. Em Vila Franca do Campo, por exemplo, em 1566 a comunidade marítima representava 5% do grupo, sendo 23 barqueiros, 10 marinheiros e 13 pescadores (12). A comunidade marítima nas Canárias, embora espalhada por todo o arquipélago, tem em Gran Canária e Tenerife os principais focos de fixação, e surge anexa aos principais portos destas ilhas: Las Isletas, Santa Cruz e Garachico. Nestes lugares, onde domina o tráfico a longa distância nota-se a afirmação dos marinheiros, pilotos e mestres de navio; os primeiros representam 88% e os últimos apenas 9%. A maioria dos mestres de navio referenciados actua a partir de Tenerife (80%), surgindo com maior frequência o porto de Santa Cruz; eram na sua maioria forasteiros. No total de 125 aduzidos apenas 49 têm a indicação de procedência, sendo 78% estantes e 22% vizinhos. Nos primeiros sobressaem os portugueses com 13%, seguidos dos castelhanos (6%) e genoveses (3%)(13). No grupo dos portugueses encontramos dois oriundos da Madeira e um do Faial, facto demonstrativo das ligações entre as Canárias e os arquipélagos de Portugal.
Comércio interno e externo O mercado interno estava sob o domínio do município que delimitava os locais e a forma de venda a retalho dos diversos produtos, concedendo as necessárias licenças aos seus agentes, de modo a poder fiscalizar a sua actividade; o tabelamento dos preços, verificação dos pesos e medidas pelos almotacés estavam ainda no seu campo de intervenção. Os principais agentes desta actividade sectorial poderão definir-se em duas categorias: revendedores, isto é, bufarinheiros, regatões, vendeiros que procedem à revenda a retalho de fruta, hortaliça, queijo, pão, caça, de acordo com as normas elaboradas em postura; e vendedores, ou sejam, os carniceiros, peixeiras, vinhateiros, especieiros, que vendiam a carne, peixe e espécies em locais estabelecidos pela vereação. O município não acolhia de bom grado a actividade dos revendedores, em virtude da sua apetência para a especulação e acções lesivas do bem comum. Assim, para além da
(11) Fernando Augusto da Silva. "Capela do Porto Santo», in Elucidário Madeirellse, I (1940). 316-317.
ee3) A.Eduardo Teodoro de Matos, ibidem, 550. . . _ Aznar Vallejo (ob. cit .. 327-328) dá conta apenas de trinta e quatro com a 1n~ICaçao de 2)
procedência. Ao nível local dominam os portugueses seguidos dos andaluzes e _bascos e, nas relaçoes com o exterior, surgem em primeiro lugar os vizinhos e os genoveses. ambos com tres.
72
rigorosa fiscalização exercida sobre eles, através da obrigatoriedade do uso da licença, os vereadores exararam em postura a faculdade dos vizinhos poderem comprar os seus produtos directamente ao mercador visitante. Para isso, ordenaram que todo o pr<>duto deveria ficar retido nove ou quinze dias, respectivamente, em Tenerife e na Madeira, para os vizinhos poderem adquiri-los ao preço de compra; só após esse prazo se procederia a revenda de acordo com as posturas 4 ). No Funchal há notícia de quarenta e oito vendeiros que se dedicavam a esse comércio a retalho, dos quais vinte e cinco são de finais do século XV e vinte e três do século XVI. Em finais do século XV os vendeiros são na totalidade do sexo feminino, pois só na última data aparecem os do sexo masculino que representam cerca de 70% (quadro n. o 11). O açougue, a peixaria, a taberna mereceram maior incentivo por parte do município, que regulamentava com rigor a venda nestes recintos de modo a dissuadir os seus agentes da especulação eda fraude, e com o fim de garantir as devidas condições de higiene. A venda dos produtos estabelecidos para essas lojas, considerados essenciais para o quotidiano do burgo, fazia-se de acordo com as normas e tabelamento de preços, estabelecidos em vereação. Esta vigilância não derivava apenas da necessidade de assegurar o abastecimento da população e de evitar as práticas fraudulentas, mas tinha de igual modo o fim de assegurar o lançamento e arrecadação dos direitos reais e concelhios, como sucedia com o vinho da Madeira. Aqui a vereação, por intermédio do juíz da referida imposição, auxiliado por arrieiros e um escrivão, verificava o transporte, a abertura das pipas e a venda do vinho, lançando, de acordo com o varejo, os direitos a pagareS). A venda de carne era feita nos açougues municipais que detinham o monopólio do abate e da venda. Eram arrendados pelo concelho a carniceiros que procediam ao abate e venda de acordo com as posturas 6 ). O comércio externo do espaço insular, pela amplitude e importância que adquiriu no mercado atlântico-europeu, pelo investimento e organização que implicava, condicionou o aparecimento de agentes forasteiros, ligados aos circuitos comerciais europeus no Atlântico e Mediterrâneo. A intervenção destes agentes de comércio neste domínio far-se-á de modo diverso, adquirindo uma dimensão ou posição de acordo com a amplitude da sua actividade. Poderemos assim diferenciar três tipos de mercadores: 1. mercador, especializado no comércio de determinados produtos de importação e exportação; 2. mercador transportista, que intervem no comércio marítimo internacional, dispondo de meios financeiros e técnicos para isso; e 3. mercador banqueiro, que se dedica a operações de finanças nos principais mercados de dinheiro da Europa, tendo uma rede de negócios organizada em todas as melhores praças europeias, por intermédio de familiares e agentes 1). Ao nível insular a presença destes três grupos de mercadores não é uniforme, pois varia de ilha para ilha de acordo com a importância sócio-económica das praças insulares. Os dois últimos tipos, na sua maioria estrangeiros, têm uma presença temporária, surgindo apenas em momentos de exportação dos produtos mais importantes do mercado - vinho, açúcar, pastel- a fim de estabelecer a sua troca com as manufacturas europeias. Por vezes fazem-no de modo indirecto, por meio de familiares ou agentes, que se apresentam como filiais das casas
e
e
e
e
4
Veja-se supra 2. n parte, cap. l.1. Problemática abordada em estudo que fizemos sobre O Villho da Madeira fIOS séculos XVIl-XIX. em vias de publicação. (16) A.C.M.R.G., L.0 de Acordãos, 1578.11.64 v.0-66 v.o, Vereação de 16 de Abril de 1578; ibidemo' fls. 67-68, Vereação de 19 ele Abril de 1578; Idem L.0 de Acórdãos, 1599,11. 14 v.o, \O ele Abril de 1599; Ibidem. fi. 18,8 de Maio de 1599; lbidem, fi. 27, 12 de Junho de 1599; Vereações de Velas (5. Jorge) 1559-1570-1571, 1984, pp. 28-29: A.R.M., C.M.F., 0.° 1296, fl. 3020 de Outubro de 1470: Ibidem. 0.° 1297, fls. 24; 8 de Juoho de 1481: ibidem. fi. 27-27 v.o, 28 de Julho de 1481; Ibidem, fl. 39-39 v.o, 3 de Dezembro de 1481; passim. [17) Frédéric Mauro, Marchand et marchands Banquiers portugais {/li XVI/eme siec/e. Coimbra. 1961. Separata di! Revista Portuguesa de História. vo1. IX (1961).19-20, Maria Valeotina Cotta do Amaml, Mercadores estrangeiros em Portugal no reilllldo de D. João 11/, Lisboa, 1967 (lese de licenciatura, policopiada), 19-20 e 72-74. )
es )
73 lO
europeias. Além disso, o último tipo só surgirá com grande relevo em Las Palmas, onde a alta finança europeia monta uma praça bancária especializada no comércio atlântico s). Nos Açores e na Madeira não há qualquer informação que aponte para a sua existência; aí tudo nos indica a presença e o domínio exercido pela praça de Lisboa. O primeiro grupo será aquele que terá maior representatividade no mercado insular. Ele surge muitas vezes numa posição subalterna, como agente subestabelecido ou representante de mercador transportista ou barqueiro; os que nele se inserem, definem a burguesia comercial com assento nas ilhas, que detém uma posição privilegiada no comércio inter-insular e nos contactos com a mãe pátria. A maior parte das operações financeiras, comerciais e, mesmo, de transporte eram dominadas por estrangeiros, a partir de Génova, Veneza, Anvers e Antuérpia. Uma rede de negócios e circuitos comerciais assegurava esse domínio. Italianos e flamengos, seus principais detentores, surgem desde cedo nas praças de Lisboa, Sevilha e Cádiz; a partir daí tomam a direcção das operações financeiras e comerciais do Mediterrâneo Atlântico, adquirindo e reforçando essa posição com as regalias e os privilégios concedidos pelas coroas hispânicas 9 ). Factores internos e externos condicionaram essa intervenção de mercadores nacionais e estrangeiros no mercado insular; em primeiro lugar, o desenvolvimento de culturas, como o vinho, o açúcar, o pastel, componentes importantes das trocas europeias e americanas; em segundo, a posição privilegiada dos três arquipélagos e, nomeadamente, das Canárias e dos Açores, no traçado das rotas do comércio atlântico eo). Alemães, genoveses, venezianos e judeus disputam entre si o domínio deste mercado e 1 ). O arruamento dos ofícios e dos locais de venda de artefactos e produtos agrícolas deriva não só da necessidade de fiscalizar e defender os interesses dos diversos artesãos e vendedores, mas também da necessária aproximação da alfândega e calhau, de modo a facilitar as operações de transporte. Por isso nas principais cidades e vilas do mundo insular existia, sempre uma Rua dos Mercadores, arruamento onde se centrava a maioria deste grupo, para proceder às suas transacções locais e externas 2 ). Na Madeira, de acordo com a informação de Gaspar Frutuoso, toda a actividade comercial estava centralizada em três ruas anexas à alfândega e calhau: Rua Direita dos Mercadores, Rua do Poço Novo e Rua do Sabãoe3 ). A primeira é definida pelo autor como a
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e
e
8
Enrique Otte, ob. cito Maria Valentina Cotta do Amaral, ibidem; Virginia Rau, "Privilégios e legislação portuguesa referente a mercadores estrangeiros (séculos XV e XV!)" in Estudos de História, Lisboa, 1968, [31-158; H. Gama Barros, História da Administraçtio Pública em Portllgal, Lisboa, vol. X, [71-205 e 221-280; M. B. Azma[ak, Mercados comerciais, Lisboa, 1932, 96-98; Hermann Kellenberz, "Os mercadores alemães de Lisboa por volta de 1530», in Revista Portuguesa de História. vol. IX, Coimbra, 1960, 124.140; Enrique Stols, "Os mercadores flamengos em Portugal / ... /», in Anais de História, S. Paulo, 1973, 11-54; Charles Verlinden, Les origines de la civilization atlantique / .. '/' Neuchatel, 1966, 10; Jacques Heers, Gênes au XV e siecle. Paris, 1971, 328-331; Maria Olímpia da Rocha Gil, "OS Açores e a rede de negócios no atlântico seiscentista" in Açores e o Atlântico (Séculos XIV-XVII), Angra do Heroísmo, 1984. 555-573. ll ) Enrique Otte, ibidem. 28-29. 1 ) Sobre os mercadores judeus veja-se Meyer Kayserling, História dos judeus em Portugal, São Paulo, 1971; José Gonçalves Salvador, Cristãos-novos e o comércio no Atlântico Meridional, Lisboa, 1978, Maria José Ferro Tavares, Os Judeus em PortuQal no século XV, Lisboa, 1982; Idem, ..Os Judeus em Portugaln, in História de Portugal (direcção de José Hermano Saraiva), vol. IV, Lisboa, 1982, 259-272. 2 ) Em Tenerife existia em 1520, a CaBe Real de Santo Espírito de los mercadores (Acuerdos dei cabildo de Tenerife, IV. n.o 183, p. 69, 22 de Outubro de 1520). Na Madeira esta Está documentada desde 1469; Veja-se A.R.M., C.M.F. Registo Geral. t. I, fls. 1 v.0-2 v.o, 25 de Setembro de 1469, carta dos mercadores sobre o monopólio do comércio do açúcar, pubI. in A.H.M.. xvn, 47-49. 3 ) Saudades da Terra, L.0 n, Ponta Delgada, 1968, 111-112; mas surgem também nas ruas das Pretas (Miguel Lopo), Tanoeiros (Diogo de Medina, João Tavira, João Gago, Bartolomeu Pereira), Ponte Cidrão, Nova, Netos, Pelourinho (João Esmeraldo), Ribeirinho, Ferreiros, Santa Maria, Matoso, do Peixe, Cotijo, Carreira, Ponte, Conceição, S. Sebastião, Alfândega. do Frias, Marmeleiros, Pinhos e Beco do Baluarte.
e
9
e e
e
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74
)
)
1000
sec.
xv
séc. XVI -
1= metade
D
séc. XVI - 2~ metade
mm
sem data
500
o Madeira
Açores
MERCADORES NO MUNDO INSULAR.
Canárias
Séculos XV a XVI
rua «dos mercadores e franqueiras, ingleses e flamengos e outros forasteiros, e de homens ricos e de grosso trato ...•• ; a segunda estava reservada a «outros de menor trato, com a fruta, pano de linho e coisas de fancaria, que vêm de fora ... "; a última servia de <
mercadores do trato do açúcare 4 ); no século XVI estava-lhes reservada, em consequência da obrigatoriedade de os mercadores com casa de aluguer residerem apenas aí, o que mereceu o protesto dos visados e o pedido da revogação dessa postura s ). Não obstante, pela sua localização e costume da actividade comercial, esta rua manteve-se como o principal arruamento de residência e actividade do mercador, quer local quer estrangeiro. No século XVI dos oitenta e um mercadores com referência da morada temos 31 % com loja nessa rua e os restantes nas ruas circumvizinhas da alfândega.
e
Lojas de Comércio no Funchal RUA
N."
Direita Poço Novo Santa Maria Tanoeiros João Tavira João Esmeraldo Diogo de Medina Outros
%
31 8 7 3 3 2 2 25
38,3 9,9 8,6 3,7 3,7 2,5 2,5 30,8
-81
Total
100
o grupo de mercadores identificados no mercado insular para os séculos XV e XVI atinge o total de 1612, sendo a sua maioria oriundos da praça do Funchal; situam-se maioritariamente no século XVI (88%) e, nomeadamente, na segunda metade do século (63%), momento de grande movimento comercial no mundo insulare 6 ). No século XV apenas a praça do Funchal apresentava um avultado número de mercadores, que aumenta, de modo espectacular, no período subsequente, pois triplica na primeira metade do século XVI. Mercadores nas Ilhas MORADA
Madeira Açores Canárias
N."
%
957 546 118
59,2 33,8 7,0
Mercadores nas Ilhas sÉc. xv
S;.D.
1551-1600
1500-1550
MORADA N."
Madeira Açores Canárias
e
4
139 I 7
* 10,9 0,8 1,2
N."
*
459 180 380
35,9 15,0 67,3
N.'
679 1 002 142
%
53,2 83,3 25,1
N.'
7 1 36
%
O, I 0,8 5,8
) Dizia-se nesse documento que ..esta rua dos mercadores que he junto com ho mar esta povoada destes mercadores do Irauto do açúcar e outros que a esta pertencem ... " (A.R.M., C.M.F., Registo Geral, t. I, fi. I v.0-2 v.o, já cit.). Veja-se Ernesto Gonçalves, «João Gomes da ilha.. , in A.H.M.. XI, 44, 46; Manuel Juvenal de Pita Ferreira, "o Infante D. Fernando, terceiro senhor do arquipélago da Madeira, 1460-1470.. , in D.A.H.M.. n. O 39 (1963), 21; Álvaro Manso de Sçmsa, ..Ruas do Funchal (notas para o estudo da toponímia citadina)", in D.A.H.M.. n.o 5094, 10 de Julho de 1949, 268-269. s ) A.R.M., C.M.F .. Registo Geral, t. I, fls. 324 v.0-325 v.o, in A.H.M.. xvm, 536-537. s ). A diminuição de 15 % resulta única e exclusivamente de a nossa recolha ter incidido na primeira metade do século, período para o qual abundam publicações de documentos.
e
e
76
150
f~i~i~i~i~i~D
Canárias
~
ado erra
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100
:~ ~ ~ ~ ~ ~ ~:
50
li~ Espanha
-..l -..l
Açores
Itália
Portugal
Flandres
MERCADORES: ÁREAS DE PROVENTI::NClA
França
Inglaterra
A razão da sua importância no século XV e do aumento espectacular na primeira metade do século seguinte deriva da conjuntura sócio-económica madeirense. A Madeira foi de todas as ilhas do Atlântico a primeira a ser ocupada e a apresentar uma exploração agrícola com valor mercantil, que despertou a cobiça do mercador nacional e estrangeiro. Nos Açores e nas Canárias o processo arrastou-se por algumas décadas, e esses arquipélagos só assumiram idêntica posição no século XVI. Na Madeira, o açúcar fez atrair desde meados do século XV um numeroso grupo destes agentes, que se dedicaram quase em exclusivo ao seu comércio. A quebra desta produção na primeira metade do século XVI não provocou o desaparecimento deste mercador, pois ele irá adaptar-se às novas realidades e cambiantes da economia madeirense: primeiro substituindo o açúcar pelo vinho e, depois, por meio da ligação deste mercado às áreas produtoras brasileiras, o que viabilizava a sua actividade comercial em torno do ouro branco. As ilhas das Canárias e dos Açores só poderão apresentar essa multidão de agentes económicos quando usarem do essencial para a sua actividade, isto é, de um mercado vantajoso para as manufacturas e um conjunto adequado de produtos com valor mercantil. Tal só veio a suceder para as Canárias no início do século XVI com o açúcar, o pastel e os cereais; nos Açores essa situação só se definirá na segunda metade do século XVI, exactamente quando se atinge o maior número de agentes (83%); isso resultará da estabilidade adquirida pelo mercado açoriano e da sua valorização na economia atlântica, como um porto importante de escala Como vimos, o mercado insular, pelo seu posicionamento e importância na rede de trocas no Atlântico e pelas suas potencialidades sócio-económicas, fez atrair as atenções da burguesia comercial e marítima do velho continente que, por intermédio de Lisboa, Cádiz ou Sevilha, aí fixa morada ou se faz representar por agentes.
e').
Mercadores, estantes e vizinhos VIZINHOS
ESTANTES LOCAL N."
91 6 196
Madeira Açores Canárias
Total
--293
%
9,5 5,1 - -3624,4
N."
%
585 15 310
61 12 56
910
75,6
No global nota-se a posição privilegiada do mercador forasteiro ou estrangeiro que quase sempre repudia o seu carácter nómada para aí se fixar sempre como vizinho, penetrando e actuando activamente nas estruturas institucionais e económicas do mundo insular. As ilhas da Madeira e das Canárias ofereceram maiores garantias à intervenção do grupo de forasteiros sob o estatuto de vizinho ou de estante. No entanto os forasteiros temporários surgem com maior frequência nas Canárias; esta situação resulta da sua eficaz actuação, a partir de Sevilha, Cádiz e Medina deI Campo, por meio de agentes ou de familiares, o que iIÍviabiliza a necessidade de permanência no arquipélago; além disso define de modo cabal uma situação peculiar da economia canária, isto é, a sua subordinação aos interesses e intervenção da burguesia comercial e marítima da região de Andaluzia. Aliás, entre forasteiros é importante a presença dos agentes com morada fixa no reino: Castela e Portugal.
e
7
1979.
78
)
Veja-se Maria Olímpia da Rocha Gil, O Arquipélago dos Açores no século XVll / ... /, Castelo Branco,
o grupo de mercadores estrangeiros oriundos das principais praças europeias é dominante nos três arquipélagos, atingindo 14% na Madeira, 9% nos Açores e 31 % nas Canárias. Nesse grupo sobressaem, na Madeira e nas Canárias, os italianos e os flamengos, e nos Açores os ingleses. Mercadores estrangeiros MADEIRA
AÇORES
CANÁRIAS
ORIGEM N,"
França Itália Flandres Inglaterra Reino Outros
32 50 36 10 105 724
%
3,3 5,2 1,0 1,0 11 75,7
N,"
I 3 5 5 104
%
0,9 2,5 4,2 4,2 88,1
N,"
5 92 53 3 139 252
%
0,9 16,9 9,7 0,6 25,5 46,2
o aparecimento da burguesia comercial e marítima estrangeira na sociedade insular prende-se com a actuação de determinados factores de ordem conjuntural e estrutural. Uma multiplicidade de solicitações e de condições de fixação conduziram à sua valorização na economia e na sociedade insulares. O conhecimento e a ocupação do vasto espaço atlântico, não obstante a direcção das coroas de Castela e Portugal, não ficou isento da presença estrangeira. nomeadamente italiana. Os italianos comprometidos com as navegações atlânticas, aparecem desde o século XV como o grupo estrangeiro mais influente no Mediterrâneo Atlântico, ligando-se às actividades administrativas, produtiva e comercial. Será no seguimento desta vaga inicial que teremos, em finais do século XVI, a sua implantação em força na Madeira e nas Canárias, de que resultou a sua posição dominante no grupo de mercadores. Atraídos pelos lucros do açúcar e do pastel surgem, no século XVI, novas levas de mercadores oriundos das praças europeias do norte, como os flamengos e ingleses que, ao contrário dos italianos, se apresentam apenas com o estatuto de mercador-transportistabanqueiro, e só muito raramente como mercador proprietário. A Madeira atraíu a primeira vaga destes mercadores forasteiros, mercê da prioridade na ocupação e exploração do açúcar. Só o impediam as ordenanças limitativas à sua residência na ilha, resultantes da sua tendência para a rápida fixação e para controle dos circuitos comerciais madeirenses. . Em meados do século XV a coroa facultava a entrada e fixação de italianos, flamengos, franceses e bretões, por meio de privilégios especiais, como forma de assegurar um mercado europeu para o açúcares). Mas a presença e a influência desses homens foram lesivas para os mercadores nacionais e para a coroa, pelo que se tornou necessário impedir que eles pudessem «asy soltamente trautar todos» 9 ); deste modo o senhorio ordena a proibição da sua permanência na ilha como vizinhos eo). A questão foi levada às cortes de Coimbra de 1472-1473 e de Évora em 1481, reclamando a burguesia do reino contra o monopólio de facto dos mercadores genoveses e judeus no comércio do açúcar; para isso propunha a sua exploração nesse regime a partir de Lisboa 1 ),
e
e
(2B) Veja-se nota 19; Alberto Artur Sarmento, A Madeira e as praças de África. Funchal, 1939, 9. (29) A.R,M., C.M.F., Registo Geral, l. I, fis. 5 v,o·6. Lisboa, 6 de Outubro de 1471. carta régia sobre o trauto do açúcar, in A,H,M., XV, 57; {bidem, fis, 148-148 v,o, Beja, 5 de Março de 1473, carta da infanta
D. Be(ltriz acerca dos estrangeiros, in A,FI,M" XV. 68, eu) {lJidem. 1) Esta situação surge no senhorio do inf(lnte D. Fernando. Veja-se Manuel Juvenal de Pita Ferreir(l, ibidem, 22; Joel Serrão, "O Inf(lnte D, Fernnndo e a Madeira (1461-1470) I" .1 .. , in D,A.FI.M" n.o 4 (1950).
e
79
o monarca, comprometido com essa poslçao vantajosa dos estrangeiros, mercê dos privilégios concedidos, actua de modo ambíguo, procurando salvaguardar os compromissos anteriormente assumidos e atender às solicitações dos moradores do reino; por isso estabelece limitações à residência dos estrangeiros no reino, fazendo-a depender de licenças especiais z ); quanto à Madeira define a impossibilidade da sua vizinhança sem licença sua, ao mesmo tempo que os interdita de revenda no mercado local 3 ); a câmara, por seu turno, baseada nestas ordenações e no desejo expresso dos seus moradores, ordena a sua saída até Setembro de 1480, no que foi impedida pelo senhorio 4 ); somente em 1489 se reconhece a utilidade da sua presença na ilha, ordenando D. João II a D. Manuel, então Duque de Beja, que os estrangeiros fossem considerados como «naturaes e vizinhos de nossos regnos» s ). Os problemas do mercado açucareiro da década de 90 conduziram ao ressurgimento desta política xenófoba. Os estrangeiros passam a dispor de três ou quatro meses, entre Abril e meados de Setembro, para comerciar os seus produtos, não podendo dispôr de loja e feitore Ó ); em 1493 D. Manuel reconhece o prejuízo que as referidas medidas causavam à economia madeirense, afugentando os mercadores, pelo que revoga as interdições anteriormente impostas 7 ). As facilidades concedidas à estada destes agentes forasteiros conduzirão à assiduidade da sua frequência nesta praça, bem como à sua fixação e à sua intervenção de modo acentuado na estrutura fundiária e administrativae s ). A comunidade de mercadores estrangeiros na Madeira estava dominada pela presença italiana, seguida da dos flamengos e dos franceses; todos surgem aí atraídos pelo tão solicitado ouro branco.
e
e
e
e
e
Mercadores Estrangeiros na Madeira ORIGEM
Flandres França. Inglaterra Itália Castela Alemanha Holanda
Total
N."
36 32 10 50 17 11 1 157
%
3,8 3,3 1,0 5,2 1,8 1,1 0,1
--14,3
15-17; Maria José Pimenta Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no século XV, Lisboa, 1982,279-80; V. Rau, O açúcar na Madeira / .. ./, 29-30; Idem, The Setlement Df Madeira and the sugar cane plantations, W., 1964, 8-9; H. Gama Barros, História de Administração Pública em Portugal, X, 149-155; Fernando Augu;;to da Silva, «Estrangeiros» in Elucidaria Madeirense, I (1940), 419-421; Charles Verlinden, «Les débuts de la production et exportation du sucre à Madere. Quel rôle y jouerent les italiens", in Studi iII Memoria de Luigi dei Palie, Roma, 1982, 301-310. (3Z) H. Gama Barros, ibidem. X, 152-153; ibidem, vol. 330; V. Rau, O açúcar na Madeira / ... /. p. 26. nota 27; Monumenta Henricina, XV, Coimbra, 1974, 87-89. (33) A.R.M., C.M.F.. n. O 1298, fi. 37, 22 de Dezembro de 1485; ibidem, fi. 68 v. o , 15 de Abril de 1486; ibidem. fi. 87 v. o , 7 de Junho de 1486. 4 C.M.F., Registo Geral. t. I, fIs. 292-293, Lisboa. 7 de Agosto de 1486. ) A.R.M" s ) A.N.T.T., Gavetas, XV-5-8, Évora, 22 de Dezembro de 1489, sumariado in As Gavetas da Torre do Tombo, IV. Lisboa. 1964. 169-170. (36) H. Gama Barros ibidem, X. 155; Fernando Jasmins Pereira, Alguns elementos para o estudo da História económica da Madeira / , .. /139-162; A.R.M., C.M.F.. Registo Geral. t. I, fls. 262 v. 0 -269 v. o • Torres Vedras, 12 de Outubro de 1496. in A.H,M.. XVII, 350-358; lbidem, n. O 1302. fIs. 83-83 v. o • 26 de Novembro de 1496. 7 ) A.R.M., C.M.F" Registo Geral, t. I, fls. 291 v. 0 -292, Lisboa, 22 de Março de 1498 in A.H.M.. XVII. 369. Veja-se Álvaro Rodrigues de Azevedo, «Anotações", in Stllldades da Terra. Funchal, 1873. 681-682. (38) Alberto Vieira. O regime de propriedade na Madeira. O caso do açúcar (1509-1532) (em vias de publicação).
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Os italianos, em especial os florentinos e os genoveses, conseguiram implantar-se na Madeira, desde meados do século XV, como os principais agentes do comércio do açúcar, alargando depois a sua actuação ao domínio fundiário, por meio da compra e laços matrimoniais 9 ). Na década de 70, mediante o contrato estabelecido com o senhorio da ilha, detinham já uma posição maioritária na sociedade criada para o efeito, sendo representados por Baptista Lomellini, Francisco Calvo e Micer Leão (40). No último quartel do século vêm juntar-se a estes Critóvão Colombo, João António Cesare, Bartolomeu Marchioni, Jerónimo Sernigi e Luis Doria. A este grupo inicial seguiu-se, em princípios do século XVI, outro grupo mais numeroso, que alicerçou a comunidade italiana residente; entravam nele Lourenço Cattaneo, João Rodrigues Castigliano, Chirio Cattaneo, Sebastião Centurione, Luca Salvago, Giovanni e Lucano Spinola. Os mercadores-banqueiros de Florença evidenciaram-se nas transacções comerciais e financeiras do açúcar madeirense no mercado europeu. A partir de Lisboa, onde adquirem uma posição privilegiada junto da coroa, mantêm e orientam uma extensa rede de negócios que abrange a Madeira e as principais praças europeias. Primeiro conseguem da fazenda real o quase exclusivo do comércio do açúcar resultante dos direitos reais por meio do contrato; depois apoderam-se do açúcar em comércio, tomando o exclusivo dos contingentes estabelecidos pela coroa, em 1498 (41). Assim teremos Bartolomeu Marchioni, Lucas Giraldi e Benedito Morelli com uma clara intervenção no trato do açúcar, na primeira metade do século XVI (42). A manutenção dessa rede de negócios fazia-se por meio da intervenção directa destes mercadores e por meio de procuradores ou de agentes subestabelecidos. Benedito Morelli, em 1509-1510, tinha na ilha como seus agentes para o recebimento do açúcar dos quartos Simão Acciaiuolli, João de Augusta, Benoco Amador, Cristóvão Bocollo e António Leonardo(43). Marchioni, em 1507-1509, fazia-se representar em operações de idêntica índole por Feducho Lamaroto (44). João Francisco Affaitati, cremonês, agente em Lisboa de uma das mais importantes companhias comerciais da época, teve uma participação muito activa nesse comércio entre 1502 e 1526, por meio de contratos de compra e venda dos açúcares dos direitos reais (1516-1518, 1520-1521 e 1529) e pagamentos em açúcar a troco da pimenta (45); este mercador actua quer em sociedade com Jerónimo Sernigi, João Jaconde, Francisco Corvinelli e Janim Bicudo, quer isoladamente, tendo para o efeito como feitores e procuradores na ilha Gabriel Affaitati, Luca António, Cristóvão Bocollo, Capela de Capellani, João Dias, João Gonçalves, Matia Manardi e Maffei Rogell.
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9 ) Virginia Rau comenta, a propósito: "E uma vez que os italianos se aferraram 110 comércio de exportação do açúcar da Madeira. servidos por uma vasta rede comercial e financeira disponta sobre toda a Europa, fácil lhes foi também penetrarem com o tempo na posse de terras e transformarem-se então em produtos e proprietário da ilha da Madeira I , "/ a Madeira terá sido para os italianos, em grande parte,.a ilha de grande comércio de exportação do açúcar durante a segunda metade do século XV e primeira metade do século XVI, até ao advento e tempo da grande exportação do açúcar do Brasil em meados deste último século.. (ibidem, 32). Sobre a presença italiana na Madeira veja-se Charles Verlinden, ob. cit,; M. do Rosario: Genoveses na História de Portugal, Lisboa, 1977; Prospero Peragallo, Cenni in torno alia colonia italiana in Portogallo nei Secoli XIV, XV e XVI, Génova, 1882; Domenico Geoffré, "Le relazioni fra genova e Madera nel I decenio deI secolo XVIo>, in Srudi Colombiani, III, Génova, 1952, 435-483; Carlos Passos «Relações históricas luso-italianas .. , in Anais da Academia Portuguesa de História, 2. a série, VII, Lisboa, 1856, 143-240 «Italianos na Madeira" in A.H.M, V (1937), 63-67; Jacques Heers, Gêlles au XVe siecie, Paris, 1977, 335; Virginia Rau, "Uma familia de mercadores italianos em Portugal no século XV: os Comellini" in Estudos de História, I, Lisboa, 1968, 33-36, (40) Virginia Rau, O açúcar na Madeira 1 ... /. 29. (41) Fernando Jasmins Pereira, O açLÍcar madeirense de 1500 e 1537 / .. ,/, 61-65. (42) Ibidem. 61-91; Idem, Os estrangeiros na Madeira. 88, 115-117 e 125-128. (43) Idem, Os estrangeiros na Madeira, 19, 27, 60, 105, passim, (44) Ibidem. 115-118. (45) Ibidem, 22-26,
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Venda do açúcar dos direitos na Madeira 1502-1534 MERCADOR
João Francisco Affaitati
Pedro de Ayala Jerónimo Bicudo Jorge Lopes Bixorda Charles Correa João Coquet Francisco Corvinelli João Jaconde Nunes Henriques Gabriel Fernandes João de Freitas Bach. Bartolomeu Lopes Marchionni Tobias Marim Bernardim de Medina Manuel Mendes Braz Teles de Menezes Pedro de Mimença João .de Miranda Luiz Vaz di Negro Henrique Nunes João de Odom João de Quintana João Rodrigues Castelhano António Salvago João Saraiva Afonso de São Victor Jerónimo Serinigi, com J. F. Affaitati Afonso de Sevilha
AÇÚCAR
DATA
1502 1504 1587 1516 1517 1520-21 (') 1527e) 1528 1527 (') 1524e) 1531 1526 (4) 1530 (5) 1502 (6) 1502 (6) 1527e) 1534 (') 1512(8) 1520 1507 1512 1535 (g) 1530 ('0) 1534 (') 1524 1536 1524 e) 1527 e) 1524 1535 (g) 1537 ('0) 1527 e) 1530 (5) 1530 (5) 1502 1512 (8) 1537 ('0) 1502 1530
18000 arrobas de escápulas com Jerónimo Semigi 35 000 arrobas 6000 arrobas direitos do açúcar branco direitos do açúcar branco e mel direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar 10 000 e 12 000 arrobas de açtlcar 12 000 arrobas de açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar 3 000 arrobas de açúcar 3 000 arrobas de açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar 12 000 arrobas de açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar direitos do açúcar 18 000 de escápulas direitos do açúcar direitos do açúcar 18 000 de escápulas direitos do açúcar
Fonte: Fernando Jasmins Pereira. O açúcar madeirense... 80-92 I) 2) 3) 4) 5) 6) 7) 8) 9) lO)
Janim Bicudo e J. F. Affaitati Pedro Ayala. Nuno Henriques, João de Miranda e João de üdom Jorge Lopes Bixorda e Pedro de Mimença Charles Correa e Pedro de Mimença João Coquet. Bemardim Medina, João Rodrigues Castelhano. Afonso de Sevilha e João de Quintana João Jaconde e Francisco Corvinelli Gabriel Fernandes e Manuel Mendes João de Freitas e João Saraiva Tobias Marim e Henrique Nunes Henrique Nunes e Afonso de São Victor
A tRenetração deste grupo de mercadores na sociedade madeirense foi muito acentuada (4 ). O usufruto de privilégios reais e o interrelacionamento familiar conduziram à sua plena inserção na aristocracia terratenente e administrativa; na sua maioria, apresentam-se (46) Ibidem, 23.
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como proprietários e mercadores de açúcar, instalam-se nas terras de melhor e maior produção; e, por meio de compra e laços matrimoniais, tomam-se nos mais importantes proprietários de canaviais. Assim sucede com Rafael Cattano, Luis Doria, João Esmeraldo, João e Jorge Lomelino, João Rodrigues Castelhano, Lucas Salvago, Giovanni Spinola, João Antão, João Florença, Simão Acciaiolli e Benoco Amatori. A sua intervenção na estrutura administrativa madeirense abrange os domínios mais elementares do governo, como a vereação e repartições da fazenda, que incidiam sobre a economia açucareira. Surgem, assim, como almoxarifes e provedores da fazenda; e têm uma intervenção forte na arrecadação dos direitos reais, aparecendo ainda como rendeiros.
Arrendamento dos direitos reais na Madeira RENDEIRO
DATA
e)
Jerónimo Rodrigues e Quirino Catanho Benoeo Amatori Martim de Almeida, Benoeo Amatori, Arrnão Alvares e), Quirio Catanho. Alvaro Dias, Fedueho Lamoroto (4), João Lombardo (5), Henrique Vandura (6) Martim de Almeida, Benoeo Amatori, Quirio Catanho, Atanho, Alvaro Dias, João Lombardo, Francisco Vio-Viola Lamoroto Rafael Catanho Benedito MorelJi (8) Simão Aeeiaiolli (9), Lopo de Azevedo, Luis Dória eo), Benedito Morelli, Antonio Spinola et 1) Gregório Alvares (12), Duarte Fernandes et 2), Gonçalo Pires 2 )
e)
e)
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RENDA
1503-1506 1503
alfândega quartos
1506-1508
quartos
1506-1508 1506 1509-1511
alfândega miunças de Machico quartos e ai fândega
15161518
quartos e alfândega
Fonte, Fernando Jasmins Pereira, O açúcar madeirense ... 61-65 I) Genovês, fixou-se na madeira c. de 1500 2) Florentino, tio de Simão Aeciaiolli, casou com Petronila Gonçalves e em 1509 possuia casa em Santa Cruz e lavoura no Funchal, faleceu em 1517 3) Alemão, mestre em açúcar, estabelecido na Madeira desde o século XV 4) Mercador florentino, residente na ilha desde 1504 5) Mercador residente na Ilha com canaviais na Ponta de Sol 6) Mercador flamengo 7) Irmão de Quirio Catanho, mercador genovês 8) Mercador florentino residente em Lisboa 9) Florentino de família nobre, residente na ilha 10) Genovês, residente na ilha desde 1480 II) Genovês. residente na ilha desde 1505 12) Mercadores de Ponte Lima
Tal como os italianos, os franceses e flamengos surgem na ilha, desde finais do século XV, atraídos pelo rendoso comércio do açúcar; mas já não se enraizam na sociedade insular, mantendo a sua condição errante; na verdade, o seu interesse é única e exclusivamente a aquisição do açúcar a troco dos seus artefactos, alheando-se da realidade produtiva e administrativa locais. Os franceses distinguem-se pelas suas operações de troca em tomo do açúcar (20%), enquanto os flamengos mantêm uma posição subalterna, mesmo como grupo interveniente no mercado madeirense; no entanto, aliam a Madeira a rede de negócios das Canária.s, que surge como ramificação das praças nórdicas e andaluzas; a sua condição de estantes limitou o seu aparecimento e rastro na sociedade madeirense, pelo que se torna impossível avaliar da sua importância. Os mercadores franceses têm uma presença muito activa no comércio do açúcar da Madeira na primeira metade do século XVI; aparecem com frequência nas comarcas do Funchal, Ponta de Sol, Ribeira Brava e Calheta, onde adquirem grandes quantidades de
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açúcar que transportam em embarcações suas. Nesse trato evidenciaram-se mestre António, Archelem, António Coyros, António Caradas e Francisco Lido (47). Nos Açores a inexistência de uma forte rede de negócios em tomo do açúcar, bem como a sua desvalorização em favor do pastel e dos cereais, limitaram as possibilidades de intervenção da burguesia italiana e castelhana, e abriram as portas à intervenção de flamengos e ingleses, interessados no comércio do pastel. Linschoot, em 1589, refere que o comércio do pastel era feito por franceses, ingleses e escoceses (48); quanto a Ponta Delgada, diz-nos que aí «vão mercadores franceses, ingleses e escoceses buscar o pastel mais do que vão à Terceira, e que lá levam mais de duzentos _quintais todos os anos" (49). Esta assídua frequência de mercadores estrangeiros nos portos de Ponta Delgada e de Angra era considerada pelos seus vizinhos como ruinosa, pelo que solicitaram ao monarca, em 1557, medidas limitativas da sua actuação(50). No entanto, estas pretensões só foram atendidas na década de 80, já sob o domínio filipino'; através de uma guerra de represálias interditou-se o mercado açoriano à sua intervenção, primeiro com a proibição de venda das suas mercadorias, depois, proibindo a sua actividade nas ilhas (51); todavia, esta proibição não surtiu o efeito desejado, uma vez que os por ela visados se mantiveram activos, servindo-se da intervenção de outros mercadores, pelo que em 1590 e 1596 o governo espanhol reforçou a represália (52). As Canárias estiveram, ao longo dos séculos XV-XVI, sujeitas à investida de mercadores forasteiros, que participaram activamente na conquista e ocupação, relançamento das bases da estrutura sócio-económica, e também na activação e manutenção dos circuitos comerciais; primeiro os portugueses e genoveses, depois, os flamengos e franceses. Os genoveses, fortemente implantados na Andaluzia, tiveram no século XV uma participação muito activa no comércio da urzela e escravos deste arquipélago. (53). O seu interesse pelo comércio nesta área comprometeu-os com o processo de conquista, e este conduziu ao reforço das suas actividades comerciais no arquipélago e na sociedade nascente (54); desalojados das suas feitorias e cidades no Mediterrâneo, impedidos de aí comerciar pelos árabes e pelas rivalidades políticas dos seus irmãos, procuraram no Mediterrâneo Atlântico o lugar ideal para a sua morada; a Madeira, Gran Canaria e Tenerife serão, assim, nos séculos XV e XVI, a sua pátria atlântica, onde se fixam como vizinhos, tomando-se em poderosos proprietários, mercadores e prestamistas. (47) /bidem, 82-83. 8 (4 )
«História da navegação de J. H. Linschoot.. , in B.l.H.l.T., n.o I (1943), 152-154.
(49) /bidem, 154. (50) Francisco Ferreira Drumond, Anais da /lha Terceira, I, 36; Luis da Silva Ribeiro, «Formação histórica
. do povo açoriano» in Obras /I, Angra do Heroísmo, 1983, 58-59. (51) B.P.A.P.D., Ernesto do Canto, Extractos de documentos micaelenses, vol. IV; L.0 I da Câmara de Ponta Delgada, fi. 125. provisão régia de 22 de Junho de 1586; Maria Olímpia da Rocha Gil, O porto de Ponta Delgada e o comércio açoriano no século XV/I / ... /, 87. (52) /bidem, p. 87; Idem, Os Açores e a rede de negócios no Atlântico seiscentista / .. '/' 558-559. (53) A diáspora genovesa em direcção ao Atlântico resulta de causas político-económicas subjacentes às cidades e feitorias mediterrânicas; veja-se Hipolito Sanch() de Sopranis, «Los Sopranis en Canarias I49?-1620», in Revista de História, XVII (1951), 319-323; Miguel Angel Ladero Quesada, «Ia economia de las islas canarias a comienzos dei siglo XVI», in Historia General de las islas Canarias, III, 124-138; Charles Verlinden, «modalités et methodes de Commerce colonial dans I'empire espagnol au XVle siec1e... in Revista de Índias, n,o 48 (1952). 256-257; Francisco Morales Padron, Sevilha, Canarias y America, Gran Canaria, 1977, 183-187. (54) Manuela Marrero Rodrigues, «Los genoveses en la colonización de Tenerife (1496-1509) .. , in Revista da História, XVI (1950), 52-65; Idem, «Los Italianos en la fundación de Tenerife», in Studi in onore di Amintore Fanfani, vol. V, Milano, 1962,331-337; Manuel Lobo Cabrera. Protocolos de Alonso Gutiérez, Tenerife, 1929, 19-20; Hipolito Sancho de Sopranis, ibidem,' Antonio Rumeu de Armas, Alonso de Lugo en la corte de los Reyes católicos (/496-/497) Madrid, 1954; Idem, La conquista de Te/lerije, Tenerife. 1975, Leopoldo de la Rosa Oliveira, "Francisco de Riberol y la colonia genovesa en Canarias», in A.E.A., n.o 18 (1972), 61-198; Idem, "La varia Fortuna de los Rivarola», in A.E,A., n.o 12 (1966), 167-200; Charles Verlinden, «GIi italiani nell'economia deiie êanarle alI'inizio delIa colonizazione spagnola», in Economia e Storia, VII, n.o 2 (1960), 140-172; Idem, «Le influenze italiane nelIa colonizazione iberica (Uomini e metodi)>> in Nllova Rivista Storica. XXXVI (1952).
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Destes mercadores genoveses poderemos identificar três tipos, de acordo com o seu modo de fixação: 1. Conquistadores, que tomam parte activa nas conquistas das Canárias, como guerreiros e financiadores das expedições; 2. Povoadores, que surgem após a conquista, usufruindo dos incentivos inerentes ao processo de ocupação; e 3. Mercadores, solicitados peIo desenvolvimento das relações de troca locais, que surgem temporariamente, dedicando-se ao comércio de manufacturas e açúcar, apoiados pela intervenção dos seus compatrícios aí residentes. Conquistadores e povoadores adquirem importância na sociedade nascente, em Tenerife e Gran Canaria, tornando-se nos mais importantes hacendados, com uma intervenção directa e activa na administração, comércio e finança; neste grupo, incluem-se Mateo Vifia, Cristóbal Ponte e Tomás Justiniano, que surgem em Tenerife como os mais ricos da ilha (55). Em Gran Canaria a sua implantação é mais clara e dominadora da economia açucareira local, pois aí representam 70%, enquanto em Tenerife não ultrapassam os 28%; apesar disso, Clavijo Hemandez considera que a ilha de Tenerife foi o centro mercantil dos genoveses (56). A razão dessa implantação em Gran Canaria deriva da sua acção na conquista, povoamento e lançamento das principais arroteias para os canaviais; de financiadores da conquista passam a financiadores de plantação e safra dos canaviais. Incluem-se neste grupo Francisco Riberol, António Manuel MayueIlo, Bautista Riberol e Jacome Sopranis (57). A sua importância fica revelada pela posse do patronato de capela maior do convento de S. Francisco e pela designação de uma rua - calle de los genoveses (58). Tal como na Madeira, eles intervêm na vida administrativa local, como funcionários ou rendeiros dos direitos reais; é o caso de Juan Leandro e Luis de Couto, que em 1524 surgem como arrendatários das terças reais (59). Sendo certa a fixação de muitos genoveses na sociedade canária, surgindo aí como componentes importantes da aristocracia fundiária, não é menos certa a sua presença com carácter temporário; aliás o número de mercadores genoveses referenciados em Gran Canaria sob o título de estantes, de acordo com a enumeração de Guilherme Camacho y Pérez Galdos, é quatro vezes superior ao dos vizinhos (60); ao invés, em Tenerife os vizinhos representam 57%. A primeira situação explica-se pelo facto de a maioria destes agentes se dedicar ao comércio de exportação de açúcar e de importação de manufacturas, o que implicava um movimento assíduo nas ilhas e entre estas e a Europa(61); além disso, esses homens tinham, na sua maioria, as suas casas instaladas na costa andaluza, mantendo uma rede de negócios em todo o mundo atlântico, com familiares, feitores ou procuiadores (62); Francisco Riberol, por exemplo, um dos mais importaI1tes mercadores genoveses, residia ora em Sevilha, ora em Gran Canaria, tendo, aliás, nesta ilha grandes interesses na economia açucareira (63). (55) Manuel Lobo, Ibidem, 19; Manuela Marrero Rodrigues, Los gelloveses ell la orgallizatioll de Tene~ife / ... / 57; Eduardo Aznar, ob. cU .. 196; Augustin Guimerá Ravina, .. El repartimiento de Daute (Tenenfe: 1498-1529), in III C.H.C.A .. I, 1978, 127-128, 133-134, (56) Fernando Clavijo Hernandez, Pr%colos dei e,~crib{/no f1erlláll guerra, 39-40, (57) Guilhermo Camacho y Pérez Galdós, ob. cit" 41-42, 49-50, 52-54. (5B) Ibidem. 52. . . (59) A.H.P.L,P., A. S. Clemellte, n. o 2316, 436, Galdar, 22 de Janeiro de 1524, dívida aos arrendatanos
n.
das terças reais. . . h N (60) Ob. cit .. 524, Este autor referencia oitenta e oito mercadores genoveses, sendo 81,82% VIZI~ ?s, a nossa recolha das fontes impressas apenas encontrámos cinquenta e quatro sendo 70% estante 29% VIZinhos. (61) R. Diaz Hernandez, EI aztlcar ell Ca,wria, Las Palmas, 1982, 41. (62) A. Cioranescu, História de San/a Cruz / ... /, t. I, 1977, 102. Manuel Lobo Cabre~a refere que ..los mercadores agentes como los capitalistas, residen indiferentemente tanto en el lugar de producclon como en el de comercialización, anque lo eorriente es que los agentes residan en los primeros y los capitalistas en los segundos.. (EI comercio entre Orall Callaria y Flalldres !Iasta 1558 / .. ./, 47). (63) Eduardo Aznar Vallejo, ob, cit., 196; Fernando Clavijo Hernandez, ibidem, 38-40.
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Em síntese pode-se dizer que o mercador genovês teve uma actuação primordial na economia canária, dominando quer a exploração dos recursos com v\ilor mercantil (urzela), quer a produção para troca no mercado europeu (açúcar), quer ainda, a venda de manufacturas de importação (64). Os genoveses surgem na sociedade canária como os mais representativos (91 %) da comunidade italiana, não obstante a presença activa dos lombardos e dos florentinos nas operações financeiras; entre estes sobressaem Juanoto Berudo, florentino e conquistador de La Palma e Jacome de Carminátis, lombarda, que aliava o comércio à agricultura e à actividade artesanal (65). A comunidade flamenga será uma componente de quase igual importância na economia e sociedade canária. Não obstante a intervenção isolada de um ou outro como mercador ou conquistador no século XV, os flamengos só chegam ao arquipélago nos começos do século XVI, adquirindo notoriedade a partir da década de 20(66); atraídos pelo comércio do açúcar e das plantas tintureiras (pastel, urzela), estabelecem uma rota importante para a exportação desses produtos e de importação da rapa. A sua actividade alargava-se a todos os sectores do mercado, desde a venda em tenda à concessão de empréstimos em dinheiro e mercadoria, ao comércio externo das ilhas; estabeleceram deste modo uma importante rede de negócios no arquipélago, a partir das ilhas de Gran Canaria, La Palma e Tenerife(67). Esta última atraiu maior número de mercadores dos países baixos, tendo-se afirmado como principal pólo de fixação e manobra; aí apartaram 57% dos mercadores flamengos, enquanto a Gran Canaria apenas chegaram 32% e La Palma um reduzido grupo de 8%. O mercador flamengo que aparece nas ilhas de Tenerife e Gran Canaria é na sua maioria visitante, sendo reduzido o número com morada fixa (15%); na primeira temos 87% como estantes e na segunda 76%. As suas operações, por que se circunscreviam ao domínio comercial-financeiro e de transporte, não implicavam uma permanência constante no arquipélago; a sua estada é temporária, limitando-se ao tempo necessário para a venda da rapa e' a compra ou troca do açúcar para a viagem de retorno; apenas quando as dificuldades e as delongas das suas operações lhe impossibilitavam o retomo rápido o mercador se via (64) O comércio de manufacturas en Gran Canaria estava sob controle dos mercadores genoveses e flamengos, salientando-se, nos primeiros, Sebastián Burón, Jerónimo de Franquez, Juan Batista ViRa e, nos segundos, Lamberto Broque; Veja-se A.H.P.L.P., Roque de COlitO. n.o 857, passim; Manuel Lobo Cabrera, Indices y extractos / .. ./, 16. (65) Manuela Marrero Rodrigues define de modo exemplar esta predomináncia e trifuncionalidade dos genoveses: .. Los mercadores que no desdénan modalidad alguna de negocio y ai miesmo tiempo forrcn sus capitales tento en operaciones muy lucrativas como en otras menos brillantes y de menos rendimiento. Los genoveses, vecinos de Tenerife, son empresarios agrícolas con capital y haciendo que demonstram' saber valorizar la tierra más ingrata que les he tocado en repartimiento. Además sou mercadores venden los productos de su plantación y traten de ampliar 5U actividad comercial, sin oluidar su condición de pustamistas pera la actividad de los genoveses es doble. Unos participan tanto de la producción corno de la distribuicción, miutros oIros se dedicam como actividad única a Ia prestación de servicios". (Pr%colos del escriballo Juan Roiz de Berlanga. Tenerife, 1974, 40-41; Eduardo Aznar Vallejo, oh. ci/., 197-198. (66) Para o conhecimento de colónia flamenga nas Canárias veja-se Manuela Marrero Rodrigues, «mercadores flamengos / ... / ", IV C.H.C.A .. 1(1980), 599-614; Idem .
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forçado a assentar morada; em alternativa, e a prática era corrente, fazia-se substituir por meio de procuração, por feitores ou agentes. ' Apenas em La Palma nos deparamos com uma pequena comunidade fixa com forte implantação no meio sócio-económico da ilha. Em primeiro lugar tivemos a intervenção dos Welsers na economia canária por intermédio de Juan Bisen e Jácome de Monteverde investindo capitais no sector produtivo com a compra de importantes terrenos em Tazacort~ e los Danos; Jácome de Monteverde, ao adquirir a titularidade deste património fundiário, tornou-se um dos principais proprietários do arquipélago (68). A ele juntaram-se em 1562 os :van de WaIJe ~ue aí fIxam morada e adquiriram terrenos (69); esta família, como componente mfluente da Cidade de Bruges, conduziu à valorização das rotas comerciais das Canárias com a Flandres. O mercador flamengo, coma mesma facilidade que o genovês, penetra na soci~~ade insular. adquirindo o estatuto de vizinho, relacionando-se com as principais famllIas desta SOCiedade nova e comandando os activos circuitos comerciais com as cidades de origem - Bruges e AnversCo). Os mercadores oriundos dos reinos peninsulares surgem como o grupo mais numeroso dos forasteiros na Madeira (13%), Açores (5%) e Canárias (28%); são geralmente originários das regiões costeiras da península com tradição marítimo-comercial; assim na Canárias dominarão as regiões andaluza e a catalã, enquanto que na Madeira e nos Açores pertencerá a região de Entre-Douro-e-Minho. Para a Madeira surgem três áreas perfeitamente delineadas dos mercadores oriundos do reino: Algarve (9%), Lisboa (13 %) e norte do DouroOI %), sendo as mesmas dominads por algumas vilas e cidades costeiras importantes, como Lagos, Tavira, Lisboa, Ponte Lima, Caminha, Vila Real e Vila do Conde. Os contactos com a região de entre Douro e Minho iniciaram-se muito cedo, pois desde 1477 que há referência a um comércio assíduo de panos e outros produtos desta área a troco de açucar da ilha (71). Ao invés, nas Canárias a maior participação surge da região andaluza (35%), dominada pelas principais cidades da bética: Sevilha (9%) e Cádiz (4%). A vinculação comercial da região andaluza é anterior à conquista das Canárias, reforçando-se com esta (72). Aos andaluzes seguem-se os catalães (12 %), cuja comunidade nas Canárias, ao contrário da andaluza e galega, se dedicava em exclusivo ao comércio, com uma intensa actividade em Tenerife, Gran Canaria e na zona de Cádiz e Sevilha; os poucos que fixam morada nas Canárias, como Rafael Fonte e Pedro Benavente, não renegaram a sua ascendência e a sua actividade, mantendo contactos assíduos com a sua região de origem e activando um sistema de trocas entre si ('3). (68) Eduardo Aznar Vallejo, ob. dt .. 198, M. A. Ladero Quesada, La economia de las islas Canarias / .. ./, já citado, 129. (69) E. Stols, ibidem, 906, 9% 9, 914; M. A. Ladero Quesada, ibidem, 129. eo) Giles Hana, mercador flamengo, vizinho de Daute (Tenerife) casou-se com Francisca de Canninatis filha do mercador lombarda, Juan Jácome de Carminatis que por sua vez era casado com Juana Joven, filha de Jaime Joven, mercador catalão, vizinho de Tenerife; Juan de Xembrens, mercador flamengo, vizinho de Tenerife, casou-se com Ana de Betencor, filha de Guillén de Betencor. Veja-se Manuela Marrero, Los mercadores flamengos / ... / 611-614. ('1) Joel Serrão, "Em torno das condições económicas de 1640", in Vértice, X-XI, 1951, 6: Ernesto Gonçalves, "João Gomes da ilha», A.H.M., XI, 46. Gaspar Frutuoso (ob. cil" L. 0 II, 358-359) refere que em 1566, no momento de assalto francês ao Funchal, residiam na Rua do Sabão dois mercadores de Guimarães com "suas logeas de mercadorias de pano de linho e de burriés". Luis de Sousa e Melo ("Emigração na Madeira ... in História e Sociedade, n. O 6, 1979,49-52) em estudo sobre a imigração madeirense, entre 1539-1600. refere que os indivíduos oriundos da região de Entre Douro e Minho represen!avam 50%. (72) Eduardo Aznar ValIejo, ob. cit., 16, Idem, "Relaciones comerciales entte Andalucia y Canarias a finis deI siglo XV y comienzos deI siglo XVI», in Coloquio de Historia Medieval Andaluzia, Sevilha, 1982. ('3) Manuel Lobo, Protocolos de Alonso GlItiérrez. 16; Idem, Los galejos en canarias I .. ./ 213: Manuela Marrero Rodrigues, Prolocolos dei escribanoJuan RlIiz de Berlanga. 42; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cil" 197; Elias Serra Rafaels, "Ilitroduccion», in AClIerdos Cabildo de Tenerife, II, 1952, p. X; F. Mauro Fuentes, "Tazmia de la isla de Tenerife de 1552», A.E.A .. n. o 25; 1416.
87
ao ao
ORIGEM
Porto Guimarães Ponte Lima Viana Lisboa Tavira Lagos Algarve Vila Real Vila do Conde Covilhã Aveiro Canaveses Abrantes Guarda Braga Lamego Chaves Barcelos Olivença Torres Novas Sinfães Gouveia Outros Total
N.·
%
12 15
2 1 1 3 1 2 1 1 1 1 1 3
11,43 14,28 16,19 10,48 9,52 3,81 1,90 2,86 4,76 3,81 2,86 0,95 1,90 0,95 0,95 2,86 0,95 1,90 0,95 0,95 0,95 0,95 0,95 2,86
105
12,75
17
11 10 4 2 3 5 4 3 I
.15-20
e
••
MERCADORES DO REINO NA MADEIRA. Séculos XV e XVI
6-12 3-5
1-2
ORIGEM
1'1."
16 12 5 3 I 2 2 98
Catalunha Sevilha Cádiz Barcelona Moguer Biscaia Burgos Outros
e •
\f
IUI 8.63 3.97 2.16 0.72 1,44
1.44 28.26
l ().20
1·2
MERCADORES ESPANHOlS NAS CANÁRIAS. Século XVI
89 12
A influência e acção da comunidade castelhana e portuguesa no espaço insular não é uniforme, pois varia de ilha para ilha e de época para época. Esta alteração espacio-temporal resulta da conjuntura político-sócia-económica do Mediterrâneo Atlântico em paricular, e da Europa atlântica, no geral. Nas ilhas portuguesas a acção dos mercadores de Castela é reduzida e, apenas ganha importância no período filipino (1580-1640). Mas se no caso dos Açores poderá considerar-se nula, na Madeira terá alguma representatividade (2 %), resultante da posição dessa ilha em relação às rotas peninsulares de ligação às Canárias e do necessário comércio de cereais entre as Canárias, a Madeira e Lisboa. Daí deriva essa intervenção castelhana com carácter temporário ou fixo. Os Açores, alheios a estes circunstancialismos, surgiram apenas como sustentáculo da rota de retomo das Índias, facto que atraíu as atenções dos agentes comprometidos nesse trato, mas apenas no intuito de assegurar a chegada dos seus produtos a porto seguro, intervindo raras vezes no mercado local. As Canárias, pelo contrário atraíram as atenções de mercadores, marinheiros e agentes de Portugal e ilhas (4). As diversas províncias do reino associaram-se ao processo de construção da sociedade canária: do Minho e Beiras vieram agricultores e artesãos: do litoral algarvio os marinheiros e pilotos de navios. Da comunidade portuguesa faz parte um grupo numeroso de mercadores (32 %), interessado no comércio dos cereais, de escravos e da tão solicitada oportunidade de uma saída até às Índias (5). A importância da comunidade lusíada é de tal modo significativa em Tenerife e Oran Canaria que justificou a existência de uma rua em Las Plamas e na vila de San Cristóval (Tenerife) (6). O mercador insular, com parcos recursos financeiros, não poderia usufruir das mesmas vantagens que o mercador hispânico e europeu, pelo que estava limitado o seu campo de manobra; encontrava-se, muitas vezes reduzido à posição subalterna de feitor ou procurador do mercador do reino, dos flamengos e dos italianos. Perante esta circunstância hiperatrofiadora, ele aspira, apenas, a reduzidos contactos com o reino e ilhas próximas ou, então, algumas aventuras esporádicas nos arquipélagos vizinhos. O carácter temporário com que executam essas actividades comerciais não permitiu, muitas vezes, a sua referenciação documental.
(4) A emigração de portugueses para as Canárias filia-se nas pretensões à sua posse e na necessidade da sua utilização nas viagens de exploração geográfica e comercial ao longo da costa ocidental africana. As pretensões portuguesas à posse deste arquipélago remontam ao século XIV e só foram definitivamente abandonadas em 1479. Veja-se Florentino Perez Emibid, Los descobrimentos en el Atlâlllico y la rivalidad castel/ano-portuguesa hasta el tratado de Tordesilhas, Sevilha, 1948; Elias Serra Rafols, "Portugal en las islas Canarias", in Congresso do Mundo portugues-memorias, III, Lisboa, 1940; Antonio Rumeu de Armas, EspOlia en el Africa Atlâlllica, 2 vols. Madrid, 1956; Charles Verlinden, ,da découverte portugaise des Canaries", in Revue Belge de Philosofie et Histoire, XXXVI, 1958, 1173-1209; Luis Suárez Fernández, Relaciones entre Portugal y castilha enla época dei infante D. Henrique, VaIladolid, 1960; Jose Perez Vidal, "Aportación portuguesa a la poblacion de Canarias" in A.E.A .. 14 (1968), 41-42; Pierre Chaunu. Seville et tAtlantique, T. VIII, vol. I, 382-384. (5) Eduardo Aznar VaIlejo, ob. cit.. 194-195; Manuel Lobo, Protocolos de Alonso Gutiérrez, 17-18; F. Clavijo Hernandez, Protocolos dei escribOlIO Hernán (;uerra, 36-37; A. Cioranescu, ob. c/t .. I, 421; M. A. Ladero Quesada, ob. cit.. III, 128; Manuel Lobo Cabrera, "EI mundo dei mar en la Gran Canaria" in A.E.A., n.O 26, 342. Segundo Leopoldo de la Rosa "EI repoblamiento de los reinos de Icod y Daute", in Estudios Canarios, XIV-XV, 1968-1970, 37. Charles Verlinden ("Le Role des portugais dans l'economie canarienne au début du XVle siec1e", in Homenaje a Elias Serra Ráfols. III, La Laguna, 1970,423) refere-nos a propósito: "II s'agit donc avanttout d'un véritable prolétariat colonial parmi lequeI la pauvreté n'est pas rare 1.. ./. A Tenerife, au début du XV!" siec1e, presque tous les Portugais sont des ouvriers ou des Ires modestes agriculteurs. Aucun comparaison n'est possible avec les autres groupes étrangers, italiens ou fIamends, ou les marchands dominenl. Ce qu'aportent ces derriers ce sonl des capitaux et des relacions comerciales. Les Portugais. à quelques rares exceplions pres fournissent surtoul leur bras. II est intérressant de noter ce contraste, tant pour I'économie que pour la sculture sociale des Canaries au débul de la colonization espagnole". (6) A.H.P.L.P., Diego de San Clemente. n.o 733, fi. 274; Manuel Lobo, [bidem, 18 Maria Isidra Coelho Gomez, Protocolos de Alonso Gutiérrez, 686.
90
I
e·· ·
91
Sabemos da eXlstencia e assiduidade desses contactos, mas pouco ou quase nada dos nomes dos intervenientes; lacunas da documentação insular impossibilitam um conhecimento aprofundado dessa situação; assim, nos Açores há apenas referência a um mercador canário, enquanto nas Canárias apenas se noticia um mercador madeirense (7). No entanto, na Madeira encontramos uma importante comunidade de açorianos (2 %), resultante da assiduidade de contactos entre os dois arquipélagos em torno do comércio ou fornecimento de cereais; aliás, se tivermos em conta a sua origem, verificaremos que eles prevêm, na sua maioria (75 %), das ilhas de maior comércio e contactos com a Madeira, ou seja, S. Miguel e Terceira. Definida a componente forasteira dos agentes comerciais da sociedade insular, torna-se necessário referenciar o seu comportamente em conjunto com os naturais ou residentes, no espaço amplo e heterogéneo que é o mundo insular hispânico. Mercadores nas ilhas: distribuição geográfica MADEIRA LOCALIDADE Funchal Calheta Santa Cruz Ribeira Brava Ponta de Sol Machico Caniço Faial Total
N."
sÃO MIGUEL %
LOCALIDADE
N."
CANÁRIAS
TERCEIRA %
LOCALIDADE N."
857 89,55 Ponta Delgada 30 68,18 42 4,39 V. Franca do Campo 7 15,91 16 1,67 Ribeira Grande 5 11,36 23 2,40 Agua d'Alto 2 4,56 0,42 4 2 0,21 2 0,21 1 0,10 947 98,95 44 59,46 Total
LOCALIDADE
%
Angra Praia
23 79,31 Gran Canaria 3 10,34 Tenerife La Gomera La Palma Lanzarote Fuerteventura
Total
26
89,65
Total
N."
%
281 51,94 246 45,47 1 0,18 11 2,03 1 0,18 1 0,18
541 99,27
A sua implantação nesta área é evidenciada por uma tendência concentracionista, comandada pelas principais ilhas e cidades portuárias. Nos Açores as ilhas de S. Miguel e Terceira absorvem a quase totalidade do grupo de mercadores aí radicados e, nas Canárias, as de Tenerife e Gran Can;:[ria 97 %. Além disso esta tendência toma-se radical quando encaramos as duas ilhas isoladamente, pois, no primeiro caso, a ilha de S. Miguel apresenta 72 % enquanto a Terceira fica reduzida a menos de metade; no segundo, a comunidade de Gran Canaria (52 %) mais .numerosa que a de Tenerife (45 %). A esta predominância das cinco ilhas, em termos económicos, associa-se a das principais praças comerciais - Funchal, Ponta Delgada, Angra, Santa Cruz (Tenerife), Garachico, Las Palmas. Na Madeira a cidade do Funchal acolhe 90% dos mercadores e nos Açores a cidade de Ponta Delgada 68 % e Angra 79 %. As regiões periféricas subordinam-se assim aos interesses da burguesia concentrada nas principais cidades portuárias, que intervem de modo activo no comércio, quer por meio da sua acção directa, quer por meio de agentes, procuradores e familiares. Mercadores nos Açores, século XVI Proveniência
N."
%
S. Miguel Terceira Graciosa S. Jorge Santa Maria
9 6 3 1 1
45 30 15 5 5
Total
20
100
(7) Diego Afonso, mercador, natural da ilha do Faial, encontrava-se em 1511 em Tencrife (quadro n. o 2); Juan Porras, mercador, natural da Madeira, estava em 1521 em Gran Canaria (quadro n.O 3).
92
Corvo
D
Graciosa
C)
Flores
o
Terceira
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•
6-10
•
J-5
w S.la Marla
MERCADORES NOS AÇORES. Se.ulo XVI
A predominância da cultura sacarina. aliada a esta tendência, actuará de modo explícito na concentração dos agentes económicos. As áreas de maior produção na vertente sul. dominada pelo porto do Funchal, atrairão as suas atenções e condicionarão a sua vizinhança além do Funchal. Assim se explica a importância que eles adquiriram na Calheta e Ribeira
Estrangeiros Funcionários
750-
o
Proprietários
500 -
250-
Madeira
MERCADORES
Açores
Canárias
NO MUNDO INSULAR. Sécs. XV a XVI
Brava, ao invés do que sucede em Santa Cruz e Machico; estas povoações situavam-se na capitania de Machico com pouca importância na economia açucareira. Na ilha de S. Miguel, a cidade de Ponta Delgada, como o seu porto e alfândega principal de ilha, desde princípios do século XVI, domina a actividade de troca e a concentração dos seus agentes. A importância de Vila Franca do Campo e da Ribeira Grande é justificada pelo seu peso na economia micaelense, pois nas suas proximidades situavam-se as áreas de maior produção de pastel e de cereais. Na Terceira a vivência
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ribeirinha do burgo angrense fez concentrar aí o grosso destes agentes, não obstante a vila da Praia se localizar numa das áreas mais importantes de economia agrícola terceirense. Tal situação deve-se ao facto da proximidade desta vila em relação a Angra e da facilidade das comunicações por via marítima e terrestre. Se tivermos em conta a que na Praia e S. Sebastião existiam portos 'aptos ao comércio das produções da área, seremos levados a compreender o reforço da posição macrocéfala da praça angrense que domina toda a ilha e algumas vizinhas, como S. Jorge e Graciosa. O mercador vizinho ou estante procura, assim, o acolhimento das principais praças comerciais do mundo das ilhas definidas com áreas de convergência da produção insular e de redistribuição das manufacturas europeias. A actividade comercial não o absorve por completo, poís subdivide a sua acção quotidiana entre o comércio, o transporte, a banca, a produção e a administração local e régiae s); as primeiras actividades completam-se e garantem-lhe um pecúlio vantajoso, enquanto a última assegura as condições e meios privilegiados da sua acção. Atraídos, primeiro, pela produção local, esses mercadores acabam por investir os seus capitais em bens fundiários, tomando-se importantes proprietários; eles representam na Madeira 7% do total e nos Açores, 26%. Na primeira destas ilhas, mercê do desenvolvimento e importância da cultura do açúcar, surgem como proprietários de canaviais, representando, na primeira metade do século XVI, 24% do total dos proprietários, com 30% da produção ('9). A estrutura administrativa da sociedade insular, desde princípios do século XVI, organiza-se de acordo com as realidades sócio-económicas, procurando ajustar-se às necessidades da fiscalidade e da intervenção e regulamentação das actividades económicas dominantes. Ao mercador, como interveniente comprometido com as realidades sócio-económicas, ínteressava uma posição de domínio nessa complexa estrutura administrativa, como forma de fazer valer os seus interesses nas ordenanças, posturas, leis e regimentos. De entre os mercadores intervenientes nessa estrutura temos 10 % na Madeira e 3 % nas Canárias. Na Madeira, dos referenciados, 52 % são funcionários da fazenda real, do almoxarifado e alfândega e 48 % têm participação activa na administração muniGipal. Saliente-se que neste grupo de mercadores funcionários estrangeiros há dois estrangeiros na Madeira e quatro nas Canárias (80).
(8) A. Guimerá Ravina, "Canarias en La Carrera das Indias» ([564-1778)>>, in Historia General de las islas Canarias, IV, [73. Este Autor destaca a simbiose entre o proprietário agrícola-comerciante, produtor. industrial e prestamista. (9) Veja-se Alberto Vieira, O regime de propriedade lia Madeira. O caso do açúcar (1509·1537). (80) Em Oran Canaria. Antonio Mayuello e Bautista Riberol, genoveses, foram regedores do cabildo e em Tenerife, Arnaldo Vaudela, flamengo, foi administrador da fazenda e Michel Vasol, igualmente flamengo. foi mayordomo deI Adelantado. Para a Madeira surgem Cristóvão Esmeralda, que foi contador e juiz da alfandega. e António Dias, flamengo, recebedor dos quintos.
95
1.4 Emigração inter·insular
A elevada mobilidade social é uma das características da sociedade insular. O fenómeno imigratório lançou as bases dessa sociedade, e a emigração ramificou-a e projectou-a além Atlântico. As ilhas são, assim, num primeiro momento, pólos de atracção, passando, depois, a actuar como áreas centrífugas. A novidade aliada à ambiência, que definiram o processo de ocupação, activaram o primeiro movimento; a desilus~o, as escassas e limitadas possibilidades económicas e a atracção pelas riquezas das Indias, definiram o segundo surto (1). Primeiro, foi a Madeira, depois, os Açores e, finalmente, nos alvores do século XVI, as Canárias. Desiludido com a Madeira, o colono procura melhor fortuna nos Açores, mas, gorada também essa iniciativa, procura refúgio nas Canárias, aliando-se, em finais do século XV, ao processo da conquista e ocupação deste grupo de ilhas. A Madeira terá, assim, um papel primordial no movimento migratório insular no século XV, actuando Como pólo de atracção e redistribuição no mundo das ilhas do Norte Atlântico. Esta extrema modalidade do ilhéu levou os monarcas a restringir o movimento emigratório em favor da fixação do colono à terra, de modo a evitar-se o despovoamento~ Nas Canárias, em 1484, proibia-se a saída dos vizinhos de Fuerteventura, Lanzarote, Gomera e Ferro para Las Palmas e); nos Açores nas décadas de 60 e 70 dão-se incentivos à fixação de colonos No século XVI desvanece-se o interesse pelas ilhas. Todas as atenções convergem para o continente americano, a nova esperança do europeu e do insular. O posicionamento do arquipélago canário no traçado das rotas das Índias Ocidentais e Orientais coloca-o na situação de foco irradiador de colónos e aventureiros para o Novo Mundo. Aí se concentravam insulares e europeus à espera da almejada partida para as Índias. Indo ao encontro dessa ânsia de fuga do ilhéu, o monarca castelhano passou autorização especial, em 1511, para a emigração canária para as Índias, tendo-se mesmo organizado, em 1537, 'expedições com gente recrutada nestas ilhas (4); os cabouqueiros do atlântico-insular projectavam a sua experiência além-atlântico. Mas o perigo eminente do despovoamento do arquipélago, bem como a utilização desmesurada desta via por estrangeiros, nomeadamente portugueses, conduziram ao cancelamento de autorizações de viagens com tal destino, em 1574 (5).
e).
e)
Segundo Juan F. Martin Ruiz (EI N. W. de Ora/l Ca/larias / .. ./. Las Palmas, 1978) .. La emigracion que una constante en la sociedad canaria. Esta hecho estê, un primer lugar, en relación con unas bases estruturales precarias: una economia de monocultivo comercial en la costa, e de subsistencia em medianias y cumbres. Junto a esta estructura economica precaria, como ya hemos seiialado, un crecimiento natural vertiginoso. Casi todos los periodos intercensales arrojon soldos migratorios negativos, favorables, portanto a los emigrantes. El numero de emigrantes parece que aumenta justamente en los ciclos de crises agraria.. (lbidem. p. 12). A.G.S., Registro ge/leral dei seI/o. t. III. fi. 6, cêdula real de 5 de Janeiro de 1484, referenciado por Emilia Sanchez Falcón, ..Evolucion demografico de las Palmas... in A.E.A., X (1964), 312. Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores /lO século XVl/ 1 ... /, 11-43. (4) Analola Borges, .. Emigracion canaria e americana .. , in A.E.A .. .n. o 23 (1977) 244-245. A mesma refere a propósito: - ..EI transplante humanoes lo más transcendental de los factores detenninantes de las relaciones canario-indianas y la más preciosa aportación a la empresa deI XVI. Desde principias deI siglo comienzan a partir famílias procedentes de Lanzarote, Hierro y Gomera; posterionnente el contingente mayor de emigración lo darán las is las recientemente conquistadas e· incorporadas a la carona de Castilla, que, además san tambiéh las islas mayores: Gran Canaria, Tenerife, La Palma. La emigracion se extiende a toda la centuria y se hará· aún más patente en los siglas seguientes» (Ibidem, p. 243). (5) [bidem. p. 247.
e) e)
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Francisco Morales Padron transmite-nos de foona modelar essa realidade da sociedade canária do século XVI: «Las islas fueron primero, como una espera de lo desconocido; luego una previa experiencia; después se transforrnaron en camino para las Índias, y más tarde se convierten en vivero conformador dei Nuevo Mundo» (6). As ilhas portuguesas não se dissociaram do processo expansionista português do Atlântico e do Índico. A aristocracia insular, imbuida das ideias de conquista e de descobrimentos, participou activamente nas viagens de exploração para Ocidente e nas diversas expedições a África e Brasil C). Além disso muitos dos seus vizinhos, ambicionando maior riqueza ou impelidos pelas circunstâncias, saíram para o Brasil e Índia (8). As ilhas, pela sua proximidade e similar fOnTIa de vida, aliadas às necessidades de contactos comerciais assíduos, mercê da complementaridade sócio-económica, exerceram igualmente forte atracção entre si. Madeirenses, açorianos e canários não ignoram a sua condição de insulares e, por isso mesmo, sentiram necessidade de um estreitamento dos contactos e relações, com especial relevo para os comerciais (9). Nesta comunhão de ideias e neste espírito de entre-ajuda teremos a solicitação de colonos experimentados da Madeira para a cultura e safra do açúcar nas Canárias e Açores et°). A Madeira mercê da sua posição charneira entre os Açores e as Canárias e da prioridade da sua ocupação, foi desde meados do século XV um importante fornecedor de colonos a estes arquipélagos. Foram os madeirenses que deram o arranque definitivo à ocupação da terra açoriana e, nomeadamente, à ilha de S. Miguel. Os filhos segundos da aristocracia madeiren~e, sem direito a uma parcela de terreno do seu torrão natal por força do direito sucessórió, procuram adquirir nos Açores e, depois, nas restantes áreas de ocupação portuguesa, aquilo que lhes foi negado na Madeira. Assim o conseguiram Rui Gonçalves da Câmara ao trocar, em 1474, as suas parcas fazendas na Ponta de Sol pela Capitania de S. Miguel. O mesmo sucedeu com Álvaro de ameIas ao adquirir a capitania da ilha do Pico. Com estes vieram outros membros de aristocracia madeirense na esperança de adquirir maior número de dadas de terras; assim sucedeu com alguns membros da família
y America, Las Palmas, 1982, p. 9. (') Francisco Carreiro da Costa, Esboço Histórico dos Açores, Ponta Delgada. 1978. 90-100; Alberto Artur Sarmento, A Madeira nas praças de África I ... 1, Funchal. [932. (8) Fernando Augusto da Silva. "Emigração.. , in Elucidario Madeirense, III, (1960), 391·392; Sónia A. Siqueira. A inquisição portuguesa e a sociedade colonial, S. Paulo, 1978; José Gonçalves Salvador, Cristãos-novos. Povoamento e conquisla do solo brasileiro (1530-/680), S. Paulo, 1976. (9) José Perez Vidal, "Esbozo de un estudio de la influencia portuguesa en la cultura tradicional canaria ... in Homenaje a Elias Serra Rafais, I; La Laguna. 1970. 369-390; Idem. «Aportacion portuguesa a la poblacion de Canarias. Datos para su estudio... in A.E.A .. n.o 14 (1968). 41·106; Margarita I. Martin Socas e Manuel Lobo Cabrera. "Emigracion y comercio entre Madeira y Canarias en el siglo XVI», in Os Açores e o Atlântico (séculos XIV-XVJJlJ, Angra do Heroísmo, 1984.678-700, Manuel Lobo Cabrera e Maria Elisa Torres Santana .. Aproximacion a las relaciones entre Canarias y Azares en los siglas XVI y XVII.. , in ibidem, 352-375; Charles Verlinden, .. Le rôle des portugais dans I'economie canarienne au début du XVI siécle... in Homenage a Elias Rafais, m, La Laguna. 1970. 411-426. eo) Foram os colonos madeirenses. conduzidos pelo governador Pedro de Vera. que lançaram os alicerces da economia açucareira; levaram consigo a técnica do regadio, de cultura e transformação do açúcar. Veja-se J. Vieira y Clavijo. Noticias de la Historia General de las islas Canarias, Santa Cruz de Tenerife, 1967. I. 550; Guilhermo Camacho y Pérez Galdós. "EI cultivo de la cana de azúcar y la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535) .. , ln A.E.A., n.o 7 (1961). 13; Maria Luisa Fabrellas, .. La produccion de azúcar en Tenerife.. , in Revista de Historia, n. o 100 (1952), 471. O mesmo sucedeu com os Açores, tendo os madeirenses levado a cana e as técnicas do cultivo e laboração; a esta situação não será estranha a presença de Diogo de Teive na Terceira, na segunda metade do século XV. uma vez que havia sido o primeiro a solicitar. em 1452. licença para a construção de um engenho na Madeira (Gaspar Frutuoso. Saudades da Terra, L,0 VI, 64). Além disso mestre António Catalão teria vindo para Santa Maria com o intuito de ensinar a plantar cana (Urbano de Mendonça Dias. História dos Açores. Ponta Delgada, [924. 132). Frutuoso refere-nos ainda a vinda de um mestre de açúcar das Canárias para Vila Franca do Campo (lbidem, L,0 IV, vol. II, p, 60). (6) Canarias
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Betancor, os descedndentcs de Gonçalo Aires Ferreira, dos Furtados de Mendonça de Castela, dos Martim Mendes de Vasconcellos, dos Tavares, dos Cantos e dos Barcelos (11). Todos eles receberam dadas de terra em S. Miguel, Terceira e Santa Maria, tornando-se influentes nos locais de fixação z ). Essa posição adveio das vantagens iniciais na aquisição de terras, do seu espírito empreendedor e do seu rápido relacionamento matrimonial com as principais famílias açorianas (13). Aliada a esta vaga de povoamento teremos, ao longo do século XVI, novas levas de emigrantes, provocadas quer pelo movimento comercial, quer por causa da peste que assolou a Madeira, na primeira metade desse século 4 ). Dos madeirenses emigrados para os Açores, nos séculos XV e XVI, 62 % destinaram-se aS. Miguel, l7 % à Terceira e os restantes distribuiram-se por Santa Maria, Graciosa, S. Jorge, Pico e Faial. Esta situação denota o interesse sócio-económico dos madeirenses pelas duas ilhas mais importantes do arquipélago com as quais a Madeira mantinha estreitas relações comerciais. As Canárias não ofereciam aos madeirenses as mesmas possibilidades que os Açores. No entanto, a situação deste arquipélago, associada às esperanças postas no mito açoriano, atrairão o madeirense que num ou noutro arquipélago busca uma libertação das peias da aristocracia fundiária local ou uma solução para a crise açucareira. Para os mais ambiciosos a mira será S. Tomé ou o Brasil, mas a maioria prefere as propostas aliciantes dos governadores de Gran Canaria e Tenerife à aventura tropical. Assim, um grupo numeroso de lavradores, mestres de açúcar, carpinteiros, caldeireiros e refinadores trocou as agruras da cultura e safra do açúcar madeirense pela promissora faina açucareira de Gran Canaria e Tenerife s ). Da contabilização estabelecida para este surto emigratório há referência a 56 % relacionados com a safra do açúcar, enquanto os restantes se distribuem de modo uniforme pelas diversas actividades agrícolas e artesanais. O primeiro grupo surge com maior incidência em Gran Canaria, enquanto o segundo se circunscreve a Tenerife 6 ). As áreas de maior afluxo desta vaga emigratória são, naturalmente, as ilhas de Gran Canaria e Tenerife, onde teremos, respectivamente, 37% e 60%; das restantes apenas são referenciadas as ilhas de Palma e Hierro. Açorianos e canários, atentos e cobiçando as riquezas das Índias, ignoravam a realidade sócio-económica madeirense; toda a sua atenção estava virada para o promissor Novo Mundo; eram as embarcações que chegavam de Andaluzia e nas Canárias procuravam o necessário reparo e refresco para o moroso percurso que os esperava até às Antilhas; eram os mercadores naturais e estrangeiros que cobiçavam e disputavam as necessárias licenças
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(11) Gaspar Frutuoso, ibidem. L.0 n. 404; Ibidem. L.0 IV, 267, 260, 278, 318, 324; Ibidem. L.0 IV, vol. n, 100-110; Henrique Henriques de Noronha, Nobiliario genealogico / ... /, Rio de Janeiro, 1947, 437-41, 194. 519-521; Manuel Monteiro Velho Arruda, Colecçtio de documentos relativos ao descobrimento e povoamellto dos Açores. Ponta Delgada, 1932, 166-172; Francisco de Atayde M. de Faira e Maia, Subsídios para a História de S. Miguel e Capitães Donatários (1439-1766). Ponta Delgada, 1942, 18-22, 25-26. (12) Urbano de Mendonça Dias, ibidem. 132, 147 e 164. 3 ) Pedro Álvares da Camara, irmão do capitão donatário da Madeira, casou a sua filha Branca com Diogo Paim e Isabel de Lamelas com Antão Martins Homem filho do donatário da Praia (Terceira). Em 1483 Pero Correia, primeiro capitão da Graciosa, casou com Iseu Pereslrelo, filha do primeiro capitão donatário do Porto Santo. João de ameias de Savedra casou na Terceira com Catarina de Teive Gusmão, filha de Diogo de Teive, tendo recebido terras no lugar das FQntainhas, onde instituiu o morgado ameias. Gonçalo Mendes de VasconceIlos, filho de Martim de VasconceIlos, casou com Bartolesa Rodrigues Cameiro, filha de Álvaro Martim Correia, morador em S. Miguel e senhor dos lugares da Povoação, Mosteiros e Ponta Garça. 4 ) Em 1515 refere-se que Lianora Lopes saiu para as ilhas de baixo no ano em que houve a primeira peste (A.R.M.. Misericórdia do Funchal. n.o 710, fi. 41, 23 de Setembro, instrumento de doação). O mesmo sucedeu com João Gonçalves Pereira, de Serra de Água que se mudou para S. Miguel (Gaspar Frutuoso, ibidem. L. 0 IV, cap. XXXIII). (15) Maria Luisa FabreIlas, ibidem. 471. Veja-se nota 10. (16) Margarita I. Martin Socas, ibidem. 684-687.
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para um comerclO rendoso com essa área; eram, ainda, os vizinhos, que aguardavam as caravelas ou a almejada oportunidade de embarcarem para as Índias. Nos Açores, pelo contrário, vivia-se a expectativa da chegada das naus na esperança de adquirir algumas migalhas do reluzente e precioso metal. A Madeira só era recordada quando todas estas expectativas se goravam ou quando a manutenção do comércio inter-insular o justificava. As rotas açoriana e canária do fornecimento dos cereais à Madeira implicaram essa necessidade; por isso depararemos, ao longo dos séculos XVI e XVII, com a permanência temporária de açorianos e canários na Madeira; eram na sua maioria originários das ilhas que mantinham contactos mais assíduos com o Funchal.
Açorianos e canários na Madeira no sec. XVI
N."
ORIGEM
6 3 4 6
S. Miguel Terceira Faial Tenerife Gran Canaria Lanzarote Palma Hierro
4 2 I I
43 21 29 43 29 14 7 7
No período de 1539 a 1600 os açorianos representam 9% da imigração madeirense; surgem só a partir da década de 50 e atingem nas décadas imediatas percentagem elevada, surgindo em finais do século em lugar de muito relevoe 7 ); esta situação evidencia a importância do contingente açoriano na constituição da população da freguesia da Sé do Funchal. A componente canária, ao invés, é reduzidíssima, e surge com maior incidência nas duas últimas décadas do século XVI, como resultado da ocupação da ilha, em 1582, por Augustin Herrerae 8 ). Das famílias ilustres que trocaram as Canárias pela Madeira salientam-se os Bettencourts, que, desiludidos com a conquista e ocupação castelhana das Canárias, preferiram a calma da Ribeira Brava, onde se fixaram, aí se relacionaram com os principais terratenentes adquirindo terras na Banda d' Alem 9 ). As Canárias forneceram ainda grandes contingentes de mão-de-obra escrava para o pastoreio e safra do açúcar; a afluência dos aborígenes canários à Madeira deriva, assim, do surto da cultura açucareira em meados do século XV e das necessidades daí decorrentes em mão-de-obraeo). As Canárias, porque próximas e povoadas por guanches, ofereciam saque fácil e contingentes adequados.
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e')
Luis Francisco Cardoso de Sousa Melo, «A imigração na Madeira», in História e Sociedade. 0,0 6. 1979. 51-53. s ) Lothar Siemens Hemandez, «La expedicion a la Madera dei Conde de Lanzarote desde la perspectiva de las fuentes madeirenses», in A.E.A .. n.o 25. (1979) 289-305: J. de Abreu Galindo, História de la l'OlIqllisttl de las siete is/as Callarias. Sant~ Cruz de Tenerife, 1977,245: Sergio Bonnel, «La expedieion dei Marques de Lanzarote a la isla de la Madera», in EI Museo Callaria, X, 1984, 59-68. 9 ) J. de Abreu Galindo, ibidem. 104 e 134: Henrique Henriques de Noronha, ibir/em. J. 51-74. (20) Lothar Siemens e Liliana Barreto, "Los esclavos aborigenes eaoarios en la isla de la Madera (1455-1505) .. , in A.E.A .. n.o 20 (1974). 111-143.
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o conhecimento das correntes migratórias entre os Açores e as Canárias está dificultado pela falta de fontes; no entanto, as poucas disponíveis elucidam-nos sobre a existência destes contactos humanos e comerciais 1 ). Esta corrente migratória afinnou-se mais no sentido Açores-Canárias que no inverso; neste último sentido apenas há notícia da vinda de um mestre de açúcar para Vila Franca do Campo e de Pedro Alves, de Tenerife, que serviu a João Alvares do Sal na Lagoa (S. Miguel) como guardador de cabrase 2 ). Os emigrantes açorianos nas Canárias são, na sua maioria, oriundos das ilhas Terceira e S. Miguel; fixam-se nas ilhas de Tenerife, Gran Canaria e Lanzarote, dedicando-se à cultura dos cereais, vinha e cana sacarina. Em Lanzarote surge um grupo importante que de dedica à cultura cerealíferae 3 ). Os açorianos teriam contribuído para o arranque da cultura do pastel em Tenerifee 4 ).
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e Manuel Lobo Cabrera, ibidem. José Perez Vidal, Aportadon Porlllgllesa á la pobladón de Canarias I .../, 102. t
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2
)
)
Gaspar Frutuoso, ib idem , L.o IV, VaI. II (1926), 60.
(23) Manuel Lobo Cabrera, lbidem. 359-360. 4
100
)
lbidem, 363-364.
1.5 Os produtos
As ilhas atlânticas dos três arquipélagos a que nos temos referido, definidas por F. Braudel e P. Chaunu como o Mediterrâneo Atlântico, caracterizam-se por uma política de desenvolvimento económico na dependência dos interesses do tráfico europeu internacional e). A selecção e transplante dos produtos para as novas arroteias far-se-á, assim, em consonância destes vectores do dirigismo económico europeu,' com as diferenças e assimetrias derivadas da estrutura do solo e do clima. Esses impulsos, em conjunto, actuam como mecanismos virtuais de distribuição das culturas europeio-mediterrânicas, componentes da dieta alimentar (cereais, vinho) ou resultantes das solicitações das principais praças europeias (açúcar e pastel) Tal situação materialízar-se-á numa nítida tendência destas áreas para uma exploração económica baseada na monocultura ou dominância de um produto. Contra isso surgirá a heterogeneidade do espaço insular que condicionará a distribuição das culturas, dando lugar a uma política distributiva ou de arrumação dos principais produtos agrícolas; surgem deste modo áreas de produção para a subsistência e troca, procurando definir-se as condições necessárias à estabilidade das actividades sócio-económicas. Assim, o alargamento da área do cultivo do açúcar na Madeira implica a criação de novas áreas de produção cerealífera. De igual modo, a heterogeneidade e descontinuidade do espaço arável dos arquipélagos das Canárias e dos Açores condicionarão a distribuição dos produtos e sectores de actividade nas diversas ilhas, definida pela sua importância em relação às necessidades internas e externas. As ilhas de Fuerteventura, Lanzarote e Tenerife serão vocacionadas para atender as necessidades da sua própria subsistência e das ilhas vizinhas, enquanto as ilhas de S. Miguel, Graciosa, S. Jorge suprirão as carências de Angra, praças africanas e Madeira. Nas ilhas de Tenerife e S. Miguel, mercê da actuação hábil dos governantes ou da disponibilidade de áreas de arroteias, foi possível conciliar as necessidades de subsistência com a voracidade das solicitações do mercado externo. Aí os cereais medravam, lado a lado com o pastel ou o açúcar. Esta situação de interdependência activa uma complicada teia de circuitos comerciais inter-insulares, necessários à manutenção desta tendência monocultura!. O povoamento e exploração do espaço insular vai ao encontro das solicitações que regeram o processo e a economia insulares. O carácter agrário destas sociedades nascentes é compatível com as necessidades derivadas da subsistência e das solicitações externas. Ambos os sectores alicerçaram o rumo desta economia, definindo, por um lado, a aposta numa agricultura de subsistência, assente nos componentes da dieta alimentar europeia e, por outro, a imposição de produtos estranhos capazes de activarem o sistema de trocas
e).
e).
e)
Fernand Braudcl, La Medirerranée erle monde médirerranéen / .. ./, I. 141-142; Pierre Chaunu. ob. eir .• t. VTIl , I. 76-79, 369-370. (2) Maria Olímpia da Rocha Gil. O arquipélago dos Açores no século XVII, / ... /. 421; idem, o porto de Ponta Delgada comércio açoriano no século XVII. 107. Joel Serrão "A exploração económica da Madeira (1425-1470)>> in D. A. H. M., n.o 31 (1961), 4) refere que a "A História agrária da Madeira caracteriza-se pois. a partir dos seus inícios, por um regime de policultura - cereais, açúcar e vinho - , mas com tendência para o predomínio de uma dessas produções com efeito, no decorrer dos séculos XV, XVI e XVII, sobre este fundo inicial de policultura. desenha-se sempre uma tendência para a monocultura - princípio. o trigo; e, posterior e sucessivamente. o açúcar e o vinho". çJ) Eduardo Aznar Vallejo, ob. cil.. 455; Vitorino Magalhães Godinho, Os descobimenros e li economia mundial. III. 232-233; A Guimerá Ravina, "Porqué Comercia Canarias com Indias en el siglo XVI?/ ... / ". in II C. H. C. A .• 90.104.
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A estrutura do sector produtivo adaptar-se-á a esta situação, podendo definir-se em componentes de dieta alimentar - cereais, vinha, hortas, fruteiras, gado e derivados - e de troca colonial - pastel, cana de açúcar. Em consonância com a actividade agrícola verificar-se-á a valorização dos recursos do meio insular, que irão integrar a dieta alimentar - pesca, silvicultura - e as trocas comerciais - urzela, sumagre, madeiras e derivados, como o pez. Uma informação sobre a importância de todos esses componentes na economia agrícola insular apenas se torna possível para as Canárias; aí, em finais do século XVI, as deduções do diezmo permitem essa análise (4). Dízimo das Canárias (5) PRODUTO
Miunças Açúcar Trigo Cevada Centeio Tocinho, sebo, couros Queijos Urze1a Marca de gado
1575
1584
56.62% 7,64% 24,65% 5,82 3,53%
39,34% 8,9% 31,18% 8.27 7.17% 0,11% 0,30% 0,14% 0,50%
1,01% 0,50%
Os cereais representam 34% em 1575 e 47% em 1584, enquanto o açúcar apenas representa 1/4 na primeira data e II 5 na segunda; esta situação favorável dos cereais é explicável, como veremos, pela crise da indústria e comércio açucareiro, a partir de meados do s'éculo. São estes os principais produtos da economia canária, variando a sua importância de ilha para ilha. O açúcar, que surge apenas nas ilhas da Gran Canaria, Tenerife, La Palma e La Gomera, adquire maior importância em Gran Canaria (48%) e La Palma (34%). Os cereais, ao invés, dominam na ilha de Tenerife (37%). No global, as ilhas, de Gran Canaria (28%). Tenerife (44%) e La Palma (27%), surgem com as principais áreas produtivas do arquipélago. Dízimo nas Canárias (6) PRODUTO
Miunças Açúcar Trigo Cevada Centeio
CANARIA
542760 mrs 241 162 mrs 767 fanegas 628 fanegas 548 fanegas
TENERlFE
14 156351 mrs 85612 mrs I 270 fanegas 581 fanegas 550 fanegas
LA PALMA
LA GOMERA
EL HIERRO
LANZAROTE
FUERTE- TOTAL VENTURA «k)
720664 mrs 87 223 mrs 175 060 mrs 63842 mrS 84714mrs 173544 mrs 5 275 mrs 685 fanegas 226 fanegas 59 fanegas 417 fanegas 159 fanegas 176 fanegas 402 fanegas
44 8 35 6 7
(4) José Sanchez Herrero. «Aspectos de la organización eclesiástica y administracion economica de la diocesis de Canarias a finales deI siglo XVI (1575-1585) ... in Revista da Historia Cal/aria, XXXV (1973-1976). 71-90: Leoncio Afonso, «EI modelo cerealista en I~ agricultura Canaria". in {nsti,IlIO de Estudos cllllários, 50 aniverSario (/932-/982), T. 1/, Humanidades. Tenerife. 1982, 8-42. . (5) José Sanchez Herrero, «Aspectos de la organization eclesiástica. , ,". 73, O dízimo do açúcar é apenas das ilhas de Gran Canaria, La Palma, Tenerife e la Gomera; o trigo e a cevada de todas excepto Hierro e La Gomera: o centeio apenas de Tenerife. Gran Canaria e La Palma: o toucinho. sebo, couros e marca de gado Fuerteventura: o queijo e a urzela de Fuerteventura e Lanzarote. (6) José Sanchez Herrero. ibidem, 73-90,
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Os cereais e o vinho Oriundos de uma área em que a componente fundamental da alimentação era definida pelos cereais (trigo, cevada, centeio), os colonos europeus que povoaram estas ilhas não menosprezaram o quantitativo de grão necessário para a sementeira nestas novas frentes de arroteamento O fenómeno de ocupação e povoamento das ilhas atlânticas é, assim, caracterizado pela transplantação de homens, técnicas, produtos e formas de domínio e poder; tudo será moldado à imagem e semelhança das terras de origem dos colonos. Assim, surgem as searas, os vinhedos, as hortas e fruteiras dominadas pela casa da palha e, mais tarde, pelas luxuosas vivendas senhoriais. Na Madeira, até à década de 70, a paisagem agrícola será dominada pelas searas, decoradas de parreiras e canaviais. A cultura cerealífera dominava, então, a economia madeirense, referindo Fernando Jasmins Pereira, a este propósito, que no período henriquino os cereais constituíram a base da colonização da ilha (8). A fertilidade do solo, resultante das queimadas, fez com que esta cultura atingisse níveis de produção espectaculares, que a historiografia quatrocentista e quinhentista anuncia com assiduidade, notando que o cereal se exportava para o reino e praças africanas (9). Em meados do século, segundo Cadamosto, a ilha produzia 3000 moios de trigo, que excedia em mais de 65 % as necessidades da parca população (10). Esse excedente, avaliado em cerca de 2/3 da produção, era exportado para o reino e, segundo os cronistas, vendia-se ao preço de quatro reais 1); desde 1461, 1000 moios de cada safra destinavam-se ao saco da
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Guinée z ).
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Nao obstante, a partir da década de 60, com a valorização da produção açucareira, as searas diminuiram em superfície e a produção cerealífera passou a ser deficitária. Ou seja: a partir de 1466, a ilha precisava de importar trigo para sustento dos seus vizinhos, sendo, portanto, impossível manter as escápulas estabelecidas(13); aliás, em 1479, referia-se que essa produção dava apenas para quatro meses(14). Esta última situação derivou da acção dominadora dos canaviais, aliada ao rápido esgotamento do solo e inadequação da cultura, resultante de uma exploração intensiva, sem recurso a qualquer técnica de arroteamento s ).
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(') Joel Serrão, ..Sobre o trigo das ilhas«, in D. A. H. M .• n. o 2, (1950), 2: Vitorino Magalhães Godinho, Ibidem, III, 217; Oliveira Marques, Introdução à História da AgriCIIltura em Portugal, Lisboa, 1978,269-254. (B) Esta questão foi já amplamente tratada por nós, pelo que apenas damos aqui conta dos aspectos mais salientes, remetendo a sua precisa elucidação para os seguintes estudos: "O Comércio de Cereais dos Açores para a Madeira no século XVII», in Açores e Atlântico, (séculos XIV-XV!), Angra do Heroísmo, 1984 651-676: ,,0 Comércio de cereais das Canárias para a Madeira nos séculos XVI-XVII .. , in VI C. H. C. A. (1984), no prelo; "A questão cerealífera nos Açores 1., .1 .. in Arquipélago, VI Série, História e Filosofia, n. o I, 1984, 123-201. Veja-se ainda para as Canárias; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., 251-256; Guilhermo Camacho y Perez Galdós, "Cultivos de cereales viíia y huerta en Gran Canaria (1510-1537) .. , in A. E. A., n. o 12 (1966), 233-279. Femando Jasmins Pereira, Alguns elementos para o estudo da História Económica da Madeira, 99. (9) Segundo Francisco Alcoforado (1420), Gomes Eanes de Zurara (1453), Cadamosto (1445). Diogo Gomes (1482), Valentim Fernandes (1506) e Gaspar Frutuoso (1580-1590); veja-se António Aragão, A Madeira vista por estrangeiros, Funchal, 1981; Alberto Iria, O Algarve e a Madeira no século XV, Sep. da Swdia n. O 38: Joel Serrão, ibidem. eo) Segundo Vitorino Magalhães Godinho (ibidem, 233). consumo rondava entre os 930 e 1100 moias pelo que sobravam 1900 a 2000 moias. (11) "Relação de Diogo Gomes», in Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, n. o 5. 291-292: Jerónimo Dias Leite, O Descobrimento da ilha da Madeira I .. .1, Coimbra, 1947, 180-181. 2 ) A. R.M., C. M. F" Registo Geral, T.I, fi. 204-205, 3 de Agosto de 1461, .. Apontamentos e capitolos do Ynfante don Fernando pera ylha«, in A. H. M., vol. XV, 11-20. (13) Idem. Ibidem, 226-299 v. o , 7 de Novembro de 1466, in A. H. M., XV, 36-40. 4 ) Referenciado por António Aragão, A Madeira vista por estrangeiros, 215 (nota 9). s ) Cadamosto, em meados do século XV, refere que de uma produção inicial de I :60 se havia passado para I :30 ou I :40 (.. Navegações de Luis de Cadamosto", in A. Aragão, A Madeira vista por estrangeiros). Giulio
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o agravamento do défice cerealífero nas décadas de 70 e 80, que conduziu ao alastramento da fome em 1485, surgirá como a principal preocupação das autoridades locais e centrais. Primeiro procurou-se colmatar a falta com o recurso à Berberia, Porto, Setúbal, Salónica; depois foi necessário definir uma área externa produtora, capaz de suprir as necessidades dos madeirenses. Assim sucedeu, desde 1508, com a definição dos Açores como principal área cerealífera do Atlântico português; as ilhas açorianas actuariam como o celeiro de provimento da Madeira e substitutivo desta no fornecimento às praças africanas 6 ). A Madeira, que se havia afirmado, no período henriquino, como um importante mercado de fornecimento de trigo passará, no governo fernandino, à situação de comprador, adquirindo mais de 1/2 do seu consumo nas ilhas vizinhas: Açores, Canárias 7 ). A crise cerealífera surge simultaneamente com a afirmação da mesma cultura no solo açoriano, havendo correlação entre a crise, de um lado, e o surto, do outro; Joel Serrão refere-nos que a valorização dos cereais na agricultura resulta dessa situação s ). O rápido incentivo do povoamento deste arquipélago nas décadas de 60 e 70, conduziu ao igual desenvolvimento da cultura cerealífera, de modo que esta se afirmava, em finais do século, como a principal área produtora de trigo do Novo Mundo 9 ). A historiografia quinhentista é unânime em afirmar a elevada fertilidade do solo açoriano; o mais demonstrativo desses textos é o de Gaspar Frutuoso, que nos dá conta, de modo exaustivo, das diversas formas de actividade económica do arquipélago, tendo em conta a actuação dos factores de produção eo); na descrição que faz das nove ilhas salienta que o solo açoriano, de um modo geral, se apresenta apto para a cultura do trigo, quer pela sua estrutura geográfica, quer pela fertilidade, que tornava desnecessário o recurso ao sistema de afolhamento 1 ). A intensificação dessa cultura e a falta de uma correcta política de arroteamento condicionaram a produção cerealífera açoriana a partir de meados do século XVI. A situação de crise, que então surgiu, resultava, por um lado, do esgotamento e inadequação das sementes ao solo e, por outro, de acção da alforra. Esta situação condicionará e provocará profundas alterações na economia agrária açoriana, sendo o factor preponderante para o alargamento da área arroteada e das alterações na estrutura económica 2 ). Os problemas cerealíferos que surgirão com maior acuidade a partir desta data, agravando-se nas últimas décadas do século, pautavam toda a acção dos municípios e coroa que procuram, de modo desenfreado, as soluções adequadas para a carestia e para a fomee 3 ). A partir de finais do século XV as Ilhas de Tenerife, Lanzárote, Fuerteventura, La Palma e Gran Canaria juntar-se-ão ao grupo das áreas produtoras de cereal no Atlântico, apresentando-se como celeiro local e de fornecimento da Madeira e, até de Castela, em
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Landi ("Descrição da ilha da Madeira». ibidem. 84). em cerca de 1530. dá conta dessa situação de modo explícito: "A ilha produziria em maior quantidade se semeasse. Mas a ambição das riquezas fez com que os habitantes. descuidando-se de semear trigo, se dediquem apenas ao fabrico do açúcar, pois deste tiram maiores proventos, o que explica não se colher na ilha trigo para mais de seis meses, por isso há uma carestia de trigo pois em grande . abundância é importado das ilhas viz·inhas». (16) Alberto Vieira, O Comércio de Cereais dos Açores para a Madeira /la século XVIl, 652. (17) Giulio Landi em 1530 refere a sua importação das ilhas vizinhas (Ebidem) e Pompeo Arditi em 1567 refere que o «trigo que aí se colhe é muito bom. mas tão pouco que não chega para a terça parte da ilha; por isso são obrigados a importá-los das Canárias e das ilhas dos Açores» "Viagem à ilha da Madeira e aos Açores». in ibidem. 130). Gaspar Frutuoso (ob. cit., L.0 II, (14) em finais do século, elucida que a ilha precisa de importar anualmente doze mil moios de trígo. ct a) Ob. cit.. 5-6. ct 9 ) Veja-se o nosso estudo, A Questão cerealífera /lOS Açores / .. ./, 123-136. eo) Saudades da Terra. L.0 IV (2 vols.). L.o VI. 1 ) Ebidem. L.0 III, 98, 66; L.0 IV, vol. II, 17.23. 25; L.0 VI. 4. 227. 2 ) Alberto Vieira, A questão cerealífera /lOS Açores / .. ./, 132-133. J ) Ebidem. 133-139.
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momentos de penúria 4 ); segundo Eduardo Aznar a cultura cerealífera desempenhou um papel preponderante na economia insular, suplantando mesmo o açúcares). Da análise das rendas das ilhas realengas verifica-se que os cereais surgem como uma componente importante da economia insular. variando, é certo, de ilha para ilha. Assim. para todo o século XVI, nas ilhas de Tenerife e La Palma teremos a dominância desta cultura; de 1507 a 1508 ela representava 47%, na primeira, e 36%, na segunda; em 1510 estas duas ilhas apresentavam 49 % em cereais e 45 % em açúcar.
Dízimos eclesiásticos em 1585
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TRIGO
VIZINHOS
CEVADA E CENTEIO
ILHAS N."
Tenerife Oran Canaria La Palma La Oomera Hierro Lanzarote Fuerteventura Tolal
4070 1 709 1 170 253 200 120 219 7741
c/c
FANEGAS
53 22 15 3 3 I 3
MÉDIA
Çf
FANEGAS
MÉDIA.
Çf
I 270 167 685
42 25 23
3.2 2.2 1.7
1 131 1 176 819
30 32 22
3,6 1,4 1,4
226 599 3007
8 2
0.5 3.7 2.5
385 235 3746
10
0,3 0.9 2
6
Em 1522, no conjunto das ilhas realengas, salienta-se com maior acuidade a dominância desta cultura na produção canária; assim as referidas ilhas representavam 55 % enquanto o açúcar surge com 16%, isto é, menos de um terço. Esta situação resulta, fundamentalmente, da ilha de Tenerife, uma vez que em Gran Canaria, e desde 1498, o açúcar adquiriu uma posição privilegiada (52%) em relação aos cereais (38%). A produção cerealífera canária circunscrevia-se às ilhas de Tenerife, Gran Canaria, La Palma, Lanzarote e Fuerteventura. A primeira adquire posição cimeira, desde os inícios da conquista. mantendo-se até finais do século XVI (1585); entre 1507 e 1522, a média de produção orçava as 85 000 fanegas de cereais, sendo 60% de trigo e 40% de cevada. No ano de 1522 das 100000 fanegas de produção, cerca de 30000 foram consumidas localmente e as restantes exportadas para as ilhas vizinhas e para a Madeira 7 ). A ilha de Tenerife mantém-se, até princípios do século XVII, como o principal celeiro canário, capaz de suprir as necessidades do seu consumo e das ilhas vizinhas, como Gran Canaria, La Palma e Madeira. Aliás, em 1585, Thomas Nichols referia que «esta isla es la más fértil de todas encuanto ai trigo, y desde este punto de vista es una madre o una nodriza para todas las demás en tiempo de necessidad" s). A conjuntura cerealífera deste arquipélago, em meados do século XVI, é idêntica à das restantes áreas produtoras (5. Miguel, Terceira), definindo-se pela acuidade dos problemas
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(24) Guilhermo Camacho y Perez Galdós, ibidem, 224-50: Pierre Chaunu, ibidem. VIII, Vol. I, 366-372: Leoncio Afonso. ibidem, 7-42. s ) Ob. cit .• 252. (26) José Sanchez Herrero, ibidem, 74-90. (27) Acucrdos dei cabildo de Tenerife, TV, n.o 343, 26 de Setembro de 1522: Eduardo Aznar Vallejo. ob. cit., 252: Leoncio Afonso, ibidem. 30-33. R ) «Descripction de las islas afortunadas .. in Alejandro Cíoranescu. Thomas Nichols mercador de azúcar. hispanista y herege. La Laguna, 1963, 114.
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VINIIAS E LATADAS liA MADE[RA. Seculo XVI
de abastecimento local, que surgem como o resultado da deterioração do solo e do aumento desproporcionado da população; a esta situação de crise, generalizada a todo o mundo insular, corresponde uma intervenção assídua da coroa e dos municípios, entravando a livre circulação do produto e o seu consequente comércio. Relação consumo -
produção de cereais nas Canárias século XVI
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PRODUÇÃO
ILHAS
POPULAÇÃO
-----------TRIGO
Oran Canaria Tenerife La Palma La Gomera EI Hierro Lanzarote Fuerteventura Total
7690 18315 5265 I 138 900 540 985 34834
CONSUMO
SALDO
CEVADA/CENTEIO
7670 12700 6850
II 310 II 7ffJ
22ffJ 590 30070
3850 2350 374ffJ
8 190
26995 45787 18428 3983 3 150 1890 3448 121919
- 8015 -21 327 - 3388 - 3983 -3 150 + 4220 508 -81 389
A produção em 1585 evidencia essa situação, demarcando a necessidade de recurso a outros produtos alimentares ou à sua importação; a produção de trigo dava apenas para um quarto das necessidades; daí o recurso a outros cereais, como o centeio e a cevada, produtos importantes na dieta das camadas sociais mais humildes. No entanto, como essa produção apenas surge com metade do quantitativo necessário, somos levados a concluir que a alimentação deveria ser variada, sendo os seus componentes extraídos da rúbrica miunças, que representa valor superior em todas as ilhas, e um total de 50% do global nas Canárias. Apenas as ilhas de Lanzarote e Fuerteventura poderiam manter um importante comércio de exportação, alheio a qualquer impedimento à sua livre circulação. Os cabouqueiros peninsulares transportam conjuntamente com os poucos grãos de cereal alguns bacelas das boas cepas existentes no reino, de modo a poderem dispor do precioso rubinéctar para o ritual cristão e alimento diário. A videira adaptou-se com facilidade ao solo insular e conquistou uma posição importante na economia insular. Cadamosto, que em ~eados do século XV visitou a Madeira, ficou deslumbrado com o rápido crescimento desta cultura, aduzindo que a ilha «tem vinhos, muitissimo bons; se se con'siderar que ( ... ) é habitada há pouco tempo são em tanta quantidade, que chegam para os da ilha e se exportam muitos deles" o). A cultura da vinha na Madeira absorvia, já por esse tempo, uma porção considerável da área arroteada da ilha e, de modo especial, a zona ribeirinha do Funchal, onde deparamos com doze vinhas e treze latadas. Além Funchal, na área entre a Ribeira Brava e Ponta de Sol encontramos apenas oito latadas 1 ). Na primeira metade do século seguinte esta cultura aumenta em extensão e importância, alargando-se a novas áreas como Câmara dos Lobos, Caniço e Ribeira. Brava; a partir de meados do mesmo século a vinha conquista em definitivo o solo madeirense, substituindo os canaviais e alargando-se às clareiras vertente norte, e de tal modo que em finais do século existia com abundância em todas os núcleos de povoamento. (32)
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José Sanchez Herrero, ibidem, 74-90. 1... '/" in António Aragão, ob. cit., 37. Virginia Rau, O açúcar da Madeira / ... /,66-74; A.R.M., Misericórdia do Funchal, n,o 40, 43,694.
eo) «Navegação
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1
710.
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(n) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra. L.0 II, passim.
108
Os trigais e os canaviais davam, assim, lugar às latadas e balseiras, a vinha tornava-se a cultura exclusiva do colono madeirense, à qual passa a dedicar toda a sua acção e engenho. O vinho adquire o primeiro lugar na economia madeirense, mantendo-se nessa situação por cerca de três séculos. A evolução da situação viti-vinícola madeirense é apresentada de modo exemplar por alguns visitantes da ilha nesse século. Assim, em 1547 Hans Standen definia a economia da ilha pelo binómio vinho/açúcar, enquanto, em Maio desse ano a vereação funchalense decidia o preço do vinho, urna vez que «nesta ilha as mais pessoas deIla vivem de 3 vinhos» ). Esta última situação surge reforçada em meados do século, e de tal modo que, na década de 70, o vinho viria a apresentar-se como o primeiro e principal produto de exportação 4 ). Em 1583 T. Nichols referia que ,
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3)
A.R.M., C.M.F" n. o 1308. fi. 44. 14 de Maio de 1547.
(34) Segundo Duarte Lopes em 1578, Vitorino Magalhães Godinho, ob. cil ..
m.
244.
(35) Alejandro Cioranescu, ob. cil .. 122.
e Descripcioll e Hisloria de las islasCallarias / ... /, Santa Cruz de Tenerife. 1978. 266. e Vitorino Magalhães Godinho, ibidem. III, 244. es ) fbidem. 244. . "História da Navegação /" ./», B.l.H.f.r.. I, 151; C. Mosquera de Figueiroa .. Conquista de la Isla 6)
7)
e9)
Terceira en 1583» in Arquivo dos Açores. IV, 281. (40) Ernesto Rebello, «Notas açorianas .. ,in Arquivo dos Açores. VII. 65, 75. (41) Gaspar Frutuoso (Saudades da Terra. L. o III, IV. VI) dá-nos conta da situação da economia viti-vinícola açoriana em finais do século. (42) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra. Livro IV, vol. II, 5, 46-47. (43) fbidem. L. 0 VI, 246-247.
109
S. Roque e Santa Bárbara produziam-se mil e novecentas pipas, havendo aí importantes lavradores de vinha, como Belchior Homem, que produzia de cem a cento e trinta pipas de bom vinho (44). Nas Canárias o impulso viti-vinícola deu-se logo após a conquista destas ilhas, tendo o vinho assumido uma posição de relevo na economia canária, na segunda metade do século XVI. O rápido arranque desta cultura na ilha de Tenerife resulta do incentivo do cabildo à plantação de videiras, aliado à proibição dos vinhos de fora, como forma de colmatar a sua falta no mercado local (45). Nas ilhas de La Palma e Gomera esse avanço resulta da existência de um mercado comprador nas Índias Ocidentais, cujo transporte era facilitado pela posição das duas ilhas no traçado rotas comerciais de ida (46). A insuficiência da produção cerealífera insular, acompanhada da incidência de agudas crises de produção, conduziram à valorização da componente leguminosa e frutícola na alimentação insular. Assim, a fruticultura e horticultura apresentar-se-ão como componentes importantíssimas na economia de subsistência. Gaspar Frutuoso, em finais do século XVI, alude com frequência às hortas e quintais, que ornamentavam a paisagem humanizada do mundo insular, onde se produzia um conjunto variado de legumes e frutas (47); estes, para além do uso na dieta alimentar, eram também valorizados pela utilização para provimento das naus que apartavam com assiduidade a estas paragens. A dieta insular completava-se com o aproveitamento dos recursos do meio com valor alimentar, como seja a caça e pesca, e dos derivados da actividade pecuária, corno a carne, o queijo e o leite. A pesca, mercê de condições do meio, será uma actividade importante das populações ribeirinhas, que usufruem de grande variedade de mariscos e peixe, jun"to à costa e no mar alto (48). O gado terá igualmente importância na economia insular, não só pela sua utilização corno força de tracção nos transportes e na lavoura, mas também pela valorização dos seus derivados na alimentação (carne, queijo) e nas indústrias artesanais (couro, sebo). Tendo em conta esta múltipla utilização, os municípios procuram valorizar e regulamentar a componente pecuária da economia local, ao mesmo tempo que intervêm na distribuição e venda dos seus derivados e do seu uso quotidiano, como força motriz (49).
(44) lbidem, 288-293. (45) Elias Serra Rafols, «introduccián», in Acuerdos de! cobildo de Tenerife, IV, p. XI. A 13 de Janeiro de
1500 o cabildo ordenara que cada vizinho deveria plantar oitocentas sementes (AclIerdos dei rabildo de Tenerife, I, n. o 143, p. 26) e a 5 de Novembro de 1507 proibia-se a saída de vinho da ilha (ibidem, n. o 248, p. 28), E, finalmente a IS de Abril de 1519 atinge-se o número de pipas necessárias ao consumo local, pois proibe-se a sua introdução de fora (ibidem, IV. n. o 65 p. 30), sendo levantado. excepcionalmente, a 3 de Junho (ibidem, n. o 77, p. 341) mantendo-se com força da lei, como forma de incentivar esta cultura na Ilha (ibidem, n,o 153, p. 38, I de Julho de 1520); veja-se Andres Lorenzo Caceres, Malvasia y Fa!stajf o Los vinos de COllarias, La Laguna, 1941, (46) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 I, (1966) 74. 104-106, 137-8; E, Marco Dorta, «Descripcion de las islas Canárias», in Revista de história, IX (1943), 1201-1204. (47) Saudades da Terra, L.0 I. caps. XII-XX; L.o II, caps. IX, XV-XIX, L.0 III, caps. LVI-LVIII; L,o VI, caps. III-VI, XXXII-XXXIII, XXXVII, XLI, XLVII. (48) lbidem. (49) Em 1506-1508 Valentim Fernandes (Ob. cit.) refere quanto à ilha Terceira que há "grande criação de vacas e porcos e ovelhas de que faze muita carne que levã para Portugal e muyto sevo», Gaspar Frutuoso, em finais do século XVI, dá-nos conta das terras de pasto da criação de gado e dos animais da lavoura, nas ilhas em estudo: confronte-se nota 47. Veja-se ainda José Perez Vidal, "La ganaderia canaria. Notas historico-geográficas", in A.E.A., n. o 9 (1963), 237-286; Maria Olímpia da Rocha Gil. "Pastagens e criação de gadh na economia açoriana nos séculos XVI e XVII (elementos para o seu estudo)>>_ in B.I.H.l,T., XL (1982), 503-549.
110
o
açúcar e o pastel
Enquanto os produtos anteriormente referenciados surgem como uma necessidade emergente da dieta alimentar dos colonos europeus que tomaram estas ilhas por morada, os produtos coloniais aparecem como uma imposição da Europa Atlântica, ou seja, com a finalidade de suprir as necessidades do mercado europeu. A Europa distribui os produtos de cultivo pelas áreas adequadas e assegura as condições necessárias à sua implantação e ao seu escoamento e comércio. Nestas circunstâncias surgem a cana-de-açúcar e o pastel, que se alargam a todo o espaço insular atlântico. Os incentivos da coroa e munícipios, aliados à sua elevada valoração pelos agentes europeus, actuaram como mecanismo de desenvolvimento e expansão destas culturas no mundo insular. A cana-de-açúcar, pelo seu alto valor económico no mercado europeu-mediterrânico, foi um dos primeiros e principais produtos que a Europa legou e impôs às novas áreas de ocupação; primeiro chegou à Madeira e daí passou para os Açores e Canárias (50). A cana-de-açúcar, na sua primeira experiência além-Europa, evidenciou as suas possibilidades de desenvolvimento fora do habitat mediterrânico. Esta evidência catalizou as atenções do capital estrangeiro e nacional, que apostou no crescimento e promoção desta cultura na jlha; só assim se poderá compreender o seu arranque rápido; se nos primórdios da ocupação do solo insular se apresentava como uma cultura subsidiária, a partir das últimas décadas do século XV aparece como o produto dominante, situação que se manterá até à primeira metade do século XVI. A cana sacarina, usufruindo do apoio e protecção do senhorio e da coroa, conquista o espaço arroteado das searas, expandindo-se a todo o solo arável da ilha. Aí poderemos distinguir duas áreas: a) a vertente meridional (de Machico à Calheta), com um clima quente e abrigada dos alíseos, onde os canaviais atingem os 400 m de altitude; b) o nordeste, dominado pelas plantações da capitania de Machico (Porto da Cruz e Faial até Santana), solo em que as condições mesológicas não permitem a sua cultura além dos 200 m, nem uma produção idêntica à primeira área (51). A capitania do Funchal agregava no seu perímetro as melhores terras para a produção do açúcar, ocupando a quase totalidade do espaço da vertente meridional. À capitania de Machico restava apenas uma lnfima parcela dessa área e todo um vasto espaço acidentado impróprio para a cultura. Assim, em 1494, do açúcar produzido na ilha, apenas 20% advém da capitania de Machico e o sobrante da capitania do Funchal; em 1520 a primeira atinge . 25 % e a segunda os 75 % (52). Fernando Jasmins Pereira, num estudo comparativo da produção das duas capitanias entre 1498 e 1537, discorda da relação até então estabelecida, pois, de acordo com a sua análise, a razão situa-se em 4: I para os primeiros decénios do século XVI, descendo entre 1521-1524 para 3:1 e recuperando na segunda metade do decénio para a anterior relação(53). (50) Frédéric Mauro, ob. cit" 116-190; Henrique Gomes de Amorim Parreir~, "História do Açúcar em Portugal .. in Anais da Junla das Missões geográficas ~o Ullramar. vol. ~II, t. II; Lisboa: 1952: Eduar~o Az~ar ' b·'1 260-263' Charles Verlinden, "Les de.buts de la productton et I explotauon du sucre a Madere V a II eJo, o . (I " , . I 'b d /., '/'" in Sludi in onori de Luigi dei Pane, Roma, 1982,301-310; José Perez Vldal, :Las con.servas a mi., era as de los Azores y las Canarias .. , in B.l.H.I.T., XIV (1956), 18-19; Vitorino Magalhaes Godmho, ob. clt., IV,
69-99(51) Veja-se Orlando Ribeiro, L'iie de Madere. Élude géografique. Lisbonne, 1949 pp. 60-62; Vitorino . , _ Magalhães Godinho, Os descobrimentos e a economia mundial. IV, pp. 80-81. (52) Veja-se V. Rau, ibidem. p. 15; V. M. Godinho, ibidem. p. 80; Fernando Jasmms Pereira, O açucllr . A . d J d I/Iade-irense /"'/' p, 95, (53) O autor refere-se a H. G, de Amorim Parreira, "História do Açúcar em Portugal:>, ln nals a unta. e Invesligação do Ullramar, vol. VII (1952)., T. I, pp. 31-32: V. Rau, ibidem. p. 14; Veja-se Fernando Jasmms Pereira, ibidem, p. 100-101.
111
Na capitania do Funchal os canaviais distribuem-se de modo irregular, de acordo com as condições mesológicas da área. Em 1494 a maior safra situava-se nas partes do fundo, englobando as comarcas da Ribeira Brava, Ponta de Sol e Calheta com 64% da produção, enquanto o Funchal e Câmara dos Lobos tinham apenas 16%(54). Em 1520, não obstante uma ligeira alteração, a diferença mantém-se, pois a primeira área surge com 50%, enquanto a segunda apresenta 25 %, valor igual ao total da capitania de Machico (55). Numa análise em separado das diversas comarcas da capitania do Funchal verifica-se que a comarca do Funchal domina essa produção com 33 %, seguindo-se a Calheta com 27 %; as comarcas de Ribeira Brava e Ponta de Sol surgem numa posição secundária, ambas com 20% (56). Referida a situação da geografia açucareira madeirense, vejamos a sua evolução até meados do século XVI. Criadas as condições a nível interno por meio do incentivo ao investimento de capitais na cultura da cana-de-açúcar e comércio de seus derivados, do apoio do senhorio, da coroa e da administração, a cana estava em condições de prosperar e de se afirmar, por algum tempo, como o produto dominante da economia madeirense. O incentivo externo do mercado mediterrâneo e nórdico aceleraram este processo expansionista, e a sua detenção só foi possível pela conferência de vários factores endógenos e exógenos; assim se explica o rápido movimento ascendente bem como o percurso inverso, pois ao atingir-se o zénite não houve um lapso de estabilidade. A fase ascendente, que poderá situar-se entre 1450 e 1506, não obstante. a situação deprecionária de 1497-1499, é marcada por um crescimento acelerado que, entre 1454-1472, se situava na ordem dos 240% e no período subsequente, até 1493, em 1430%, isto é, uma média anual de 13,3 % no primeiro caso e de 68 % no segundo. No período seguinte, após o colapso de 1497-1499, a recuperação é de tal modo rápida que em 1500-1501 o crescimento é de 110% e, entre 1502-1503, de 205%. Esta forte aceleração do ritmo de crescimento nos primeiros anos do século XVI irá marcar o máximo, atingido em 1506, a que se' sucede um rápido declínio nos anos imediatos, de tal modo acelerado que em quatro anos se atinge um valor inferior ao do início do século. A situação agrava-se nas duas décadas seguintes, baixando a produção na capitania do Funchal, entre 1516-1537, em 60 %; na capitania de Machico a quebra é lenta, sendo sinónimo do depauperamento do solo e da crescente desafeição do mesmo à cultura. Todavia a partir de 1521 a tendência descendente é global e acentuada, e de tal modo que a produção do fim do primeiro quartel do século se situava a um nível pouco superior ao registado em 1470(57). Na década de 30 consumava-se em pleno a crise da economia açucareira, e o ilhéu viu-se na necessidade de abandonar os canaviais ou de os substituir pelos vinhedos, o que sucedeu de modo evidente a partir de meados do século XVI. A historiografia tradicional vem apresentando múltiplas explicações para esta crise, assentes fundamentalmente na actuação de factores externos. No entanto Fernando Jasmins Pereira com o seu estudo sobre o açúcar madeirense, contraria essa opinião fazendo assentar a crise em determinantes condições ecológicas e sócio-económicas da ilha, definindo como primordial o primeiro factor: « •.• a decadência da produção madeirense é primordialmente motivada por um empobrecimento dos solos que, dada a limitação da superfície aproveitável na cultura, vai reduzindo inexoravelmente a capacidade produtiva" (58). Deste modo a crise da economia açucareira madeirense não se explica apenas pela concorrência do açúcar das Canárias, Brasil, Antilhas e S. Tomé mas, acima de tudo, pela conjugação de vários factores de ordem interna: a carência de adubagem, a desafeição do solo à cultura e as alterações climáticas. A concorrência do açúcar das restantes áreas (54) V. Rau, ibidem, p. 15; V. M. Godinho, ibidelll, p. 80.
(55) (56) (57) (58)
112
Fernando Jasmins Pereira, ibidl'lIl, pp. 95 e 155. lhidelll, p. 95, segundo razão do Bach. Bartolomeu Lopes de 1520 (A.N,T.T., C.C., II, 86, 171). Seguimos o texto de Fernando Jasmins Pereira, ibidl'lIl, pp. 103-158). lbidl'm, p. 150.
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produtoras do Atlântico, bem como a peste (em 1526) e a falta de mão-de-obra vieram agravar a situação de crise do açúcar madeirense. As socas de cana não foram esquecidas na bagagem dos primeiros caboqueiros açorianos, pois esta cultura surge nas primeiras frentes de arroteamento nas ilhas de Santa Maria e S. Miguel e, mais tarde, na Terceira e no Faial. A cana trazida por colonos oriundos do reino, da Madeira ou da Flandres, não encontrou aí as condições adequadas ao seu rápido desenvolvimento. As condições mesológicas aliadas à inexistência ou reduzida presença de capitais nacionais e estrangeiros travaram o seu desenvolvimento. Não bastaram as iniciativas madeirenses, a partir da década de 70, e flamengas, em 1490, para que esta cultura tomasse rumo idêntico ao da Madeira (59). No que se refere a Santa Maria, Gaspar Frutuoso afirma que essa situação resultou da falta de regalias, da insuficiência de cabedais e da pouca curiosidade dos seus homens (60). Não obstante esta situação desfavorável, em finais do século XV e princípios do seguinte este produto ganhou importância de relevo nas ilhas de Santa Maria, S. Miguel e Faial, isto se atendermos ao rendimento das rendas entre 1502 e 1510(61), Nesta última data o açúcar açoriano representaria apenas um terço da produção madeirense (62). A falta de informação adequada para o período imediato e a indicação no texto frutuosiano de uma nova fase de arranque da cultura na década de 40 levam-nos a concluir que a primeira metade do século não se apresentava favorável ao seu cultivo, mercê do rápido surto da cultura dos cereais e pastel. Esta segunda tentativa de implementação da cultura surge em Vila Franca do Campo, por iniciativa de micaelenses com o apoio técnico e financeiro de madeirenses (63); embora certamente mais bem sucedida do que a primeira, manteve-se por pouco tempo, pois desde 1563 que surgem os primeiros sinais de crise que condicionarão o momento seguinte, e de tal modo que na década de 80 havià apenas um engenho na Ribeira Seca. A situação favorável das décadas de 40 e 50 é retratada na documentação oficial. Assim, em 1551 o ouvidor justificava a necessidade de construção de um porto em Ponta Delgada pelo «grande crescimento em que vai a ilha com os açúcares que agora se prantão e querem fazer» (64). Além disso, desde 1552 que era justificada a existência, em Vila Franca do Campo, de um escrivão e recebedor de açúcar (65). A crise de 1583 foi atribuída pelos mercadores deste trato à fraca qualidade do produto, derivado das condições mesológicas e das técnicas de fabrico (66). A tudo isto juntar-se-á, em finais do século XVI, a onerl!ção do fabrico da arroba de açúcar, em contraste com o seu valor reduzido e com a pouca competitividade com o da Antilhas e do Brasil; este orçamento dos custos de produção derivava do elevado preço de construção dos engenhos (600 000 reais) e da falta e dificuldade de transporte de lenha para a sua laboração; o bicho da cana viria completar a fase decrescente desta cultura e pôr termo a esta efémera aventura (67). (59) Vitorino Magalhães Godinho, ibidem. IV, 94-95; Carreiro da Costa, «A cultura da cana de açúcar nos Açores. Algumas notas para a sua história», in a.C.R.C.A .. n. o 10 (1949), 15-31; H. Amorim Parreira, ibidem. 51-52. (60) Ob. cit., L. ° III, 14. (61) Vitorino Magalhães Godinho, ibidem. IV. 94. (62) A.N.T.T., L.0 3 de D. Manuel, fl. 28, alvará régio de 10 de Julho de 1510, in Arquivo dos Açores, III, 200-201. (63) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra. L.0 IV, vol. II, 59, 209-212; Francisco Carreiro da Costa, ibidem. Sebastião Gonçalvez associa-se a Baltasar Pardo, proprietário importante de Canaviais no Funchal, e traz consigo um mestre de engenho. (64) A.N.T.T., C.C .. 1-85-87, Ponta Delgada, 23 de Março de 1551, in Arquivo dos Açores, II, 18-19. (65) Livro de Registo da Alfândega de Ponta Delgada. 1568-/603, fi. 82 v,o, referenciado por Maria Olímpia da Rocha Gil, O Porto de Ponta Delgada e o comércio açoriano no século XVII 75. (66) Ibidem, fl, 340 v. o; citado por Idem, /bidem. 76. (67) Ob. cit., L.0 IV, vaI. II, 58-59.
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Em síntese poderemos afirmar que o açúcar nos Açores não se apresentou com a mesma importância que assumi\! na Madeira e nas Canárias, pois nunca constituiu um «elemento predominante na economia insular», no dizer de Maria Olímpia da Rocha Oil(68). Nas Canárias, na mesma medida da Madeira, o açúcar surge como o componente mais importante do comércio durante o século XVI; o desenvolvimento desta cultura nas ilhas Canárias ficou a dever-se em muito à intervenção genovesa, quer por meio do investimento do seu capital em canaviais e engenhos, quer pela sua acção no trato deste produto (69); enquanto os genoveses intervêm com o capital e prática comercial, os portugueses surgem com a sua experiência no delineamento do sistema de regadio, construção e laboração dos engenhos CD). As primeiras socas de cana e mão-de-obra especializada foram conduzidas da Madeira pelo governador de Oran Canaria, D. Pedro de Vera. A partir daí a cultura expande-se para as ilhas de Tenerife, La Palma e La Gomera, áreas onde existiam as condições necessárias para a manutenção desta cultura, ou seja, ilhas em que se tornava possível introduzir o devido sistema de regadio e encontrar a lenha necessária à laboração dos engenhos. Deste modo o açucar surgirá, na vida canária da primeira metade do século XVI, como o principal produto activador das actividades económicas. Segundo M. A. Ladero Quesada «el azúcar fue, en efecto, el principal producto de exportación, que permitia obtener en contrapartida las manufacturas y otros productos que las islas necessitaban. EI azúcar atrajo las invel'siones de capital más importantes, estimulá las relaciones mercantiles, la construcción de puertos y varaderos» (71). Na segunda metade do século XVI assistir-se-á à diminuição paulatina desta cultura, mercê da concorrência do açúcar das Antilhas e costa ocidental africana e, de igual modo, do incremento da produção vitícola (72). Tal como o açúcar, o pastel surge no mercado da Europa nórdica e mediterrânica como um produto importante; era um dos principais corantes utilizados na indústria têxtil europeia (73). A abundância de urzela e sangue de drago no mercado insular condicionou o aparecimento dos mercadores italianos e flamengos que, na procura desses materiais. corantes, trouxeram consigo o pastel. Não obstante estar referida a sua existência na Madeira, no século XV, e nas ilhas de Hierro, La Palma e Tenerife, o pastel só ganhou importância nas ilhas açorianas; encon~ tramos esta cultura em todas as ilhas dos Açores, com especial incidência em S. Miguel, Terceira e Faial C4 ). Esta planta cultivou-se inicialmente na Madeira, sendo o seu produto enviado ao reino e Itália; em 1460, ainda em vida do Infante D. Henrique, recomendava-se o seu envio ao (68) ibidem. 75. (69) Confronte-se Charles Verlinden, ibidem; Ramon Diaz Hernandez, El azúcar en Canarias (século
XVi-XVll) , Las Palmas, 1982,32-33,41-42, Guilhermo Camacho y Perez Galdós, "EI cultivo de la cana de azúcar y la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535)", in A.E.A., n. o 7, (1961), 17-19, 52; Maria Luisa Fabrellas, .. La producción de azucar en Tenerife», Revista de História n. o 100, 1952, 454-475. (0) Maria Luisa Fabrellas, ibidem, 269-470; Guilhermo Camacho y Pérez Galdós, ibidem, 35-38; Francisco Morales Padron, El comercio canario-americano, 22. (71) "La economia de las islas Canarias /"'/'" in Historia General de las islas Canarias, III, 135. (72) Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., 260·261; Ramón Diaz Hernández, ibidem, 39-40, 43·48. ('3) Veja-se M. Postan e E. E. Rich, ..EI comercio y la industria en la edad Media» in Historia Económica da Europa, vaI. II, Madrid, 1967, 450-540; Guy Fourquin, História Económica da Europa Medieval, Lisboa, 1981, 377-398; Domenico Sella, «Las industrias europeas (1500-1700)>> in Historia Economica da Europa (2) siglas XVi y XVll» , Barcelona, 1981, 277-332.'(4) Francisco Carreiro da Costa, «A cultura do pastel nos Açores», in B.R.C.A., n. 0 4 (1946), 1-37; Idem, «Tinturaria Vegetal nalgumas ilhas dos Açores», in ibidem, n. o 25 (1957), 133-137; Urbano de Mendonça Dias, A vida de /lOSSOS avós, IV, Vila Franca do Campo, 1944; Maria Olímpia da Rocba Gil, O porto de Ponta Delgada e o comércio açoriano no século XVll / .. '/' pp. 91·106.
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reinoe s ). Jacques Heers corrobora esta situação ao afirmar que, por volta de 1460, os genoveses vinham frequentemente buscar este produto à ilha, e que esta era conhecida como a ilha do pastel('6); não obstante, a documentação madeirense apenas referencia a existência e o comércio de outras plantas tintureiras, como o dragoeiro e a urzela. Mas se dermos crédito à lembrança do Infante D. Henrique, corroborada pela notícia de Jacques Heers, e se tivermos em conta a referência feita por Virginia Rau, acerca da sua exportação em 1537 para Antuérpia, somos levados a concluir que este produto era um componente importante das trocas madeirenses nos séculos XV e XVI 7 ). O seu esquecimento na documentação oficial será resultado da inexistência de qualquer circunstância que nos escapa ou da sua secundarização a favor de produtos, como o vinho e o açúcar, dominantes e granjeadores de um valioso lucro. O mesmo se poderá dizer em relação às Canárias, onde deparamos apenas com referências muito lacónicas ácerca do cultivo e comércio deste produto; a planta surge nas ilhas de Hierro, La Palma e Tenerife('B); Gaspar Frutuoso em finais do século XVI, refere-nos que em La Palma «houve muito pastel que deixaram de os fazer por haver mais proveito nos vinhos e trigo e por os da escala das Indias, de que é frequentada aquela ilha, não pedirem senão vinhos» ('9). O pastel foi certamente introduzido nas Canárias pelos portugueses oriundos dos Açores, uma vez que estes surgem em Tenerife associados à sua cultura e transformação (BD). No arquipélago açoriano esta cultura alcançou um lugar similar ao ocupado pela cana-de-açúcar na Madeira e nas Canárias, sendo o principal produto de troca com o exterior e um chamariz para os mercadores italianos, flamengos e ingleses. A historiografia, baseada no texto de Gaspar Frutuoso (L.os III, IV, VI) refere-nos que o pastel foi introduzido pelos flamengos que estiveram ligados ao povoamento das ilhas da Terceira e Faial (Bl); no entanto parece-nos ser de outra precedência a sua origem em solo açoriano. Em primeiro lugar, convém esclarecer que o facto de os flamengos estarem ligados aos primórdios do seu cultivo e comércio não poderá ser prova cabal da sua transplantação da Flandres e de que a sua produção se destinava em exclusivo a este mercado. O seu interesse pelo pastel deriva da necessidade do seu uso na indústria têxtil, procurando evitar os contratempos e dificuldades do mercado abastecedor francês, pois a Flandres não era um mercado produtor, mas sim um potencial comprador do pastel de Toulouse (82). Deste modo, se tivermos em conta a sua existência na Madeira no século XV, considerado na dééada de 60 como um produto importante, poderemos referenciar a possibilidade da sua introdução por colonos madeirenses, que inv.adiram as ilhas da Terceira, Faial e S. Miguel a partir de meados do século XVI. Saliente-se que Guilherme da Silveira, apontado como um dos introdutores do pastel no Faial, na sua expedição para esta ilha apartou à Madeira, onde se deteve por algum tempo (B3). De igual modo Jácome de
e
t s ) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L. o II, 95; Fernando Augusto da Silva, «pastel .. , in Elucidario Madeirense. II (1946), .54. t 6 ) Gênes au XV siécle, Paris, 1971, ;317. 7 ) A 6 de Março de 1537 o navio «Santa Maria das Areias .. de Diogo GO[jçalves, entrou em Antuérpia com pastel de Madeira. Veja-se Virginia Rau, A exploraç~o e o comércio de sal de Setúbal, Lisboa, 1952. t 8 ) Dacio VÍctoriano Darías y Padron, Noticias generales historicas sobre la isla dei Hierro. Santa Cruz de Tenerife, 1980, 208; Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 I, 132; Manuel Lobo Cabrera e Elisa Torres Santana, «Aproximacción a las relaciones entre Canarias y Azores en los siglas XVI y XVII" in Os Açores e o Atlântico (XV-XVII), 1984, 363-364. (79) Oh. cit., L.0 1, 132. (80) Manuel Lobo Cabrera, ibidem, 132-133; Elias Serra Rafols, Las datas de Tenerife, La Laguna, 1978, data n,o 32, 53, 65,462, 516, 590, 762, 1249, 1462, 1470, 1487, 1521, 1526. (81) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 VI, cap. XXXVI; Antónío da Silveira Macedo, História das quatro ilhas I .. ./, I, 17; Carreiro da Costa, A cultura do pastel nos Açores. já citado. (82) Veja-se nota 73. (83) Saudades da Terra, L.o VI, 257,278.
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Bruges, outro flamengo relacionado com o povoamento da Terceira, esteve na Madeira na década de 50, tendo trazido consigo Diogo de Teive (84). Em síntese é legítimo concluir que o pastel foi introduzido pelos flamengos que na Madeira estiveram ligados ao seu comércio ou então pelos colonos madeirenses que emigraram para os Açores, a partir da década de 50 (85) .. De acordo com Gaspar Frutuoso, os flamengos corresponsabilizaram-se pela introdução e distribuição do pastel, a partir do Faial, pelas ilhas S. Jorge, Graciosa e S. Miguel, alargando-se depois às restantes ilhas. A ilha de S. Miguel, pela sua extensão e disponibilidade do solo arável, tornou-se a principal área de produção e comércio deste produto. A aristocracia fundiária micaelense fez incidir as suas arroteias na cultura dos cereais e desta planta tintureira; Gaspar Frutuoso dá conta desses elementos influentes da produção de pastel, citando em especial Jorge Botelho e Francisco Arruda da Costa(86). Os incentivos da coroa a esta cultura, bem como a elevada valorização do seu produto no mercado têxtil europeu, conduziram à sua rápida afirmação no solo açoriano; assim, em 1592, Gonçalo Vaz Coutinho, governador da ilha de S. Miguel, atribuia a falta de pão na ilha à ocupação quase exclusiva do pastel(87); e, conforme referia J. H. Linschoot, em 1589, «o negócio mais frequente destas ilhas é o pastel para uso de tinturar» de que «os camponeses fazem seu principal mister», sendo o seu comércio «o principal proveito dos insulares» (88); o autor holandês adianta a predominância desta cultura na agricultura açoriana, nomeadamente em S. Miguel e na Terceira, referindo no entanto que a produção e comércio da primeira é muito superior à da segunda. Recolecção, Silvicultura e Pesca Mercê da sua instalação ribeirinha, os insulares foram exímios marinheiros e pescadores, extraindo do mar um grande número de recursos com valor alimentar. A actividade piscatória, nos principais portos e ancoradouros destas ilhas, deveria absorver grande quantidade de vizinhos, pois a costa e o mar alto eram ricos em peixe e mariscos (89). A área marítima definida pela costa ocidental africana, entre o cabo Aguer e a entrada do golfo de Guiné, era muito abundante em peixe, sendo frequentada pelos vizinhos das Canárias e da Madeira e pelos pescadores algarvios e andaluzes. Não obstante o monopólio da coroa castelhana e a sua exploração em regime de sociedade, actuavam aí com assiduidade pescadores portugueses, e particuÍarmente os madeirenses e algarvios (90). Só ($4) lbidem. 64. (85) António Cordeiro (História lnsulana / ... /. 2." çd., 278) refere, a propósito, que "o pastel é yma erva
vinda de Tolosa". (86) Saudades da Terra, L,0 IV, voI. !l, 8-9, 97. 116, 158, 164, 178, 185, 248-249, 277. 311, Maria, ' . , Olímpia da Rocha Gil, ibidem, 98. (87) Arquivo dos Açores. II, 310. O mesmo dizia que "outra razão acho também nrsta ilha haver falta de pão centendo cada vez irá em crescymento que he fazerem-se as mais e melhores terras de pastel por o qual já há muitos anos entendendo os reis passados ... mandarão ... que nynguem semeasse mais, que a terça parte do pastel das sementeyras que fizesse; mas este regimento se não guarda porque como os ofyciais que devião de o fazer guardar são mercadores que tem o trato do pastel e dos mantymentos que vem de fora vem-lhe bem haver muito pastel e pouquo triguo». (88) "História da Navegação do holandês J. H. Linschoot». in B.I.H.I.T.. I (1943) 152 e 154. (89) Veja-se L,0 I, II, III. IV e VI. Confronte-se nota 47. (90) Antonio Rumeu de Armas, Espaiia en el Africa Atlantica. 2 vols., Madrid. 1956-1957; Idem! "Pesquerias espai'iolas en Africa (siglos XV e XVI)>>, in A.E.A." n,o 23, 370; Manuel Lobo Cabrera, "Los Vencinos de Las Palmas y sus viajes de pesqueria / ... /», in IV C.H.C.A., II, 1978,406-429; Maria Luisa Fabr.ellas, "Naves y marinos en los comiezos hispánicos de Tenerife " , inRevista de..História n.o 105-108 (1954); Manuel Lobo Cabrera, "EI mundo deI mar en Oran Canaria deI siglo XVI; navios marinos, viajes» in A.E,A., n.O 26 (1980), 333-341.
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em 1564 encontravam-se a sul do Cabo Branco cerca de quarenta embarcações castelhanas e portuguesas (91). Todavia, o balanço das capturas feitas pelos insulares não se apresentava habitualmente favorável, sendo insuficientes para cobrir as necessidades do mercado local, pelo que os municípios se viam na obrigação de regulamentar a pesca e o comércio do pescado (92). Além disso estas áreas recebiam muito pescado em salga e fumado de outras áreas piscatórias europeias ou vizinhas, conforme veremos mais adiante. A actividade recolectora adquiriu igual importância na actividade dos insulares, mercê da elevada valorização no mercado europeu, dos seus produtos, como a urze1a, aparecendo esta com abundância llas ilhas da Madeira, Porto Santo, Desertas, S. Jorge, CorVo, Flores, Santa Maria e La Gomera(93). Nas Canárias, onde se encontrava também em Gran Canaria e Tenerife, a sua colheita e comércio faziam-se já à altura da conquista; após esta concedeu-se exclusivo da sua apanha aos vizinhos e o do comércio aos genoveses, sendo, em Gran Canaria, o seu promotor Francisco Lerca(94). No âmbito da silvicultura sobressai o aproveitamento das madeiras na construção de embarcações, engenhos, casas, meios de transporte; da lenha como combustível caseiro, industrial (nos engenhos e forjas), do pez para calafetagem de embarcações. Esta constante solicitação das madeiras, lenhas e derivados para o quotidiano e para o comércio externo, conduziu à rápida desarborização do solo insular; até mesma a ilha da Madeira, que mereceu tal epíteto pela abundância e esplendor do seu arvoredo, não deixou de sofrer com tal situação (95). As queimadas para a abertura das frentes de arroteamento, o constante uso nas indústrias e a construção, pela destruição que causaram no parque florestal, forçaram as autoridades municipais a actuarem de modo rigoroso, limitando o corte de lenhas e madeiras às necessidades locais (96).
(91) Antonio Rumeu de Armas, Pesquerias espaflOlas en Africa
f .. .f, 371.
(92) O peixe fresco ou salgado surge com frequência nas deliberações dos municípios insulares; definem o
local e venda, o preço e a sua distribuição no mercado interno. Veja-se Francisco Morales Padren, Ordenanzas dei concejo de Gran Canaria, Título «de pescado y pescadores»; «Acuerdos dei Cabildo de Tenerife. I, n. o 24, 26 de janeiro de 1498; ibidem. II, n. O 28, 9 de Outubro de 1508; ibidem. n. o 21,22 de Setembro de 1508; ibidem, IV, n. O 295, 20 de Abril de 1522; A.R.M., C.M.F., n.o 1307, fi. 54-54 v.o, 5de Maio de 1546; ibidem. n.o 1311, fls. 24 v.0-25, 25 de Fevereiro de 1589. Nas vereações da Camara da Ribeira Grande (S. Miguel) 1555-1600 não encontramos qualquer referência ao peixe. (93) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, 1.0 I, 74, 163, 170; L.0 II, L.0 III, 42, 55, L.0 VI (confronte nota 44). Fernando Augusto da Silva, .. urzela», in Elucidaria Madeirense, III (1946),382-383; Carreiro da Costa ..Tinturaria vegetal nalgumas ilhas dos Açores», in H.C.R.C.A .. n.o 25, p. 12. (94) Vitorino Magalhães Godinho, "A economia das eanarias nos séculos XIV e XV», in Revista de História (S. Paulo), 1952, 313-348; Ignacio Gomez Galtier, «EI genovés Francisco de Lerca prestamista y comerciante de orchila en Las Palmas de Gran Canaria en el decenio 1517-1526», in ReVisia de Historia Canaria, n. o 141-148 (1963-1969), 70-76; Emma Gonzalez Yanes, .. Importación e exportación en Tenerife», in Revista de Historia Canaria. n.o 101-I04; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit., 419-420. (95) Veja-se Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 II, 84, 137-138; António Aragão, A Madeira vista por estrangeiros. Funchal, 1981, nota 41, pp. 42-46. (96) Veja-se cap. I; Álvaro Rodrigues Azevedo, «Anotações... in Saudades da Terra Funchal, 1873, 400-471; Elias Serra Rafols, «introduccián», in Acuerdos dei cabildo de Tenerife, IV, p. IX; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit.. 423-425.
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2. COMÉRCIO O comércio surge como resultado de todos os circunstancialismos acabados de referir, incentivadores do sistema de trocas e activadores das comunicações inter-insulares e inter-continentais, e ainda motivadores do desenvolvimento das actividades económicas. As trocas comerciais no mercado inter-ilhas só poderão ser entendidas mediante um correcto dimensionamento deste mercado e do seu enquadramento num âmbito mais vasto no mercado atlântico; e este compõe-se de uma intrincada teia de rotas comerciais que ligam o mercado europeu ao Novo Mundo. O desenvolvimento sócio-económico do mundo insular articula-se de modo directo, com as solicitações da economia europeia-atlântica. Primeiro, como região periférica do centro de negócios europeus, ajusta o seu desenvolvimento económico às necessidades do mercado europeu e às carências alimentares europeias: depois, actua como mercado consumidor das manufacturas de produção continental, em condições vantajosas de troca para o velho continente; e, finalmente, intervém como intermediário nas ligações entre o Novo e Velho Mundo. A partir de princípios do século XVI, o Mediterrâneo Atlântico define-se como o centro de contacto e apoio ao comércio africano, índico e americano. Partindo desta situação subalternizadora do mercado insular é comum definir-se a economia das ilhas pelo seu carácter periférico e posição estratégia, bases da afirmação dos interesses hegemónicos europeus além-atlântico. Deste modo, é um mercado sem uma identidade própria, e sem estruturas ou meios adequados que lhe possibilitem suplantar esta posição Todavia, uma análise aturada dos mecanismos sócio-económios insulares mostra que nessas sociedades se desenvolveram actividades económicas fora da alçada dos vectores dominadores na economia no mercado europeu e atlântico. A função de apoio à navegação resulta apenas do posicionamento geográfico de algumas ilhas, influenciando nelas o desenvolvimento económico. Para a maioria, o elo europeu será mais forte que o americano ou asiático, dinamizando o seu desenvolvimento sócio-económico. A tipologia das conexões do mundo insular com a Europa é definida pelo carácter colonial, imposto pelo velho continente. A estrutura comercial dos arquipélagos esboça-se de modo complicado, definindo-se pela sua heterogeneidade. Não existe uma linearidade na sua definição, mas sim uma variância de áreas, produtos, circuitos comerciais e intervenção de agentes nacionais e estrangeiros. Será dentro deste contexto que se articulará o comércio insular, assumindo três formas, de acordo com as classificações e cambiantes do mundo atlântico:
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I. O comércio de cabotagem inter-insular, abarcando as comunicações e contactos comerciais no mercado interno, ao nível local, regional e inter-regional, definido este último o contacto entre as ilhas de cada arquipélago;
2. O comércio intcr-insular, definindo as conexões do mercado insular atlântico restrito, no nosso caso aos arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias; 3. O comércio atlântico-europeu, abarcando ligações a longa distância com o mercado europeu, africano e americano. (1) A tendência da historiografia, a,té ao momento, foi para a valorização das ilhas atlânticas no conte~to do comércio europeu-americano, alheando-se os textos das suas ligações europeias. Es~a situ~çã,o surge COm~al?r acuidade na historiografia canária c açoriana, mercê da posição de evidência destes do!s ~rqUlpela~os, ~o comer:lO americano. A reforçar essa situação surgiu, em Las Palmas, desde 1976, «ColoqUlo d~ Hls~ona, Cana~o -Americana. e desde 1980 as «Jornadas de Estudos Canárias-América•. Veja-se Augustln GUlmera Ravma, ,. A menca, ,. 1980 , 201-219' «Canarias en la' carrera de ,Indias (1564-1518)., .m I Jornadas de Estudos Cananas. ' Idem, «Los protocolos notariales y el comercio canario-americano en la edad modema», in EI Muse~ CanarlO, XXXVI-XXXVII, 1915-1916, 169-188. O tratamento do comércio canario-americano mereceuestu?os Importante~ de António Rumeu de Armas (1941, 1950); Pierre Chaunu (1951-1960); Francisco Morales Padron (1955); Jose Peraza de Ayala (1052) e Analola Borges (1969); veja-se a bibliografia.
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2.1 Mercados e produtos insulares Os interesses da burguesia e aristocracia dirigente peninsular entrecruzaram-se no processo de ocupação e valorização económica das novas sociedades e economias insulares. Esta componente peninsular é reforçada com a participação da burguesia mediterrânica que acorre aos reinos da Península, atraída por novos mercados e uma fácil e rápida expansão dos seus negócios. Um grupo de italianos, mais ou menos ligados às grandes sociedades comerciais mediterrânicas, participa activamente no processo de reconhecimento, conquista Com efeito, eles interessavam-se pelo processo de e ocupação do novo espaço atlântico conquista do arquipélago canário, pelas expedições portuguesas de exploração geográfica e pelo comércio ao longo da costa ocidental africana; deste modo, a sua penetração no mundo insular é de tal maneira fácil que eles acabarão por alcançar uma posição muito importante na sociedade e economia insulares, nomeadamente na Madeira e nas Canárias. O impacto mediterrânico no mundo insular foi de tal modo forte que certos historiadores europeus, como Fernand Braudel e Pierre Chaunu, definiram estas ilhas como o Mediterrâneo Atlântico, designação que reflecte a penetração de técnicas e homens mediterrânicos neste novo espaço. O investimento de capital de origem mercantil, nacional ou estrangeiro, só surgirá numa óptica de nova economia de mercado europeia, salientando-se como gerador de novas Assim, o comércio será o denominador riquezas capazes de um aproveitamento comercial comum para os produtos a explorar e a introduzir no solo. Nesse processo são valorizados os produtos activadores da nova economia de mercado, ou seja, as madeiras, a urzela, o sangue de drago, o pastel, os cereais, a cana de ,açúcar e o vinho; a valorização desses produtos resultará das solicitações da economia de mercado e das condições mesológicas do complexo espaço insular. Esta aposta incial do processo de ocupação das novas áreas atlânticas irá marcar a evolução sócio-económica da sociedade insular nos séculos XV e XVI, condicionando a sua posição na nova economia de mercado atlântico-europeia. Primeiro, orientadas para a satisfação das necessidades e solicitações do mercado europeu, as ilhas assumem uma posição de subordinação aos interesses hegemónicos do Velho Continente; depois com o alargamento do mundo atlântico, irão servir de bastião para o comércio europeu na área costeira atlântica; finalmente, estabelecida e reforçada a l?osição da burguesia europeia no Novo Mundo, resta-lhes o aproveitamenmto das vias abertas, tentando .usufruir o máximo dos réditos das rotas em direcção à Europa, à África, à América e à Ásia. A manutenção e a conservação deste moviinento comercial implicavam a criação de apoios adequados e uma reserva de capital disponível. Tudo isso delinearam os primeiros peninsulares e estrangeiros que iniciaram a exploração económica do solo insular, pois em poucos anos as ilhas atlânticas inseriram-se com a maior facilidade nos circuitos comerciais do Atlântico, activando uma intricada rede de rotas. Na Madeira, desde meados do século XV, manteve-se um trato assíduo com o reino, Esse activado de início com as madeiras, urzela, trigo e, depois, com o açúcar e o vinho movimento alarga-se depois às cidàdes nórdicas e mediterrânicas, com o aparecimento de estrangeiros interessados no comércio do açúcar. A sua evolução é de tal modo rápida e
e).
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(1) Charles Verlinden,
Les origines de ta civilisalion Altanlique. Neuchatel, 1966.
e) Maria Olímpia da Rocha Gil, «Os Açores e a nova economia de Mercado (séculos XVI-XVrn, in Arquipetago, Série Ciências Humanas, III, 1981, 371-372. e) Já em meados do século XV Cadamostô referia' o comércio desta ilha com o reino e outros países. 120
lucrativa que em 1493 a fazenda real lança uma imposição sobre o movimento do porto da cidade para a despesa de construção da cerca e muros (4). De acordo com a dedução feita a imposição de um vintém sobre a tonelagem renderia cem mil reais e a de 1% sobre as mercadorias duzentos e cinquenta reais. O açúcar deveria ser o principal responsável por tão elevada quantia. Aliás o mesmo produto contribuiu para o arranque decisivo da economia madeirense, e para a sua consequente inserção na economia europeia. O acelerado ritmo de crescimento da ilha condicionou a atracção de diversas correntes imigratórias. Tal situação é definida em 1508 pelo monarca D. Manuel ao justificar a elevação do Funchal a cidade: «teem creçido em mui gramde povoraçam e como nella vivem muytos fidalgos cavaleyros e pessoaes homrradas e de gramdes fazendas polIas quaaes e pelIo grande trauto da dyta ylha ... » (5). A tendência para a monocultura condicionou a economia madeirense, marcando-a com uma forte dependência em relação ao mercado externo, uma vez que a ilha necessitava desse mercado para a colocação do açúcar e para se abastecer de produtos alimentares (carne, pescado, legumes, cereais, azeite, sal) e artefactos (ferro, telha, barro, panos, linho, etc.)(6) . Guilio Landi, cerca de 1530, retrata com grande acuidade essa ambiência no burgo funchalense: «Aqui chegam frequentemente mercadores de países muito distantes: de Italia, França, Flandres, Inglaterra e da Península Ibérica, que para lá levam aquelas coisas que fabricam panos da ilha e dela transportam aquelas de que a ilha é produtora, tais como açúcar e vinho, por lá haver em grande abundância C). O mesmo autor refere que a Madeira se abastece de cereais nas ilhas vizinhas e que o vinho é vendido «a mercadores que o levam à Península Ibérica e para outros países setentrionais» (8). Em 1567 Pompeo Arditi na passagem pelo Funchal, observa que o comércio baseado no açúcar, conservas e vinhos era abundante, e que a ilha tinha de assegurar a sua subsistência em cereais nas Canárias e nos Açores (9) Estas descrições de viagem, distanciadas no tempo em trinta e sete anos, atestam que a crise açucareira da primeira metade do século não provocou o colapso da economia madeirense. Primeiro porque o açúcar local, não obstante a quebra sofrida, continuará a ser mais valorizado e procurado no ·mercado europeu; e segundo porque o vinho veio preencher a lacuna deixando em aberto com essa quebra. Todavia, o momento de explendor de finais do século, conforme descrições de Frutuoso e Torriani, deverá resultar certamente do comércio do vinho que, desde a década de 70, vinha conquistando mercados na Europa e na América. O primeiro destes cronistas exalta a opulência madeirense do seguinte modo: «A ilha da Madeira / ... / tão afamada e guerreira com seus ilustres e cavaleiros capitães, e tão magnânimos, e com generosos e grandiosos moradores; rica com seus frutos; celebrada com seu comércio que Deus põe no mar oceano ocidental por escala, refúgio, colheita e remédio dos navegantes que de Portugal e de outro reynos vão, e de outros portos e navegações vêm para que diversas partes, além dos que de força ela somente navegam, levando-lhe mercadorias estrangeiras e muito dinheiro para se aproveitar do retomo que dela lutam para suas terras, / ... /com seu licor e doçura, como um néctar e ambrosioprovê as Índias ambas, a Oriental aromática e a (4) A.R.M., C.M.F .. registo geral. T.I, fi, 172-179,21 de Junho de 1493, «carta do duque em que manda que se faça cerca e muros nesta Villa do Funchal», publ. in A.H.M., XVI, 287. (5) Ibidem, fi, 278 v.o-279, Sintra, 21 de Agosto de 1508, «carta dei Rey noso Seiior em que faz cidade a este Funchal, publ. in A.H.M., XVIII, 512-513,.. (6) Ibidem, fls. 337-340, 10 de Janeiro de 1512, regimento sobre a guarda do mar, in A.H.M., XVIII, 539-542. c') «Descrição da ilha da Madeira". in A Madeira vista por estrangeiros, 1981, 83. (8) lbidem, 86. (9) «Viagem à ilha da Madeira e aos Açores / .. ,/», in Ibidem. 130.
121 16
Ocidental dourada, chegando e adoçando seus frutos de extremo a extremo quase o mundo todo» eo). O segundo põe a tónica na intensa actividade comercial do porto funchalense com a África e a Europa: «EI comercio es muy importante, y se hace navios que vienen a esta ciudad de Funchal de todas las partes dei África Cristiana, de Italia, Espana, França, Alemana y Escocia, de modo que se le ha apodado de «pequena Lisboa» 1 ). Esta piccola lixbona inseria-se de modo evidente na economia europeia e atlântica, comparticipando do trato com Velho e Novo Mundo, servindo de entreposto de comércio para as suas riquezas e das áreas vizinhas. Não obstante Vitorino Magalhães Godinho referir, baseado no texto de Diogo Gomes (1450), que em meados do século os Açores apresentavam um comércio activo de cereais e gado com o reino, parece-nos que o arranque, em termos sócio-económico do arquipélago açoriano só se processou, com maior acuidade, a partir do último quartel do século XV. Aliás, a infanta D. Beatriz, em 1474, ao confirmar a compra da capitania da ilha de S. Miguel por Rui Gonçalves da Câmara, refere que a mesma estava «mal aproveitada e pouco povoada», sendo necessário o «serviço e proveitos dos seus súbditos» para a «dita ilha ser melhor aproveitada e povoada pelas muitas mercadorias que dela poderão vir» (12). As isenções fiscais (1443-1444) no comércio com o reino, para aléín de surgirem como aliciante à fixação de colonos, contribuiram igualmente para o reforço das ligações com o continente e para a afirmação da burguesia metropolitana nessa rota. Aliás nas cortes de Coimbra (1472) e de Évora (1481-1482) é bem expressa essa aspiraçãoet 3 ). Tal como na Madeira, as preocupações do sector dirigente açoriano orientavam-se para as possibilidades abertas pelo desenvolvimento da economia de mercado. Assim cultivaram as culturas mais valorizadas nas trocas comerciais europeias (cana dc açúcar e pastel); apenas o pastel conseguiu adaptar-se bem ao solo açoriano, surgindo, desde princípio do século XVI, como um dos principais produtos do comércio dos Açores; desde 1501 que, segundo Valentim Fernandes, a ilha de S. Miguel exportava pastel para Flandres e outras partes 4 ). A exploração do pastel teve uma evolução de tal modo favorável, que, em 1536, o monarca O.João III manifesta o seu apoio à sua cultura por meio de um regime de defesa da sua qualidade e da sua capacidade. concorrencial no mercado europeu; refere que o trato do pastel «era grãde e podia ser muito major» s ). Na realidade; assim sucedeu, pois, a 'partir da década de 60, o comércio do pastel açoriano veio a intensificar"se mercê do apoio e da vigilância da coroa e da sua valorização no mercado· europeu do norte 6 ). Em 1589 Linschoot refere que «o negocio mais frequente destas ilhas é o pastel para uso· da tinturaria com o. qual negoceiam os ingleses, escoceses,. franceses, levando ,para lá fazenda e outras mercadorias em troca» (17); acrescenta que o comércio desse produto estava centralizado no porto de Ponta Delgada e Angra, sendo aí «o principal proveito dos inS,ulares» s ). No século XVI o porto de Angra apresentava-se como o principal entrep0sto comercial açoriano, com uma intervenção importante no comércio do rasteIe em outrOs produtos do arquipélago, e COITlO um importante porto de escaladas embarcações das Índias Orientais e
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eo) Saudades da Terra, L.0 11,1968,99.100. (11) Descripcion e His/oria dei Reino de las islas Callarias, 266.
et 2 )
Carta de confirmação da compra da ilha de S. Miguel por Rui Gonçalves da Câmara, dada por D. Beatriz em la de Março de 1474, plibl. in Arquivo dos Açores. I. 103. 3 ) Maria Olimpia da Rocha Gil, ibidem, 372-375. (14) Manuel Monteiro Velho ArrÚda, Colecçâo de documentos rela/ivos ao descohrimell/o epovoameil/o dos Açores. P. Delgada, 1932, p. 161. s ) Arquivo da Alfândega de Ponta Delgada, L. o de registo de Alfandega de POII!a Delgada, 568-1603, fi, 191 e segs., publ. por Maria Olímpia da Rocha Gil, ihidem, 393-400. 6 ) Maria Olimpia da Rocha Gil, ihidelil, 393-400. 7 ) "História de Navegação do holandês J. H. Linschoot", B.I.H.I.T., n.O I (1943), 152.
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Ibidem, 154.
Ocidentais, Brasil, Mina, S. Tomé e Cabo Verde. Assim, em 1578, D. Sebastião não hesita em classificá-lo como um dos mais importantes do reino 9 ). Segundo o Pe. Maldonado este movimento do porto de Angra animava o comércio do burgo, contribuindo para a circulação do metal amoedável e para a riqueza dos terceirenses (20). Na mesma época a cidade de Ponta Delgada anima-se, não só com o apoio às naus das rotas atlânticas, mas também como o comércio das riquezas da ilha: o pastel e o trigo. Gaspar Frutuoso, cronista das ilhas, enaltec.e as qualidades da população de Ponta Delgada no comércio e evidencia o elevado trato comercial do burgo: «A nobre e populosa cidade de Ponta Delgada, tão célebre com generosos e poderosos moradores; tão rica, provida e abastada com diversos comércios e grossos tratos de mercadores riquissímos, / .. ./ quasi tão sempre frequentada de navios infinita gente forasteira, / ... / finalmente n'ela está o corpo dos negócios, riqueza, habitações e comunicações de todo o trato e contratos de toda a ilha; e residem os mercadores mais ricos / .. '/' que têm comércio em Portugal, Castela, ilha da Madeira, Canárias, Flandres e outras partidas, e se negociam os negócios d'esta ilha por um lado tão bem, chão e verdadeiro, que seguro nas partes estrangeiras não ha nenhuma de seu qual lhe peça vantagem» 1 ). O arquipélago canário, tardiamente associado ao domínio europeu, manteve desde o século XVI um comércio activo com a Península, baseado em escravos, carnagem e plantas tintureiras (sangue de drago, urzela). Neste tráfico intervêm penínsulares e os italianos recém-chegados à península. Após a conquista, castelhanos, portugueses e italianos repartem entre si o comércio nestas ilhas; só mais tarde surgem os flamengos e ingleses, que delinearão as rotas de ligação ao mercado nórdico. O desenvolvimento da nova economia de mercado nas Canárias advem da exploração dos recursos do meio e também do posicionamento deste arquipélago em face das áreas de comércio do litoral africano e americano; as duas situações concorreram para o aparecimento de agentes e representantes das principais sociedade comerciais europeias 2 ). Em relação à costa ocidental africana, o arquipélago canário surge como um «mercado receptor y exportador de esclavos», centralizando o comércio destes com a América, Europa e Mundo Insular 3 ). Múltiplas descrições, de finais do século XVI, evidenciam a posição dominante das Ilhas de Tenerife e Gran Canaria, ao mesmo tempo que enunciam as diversas cambiantes do mercado. Um texto anónimo de cerca de 1585 diz que em Tenerife "es el trato ... mucho, porque ay anos que se cargam más de 30 navios para Yndias con vinos, y quando el ano es abondoso de pan / ... /» 4 ); o mesmo texto refere ainda que esta ilha mantem um trato importante com as praças de Flandres, França e Inglaterra, baseado no açúcar e vinho. Torriani, na década de 90, após referenciar que a população canária «se dirige bajo el de los oficias y dei tráfico de mercancias» ,corrobora as afirmações do texto anterior dizendo: «Es com· mucho la más rica de todas en azúcar y en vinos excelentes que se transporta a diferentes partes dei mundo, / .. '/' Tiene mucho comercio, porque está mais problada de que Canaria, y dos veces más que la Palma» s )
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Luis da Silva Ribeiro, "Formação histórica do povo dos Açores» in Obras II História, Angra do Heroísmo, 1983, 74; "Uma antiga carta da ilha Terceira» in BU.H.I.T .. n.o 5 (1947),285. eo) Phenix Angrense (ms. inédito da Biblioteca Pública e Arquivo de Angra do Heroismo), citado por Helder de Sousa Lima, Os Açores e a economia Atlâlltica (subsídios) séculos XV, XVI e XVIll, Angra do Heroismo, 1978, 125-127, Sep. do B.I.H.I.T, n.O 34 (1978). (21) Saudades da terra, L.0 IV, vaI. 11, 1981, pp. 70-79. (22) É extensa a Bibliografia sobre o comércio canário-americano e canário-africano, sendo de salientar os estudos de Antonio Rumeu de Armas, Pierre Chaunu, Francisco Morales Padrón, José Peraza de Ayala, Manuel Lobo Cabrera; Veja-se a bibliografia. F. Clavijo Hernandez, "Los documentos de fletamentos ..... IV X.H.C.A., I, 45,58; Manuel Lobo Cabrera, Proc%s de AlollSo Gutierez, 27 e 35-37; F. Clavijo Hernandez, ProlOcolos dei escribano Hernán Guerra, 21-22. 3 ) Veja-se Manuel Lobo Cabrera, La esclavilad en las Canarias Orientales en el siglo XVI, 1982, 161-165, passim. 4 ) E. Marco Dorta, "Descripción de las islas Canárias», in Revista de História. IX (1943), 203. s ) L. Torriani, Descripción e História dei Reino de las Islas Canal'ias, 171.
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Ainda na mesma época, Frutuoso refere «haver nestas ilhas um continuo trato e comércio de diversas nações, por causa dos bons açúcares e vinhos, breu, lãs, queijos e outros frutos que com todas as mais delas há» 6 ); em relação às ilhas de Tenerife e La Palma aduz que a importância da vinha na exploração agrícola adveio da constante solicitação das naus e do comércio da rota das Índias 7 ). O comércio do mundo insular baseava-se, essencialmente, na troca de produção agrícola por artefactos europeus; a produção das ilhas deveria fornecer os produtos adequados à activação da economia de troca, capaz de suprir as necessidades locais. A economia insular alicerçou-se no confronto dessas solicitações da economia de subsistência e de mercado; assim, os vectores da primeira condicionaram a valorização dos componentes da dieta alimentar (o vinho, os cereais), enquanto os da segunda implicaram a inserção da economia insular na economia colonial europeia através da exploração de produtos, como o açúcar e o pastel. Os produtos referenciados, pelas razões apontadas impuseram-se no mercado insular, galvanizando todo o sistema de trocas; entre eles o vinho, o trigo e o açúcar adquiriram uma importância vital no comércio local externo. Partindo desta valorização dos produtos de comércio do mundo insular analisemos, de modo sumário, o mercado e comércio de cereal, vinho e açúcar para depois definirmos as áreas e as formas desse comércio. Nos três arquipélagos o cereal e o vinho adquiriram, em épocas diversas, posição dominante no comércio local e externo. Quanto ao açúcar, ele teve um lugar de relevo na Madeira e nas Canárias, mas foi substituído nos Açores por o equivalente, o pastel. Esta aliança entre os vectores dominantes da economia de subsistência e mercado tem a sua mais perfeita concretização nos Açores e nas Canárias. Na Madeira a estreiteza do espaço arroteável impediu essa simbiose, a partir de meados do século XV, pelo que a ilha supria essa carência com a aposta num produto com elevado valor mercantil, capaz de fornecer ao ilhéu o açúcar para a troca pelo cereal e manufacturas, ou para aumento dos seus réditos. Em condições normais de produção o mundo insular apresentava-se como auto-suficiente, produzindo o cereal e mais componentes da alimentação insular. Apenas em momentos de penúria havia necessidade de recurso ao mercado europeu ou à Berberia. As ilhas de Tenerife, La Palma, Lanzarote, Fuerteventura. S. Miguel, Santa Maria, Flores, Graciosa produziam o cereal suficiente para o consumo corrente, bem como elevados excedentes para o abastecimento das ilhas vizinhas (Gran Canaria, Terceira, Faial, S. Jorge e Madeira) e mesmo para exportação para o litoral peninsular e marroquino. Esta dinâmica de interajuda definia-se por diversas contrapartidas. Assim, a Madeira oferecia ao açoriano vinho, açúcar e produtos de que esta carecia e ao canário algum vinho, fruta, manufacturas de importação, a troco do precioso cereal. Nos três arquipélagos o vinho e o cereal surgem como os principais animadores das trocas de cabotagem, inter-insular atlântico-europeia, enquanto o açúcar apenas activará a rota europeia. A Madeira até à afirmação da economia açucareira, a partir de meados do século XV, evidenciou-se como o principal celeiro atlântico, fornecedor das praças e das áreas carecidas do litoral português. Para isso a coroa traçou uma política cerealífera, definida pela abertura das duas rotas de escoamento: primeira, orientada no sentido dos portos do reino (Lisboa, Porto, Lagos), foi incentivada em 1439 por meio de isenções fiscais s); a segunda foi imposta pela coroa, em tempos de D. Afonso V, e tinha como finalidade o abastecimento das praças do litoral africano e guineense 9 ). Esta última solução definia-se pelo monopólio ou direito preferencial por meio de contrato firmado com os mercadores; assim, em 1466, todo o trigo dos direitos do infante estava entregue a um mercador catalão, enquanto em
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6
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Saudades da Terra, L. 0 I, Ponta Delgada, 1966, 87.
(27) lbidem, 97, 132.
es) A. H. de Oliveira Marques, fntrodução à História da Agricultura em Portugal, 248-249; Alberto Iria, O Algarve e a Madeira no século XV. 198-201. (29) Vitorino de Magalhães Godinho, Os descobrimentos e a Economia Mundial. III, 233-234
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1473 se estabelece um contrato com Baptista Lomelim para que "todo ho trigo que hi houver o possa tirar para fora dela ilha» eo). As dificuldades sentidas, a partir de 1461, agravadas na década seguinte, ditaram as profundas alterações da economia madeirense que conduziriam a uma inversão do comércio do cereal. As tentativas do infante D. Fernando, em 1461 e 1466, para manter a dominante cerealífera na economia madeirense e as consequentes rotas de escoamento esbarram com a alta rentabilidade e valorização da cultura do açúcare 1). Deste modo, o impulso da safra açucareira e o aumento populacional implicaram uma insuficiência da produção cerealífera e a necessidade de definição de um mercado fornecedor; e desde logo o recurso aos mercados onde o cereal se encontra disponível - na Berberiae 2 ). Em 1479, os moradores da ilha diziam que "somos este ano postos em outra mayor que nesta ylha nam a pan para se poderem mãter meses pello qual a nos he necessareo prover e buscar maneyras de fora do reyno apenas triguo segundo Vasa Sennoria sabe" 3 ). Esta evidência implicava a tomada de medidas no sentido de estabelecer uma área capaz de fornecer, com relativa regularidade, o cereal de que a ilha carecia; assim sucedeu a partir de 1483, com a definição das ilhas vizinhas como fornecedoras da saca do trigo necessário ao consumo madeirense 4 ). Para atrair esse produto estipulava-se em 1508 a isenção da dízima de entrada; desde 1527 foram mesmo custeados os encargos com a descarga, sacos e armazenamento s). A coroa, ao mesmo tempo que procurava definir um celeiro de abastecimento da Madeira, actuava no sentido de preencher a lacuna deixada em aberto pela quebra da produção madeirense. Deste modo, esse celeiro deveria cobrir as necessidades do reino, da Madeira e das praças marroquinas. A sua concretização só se efectuará mediante uma constante e rigorosa intervenção régia por meio de ordenações e regimentos 6 ). Saliente-se que em 1473 e 1490 a população de Lisboa reclamara junto do monarca contra o envio de cereal para África, no sentido de colmatar as carências do reino 7 ); estas reclamações atestam a apreensão dos reclamantes pela quebra da produção madeirense, ao mesmo tempo que comprovam a importância do mercado açoriano e madeirense no fornecimento' do continente português. Aliás nessa década e na seguinte intensificou-se o comércio do trigo açoriano com o reíno; tal nota assume maior importância no século XVI favorecida pelas isenções fiscais nos portos importadores e pela falta de novas áreas produtoras. O aumento do movimento de cereal para o reino resultava, não só desse activo comércio, mas também das transferências das rendas dos senhorios e direitos reais. O comércio de trigo açoriano para as praças marroquinas fazia-se, desde 1488, por meio de assentistas que em Lisboa recebiam o contrato de fornecimento. A partir daqui
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eo) lbidem. 234. (31) Fernando Jasmins Pereira, Elementos para o Estudo da História Eco/lómica da Madeira. 102-3; Joel
Serrão, Sobre o trigo das ilhas /lOS séculos XV e XVI. 4. (32) Joel Serrão, arl. cit" 4, V. M, Godinho, lbidem , IV, 235. A,R,M. C.M.F" registo geral, T.L, fls. 239-256, 22 de Março de 1485, "Apontamentos deI Rey dom Manuell sendo Duque pera esta ylha de Madeyra», in A.H,M., XV, 155. 3 ) A.R.M., C.M,F., registo geral, T.!., fls. 14-15,24 de Agosto de 1479, «carta dos seiiores desta villa sopre peyta pera a senhora ynfamta", in A.H.M" XV, 97-100. • 4 ) Documento de 10 de Dezembro transcrito por A. A. Sarmento, A Madeira e as Praças de Africa. Funchal, 1932, 43,45. . s ) A.R.M., C,M.F., registo geral. T.I., fi. 196 v.o, 17 de Agosto de 1508, "carta de meryces que el Rey noso Seiior fez a esta Villa do Funchall .. , A.H.M.• XVIII, 506-508; Ibidem. n.o 1305, n. 273, Vereação de 28 de Junho de 1527. 6 ) Alberto Vieira, O Comércio de Cereais dos Açores para a Madeira. 652-657, Idem, A questão cerealífera /lOS Açores /lOS séculos xv-xvm. 281-283; Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores /10 século XVll. 282-283; no Arquivo dos Açores publicaram-se alguns regimentos do século XVI. Vej.am-se os vol~. V, 122-123; II, 327-334; I, 228-231; Francisco Carreiro da Costa, "Os Açores e o problema cerealIfero portugues no século XV", in B.C.R.C.A., n,o 1 (1945), 23-28. 7 ) A. H. de Oliveira Marques, lbidem, 254,
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preparavam o embarque com auxílio de procuradores residentes nas praças de Ponta Delgada e Angra, ou deslocavam-se ao arquipélago para dar execução ao contrato e s ). Em síntese o comércio do cereal alicerçou-se no provimento do reino, da Madeira e praças marroquinas. A rota do reino surgiu como uma necessidade decorrente da promoção do seu cultivo em solo insular, enquanto as duas últimas foram definidas por intervenção régia, de acordo com a política desenvolvimentista do mundo atlântico. É praticamente impossível contabilizar e estabelecer séries do trigo no comércio insular, uma vez que faltam os registos das alfândegas. Também a insuficiente informação das poucas vereaço~s existentes para o século XVI impossibilita uma análise quantitativa desse tipo. Todavia, alguns dados avulsos elucidam-nos que a exportação do cereal açoriano para as praças marroquinas no século XVI oscilava entre os mil e quinhentos a três mil maios, e era na sua maioria, oriundo da ilha de S. Miguele 9 ). Para o reino o quantitativo era muito superior pois em 1524 só a cidade de Lisboa recebeu dois mil moias (40), e, em 1535, apenas um mercador, António Borges, conduziu ao reino mil oitocentos e cinquenta e nove moias e quarenta e dois alqueires de trigo (41). Quanto ao trigo saído das diversas alfândegas açorianas há apenas notícia do embarque na vila da Praia (na ilha Terceira) em 1533 e 1562; no primeiro ano a vila exportou quatro mil maios e, no segundo, cinco mil maios, além de setecentos moias para Angra (42). Comércio de cereais em Tenerife no século XVI O EMBARCAÇÕES
TRIGO
DESTINO NÚMERO
Madeira Portugal Espanha Gran Canarial Gomera Total
MOIOS
20 19 4
712,5 755 1 152 133
38
2752,5
%
26 24 42 5
o arquipélago canano, afirmou-se desde prinCIpIaS do sécnlo XVI, como um novo celeiro do Atlântico, fornecendo o excedente necessário ao abastecimento do litoral africano, da costa peninsular e da ilha da Madeira. Do trigo saído no século XVI da ilha de Tenerife, cerca de 53 % destinou-se a Portugal e à Madeira, o restante ao mercado insular canário e castelhano. O mercado peninsular totaliza 69 % desse cereal, ficando apenas a parte sobrante para as ilhas. O cereal exportado para o litoral peninsular orientava-se no sentido das principais praças comerciais: Lisboa, Sevilha e Cádiz. Note-se que no caso de Castela são as cidades gaditanas os principais consumidores do cereal canário destinado a Espanha (39%). Quanto ao comércio da cevada, o maior número de moias é canalizado para Portugal, nomeadamente para o porto de Lisboa, sendo de salientar um único embarque de sessenta e seis moias e meio de cevada para o arquipélago açoriano em 1511.
es) Ibidem, 254; Maria Olímpia da Rocha Gil, O porto de Ponta Delgada e o comercio açoriano no século XVII 1 ... 1.111-113. 9 ) Helder de Sousa Lima, /hidem. 254. (40) Libra das Posturas Antigas. Lisboa. 1974, 309. (41) A.N.T.T., Chancelaria de D. João //l, L.0 10, fl. 118, Évora, 22 de Junho de 1535, in Arquivo Histórico Português. IX, 454, n.O 7, n.O 720. (42) Maria Olimpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no século XVII. 284-285. (43) F. C. Hemandez, Protocolos de Hermán Guerra. Santa Cruz de Tenerife. 1980 Manuel Lobo Cabrera Protocolos de Alonso Gutierrez. Santa Cruz de Tenerife, 1979, Emma Gonzalez Yannes, Protocolos dei escribano Hermán Guerra. La Laguna, 1958.
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Comércio de cevada em Tenerife século XVI (44)
DESTINO
MOIOS
%
Faial (Açores) Galiza Portugal
66,5 6,5 636,5
9 1 90
Total
709,5
100
o problema cerealífero no mercado surge com maior acuidade apenas na Madeira, uma vez que esta ilha se apresenta a partir das três últimas décadas do século XV, como uma área carecida de cereal. A produção local, circunscrita às partes do fundo e ilha do Porto Santo era muito insuficiente e dava apenas para um terço ou metade do consumo anual; a parte em falta deveria ser colmatada com a importação do cereal das ilhas vizinhas; mas a constância dos problemas cerealíferos no mercado insular, em conjunção com os impedimentos impostos a esse trato, obrigaram os madeirenses a socorrer-se do cereal do reino, nomeadamente em Lisboa, Setúbal e Porto e no mercado europeu, como a Bretanha, Salánica e Jerez, a troco de açúcar (45) No século XVI, definido de modo rigoroso o celeiro de provimento nas ilhas vizinhas, a questão cerealífera atenuar-se-á, agravando-se apenas com as crises sazonais das áreas produtoras. A premência deste insuficiente aprovisionamento obrigou o ilhéu a socorrer-se do velho continente, com que manteve um comércio activo a troco do açúcar. Durante o século em causa a Madeira recebeu 42% de cereal da Europa e 40% das Canárias, enquanto na Europa domina o mercado flamengo com 32 %. A cultura da vinha alastrou a todo o espaço insular, mas apenas na Madeira e nas Canárias o vinho adquiriu um lugar de valor nas trocas externas, nomeadamente no mercado afro-americano; os dois arquipélagos disputaram o domínio desse mercado consumidor de vinho. Até à união das duas coroas a Madeira detinha o monopólio do comércio de vinho com os portos afm-brasileiros, enquanto as Canárias disputavam com a· Andaluzia o mercado das Índias. A partir de 1598, com a proibição do comércio da ilha da Madeira com o Brasil, corno forma de evitar o contrabando do açúcar brasileiro, a Madeira perde· a posição favoráveL que detinha neste mercado em favor da ilha de La Palma(46). Desde meados do século XV exportava-se o vinho madeirense para as diversas partes do mundo; sendo muito apreciado pelo europeu, conjuntamente com o açúcar, chegava às principais praças nórdicas, como Ruão, Orleans, Flandres e Londres (47); além disso era (44) Veja-se nola anterior.
(4s)A.R.M .. C.M,F. fi. 139 v.O i 21 de Janeiro de 1483, Carta do Duque sobre o despacho de 'caravela de Rodrigo Afol1so de Setúbal, com trigo, A.H.M" 119-120; Documentos do. Arquivo Histórico da CâmaraMUllicipal de Lisboa. Livros de Reis III. Lisboa, 1959, p. 240, n.o 63, Santarém, 25 de Fevereiro de 1486; A.R.M., C.M.F .. n.o 1298, fi. 62,20 de Março de 1486, pagamento de sele mil e oito cruzados de frete a um navio que veio de Bristol COm trigo; lbidem,n.o 1298, fi .. 12.8 v.o (1486), Al.varo.Vilz, mercador, pagou dois pipas de ,tinha pOr trigo que o bretão trouxe. E\m 1486 p conde de. Vila Real exp~diu com moios e Pera da.Ct,mha vinte e cinto (Vitorino de Magalhães Godinho • .os descobril11elltos e. aecollomia MUlldial. m, 255). A l·de Fevereiro de 1496 é feito seguro em Barcelona para o transporte de trigo do Jerez OIJ Andaluzia. à Madeira (1. M .. MadureI.l Marimón"art. cit .• 494-496), Em 1498 foi enviado um barco l) Salónica trocar açúcar por trig() (Oliveira Marques, ob. cit" .250, nota· 20. Veja-se Victor Mora1es Lezcano, Rdaciones Mercl/nlilesentre lngll/term ylos Archipié., lago.l· I.,. /, La Laguna, 1970, 53-55. (46) José GonçalVeS' Salvador, Çristãos Novos e o Comércio no Atlântico Meridional, ·S. Paulo, 1978, 263-266. (47) Em Julho de 1532 Orleães recebeu oito pipas de vinho da Madeira (M. Molla!'l;e Commerce. Marilime Normand. 121,289,298,412) e a 25 deOutubro,Bartolorneu Machado.refere ter. vendido ao mercadprflamengo Cornellas quarenta e sete pipas de vinho (J.R.C. Funchal; tls, 300-301, v.O).
127
Registo de Trigo no porto do Funchal Século XVI (em moios) Dala
1485 1509 1510 1511 1512 1513 1514 1518 1523 1524 1527 1535 1536 1546 1547 1550 1552 1574 1580 1589 1596 1597 1599 Total
Açore~
Canárill."
Castela
Escúcia
Flandres
França
Portugal
Pono Santo
Outros
125 7 99,5 4 e 20 24,5 103 e 18 6,5 e 18
2,5 e 10 a!.
82 13 e 20 20,5 e 10 20 5 204 e 5 30 I 90
100 15 I e 4 3,5 aI.
259 243,5 e IS 68
504,5 e 10 57 e 24 17,5 e 10 33 e 20
1187 e 8
712,5 e 8 33 e 20
30 6,5 e 197,5 e 10 1213,S e 20
25
674,5 588
70
25
1262,5
170
J3 145
7,5 e I
342,5
Fonte: A.R.M., Vereações de 1474-1500; Alberto Vieira, O Comércio de Cereais das Canárias para a Madeira nos séculos XVI e XVII, já citado; Idem, A questão Cerealífera nos Açores nos séwlos XV-XV/I, já citado.
fornecido às naus da rota da Índia e Brasil e enviava-se às praças marroquinas e às feitorias da área do Golfo da Guiné (4B). As Canárias surgem, entre meados do século XV e XVI, no mercado viti-vinícola atlântico, como um importante consumidor do vinho europeu e madeirense (49); mas a valorização da cultura da vinha na economia local, nomeadamente em Tenerife e La Palma, inverteram a situação, passando o vinho destas ilhas a afirmar-se como um potencial concorrente áo da Madeira e ao da Andaluzia (50). A sua exportação ter-se-ia iniciado na década de 40, surgindo na década seguinte como grande abundância no mercado brasileiro e (48) J. W. Blake, Europeans in West Africa, 1450-1560, vol II, Londres, 1942, 314, 320-324. Em 1508 foram remetidas de Machico vinte e uma pipas de vinho para Diogo de Azambuja em Safim (A.N.T.T., C.C .. II - 15-44, 25-VIII·1508) e, em 1589 Simão Pires enviou doze pipas de vinho a Cabo Verde (A.R,M., l.C.R. Funchal. fls. 381 v.0-385 v.o, 3 de Abril). (49) M. A. Ladero Quesada, ..Seiiores de Canarias e Sevilha», in A.E.A.; n.o 23, 161; E. Gonzales Yanes, .. Importación y exportación en Tenerife { ... {, in Revista de Historia, n.o 101-104,77. Em 1523 importou vinte pipas de vinho do Funchal (A.N.T.T., N.A., N.o 541). (50) Pierre Chaunu, Seville el I' Atlantique. t. VIII, vol I, 374; Eufemio Lorenzo Sanz, Comercio de Espana com America en la epoca de Filipe /I. vol. I Valladolid, 1979, 464-469. Gaspar Frutuoso refere a produção e comércio do vinho das Ilhas de Tenerife e La Palma, salientando quanto a La Palma que o maior proveito do vinho é "por os da escala das Índias, de que é frequentada aquela ilha não pedirem senão vinho». (Ob. cit., L.0 I (1966), 97, 104, 132); A. Cioranescu, ob. cil.. I, 321-323.
128
americano (51). Em 1551 a ilha de La Palma exportou mil trezentas oitenta e seis pipas de vinho para S. Domingos, Porto Rico e Nome de Deus; dezasseis anos depois a ilha de Tenerife conduziu mil duzentas trinta e sete pipas para Nueva Espana (52). Esse comércio com o Novo Mundo foi regulamentado, a partir de 1559, com a concessão de licença para o seu embarque, ficando todo o movimento, desde a segunda metade do século, sujeito às autorizações temporárias da Casa da Contratação, que coordenava todo o comércio com as índIas (53). O comércio do açúcar do mercado insular, circunscrito às ilhas de Gran Canaria, Tenerife, La Palma e Madeira, é o principal activador das trocas com o mercado europeu. Na Madeira ele assume uma posição dominante na produção e comércio entre 1450 e 1550, enquanto que nas restantes praças surge apenas em princípios do século XVI, tendo assumido uma posição de evidência a partir da terceira década. O regime do comércio do a~úcar madeirense nos séculos XV e XVI, segundo opinião de Vitorino Magalhães Godinho, «vai oscilar entre a liberdade fortemente restringida peia intervenção quer da coroa quer dos poderosos grupos capitalistas, de um lado, e o monopólio global, primeiro, posteriormente um conjunto de monopólio cada qual em relação com uma escápu1a de outra banda» (54). Deste modo o comércio apenas se manteve em regime livre até 1469, altura em que a baixa do preço veio condicionar a intervenção do senhorio, que estipulou o exclusivo do seu comércio aos mercadores de Lisboa (55). O madeirense, habituado a negociar com os estrangeiros, reage veementemente contra essa decisão, pelo que o Infante D: Fernando, restringidas as suas possibilidades, arremata em 1471 todo o açúcar a uma companhia formada por Vicente Gil, Álvaro Esteves, Baptista Lomelim, Francisco Calvo e Martim Anes Boa Viagem (56). Dessa decisão resultou um conflito aceso entre a vereação e os referidos contratadores (57). Passados vinte e um anos a ilha debate-se ainda com uma conjuntura difícil no comércio açucareiro, pelo que a coroa retoma em 1488 e 1495 a pretensão do monopólio do seu comércio, mas apenas consegue impor um conjunto de medidas regulamentadoras da cultura, safra e comércio, que ocorrem em 1490 e 1496. Esta política, definida no sentido da defesa do rendimento do açúcar, irá saldar-se mais uma vez num fracasso, pelo que em 1498 é tentada uma nova solução, com o estabelecimento de um contingente de cento e vinte mil arrobas para exportação, distribuidas por diversas escápulas europeias (58), Estabilizada a produção e definidos os mercados de comércio do açúcar, a economia madeirense não necessitava dessa rigorosa regulamentação, pelo que em 1499 o monarca revoga algumas das prerrogativas estipuladas no ano anterior, mantendo-se, no entanto, até 1508 o regime de contrato para a sua venda; só nessa data é revogada toda a legislação anterior, activando-se o regime de liberdade comercial (59). Assim o definia o foral da (51) Leopoldo de la Rosa, "Catálogo deI Archivo Municipal de La Laguna», in Revista de História, n. á 101-104, pp. 256-8. (52) Francisco Morales Padrón, El comercio canario·americano, 320-376. (53) Leopoldo de La Rosa, arf. cit., 262, n.O 19; Francisco Morales Padrón, El CedI/lário de Canárias, yol. I, pp. 127-351, nos 87, 152, 174-175, 182-183, 199,200,228,269; Idem, .. Inventário de Fondos existentes en el Archivo de Indias», in A. E. A., n.o 25, 523. (54) Ob. cit, IV, 87. (55) A. R. M., C. M. F., registo geral, T. I, fls. I-Iv.o, Alcochete, 14 de Julho de 1469, carta do infante sobre o trato do açúcar, in A. H. M., XV, 45-47; lbidem, fls. Iv.0-2 v.o, 25 de Setembro de 1469, carta dos regedores do Funchal in A. H. M., XV, 47-49; lbidem, fls. 5 v.o·6, Lisboa, 16 de Outubro de 1478, carta régia sobre trato do açúcar, in A. H. M., XV, 57; Ernesto Gonçalves, "João Gomes da Ilha», in A. H. M., XV, 40·47; Idem "João Afonso do Estreito», in D. A. H. M., G.o 17 (1954), 4·8. (56) A. R. M., C. M. F., n.O 1296, fls. 30 v.o·31 v.o, II e 28 de Outubro de 1471; lbidem, n.o 1296, fi. 41, 12 de Fevereiro de 1472, lbidem, n.2 1296, fls. 52 v.o·53, 17 de Agosto de 1472. (57) Fernando Jasmins Pereira, ob. cit., 144-152. (58) lbidem, 152-159. (59) A. R. M., C. M. F., registo geral, T. I, fls. 308 v.o·309, Sintra, 7 e 8 de Agosto de 1508, alvará régio, publ. A. H. M., XVIII, 503-504.
129
capitania do Funchal, em 1515, ao enunciar que: «Os ditos açúcares se poderão carregar para o Lavante e Poente e pera todas outras partes que os mercadores e pessoas que os carregarem aprouver sem lhe isso ser posto embargo algum» (60). O estabelecimento das escápulas em 1498 definia de modo preciso o mercado consumidor do açúcar madeirense, que se circunscrevia a três áreas distintas: o reino, a Europa nórdica e a mediterrânica. As praças do Mar do Norte dominavam esse comércio, recebendo mais de metade das referidas escápulas; entre elas evidenciavam-se as praças circunscritas à Flandres, enquanto no Mediterrâneo a posição cimeira é atribuída a Veneza, conjuntamente com as três levantinas de Chios e Constantinopla.
Escápulas do açúcar na Madeira em 1498 ZONA
PRAÇAS
ARROBAS
Reino Flandres Europa do Norte
Inglaterra Ruão Rochela Águas Mortas Bretanha
Génova Europa Mediterrânica
Liame Roma Veneza Chio, Constantinopla
%
7000 40000 7000 6000 2000 1000 6000 13000 6000 2000 15000
5,83 33,83 5,83 5 1,67 0,83 5 10,83 5 1,67 12,5
15000
12,5
Se compararmos as escápulas com o açúcar consignado às diversas praças europeias no período de 1490 e 1550, verifica-se que o roteiro não estava muito aquém da realidade; as únicas diferenças relevantes na equivalência surgem nas Praças da Turquia, França e Itália, sendo de salientar nesta última um reforço acentuado na posição. Todavia esta diferença (quase 22 %) poderá resultar da actuação das cidades italianas como centros de redistribuição no mercado levantino e francês.
Comércio de açúcar da Madeira EscApULAS
MERCADO
MERCADORES
149~
1490-1550
1490-1550
DESTINO ARROBAS Flandres França Inglaterra Itália Portugal Turquia Outros
1490-1550
40000 9000 7000 21000 7000 IS 000
%
33,33 12,5 5,83 30 5,83 12,5
ARROBAS 105 896,5 500 1 438 140626 20657 2372,5 32
%
38,78 0,18 0,52 51,50 9,56 0,87 0,01
ARROBAS
2,23
11 375,5 8469,5 1072 407 530,5 23798
0,21 79,91 4,67
68 185
13,37
(60) Álvaro Rodrigues de Azevedo, «Anotações.. in Saudades da Terra, Funchal, 1873, 501.
130
%
1,66
fi
o O
140 000 arrobas
185000
O
30-40000
O O
7-J5000 1-3000
O
500
®
Viana
'Si? <:(? ~
'"
~
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e ..... ..... V>
Contingente de 1498
iJ
MADEIRA
~
~"'D
Total de açúcar exportado
=
eP~
COMERCIO DE AÇúCAR DA MADEIRA.
1490-1550
Comércio do açúcar da Madeira 1490-1550(61) TOTAL DESTINO
Açores Flandres Itália Levante Lisboa Londres Rochela Porto Santo Viana Total
1501-1510
1490-1500
7526 2909
76484 149968 3445
1511 1520
1521-1530
1531-1540
1541-1550
ARROBAS
4,7 9031,5 3463
8810 646 2372,5 2646 1438
4 4045 12
500
10 435
220352
16 12 11093 9 043,5-7 27021,5
4049
12
8-7 105 896,5 140626 2372,5 9554 1438 16 19 103 273044,5
%
38,78 51,50 0,87 3,50 0,52 0,18 4,06
Os dados disponíveis para o comércio do açúcar na Madeira, nesse período, evidenciam a constância dos mercados flamengo e italiano. O reino, circunscrito aos portos de Lisboa e Viana do Castela surge em terceiro lugar apenas com 10%. Observe-se que o porto de Viana do Castelo adquiriu, desde 1511, grande importância no comércio do açúcar com o reino e daí em Castela e Europa nórdica; no período de 1581 a 1587 Viana é o único porto do reino mencionado nas exportações de açúcar, mantendo aí uma posição inferior a 1490-1550(62).
Exportação do açúcar para Viana do Castelo VIANA ANOS ARROBAS
1581 1582 1583 1584 1585 1586 1587
%
630 1420 940 1 110
2 4 2 3
550 150
2
Essa função redistribuidora dos portos a norte do Douro fica evidenciada entre 1535 e 1550, pois das cinquenta e seis embarcações entradas no porto de Antuérpia com açúcar da Madeira, dezasseis são do norte e apenas uma de Lisboa. Na primeira 50% são provenientes de Vila do Conde, 3 I % do Porto e 19% dé Viana do Castelo (63); aliás em 1505 o monarca considerava que os naturais 'dessa região tinham muito proveito no comércio do açúcar da ilha (64). Em 1538 esse comércio era assegurado por um numeroso grupo de grupos de mercadores dessa proveniência, entre eles Aires Dias, Baltasar Raiz, Dioguo Alvares Moutinho e Joham de Azevedo (65). (61) Vejam-se os quadros n. o 4 e 5 em anexo. (62) Jae! Serrão, «Nota sobre o comércio do açúcar entre Viana do Castelo e o Funchal ... ", in Revista de Economia, III, 209-212. (63) Virginia Rau, A Exploração e o comércio de sal em Setúbal, Lisboa, 1951, mapas I a IV. (64) A. R. M., C. M. F., registo geral, T. I, fls. 301-301 v.o, Lisboa, 15 de Março de 1505, carta régia, pubI. in A. H. M., XVII, 453-454. (65) Cândido A. O. Santos, O Censual da Mitra do Porto, ( ... ), Porto, 1973, 345-350.
132
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133
Nas transacções com o mundo mediterrânico existiam igualmente alguns entrepostos, em especial Cádiz e Barcelona. Estas cidades surgem no período de 1493 a 1537 com os portos de apoio ·ao comércio com Génova, Constantinopla, Chios e Águas Mortas (66).
Compra de açúcar na Madeira 1500-1540
1511-1520
1501-1501
ARROBAS
Italianos Ingleses Franceses Flamengos Alemães Castelhanos Portugueses Outros
266288,5 212 2 568,5 9649 11642,5 248 5 147
%
90,04 0,07 0,87 3,26 3,94 0,08 1,74
ARROBAS
1521-1530 %
ARROBAS
%
65751,5 402 1536 I 726,5
64,20 0,39 1,50 1,69
58 181,5 458 4365
63,70 0,50 4,78
702,5 6042,5 26249,5
0,69 5,90 25,63
14562,5 5535 8233
15,94 6,06 9,01
1531-1540
ARROBAS
Tolal %
5344
53,49
7073,5 2641
46,97 17,54
ARROBAS
395 565,5 1072 8469,5 II 375,5 11642,5 15513 23798 41 029,5
%
78,40 0,21 1,68 2,25 2,31 3,07 4,72 8,13
A ordenança de 1498 não determinava apenas o contingente das diversas escápulas mas também a forma da sua comercialização. A coroa, para dar maior facilidade no seu escoamento, monopoliza as escápulas de Roma e Veneza, vinte mil arrobas das de Flandres e três mil das de Inglaterra, num total de quarenta mil arrobas, o equivalente a 33% do total; a este açúcar juntava-se o quantitativo do quinto ou quarto e da dízima de exportação, que o rei carregava por meio de contrato estabelecido com as grandes companhias nacionais e internacionais. O rendimento dos direitos era exportado para Flandres e Veneza, tendo estas recebido, entre 1495 e 1526, respectivamente cento e sessenta mil e vinte e seis mil arrobas (67). As escápulas, até 1504, e o produto dos direitos reais eram canalizados para o mercado europeu, quer por carregação directa, quer por negócio livre ou a troco de pimenta (68). Esse açúcar era arrendado por mercadores ou sociedades comerciais, sediados em Lisboa, sendo de salientar a actuação dos mercados italianos, como João Francisco Affaitati e Lucas Salvago (69). As operações comerciais em torno do açúcar, no período de 1501 e 1504, estavam centralizadas em mercadores ou sociedades comerciais que, a partir de Lisboa, controlavam esse trato por meio de um sistema complicado de feitores' ou procuradores. A sua intervenção, que se apresentava dominante nos três primeiros decénios do século, sofreu um decréscimo acentuado na última década. Esta situação atesta que os mercadores estrangeiros, em face da instabilidade do mercado açucareiro madeirense nos primeiros trinta anos, abandonaram o seU comércio fazendo-o substituir pelo canário ou americano. A comunidade italiana controlava a quase totalidade do comércio do açúcar com as principais praças europeias, seguida da portuguesa e da castelhana. Os mercadores nórdicos, não obstante a sua posição privilegiada, não apresentam uma posição de relevo nestas operações, pois quedam-;se por cerca de 5%. Tal situação mostra, mais uma vez, que essa
(66) Domenico Geoffré, Documenti sul1e relazioni fra Genova ed ii Portogal1o dei 1493 ai 1539, Roma, 1961,18-20,266-265,268-270,277-279,284-285, 290-292, 309-310, José Maria Madurell Marimón, art. cit., 486-487, 493-494, 497-499, 501-502, 521-522, 563-564. (67) Fernando Jasmins Pereira, O Açúcar madeirense,! .. ./, 78-92; Vitorino Magalhães Godinho, ob. cit., vaI. IV, 84-93. (68) lbidem, 80. (69) Idem, 78-92.
134
rota se mantinha sob o controle dos portugueses, nomeadamente os oriundos do litoral norte, e que esse comércio estava organizado pela feitoria portuguesa da Flandres. Nos quatro decénios em análise verifica-se que os italianos detêm o exclusivo do comércio na primeira década e uma posição dominante nas duas seguintes, sendo substituídos pelos portugueses na década de 30, e também por castelhanos e franceses. Compra de açúcar na Madeira 1500-1540 ('D) 1501-1510
1511·1520
1521.1530
TOTAL
1531.1540
MERCADORES ARROBAS
Nacionais Estrangeiros Total
5 147 290608,5 295 755,5
%
ARROBAS
1,74 6042,5 98,26 96368 58,62 102410
%
5,90 94,10 20,30
ARROBAS
5 535 85800 91 335
%
6,06 94,94 18,10
ARROBAS
7073,5 7985 15 058,5
%
46,97 53,03 2,98
ARROBAS
%
23798 480761,5 504 559,5
4,72 95,28
No grupo dos mercadores estrangeiros nota-se uma tendência concentracionista, pois apenas os cinco principais detêm 71 % do açúcar transacionado. Além disso todos eles apresentam valores superiores a dez mil arrobas, enquanto nos nacionais apenas um tem mais de 1080 arrobas. Aliás a média de ambos os grupos é esclarecedora: Os Mercadores e o comércio do açúcar ORIGEM
NÚMERO
Estrangeiros Nacionais
118 177
AÇÚCAR
MÉDIA
480761,5 23798
4074,25 141,9
Principais mercadores estrangeiros
AÇÚCAR MERCADOR
João Francisco Affaitati Feducho Lamaroto Bartolomeu Marchioni Benedito Morelli Matia Manardi Antonio Boto Total
ARROBAS
%
177 907,5 32039,5 51238 50348 13 423,5 14512,5 339469
37 7 11
10 3 3 71
João Francisco Affaitati, mercador cremonês de família nobre, chefe da sucursal em Lisboa da companhia Affaitati, urna das principais dessa praça, surge no período de 1502 a 1529 como o principal activador do comércio do açúcar madeirense, tendo transacionado sete vezes mais açúcar que todos os portuguese&. Durante essé longo período, arrematou, em 1502, as escápulas de Águas Mortas, Liome, Roma e Veneza. Conjuntamente com Jerónimo Sernigi, João Jaconde e Francisco CorvineIli arrematou a venda do açúcar dos direitos (1512-1518, 1520-1521, 1529) e actuou em operações diversas de compra directa de açúcar e de troca deste por pimenta ou dívidas (1).
CO)
Vejam-se quadros n.o 4 e 5 em anexo. N. T. T., C. C, II. maços 7, 12, 13, 18,68,84,88,92, 133, 162; III, 2 e 7; Fernando Jasmins Pereira, Ibidem, 83-86. ('1) A.
135
Para manter esta amplitude das operações comerciais na ilha contava com um grupo numeroso de feitores ou procuradores: Gabriel Affaitati, Luca Antonio, Cristovão Bocollo, Matia Minardi, CapelJa e CapelJani, João Dias, João Gonçalves e Mafei Rogel!. Por outro lado aceitou procuração de Garcia Pimentel, Pedro Afonso de Aguiar e João Rodrigues de Noronha. Note-se que o grupo inicial é, na sua maioria, formado por italianos, ligados ao comércio do açúcar, e que os segundos pertencem a algumas famílias mais influentes da ilha. O açúcar canftrio oriundo de Tenerife, Gran Canaria e La Palma, surge no mercado europeu a partir de princípios do século XVI. A comunidade italiana, residente em Cádiz e Sevilha e com intervenção activa no arquipélago, traçou as rotas desse comércio com o mar do Norte e o Mediterrâneo. A activação desse trato comercial nas primeiras décadas do século XVI condicionou a presença de mercadores peninsulares e estrangeiros, que se instalaram em Tenerife, Gran Canaria e La Palma (2). O porto de Cádiz, importante praça comercial peninsular, funcionava como centro de redistribuição e comércio no Mediterrâneo. A conquista do mercado nórdico é mui posterior, mercê do forte enraizamento desse mercado no comércio e consumo do açúcar madeirense. A primeira carga de melaço canário enviada a Antuérpia, em 1508, não foi do agrado dos eventuais clientes (3). Somente a partir da década de trinta o açúcar canário consegue agradar ao gosto flamengo, beneficiando para isso da quebra do açúcar madeirense e da presença da comunidade flamenga no arquipélago. O trato com as praças nórdicas é assegurado, em parte, pelos portugueses de Vila do Conde, Lisboa e Algarve, que fazem valer a sua mestria e experiência, adquiridas no trato do açúcar da Madeira (4). Em síntese, a colónia italico-flamenga, residente ou estante nas ilhas de Gran Canaria e Tenerife, era o principal elo de ligação aos mercados de comércio e consumo do açúcar. Aqui, como na Madeira, ambas as comunidades esquecem os antagonismos religiosos para se unirem em prol duma causa comum, o comércio do açúcar, repartindo entre si o domínio do mercado açucareiro (5). Preço do açúcar no mercado europeu ('6)
RUÃO(77)
ANVERS(78)
FLORENÇA
PROVENIÊNCIA 1565
Madeira Canárias São Tomé Antilhas Lisboa Berberia
45 I. ('9) 45 lib. e 1 10 s. 12 lib. 32 lib. 40 a 50 lib. 38 a 50 lib.
1570
1571
14 lib. 14 lib. 141ib. 12 1/2 6 e 1/2 6e 1/4 8 a 10 7 a 9
1581
14 lib. 23 6 e 1/2
SETEMBRO 1581
24
SETEMBRO 1581
20
1582-1585
14 a 21 (80)
21 e 1/2
('2) Maria Luisa Fabrellas, "La produción de azúcar en Tenerife», in Revista de Historia, n. o 119-120, 176-177; Victor Morales Lezcanó, ob. cit., 52; G. Camacho y Perez Galdos, "EI cultivo de la caiiade azúcar y la industria azucarera en Gran Canaria (1510-1535)>>, in A. E. A., n. o 7, 48-56; R. Diaz Hernández, EI azlÍcar en Canarias, Las Palmas, 1982, 38. ('3) Vitorino Magalhães Godinho, ibidem, IV, 98. ('4) Idem, 98-99. ('5) Jacques Heers, Gênes au XVe siecie, Paris, 1971, 337. (76) H. La Peyre, Une famille de marchands: Les Ruiz, Paris, 1955, 621-624; Valentim Vazquez Prada, Lettres Marchands d'Anvers, voI. III, 385-386; F. Ruiz Martin, Lettres marchands échangées entre Florence et Medina dei Campo, Paris, 1965, n. O 141, 159, 199, 440. ('7) Ao cento em libras. ('8) Em gruesos. ('9) Em ducados. (80) Em 1582 o açúcar a 213/4, o retame e outros a 14 eiS ducados, e em 1585 o retame a 16 1/2 e o açúcar de primeira sorte a 20.
136
o comércio do açúcar diversifica-se a partir de princípios do século XVI. A Madeira, que no século XV surgira como o único mercado de produção, debater-se-á, a partir de finais desse século, com a concorrência do açúcar das Canárias, de Berberia, de S. Tomé e mais tarde do Brasil e das Antilhas. Esta diversificação das possibilidades de escolha, por parte de mercadores e compradores, condicionará a evolução do comércio açucareiro. Todavia, o açúcar madeirense manterá a sua situação preferencial no mercado europeu (Florença, Anvers, Ruão), sendo o mais caro. Talvez devido a esse favoritismo encontramos com frequência referências à escala na Madeira de embarcações que fazem o comércio do açúcar nas Canárias, Berberia e São Tomé(81). Esta situação deveria, de igual modo, explicar a venda de açúcar madeirense em Tenerife, no ano de 1505 (82). O comércio açucareiro na primeira metade do século XVI era dominado na Europa do Norte pelas ilhas e litoral do Atlântico, nomeadamente, entre as primeiras, a Madeira, Tenerife, Gran Canaria e La Palma. Assim, na década de 30 os navios nonnandos ocupados nesse comércio dirigiam-se preferencialmente a esta área. Convém anotar que a maioria das embarcações que rumava a Marrocos e escalava na Madeira à ida e no regresso, o que valorizou a Madeira no comércio com a Nonnandia. Destino dos navios normandos 1530-1540(83) DESTINO
NÚMERO
Açores Canárias Madeira Marrocos
%
1 3 1 6
9 27 2 55
A situação relevante do mercado madeirense perdurará nas décadas seguintes, não obstante a forte concorrência da ilha de S. Tomé que se afinnará, entre 1536 e 1550, com_o principal fornecedores de acúcar à Flandres. Todavia esta posição cimeira da ilha de Sao Tomé surge só a partir de 1539.
Navios portugueses com açúcar para Antuérpia 1536-1550(84)
AÇÚCAR
TOTAL
CARGA MIXTA
PROVENIÊNCIA N.·
Brasil (por Lisboa) Cabo Guer Canárias Cabo Verde Madeira São Tomé Não discriminada (por Lisboa)
Total
%
1 1 1 28 88
0,85 0,85 0,85 23,73 74,57
118
55,40
N."
%
1,05 1 I 1,05 5,26 5 7,37 7 28 29,47 38 40 15 ~ 44,60 95
---
N.·
1 1 6 8 56 126 15
---
%
0,47 0,47 2,82 3,76 26,29 59,15 7,04
213
(81) É o que sucedeu com a embarcações da Normandia entr~ 1530 e 1540, veja-se M. Mollat, La commerce maritime normand . .. , 247-248. (82) Acuerdos dei Cabildo de Tenerife, I, p. 83, n.o 447, 26 de Março de 1505. (83) M. Mollat, oh. cil., pp. 247.248. (84) Vitorino Magalhães Godinho, ob. cit., IV, 98-99.
137 18
2.2 Comércio de Cabotagem
o comércio de cabotagem, nas suas variantes, define-se em primeiro lugar, pela necessidade de escoamento dos produtos locais para os principais centros de comércio com o exterior e, na inversa, pela redistribuição dos produtos de importação. A esta última função junta-se o fornecimento ou redistribuição dos produtos locais de que carecem algumas ilhas. As assimetrias do meio insular, evidenciadas pela estrutura dos terrenos, relevo e clima, que condicionaram o aproveitamento desigual do solo e a arrumação das culturas, são responsáveis pela intensificação desta última forma de cabotagem inter-ilhas. Na Madeira o comércio com o exterior estava centrado em dois portos da vertente sul, que dominam todo o tráfego da capitania em que se circunscrevem: o porto do Funchal, para a capitania do mesmo nome, dominando as melhores áreas de cultura; e o porto de Santa Cruz, para a Capitania de Machico, área pouco rica em termos agrícolas. A posição dominante dos dois portos conduziu à intensificação do comércio de cabotagem na costa sul e norte. Todavia o porto do Funchal, bem servido de infraestruturas de apoio e de uma forte rede de negócios, centralizará, a partir do século XVI, todo o comércio com o exterior. Aí chegarão as caixas de açúcar das partes do fundo, que depois serão canalizadas para as principais praças europeias e); o mesmo sucederá com o trigo desta área, quando escasseia na praça funchalense e). Os contactos com a vertente norte faziam-se com maior assiduidade a partir de Santa Cruz, alargando-se ao porto do Funchal para o transporte de lenha e madeira A partir do Funchal delinerar-se-ão novas rotas de redistribuição dos produtos importados pela área da capitania denominada partes do fundo. Assim, em 1521, João de Canisales, mercador, foi à Ribeira Brava vender duas mil setecentas e setenta e cinco peças de louça do reino (4). A ilha do Porto Santo mantinha-se na dependência do Funchal para os contactos com o exterior, não obstante as relações e abordagens esporádicas com o exterior. Por outro lado sendo esta ilha definida por importantes áreas de cultura dos cereais, mantém-se, em finais do século XVI, uma rota de escoamentos dos excedentes da produção do trigo, centeio e cevada Nos Açores e nas Canárias, mercê da existência de um grupo numeroso de ilhas com potencialidades diversas, o comércio de cabotagem inter-ilhas organizar-se-á de modo diferente. Assim, nos dois arquipélagos todo esse movimento será centralizado nas duas ilhas mais importantes: os Açores· na Terceira e S. Miguel, nas Canárias em Tenerife e Oran Canaria. A manutenção em cada uma destas ilhas de uma praça comercial importante nos contactos com o exterior conduzirá' à formação de uma rede de negócios complicada em que as ilhas vizinhas actuarão como satélites destas praças. As cidades de Ponta Delgada, Angra, Las Palmas e Sta;· Cruz de Tenerife centralizam o comércio externo de ambos os
e).
e).
e) e) e)
A. N. T. T., N. A., n.O 9038. A. R. M., C. M. F., n.o 1298, fls. 4 v. o-44, 9 de Janeiro de 1486. Veja-se quadro Ii.o 16, em anexo. (4) A. N. T. T., ç. C., II, 97-60. (5) A. R. M., C. M. F., n.o 1312, fls. 37 v. o, 38 v.o, 39, 43, 49, vereações de 15,18,25 de Maio e 5,8 de Junho de 1597; ibidem, n. o 1313, fls. 31-31 v.o vereações de 4 de Janeiro de 1597.
138
arquipélagos, actuando corno receptores dos excedentes da produção local e redistribuidores dos produtos vindos de fora. Gaspar Frutuoso, em finais do século XVI, dá conta dessa situação, escrevendo, a propósito, que o porto de Angra era o principal porto de cabotagem inter-ilhas no grupo central e ocidental (6). A dominância da praça de Angra é então de tal modo clara que o cronista açoriano não hesita em afirmar «que todas as outras ilhas são suas escravas, pois quanto nelas se cria vem pera ela,; concluil1do, que «as outras ilhas ao redor são quintas da ilha Terceira» C). A Terceira fornecia às ilhas vizinhas os produtos de importação, corno o vinho e açúcar da Madeira, manufacturas diversas, recebendo em troca os cereais, gado e carne, vinho, madeiras e lenha, fruta e barro (8). Entre as restantes ilhas o comércio e os contactos eram assíduos. Assim no grupo central, a ilha de S. Jorge exportava para o Faial e Graciosa os excedentes de vinho e cereais, enquanto o Pico comerciava as suas madeiras, gado e vinho (9). Todavia a ilha de S. Jorge, que segundo informação de Frutuoso exportava cereais em 1576, em face da crise de produção cerealífera vê'-se obrigada a importá-lo da Graciosa, Terceira e Faial eo). A Ocidente as ilhas de Flores e Corvo estão em permanente contacto, surgindo a ultlma como uma verdadeira quinta das Flores. Assim o Corvo comunica com o exterior a partir das Flores, recebendo daí os produtos de fora e canalizando até lá as madeiras, o linho, panos e outros produtos para venda nas ilhas do arquipélagoe 1 ). No grupo Oriental o comércio estava centralizado na praça de Ponta Delgada que recebe as produções da ilha e o barro e telha mariense, ao mesmo tempo que procede à redistribuição dos produtos de importação 2 ). A ilha de S. Miguel ao apresentar-se, no século XVI, como o principal celeiro açoriano, condicionará uma rede de cabotagem inter-ilhas para fornecimento das ilhas carecidas procedendo-se o seu escoamento a partir de Vila Franca, Porto Formoso e Lagoae 3 ). Em finais do século XVI esta ilha, conjuntamente com a Graciosa, tem o 4 encargo de assegurar o fornecimento de trigo à tropa do presídio, sediada em Angrae ). De igual modo nas Canárias, as ilhas maiores (Tenerife e Gran Canaria) detêm o exclusivo do comércio das manufacturas de importação, no mercado canário, enquanto as ilhas menores se limitam ao comércio dos produtos básicos: madeiras, cereais, gado s ).
e
e
(6) Gaspar Frutuoso, ob. cit., \.0 VI, 57-59.
C) lbidem, \.0 VI, 59. (8) lbidem, 1.0 VI, 30, 57-59; ibidem, ].0 IV, VaI. II, 52. (9) Ibidem, 1.0 IV, vol. II, 242, 290-291, 294. eo) António dos Santos Pereira, «Administração municipal da vila das Velas ... », 715.
e e
1
)
Gaspar Frutuoso, ob. cit., \.0 Vi, 58-59, 347, 352.
(12) lbidem, L. 0 III, 96.
3 ) Linschoot (ob. cit., 154) em 1595 refere que «ela produz igualmente o trigo do qual provê muitas vezes as outras ilhas em caso de necessidade». et4 ) A. N. T. T., C. C., 1-191-125 A, Angra, 9 de Agosto de 1585, memorial da Câmara de Angra, publ. in Arquivo dos Açores, II, 107; Alberto Vieira, "A questão cerealífera nos Açores nos séculos XV-XVII», in Arquipélago, VII, 195, 143 e 149. ets) Carmen G. Galera Martin (ob. cit., 27-28) refere de maneira modelar essa situação; «Las noticias historicas nos hablan de que hacia 1700, Gran Canaria exportaba aI resto de las islas, principalmente a Tenerife, produetos básicos: aves judías, algo de grano, losas de piedra, además de ciertas manufacturas: deda hilada, mantas, etc. Hierro y Gomerra exportaban a las otras is·ias ganado de todo o tipo, La Palma estaba especializada en la producción de dulces, algo de azúcar, madera y seda. Lanzarote y Fuerteventura enviaban aI resto dei archipiélago, grano (trigo y cebada) y grano mayor. Por último, Tenerife exportaba a las otras islas vinoy gran quantidad de praductos manufacturados». Veja-se George Glas, Descripcián de las islas Canarias. 1764, La Laguna, 1976; F. Clavijo Hernandez, Los documentos defletamento ... in IV C. H. C. A., vaI. I, 35-37, 54; A. Cioranescu, Historia de Santa Cruz, Vol. II, 20.
139
o porto de Santa Cruz de Tenerife evidencia-se como um dos mais importantes no comércio inter-ilhas, estabelecendo rotas comerciais com as ilhas de Gran Canaria, Lanzarote e Fuerteventura 6 ). A partir daí exportava-se o trigo para Gran Canaria, La Gomera, La Palma e as' madeiras e carneiros para Gran Canariae 7 ). As ilhas de Fuerteventura, Lanzarote e La Palma salientam-se no comércio de cereais, gado e carne, fornecendo as principais praças de Tenerife e Gran Canariae s ). O comércio de cabotagem interna era intenso nos dois arquipélagos (Açores, Canárias) sendo orientado para a distribuição dos produtos estrangeiros ou das ilhas vizinhas e da canalização da produção local para as principais praças do comércio externo. Assim é reforçada essa situação nas ilhas de Gran Canaria, Tenerife, S. Miguel e Terceira.
e
et76 ) et )
A. Cioranescu, ibidem, vaI. II, 20, 446, nota 80. Idem, lbidem, VaI. II 20, 446, nota 80; F. Clavijo Hemandez, Protocolos de Hérman Guerra Tenerife, 1980,408 (n.o 1530), 367 (n.o 1351); Idem, "los documentos de fletamento .. ,", in IV C. H. C. A.: vaI. I, 41; Manuel Lobo, Protocolos de Alonso Gutiérrez, Tenerife, 1979,80 (n. o 106),292 (n. o 934); Acuerdos dei ~a.bildo de Tenerife, IV, n.o 812, p. 86,26 de Março de 1521; Leopoldo de la Rosa, "Catalogo deI Archivo Muo!clpal de ~a Laguna.. , in Re.v!sta de História, n. o 101-104, p. 252 (n. o 38), 264 (n. 020); G, Gamacho y Perez Galdosis"Cul.tlvos de cereales vma. y huerta en Gran Canaria (1510-1537) .. in A, E. A., n.o 12, 1966,242-243. ( ) Ib/dem, 242-243; A.. ClOranescu, ob, cit., vaI. II, 446 nota 80; Acuerdos dei Cabildo de Tenerife, vaI. I, p. 28, 26-IV-1500; Ib/dem, vaI. I. n.O 449, p. 26-III-1505; Ibidem, vaI. I, n. o 533, p. 101-102, 24-VIII-1506; lbidem, vaI. I, n.o 310, pp. 145-147, 23-VI-1522.
140
2.3 Comércio Inter-Insular
o comércio entre as ilhas dos três arquipélagos atlânticos resulta não só da complementaridade da sua exploração económica, mas também da proximidade e da assiduidade de contactos; o intercâmbio de homens, produtos e técnicas dominou o sistema de relações entre eles. A historiografia insulana tem ignorado esta componente do comércio uma vez que apenas tem valorizado as relações com o Novo e o Velho Mundos. A Madeira, mercê da sua posição privilegiada entre os arquipélagos dos Açores e das Canárias e do seu parcial alheamento das rotas índicas e americanas, apresentava condições favoráveis para o estabelecimento de contactos assíduos com as ilhas vizinhas; os contactos com os Açores, em especial, resultam da intervenção madeirense na ocupação e exploração do solo açoriano e da necessidade de abastecimento em cereais de que o arquipélago açoriano era um dos principais produtores. Com as Canárias, não obstante a sua conquista e a sua integração na coroa de Castela, os contactos são muito mais assíduos e importantes; tal situação resulta da proximidade dos dois arquipélagos, da atracção exercida pela terra canária nos madeirenses e, ainda, pela hostilização açoriana ao estabelecimento da rota de comércio de cereais Os contactos permanentes entre a Madeira e as Canárias, evidenciados por uma constante corrente emigratória marcam uma constante da História destes dois arquipélagos e evidenciam as afinidades existentes, consequência de um idêntico posicionamento dos monarcas ibéricos na política expansionista. Em reforço dessa comunhão de interesses e do necessário relacionamento está a posição privilegiada do porto do Funchal nas ligações entre a Europa e as Canárias, surgindo como um porto de escala dessas rotas Se é certo que a maioria dos contactos entre os arquipélagos advem da posição privilegiada da Madeira em relação às Canárias e o Velho Continente, não é menos certo que o trato comercial resulta de necessidades e solicitações internas, que impelem para uma aproximação. Ela aparece, por outro lado, pela necessidade de recurso a um novo celeiro de provimento de cereais, mediante a recusa dos açorianos a esse fornecimento; e por outro, pelas solicitações da comunidade portuguesa residente nas Canárias, de que fazia parte um grupo numeroso de madeirenses que ansiavam por contactos com os locais de origem. O trigo foi, sem dúvida, o principal móbil do comércio canario-madeirense. Aliás, segundo testemunho de Giulio Landi (1530) e Pompeo Arditi (1567) os cereais actuaram como os principais activadores e suportes do sistema de trocas entre a Madeira e estas ilhas Esta rota de abastecimento de vizinhas, quer do arquipélago canário, quer do açoriano cereais é definida em princípios do século XVI, mantendo-se com toda pujança até meados do seculo seguinte. 'As· primeiras referências ao envio de trigo canário para a Madeira surgem em 1504 para o trigo remetido de La Palma e, em 1506, para o de Tenerife (4). Quanto ao trigo açoriano, não obstante se apontar o seu início em finais do século XV, apenas em 1508 temos uma referência a esse comércio, com a definição por parte da coroa
e).
e).
e).
ct) José Pérez Vidal, «Aportación portuguesa a la población de Canarias. Datas para su estudio», in A.E,A .. n.o 14, 1968, 41-106; Margarita Martin Socas e Manuel Lobo Cabrera, art. cito No século XVI das 14 embarcações saídas das Canárias com destino à Europa 4 fazem escala no Funchal, veja-se Margarita Martin Socas e Manuel Lobo Cabrera, art. cit. «Descrição da ilha da Madeira .. , in A Madeira vista por estrangeiros. Funchal, 1981,84; «Viagem à ilha da Madeira e aos Açores ... », in ibidem, 226; L. Torriani em 1590 refere o comércio de cereal de Lanzarote com a Madeira (ob.cit., 45-46). (4) «Reformación dei repartimiento de Tenerife em 1506», in Colleción de documentos sobre el Adelantac!o y SlI gobierno, Santa Cruz de Tenerife, 1953,90-91; Manuela Marrero Rodrigues, «Algunas consideraciones sobre Tenerife .. ,» in A.E.A., n." 23, 1977,380.
e) e)
141
dessa rota de fornecimento de cereais à Madeira, que se estrutura de forma idêntica à rota de comérciQ com as praças africanas (5). A abertura e permanência desta rota dificultava a intervenção das autoridades dos dois arquipélagos próximos, uma vez que irá provocar acesa contestação e permanente boicote de vizinhos e funcionários régios e locais. Esta contestação aumenta em momentos de penúria, dificultando o abastecimento de cereais na Madeira. Nos Açores, proprietários e mercadores, com intervenção activa nos municípios, boicotam a rota, procurando furtar-se a esse encargo. Perante isso a coroa teve de intervir por diversas vezes, apelando para as autoridades açorianas, a fim de que não pusessem qualquer impedimento ao envio de cereais pa.ra a Madeira, uma vez «que los triguos desas ylhas se gastam mays na ylha da Madeyra que em nehúa outra parte de nosos reygnos» (6). Em Canárias o cabildo catedral de Oran Canaria queixava-se de receber a sua parte dos dízimos, que se escoava para a Madeira, ordenando-se em 1532 o seu embargo t). Por outro lado o conflito antigo entre as duas coroas criava, por vezes, atropelos a esse comércio. Todavia a rota canária impõe-se pela dominância dos contactos assíduos entre os dois arquipélagos, não o impedindo as crises de produção, nem as limitações impostas pelo cabildo de Tenerife. Nos Açores, ao invés, o monarca teve de impor à força esta rota, pois a posição dos municípios e produtores era de constante recusa (8); esta situação de afrontamento dos açorianos resultava do desinteresse da burguesia açoriana, pois estava apostada no comércio especulativo com o reino e nos contratos de fornecimento às praças africanas. As dificuldades sentidas no abastecimento de cereais na Madeira na primeira metade do século XVI, bem como a incessante recusa dos açorianos em participar nesse comércio, levaram o monarca a intervir, em 1521, no sentido de manter a prioridade na exportação do cereal para a Madeira. Mediante a acção especulativa dos grandes produtores, o rei estipula a obrigatoriedade de todo o carregamento se fazer mediante procuração da comarca do Funchal e com preço estabelecido em auto Em todas as recomendações e oràenações o monarca fundamenta a sua intervenção no facto de a ilha não ter «outro pão salvo o que màndão comprar às ditas ilhas» eo). A Ma.deira de acordo com a informação em 1546, consumia anualmente doze mil maios de pão, dos quais oito mil vinham de fora. A ilha, apenas poderia contar com 32 % da sua produção que chegaria apenas para três a quatro meses (11). O cereal de importação provinha, de modo variado, das ilhas vizinhas e da Europa, serido muito importante a posição das ilhas com 49 %. No caso dos Açores o trigo entrado no porto do Funchal é na sua maioria oriundo do Faial, Santa Maria e S. Migtlel,ilhas que dispunham de' um excedente vantajoso para esse comércio. Quanto às Canárias são as ilhas de Lanzarote e Tenerife que surgem como os principais graneros. A pennanência desta rota de abastecimento de cereais implicou um incentivo e um alargamehto das trocas comerciais entre os três arquipélagos; assim, ao cereal vieram juntar-se outros produtos, como contrapartida favorável a essas trocas. Pelo que respeita aos
e).
(5) A.R.M., C.M.F.. registo geral, t. I, fls. 310-311 v.o, alvará régio de 20 de Agosto de [508, in A.H.M., XVIII, 512. (6) Ibidem, registo geral, t. I, fi. 341, alvará régio de 31 de Dezembro de 1516, in A.H.M.. XVIII, 586. G. Camacho y Perez Ga1dós, arl. cil., 246; José Pérez Vidal, art. cil" 61. (8) Assim sucederá em 1521, 1535, 1546, 1563-1564, 1569, 1572, 1587. Veja-se A[berto Vieira ,,0 comércio dos Açores para a MadeIra no século XVII», 652-654; Idem «A questão cerealífera nos Açores nos séculos XV-XVII", 167; Idem ,,0 comércio de 'cereais das Canárias para a Madeira nos séc. XVI-XVII», in VI C.H.C.A., Las Palmas, 1984, no prelo. (9) A.R.M., D.A., cxa. I, 133, carta régia de 6 de Novembro de 1521; Ibidem, cxa. II, 195, ordenação de !O de Dezembro do Cardeal D. Henrique à jurisdição dos Açores; ibidem, cxa. II, 198, ordenação de 13 de Novembro de 1565; Veja-se Joel Serrão, "Sobre o trigo das ilhas nos séculos XV a XVI», in D.A.H.M., n.o 2, [950. eo) A.R.M., DA., cxa. lI. 198. já citado. (11) Ibidem. cxa. I, 171, Almeirim, 29 de Março de 1546, carta de D. João II à câmara de Lisboa.
e)
142
o
Comércio de cereal das ilhas dos Açores e Canárias no Séc. XVI (12) AÇORES
CANÁRIAS
Ilhas
Moios
Terceira Graciosa Faial Santa Maria São Miguel Total
60
117,5 155 156 125 613,5
%
5,05 9,90 13,06 13,6 10,53 46,33
Ilha
Moios
Fuerteventura Lanzarotc Tenerife
Total
%
6,5 493 111
0,91 69,19 15,58
710,5
53,67
Açores, a Madeira tinha para oferecer o seu afamado vinho, açúcar, conservas, queijos, peles, seb.o e chacina et 3 ); neste grupo destaca-se o vinho que era muito apreciado pelos açorianos; Linschoot, em finais do século XVI, refere que o vinho madeirense, conjuntamente com o canário era o preferido dos «mais ricos» da terrae 4 ); além disso este afamado rubinéctar era o vinho de uso corrente na celebração eucarísticae s). A fama do vinho da Madeira deveria ser tão grande na sociedade açoriana que o seu consumo era sinónimo de importância social; por isso os trabalhadores de soldada, em 1574, rejeitam na joma o vinho da terra em favor do da Madeira (16); e, ao mesmo tempo, a principal nobreza do arquipélago preferia a sua oferta nos encargos de missa por morte (17). O vinho da Madeira surge assim no mercado açoriano por imposição do gosto « apurado» da sua população e como moeda de troca para a aquisição do cereal et 8 ). Deste modo podemos dizer que a rota do cereal trouxe consigo o comércio do vinho madeirense. Aliás, a primeira referência ao seu comércio nos Açores surge nos inícios do século XVI, na altura em que era vendido na Ribeira Grande a oito reais a canada. O tabelamento do seu preço de venda ao público pelas vereações de Angra, Ribeira Grande e Velas (S. Jorge) atesta a importância que o vinho adquiriu no mercado local. Preço de venda ao público do vinho da Madeira (em reis) et 9) MUNlciPIO
Angra Ribeira Grande Velas
ez)
1510
1520
1559
1571
13 36
44
1578
1589
1590
40 8
44
32
Veja-se nota 8.
e Saudades da Terra, 1.0 VI, 1963,57; 1.0 IV, 1981, 48;,:\.N,T.T., H.A .. n.O 724,41. es "História da navegação do holandês / ... /», in B.I.H.I.T.• n.o 1, 1943, 151. e ) Arquivo da Paróquia da Matriz da Ribeira Grande, Livro primeiro das visitas da Ribeira Grande, L" 3
4
)
)
visita, cap. 13, t1. 19, aí refere-se que o tesoureiro «será.obriguado a dar vinho bom da ilha da Madeira». Esta afinnação é corrqborada por Gaspar Frutuoso (ob. cit .. 1.0 IV, vol. II, 198). 6 ) Gaspar Fru'tuoso, ob. cit" 1.0 IV, vol. II, 47. 7 ) B.r.A.p.D., Fundo Ernesto do Camo, ms. 26, fIs. 7-7 v.o, 13 de Outubro de 1595, testamento de Manuel Martins Soares e mulher Maria Jácome Raposo: um almude de vinho da Madeira ao enterramento. Na Vila da Ribeira Grande, em finais do século XVI, deparamos com a mesma situação em 18 registos de óbito da Matriz (Arquivo Paroquial da Matriz da Ribeira Grande), L.0 2 de registos de óbitos, fls. 30,31,33-36,40; 44-45, 54, 56, 59, 61-62, 66, 73, 75. 8 ) .. Viagem de Pompeo Arditi / . , '/' in B .I.H.I. T., VI, 1948, 178; Antonio Cordeiro, História Insulana / ... /, Angra do Heroísmo,. 1982, 302. 9 ) Gaspar Frutuoso, ob. cit" 1.0 IV, vol. II, 1981, 177-178, 197-198; Vereação de Velas) .. ./, s. 1. 1984, 397-398; Frei Agostinho de Montalveme, Crónicas da Província de S. João Evangelista, vaI. II, 17;
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143
Em 1574 o vinho da Madeira representava 42% do vinho entrado no porto de Ponta Delgada, enquanto o vinho do reino ficava apenas por 8 % e o vinho da Terceira e mais ilhas em 50%e o). A primeira referência ao envio do vinho da Madeira para os Açores surge tombada em 1544 no testamento do mercador Afonso Alvarez, em que se refere ter ele enviado ao Faial seis pipas de vinho (!1). O Faial parece ter sido um porto importante de destino do vinho madeirense, dedicando-se a isso alguns importantes mercadores corno Francisco João, falecido em 1620 2 ). O comércio do vinho nesta praça tão próxima das ilhas produtoras do bom vinho açoriano (Pico e S. Jorge) resultará, sem dúvida, da contrapartida favorável ao comércio dos cereais. Na praça de Angra o vinho da Madeira é transaccionado com muita frequência, quer para consumo local, quer para redistribuição pelas ilhas vizinhas de Graciosa e S. Jorge; as únicas notícias do seu comércio nesta cidade surgem em 1552, 1561 e 1594e 3 ). Saliente-se, por outro lado, que em 1564 António Pires do Canto entregara a Pedro Ribeiro dezassete pipas de vinho para vender nas ilhas de Baixo, comprometendo-se este último a entregar ao primeiro, em troca, vinte pipas de vinho da Madeira 4 ). Também nas relações com as ilhas Canárias o vinho surge, muitas vezes, aliado a outros produtos corno moeda de troca dos cereais. Assim, em 1521 o mercador Juan Pomar, vizinho da Madeira, enviou a Juan Garcia de Lós, mercador vizinho de Gran Canaria, algumas pipas de vinho s ). E em 1525 enviou urna pipa e um quarto de vinho e um quarto de vinagre 6 ). Entretanto em 1523 sai do Funchal o navio de Lourenço Morais com vinte pipas de vinho para o mesmo destino 7 ); e, finalmente, em 1563 o mercador João Nunes envia ao seu cunhado, residente nas Canárias, três pipas de vinho para que este lhe enviasse trigoe s). O comércio entre a Madeira e as Canárias remontava a meados do século XV, altura a partir da qual a Madeira passou a receber escravos canários, carne, queijo e sebo. Todavia esse trato não era do agrado do Infante D. Fernando, senhorio da ilha, uma vez que ele recusou a solicitação dos seus naturais para isenção da dízima dos produtos que daí vinham, dizendo a propósito, «que tam bõo trauto e das minhas ylhas dos Açores e tam bõo retorno averem e milhar que de Canaria se em elle quiserem emtrar» 9 ). Não obstante, os vizinhos do Funchal teimaram em manter os seus contactos com as Canárias; assim, em 1477, Nuno Cayado, mercador madeirense, há mais de quinze anos ocupado nesse comércio, recebeu
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A.C.M.R.G., L.0 3 de acórdãos. fIs. 40-41 v.o, 21 de Fevereiro de 1578; Francisco Ferreira Drumond, Anais da ilha Terceira, vol. I, 381. eo) Saudades da Terra, 1.° IV, vol. II, 198. 1 ) A.R.M. ,Misericórdia do Funchal. n.o 684, fi. 286, 1 de Agosto de 1544. 2 ) Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no séculoXV/l, 187. Em 19 de Abril de 1574 na câmara da Horta o vinho da Madeira é referenciado em separado do outro vinho de fora (António Lourenço da Silveira Macedo, História das Quatro ilhas ... , Angra do Heroísmo, 1981, 78). J ) Em auto de veração de 3 de Março de 1552 refere-se que cinco navios franceses roubaram uma caravela da Madeira com vinho e mercadorias (As gavetas da Torre do Tombo, X, Lisboa, 1974, 674-675). A 15 de Novembro de 1561, Diogo de Amorim refere ter enviado à Terceira quatro pipas de vinho a Baltasar Gonçalves, seu cunhado (A.R.M., I.R.C. -Funchal, tombo, fi. 354 v.O). E em 28 de Outubro de 1594 Pero Gonçalves, de Santa Cruz, refere ter enviado a seu irmão Antonio Anes, morador na Terceira, duas pipas de vinho (lbidem. Santa Cruz, t. II, fi. 52 v.O). 4 ) B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto, ms. 20 A, n.O lO, 1 de Novembro de 1564, caderno de lembranças de António Pires do Canto. s ) A.R.M., Misericórdia do Funchal. n.o 684, fi. 303. 6 ) Q. Camacho y Perez Galdós, arl. cit., 278-279. 7 ) A.N.T.T., N.A., n.o 541, registo de 30 de Outubro. s) lbidem, n.o 541, registo de saída de 12 de Janeiro de 1525 do navio de João Gago com um quarto de vinho ~9 um quarto de vinagre da mulher de Antonio Leme, uma pipa de vinho de Diogo Martins. ( ) A.R.M., C.M.F., registo geral, t. I, fls. 226-229 v.o, Beja, 7 de Novembro de 1466, apontamentos do Infante D. Fernando, pubI. in A.H.M. XVI, 36-40.
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um salvo conduto dos reis católicos para comerciar nessas ilhas eo); e, em 1513, ao ser apresada em Gran Canaria uma caravela portuguesa que levava a bordo um malfeitor, o regedor local receia represálias por parte dos madeirenses e 1 ). A Madeira receberá, por intermédio dos portos do Funchal e Santa Cruz, cereais, gado, pez, pipas vazias e em troca fornecerá o seu vinho, canas, fruta verde, liaças de vime, sumagre, pano de estopa, burel e liteiroe 2 ). Um dos mais importantes produtos fornecidos pelo mercado madeirense e ·que tinha saída fácil nas Canárias era o sumagre: que terá contribuído para o desenvolvimento da industria de curtumes em Gran Canaria; uma primeira remessa é solicitada em 1569, seguindo-se, a partir de 1570, a intromissão em força da classe mercantil neste tratoe 3 ); por exemplo, em 1571 Anton Solis e Juan de Cabrejas, vizinhos de Gran Canaria, criam uma companhia para comerciar o sumagre da Madeira; e, ainda nesta década, surgiram outras companhias com a mesma finalidade, o que atesta a importância deste produto no comércio com Gran Canaria 4 ). Em síntese, as Canárias ofereciam à Madeira os produtos alimentares de que esta carecia e em troca recebiam, para além do vinho e sumagre, uma série de artefactos de produção local ou de importação. A Madeira tinha neste arquipélago vizinho não s6 o seu celeiro, mas também o açougue, fornecedor de gado e seus derivados, como a carne, sebo, queijo. Note-se que em 1527 Joana Falcão veio declarar em vereação que o seu marido, Joam Novo, que detinha o exclusivo da venda de carne no açougue municipal, estava ausente nas ilhas Canárias, onde fora buscar carnes, como era hábitoe s ). Esse gado e carne eram adquiridos, habitualmente, nas ilhas de Fuerteventura e Lanzarote 6 ). O comércio entre os Açores e as Canárias não assume a mesma importância que apresenta na Madeira, pois a dificuldade nas comunicações e a distância entre os dois arquipélagos, em convergência com um diverso posicionamento destas ilhas na economia atlântica, bloquearam o desenvolvimento e estreitamento desses laçose 7 ). Não obstante, desde muito cedo surgem referências avulsas sobre esse comércio; em 1508 ao ser interditada a entrada de navios em Tenerife por causa da peste, são referidos entre muitos, homens oriundos dos Açorese s ); e em 1511 surge em Santa Cruz de Tenerife um Diego Afonso, mercador, vizinho da ilha do Faial, para carregar desse porto de Garachico e outros portos da ilha mil fanegas de cevadae 9 ).
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eo) Eduardo Aznar, Documentos Canários / ... /, La Laguna, 1981, p. 129, n.O 958, Valladolid, 13 de e
Abril de 1513. 1 ) Ibidem, p. 4, n.o 16, Sevilha, 30 de Novembro de 1477. . (32) A.N.T.T., N.A., n.o 541, registo de saída de 27 de Maio de 1523, em Santa C~z, navIo com duzentas e quarenta varas de estopa, setenta de burel, duzentas deyteiro ~ cento e vinte,e. oito de haças de LeoneloPonte. Por postura de 19 de Março de 1547 estava proibida a sal~a.de 1Ja5as para_Ca~anas (A.R.M., C:M.F.,~. 1:08, fi. 33). E em 12 de Maio de 1584 Gaspar Rodrigues so1Jcltava a vereaçao 1Jcença para levar as refendas Ilhas duzentos feixes de arcos (Idem, D.A .. cxa. IV, n.o 500). A. Rumeu de Armas (Piraterias y ataques navales e~tre las islas Canarias, t. I, 269) dá-nos conta quc em 1581 se carregava lã e queijo em Lanzarote para a Madel~a. Veja-se Manuel Lobo Cabrera, «EI mundo dei mar en la Gran Canaria ... ", in A.E.A., n.o 26, 328; Marganta Martin Soca e Manuel Lobo Cabrera, art. c/t.. 679 e 695. 3) Manuel Lobo Cabrera, «Gran Canaria y los contactos con las islas portuguesas atlanticas ... "
e ees) Veja-se ibidem. A.R.M., C.M.F., n.o 1305, fi. 22 v.o, 26 de Março de 1527. Gaspar Frutuoso refere que o gado era 4
)
abundante nesta ilha (Ob. cito L. 0 I, 82-85). (36) A.H.P.L.P., Protocolos de Cristobal de San Clemente, n.o 736, fIs. 522-523, 9 de O~tubro de 1526, fretamento do navio de Anton Diaz e Lorenzo Yanes aLape Diaz e Niculoso Bordego, genoves, estante, para carregar queijo e gado em Lanzarote e conduzi-lo ao Funchal. e Santa Cruz. . ., e7) A primeira abordagem foi feita por Manuel Lobo Cab~er~ e Eli~a Torres Santana, «Aproxlmaclon, a las relaciones entre Canarias y Azores ... », in Os Açores e o Atlantlco (seculos XIV·XVII), Angra do HerOismo, 1984.
ee9)s) Ibidem, 364. F. Clavijo Hemandez, Protocolos de Hernán Guerra,
n.o 1048, p. 294, 7 de Maio de 1511.
145
A partir da segunda metade do século XVI as trocas entre os dois arquipélagos são mais assíduas, facilitadas pela fixação temporária ou permanente de açorianos no território canário; estas trocas assentam ou no vinho canário e/ou no trigo açoriano (40). O aparecimento do trigo açoriano em território canário não é permanente, mas sim sazonal e resultado, muitas vezes, do desvio da rota das embarcações que transportavam o cereal à Madeira; a primeira situação documenta-se em 1563 com o envio de cereal para a ilha de La Palma, mercê da carestia que aí havia(41); a segunda surge em 1535 com o trigo de Nuno Alvarez, mercador de Guimarães, que aportou a Las Palmas, onde lhe foram retirados trinta moios (42); em 1563, Gonçalo Dinis, mercador da Ribeira Grande, transportando trigo e toucinho para a Madeira, sofre um desvio na sua rota indo aportar a La Palma (43); a situação repete-se em 1582 com duas embarcações de S. Miguel e da Terceira (44). Só em 1535 surge em Las Palmas uma companhia formada entre Andrés Pérez Guitarte, mercador nos Açores e Jerónimo Mecia, mercador genovês estante em Gran Canaria, para o comércio de trigo, couros e outras mercadorias dos Açores (45). Esta permuta de cereais testemunha a dinâmica de inter-ajuda dominante nestes três arquipélagos, patente, aliás, em 1521 e 1573, com a solicitação do cereal por parte do cabildo de Gran Canaria à respectiva edilidade funchalense. A Madeira, que habitualmente consumia o cereal canário, poderá, por vezes, auxiliar estes vizinhos em momentos de penúria, socorrendo-se para isso do cereal importado dos Açores ou da Europa (46). Os açorianos recebiam das Canárias, em troca do cereal, apenas vinho e breu. O primeiro produto, segundo Pompeo Arditi, era conjuntamente com o da Madeira muito apreciado no mercado açoriano (47); no entanto, apenas há notícia em 1565 do envio de uma carga de cinquenta e cinco botas de vinho de Gran Canaria e, em 1570, de quarenta pipas de vinho de Tenerife para a Terceira (48). A manutenção e estreitamento das relações entre os dois arquipélagos portugueses com as ilhas Canárias resultam de vários factores. Em, primeiro lugar, e quanto à Madeira, da necessidade de abastecimento de cereais que se encontravam ali tão perto da ilha e, em segundo, da intervenção dos portugueses avizinhados na sociedade canária, que facilitaram e asseguraram esse intercâmbio comercial (49).
A. Cioranescu, ob. cit.. II, 446, nota 93. Gaspar Frutuoso, ob. cit., L.0 I, 122. A.H.P.L.P., Pr~tocolos de Cristobal de San Clemente. n. o 742, fi. 158, 5 de Julho de 1535; Idem, Hernando e Padilla. n. o 749, fi. 104 v. o, 27 de Agosto dt: 1535; H. Camacho yPerez Galdós, art. cit.. 246-247. (43) Saudades da Terra. L.0 I, 106. (44) A.H.P.L.P., Protocolos de Luis de Balboa. n. O 866, fls. 382-383; Idem, Protocolos de Luis de Loreto. n. o 872, fl. ·187; Veja-se· Manuel Lobo Cabrera e Elisa Torres Santana; art. cit., 366. (45) A.H.P.L.P., Protocolos de Cristóbal de San Clemente. fi. 77 v. o , 13 de Maio de 1535; G. Camacho y Perez Galdós, art. cit .. 245; Manuel Lobo Cabrera e Elisa Torres Santana, art. cit.. p. 365 referem outra companhia familiar para (J comércio de trigo, carne e mais mercadorias. (46) A.R.M., C.M.F.• n. o 1304, fls. 82 v. o 84, 23 de Novembro de 1521; Manuel Lobo Cabrera, "Gran Canaria y los contactos con las islas portuguesas atlânticas ... " (47) «A viagem de Pompeo Arditi. .. ", 176. (48) A.H.P.L.P., Protocolos de Andrés Rosalez.n. o 947, fls. 24 v. O 26 v. o; A. Cioranescu, ob. cit.. /lo 446 nota 93. (49) F. Clavijo Hernandez. "Los documentos de fletamentos ... '" 46 .. (40) (41) (42)
146
2.4. Comércio Atlântico-Europeu A situação periférica do mundo insular condicionou a subjugação do comercIO do Mediterrâneo Atlântico aos interesses hegemónicos do velho continente. Foram os europeus os primeiros cabouqueiros das ilhas, trazendo consigo produtos e sementes lançadas nas novas culturas. E foram, igualmente, europeus os primeiros a apreciar a qualidade dos produtos insulares e a aIJ1eal~ar elevados réditos com o seu comércio. Esta subordinação das ilhas aos interesses dominadores do Velho Continente no Atlântico e às solicitações e necessidades desse mercado levou .a uma situação peculiar; na verdade definiu a economia insular pelo seu carácter marcadamente colonial, isto é, importador de manufacturas europeias a troco dos produtos agrícolas. Esta troca, marcadamente desigual, condiciono4 o desenvolvimento da vida económica das ilhas nos séculos XV e XVI, sendo responsável pela sua constante instabilidade. O comércio e a assiduidade de contactos entre as ilhas e os reinos peninsulares resultam ou são impostos por essa vinculação ou subordinação. Deste modo, as rotas comerciais que lhe servem de suporte são definidas, desde o século XV ,mantendo-se por todo o século XVI como as mais importantes e valorizadas da economia insular; as rotas africanas e americanas resultam apenas de um aproveitamento vantajoso da posição geográfica das ilhas, ou apenas de uma tentativa de extensão da sempre presente rota europeia. O arquipélago canário, mercê da sua posição e das condições específicas, criadas após a conquista, foi dos três '0 que tirou maior usufruto do comércio com o Novo Mundo. A sua proximidade do continente africano, bem como o seu entroncamento nas rotas atlânticas, permitiram-lhe a intromissão nesse trato, ainda que constantemente regulamentado pela coroa e monopolizado pelas cidades de Lisboa e de Sevilha Os Açores posicionados no traçado das rotas de regresso, procuram igualmente valorizar a sua posição privilegiada intrometendo-se no comércio ilegal dos poucos produtos do Índico, África e América, que escapavam à apertada vigilância da Provedoria das Armadas. Todavia, esse benefício foi muito diminuto, talvez a sua mais importante implicação tenha sido o aparecimento de um grupo numeroso de mercadores castelhanos, franceses e ingleses interessados no comércio transatlântico que, por vezes, não esquecem as potencialidades económicas açorianas A Madeira, mercê da sua posição excêntrica alheia-se dessa realidade, apostando no comércio com a Europa. Só muito mais tarde os madeirenses terão uma intervenção activa no comércio do Novo Mundo, por meio do vinho. A sua experiê'ncia, durante o século XV, no comércio da costa africana foi fugaz, regendo-se pelo objectivo de canalizar, do golfo da Guiné, os escravos necessários à lavoura e à safra do açúcar. O comércio insular com a Europa definia-se por uma multiplicidade de produtos, agentes, rotas e mercados. A península, mercê da sua intervenção no reconhecimento, ocupação e valorização económica das ilhas, apresentar-se-á como o principal mercado; será o elo de ligação entre elas e as principais praças europeias no mar do norte e do Mediterrâneo; assim, a partir de Lisboa, Cádiz e Sevilha activar-se..á um assíduo comércio, secundado pelos outros portos atlânticos e Mediterrânicos do litoral peninsular. A essas importantes praças peninsulares afluiu um grupo numeroso de mercadores italianos, fran-
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Francisco Morales Padron, Canarias y América. Las Palmas, 1982;. Pierre Chaunu, Seville et [,At/antique, T. VIII, VoI. I, 359-365; Manuel Lobo" Cabrera, .Gran Canaria e Indias ... », 111-128. Maria Olímpia da Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no séc, XVII/o 337-352.
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ceses, flamengos e ingleses interessados no comercIO, altântico e apostados nesta nova economia de mercado; se, numa primeira fase, a sua intervenção estava limitada à península, num segundo momento, facilitada a sua intervenção nas ilhas, actuam a partir delas, onde se afirmam como os principais homens de negócio; a partir daí estabelecem contactos e rotas directas com as principais praças do Mediterrânico e do Norte. A Madeira, de todas a primeira a merecer uma ocupação efectiva, alicerçou o seu comércio europeu nas relações com as zonas costeiras de proveniência dos seus colonos e com as principais praças de origem dos mercados forasteiros. Se no início os contactos eram sazonais e se justificavam af>enas pelas necessidades do povoamento e governo da terra, num segundo momento, vão ser feitos com assiduidade e mercê do comércio activo com a Europa Ocidental. Os cronistas do século XV e XVI referem com frequência a abundância de madeiras na ilha que, em face da abertura de diversas frentes de arroteamento, condicionou um rendoso De acordo com mesma informação a exploração comércio com o reino e outras partes das madeiras fazia-se em regime industrial com o objectivo de fabrico de embarcações, mobiliário para a exportação e das caixas de açúcar para a embalagem do produto. O impacte da exportação de madeiras foi de tal ordem que conduziu a alteração na técnica de construção naval e civil do reino (4). O comércio das madeiras foi, sem dúvida, a primeira actividade que constituiu uma fonte de riqueza para os colonos e senhores da ilha, conforme se depreende do indeferimento dado, em 1461, pelo Infante D. Fernando, ao pedido de isenção da dízima da sua exportação (5). O desgaste do parque florestal madeirense, provocado por este comércio lucrativo e pelo uso da lenha na laboração dos engenhos, veio a condicionar os corte de madeiras e o seu consequente comércio. Em 1503 tomava-se imperiosa a proibição do seu comércio por naturais ou estrangeiros, restringindo-se o seu uso ao estritamente necessário (6); todavia, quando havia grande necessidade, esta medida proibitiva era esquecida; assim sucedeu em 1508 com a saída de tabuado vinhático, paus, traves e chaprões para a fortificação das praças portuguesas de Safim e MogadorC). Além disso o alto valor de algumas madeiras como o cedro, condicionava a sua saída para algumas partes, como para Ruão (8). Essa falta de madeiras resultante de anárquica exploração da floresta explica, em parte, a importação da Flandres de madeira de cedro, em 1525, para a construção da Igreja de Machico (9). Os contactos entre a Madeira e o reino, ao longo dos séculos XV e XVI, eram constantes e faziam-se com maior frequência com os portos de Lisboa, Viana e Caminha; os marinheiros e mercadores dos portos do norte, nomeadamente da região costeira e entre Douro-e-Minho, frequentavam com assiduidade o porto do Funchal, para comerciar o açúcar a troco de panos e carne eo). Aliás em 1505 o monarca, ao conceder aos madeirenses
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Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, L.0 II, 1968, 137-138, 84-85; Jerónimo Dias Leite, Descobrimentos da ilha da Madeira . .. , 20; Álvaro Rodrigues de Azevedo, «Anotações.. , in Saudades da Terra, Funchal, 1873, 400-471; Fernando Aúgusto da Silva. Pela História da Madeira, Funchal, 1497, 60-65. (4) «Regimen Florestal», in Elucidário madeirense, voI. III, 181-184. (5) A.R.M., C.M.F., registo geral, t. I, fls. 204-209, 3 de Agosto de 1641, «Apontamentos e capitolos do ymfante dom Fernando para esta ylha.. , pubI. in A.H.M" XV, 11-20. (6) lbidem, fls. 299-300 v. o, 4 de Maio de 1503, «carta dei Rey noso Senor sobre ha madeira e fazimeto de navios e canareos desta ylha.. , pubI. in A.H.M.. n. O 1307, fls. 54-54 v. o, 56, vereação de 5 e 8 de Maio de 1546. C) A.N.T.T., C.C., II-13-73, Il-14-144; II-15-37, 55, 56, II-16-5, documentos de 3 de Junho de I de Setembro de 1508. (8) Ob. Cit., pubI. in A Madeira vista por .estrangeiros, 86. (9) A.N.T.T., C.C.. III 14-135, 27 de Abril de 1525. eo) Em 19 de Fevereiro de 1498 o monarca ordenou que o comércio de panos de Entre~Douro-e-Minho para a Madeira se fizesse apenas pelo porto de Caminha, (J.M. da Silva Marques, Os descobrimentos portugueses, III, n. o 318, 482-483). O comércio das ilhas da Madeira e dos Açores com Aveiro era muito apreciável em princípios do século, XV, veja-se «Foral de Aveiro de 1515 .. in Milenário de Aveiro, t. I, 297. Em 1551 refere-se o
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a mercê da importação de carne dessa região, refere que «os meercadores e pessoas dessa comarca têm e hão-de trauto dos açúcares que na dita ilha há ... », sendo um grupo bem definido no comércio desse produto com o reino e com o Mar Norte ctt). Note-se que em 1523-1524 esse destino é referenciado com o merecido relevo e, em 1581-1584, Viana é o único porto metropolitano referenciado no comércio do açúcarct z). O Porto do Funchal actuava muitas vezes como intermediário entre o porto de Lisboa, e a ilhas portuguesas do golfo da Guiné, nomeadamente para o comércio de peles de Cabo Verde; isso se deduz do envio em 1523 de mil e duzentas peles de Cabo Verde pára Lisboa 3 ). A Madeira ofereceu ao mercador do reino, num primeiro momento, as suas madeiras e o excedente de cereais; todavia, o principal comércio com o reino foi o açúcar, solicitado desde o início pelos mercadores nacionais, que procuravam firmar o monopólio da rota lisboeta. A ilha recebia em troca um grupo variado de produtos necessários a uso e consumo quotidianos, como ferramentas, panos, tecidos, telha, louça, barro, ferro, carne, peixe, sal, azeite 4 ); tudo isto a troco de açúcar e de reexportação de alguns produtos, como peles, escravos, breu, algodão ct s). A importação de louça fazia-se com assiduidade dos principais portos do reino como Setúbal, Lisboa e Porto 6 ); de igual modo, as formas para o fabrico do açúcar deveria ser proveniente do reino, nomeadamente da região do Barreiro, tendo em conta a escassez de barro na ilha e o fraco desenvolvimento da olaria local. O comércio açoriano com os portos do reino regia-se pelos mesmos princípios e solicitações que o madeirense, apenas se alterando os produtos de troca. De facto enquanto a Madeira oferecia o seu precioso açúcar, os Açores apresentavam um mercado mais ~vantajado com os cereais, o pastel, o gado e a esperança do contrãbando com as naus das Indias de Castela e Portugal. Não obstante a posição dominadora do porto de Lisboa, a documentação disponível aponta para a valorização do comércio com os portos de Entre-Douro-e-Minho, Buarcos, Aveiro e Tavira 7). Entre 1508 e 1538 nas embarcações assaltadas ao largo dos Açores surgem seis oriundas do reino, sendo três de Buarcos, duas de Vila do Conde e uma de Tavira; as primeiras transportam linho, estopa, couro, vinho e roupa do norte do país para os portos de Ponta Delgada e Angra, enquanto a última vinha apenas para carregar trigoet s); em 1551
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aprestamento no Cabo de S. Vicente do navio de Pero Rodrigues, oriundo dessa área, que conduzia açúcar da Madeira para Flandres (Joaquim Veríssimo Serão, A embaixada em França de Brás de Alvide, 25). E, em 1533, segundo Gaspar Frutuoso (Ob. CU., L.0 II, 411), um Penteado de Vila do Conde estivera ocupado no comércio de açúcar com a Flandres. (11) A.R.M., C.M.F.. registo geral, t. I, fls. 303 v.0-304, Lisboa, 15 de Março de 1505, carta régia, publ. in A.H.M., XVII, 452-453. (12) A.N.T.T., N.A., n. o 541, 724; Joel Serrão, «Notas sobre o eomércio de açúcar entre Viana do Castelo e o Funchal>, , Revista de Economia. III, 209 3 o ) A.N.T.T., NA .. n. . 541. (14) A.R.M., C.M.F .. registo geral, t. I, fls. 303 v. o 304, 2 de Novembro de 1483 «carta régia sobre o comércio das carnes do norte», publ. in A.H.M.. XVII, 453-454; /bidem, t. I, fls. 204-209, 3 de Agosto de 1641, .. Apontamentos e capitolos do ymfante dom Fernando pera esta ylha», publ. in A.H.M.• XV, 14; /bidem. fls. 238 v. 0 -249, 12 de Novembro de 1483, .. Resposta do duque a alguüs apontamentos sobre hos dereytos» , publ. in A.H.M.• XV, 124; /bidem. fls. 118-118 v. o, 5 de Setembro de 1498, ..carta deI Rey noso Seiior em que manda lamçar gibonetes aos moradores desta ylha», publ. in A.H.M.• XVII, 381, /bidem, fls. 337-340, 10 de Janeiro de 1512, regimento da guarda do mar, publ. in A.H.M. XVIII, 542. s ) A.N.T.T., N,A" n. o 541, 724. Ó O 0 ) A.R.M., C.M.F., n.o 1298, fls. 6 v. -7, I de Julho de 1485; /bidem, n. 1298, fls. 113-117. (17) Veja-se .. Foral de Aveiro de 1515», in Milenário de Aveiro, t. I, 297; Maria Olímpia da Rocha Gil, «Os Açores e a nova economia de mercado (séculos XVI-XVII)>> in Arquipélago, III, 1981, 373; Joaquim Veríssimo Serrão, oh. cit., 25, 36; Ana Maria Pereira Ferreira, .. Os Açores e o corso Francês na primeira metade do século XVI ... », in Os Açores e o Atlântico (séculos X/V-XV/l) , Angra do Heroísmo, 1984, 290-292. eB) Ana Maria Pereira Ferreira, art . cU. 25.
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outras seis embarcações oriundas de Entre-Douro-e-Minho são apresadas por corsários franceses. Em síntese, o comércio de Entre-Douro-e-Minho com os Açores era muito importante, activando uma rede complicada de rotas de fornecimento de panos e mais artefactos a troco de trigo, carne e couros 9 ). De acordo com informação do monarca de 1517, o comércio dos portos do norte do país assentava, fundamentalmente, no comércio de panos, que esta área produzia e importava dos principais centros têxteis do norte da Europa eo). Sendo tal região caracterizada por uma importante produção de linho, estopa, e seda, fornecida de importantes centros têxteis, lógico seria admitir a necessidade de activação do comércio das plantas tintureiras de produção açoriana, mas escasseiam as notícias acerca de tal comércio, pois ele é referenciado apenas por duas vezes; a primeira surge no Censual da Mitra do Porto de 1541, em que é mencionado «o pastel que vinha das ilhas»; a outra está exarada nos registos de entrada de navios na barra do Douro onde em 1597 se apontou o navio ,,5. João», propriedade de Pero de Coresma, mercador de S. Miguel, que aí apartou com pastel da mesma ilhae 1 ). O comércio canário com a a península desenrolava-se em quatro frentes: Andaluzia, Galiza, Catalunha e Portugal. No entanto a área atlântica andaluza, circunscrita às praças de Cádiz e Sevilha, dominava esse trato comercial com as ilhas de Tenerife e Gran Canariae2 ). O comércio com estas áreas penínsulares incidia, fundamentalmente, em produtos alimentares (cereais, açúcar, queijo), matérias-primas (madeiras, couros, pez) e escravos que os insulares trocava.'11 por panos, azeite carne' salgada e manufacturas diversas. Segundo Manuel Lobo Cabrera o principal móbil do comércio com Portugal, na primeira metade do século XVI, era o cereale3 ). Desde 1504 que se activou o comércio a partir de Tenerife com os portos de Tavira, Faro, Lagos, Lisboa, Viana. Aos cereais juntaram-se, a partir de 1569, os vinhos de Gran Canaria, que terão importância primordial na~ trocas do reino (Lisboa, Setúbal), para a Guiné, Cabo Verde e São Tomé 4 ). A estes produtos, que activaram as trocas entre as Canárias e Portugal, 'vieram juntar-se outros como o pez, açúcar, escravos. A contrapartida portuguesa à oferta canária baseava-se num grupo variado de produtos e artefactos necessários ao consumo e produção insular. Saliente-se que no século XVI, em face da escassez de cereais nas Canárias, a ilha de Gran Canaria procurou o seu abastecimento nos portos de Lisboa e Aveiro s ).
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9 ) Valentim Fernandes (1506-1508) refere que na Terceira exportava muita carne e sebo para o reino (Viriato Campos, Sobre o descobrimento e povoamento dos Açores. Lisboa, 1983, 35). Aliás em 1512 há notícia do comércio de couros das Ilhas em Lisboa (Documentos do Arquivo Histórico da Câmara Municipal de Lisboa. (,ivro de Reis, IV, Lisboa, 1859, p, 231, n. o 100, alvará de 8 de Maio.) E em 1551 é referido o apresamento em ~ilrita Maria de uma embarcação com gado (J.M. Serrão, oh. cit.. 25). comércio de linho do reino deveria ser igualmente importante, pois Gaspar Frutuoso (ob, cit.. I. o IV, vol. II, 199) refere esse comércio, sendo corroborado pelas presas de navios em 1508 e 1538. eo) Maria Olímpia da Rocha Gil. "Os Açores e a nova economia de mercado ... ".375; Sobre o comércio de tecidos do norte de ,Portugal; veja-se Ana Maria Ferreira, A importação e o comércio textil em Portugal no século XV (1385-148/). Lisboa, 1983; João Cordeiro Pereira, Para a História das alfândegas em Portugal/ .. . /, Lisboa. 1983. 1)Candido A.O. Santos. corno o pez, açúcar, escravos. (21) Candido A.O. Santos. O Censual da Mitra do Porto/ ... /, Porto, 1973, 347; LA. Pinto Ferreira, Visitas de saída às embarcações entradas na barra do Douro nos séculos XVI e XVIl. Porto, 1977, 94-95. 2 ) A. Cioranescu, ob. cit., I, 318-319; II, 20; Francisco Moralles Padron, "Canarias en el Archivo de Protocolos de Sevilha", in A.E.A, n. o 10. 1961,252; Manuel Lobo Cabrera, Protocolos de Alonso Gutiérrez. 35-37; F. Clavijo Hernandez, "Los documentos de fletamentos ... ", 45; José Maria Madurell Marinón, "Los seguros y el comercio en las islas de la Madera y Canarias". in A.E,A, n. o 5. 488; Eduardo Aznar Vallejo, ob. cit.r 339-342. 3 ) Manuel Lobo Cabrera, ..El comercio entre Portugal y Canarias en el quinientos ... ", in Congresso Internacional. Os descobrimentos e II Europa do Renascentismo, Lisboa, 1983 (no prelo). 4 ) Manuel Lobo Cabrera. La esclavitud en Las Canarias orientales em el siglo XVI. Las Palmas, 1982; A. Cioranescu, ob. cit.• II, 21. s ) A.H.P.L.P., Protocolos Bernardino de Pedro de Cabrejas, n.o 856, fI: 43; Idem, Protocolos de
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A manutenção e incentivo do comércio das Canárias em Portugal dependeu, em grande medida, da forte presença da comunidade portuguesa nas ilhas de Gran Canaria e Tenerife; de um modo geral o comércio e o transporte eram assegurados por portugueses, que surgiram nestas ilhas sob a condição de estantes 6 ). Se no caso das relações das ilhas com os reinos peninsulares os laços e imperativos de soberania destes territórios, aliados á tendência monopolizadora da burguesia metropolitana, impuseram um estreitamento de contactos e de comércio com a Península, no que respeita aos mercados nórdico e mediterrânico as ilhas afirmaram-se pelos seus produtos, impostos pela nova economia de mercado, o açúcar e pastel. Pàra além disso, as insuficiências da indústria peninsular traduziam-se muma procura de novos mercados capazes de satisfazer o gosto, cada vez mais apurado da nova aristocracia e da nova burguesia; se é certo que os artefactos de uso diário poderão ser encontrados na península, outros há que escasseiam nas suas praças, havendo necessidade de os importar de Itália, Flandres e Inglaterra. Para esta nova classe dirigente a ostentação da riqueza surge como uma forma de afirmação social e política, sendo exteriorizada por meio do uso de produtos flamengos e italianos; deste modo. os panos peninsulares são preteridos em favores dos riquíssimos tecidos de Ypres, Ruão e Londres. Na Madeira esta ostentação traduz-se na compra de uma campa em Flandres ou na aquisição de valiosas pinturas flamengas que depois ornamentavam as capelas dos morgados mais importantes da ilhae 7 ). Em 1546, João Lourenço Leitão refere ter comprado o retábulo de Nossa Senhora da Piedade do Mosteiro de S. Francisco em Flandres por trinta e sete mil reais s ). E, em 1566, quando do assalto francês à cidade do Funchal, Frutuoso refere o saque de valiosos móveis, «porque pela maior parte, pelo trato dali, a mais e maior riqueza daquela terra eram jóias e ricas peças de móveis ricos, que mandavam fazer de Flandres e outras partes pelos constantes e forasteiros, a troca de mercadorias da terra e de suas novidades, sem estimarem nem sentirem a compra e custo de semelhantes coisas, ainda que custosas ... " 9 ). Gaspar Frutuoso referindo-se a S. Miguel, dá conta que Diogo Nunes Botelho, um dos principais proprietários da ilha, mandava vir de Flandres, Inglaterra e Sevilha alfaias e vestidos a troco do pastel eo). Para a burguesia ou para a aristocracia insulares, enriquecidas com o comércio do açúcar ou do pastel, os créditos arrecadados serviam apenas para a sua ostentação e afirmação no acanhado meio em que viviam. As restrições impostas pelo meio geográfico impelem-nas para essa forma de investimento do capital, pondo de >parte a sua possível revalorização na actividade de troca. O pastel, o açúcar e o vinho àtraíram os mercados europeus que invadiram o mercado insular com os vários artefactos e produtos alimentares. Nas ilhas dos arquipélagos da Madeira e Canárias as relações com o mercado italiano e levantino surgem, desde o século XVI, sedimentad.as pelos mercadores e agentes das
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Bernardino Rosales. n. o 889, fi. 149, idem, ibidem, 888, fi. 599 v. o, citados por Manuel Lobo Cabrera, "EI comercio entre Portugal y Canarias ... ". ("6) Manuel Lobo Cabrera (lbidem) refere que 70 % das transacções com Portugal foram feitas por portugueses e destes cerca de 54 % são originários dos portos do destino, entre os quais Lisboa, Porto, Lagos e Tavira. Veja-se ainda Manuel Lobo Cabrera, Grupos humanos en la sociedad cana ria dei siglo XV/o Las Palmas, 1979; Elias Serra Raf()ls, Los Porltlgueses en Canarias, La Laguna, 1942. (27) No testamento de Rui Mendes de Vasconcellos de 16 de Abril de 1519 refere-se que este mandara vir de Flandres uma campa para a sua sepull1.lra (A.R.M. Misericórdia do Funchal. n. O 684, fls. 54-54 v. O). Sobre a compra de pintura flamenga ii troco de açúcar pela a iiristocracia fundiária madeirense, veja-se Manuel ç. de Almeida Cayolla Zagallo, A pintura dos slfculos XV e XVI da ilha da Madeira, Lisboa, 1943; João Couto, Os painéis flamengos da ilha da Madeira, Funchal, 1955. ("8) A.R.M.• J.R:C .. fls. 359 v. o-365, testamento de 16 de Março de 1546. 9 0 ) Saudades da Terra, L. II, 333. eo) Ibidem. L.0 IV, vaI. II, 65-67.
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principais sociedades italianas, que participaram activamente no lançamento dos fundamentos desta sociedade insular. Desde meados do século XVI que a Madeira penetrara com o açúcar nos mercados nórdico e mediterrânico e estabelecera rotas de comércio com as principais praças dessas áreas; o açúcar madeirense passou, desde então, a circular com abundância no mercado europeu, concorrendo com o da Sicília e Medinae 1 ). A importância do comércio com as praças da Eucrásia, Bruges, Flandres e Meldeburgo toma-se bem clara, já em 1485, em face da interdição desse trato e suspensão dos privilégios aos mercadores flamengos aí residentes (32). Esta era a forma de represália mais adequada contra a guerra nestas paragens. Para os portos nórdicos exportava-se quer açúcar, pastel e urzela, quer algodão e escravos 3 ); em troca, a ilha recebia os panos (Londres, Escócia, Ruão) , cereais e peixe seco ou salgado 4 ). Nos contactos com o mundo mediterrânico distinguem-se três áreas: as praças espanholas de Sevilha, Valência e Barcelona, as cidades italianas (Génova, Veneza, Livorno) e o Levante. As primeiras funcionaram como mercado de consumo do açúcar, e centros de redistribuição deste produto no mercado levantino s ). Para a última região bem como para as cidades italianas, além do açúcar, exportavam-se escravos, tábuas de cedro e vinhático urzela, pastel e couro, a troco de panos, trigo e objectos de luxoe 6 ). Dos portos de Barcelona e Valência recebiam-se habitualmente os panos de Castela, que surgem com muita frequência no mercado madeirense 7 ). Muito antes de 1417 os panos castelhanos, de importação directa ou indirecta, vendiam-se no mercado madeirense, pelo que o monarca definiu como forma de represália, em face de guerra com Castela, a queima dos que estivessem à venda e s ). Nesta última década quatrocentista está documentado o comércio desses panos e de cereais a partir da costa da Catalunha, Valência, Cádiz, a troco de açúcare 9 ).
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C1 ) A.R.M., C.M.F., t. I, fls. I-I v.o, 14 de Julho de 1469, carta do infante D. Fernando sobre o trato do açucar, aí refere a concorrência do açúcar da Sicilia e Medina, publ. in AB.M., XV, 45-47. (32) Ibidem. fls. 21-22 v.o, 22 e 23 de Junho de 1485, alvarás régios sobre o comércio de açúcar, publ. in A.H.M.,XVI, 187-188. C3 ) A 7 de Julho e 1524 Pero Anes despachou em Santa Cruz para Londres no navio de Francisco Lopes trinta quintais de urze1a; a 12 de Julho, Manuel de Brito despachou para Flandres no navio de Vasco Domingues duas sacas de algodão; a 9 de Setembro o rendeiro João Gonçalves Ferreira e Diogo Lopes despacharam, cada um, uma escrava para Londres no navio de João Esteves (A.M:T.T., N.A. n.o 724). A única exportação de pastel que se conhece na Madeira doi feita em Março de 1537 por Diogo Gonçalves no navio Santa Maria das Areias, para Flandres (V. Rau, A exploração e o comércio de sal em Setúbal, Lisboa, 1961). C4 ) Em 26 de Fevereiro de 1596 Joam de Berberage e Garcês (?), alemão, declarou em vereação cento e cincoenta caixas de sardinha e trinta varas de pano da Escócia (A.R.M., C.M.F., n.O 1312, fl. 22). Em diversos testamentos da Misericórdia do Funchal surgem algumas referências a panos dessas proveniencias; Veja-se A.R.M., Misericórdia do Funchal, n.o,712, fl. 52 v.o, 19 de Agosto de 1511, pano de Londres; Ibidem, n.o 684, fl. 153 v.o, 27 de Novembro de 1560, pano de França; Ibidem. n.O 684, fls. 640-642, 26 de Novembro de 1589, pano de Ruão; ibidem, n.o 710, fi. 17-21, 13 de Maio de 1490, pano de Ypres. Em 1531 Álvaro Pardo de Ruão envia três navios bretões com trigo e panos de Ruão para carregar açúcar e especiarias em Sevilha ou Lisboa (M. MolIat, Le comerce maritime normand ... , Lisboa, 1925, 163. CS) Domenico Gioffré, Documenti sulle relazioni fra Genova ed ii Portogallo dei 1493 ai 1539. Roma, 1961, 180-182; José Maria MadurelI Marinón, art. cit .. does. n.o 3 e "46. (36) Virginia Rau, Portugal e o Mediterrâneo no século XV ... , Lisboa, 1973, 15, Jacques Heers, Genes au XV- siécle, Paris, 1971, 317. A 10 de Janeiro de 1524 Esteano Romano despachou em Santa Cruz na nau de Simão Vaz ,para Livomo, vinte tábuas de vinháticos e cedro, três escravos e uma escrava e noventa couros de Joam Novo (A.N.T.T., N.A .. n.o 724). C7) Nos testamentos da Misericórdia do Funchal surgem algumas referencias a panos de Castela: A.R.M., Misericórdia do Funchal, n.o 684, fi. 336, 25 de Março de 1507; lbidem, n.o 684, fi. 326 v.o, 28 de Abril de 1541; lbidem, n.o 684, fi. 153 v.o, 27 de Novembro de 1560. CS) A.R.M., C.M.F.. n.o 1296, fl. 24 v.o, vereação de 7 de Agosto de 1471. C9) José Maria MadurelI Marinón, art. cit., 489, 502-507. 152
o comércio canário, baseado nos mesmos produtos que o madeirense, será um forte concorrente na disputa dos mercados nórdico e mediterrânico (40). Os produtos dos dois arquipélagos surgem, lado a lado, nas praças de Londres, Anvers, Ruão e Génova. A única vantagem do madeirense resultava deste arquipélago ter sido o primeiro a penetrar com o açúcar e o vinho no mercado europeu, ganhando a preferência de vendedores e consumidores. O comércio deste arquipélago com as principais praças europeias fazia-se com assiduidade a partir das ilhas de Oran Canária e Tenerife; este movimento comercial terá adquirido uma importância primordial nas trocas externas do arquipélago uma vez que no período de 1549 a 1555 há notícia de cinquenta e oito partidas ou chegadas de navios no percurso de Anvers às Canárias (41). Segundo A. Cioranescu o comércio da ilha de Tenerife fazia-se com maior assiduidade com os Países Baixos, sendo apenas limitado pelas guerras e pelos conflitos religiosos (42); contudo o tráfico mais importante do porto de Santa Cruz orientava-se no sentido da Inglaterra, baseando-se na oferta de vinho e urzela(43); esse. comércio deveria ser resultado da abertura do porto de Bristol ao tráfico com as Canárias, proposta em 1538 por Carlos V(44). Na ilha de Oran Canaria o comércio nórdico, nomeadamente com a Flandres, estava em função do açúcar; no entanto os flamengos só surgem aí a partir de 1532 e, com toda a pujança, na década de 50 (45); esta ilha recebia uma variedade de produtos manufacturados de que sobressaem os tecidos de diversas qualidades, oriundos dos mercados de Anvers, Ruão, Holanda e Gante (46); estes produtos eram transaccionados com dinheiro e açúcar por mercadores genoveses e flamengos, distinguindo-se neste grupo Bernardino Anehesi, Jerónimo Lerca, Lamberto Broque, Sébastian Búron e Jerónimo Fránquez. No arquipélago açoriano o comércio europeu orientava-se fundamentalmente, para as praças nórdicas (Inglaterra, Flandres, Holanda), com uma indústria textil importante, uma vez que este arquipélago era um dos principais produtores de pastel de mercado insular no século XVI (47). O comércio das ilhas com o litoral africano fazia-se com maior assiduidade a partir das Canárias do que da Madeira ou dos Açores; mas a Madeira, no século XV, manteve uma acção muito importante nesse comércio, quer como porto de escala, quer como entreposto de comércio. Os madeirenses tiveram uma participação activa nas viagens de exploração geográfica e no comércio no litoral africano, surgindo o Funchal, nas últimas décadas do século XV, como um importante entreposto de comércio de dentes de elefante (48). (40) F. Clavijo Hcmandez, «Los documentos de fIetamentos .. ,,,,48; E. Marco Dorte, «Descriptién de ~as yslas Canárias", in Revista de História. IX, 1943, 203; Manuel Lobo Cabrera, La esclavitud em las Cananas •. . . arientales en el siglo XVI, 161-162. (41) E. Stols, «Les Canaries et l'expansion coloniales des Pays-Bas mendJOnaux ... " ln IV .C.H.c..~" vol. I, 908; J.A. Goris, (Ob. cit., 157, 165, 167) refere o envio de três naus de Anvers (1508-1540) as Cananas
para comprar açúcar. (42) Ob. cit., II, 21-23. • . . . . (43) A. Cioranescu, ob. cit .. II, 23; Francisco Morales Padron, Cedul~:'o de Canar~~s. vaI. I, ~evllh~, 1970, o. 368, n. o 285, 4 de Maio de 1583; E. Conzález Yanes, «lmportaclOn y exportac\on en Tenenfe", ln Revista de História. n. o 101-104, 82. Em 1557 Thomas Nichols Cab. cit., 85) teria exportado para Inglaterra peles de. cabrito. (44) Clarence H. Haring, oh. cit .. 23. (45) Manuel Lobo Cabrera, •• EI comercio entre Gran Canaria y Flandes hasta 1558 ... 32-33. (46) Idem, Indices y Estractos . .. 16, 45; 1. A. Goris, ob. cit .• 295-306. (47) Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra. L.0 IV, vol. II, 16; Carreiro da Costa, «A cultura do pastel nos Açores ... ", 16-17. Em 1571 Fernão Jacques, mercador flamengo, despachou fazendas em Ponta Delgada ~ara comprar pastel (B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Canto . .. Extractos de Documentos Michaelenses", vol. V. L. , 1 . . . do registo da alfandega de Ponta Delgada, fi. 248). (48) A.R.M., C.M.F .. registo geral, t. I, fi. 146-146 v.o, 25 de Junho de 1470, carta regIa, pubI. ln A.H.M. XV, 51-52; Ibidem,fIs. 274-274 v. o , 24 de Maio de 1497, carta régia, publ. in A.H.M., 366-367; A. A. SannenlO, A Madeira e as praças de África. Lisboa, 1932, 46-47.
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As facilidades concedidas pela coroa portuguesa ao comércio com as praças marroquinas e do golfo da Guiné conduziram à intensificação do comércio madeirense no litoral africano (49); tomava-se necessária a abertura do comércio naquele golfo da Guiné como forma da Madeira adquirir a mão-de-obra escrava necessária à laboração do açúcar. Saliente-se que na segunda metade do século XVI a crise açucareira é atribuída pelos madeirenses à falta de escravos africanos, pelo que em 1562 a coroa autoriza os produtores de açúcar a enviarem, por prazo de dois anos, duas embarcações para os adquirir à Guiné e Cabo Verde (50). Cinco anos volvidos nova autorização faculta a aquisição de escravos, anualmente, em Cabo Verde ou outras partes (51). Em resumo, o comércio madeirense na costa ocidental africana desenrolava-se em mais de uma frente: praças marroquinas, Cabo Verde e Golfo da Guiné. Para a primeira a ilha fornecia vinho, vinagre, trigo a troco de gado vacum e miúdo (52); na segunda e na terceira trocava o vinho por couros finos, peixe salgado,chacina e escravos (53). O açoriano alheara-se, quase por completo, do comércio com o litoral africano, pois o seu distanciamento em relação a esta área, e a sua forma de exploração económica, não o favoreciam (54); os contactos e a permuta, que se restringiam à costa marroquina, estabeleceram-se por imposição régia, tendo como finalidade o abastecimento em cereal das praças portuguesas (55); tal comércio ter-se-ia iniciado no terceiro quartel do século XV, altura em que a Madeira se achava impossibilitada de o fazer, não obstante a referência do primeiro envio de cereal surgir em 1516(56); a rota de abastecimentos orientava-se na direcção das praças do sul (Azamor, Mazagão, Santa Cruz, Safim). A partir do século XVI a coroa coloca nela o seu empenho, definindo-a como prioritária no escoamento do cereal açoriano; a sua arrecadação e envio fazia-se por meio de regimento real, entregue aos contratadores de Lisboa que tinham nas praças de Angra e Ponta Delgada os seus representantes (57). Deste modo esta rota, para além de ser imposta pela coroa, tinha o seu ponto de origem em Lisboa e nos Açores apenas a escala de carga, (nos portos de Ponta Delgada e Angra); por vezes o porto dó Funchal servia-lhe de escala de apoio ou de redistribuição do cereal para as praças marroquinas. O comércio canário na costa africana era muito activo, actuando os vizinhos deste arquipélago, quer na Berberia, quer na Guiné e em Cabo Verde; na primeira área todo o movimento comercial girava em tomo da Torre de Santa Cruz de Mar Pequena, tendo como
(49) Ibidem, fIs. 274-274 v. o , já cotado; idem, DA., cxa. II, 189, 1 de Agosto de 1561, carta de D. Catarina autorizando o envio por dois anos de duas embarcações a Safim e Cabo Gué a comerciar; Ibidem, cxa. II, 181, 6 de Novembro de 1567, sobre o mesmo do anterior. (50) Robert Ricard, «Les places luso-marocaines et les iles ... ", in Anais da Academia Portuguesa de História, lU, Lisboa, 1949, 402-410. (51) A.R.M., D.A., cxa. II, 193, Lisboa, 16 e 30 de Outubro de 1562, autorização para o resgate de escravos na Guiné e Cabo Verde por dois anos. (51) A. A. Sarmento, ob. cit.. 47. Em ·1551 Jerónimo Fernandes de Lisboa importou trinta mil chacinas de Cabo Verde (A.R.M., C.M.F., n. o 1309, fls. 102 v. o , 23 de Janeiro) e em 1596 João Gonçalves vendeu trezentas chacinas de Cabo Verde a reis o arratel (Idem. n. o 1312, fi. 34, 27 de Abril). (53) Idem, C.M.F., registo geral, t. III, fls. 137 v. o-138, Lisboa, 15 de Setembro de 1567, licença para o resgate de escravos em Cabo Verde por cinco anos. Veja-se A. A. Sarmento, Os escravos na Madeira, Funchal, 1938; Frédéric Mauro Le Portllgal et I'Atlantiqlle au XlIle siécle ... 185; Vitorino Magalhães Godinho, Os descobrimentos e a economia mundial, vaI. IV, 171. (54) Gaspar Frutuoso (ob. cit., L.o m, 1971, 178) refere que em 1572 apartou à ilha de Santa Maria um patacho de Arguim com cação. (55) Helder de Sousa Lima, Os Açores e a economia atlântica . .. , 173-178; Alberto Vieira, «A questão cerealífera nos Açores nos séculos XV-XVI. .. ", 16-167, 174-176, 179; Maria Augusta Limá Cruz, ,,0 trigo acoriano em Marrocos (século XV!)", in Os Açores e o Atlântico (Séculos XIV-XVI!), Angra do Heroísmo, 1984, 625-648. (56) Alberto Vieira, ibidem, 164-167, 174-176, 198-199. (57) lbidem, 164-167.
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objectivo fundamental o comércio de escravos negros (58). A intervenção canária assumia o triplo aspecto de comércio. assalto e resgate (59). O tráfico com as praças portuguesas baseava-se no abastecimento de cereais sendo o arquipélago utilizado apenas como escala para as embarcações que partiam de Lisboa ou Sevilha (60). Segundo Teixeira da Mota «as Canárias constituíam o principal foco das navegações clandestinas dos castelhanos para a Guiné», envolvendo nesse tráfico ilegal pilotos portugueses ao serviço dos mercadores castelhanos ou nacionais (61). O principal móbil dessa rota era o comércio de escravos, que se intensifica a partir de meados do século XVI. O porto de Las Palmas surge nesse contexto não só como importante mercado de comércio de escravos com a Europa, mas também como centro de despacho de escravos para as Índias ou de expedições a Cabo Verde e à Guiné, com a finalidade de transportar escravos ao litoral americano (62). Este comércio organizado a partir das Canárias ou de Cádiz, era de um modo geral ilegal, sendo feito à margem da casa de Guiné. Perante isso o monarca português reclama em 1516, junto da coroa castelhana, contra os assaltos canários em AndeI e Guiné, ao mesmo tempo que, em 1549, envia Aires Cardoso a residir nas Canárias com a dupla finalidade de adquirir vinho para as armadas da India e «de vigiar e olhar os que daly armao muytas pesoas para a Mina e Costa da Guiné e levam mercadorias defesas com que tratam» (63). O comércio canário-americano no .século XVI aparece como uma grande esperança de fonte de riqueza para a população peninsular avizinhada no arquipélago (64). A implementação desta rota de comércio transatlântico resulta de uma multjplicidade de factores que a favoreceram e intensificaram; ao factor geográfico alia-se oeconámico e o político, pois a manutenção da rota não resulta exclusivamente da posição do arquipélago no traçado das linhas marítimas que ligam Sevilha à América, mas também porque uma série de condicionantes favorece esses laços; nela, são de realçar a disponibilidade de recursos humanos, técnicos, materiais e a relativa liberdade comercial até 1564(65).
A criação da Casa de la Contractacíón em Sevilha (15'03) veio dificultar o comércio das Canárias, fazendo-o depender de um regime de licenças anuais. Todavia os canários escapavam-se com facilidade ao olhar atento do juíz oficial, pelo que a coroa, penalizada
(58) Pierre Chaunu, Séville et [,Atlantique, t. VIII, vaI. I, 351-353; A. Rumeu de Armas, «La Torre de Santa Cruz de Mar Pequena, em segunda fundación», inA.E.A .. n.o 1 1955,397-477; Idem, Espana em el Africa Atlanrica, 2 volsr, 1956-1957, 530-533, 556; Idem, Piraterias y ataques navales contra las islas Canarias, vaI. I, Madrid, 1947,348; Idem, Las Viajes de John Hawkins a América (1562.]565). Sevilha, 1947, 80-86. (59) Gaspar Frutuoso (ob. cit., L. ° I, 82) alude que o comércio com a Berberia fazia-se a partir de Fuerteventura. Veja-se Eduardo Aznar Vallejo, oh. cit., 338; Avelino Teixeira da Mota, «Viagens das Canárias à Guiné no século XVI.. "', in III C.H.C.A .. vol. II, 223. (60) Maria Augusta Lima Cruz, art. cit.. 639-645; Manuel Henrique Corte Real, A feitoria portuguesa na Andaluzia (/500-1522), Lisboa, 1967. (61) Oh. cit., 231-233. (62) Manuel Lobo Cabrera, La esclavitud en las Canarias orientales en el siglo XVI, Las Palmas, 1980; Idem, «Relaciones entre Gran Canaria y Índias ... ", 132-133; Francisco Morales Padrón, "Fondos canarios en el Archivo de Índias» in A.E.A., n. o 24-25; 464, 523. (63) Archivo General de Simancas, Registo General deI Sello, 27 de Agosto de 1516; A.N.T.T., Colecção de S. Vicente, livro 5, fls. 366-367 v. o • cito por A. Teixeira da Mota, art. cit., 225. (64) Sobre o comércio com a América vejam-se os estudos de Francisco Morales Padrón, José Peraza de Ayala, António Rumeu de Armas, Augustin Guimera Ravina e Manuel Lobo Cabrera, na Bibliografia. (65) A. Guimera Ravina, «Canarias en la carrera de Índias (1564-1778)", in Historia General de las islas Canarias. IV, 170; Idem, "La financiación dei cometcio de Garachjco con las islas (1566-1612) .. in II C.H.C.A .. vol. 1,261-282; Francisco Morales Padrón. «Las relaciones'canario-americanas», in Historia General delas islas canarias. m, 322-323.
155
nos seus interesses e monopólio, procurou coibir os insulares dessa prática, criando, a partir de 1564, juízes de registo para ilhas, nomeadamente em La Palma, Tenerife e Gran Canaria (66). Esta necessidade de regulamentação rigorosa do trato comercial resultava do intenso contrabando feito a partir das ilhas, por castelhanos e portugueses aí residentes ou estantes. O principal móbil de tal comércio era, sem dúvida, o vinho canário, as manufacturas europeias e os escravos; estes eram transaccionados por portugueses e castelhanos, num circuito de triangulação que envolvia as Canárias, Cabo Verde e o litoral americano (67). Para a Madeira e os Açores o destino e mercado americano surgia de modo muito diferente; não há referência a um comércio assíduo com ele; os vizinhos de ambos os arquipélagos situam-se numa posição excêntrica e só muito mais tarde se aperceberam das possibilidades da troca nesses domínios; de facto apenas a partir de finais do século XVI açorianos e madeirenses penetrarão em força com o seu vinho no mercado americano; até lá restava-lhes aguardar a chegada das naus da Índia e Índias e aspirar por um lucro fácil com o contrabando (68); mas os monarcas peninsulares fizeram gorar essas aspirações por meio de um apertado sistema de vigilância às naus das rotas, a partir das ilhas das Flores e Corvo. O porto do Funchal, não obstante a sua posição marginal em relação ao traçado das rotas de retorno, manteve uma acção importante nesse comércio ilegal. Em 1520 o monarca português recomendava à Fazenda Real na ilha o maior cuidado no envio ao reino de mercadoria da nau de D. Diogo de Lima, que aportara ao Funchal com mercadorias da Índia (69); e em 1581, Filipe I de Portugal solicitava o maior zelo e ligeireza na descarga de uma nau que aí chegara com ouro, prata e mercadorias das Índias COlo Em face destas eventualidades, Filipe I proibiu terminantemente qualquer aportagem e descarga das naus oriundas das Índias no porto do Funchal, mandando proceder contra os transgressores; segundo diz, era usual «alguns navios, caravelas cabreas, urcas e patachos derrotados e em outra maneira, de alguns puertos e partes de las Índias deI Mar Oceano com oro, plata, mercadorias y todas cosas contra las ordenanças de la dita casa de la contratación da ciudad de Sevilha" (71). As figações entre a Madeira e o litoral americano incentivaram-se, após a quebra de produção açucareira, com o crescimento do comércio do vinho madeirense; um e outro produto estão, de resto, ligados. A falta de açúcar no mercado madeirense e a sua incessante procura levou os mercadores, ligados ao seu tráfico nesta praça, a especular com o açúcar brasileiro, fazendo-o passar como da Madeira; em 1596, por exemplo, João Gomes de Castro, fidalgo, e António Francisco, mercador, fretam um navio para transportar do Brasil quinhentas arrobas de açúcar a fim de ser baldeado numa nau francesa de Gran Canaria com destino a Sevilha ou San Lúcar(72). (66) Idem, Canárias y América . .. , 37-38; A. Cioranescu, ob. cit.. II, 42-43. (67) Manuel Lobo Cabrera, .Gran Cànaria y Índias ... », 130-131; A. Cioranescu, ob. cit., 59; Francisco
Morales Padrón, .Canarias en los cronistas de Índias», in A.E.A., n.O lO, 1964, 222-225. (68) Eufemio Lorenzo Sanz, ob. cit., voI. II, 27; Artur Teodoro de Matos, Os Açores e a carreira das Índias no século XVI, Lisboa, 1983 (sep.); Helder de Sousa Lima, ob. cit., 241,264 Antonia Heredia Herrera, Catálogo de las consultas dei Consejo de Indias, vol I, 169. Em 1578 o provedor das armadas mandara proceder contra a nau de Pantaleão Saavedra Domingos (B.P.A.P.D., Fundo Ernesto do Cantd, .Extractos de Documentos Michaelenses., vol. VIII, n.o 219, 19 de Junho de 1578). (69) A.N.T.T., c.e., II-89-137, 26 de Abril de 1520. ('0) A.R.M., D.A., cxa. II, 215, Sintra, 3 de Outubro de 1581; V. Fernandes Asis, Epistolario de Filipe Madrid, 1943, p. 223, n.o 1114, Lisboa, 13 de Janeiro de 1582. (71) Idem, C.M.F., registo geral, t. I, fi. 216, referenciado por Jael Serrão, "Holandeses e ingleses em portos de Portugal no domínio filipino •• , in D.A.H.M., n.o 3, 1950. 9-13. ('2) José Gonçalves Salvador, Cristãos novos e o comércio no Atlântico meridional, S. Paulo, 1978, 253-257.
m,
156
Conhecido esse comércio fraudulento o monarca exarou a sua proibição em 1591 (73). No entanto os mercadores naturais ol,l estantes na ilha teimavam em manter esse comércio especulativo com o açúcar brasileiro, pelo que os vereadores e procurador do concelho reclamam junto da coroa, referindo o prejuízo causado por essa prática aos lavradores de açúcar e à Fazenda Real (4); em resposta, Filipe I dá força à provisão de 1591, ordenando «que nenhum navjo que vier asuquares ou quoaisquer outras fazemdas das partes do Brazil. .. não possa descarregar em outro aUgum senão nos portos deste rejno omde presentarão certidam dos portos domde partirem ... não possam yr descarregar aos portos da dita ilha da Madeira ... " (5).
(3) A.R.M., C.M.F.,.registo gera!., t. III, fi. 44 v.o, carta régia sobre a descarga de açucar do Brasil. (4) A.R.M., D.A., cxa. IV, 504, vereação de 17 de Outubro de 1596. (5) lbidem, t. III, fls. 12 v.o-14 v.o, Lisboa, 3 de Dezembro de 1598, petição da camara do Funchal sobre o
açúcar do Brasi!.
157
PÀ
CONCLUSÃO
PÀ
Nesta análise comparativa dos três arquipélagos atlânticos (Canárias, Madeira e Açores) evidenciamos a similitude do processo de desenvolvimento sócio-económico, diferenciado apenas nas assimetrias naturais e na diversa política das coroas peninsulares. Tal circunstancialismo salientou-se como um mecanismo propiciador de uma constante aproximação destas dezoito ilhas, sendo concordante com o epíteto comum de Mediterrâneo Atlântico. criado e consagrado pela historiografia ocidental. Este Novo Mundo insular, colocado às portas do Atlântico Sul, não foi apenas ponto de lançamento para a afirmação da hegemonia peninsular no Atlântico. Mais do que isso, evidencia-se nestes dois séculos como uma área adequada às necessidades e solicitações da nova economia de mercado. As palpitações do ilhéu surgem nesse rumo, que traçou uma selecção criteriosa dos produtos e técnicas. As coroas e as gentes peninsulares intervêm constantemente neste mercado, que criaram e lançaram nas praças europeias. À permanente e sempre actuante comunidade peninsular associam-se desde o início os elementos mais proeminentes do tráfico internacional nórdico e mediterrânico. Na Madeira e nas Canárias as colónias italiana e flamenga, esquecem os conflitos religiosos e unem-se em prol de uma causa comum: o comércio. Italianos e flamengos aparecem nesses arquipélagos atraídos pelo comércio do açúcar, tal como os ingleses aparecem nos Açores impelidos pelo trato do pastel. As rotas de ligação do mundo insular às suas origens europeias foram, sem dúvida, as mais importantes do comércio externo das ilhas nos séculos XV e XVI. A sua manutenção e intensificação resultaram da existência de produtos e mercados adequados às troCas europeias. Ao europeu ~s ilhas surgem, como um novo mercado capaz de suprir as suas necessidades ou solicitações e, ao mesmo tempo, de consumir os seus artefactos. A situação salienta-se pela troca desigual, em muito favorável ao europeu, e pela excessiva dependência do mercado insular ao Velho Mundo. O desmesurado peso da acção europeia, africana e americana condicionou uma acentuada desvalorização das não menos importantes formas de contacto e comércio no mercado insular. As trocas e relaçõesinter-insulares, porque fora desse âmbito tradic~onal ou pela sua propalada pouca importância, não mereciam aí qualquer referência de relevo. No entanto, como tivemos oportunidade de afirmar, essas conexões insulares marcaram profundamente a vivência da sociedade e da economia insulares. A vizinhança, as facilidades, aliadas à complementaridade e similar nível ,de desenvolvimento do processo sócio-económico dos três arquipélagos, sedimentaram uma rede de inter-relações; nela a Madeira, mercê da sua posição charneira entre os dois arquipélagos do extremo ocidental e oriental, deteve uma acção importantíssima, sendo um elo significativo para a manutenção desses contactos. 161 21
o Novo Mundo atlântico dominado pelo litoral americano, surge para os insulares mais como o sonho do que como uma realidade; ou, se quisermos: uma esperança, cuja concretização é travada pela hegemonia e monopólio das principais praças peninsulares. E a sua realização, quando surge, não é uniforme nos três arquipélagos, antes se afirma de modo desigual, de acordo com o posicionamento de cada grupo de ilhas no traçado das rotas transatlânticas. Alguns dos objectivos, inicialmente definidos, não puderam ter neste livro desenvolvimento, em consequência da falta de documentação disponível para o período em estudo. Assim, por exemplo, a análise do comércio inter-insular, que pela pouca informação existente já se mostra como importante na economia insular, não mereceu o ambicionado desenvolvimento por falta de seriações exaustivas de documentação nos três arquipélagos. Por outro lado essas lacunas impossibilitaram-nos de proceder a uma indagação alargada da componente social; apenas nos foi possível fazer uma quantificação aproximada dos principais grupos de agentes e das comunidades locais ou forasteiras que os formam. Esperamos que as maiores disponibilidades documentais do século XVII nos permitam, num futuro muito próximo, colmatar essas lacunas e aprofundar os domínios aqui abordados.
162
ANEXO
QUADROS
ABREVIATURAS E SIGLAS
C. Novo Est.
Cristão Novo Estante
R.
Rua
V.o
Vizinho Óbito
(+)
164
QUADRO N.o I
MERCADORES NA MADEIRA SÉCULOS xv A Mercador João de Abrantes Brás de Abreu Manuel Abreu Francisco Acciaiuoli Simão Acciaiuoli Zenófio Acciaiuoli José Adorno Paulo Dias Adorno Gabriel Affaitati João Francisco Affaitati Francisco Afonseca
Data
António Afonso Caires Afonso Dinis Afonso Domingos Afonso Francisco Afonso Gonçalo Afonso João Afonso Correia João Afonso do Estreito Manuel Afonso Mateus Afonso Nuno Afonso Pedro Afonso Pedro Afonso Pedro Afonso Rodrigo Afonso Sebastião Afonso Tomé Afonso Tristiio Afonso Vicente Afonso João de Agusta Gonçalo Aires Gonçalo Aires Pedro Lopes Albuquerque Anrique Alfardin João Agno Afonso Almeida Afonso Álvares António Álvares António Álvares Pupa Belchior Álvares Cristóvão Álvares Diogo Álvares Diogo. Álvares, o moço F~mão Álvares Fernão Álvares Fernão Álvares Francisco Álvares Francisco Álvares Gaspar ÁI,vares de Pupa Gonçalo Alvares Gregório Álvares João Álvares
1517 1551(+) 1697 -1596 1509-1544(+} 1580 1528-1567('1) 1528-1567 1509 1502-1529 1599 1509-1566 1511-1524 1517-1597 1550 1558(+} 1552-1607 1526-1591 (+) 1509-1553 1419-1490 1494-1558 1491-1571 1517 1524-1544 1530-1569 1566 1563-1583 1483-1517 1580-1599 1522 1517-1539 1569-1591 1508-1510 1494-1513 1483-1494 1569 1595-1606 1558 1595 1509-1544 1588-1596 1556-1599(+) 1599 1521·1547 1509-1565(+ ) 1563-1582 1482-1544{+) 1555-1566 1570-1594 1494-1526(+} 1530-1553 1560 1509-1558 1519·1530 1489-1560
Lourenço Álvares Luís Álvares Luís Álvares Mateus Álvares Nuno Álvares Pedro Álvares de Trnuto
1555(+} 1517 1591 1593-1596 1500-1537 1470-1531
Pedro ÁI~llres d 'Almada Rodrigo Alvares Salvador Álvares 5 imiio Álvares Tomé Álvares Domingos Alves Gaspar Amado Benoco Am:atori Diogo de Amorim Manuel Andrade Baltasar André João André Jorge Andrefiz Afonso Anes
1511-1590 1494-1552 1554-1594 1570-1596 1564 1552(+} 1596-1597 1503-1517(+} 1561 1597 1551 1517-1524 1509-1513 1513 1494-1564
Álvaro Anes António Anes António Anes, o Pllpa Brás Anes Fernão Anes
1494-1537 1494-1538( +) 1523-1559 1508 1481-1545
André Afonso Antão Afonso
Anequim
Proveniência
XVI
Morada
Observações
Funchal Florença
FlorelJca Aorença Génova Génova Cremonês
Castela
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchàl Funchal Lisboa Funchal Funchal Funchal Calheta Funchal Funchal Funchal Funchal FunChal Funchal Calheta-Funchal Funchal
Filho de Simão Almoxarire, Rua Direita Filho de Simão Fixa-se no Brasil antes 1567 Fixa-se no Brasil antes 1567 Esl. Com feitores na ilha Rua Direita
Poço Novo Rua Sabão e Rua DireiLa Rua 'das Pretas Vereador Homem Bom
Ribeira Brava(1)
P. Delgada-S. Miguel Ponte Lima
Alemanha
Porto Aandres
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Ribeira Brava Funchal Fuachal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Santa Cruz Funchal Funchal Funcha.l
Olivença
Funchiu Funchal
Ribei ra Brava
Funchal
Guimarães Guimarães Ponte Lima
Funchal Funchal Funchal Funchal
Graciosa Flandres
Funchal Ribeira Brava Santa Cruz Funchal Funchal Funchal
Rua Miguel Lopo Esl. V." V, o, Hom-em Bom, proprietário
Cristão Novo Procurador e agente V,o sapateiro I
V,o, escrivâo
Rua João Esmeraldo Almoxarife de Machi-co V, o. Ribeirinho Escrivão quintos CP. Sol) Rua Mercadores, rendeiro do vinho
Proprietário. escrivão -e recebedor Cristão Novo V.o Contador e provedor Fazenda
Funchal
Lagos
porto Florença
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal San1a Cruz Funchal Funchal
V.o V, o, Porteiro de AlfânçJega Rendeiro direitos do açúcar Homem Bom, alcaide do mar (Machico) Proprietário Est.
V.G, Cristão Novo
Rua Direita, Homem Bom, Vereador Rua Ferreiros, proprietário, Homem Bom, Juiz da Câmara Homem Bom, proprietário V.O
Arrendatário, pf(}curador
Funchal Alemanha Génova
Funchal Calhela Calheta Funchal
Vianês
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Carreira' dos cavalos, Homem Bom, escrivão. proprietário Proprietário Homem Bom Homem Bom, proprietário
165
Mercador Francisco Anes Francisco Anes Gaspar An~s Gonçalo Anes João Anes Jo-ão Afies Joane Ane!i João Anes Lopo Anes Pedro Anes Pedro Anes Pedro Anes Pedro Afies Pedro ADes Rodrigo Anes Martim Anes Boa Viagem Pedro Ango Bartolomeu Annques Mestre António Pedro António Viviam António António Antunes António d'Aragão Henrique de Aragão Inácio Aranha António AralÍjo Francisco Reis Araujo Gonçalo Reis Araujo
Manuel Afonso Araújo Palius de Araújo Rodrigo de Araújo Archelem Gonçalo Are. Pedro de Aveiro
Manuel d'Ávila André de Azevedo Lançarore d'Azevedo Lopo d'Azevedo João Azuardo
Simão Azuardo Pedro de Ayala Pedro Vaz Baça Menchude de Balo Pero dos Banhos João Gonçalves Barros
Alonso de Barredo Gaspar Lopes de Barros Gonçalo de Barros Gonçalo Barroco Gravill Barros Manuel Gomes Barros
João Basco Martim de Bellocus João Beberage Garcês Beberage Diogo Nunes Belmonte João Belio Zelym Benoquo Manuel Anrique Bernaldes Marim. Bene Duarte Betancar Simão (7) Berancor lanim Bicudo
Jorge Lopes Bixorda Ambrosio Bocarra Jorge Bocarra Manuel Bocorro Cristóvão Bocolho António Boffy Estevão Boguo Leonardo Bondinar
Pedro Borges Pedro Botelho António Boro João- Bragança Guilherme Branco Arim Branco
Francisco Brás João Brás Vicente Brás Bemaldo Biresten
Antônio de Brito Bano Broncone Francisca Broncone Guilherme de Brum Estevão de Bueca Álvaro Coção Vicente Caçiio Pedro Caires
166
Proveniência
Data 11523-1527(+) 1580 1530-1565 1494-1576(+) 1494-1579 1573 -1544(+) 1560 1518-1523 1494-1552( +) 1553 1558-1571(+) 15581565(+) 1490-1554 1470-1486 1549 1547-1583(+) 1509 1596 1530 1567-1571 1511-1518 1599 1574 1591 1536-1592 -1613 1534 1556 1530 1570 1485 1591 1570 1560 1519-1527 1524 1593-1596 1527-1528 1555(+) 1534 1509 1583 1517 1590-1591 1573-1597 1511-1576 1524 1581-1582 1557 1530 1595-1596 1596 1599 1490 1505 1593 1530-1566 1599 1596 1505-1529 1524-1532 1572 1531-1539 1530-1590 1508-1510 1520 1509 1509-1517 1599 1472-1492 1527 1570-1580(+ ) 1574-1576 1530 1576 1564 151l 1594-1596 1530-1560 1502-1508 1512 1517 1509 1524-1584 1561 1508-1564
Flandres Terceiro Graciosa Ponte de Lima Vila de Canavezes Barcelos
França
Bret.anha
Porto
França
Flandres Castela
Ponte Lima
Morada Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Calheta Funchal Funchal Funchal
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal CalhelJl CalhelJl Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funohal Funohal Funohal Lisboa Funchal Calhera Calheta Funchal Ribeira Brava Funchal Funchal Funchal Funchal
França Alemanha Alemanha
Flandres. Flandres.
Cremonês Maiorca Cremonês
Fran~"a
França Portugal Flandres Cremonês Cremonês Flandres
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Fuochal Funchal Funchal CalhelJl Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Ribeira Brava CalhelJl Funchal Funchal Funchal
Observações
Proprietúrio Homem Bom, Rua Direira Rua St. a Maria. proprietário Esl.
Esl. Proprietário EsT.
Proprietârio Rua MalOso
1618 em São Salvador-Brasil Rua Direita. Vereador
Procurador João Valdevesso
Procurador
Esl.
Procurador
Est. Juiz de Alfandega Criado de João Odom
E,1. Rua Direita Procurador E,1.
Homem Bom
Mercador Ateixo de Caldeira Estevão Caldeira João Gonçalves Caldeira João Catvino Francisco Calvo Gennão Calvo Jusé Camacho
Pedro Camacho Calisto Camelo Cosmo Camelo Francisco Camelo Gonçalo Cosmo Capella de Capellani João Caos
Anlónio Cafaçam Anlónio Caradas Pedro Carneiro João CarvrJlho Manuel Carvalho Mateus Caos Cristóvão de Cardenes Fruncisco Cardoso João Cardoso Gaspar Carneiro Pedro Carneiro Francisco Caro Luís CrJro Jorge Curns Francisco Carreira João de Castilho
Femão de Castro Diogo Carvalho Mnrtim Carvalho
Pedro Gonçalves Carvalho Diogo Fernandes Castanheira João dc Castel Pcdro Lopes de Ca'tela Bnís de Castro
Francisco de Castro Lourenço Castanho Quírio Castanho Rafael Castanho Francisco Fcmandes de Cca Scbaslião Centurião Francisco de Cerveira Lucas César João Antônio Cesare Rodrigo Chanceler Cristóvão Chaves Lourenço Classe Diogo Codcssa João Cogüo
Crist6vão Colombo NiculaLJ Contrim João Copians João Coquet ESlcváo CordoyjJ Henrique Comunlha António Corre a Chorles Correo
Francisco Corren Gonçalo COrrtl:il João Correa Simão Correl! Dam ião Cosme t).gostinho da Cosla
Alvaro da Costa Gaspar da Cosia João da Cosia Lançarole du Costa Luis Fernandes Coutinho António Coyros
Data 1573·1582(+) 1599·1563 1504·1517 1509 1471·1509 1573 1596 1571-1589 1573·1592( +) 1598·1611 1528·1534 1529 1509·1530 1580-1637 1517 1509-1526 1537 1511-1517 1517·1596 1592·1594 1543·1545(+) 1564 1562 1547·1552(+) 1537-1564 1554-1598(+ ) 1552 1591-1596(+) 1555 1509 1597 1565 1591 1590·1594 1581-1600 1589 1591-1593 1571-1592 1557·1590 1500 1500·1504 1500-1537 1591 1554 1551 1480 1564 1566 1592-1594 1571-1583 158g 1478 150g 15g4-1596( +) 1513-1517 1596 1530 1509·1577 1509·1530 1568·1607 1575·1579(+) 1507·1567 1563 1565 1599 1552·159g 1509·1582
Afonso Di•• Álvaro Di.s
António Dias DallasrJr Dias Bastiam Dias Brás Dias Crislóvão Dias Diogo Dias
1542-1600 1536 1511-1574 1565 1502·1547(+) 1483·1554
Lourenço de Cras Don!cl
Francisco DansFadrique Dnns Rodrigo Dans V ilSCO Delgado
Coimbra
Génova Génova Guimarães
França França
França S. Jorge (Açores) Porto
Salamanca Flandres
Guimarães Madeiro Torres Novas
Génova Génova Génova Génova
Génova FI.odres
Itália Bruges
França Inglalerrn
Frdnça S. Miguel (Açores) Viana
Morada
Observações
Funchal Funchal Funchal Rua Direita Calheia FUllchal Funchal Esl.. Procurador de C.pellan; Funchal Funchal Fanchal Rua Poço Novo Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Ru. Direita e Tanoeiros Ribeira Brava Esc. Calhela' P. Sol. Est Ponta Sol Est Ribeira Brava ESL Funchal Funchal Funchal V." Funchal Funchal Es1. Funchal Est. Funchal Funchal Rua Mercadores Funchal Funchal FunchaJ CalhCla Funchal Funchal Est. Baia·Brasil Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal RClldeiro Alfândega Santa Cruz Proprielária, rendeiro miunças Funchal Rua Mercadores. C. Novo Funchal Funchal I'unchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Calhem Est. Funchal Calhela-Ribeira Urava Est. Funchal Machico ESI. Funchal V, o. Contador Funcho! Esc. V. o Lisboa Funchal Esl. Funchal Funchal Homem Bom, Vereador. Tesoureiro Funchal Funchal Funchal Funchal Vereador Funchal
159g 1559 1580 1509 1592 1599 1530 L482·1524 1596-1597 1595 1592 1483-1542 1494·1530
Francisco da Cruz
Proveniencia
Fmnça
Flandres França França Flandres Flandres
Flandres Porto
FI.ndres
Funchal Funchal CalhCla
Esr.
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Funchal
E,1.
Funchal Funchal
Rua Direha, Homem Bom, proprietário. recebedor Recebedor do Quinto
Ribeira Br.nv,1I
ESI.
Funchal Funchal Funchal
Porto
Funchal
Porteiro Alfandega
167
Mercador Diogo Dias
Francisco Dias Francisco Dias Gaspar Dias Giraldo Dias
Gonçalo Dias Hono Dias. Jácome Dias João Dias, o Braflco João Dias Jorge Dias
Pro\'eniência
Data 1572-1584 1511-1551(+) 1564-1623 1509-1552 1564-1566 1494-1574 1592 1524 1494-1553(+) 1511-1591 1509-1511
Guimarães
Morada
Obsenações
Santa Cruz
VO
Funchal Funchal
Rua Direita
Funchal Funchal Calheta~Funchal
Funchal
Funchal Viana Flandres
Funchal Funchal Funchal
Rua Direita, Proprietário
Funchal Funchal Funchal
Judeu
V.o
Rua Direita, Homem do alm. de Alfandega
Lopo Dias
Lucas Dias Manuel Dias Manuel Dias
Pedro Dias Pedro Dias Rodrigo Dias
Rodrigues Dias Rui Dias Salvador Dias
Simão Dias Vasco Dias Vicente Dias Nicolau Dizee Afonso Dinis António Dinis Bastiam Dinis Cristóvão Dinis Diogo Dinis
Fernão Dinis Francisco Dinis Gaspar Dinis Gonçalo Dinis João Dinis Lopo Dinis Rui Dinis Nicolau Dizee Diogo Dinis G9nçalo Domingos
Lopo Domingos Manuel Domingos Pedro Domingos Bastião Domingos João DoIera António Doria Giovanni Dori{ Luis Dona Bartolomeu Duarte Jerónimo Duarte Manuel Duarte Pedro Duram Mai Duque Gonçalo Duravia
Domingo Eanes Luis Eanes Luis Eanes Zendo Eanes Jorge Endorfor
João Guilhenne Emersen Joan Escelhe
Guilherme Escorces Aleixos Escorc:io Cristóvão Esmeralda João Esmeralda, o Velho João Esmeralda, o Filho Álvaro Esteves
Francisco Esteves Pedro Esteves Richard EstoquedalI João de Estrincam Gaspar d'Évora
Bach-João d'Évora António Gonçalves Fafe qaspar Fernandes Fafe Alvaro Fernandes Fagundes Jorge Fancide
João Faria Álvaro Fernandes Álvaro Fernandes Álvaro Fernandes André Fernandes Antón io Fernandes Artur Fem~ndes Baltasar Fernandes Bento Femanlks B rãs Fernandes
168
1515-1546 1568 1541-1558(+) 1558-1574 1494-1597 1509 1539 1556-1590 1510-1584 1583 1552 1510 1554 1513 1483-1536 1517 1541 1547(+) 1483-1578 1517 1517-1542 1550 1524-1550 1517-1572 1517 1552 1513 1552-1557 1552 1551-1559 1550 1565 1553 1509 1480 1480 1480-1530 1559 1566 1558 1517 1545 1590 1589 1470-1494 1585 1485 1507-1508 1597 1583(+) 1599 1573 1482-1555 1473-1533 (+) -1537 1469-1590(7) 1524-1590(+) 1498-1509 1513 1582-1594 1550 1509-1566 1582 1570(+) 1557 1592 1589-1625 1494-1520(+) 1531 1576-1577(+) 1509-1569 1509-1599 1539 1509-1593 1553-1564 1526-1551(+)
Braga Galiza
Funchal Funchal Calheta Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
R. Baluarte Esl. R. Diogo de Medeiros
Funchal França Porto
Funchal Calheta Funchal
Ribeira Brava "Ilhas de Baixo.. Pono
Funchal Funchal
Ribeira Brava Funchal Funchal Funchal Funchal
Ribeira Brava Funchal França Lamego
Gênova Génova Génova
Lisboa
França-
Calheta Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Calheta Funchal Funchal Funchal Funchal
Funchal Funchal Ribeira Brava Funchal Funchal Funchal Funchal
Esl.
Est. Est. Esl.
R. do Peixe Esc Est.
Est. Rendeiro miunças, proprietário Est. Est.
Vereador, proprietário
Funchal Funchal Alemanha
Funchal
Est.
Funchal Flandres Inglaterra Picardia Picardia Picardia
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Contador e Juiz das Alfandeg[\.o; Homem Bom, proprietário Homem Bom, Vereador
Funchal
Ponte Lima
Funchal Calheta Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
1596
Chaves
Terceira (Açores)
Funchal Funchal
Inglaterra Inglaterra
Guimarães Viana Escócia
Funchal Lisboa
Funchal Funchal Funchal Funchal
Est.
Est.
Proprietário, almoxarife Funchal Esl.
Escrivão Quintos (Calheta)
Mercador
Data
Brás Fernandes Brás Fernandes Brás Fernandes (Scrveira) Cristóvão Fernandes Cristóvão Fernandes Diogo Fernandes.
-1546(+) -1553(+ ) 1559-1586 1510-1526 1565 1494-1550
Diogo Fernandes Diogo Fernandes
1540-1578 1552-1566 1559-1595 1523-1579 -1583 1513-1519 15051509-1552(+) 1557-1559 1562-1593 1592-1593 1561-1623 1509-1594(+} -1597 14821509-1584 1584-1640 1552-1556 1571-1593 1510-1599 1400-1598 1509-1550 1537-1565 1509-1595(+) -1597 1537-1620 1593-1595 1537 1571 1482-1555 15821494-1537 1549-1555(+) 1555-1566 1571 1592(+) 1524-1552 1577-1582 1509·1524 1555-1598 1526-1544(+) 1552-1564 1494-1541
Diogo Fernandes (filho)
Domingos Fernandes Domingos Fernandes Duarte Fernandes Francisco Fernandes Francisco Fernandes Francisco Fernandes Francisco Fernandes Francisco Fernandes Francisco Fernandes Gaspar Fernandes Gaspar Fernandes Gil Fernandes Gonçalo Fernandes Gonçalo Fernandes Graviel Fernandes Guilhenne Fernandes Jerónimo Fernandes João Fernandes do Arco Jorge Fernandes Lopo Fernandes Luís Fernandes Luís Fernandes Manuel Fernandes
Marcos Fernandes Miguel Fernandes Nuno Fernandes Paulo Fernandes
Pedro Fernandes Pedro Fernandes Pedro Fernandes Rodrigo Fernandes Roque Fernandes Rui Fernandes Salvador Fernandes Bastiam Fernandes Bastiam Fernandes Simão Fernandes Simão Fernandes Vasco Fernandes Vicente Fernandes Bartolomeu Ferreira Brás de Ferreira Costa Ferreira João Ferreira Gomes Ferreira Luís Ferreira Pedro Ferreira Pedro Freire Afonso Fidalgo Afonso Fidalgo
Antônio Mendes Fidalgo Rodrigo Fidalgo
Bento Figueira Manuel Filipe
João de Florença Bartolomeu Florentino J\.ndré FoqueI
Alvaro França Pedro de Fl1U1ça
Fernando Francisco André Franco Ambrôsio de Freitas António de Freitas Fernão de Freitas João Freitas João Frol Pedro Gante Gonçalo Garcia João Garcia João Garcia Pedro Garcia António Garses Luís Gastão Diogo Gavião Gaspar Genlil
João Batista Gentil Gonçalo Gentil
1557-1617 1582 1560 1560 1517-1548 1541-1545 1597 1596-1625 1593 1539-1553(+) 1588-1591 1567-1582 1553·1569 1590 1564-1576 1454-1521 1498 1530 1517 1517 1585(+) -1573 1588 1526 1554 1510-1530 1509 1509 1496 1542H576( +) 1580-1594 1592 1589 1555 1562 1524 1517 1511-1592(+)
Provenienda Lisboa
Morada
Funchal FunchaJ
Observações Est.
Funchal
Castela TaviraFunchal
Funchal
S. Miguel (Açores)
Funchal
FunchaJ
Ponte Lima Ponn Guimarães Guimarães Ponle Lima Algarve S. Miguel (Açores)
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Proprietário, feilor alfândega escrivão dos qlJimOSi
R. João Ta\leira Rendeiro Est.
Funchal Funchal
Est.
Funchal Funchal
Esl.
Funchal Funchal Funchal
Cristão Novo
Funchal
Ponte Lima
Funchal
Proprietário
Funchal
Funchal Flandres
Funchal Funchal Funchal
Viana
Funchal
Homem Bom, Juiz, proprictário Recebedor do almoxarifado, a.rrendatãrio
Ponta du Sol
Est.
Algarve
Funchal Funchal
Funchal Funchal Funchal Funchal
Funchal. Vila Real
Lbhoa Terceira
Ponta Sol Funchal Funchal Funchal Funchal
Homem do almoxarifado, proprietário V.o
Funchal
Homem Bom
Funchal
EsI.
Funchal St a Cruz/Funchal Funchal Funchal Funchal
Funchal
Tabelião, Homem Bom. recebedor. proprielário R. João Gago, proprietârio
Funchal
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Funchal Funchal Fun
R. Mercadores
Funchal Funchal Funchal
Funchal Florer.ça
Funchal Funchal
Fl1U1ça França
Funchal
Homem Bom, proprietârio
Funchal França
Ribeira Brava . Ribeira Brava
Est.
Est.
Funchal Funchal
1nglatena
Flandres
Brasil Funehal Ponta de Sol Funchal
Esl.
Santa Cruz
Proprietário, recebedOt'
Calheta Calheta Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Esl. Est.
Santa Cruz Ribeira Brava
Esl. Est.
Funchal
169 22
Mercador
Data
Lugnote Gentil Pallus Gil Vicente Gil João de Góis André Golias Garcia Golias Álvaro Gomes António Gomes Bartolomeu Gomes Ca.'itilho Gomes Diogo Gomes Fernão Gomes da Mina Froctuoso Gomes Gaspar Gomes Gonçalo Gomes Gregório Gomes João Gomes Manuel Gomes Mateus Gomes Pedro Gomes Pedro Gomes Simão Gomes António Gonçalo João Fernandes Gondim Gaspar Fernandes Gondim ~fonso Gonçalves Alvaro Gonçalves Amador Gonçalves André Gonçalves Antõnio Gonçalves Baltasar Fernandes
1524 1534-1536 1471-1474 1526-15R9 1559-1562 1562 1517·1556 1537 1553 1596 1556 1477-1494 1596-1597 1596 1517-1555 1554-1555 1472-1501 1548 1596 1494-1592( +) 1596-1620 1564-1596 1561 15R7-1596 1596 1488-1568 1509-1556 1546·1592 1494-1595 1497-1597 1489-1596
Bartolomeu Gonçalves Belchior Gonçalves Brás Gonçalves Cosme Gonçalves Cristóvão Gonçalves Custódio Gonçalves Custódio Gonçalves Diogo Gonçalves Domingos Gonçalves Estevão Gonçalves Fernão Gonçalves Francisco Gonçalves Francisco Gonçalves Fructuoso GonçalveJ Gaspar Gonçalves Gaspar Gonçalves Gaspar Gonçalves Gonçalo Gonçal~es Gonçalo Gonçalves Gravill Gonçalves Jácome Gonçalves Jaane Gonçalves João Gonçalves
1554-1580 1502·1595 1544 1560 1552-1554 1527(+) 1584-1618 1517-1567(+) 1595 1530-1553 1509·1586 1517-1637 1556-1637 1561-1595 1494-1555 1558-1620 1579 1509-1551(+) 1552-1606 1517-1579 1553-1562 1509-1569 1494-1551
João Gonçalves João Gonçalves Jorge Gonç&lves Luís Gonçalves Manuel Gonçalves Manuel Gonçalves Manuel Gonçalves Martim Gonçalves Pedro Gonçalves Pedro Gonçalves Pedro Gonçalves Rui Gonçalves Sebastião Gonçalves
1552-1611 1565-1611 1509'1586 1571-1611 1517-1550(+1 1554-1570 1584-1628 1509-1608 1482-1531 1580-1611 1580-1611 1472-1544 1513·1533
Gouveia Guimarães
Sebastião Gonçalves Simão Gonçalves Tomé Gonçalves Vicente Gonçalves Gaspar Fernandes Gondim GOnçalo Fernandes· Gondim João Fernandes Gondim João GOle António Gouveia Benlo arall João Granja Gregório Cario Grillo Lucano Grillo Francisco Guerreiro Guilherme João Guilherme Diogo de Hanaa
1539·1557 1496-1597 1494-1551 1494-1581 (+) 1596 1596 1587-1596 1509 1524-1577 1597 1553 1509 1512 1506 1536-1557 1509-1530 1597 1509
Sinfões
170
Graciosa
Guimarâe'i S. Julião de Barra
Ponte Lima Vila do Conde
Vila Real Guimarães Algarve
Inglaterra
Alemanha Génova
França Flandres
Observações
Morada
Proveniência
Santa Cruz Calheta.R, II Brava Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Carriço Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Santa Cruz Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Calheta Santa Cruz Funchal Funchal Calheta Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Calheta
E>t.
EsL Proprietário
Homem Bom, proprietário Homem Bom, proprietário
Homem Bom. proprietário R. Poço Novo, proprietário Homem Bom, R. Santa Maria Homem Bom, Vereador, Homem do almoxarifado. proprietário
Homem Bom
R. Direita, recebedor R. do Calojo Esc, Homem do almoxarifado Proprietáriu, Homem Bom
ESI.
Proprietário, escrivão dos quintns, comador, rendeiro Proprietário
R. Mercadores C. Novo R. Direita Proprietário, Homem Bom, rendeiro R. Carreira, escrivão dos quintos S. Bartolomeu Pereira Vereador, escrivão quartos, proprietário Rendeiro miunças, Homem do almoxa· rifado, feitor
Proprietário Proprietário Proprietário
Est.
E!it.
Esl.
Mercador
Data
Hans Henrique Jácome Holzbock Belchior Imperial João Jácome
1512 1530 1508 1512-1534 1488-1556
Manuel Jácornc Diogo Jacques Rafael Jacques Manuel Vieira Jardim Pity Joan Franciscu Jodão Álvaro Jorge António Jorge Francisco Jorge Manuel Jorge Martim Jorge Pedro Jorge Pedro Justinham Nicolosso Justinhom Simão Juslinhom Feducho de Lamarote Pedro de Lllmarote João de Lanoy Francisco Lape Jerónimo Larqua Antônio da Costa Lavado João Ledo João Legreyn António Leonardo Fernandes Leone Guilherme Leinarte Micer Liam Cristóvão Liam Guilherme de Liam Es tevão de Lião Francisco Lido Martim Leme Francisco de Lima Sebastião de Lima Fernão Lopes Lobo João Afonso de Lomba João Lombarda Anchino Lomelino Baptista Lomelino Francisco Lomelino João Batista Lomelino Leonardo Lomelino Marco Lomelino Sisto Lomelino Urbano Lomelino Urbano Lomelino Afonso Lopes ~ Ivaro Lopes AIV~trO Lopes Anrique Lopes António Lopes Baltasar Lopes Bastião Lopes Belchior Lopes Cristóvão Lopes Damião Lopes Diogo Lopes Diogo Lopes Diogo Lopes Domingos Lopes Duarte Lopes Estevão Lopes Fernão Lopes Fernão Lopes Francisco Lopes Gaspar Lopes Homem Gil Lopcs Gomes Lopes Gonçalo Lopes Gravil Lopes João Lopes João Lopes Luís Lopes Luís Lopes Manuel Lopes Marcos Lopes Mateus Lopes Miguel Lopes Pedro Lopes Pedro Lopes Rui Lopes Simão Lopes
1575-1590 1589 1591-1595 1597 1509 1594-1611 1574 1597 1571-1573 1539-1573 1574 1512-1596 1509 1512-1513 1513 1504-1517 1520-1523 1594 1524 1517 1595 1509-1526 1585-1586 1508-1510 1470 1584-1594(+) 1472 1554-1566 1511 1573 1509-1513 1480-1483 1553-1626 1575 1581 1546-1548 1500-1526 1513 1470-1483 1566 1476-1513 1496 1512 1496 1476-1518(+) 1582 1591 1509·1551(+) 1553-1597 1550 1524-1597 1517-1562 1552-1626 1597 1526-1566(+) 1564 1494-1522(+) 1533-1554(+) 1558-1595 1571 1565 1553 1494-1596 1509 1523-1591 1560-1592 1551-1552 1551(+) 1509-1596 1517-1524 1494-1551 1556-1581 1544.1552 1552-1581 1549·1609 1479-1526 (+) 1560 1539-1553 1482-1546( +) 1524-1592 1544-1546 1494-1524
ProvenIência Alemanha
França Alemanha Genovês
Flandres Inglaterra França
Génova Génova Florença Florença Flandres Florença Génova
Flandres Flandres
Morada FunchaJ Machico Funchal Calhela Funchal
Funchal Funchal Caniço Funchal Calhcla Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Calhela Calhela Calhela Funchal
Funchal Funchal Funchal Ribeira Brava Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Flandres
França Flandres
Itália Génova Génova Génovll Génova Génova Génova Génova
Covilhã
Vila Real!?)
Castelhano Chaves Tavira
Vila Real
Funchal Funchal Faial Funchal Funchal Calheta Funchal Funchal Funchlli Funchal Funchal Ponta Sol Funchal Santa Cruz Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Santa Cruz Santa Cruz Funchal
Castela Vila Rcal
Castela
Proc urador de Lucas Pern Esl. R. Poço, Juíz, Proprietário, Homem Bom R. Esmeralda Est.
Esl. Esl. Esl. Rendeiro
Est. Proprietário Feitor de Otovoguel, Alemão Feitor Proprietârio Feitor R. Direita
Esl.
Proprietário, rendeiro
Proprietário
Funchal
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchol Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Ponte Lima
Covilhã Ponte Lima
Observações
Escrivão de nlmotaçarill e a1caidariB
R. João Tavira Proprietârio, porteiro
R. da Ponte Esl.
Homem Bom, proprietário Est. Crislào Novo
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Santa Cruz Funchal Funchal
Es!. R. Direita, proprietário, Homem Bom
Escrivão contos, proprietãrio R. N.a Sr. a Calhau, escrivão, alfândega E,1. Proprietário
171
MerC'ador
Morada
Proveniência
Oala
Obseryações
------Simão Lopes Tomás Lopes Tomé Lopes Francisco LQureiro Fernão Lourenço Francisco Lourenço Gomes Lourenço João Lourenço ~edro Lourenço Alvarc de luco Âlvaro Luis Anrique luís António Luí5 Custôdio Luis Diogo Luís Fernam Luís Fmncisco Luis Jo5.o Luís
1589 1559-1571 1566-1569 1554 1526-1568(+) 1530 151 I 1486- 1558 1461-1513 1517 1486-1536 1538 1534-1541 1561-1579 1517-1590 1469 1563-1575 1485-1553
Pedro Luís
1482-1583 1541 1557 1595 1565-1583(+) 1597 1583 1596 1535 1590 Séc. XVI 1597 1593 1531 1517-1520 1597 1596 1523-1581(+) 1534-1536 1498-1508 1588-1595 1535 1535 1524-1530 1589 1530 1509 1509-1554 1494-1596 1536-1570 1558 1494- 1574 1472-1563 1509-1596 1550-1552 1489·1494 1485-1538( +) 1509 -1539(+) -1575 1554.1581(+) 1550-1542 1559-1572 1558 1524 1530 1523 1591 1530-1534 1530 1509·1513 1511-1582(+) t576-1594(+) 1560 1566-1571 1580-1594 1552-1580( +) 1536-1560 1539-1560 1552 15601494-1576
Diogo de Lymosora Simão de Liscana Diogo Rabello Machado
Francisco Machado Paulo Machado
Fernão Magalhães Francisco Reis Magalhães Gastão dc Magalhães
Pedro Marim Magalhães João Gonçalves Melacarne Domingos de Maia Maximilano Mais Antônio Dias Malheiro Matias Manardi Gaspar Manuel Cosmo Maguel Diogo de Marchena Gonçolo de Marchena
Bartolomeu Marchioni Pedro Gonçalves Marino João Baptista de Marim Tobias de Marim Pedro de Mame Martim Manei
Martim Francês Martinho
Afonso rnanins ÁI varo Manins
Anrónio Manins Bastião Marfins
Diogo Martins Fernão Martins Francisco Martins Gaspar Martins Gomes Martins
João Martins João Martins João Martins
João Martins Jorge Martins
Manuel Martins Pedro Martins Salvador Martins Valéria Máximo Bemardim de Medina Diogo de Medina
Francisco de Medina Álvaro Meireles Jorge de Meireles lama de Melgar
António Mendes António Mendes
Ba.'iliã.o Mendes Cristóvão Mendes Diogo Mendes Parede Estevão Mendes Fernão Mendes Francisco Mendes Gaspar Mendes
Gonçalo Mendes João Mendes lorge Mendes Luís Mendes Manuel Mendes
Rui Mendes Tacon Luís de Mercado Pedro de Meza
172
1538-1562( +) 1494-1568( +) 1536-1546 1486-1530 1593 1596
S. Miguel Machico
Funchal
Est.
Funchal Funchal Funchal
R.
Funchal Funchal Funchal
se'
Maria
Funchal
R. Direita, Vereador Homem Bom, proprietário Homem Bom
Ribeira Brava
E,1.
Funchal Funchal
Faial (Açores)
Funchal Funchal Funchal
Funchal
Juiz de alfândega
Funchal
Funchal Funchal
R. Direha, Homem Bom, Vereador, proprietário, estimador
Funchal Funchal
Funchal FunetlaJ Guimarães
Flandres Flandres
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Provedor e feitor J.F. Affaitati
Funchal Lisboa
Funchal Funchal
Calheta-R. a Brava Florença
Funchal Funchal
Génova Génova Romano
Santa Cruz
França
Flandres
Est.
Funchal Funchal
Funchal Funchal Calheta Funchal Funchal Funchal
Funchal Funchal
Castela
Esl.
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Calheta Funchal Funchal
Est.
Proprietário Vendedor açúcar, proprietário
Homem Bom, proprietário Proprietário, escrivão E,1.
R. Poço Novo
Funchal Funchal S. Miguel
R. João Gago Funchal
Bengalia
Funchal Funchal
Funchal Funchal Funchal Funchal Calheta
Funchal Lisboa Sevilha
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Funchal Funchal Funchal
Funchal Funchal
Punchal
Ponte do Cidrão Est. R. Mercadores Proprietário Est. R. Poço Novo R. Direita Homem Bom. proprietário, recebedor, almoxarife Homem Bom, Poço Novo Homem Bom, proprietário
Mercador
Fernão ele Mezais ('?) Miguel João Minyxam Aymad Mirec António Moniz Gasp.ar Moniz Simão Moniz Belchior da Cosia Monteiro Bartol-omeu Moreira Diogo Moreira Benedito More II i António Morim Diogo de Morim Diogo de Morim Gonçalo de Morim Pedro de Mori m António de Mota Francisco de Motiloa João Fernandes da Mota Manuel Mot.a Francisco Narde Pedro Gonçalvcz Narvais António Nyro Gabriel de Nyro Manuel Rodrigues de Nyro António Rodrigues f\.'e!o João Neto Gonçalo Rodrigues Neto Manuel Rodrigues Pedro Rodrigues (filho) NicuJao Flamengo Niculao Frances Pedro Nobet Diogo de Nogueira Diogo de Nojoza Pedro Vaz Nosa(7) Belchior de Vila Nova Gaspar de Nova Francisco Navais Álvaro Nunes Antón io Nunes Bastiam Nunes Bartolomeu Nunes Diogo Nunes Fernão Nunes Ue Boa Viagem Gaspar Nunes João Nunes Jorge Nunes Manuel Nunes Niculao Nunes Simão Nunes Pedro Nuno Isaque Oberim André Ocana Marcos de Oliva Luís Olival Pereira O) Oliveira Oliveira Francês Fernão Dias Paes Gravill Paes Luís Paes Manuel Pac. Ballasar Pardo Fernão Pardo João Pardo Francisco Paim Manuel Rios Pedreira António Mendes Peixoto Pedro Lopes Peixoto Juan Pelenquim Diogo Gonçalves Penteado António Pereira Brás Pere ira Diogo Lopes Pereira Domingos Pereira Gonçalo Pereirn Sebastiiio Pereira Pedro Peres Ruberte Peres Álvaro Pimcnlel Afonso Pinto Diogl) Róis Pinto F. Rois Pinto Gaspar Pinto Luís Pinto Simão Pinlo Afonso Pires Álvaro Pires
Data 1597 1524-1530 1509 1592(+) 1536-1597 1540-1564(+1 1540-1544 1591 1573 1553-1560 1509-1510 1567-1569 1554-1561(+) 1576-1582 1531 1530-1591 1546-1558(+) 1536 1461-1511 1558 1509-1563{+) 1589 14 .. -1530 1524 1560-1561(+) 1583-1589 1482 1536 1561-1577 1550-1577(+) 1537 1517-1530 1509 1547 1550 1583 1533 1556 1555 1594-1617(+) 1509-1569 1561 1592-1595 1494-1556 1470-1472 1526·1605 1552-1563(+) 1517-1565 1591 1594 1530·1623 1552 1536 1482 1536-1560(+) 1597 1556 1530 -159. 1553-1564 1526-1583 1533-1572 1539-1577 1512 1530-1532 1536-157. 1595-1596 1576 1572·1573 1509 1564 1530-1586 1560 1585-1594 1596 1517-1556 1580 1552·1559 1595· 1509-1524 1530-1547(+) 1530 1571-1577 1560-1580(7) 1582·1584 1494-1573(+) 1494-1556
Provenlênda
França França França
Cabo Verde Florença
Ponte de Lima Ponte de Lima
Florença Géno....a Génova Génova
Flandres França França
Terceira
Porto Santo
Monda
Observações
Funchal Funchal Calheta
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Funchal Funchal Funchal Funchal Ribeira Brava Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Ribeira Brava Funchal Funchal Ponla do Sol R.a Brava-Funchal Calheta Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Esl.
R. Conceição Esl.
Esc
R. Nova
Est. Homem Bom R. São Sebastião
R. Mercadores Est. R. dos Netos Est. Esc Esl.
V." Esl. C. NO"/O
Proprietário
Viana
Prançn Abranles
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Ribeira Brava Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Proprietário R. Alfandega Cristão Novo R. Mercadores
No Brasil (fins séc. XVI)
Funchal Funchal Funchal
Burgos Burgos Burgos Viana
Braga
Escôcin
S. Miguel
Funchal Funchal Funchal Calheta Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchll.l Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Procurador
C. novo, feitor de alfandega. rendeiro C. Novo, N,a Sr. a Calhau
Proprietário, R. Frias Proprielário
173
Mercador António Pires Baltasar Pires Belchior Pires Brás Pires Cristóvão Pires Cristóvão Pires Cristóvão Pires Diogo Pires Domingos Pires Francisco Pires Gil Mendes Pires Giraldo Pires Gonçalo Pires Gonçalo Pires João Pires João Pires João Pires D'Angra Luís Pires Manuel Pires Marcos Pires Martim Pires Mateus Pires Mendes Pires Pedro Pires Rui Pires Sebastião Pires Simiio Pires Tristam Pires Baltasar Pila Gonçalo Pita Gonçalo Pita Joam Pontes Niculao Pontes Fernando de Puga Manuel de Puga Francisco Quaso Bastião de Quintal Marcos do Quintal Damião Rangel Mafeu Recel António Rabello Diogo Rabello António Gonçalves Ramalho Leo -Ravenspuger Lucas Rem João Rem Martim Regei Duarte Ribeir" Marcos Ribeiro Pedro Ribeiro Jaques Rimão Pero de Rocha TristãD de Rocha João Rode Afonso Rodrigues Amaro Rodrigues Ambrósio Rodrigues António Rodrigues António Rodrigues António Rodrigues Antônio Rodrigues Antônio Rois Trozilho Anrique Rodrigues Bllrtolomeu Rodrigues Bento Rodrigues Bento Rodrigues Cristóvão Rodrigues Diogo Rodrigues Diogo Rodrigues, O Velho Domingos Rodrigues Duarte Rodrigues Estevão Rodrigues Fernão Rodrigues Pernão Rodrigues Fernão Rodrigues Filipe Rodrigues Praneisco Rodrigues Fraacisco Rodrigues Fructuoso Rodrigues Gaspar Rodrigues Gaspar Rodrigues Gaspar Rodrigues Gonçaio Rodrigues Gu i1hermo Rodrigues Jaques Rodrigues Jaques Rodrigues Jerónimo Rodrigues Joiio Rodrigues Parada
174
Proveniênda
Data
1523-1583 1518-1590 1577 1558 1558-" 1560-? 1564-? 1523-1582 1517-1551(+) 1536 1569 1536-1551 1477-1545(+) 1557 1454-1508(?) 1512-1593 1530 1526-1543 1530-1564(+) 1545(+) 1558 1552-1576(+) 1557 1562 1494-1552 1553-1575(+) 1530-1572 1572 1558-1574 155115511556 1590 1582-1589 1582 1559-1572 1596 1597 1596 1509-1511 1544 1530-1611 1581 1509 1503-1509 1509 1583 1559-1562 1561 1510-1579 15991536 1560-1569 1540 1516-1571 1596 1536-1596 15401552 1559-1606 15691596-1597 1521-1546(+) 1530-1597 1552-1555(+) 1597 1557-1558 1484-1569 -16.. 1540-1599 1509-1594 1488-1545 1539-1550(+) 1556-1572 1566-1575 1558-1592 1509-1561 (+) 1571-1637 1564-1583 1494-1583 1555-1591 15831509-1562 1500(+) 1593-1596(+) 1597 1524 1485-151 I
Lishoa Guimarães Ponte Lima Faial (Madeira) Guimarães
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Funchal Funchal Ribeira Brava
Ponte Lima
Vila do Conde Angra(?) Vila do Conde
Caminha Viana Ponte Lima
Flandres Flandres
Alemanha Alemanha
Lisboa
Calheta Tavim S. Miguel Santa Maria
Ponte Lima
Flandres Porto S. Miguel Flandres Flandres
Lisboa
Observações
Morada
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Calheta Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Ribeira Brava Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Punchal Funchal Funchal Punchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Punchal
Esl. Rendeiro
Homem Bom
ESI.
Proprietário R. das Medinas
R. Direita
Almoxarife de Alfândega
Est, Homem Bom
Est.
R. Mercadore.'i Homem Bom, proprietário C. Novo
Pelourinho. C, Novo Homem Bom Rendeiro R. dos Tanoeiros R. N.' Sr.' do Calhau R. dos Marmeleiros(?) R, dos Pinhas R. Valverde
Proprietário. Homem Bom
Mercador
João Rodrigues João Rodrigues Castelhano João Rodrigues João Rodrigues
João Rodrigues João Rodrigues Cauces ('!) Lopo Rodrigues
Luís Rodrigues MeLchior Rodrigues
Manuel Manuel Manuel Manuel Marcos
Rodrigues Rodrigues Rodrigues Rodrigues Rodrigues
Nuno Rodrigues
Pedro Rodrigues Sebastião Rodrigues Sebastião Rodrigues Simão Rodrigues Simão Rodrigues Vila Real Vasco Rodrigues Vicente Rodrigues Pedro Rodrigo Julyam Romano
Vicente Rodrigo Francisco Roque Francisco de Sá Francisco Salamanca Luís Jacome Salvago João Batista Salvago Lucas Sal vago Rodrigo Sanches João Saraiva Hans Schmid João Seahante (?)
Lu is de Semana André de Sepulveda
Amador Sequeira Francisco Sequeira Francís.co Afonso Sequeira Gregório Sequeira Pedro de Sequeira Dinis Semigi Jerónimo Sernigi António Sevar Manuel Sevarte
Bartolomeu da Silva Matias Silva Brás Fernandes Silveira António Simões Baltasar Simões João Soares Jorge Soares Martim Soares Rui Soeiro Álvaro de Sousa Francisco de Sousa Martim Sousa Rodrigo Sousa Álvaro Spínoln António Spinola
António Spínola Uazuardo Tarluem(?) Manuel Tavares Simão Tavares FrancisoCo Rois Tavira João Roiz Tavira Manuel Tavira Pedro Tavira Francisco Temprais(?) Francisco de Teves Custódio Teixeira Gaspar Teixeira Henrique Moniz Teles Jorge Thomas Jorge Trovão Francisco Tomás António Tomé João Tomé Manuel Tristão Baptista Uzadamar (Micer-Baprista) Gravill Vallnez(?)
João Valdavesso Pero Valdavesso Henrique Vai Fernão Valenes João de Vara
Data 1509-1511 1495- L535 1536 155301577(+) 1591-1623 1593 1536-1572( +) 1550 1577 1540-1551 L551-1562 15681594 L594 1571 1494-1553 1530-1557 1555-1583 L517-1575 1590-L6L I 1501-1550 1550-1563 L556 15091565 1576 1558 1567-1569 1523 Génova 1502-1520 1565-1573(+ ) 1499-1526(+ ) 1509 L544 1597 1581-1586 1534-L561 1564 1580 1586 1564 Séc. XV 1498-1508 1592-1597 1554 L587 1563 1583 1584 1592-1617 1582 1593 1565 14901558-1563 1558-1581 1565-1581 1568 1503 1472-1519 1596 1552 L571 1567 1576-1626 1568-1626 1581 1544 1597 1569-1591 1597 1564(+) -1591 1570-1576 1511 1579 1596 1559 1599 14401574 1510-1565 1567-1588(+) 1582 1572 1570
Proveniência Pome Lima Génova Braga Viana de Caminha Flandres Flandres
Morada C.lhem C.lheta
Esl.
Ribeira Brava:
Esl. R. SL a Maria
Funchal Fuochal Funchal
Guarda
Funchal Funchal
Lagos
Funchal Funchal Funchal Fuochal
Funchal Funchal. Funchal Funchal
Ponte Lima Pano Santo
Tavira Burgos Génova Funchal
Génova hália Lisboa
Guimarães Louve ., Florença
Florel}ca França França
Flandres
Génova Génova Génova Alemanha Guimarães
ObservaÇÓ<S
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Calheta Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal V.O Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Func:ha! Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
V.O
R. João Tavira Es.c
C. Novo
Recebedor, almoxarife. escrivão, Homem Bom Recebedor quintos
Esl.
V.o, procurador de A. Sawago R. Direita Est'rivão alfandega
Esl.
Procurador mercadores judeus
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Santa Cruz
Guimarães Madeira Vila do Conde
Aveiro
Funchal Funcbal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
C. Novo C. Novo
Funchal
R. Direita
Salvador (Brasil) Funchal Funchal
Vindo da Ribeira Grande em 1570 R. Direita
Funchal Funchal Funchal Funchal
Machico Brelnnha Castela
Castela (?)
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
175
i\fercador Diogo Vasco Vaz Alvaro Vaz Amónio Vaz BartoJomeu Vaz Diogo Vaz Egas Vaz Fernão Vaz Francbco Vaz Francisco Vaz
~ljuar
Gaspar Vaz Gil Vaz Gonçalo Vaz
Jácome Vaz João Vaz
João Vaz
Lourenço Vaz Luís Vaz Manuel Vaz
Pedro Vaz Pedro Vaz Salvador Vaz
Sebas(ião Vaz Vicente Vaz Rodrigo da Veiga
Gonçalo Veloso Roberto Velovil
João Verrnim António Vicente Diogo Vicente
Fernão Vicente Francisco Raiz Vitória António Vieira Frandsco Vieira Manuel Vieim Pedro Vieira António Viviam
Proveniência
Data
1572 1565 1485- 1509 1509-1569 1572 1494-1556 1511-1512 1517-1567 1494-15521+) 1570- I597 1550-1555 1482 1494-1555 1508-1569 1498-155. 1551-1574 1497- 1569
Porto
Morada
Observações
Funchal Funchal Funchal
Funchal Funchal Funchal Funchal
Proprietário
Funchal
Canaveses
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
1510-1540 15 I 7-1594 1485-15471+)
Funchal Funchal
1552-1606 15631554 1494-1991 1594(1) 1574 1580-1653(+) 1570 1562-1570 15611482 1591 1519-1554 1519-1554 1582-1593 1549 1530
Funchal
Homem do ulmoxarifado quintos
1508 eslava na Índia Homem Bom, proprietário Homem Bom. vereador. recebedor, quartos Homem Bom, proprietário. escrivão contos ESI.
Funchal Madeira Inglaterm Holanda
(?)
Funchal Funchal Lisboa Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Proprietário C. Novo
Judeu
Escrivão contos e quintos
Fonte: A.R.M., Paroquiais-Sé, 1539-1600; A.N.T.T., N.A., n.o 744-745, 747, 724, 902, 589; A.R.M., Misericórdia do Funchal, n. o 684,710-711; A.R.M., C.M.F., vereações de 1473-1600; A.R.M., L.o de Notas de Ião Tavira, 1592; A.R.M., I.R.C., 1.0 do Tombo; Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, 1.0 II, Ponta Delgada, 1968; Fernando Jasmins Pereira, O açúcar madeirense . .. , Lisboa, 1969; Virginia Rau e Jorge Macedo, '0 açúcar da Madeira . .. , Funchal, 1962; M. do Rosário, Genoveses na História de Portugal, 1977; A.H.M., vaIs. XV-XVII_
176
QUADRO N.o 2
MERCADORES NOS AÇORES SÉCULO Mercador Diego Afonso Diego Alvares ManoeI Alvares Pedro Alvares Sehastião Álvares Francisco Vaz de Andrade Afonso Annes de Chaves Fernando Anes Gonçalo Anes
João Anes Thomce Bares João Fernandes Barros Francisco Martins Barros Francisco Barbosa Ludolph Bonnans André Fernam.les Caldeira Lucas de Carcena João Lopes Cardoso António Carvnlhais António Castro João de Castro Pero Charles Ciprião Coelho Carlos Coronel Cristóvão Borges da Costa Álvaro da Cunhn Manoel Jorge Cunha Luís Delfos Antónío Dias Cristóviio Dias Duarte Dias Fernão Dias Gaspar Dias Gonçalo Dias Jorge Dias José Dias Lucas Dias Manuel Dias Marcos Dias Afonso Enes Joham Escor ~cdro Gonçalves Faria Alvaro Fernandes António Fernandes Baltasar Fernandes Belchior Fernandes Francisco Fernandes Gonçalo Fernandes João Fernandes P::mtaliam Fernandes Sebasliam Fernandes Jorge Gonçalves Figueiredo Pantaleão Fognçu Pedro Rodrigues de Galanço Frandsco Giberliam Manuel Gomes André Gonçalves Antônio Gonçalves Diogo Gonçalves Pera Gonçalves Pedro Gonçalves Rui Vaz Gago Gaspar Gonçalv~s Melchi.or Gonçal ....es Silvestre Gonçalves Jorge Gago Jpão Lopes Henriques Bras Henriques Marcos Lopes Henriques Fernão Jaques Fernão Garcia Jaques António Jorge Manuel Jorge Luís Lopes João Luis João Luís Joüo Luís Teixeira Francisco Machado Francisco Martins Gaspar Martins Manuel Martins Diogo de Mello Diogo de Mello António Mendes
Data 1511 1575-1593 1575 1583 1590 1580-1592 1518·1575(+) 1511-1518 1540 1580·1590 1575 1580-1590 1580-1590 1590-1620 1575 1530·1538 15321546 1580·1590 á552 1591 1583 1541 1582 1580-1590 1580-16 IS -16 1592 1580-1590 1593-1606 1555 1580·1505 1561 15501641 (+) 1580-1590 1547-1550 1553(+) 1589(+) 1575 1591 1593 1575 1575-1591 15931549-1575 1544-1550 1585 1575 1552-1575(+) 1580-1590 1580-1590 1593 1534·1544(+) 1578 1580-1590 1592(+) 1555-1580 1593 1593 -1570 1537-1591 15761575 1580-1590 1593 1580-1590 1571 -1581 (+) 1550-1565 1592 1547-1550 1532{+) 1593' 1530-1540 1592 1598 1593 1575 1527-1583 1576-1592 1575(+)
Provenlêncta
XVI
Morada
ObservaÇÕ<S
Faial
Tenerife
estrangeiro
Chaves(?)
Angra Ponta Delgada Ponta Delgada Angra Ponta Delgada Ponta Delgada
R. Gaspar Rodrigo, c. novo, proprietário R. dos Pcllames, proprietário
R.a .Grande Ponta DeIgada Inglaterra S. Miguel Flandres Terceira rtnlia
Pono Porto Inglaterra
Flandres
Agua d'A11o Angra S. Miguel S. Miguel Olinda (bras ii) S. Miguel,
proprietário
BrasU
estrangeiro-
Terceira S. Miguel Ponta Delgada S. Miguel S. Miguel Açores S. Miguel Angra Angra S. Miguel S. Miguel Ponta Delgada
proprietário proprietário estrangeiro
prçprictário rendeiro proprietário R. Direita estrdngeiro proprietário proprietário proprietário, judeu
Vila Franca Ponta Delgada S. Miguel Ribeira Grande Ponta Delgada Ribeira Grande Ribeira Grande Angra S. Miguel Ponta Delgada Angl1l Ponta Delgada Vila da PRaia
Angra
Castela Castela
Flandres
Angl1l Angra Brasil Angra Angl1l Vila Franca S. Miguel Angra Ponla Delgada Ponta Delgada S. Miguel Angra Angra Ribeira Grande S. Miguel Ponta Delgada Agua d'A11o Vila Franca Angra Vila Franca Ponta Delgada s. Miguel Ponta Delgada Vila de Raia S. Miguel Angra S. Miguel Ponta Delgada Angra Ponta Delgada Ponta Delgada S, Miguel Angra Vila da Praia Ponta Delgada Ponta Delgada Angra Angra Ponta Delgada Ponta Delgada Ponta Delgada
proprietário judeu proprietário. judeu rendeiro pastel proprietário e8trangeiro propriçlário
de,de 1591 R. Direita. C. Novo rendeiro miunça R. Direita, C. Novo R. Direita, proprietário proprietário R. Dinis Afonso. C. Novo proprietário R. do Aljube rendeiro, proprietário R. Direita, C. Novo proprietário proprielário R. dos Mercadores C. Novo R. DireÍla, C. Nova
R. DireilB, proprietário
R. Fonte, C. Novo
R. do Mestre Gaspar proprietário
Cristüo Novo Cristão, proprietário
177
23
Mercador Digo Mendes Pemam Mendes Prancisco Mendes Luís Mendes Manuel Mendes João Martins Merens António Monforte Joam Monforte Pedro Fernandes Moreira Baslião Pass a António Mendes Pereira Francisco Mendes Pereira Gabriel Pinheiro
Gaspar Pinto Gonçalo Piris Sebastião Piris Jácome de Póvoas Manuel Rodrigues do Rego António Ribeiro André Rodrigues António Rodrigues Gonçalo Rodrigues João Álvares Rodovalho Jerónimo Rodrigues João Rodrigues Manuel Rodrigues Miguel Rodovalho Bastiam Álvares Senra Adão Silva Manuel da Silva Manuel Martins Soares Baltasar Sousa Duarte Vaz Pedro Dehales
Data 1580-1590 1575 1576(+) 1592-1606 1592-1606 1531-1555 1592 1592 1580-1590 1593 1580-1590 1580-1590 1592 1571 1593 15 1550 1591 1593 1590-1620 1592(+) 1552-1586 1580-1590 1575-1593 1580-159a 1592 1598 1525-1583 1580-1586 15921580-159a 1580-1590 1559-1560 1589
Proveniência
Morado
S. Miguel Ponla Delgada Angra Ribeira Grande Ribeira Grande
Observações proprietário R. Mercadores, C. Novo
C. Novo C. Novo
Terceira
Inglatem Inglaterra
Algarve
S. Miguel Guimarães
S. Miguel
Inglatem
Ponla Delgada Ponla DeIgada S. Miguel Angra S. Miguel S. Miguel Ponla Delgada Funchal
proprietário
R. do Beco proprietário proprietário R. do Contudor. C. Novo
estrangeiro C. Novo
Vila Franca
Ponta Delgada Açores Angra Olinda (Brasil) Vila Franca Ponla Delgada S. Miguel Angra S. Miguel Ponta Delgada Vila Franca S. Miguel S. Miguel Ponta Delgada S. Miguel S. Miguel S. Miguel Ponta Delgada
C. Novo C. Novo estrangeiro
C. Novo
proprietário R. Direita. C. Novo proprietário
proprietário R. Manuel Garcia proprietário proprietário proprietário
Fonte: Gaspar Frutuoso, ob. cit., 1.0, II, III e IV (2 vols.); A.N.T.T., Inquisição de Lisboa, ms. 141-1-6, 141-6-13, 141-7-17, 141-6-11, 144-6-13, 144-7-17; B.P.A.P.O., Fundo Ernesto do CaTIto, ms. 20, 52, 56, 107; A.C.M.R.G., /.0 I de acordãos: Arquivo dos Açores, 15 vols.; Maria Olimpia de Rocha Gil, O arquipélago dos Açores no século XVI! . .. , Castelo Branco, 1979.
178
QUADRO N.o 3 MERCADORES NAS CANÁRIAS SÉCULO XVI Mercador
Juan Absolbi Jácome Adorno
Rafael Adorno Miguel Afonso Nicolas Afonso
Juan Agana Antón de Agueda Fernando Aguilar Francisco Aguiniga Juan de Alarcón Giovanni Alberto Gcraldini
Aloaso de Alealá Fernando Aleour Juan Alemãn Bernardo Alirall Alanso Almonte Fernanda Almonte
Data
Nicolús de Aramburo
França Génova Génoya Cll.'ite!a Castela Génova
Gran ennaria
1522·1530 1539-1530 1550 1583-1583 1509-1525 1531-1534 1512 1509-1513 1529 1511 1501-1508
Castela
1599 1520-1521 1570 1593-1598 1511 1550 1539
(séc. XVI)
Juan Baptista Amonte
1520 1520 1521 1532-1594(+) 1522-1525 -1590(+) 1538-1539 1498-1506 1599 1500-1522(+) 1552 1567 1578 -1558? 1593-1598 1556 1549 1510-1511 1510-1511 1527 1555 1578 1552 1550 1522·1525 1520 1522·1525 1510-1511 1554 -1558(?) 1572·1590 1522-1525 150R 1554 1549 1529 1550·1552
Juan Bllutistll Coroou
(séc, XVI)
Juan Dautista Frunqucs Juan Bautistn Lomelirn
1521 1565 1590·J591 1563 l.í20 1522 1592 1510 150R 1550 1501 1508 1521 (+) 1508·1511 1526 1501·1510 1501-1509 1494 1595
Esreban de Arano Oehoa de Arholaneha Gaspar de Arguijo Miguel Armant Matco de Armas Juan de Arras Bautista Ascnnio Sebastian Alonso li\igo Martinez de Aspetia Crist<Íbal Atano Juun de Ávil. Barlolomé de Ayala Jorge de Ayala Pedru Ayala Ventura Ayala Ju.n de Ayamonle Antón Axcaxa Luís Axcaxa Francisco de Baeon Juan de Bnenu. Andrés B.éz Alonsn Baéz Antón, Baéz Hemon Baéz Pedro Baéz
Diego de a.eza Baplista Bairola Alonso de Balhoa Luís de Balhoa Rodrigo de Balhoa Jâr;:ome de B.uquianu
Juan Bardôn Pedro de Barreto Alvaro Barreto
Micael Barronn
JlHl1l naul ista Reto
Cri5tbhal de Bcdoya Nu!!", Belbuy Alonsu Bellu Guillén de Ayala Diego nelI" Pedro Baltmn Gonzulo Benavente
Pedro Benavente
Junn Rcnilez Micer Benitu Juan Bemnl Tnmás Remavelt Junn de Berres
Sanchu de Bi1ba" Guilhermo de Dlanco Pedro flInneo
Morada
1561 1531 1540 1581 1522·1525 1520
Alonso Alvarez
António AIvarez Nuno Alvarez Pedro Alvarez Rodrigo Alvarcz Lu is de Amaya Bemnrdino Anehsi Giles de Ano Honoralo Angelén de Mangue
Proveniência
Castela
Castela Flnrença
Catalunha Barcelona MagueI
Portugal Cananas Cll.'itela Génova Flandres França
Catalunha Cádiz
Gran Canaria Oroo Canaria Tenenfe
Castela
Ambues Caslela Flandres Flandres Castelo Castela
Sevilha Lisboa Génova
Castela Génova Caslela
est.
V.·
Tenerife
V,·
Tenerife
V.u
Tenerife Gran Canaria Orno' Canaria Gran Canaria Tenerife Oran Canaria La Pall1lJl Oran Canaria Oran Canaria Tenenfe Tenerife
est.
Funchal Teguesle Ornn Canaria Oran Canaria Tenerife Oran Canaria La Gomera Oran Canaria Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Fuerteventura
Génova Custeia Castelo
O.........ções
Gran Canaria GraR Canaria Grao Canaria Tenerife GraR Canaria Grao Canaria OraR Canaria
ara" Canaria Tenerife Tenerife
est, e v. ll , moyor domo do concelho
V,, V,, V.o V.' V,, esl. est. esl.
V.' V,, V.'
V,,
esl. est. em Tenenfe est. V.' es!. V.' V.O
V,, v," alguacil mayor (501) V." V," V," es!. V,"
agente est.
OraR Canaria
OraR Canaria Gran Canaria Gran Canaria Gran Canaria. Tenerife Tenerife Tenente Tenerife Oran Canaria Orao Canaria Gran Canaria Tcnerifu TeneriCe Gran ennaria
V,O
v.
0
V,o cst. est.
V,O v.o, escrivão público e mayor dei cabUdo
V,o
V,O
est.. est. V.O
Castela Flandre.'i
Oran Canaria
Oran Canaria
est.
Génova
Oran Cnnaria Gran Canaria
V.O
Gênova Génova Génova
Tenerife Gmo Cl.maria Ornn Cannria
Oran Canari:u Catalunha
Portugal Castela
TeIlerife Orao Cannria
Flandres Biscaia Biscaia Italia Flandres
esl.. esc
V.O
est.
Ornn Canaria Tenerife
Sevilha Cádil,
qo irmão Diego
Tcnerife Tcnerife Oran ennaria
Tcnerife Tenerife Tencrife Tenerife Tcnerife Tenerife Gran Canllfill renerife
est. V,o est. cst.
est.
est. est. est.
esl. esl.
V,O
179
Mercador
Lucas Bondennau Bautista Borneugo Lorcnzo Borneugo Rafael Bomeugo Juan BOlíller Jacopo Bolh Gahriel Bo. Tomás Box Guilhame de Bralo Giraldo Brinzeles Lamberto Broque Luís de Burgos Leonardo Buron Sebastiân Bumn Guilhenno de Bros ( .. .) Simon Buzine Lamberto Buren Jácome de Caçaiia Matco Cairasco Antônio Cagero Esteban Caldemn Jeranimo Calderón Barnabé Teodoro Calderón Romau de Caletote Anlónio Campos Francisco de Campos J.an de Campos Pedro de Campos Jaime Cancer Bernazdino Canino de Veinlenllha Hernando Cannona Juan de Cannona Pedro de Cannona Jacome Corona Francisco Casaiia Juan Batista Casales Jâcome de Casanis Juan António Casanova Polo Casanova Anton de Cascaja Jácome Catano Jacome Casteleyn James Casleieyn Jaques Caste!eyn Juan Martinez de Caslelleja Andrés de Calillaria Cabrián Cabrance Diego Chabot Diego Chagojan Augustin Chav;ga Giraldo Chavega Bartolomé Chlprana Hanes Clas FranciscQ..Codína Juan Codina Gonzal0 de Coimbra Andrés de Cantillana António Colombo António deI Consistorio Rodrigo de Contreras Montalbol Gonzalo de Cordoba Luís de Lo.reto Juan de la Cunha Diego Curtidor Gullhenno Dapinln Rodrigo Delfo ConeHo Despas Francisco Deza Alondo Diaz Anton Diu Diego Díaz Francisco Díaz Melehor Diaz Ruy Diaz Sebaslian Díu Martín DObcotin Pedra Donningo Jorge Alonso Donaine Jácome Donis Pedro Dorador Antonio Dorantes Luís Dores (-.-l Gonzalo de Ecrija Bartolomé Enzio Pedra de Escalona Bernardo Escadatl Pedro Escobar Roberto Espaehaforte
180
Data
1545 (séc. XVI) 1507-1508 1522 1534-1538 -1562(+} 1550-1552 (sé•. XVI) 1508 1558 1550-1552 1520-1525 1522 1550-1552 (séc. XVI) 1533 1545 1507-1525 séc. XVI 1552 1591 1552 1592 1528-1565 1569-1575 1565 1559 1511 1500 1508 1561 1522-1525 1520-1525 1553 1522 1523 1550-1552 1550-1552 1534 1509 1508-1510 1508-1509 1509 1508-1510 1509-1510 1564 1552 1539 1522-25 1524 1522-1525 1530 1533-1583 1552-1583 1522 1563 1532-1535 1503 1597 1508-1522 1524 1517 1513 1510-1511 1512 1535 1522-1565 1522-1565 1571 1520-1521 1509 1522-1525 1579-1591 1520 1571 1508-1509 1520 1508 1522-1525 1510-1525 1535 1512-1519
Proveniincia
Flandres Génova Génova Génova Flandres
Tencrife Orao Canaria Tenerife Gran Canaria Tenerife
Génova Génova
Oran Canaria Gran Canaria Tenerife Oran Canaria. Oran Canuia Tenerife Gran Canaria Oran Canaria Tenerife Tent:rife Tencrife Tenerife Gran Canaria Gran Canaria Oran Caoma Gran Canaria Gran Canaria Oran Canaria Oran Canaria Gran Canaria Gran Canaria Tenerife Tenerife Tenerife Oran Canaria Grao Canaria Tenerife Gran Canaria Gran Canaria Gran Canaria Gran Canaria Oran eanaria Orao Canaria Grao Canaria
Flandres Flandres Génova Génova Ámbores Flandres Flandres Génova Génova Génova Génova Génova França Castela
Catalunha Génova Génova Oénova Génova Gênova Génova F1andres Inglaternl Flandres Flandres F1andres França Castela Génova Gênova Cádiz Flandres Calalunha Calalunha Castela Génova Castela Génova Flandres Castela Flandres Flandres Castela Sevilha Sevilha Castela Sevilha Cas,tela Sevilha Flandres
Génoya AmbeDs Castela Florença Inglalerra
ObservaçDes
Morada
est.
est. est. est. V.O esL. agente esL est. esC
est. est .• Cádiz est., Cádiz
V.O V.O V.O V.O V.o est. V.o v. o, administrador rendas yo V.O V.o v. o, regedor est. V.o V.O V.O est.. v.o est. V.O
Oran Canaria
esc
Tenerife Tenerife Tenerife Gran eanaria
V.o est. V.o v.o
Gran Canma Gran Canaria Tenerife Oran eanaria Tenerife Gran Canarin Gran Canaria Oran Canaria Oran Canaria Gran Canaria Oran Canaría Tenerife Gran Canaria Tenerife Gran Canaria Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Oran Canaria Tenerife Tenerife Oran Canaria Tenetife Tenerife Tenerife Oran Canaria Tenerife Oran Canaria Tenerife Oran Canaria Oran Canaria Tenerife Tenerife Tenerife Oran Canaria Gran Canaeia Tenerife Gran Canana Oran Canaria
est. est.
est. V.o v. D , regedor V.o V.o V.O V.O v .0. arrendador rendas
est. estesl. est. V.o V.O est. V.o V.o V.o V.O est. V.O est. est. est. V.o
V.o
v.o, escrivão público e do Cabildo V.O
Mercador
Dala
Francisco Espindola Juan de Espinosa Pedro de Esp-inosa
1515 -1558(1) 1520 1530 1596-1598 1522-1525 1501 1522-1525 1562 1509-1510 1520
Martin de Espinosa Lorenzo Esquier Lorenzo Estrela Martin de Évora Bartolomê Fava Andrés Febres Andres Fernandez
Antón Fernandez Diego Fernandez Francisco Fernandez Gaspar Fernandez Gonçalo Fernandez
Juan Fernandez Pedro Fernandez
1520-1591 1520-1546 1530-1531 1511 1511-1525
Proveniência
Antôo Fonte Antico Fonte Rafael Ponle Lucas Forte Marcos Francisco Marcos Franco António Franqucs Diego Franques Melchor Pranques Marcos Franques Nicolao Franques Simon Franques Marcos Franco Alonso de [a Fuente Juan de la Fuente Alonso Galiano Antón Garcia Francisco Garcia GOn1.alo Garcia Oregario Garcia LoreRza Garcia Pero Garcia Tomasín Gardon Bartolomé Gayardo Juan de Gunbreux Diego Gil Andrea Giraldin Francisco de Godina Alonso Gomez Diego Gomez Adan González Alonso González Diego González Eslebao González Femán González Gaspar González Jorge González Juan González Juao González Manuel González Pedro González Ruy Gonlález Sehastián González Cario Grillo Bartolomé de Grinaldo GarCÍa de Guisla Alonso GUliérez Diego GUliérez Francisco Gutiérez Luís Gomez Trapero Gil Gutiérez Fructuoso Hernández Luís HcrniÍndel. Luís Hemández Rasco A lonso de Herrera Diego de Herrera Francisco de Herrera Gonzal-o de Herrera Juan de Herrera Pedro Hurtelín Rodrigo Hurtado Melchior Imperial Juan Jácome de Canninatis Alonso de Jaén Diego de Jaén Francisco Jaén Garcia de Jnén Gonzalo de Jaén Rodrigo Jans
Oran eanana
est.
Génova
Tenerifc Gran Canaria Tenerife Orao Canaria Tenerife
V.· V.·
Flandres
1591 1531 1511-1520 1546-1552 1520 1529-1534 1510 1522-1525 1509-1510 1519-1599 1520-1521 1501-1524 1501 1505 1525-1526 1522-1525 1522-1525 1550 1546 1508 1584-1598 1546 1511-1521 15Z0 1550 1569 1510-1586 1522-1535 1552-1583 1520 1521 1522 1508-1518 1522-1525 1565 1531-1583 1520-21 1581 1523-1552 1550-1552 1508-1511 1501 1531 1510-1511 1517 1518 1536 1590 1506-1539(+) 1501-1525 1520 1520-1525 1549 1550-1559
Gran Caoaria
Tenetire Tenerife
Portugal Castela Portugal Sevilh;1 Sevilha
Gran eanaria Gran eanana Oran Canaria
Barcelona Génova
ltália Génova Ca."iteIa Caslela Castela Castela
Génova Génova
Gênova Castela Castela Castela Lisbna Pnrtugal Castela Portugal Sevilha Portugal Portugal Portugal Gênova Sevilhn
Castela Sevilha Portugal Calalunha
Caslela Caslela Castela Génova
Lombnrdia
Caslela Sevilha
est. est.
V,· V,· V,· V,·
Gran Canaria
esl.
V,·
Orao Canaria
Tenetife Catalunha
V.·
Gean eanaria Tenenfe Orao Canana
Barcelona
1501 1520-1529 1528 1418-1523(+ ) 1552 1522-1525 1522-1525 1521-1525 1528-1566 1519-1552
Observações
Inglaterra Olanez Cádiz
Fernando Fernandez de Coya
Annque Ferrer Francisca F!orença
Morada
Teneeire Gran eanaria. Tenerife Barcelona Tenerife Tenerife Tenceife Gran Cllnaria Gran Canaria Gran CaRaria Gran Caoaria Oran Caoaria Tenerife Gran Canaria Tlmerife Oran Canaria Gran Canaria Gran Canaria Tenerife Gran Canari.a Teneeife Tenerife La Palma Tenerife Tencrife Tencrire Tenerife Gran Canaria Oran Canaria Tenetire Orao Canaria Grao Canaria Tenerife Tenerife Tenerife Gran Cnnaria Oran Canaria Oran Conaria Gran Canaria Tenerife Oran Canaria Tenerife Grao Cnnaria Oran Canaria Gran Canaria Oran Canaria Tenerife Tenerife Oran Canaria Gran Canaria Tenerife Gran C.anaeia Gran Canarill Gran Cannria Tenerife Tenerifc Oran Canaria Teflcrife Gran Canaria Tcnerife Oran Canaria Oran Canaria Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Gran Canaria Oran Canaria
esl. v.o, regedor
V,o
v. I}, regedor f:st. Gran Canaria est.
V." V." V." V,o est., v.o
V." V." est.
V." V,o V." v. o, esto
V." est.
V." V."
eslo esl.
V." V." est. est. est. V."
V." V."
est. est. est. est. est. est. esl.
V."
est. est.
V." est.
V,a
V,o V,o V,o v.o, est. Oran Cnnaria
V." est. est •• v.o
V." V." est .• v,o
V."
1523 esl. Gran Canaria est.
181
Mercador Nicolás J.n. Ouilibec Jaquelot Juan Jaques Fernandi J.y.n Alonso Jerez; R_ de Jerez Diego de Jerez Francis.:o de Jerez Juan de Jerez Rodrigo de Jerez Fernando Ji menez Marcos Jimenez Gaspar Jarba Lui. Jorba Amón Jóvem Jaime Jovem Juan de Juambruz Mateo Juan de Carbon Bernardino Justiniano Tomás Justiniano Luís de luva Diego Labrador Martin de Lanaja Ju.n de L1antadillo Pedro de L1antadillo Oonzalo de Lara Aguslin Leardo Pedro Ju.n Leardo Tomás Leardo Segundo Labrôn Garcia de León Juan de Léon Marcos de Lé-on Juan de Lope Francisco Lerea Jeronimo Leres Jácome Lercam Juan de Llerena Ju.n de Lygrave ]óeome Liberal Francisco Lices Afonso Lôpez Diego López de Ponillo Francisco López Juan López Juan López de I. Fuente Ocho. López Pedro Lopez Pedro Losada Fernando de Lugo Francisco de Lugo Esteban Lois Andrés de LUDa Iuanoto Luna Pero de Luna Juan Lutiano Jeronimo Macia Dnvid Mailllele Comielles: Manasc Francisco Mauríque Juan Marcel Ju.n de Marchen. Niculoso a Marin Diego de la Marin. Jaime Marsanz Diego Manin Francisco Martin Pero Martin Andrés Manin Bnrbadilho Juan Manin de Castillej. Alonso Martinez Francisco Martinez Alonso Márquez Francisco de la Mata G.spar Mateo Antonio de M.yuello Jerónimo Mayuello Lázaro de M.yuello Pedro de Mena Antonio de Medina Banolomé de Medina Bautisla d. Medin. Juan de Medin. Juan Méndez ESleban Mobtón Pedro de Mérida B.nolomé de Milan Alon.o de Miranda Francisco Mirôn
182
Pr()l'eniênda
Data
-----_._-----1550-1559 1509 1525-1565 1511 1508 1552 1550-1552 1527 1510-1521 150g-1511 1524 1525 1520-1563 1520-1525 1510-1531 1500-1524 1510-1511 1507-1509 1520-1525 1504-1525 1520 1516 1507 1522-1525 1522-1525 -1558 1510-1511 1516-1555 153g 1531 1511 1510 1574-1592 1521 1558 1550 1521 1597 1572 1550 1550-1552 1531 1508-1522
Fiandres Flandres
Castela Sevilha Flandres Sevilha
Catalunha Flandres Géno ...a Génova
Burgos Burgos Castela Génova Génova Génova Castela Ca..lite[a Génova Gênova Génova Génova Flandr.. Castela Castela Pnnogal
1510 1520-J599 1520-J521 1502-1527(+) 1508 1522-1525 1511 1509 1510 1546 1535 1520-1526 1568-1578 1556-1557 1522-1525 1531 J529 J522-1525 1531 1520 1521 1507 1520 1507-1525 1575-1582 1531 1576 séc_ XVI 1523 1530-1532 -1558 1550-1552 1508 1550 15J6-1520 1569 1520 1507-1511 1522-1530 1507-1511 1522-1525 1508-1510
Cádiz
Castela
Castela Génova
Flandr.. Flandres Castela Castela Génova
Catalunha
Sevilha Sevilha Castela
Gran CanariD. Tenerifc La Palma La Gllmera Tenerife Oran eanaria Gran Canada
Génova Génova Castela
Génova Castela Génova Castela
est.. v..o v.o, esC em Tenerife V." V.o
est.
Gran Canaria
Tenenfe Tenerife Oran Cnnaria Oran Canaria Gran Canada Tenerife Tenerife Tenerife Tenenfe Tenerifc Tenerife Tenerife Tenerife Oran Canaria Tenerife Tenerife Tenerife Oran Canaria Tenerife Tenerife Oran Canaria Oran Canaria Tenerife Tenenfe Gran Canaria Tenerife Gran Canaria Grao Canaria Gran Canaria Tenerife Gran Canaria GraR Canaria Gran Canaria Oran Canaria Gran Conaria Tenerife Tenerife Tenerife Gran Canaria Tenenfe Tenerife Tenenfe Gran Canaria Tenerife Tenerife Tenerife Tenenfe Gran Canaria GraR Canaria Gran Cnnaria Gran Canacia Oran ennaria Gran Canaria Grnn Canaria Gran Canaria GraR CanariLi Oran Canario Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Gran Canaria Gran Canaria Oran Canaria
Catalunha Gênova
Observilções
Morada
Gran Canarin Gran Canaria Oran Canana Grnn Canaria Gran Canaria Oran Ca.naria Oran Canllria Gran Canaria Gran Canaria Oran Canada Tenerlfe Tcnerife Grau Canaria Tenerife Tenerife Tenerife
esr. V_" V." t':st.
est.
V_" V." est
V_" V."
est., v,O
V."
est. est., v." esl.
est. est. v.o V." V.o est.
V." C:5t.,
v.o
V." V." V." est. V_o V." V.o V." v.o, alguacil e alcaIde mayor est.
es(, es(, esl. . v.o
V_o esr. V." .est. est. V.I)
cst.
V." esl. V.O V. n
est. v.o, regedor Cabildo V." V." v.o, cst. Tenerife est., v.O
est. V.O cst.
est.. v.O est. est.
es!.
Mercador
Antonio de Montesa Monloya Juan de Mont Serrat Baltasar de Morales Francisco Morales Guilhenno Morall
CristôbaJ Moreno Juan Moreno Francisco de Morillo Nicolás Movan
Juan Baptista de Negro Francisco Neymn
Tomás Nichols Antonio Nomelín
Pedro de la Nuez Francisco NuJiez Hemán NUDez Juan Nuiiez Melccho! Nuiiez Jácome Nuremberque Elias Obin Juan Obrebal Juan de Ochoa Prancisco Orne
Sancho Ordena Jerónimo Orerio
Alonso Ortiz Juan Ort;z Juao de Medina Fernando Ortiz Nicolás Ortiz Rodrigo Ortiz Bcoito Oselo Diego de Oviedo Marcos Franco y Oviedo Beoito Oxelu Juan Pacho Francisco Paéz Jans Pafmle Francisco de Palencia
Francisco Pulomar Flerigo Caniguerola Jaques de Papa Jusepe de Paz Garcia de la Pena Luis de Penalasa Alon so Pérez Anton Pórez Cabeza Bartolomé Pérez Barnabé Pérez Gonzalo Pérez Rernán Pérez Juan Pérez Cabeza Lorenzo Pérez Juan Pérez Ooitiner Fernán Pórez de Loya Juan Pérez Relurbio Juan Pérez de Zorroza Marcos Pérez Nicolál) Pérez Rodrigo Pérez Rodrigo Pérez Silvestre Pinelo Tomás Pinelo Felipe Pilesen Juan Ortega Diego de Palanco Antón Pons Cristóbal Ponte Lope de Portilho Juan de Porras William Prall. Hans Prefale Alonso Prieto Juan Prieto Rodrigo Prieto Francisco Provenzal Cristóbal de la Puebra Juan Pucntc Lu is de Quesada Rodrigo Quesada Juan de Quesada Molina Francisco Rebelo Marcos Raberto Luca Rego Pablos Reinaldos Diego Ribero Bautista Riberol Cosme Riberol
Data
1553-1563 1510 1519 1521 1522-1525 1520-1521 1507 1522-1525 1520-1525 1578 1501 1491-521 1556-1560 1507 1522-1525 1530 1531 1522-25 1535
Proveniência
Castela Catalunha
Aandres Génova
Génova Inglaterta Génova Castela Portugal Sevilha
1537 1525-1526 1554 1520 1500-1507(+} 1511 1571 1569 1531-1533 1598 1550 1508 1522-1525 1522 1510-1511 1511-1525 1522-1525 1496 1529 1596-1598 1545-1552 1546 1520-1525 1510-1534 1520 1596 1524 1534 1530-1538 1550 1529-1552 1556-1559 1503-1511 1510-1511 1594 1552 1552 1520 1587 1592 1599 1551-1553 1521 -1525 1520-1528 1521 1518 1525-1526 1522-1525 1508 1511
Gran Canana
Tenerife Oran Canana Tenerife Tencrife Tenerifc Tenerife Tenerife Tenenfe Grao Canaria Orao Canaria
Tenerire Tenerife Gran CanariB
Castela Génova Castela Castela Castela Castela
Génova Génova Alemanha. Castela Génova Génova Flandres Castela Castela Castela
Catalunha Castela Castela
Castela Génova Castela Castela Biscaia Castela. Génova
Génova
Castela Castela Génova
Madeira Inglaterra Alemanha
Caslela Castela Catalunha França Portugal Génova Génova
O~rvações
esl.. reRedor
V,o
est.
est.
est..
V,·
est. est.,
V.O
V,o
de Sevilha
Tenenfe
Gran Canaria Lauzarote Tenerife Gran Canatia La Palma OraR Canari3
França 1502 1522-1525 1552-1556 1535 1555-1557 1510-1511 1520 1510 1582 1520 1487-1509 1506-1509
Morada
V,· est.
V,· V,o
Tenerife Tenerife Gran Canaria Grao Canaria Oran Canaria Tenerife GranCanaria Orao Canaria Oran Canaria Gran eanaria Oran Canaria Tenerife Tenerife Tenerife Tenenfe Tenerife Grao Canaria Tenerife Oran Canaria Gran Canaria Oran Canaria Tenerife Orao Canaria Gran Canaria Gran Canaria Tenerife Oran CaD atia Tenerife Oran Canaria Oran Canaria Grau eanana Gran eanaria GranCanaria Oran Cnnaria Gran Canaria Orao Canaria Tenerife Tenerife Oran Canana Oran Canana Oran Canaria Tenerife Gran eanaria Orao eanaria Oran Canana Oran Canaria
est., v_o
Oran eanana
est. v.o
Tenerife Tenerife Gran Canaria Tencrife Tcncrife La Gomera Tenerife Tenerife Orao Canaria Grao Caoaria Tenerife Gran Canaria Grao Can8.TÜt Oran CanariB Tenerife Tenerire Tenerire Gran eanaria Tenerife Orao Canana Gran eanaria
V,o est.
V.o V.o V.o est. v.o est.
est. esl. est.
v.o v.o esl.
V.o v.o CiL,
v.o
esL v.o cst.
esl. V.o v.o V.o V.o esL est.
v.o V.o est. es1., v.o
est. V.o
V.O V.o est.
V,O v.o v.o
est., v.o
est. cst.. v.o
V,o est.
v.o V.o V.o esl. est. cst. v.o est. v.o, regedor est.
183
Mercador Francisco Riberol Lorenzo Riberol Domenigo Rizo atiber Rj,o Alonso Rodriguez Caslilho Antón Rodriguez Cristóbal Rodriguez Gonzalo Rodriguez Jorge Rodriguez Juan Rodríguez Pedro Rodriguez Vasco Rodríguez Afonso Rodríguez de Palenzuela Blasino Romano JU2.n Romano Juan Romara Juan Rondinel Piero Rondinelli Pedro RO
Martin Sánehez Fero Sánchcz Diego Sânchez de Jerez Pero Sânchez Jaime Sanra Fé Gon:z:alo Santa Finia Luis de Santiago Antón Seagle Luis Seagle Alvaro de Segura Gonzal0 de Segura Fernando Sepúlveda Francisco Sepúlveda Gabriel Socamis Pedro Soler Jácome Sopranis Bernardino Soria Gaspar Soria Hemando de Soria Juan Baptista Soria Pedro de Soria Guilhermo Sonn Hernán Suárez Fernão Tabarco Alonso de Toledo Juan Tomás de Mont Bernardino de la: Torre Antonio Tosode Luis Trapero
Fernando Triana Jácome de Trigueros Juan Tuyn Juan de Valladolid Juan de VaIverde Johan Vau Halmade Tilman Vau Kesscl Jan Vau Trille Jotis Vau de Walle Luis Van de Walle Amaldo Vandala torge Vaadala Luis Vandala Franscisco SobraIlis Daniel Vandana HeImau Vandeu Marraquer Pedro Vandevela Bartolomé de Varea Martin de Vargas Michel Vasol Francisco Vazquez
184
Proveniência
Data 1488-1514 (+) 1533 1522-1525 1571 1555-1589 1520-1521 1563 1522-1525 1520-1525 1530-1582 1522-1560 1522-1525 1506 1510 1510-1511 1539 1506 1509 1508
Génova Génova Génova
França Castela Castela
Castela Castela Sevilha Sevilha F1oren", Florença Florença Florença Génova
França 1511-1541 1507-1522 1507-1510 1520-1525 1508·1509 1507-1515 1510-1536(+) 1576 1527 1522-1525 1506-1513 1509·1534 1522-1530 1541 1510-1525 1522·1525 1520 1511-1525 1508 1527-1530 1532-1537 1510 15!1 1550 1522 1522 1531 1510 1510 1512 1522-1525 1500-1524(+) 1532-1537 1586-1587 1553 1550-1552 1526 1507-1511 1510-1511 1532 1522-1525 1538 15S2 1537 1522-1525 1552 1500-1550 1532 1546 1533 1526-1540 1561 1531-1565 -1587(+) 1569-1572 1526· 1530 1588-1595 1510 1537 1525-1526 1590-1593
Caslela Castela
Castela Castela ltalia Génova Castela Sevilha
Castela Castela Flandres Flandres
Catalunha Catalunha Génova Caslela Castela Castela Génova Flandres Castela Gênova Castela Génova Sevilha Flandres Castela Castela Anvers Anvers Flandres Flanllres Flandres Flandres Flandres Flandres Génova Flandres Flandres Flandres Flandres Castela
Observaçõeci
Morada Gran Canaria Orao Canaria Tenerife Grao Canaria
GraR Canaria Tenerife Gran Canaria Tenerife Tenerife Palma GraR eanaria
Tenerife Gran Canaria
Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Palma Tenerife Orao Canaria
Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife La P
Gran Canaria Gnm Canaria Grao Canaria Oran Cunaria Tenerife Gran Canaria Tenerife Oran Canaria
esl.
V.o V." V." V." V." V." est. est. V." est. est. est. est.. est.. esc. V." V." V." est., est.,
v.o de Sevilha v. o de Sevilha v. O qe Cádiz
v. o v. a
v. o. escrivão Tenerife La Palma v.", regedor (1514) V.O V." V." est. est.
V." V." :51.,
v."
V." ~st..
V.O
est.
est. est. V." est. esl.
V" V."
V." est.
V.o v.o, esl. Gran Canaria (1550) est. e v.o V." V." est. V.o V." est. V." V." est., v. o de Madeira est. est. Tenerife v.o V." V." v. o ado de fazenda est.
est. esC
V." est. est. est.
est.. mayordomo dei Adelantado V."
Mercador Diego Vazquez Botelho Francisco Vc:intemila Alonso Velez Pedro Velini, Antonio Velzer Martim Vicente Juan Videl Pedro Villarre.1 Matea Vifia Grinalda Virlin Joesl Vog.lts Alonso de Xôres Lanzarote de Xebres Rodrigo Xerez Juan Xumbrcux Alyandro Yanes AIonso VaDes Pedro Yanes Juan de Zamora
Alejos Velandi.
Data
1585
Pro veniêocia
Castela Génova
1552 1550 1513 1508-1509 1522-1525 1510 14'l4. I506 1517 1526 1511 1511-1513 1511-1513 1511 1522-1525
Flandres Alemanha
Gênova
Flandres Flandres Flandres Aandn:s Flandres Ponugal
1511 1542
Castela
Morada
Gran Canaria Gran Canaria Oran Canaria Gran Canana Palma/Tenerife Tenente Tenerife Tenerife Tene:rife Tenerife Tenerife Tenerife Tencrifc Tenerife Tenerife Tenerire Tenerife Lauzarote Tenerire Gran Canana
O_.1lÇÔ
v.a
esc V.O cst. est.
V.a v.a
v.a esl v.a
Fonte: Os dados foram elaborados a partir da infonnação dada nos protocolos já publicados e dos estudos de
Manuel Lobo Cabrera, Manuela Marrero Rodrigues, C. Camacho y Pérez Galdón, E. Olta, A. Cioranescu, Maria Luís FabreIles; veja-se a BIBLIOGRAFIA.
185
QUADRO N.o 4 MERCADORES NACIONAIS E O COMÉRCIO DE AÇÚCAR NA MADEIRA 1500-1540 Décadas Mercador
1501-1510
João de Abrantes
André Afonso António Afonso Francisco Afonso Gonçalo Afonso João Afonso Manuel Afonso Mateus Afonso Pero Afonso Rodrigo Afonso Tristão Afonso Afonso Álvares António Álvares Diogo Á.lvares Femão Alvares Francisco Álvares Gonçalo Álvares João Álvares Nuno Álvares Pera Álvares Rodrigo Álvares Álvaro Anes João André Afonso Anes António Anes Fernando Anes Francisco ADes Gaspar Anes Gonçalo Anes João Anes Pero Anes Rodrigo Anes Gonçalo Raiz Araújo Pallus de Araújo Jorge Bocarra Manuel Bocarra Antónia Ile Brita João Gonçalves Caldeira Pedra Carneira João Carvalho Manuel Carvalho António Correa
1511-1526
Total
1521-1530
1531·1540
264
46 84 10
31 II 6 63,5
64
27 45,5 245 116 33,5 34
394 62
19 4 14
50
3
II 18 302,5 4 102,5
8 657 34 14,5 2 20
176
III
17,5
2M
m
43,5
Z-
2 253.5
25 12
15 21 37
56
4,5 527
10 6 52 2 25 2
114 169 10 4
186
103 152 63 4 63
16 170,5 20 721 503 20 20 36 134
20 99 80
2 22
383
386
14 233
110 I 184 18,5
7 127 202 28
86 40,S 4 59 21 21 12
535
39
34 36 905
22 3,5 20
33 255
4 4 7 6 103 152 63 4 63 36 170,5 119 801 503
20 14
124
345,5 178
718 8 105 318 39 2 231 625 216,5 29 12 277 30 129 52 2 25 2 I 4 131,5 169
10
João Correa
Gaspar da CosIa Baltasar Dias Gaspar Dias Jorge Dias Afonso Dinis António Dinis Diogo Dinis Fernão Dinis Francisco Dinis João Dinis Lapa Dinis Pero Esteves João D'Évora André Fernandes Antônio Fernandes Álvaro Fernandes Baltasar Femandes Brás Fernandes Diogo Fernandes Domingos Fernandes Francisco Fernandes Gaspar Fernandes Gonçalo Fernandes João Fernandes Jorge Fernandes Lapa Fernandes Luis Fernandes Manuel Fernandes Miguel Fernandes Pero Fernandes Sebastião Fernandes Simão Fernandes
40 63,5 394 19 4 78 457,5 53 211 71
40 6 8
71 I 35 1M 98 173 29 12 91 5
264 36 47,5 291 231 118,5
20
1,5 4 101 860,5
124 89,S 61,5 4 189 240 149 752,5 224,5 12 535 1,5 4 193 255 866,5
Décadas
Mercador
------------------_._--
Tolal 1501·1510
1511·1520
1521·1530
26
Joãu Ferreira
]f)
66
António de Freitas Gunçalo Gil
23,5
João de Góis
36 52,5
Ãlvuro Gomes Anttínio Gomes
Gonçalo Gomes Pedro Gomes Afonsu Gonçalves Álvaro Gonçalves André Gonç~tlvcs Antônio Gonçalves Baltasur Gooçal vcs
Bartolomeu Gonçalves Diogo Gonçnlvcs Domingos Gonçalves Estevio. Gonçal ves Fernão Gonçalves Francisco Gonçalves Gonçalo Gonçalves Grnviel Gonçolves João Gonçalves Jorge Gonçalves
Murtim Gonçnlvcs Pedro Gonçolves Rui Gonçalves Sebastiioo Gonçalves Vicente Gonçal ves Francisco Guerreiro João Jácome Pedro Jorge António Lopes Álvaro Lopes Baltasar Lopes Cri~tóvão
40 102 6
12
76,S 136,5 7
30
67 100,5
Francisco Martins João Martins
Fernão Mendes Luís Mendes Manuel Mendes Rui Mendes AnIónlo Moniz Gonçalo Fernandes Neto António Nunes Jorge Nunes Simão Nunes Marcos de Oliva Luis Paes Amónio Pereira Oonçlllo Perelro Afonso Pinto Afonso Pires Álvaro Pires António Pires Domingos Pires Geraldo Pi res Gonçalo Pires João Pires João Pires D'Angra Luís Pires Manuel Pires Rui Pires Simão Pires Diogo Rebelo Pedro da Rochu Afonso Rodrigues Ambrósio Rodrigues Bartolomeu Rodrigues Diogo Rodrigues
II 49
18 299.5 21 38 81 60
84
239 632 8
43
167 144 14,5
I 5,5
164,5 1
37
50 93,5
24 126 18
5,5 4 123,5 4,5 5 40
79 12 20 145 159,5 5 295 5
4 25,S 15 2 88
96
32,5 31
17 144 41,5
66 181 74 20 85 55 847 412 15 5 16
I 13 6
168 117,5
87 122
I 24 8
0,5
111 388
a 154
24 8 0,5 350,5 388
54
22
170
9 28,S 8 III 2 123,5 31 17 144 41,5 66 181 74 20 85 2 55 847 412 15 6 29 7
6S1
40
30
49,5 3 79 12 20 145 159,5 5 295
11
11 657 14
63 230 40 114 55 66 I 329,5 77,S 136,5 7 97 111,5 50 257 1058,5 196 183 101 60 202,5 I 50 93,5 24 126 23,5 4 123,5 4,5 5
660 30
660 30 9,5 3
Fernão Lourenço Francisco Lourenço
João Lourenço Álvaro Luís António Luís Diogo Luís João Luís Afonso Martins António Martins
49 13 I 329,5 10
52
55 66 23,S 36 52,S
80
80 62
225
Lopes
Diogo Lopes Fernão Lopes Gravlel Lopes Gonçalo Lopes João Lopes Pero Lopes Sebastião Lopes Simão Lopes
1531·1540
2
27 15,5 1,5 3,5
22 202
27 15,5 1,5 8 157,5
187
Déeadas
Total
Mercador
1501·1510
Duane Rodrigues Francisco Rodrigues Gonçalo Rodrigues Lopo Rodrigues Pedro Rodrigues Amador Sequeira ~ntónio Espindola Alvaro Vaz
2 11,5
1 12
1531·1540
541 45 6
11 4
António Vaz
II
IS 2
4 19 49
Simão Vaz
lOS
TOTAL:
5 141
n. o 541,
723.
6042,5
5535
158
5SO 74,5 6 26
4 31 1 2 II 19 3 20 1 51 105
31 1 2
Francisco Vaz Gonçalo Vaz João Vaz Manuel Vaz Pedro Vaz
188
1511·1530
68
90
Fernão Vaz
Fonte: A.N.T.T., N,A.,
1511·1520
1 013,5
23198
QUADRO
N.o
5
OS MERCADORES ESTRANGEIROS E O COMÉRCIO DO AÇÚCAR NA MADEIRA 1500-1540 Décad.. Mercador
Simão Acciaiuolli Gabriel Affailati João Francisco Affaitati João de Augusta Luís Alvares Jorge Andefiz Aneguim Mestre Antánio Viviam António Pallus de Araújo Archellem Pero de Ayala Menchude de Bailo Pero de Banches Alonso de Barreda Martim de Belloens Marim Berte Janim Bicudo Cristóvão Bocollo Estevão Boguo Leonardo Bondinar António Boto Marim Branco Bano Brocone Pe. Ioão de Bruges Guilherme de Brum Estevão de Bueca João Calvino Francisco Calvo João Calvo Capella de Capellani António de Caraç-am António Curadas João Rodrigues Castelhano João d. Castilho Francisco Calanho Claa.s Nicolau Contrim João Coquet Henrique Comualha Charles Correa António de Coyros ] ácome Curela João Cymza Daniel João Dias
1501-1510
1511·1520
334 3930 77441 4251
(1) 62077
TotAl
15Z1-153O
(2) 38389,5
1531-1540 334 3930 177 907,5
321 24,S 310 130 92 53 318
327 (2) 9 063,5
50 218 428 I 151 31596 3930 100 16512,5481 6600 39,S 70 58 18 1409 3000
oU}
28 400 300 526
1444 20 1 132
225 1222 5426 16 262 366 (3) 3 094 274,5 38 2 68,5
Pedro Dias 214
Niculau Dizce
João Dolua Pedro Duram Jorge Emdorfor João de Esmeraldo Richard Estoquedall Cristóvão Fernandes André Foquet Álvaro França Pero de França Franceses João Froll Pedro Gamte Gaspar Gentil João Baptista Gentil Pallus GiIl Lucas G irald João Gote Gregário Lucano Grillo Guilherme Diogo de Hanna Henrique Belchior Imperial Pity Joam Julião Pedro Iu'tinham Nicolasso Justtnhom Simão Justinhom Pedro Justiniano Feducho de Lamoroto Pedro de Lamorolo Jeronimo Larqua João Ledo
360 1789 202 152 23
454 8
454 8
247
927
212 6 740 253 277 273 250 152 2377 1 201 50
28 337
219 41
24,5 10 573 535 60 26039,5
50
6000 50 50
4251 321 24,S 310 130 92 53 327 318 I 50 3 218 428 1 151 31 596 3930 100 14512,5 481 6600 39,S 70 58 18 1549 3000 1472 0100 320 1658 225 1222 5426 16 262 366 3094 274,5 38 2 I 68,S 6 214 6 360 1789 202 152 23 8 I 174 212 6 740 253 277 273 250 152 2377 1229 50 219 378 24,5 10 6 573 535 60 32039,5 50 50 50
189
Décadas
Mercador
--"-----_._---------------1501-1510
António Leonardo Francisco Lido João Lombarda João Lomelim Alvaro de Lugo Matia Maoardi Diogo de Marchena Gonçalo de Marchena Bartolomeu Marchioni Tobias de Marim Pedro de Marna Martinho Valeria Máximo Alvoro Meireles Jorge Meireles Joana de Melgar João de Mesa Miguel Pera de Mimença João Mini'ljIn Miralles João de Miranda Benedito Morelli Francisco de Montiloa Afonso Muõoz Francisco Narde António de Nagra Nicolao (Francês) Nicolao (Flamengo) Pedro Noble! Isaque Oberim Oliveira Francês Francisco Paris Joam Palamquim MafeJ1 Rogel Julyam Romano Lucas Salvaga João Valda.esso TOTAL:
7476 50 4 349 5672
1511-1520
1521-1530
700 3075 102.5 13423.5 2lKIO 207.5
45238
(, [XXI
(4) 5 344
4 :W2 116 4 495 91 33
Total
1531·1540
710 600 763 (5) 6 3%.5
5885 10
7476 75rl 4,·\9 ;1 979.5 102.5 13 4235 2000 207.5 51 238 5344 4392 116 4 500 91 743 600 763 6 396.5 588.5 10
(6) 50348 187 3 353
5 388
50 172 180 8
17 58
301 59 108 40 600 1697 270
186.5 3D 99
290 608,5
96368
85800
707.5 7985
50348 187 50 192 538 396 58 301 59 108 40 600 1 883.5 270 3D 806.5 480761.5
Fonte: A.N.T.T., N.A., n. O 541, 723. (I) O açúcar e os direitos de 1620 (1282.5 a) com Janim Bicudo. (2) O açúcar dos direitos de 1521 (23233). (3) Apenas é conhecido o montante para a capitania de Machico com Pera de Mimença. (4) Apenas é conhecido o montante para a capitania de Machico com 7/12 da sociedade que adquiriu os direitos desse ano conjuntamente com Henrique Nunes. (5) Apenas os direitos da capitania de Machico. faltando os do Funchal e os restos de 1524 a sociedade com Jorge Lopes Bicudo. (6) Com 3/8 na sociedade que comprou os direitos. conjuntamente com Pero de Ayala. (7) Como procurador.
190
QUADRO N.o 6 AGENTES DE TRANSPORTES MARíTIMOS NA MADEIRA Data
Barqueiro Bastião Afgonso Diogo Afgonso Rodrigo Alvares Afonso Anes Manuel Cabral
Manuel Castanho João Dias Julião Dias Manuel Dias Cristóvam de Évora António Fernandes Amador Fernandes Brâs Fernandes Domingos Fernandes Gaspar Fernandes Gonçalo Fernandes João Fernandes
Lu is Fernandes Manuel Fernandes Bartolomeu Fernandes Sebastião Fernandes Manuel Garcia Bartolomeu Gonçalves
Brás GDnçalves Francisco Gonçalves Gaspar Gonçalves João Gonçalves Pedro Gonçalves
Antônio Lourenço Luís Lopes Vicente Lopes
Cristóvão Luís António Martins
Francisco Nunes Gaspar Nunes Sebastião Nunes Jorge Pereira
Afonso Pires Manuel Pires
António Rodrigues Diogo Rodrigues Duarte Rodrigues Francisco Rodrigues Gaspar Rodrigues João Rodrigues
Tomé Rodrigues Manuel Ribeiro Manuel Rodrigues Simão Rodrigues
Tomé Rodrigues Vicente Rodrigues André Teixeira Afonso do Vale
António Vasco Francisco Vaz João Vaz
1591 1550 1525 1512 1595 1571 1511 1576 1554-1558 1557 1550 1578-1598 1574 1566 1595 1555-1583 1545-1565 1593 1557 1563 1545-1595 1593 1578 R. a Brava 1540 1559-1574 1551-1584 1557 1555 1593 1551 1580-1596 1566 1570 1550 1593 155J.l555(+ } 1581 1590-1595 1596 1570 1564 1568 1582 1560-1564(+} 1581 1559-1560 1591-1593 1560 1591-1593 1553 1557-1558 1564 1552 1553-1557
Pro.enJênda
Mo....da
Observações
Fanchal Funchal Ponta do Sol Funchal
Fuuchal
Tenerifc
Porto Santo
Funchal Funchal Funehal Funchal Funchal Fuoehld Funchal
Esl. CI cabrestante
C/ cabrestante
Funchal
Funchal
Campanário
Funehal Funchal Funchal Funchal
Calheta
Funchal
R.' Brava
Funchal
La Palma
Funchal Funchal Funchal
R,a Brava
Funchal
Est.
Amfana de Sousa
Funchal
CI cabrestante
Calofate
João Afonso Francisco Dias Gaspar Dias Miguel Fernandes
-1672(+} 1557 1592 1568-1579(+)
Fajã d. Ovelha Funchal Funehal Funchal
1517 1550 1529 1546 1543 1540 1524
Funchal Ribeira Brava Funchal
Esl.
Santa Cruz
Est.
1595 1576
Funchal Funehal
Morinhelro Pedro Anes Nuno Fernnndes João Luís Antônio Lourenço Afonso Pires António Rodrigues Tomé Rodrigues Homem do mar Rodrigo Álvares João Domingues
191
Homem do mar Roque Fernandes
Amónio Gonçalves
Data
Proveniência
Morada
1594 1596
Funchal Funchal
1536
Funchal
1496
Calheta
Observações
Piloto Afonso Anes Mestre navio João Fernandes do Arco
Fonte: A.R.M., Paroqlliais-Sé, 1539-1600; A.R.M., Misericórdia do Funchal, n.o 710, 689; A.R.M., l.R.C.; A.R.M., C.M.F., n. o 699, 700, 868.
192
QUADRO N.o 7 MAREANTES NA MADEIRA SÉCULO Mareante Álvaro fonso Francisco Afonso Gaspar Afonso Luís Dias Afonso Manuel Afonso Pedro Afonso Diogo Afonso
Francisco Afonso Gonçalo Afonso João Afonso Rodrigo Afonso Vicente Afonso Francisco Amaro Afonso Anes António Anes
Francisco Anes Lourenço Anes Luís Anes
Pedreanes Rodrigo Anes Vasco Anes Vicente I Ane"
Domingos Barbosa Nuno Barbudo Manuel Borges Luís Belo
Domingos Brás João Cardim Pero Cardoso Domingos de Cea Manuel Coelho Afonso Cordovil Estevão Cordovi)
Brás Correia Manuel Cnrreia
António Carva,lho Pedro Delgado Álvaro Dias
Bartolomeu Dias Belchior Dias Brás Dias Domingos Dias Francisco Dias Gonçalo Dias Jerónimo Dias Manuel Dias Pedro Dias Rui Dias Sebastião Dias V icente Dias Fernam Dinis
Francisco Dinis João Domingos António Duarte
Bastião Afonso Duarte Pedro Duarte Joanne Enes Luís Enes Rodrigueanes
Vicente Encs Afonso Fernandes André Fernandes António Fernandes António Fernandes Bastião Fernandes Belchior Fernandes Brás Fernandes Cristóvão Fernandes Domingos Fernandes Francisco Fernandes Francisco Fernandes Francisco Fernandes Gaspar Fernandes Giraldo Fernandes Gomes Fernandes Gonçalo Fernandes
Hieránimo Fernandes Joane Fernandes João Fernandes João Fernandes Lourenço Fernandes Manuel Fernandes Manuel Fernandes
Manuel Fernandes
Dalll 1551(+) 1569-1582 1542 1557 1558-1567 1529 1529 1554-1583 1553(+) 1552-1564 1559-1564 1582 1583 1591 ã580-1582 1552(+)
Provenleocla
Calheta
Santarém
Algarve
Morada Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
1549-1592 1592 1527 1578-1580 1542-1557 1563-1566 1578 1562 1578 1561 1565 1562 1535 1576 1598 1592 1548 1570 1557-1580 1565-1593(+) 1554·1555 1594 1547 1573-1574 1574 1581-1584(+) 1554-1576(+) 1583593 1596 1560 1554-1591
Lagos
Terceira Buarcos
Terceira
Terceira
Porto 1551-1584(+) 1596 1595 1572 1558 1571-1590 1563-1573 1591 1555 1591 1573-1595 1582 1593 1543·1582 1554-1574(+) 1556-1598 1592 1539-1590 1565-1581 1551·1560 1568·1599 1553-1596 1584 1591 1555-1585 1545 1569 1544-1549 1545 1529-1565(+) 1590 1557 1563 1543·1573 -1575(+) 1582
Lajes
Terceira
Porto Santo
Calheta Porto Calheta Á1cacer do Sal
XVI Observações
Esl.
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Cabo do Calhau
R, St. a Maria Cabo do Calhau
Esl.
R. João Gago
S. Miguel Porto
R.a Brava
Funchal
193 25
Mareante
Manuel Fernandes Manuel Fernandes Manuel Fernandes Miguel Fernande. Miguel Fernande. Pedro Fernande. Pedro Fernandes Salvador Fernandes Sebastião Fernandes
Simão Fernandes Tomás Fernandes Tolllé Fernandes Vicente Fernandes
João Feneira Brás de Fiuza João Gago Manuel Garcia Pedro Gil
Belchior Gomes Cristóvão Gomes Francisco Gomes Francisco Gomes Pedro Gomes Manuel Gonçalo Álvaro Gonçalve. Amador Gonçalves António Gonçalves Ballasar Gonçalves Belchior Gonçalves Belchior Gonçalves Cristóvão Gonçalve. Domingos Gonçalves Fernam Gonçalves
Francisco Gonçalves Gaspar Gonçalves Gil Gonçalves Gonçalo Gonçalves
João Gonçalves Manuel Gonçalves Maleus Gonçalves Pedro Gonçalves Pedro Gonçalves
Rui Gonça1't'es Sebastião Gonçalves Simão Gonçal>es Tomé Gonçalves
Vicente Gonçalves Lansarole de Gu1)a Álvaro Jorge António Lopes Belchior Lopes Dio80 Lopes João Lopes João Lopes Marcos Lopes Manuel Lopes Melchior Lopes Pedro Lopes Sebastiam Lopes Dio80 Lourenço Fernão Lopes João Lopes Rodrigo Lopes Vicente Lopes Diogo Luís
Francisco Luís Gaspar Luis Gaspar Luis Gonçalo Luis João LuIs Tomé Luís
Antónia Martins Ballasar Martins João Martins Manuel Martins
Niculao Martins Manuel Marques Roque Marques Afonso Mendes António Mendes
António Mendes Antônio Mendes Francisco Mendes Francisco Martins Gomes Martins
Jo Momis Francisco Moreira
194
1595 1593 1594 1558-1596 1597 1546-1596(?) 1598 1554-1560 1556-1595 1581-1598 1554-1590(+) 1560 1546-1597(+) 1559-1592 1584 1557 1594 1556 1596 1553-1574 1580(+) 1599 1541 1553 1571 1545 1558-1593 1556 1559-1595 1563 1555 1580-1582 1574-1591 1563-1592 1578 1547 1544 1541-1591 1560-1591 1555-1586 1574-1590 1576(+) 1553 1583-1597 1552-1597 1561-1569 1589 1555 1574 1588-1595 1582-1593 1562.1590(+) 1540(+) 1579-1581 1533 1565 1581 1540-1558 1546(+) -1574 1554 1570 1583 1574 1586-1588 1552-1572(+) 1549-1554 1560-1566 1553 1554-1597 1583-1584 1551(+) 1567 1556 1595 1558 1573-1574 1558 1548 15781578-1598 1589-1616(+) 1556-1598 1569 1539 1551 1589-1591
Funchal Funchal Funchal Funchal
Porto Santo Tavira
Lisboa Setúbal
S. Miguel Barceloo
Tavira
Algarve
Obser't'açàes
Morada
Pro't'enlêncla
DalJl
Beco Mateus Pires, C. Novo Cabo do Calhau
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Est.
Cabo do Calhau
Tavira
Santa Maria
Funchal Funchal
Tavira Tavira
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
R. Miguel Lopes
Faro Algarve
Machico
C. Novo
Terceira
Funchal Funchal Funchal Funchal
Mareante André de Mola Benlo de Mujaige ?
Jerónin\o Nunes Manuel Nunes
Nicolau Nunes Pedro Nunes Sebastião Nunes António de Paiva Barto(pmeu Pereira
João Pinto Álvaro Pires
António Pires Baltasar Pires Diogo Pires Fernão Pires Fernão Pires Francisco Pires Gonçalo Pires
Gonçalo Pires Manuel Pires Miguel Pires
Pedro Pires João Rcbel0 Manuel Ribeiro Manuel Roches
António António António Baltasar
Rodrigues Rodrigues Rodrigues Rodrigues
Belchior Rodrigues Fernão Rodrigues Gnspar Rodrigues Gil Rodrigues
João Rodrigues João Rodrigues João Rodrigues João Rodrigues José Rodrigues Manuel Rodrigues Manuel Rodrigues Manuel Rodrigues
Tomé Rodrigues Vasco Rodrigues Vicenle Rodrigues Sebastião Belchior Simões
Bento Simões Manuel Silveira Tomé Silveira Diogo Soares Gonçalo Soares
João Soares João de Soares Anlónio do Vale Pedro Valdavesso Afonso Valema (?) André Vaz António Vaz Diogo Vaz
Francisco Vaz Gnspar Vaz
João Vaz Manuel Vaz Pedro Vaz João Velha Belchior Gonçalves Viana António Vicenle João de Villes
Data
Proveniência
1579 1549 1582 1594·1597 1557·1579 1586 1593 1548 1548-1591 (+) Lagos 1590 Sesimbrn 1541 1576·1582 1572·1582 1575 1535-1586 1551 (+) 1538-1540 1554-1599 Viana 1554-1559(+) Barcelos 1565 1556 Palma 1557 1547 1577-1584 Sesimbm 1552 1542-1582 1558 1589·1593 1572 1544 1544·1575 1558·1589 1572·1594 1540 1543·1594(+) 1583 1589 1583-1587 -1596(+) 1564·1589 1579-1587 1583 1592-1597 1592-1596 Esposende 1563 1552 Coimbra 1579·1594 1580 1571·1591 1577 1580·1584 1583 1597 1570·1573 Gala 1560 1589 1553-1572 1577-1580 1580·1582 1585-1591 1587· Lagos 1556-1561(+) 1548·1578 1555·1597 1554 1590 1598 1560-1564
Obse....ções
Morads.
Funchal Funchal Funchal Funehal Funchal
Funchal Funchal
R, João Gago
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
R. Vasco Pires C.bo do Calhau
Poço Novo
Funchal
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Calheta Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Filho de J, Rodrigues e Isabel Pinto R. de Baixo
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Fúnchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
R, Belmonte
Ponte Nova
Calheta Funchal
FOllte: A.R.M., Paroquiais-Sé, 1539-1600; Idem, Misericórdia do Funchal, Idem, C.M.F., n,o 866, 699-700.
n.O
684, 710-711; Idem, l.R.C.;
195
QUADRO N.O 8 MESTRE DE NAVIO NAS CANÁRIAS SÉCULO XVI M..I.... de navio Cosme de Abreu António Afonso
Blas Afonso Femand Afonso Pantale.m Afonso Juan de Aguilar Diogo Alonso de PaIos Juan Anes Pedro Anlón António Genovês Nlcolao Azeredo Alonso Baez António Baez Jorge Baez Manuel Baez Cpstóbal Balbo _Toribio de Banos Alonso Bemaejo Pero Bemal Alonso Blvas Sebastlan de Cales Pedro de Los Caóavales Tomé Cano Diego Perez de Castro Francisco Carreiio Juan Caneiio
Rodrigo de Cales Juan Coleenga Luis Correa Juan Cota Bartolomé Delgado Lucas Delgado Pedro Delgado Pedro Diniz Oonzalo Diaz Juan Diaz Ambrolo Gonzalo Domingues Juan Durango Gonzalo Fernandes Pero Fernandez Mmuel Ferreira Juan de Fina Juan Odlegn Juan Garola Simon Gareia André Genovés Álvaro Gomes Juan Gomez Alonso Gonzole. Anton Gonzalez Anton Gonzalez Diego Gonzalez Francisco .Gonzalez Luis Gonzalez Luis Oonzolez Pedro GonlOlez Pedro Gonz.lez de Nejar Rodrigo de Orajeda Ruy Gutiérrez Juan de Heredia Diego Hemandez Pedro de Herrera Diego Lopez Hemán Lopez Sebastlam Lopez Juan Lorenzo Diego Luís Simon Luís Rodrigo Mallerón Pedro de la Marina Martim Antón Martim Diego Martim Francisco Martim Gaspar Martim Alonso Martim de Lucena António Martinez Alonso Medel Pero Montero Diego de Montemayor Alonso de MOI..les de Santo Diego Morales Martin Nufiez
196
Data
1586 1511 1513 1506 1511·1539 1540 1509 1552 1511 1509 1546 1527 1527 1510 1557 1510 1510·1513 1508 1510 1510 1509 1589 1562 1509 1511 1512 1512 1584 1508 1522·1525 1594 1508 1552 1551 1509 1506 1510 1509 1572 1513 1520 1520 1507 1510 1565 1522-1525 1514-1552 1512 1517 1520 1596 1512 1588 1559 1508 1506 1512 1588 1550·1560 1510-1525 1510·1511 1506 1509 1510 1507 1511 1508-1511 1508 1507 1511 1592 1508 1507 1511 1522-1525 1507 1508 1513
Garachico (Tenerife)
Faial
Tenerife Tenenfe Tenerife
Tenerife
GraR Cannria
Tenenfe
Tenerife Grao emana
Génova Génova Portugal Portugal Madeira Génova Huelva
Palma
Portugal Génova
Austrias
Portugal
Hierro Portugal
Se.vilha
Portugal Flandres Tavira
Portugal
Obse..... ções
Morad.
Proveniência
V.O Est. Português Português Est. Est.
Tenenfe Oran Canaria Oran Cooaria OraR eanana Tenerife
Orao Canaria Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenenfe Tenerife Tenerife Tenerife Orao Canaria Tenenfe Tenerife Tenerife Tenerife Tenenfe Tenerife Tenerife Tenenfe Tenerife Gran eanana OraR Canaria Tenerife Tenenfe Tenerife Tenerlfe Tenerife Oran Canaria Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenenre Oran Canaria Tenerife Tenerife Tenenfe Gran Cnnaria Tenerife Tenerife Tencriro Gran Cnnaria GraR Caoaria Tenerife Tenerife Tenenfe GraR Cnnaria GraR Canaria Tenerife Tenerife Teneeire Tenerife Tcnerife Tenenfe Tenerife Tenerife Tenerire Tenenre Tenerire Tenerife Tenerife Gean Cnnana Tenerife Tenerire Tenerire Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife
Est. Est. Est. Est. Est.
V.o
Esl.
Esl.
V.O
Est.
Est. V.O
Est. Est. V.o Est. Est. Est.
Esl.
V,o
Est. Est.
Metitre de navio
Amador de Paiva Pedro Ortega Diego Ortiz Alonso Perez Juan Perez Juan Perez Martin Perez Martin Perez dei Olmo Juan de Place CristóbaJ Ponte Juan do Porto Alonso Ramos António Quitero Juan de Quitero Bernardo Rodriguez Francisco Rodrigues zarco Juan Rodrigues Francisco Rodrigues Juan Rodrigues Carrero Tomé Rodrigues Francisco Salamanca Juan de Salamanca Marcos Salvago Juan Sanchez Pera Sanchez Francisco Sepulveda Jerónimo BeBo de Sottomayor Juan de Úbeda Pedro Uriarte Jorge Vaez Bastian Valera Frutuoso Vicente Gregório Vicente Alonso Vieira Juan Vizcaino Pedro Vanes Esteban Yanes
Data
1548-1550 1506 1510 1509 1520 1579 1552 1552 1509
Provenlêncla
Sevilha Portugal Palma Cádiz
1508-1510 1511 1513 151 J
Galiza
1508-151 I 1513 1596 1513 1511 1549 1506 1509 J507 1507 150 1578 J508-1509 1508 1510 1522-1525 1522-1525 1599 1521 1507 1552 1510
Portugal Porrugal Porrugal
Morada
Tenerifc Tonerife Tenerife Tenerife Tencrifc Gran Canaria Oran Canaria Gran Canaria Tenerife. Tenerifc Tenerife Tenenfe Tenenfe Tenerife
ObRrnÇÕ
Esl. Esl. Esl. EsI. Esl. EsI.
V.· EsI. Esl.
Gran eanaria
Tenerife Tenerife Gran Canaria Tenenfe Tenenfe Tenenfe Tenenfe Tenerife Tenerifc Tenerife
Esl. Es!. Es!.
Tenenre Biscaia Porrugal Portimão Madeira
Lisboa
Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenerifc Tenerife GranCanaria Tenerife Tenerife Oran Canaria Tenerife
Esl.
V.· Est. Esl. Est.
Fonte: F. Clavijo Hernandez, oh. cit.; Manuela Marrero Rodriguez e E. Gonzalez Yannes, oh. cit.; M. Isidra Coelho, oh. cit.; A. Cioranescu, oh. cit.; Manuela Lobo Cabrera, Indices y Extractos . ..; Idem, La esc/avitud en las Canarias orientales . ..
197
QUADRO N.O 9 ALMOCREVES NAS CANÁRIAS SÉCULO XVI Almo",eve André Afonso Garcia Afonso Juan Afonso
Anton Álvarez Juan Álvarez Pedro Álvarez Álv.ro Diego Arenas Gonz.lo de Arocha Juan de Braga Diego Draz Francisco Draz Diego Ballasar Fernandes Gonzalo Franoo Maouel Feyle Alonso Sanchez de la Fueole Pedro GaUego Afonso Garcia Fernando Garcia Gonzalo Garcia Maroos Oarcia Alonso Gonzalez Antan Gonzalez Eslehao Gonzalez Fernan Gonzalez Francisco Gonzalez Juan Gonzalez Lauzarote Oonzalcz Luís Gonzatez Pedro Gonzalez Vicente Oonzalez Goozalo BI... Hemandes Francisco Hernandez Herrnando JOlge Juan Fernando de Lamego Juan Lopez Vasco Machado Pedro Álvaro Perez_ Fernando Perez Oonzalo Perez Manuel 'Perez Benilo Saochez Mmim Sanchez Juan de Sevilha Afonso Yanes Oonzalo Yanes Pedro Yaoes
Data 152l 1550 150&·1511 1522-1525(?) 1522-1525 150&-1511 1522·1525 1509 150& 1520·1521 1520 1522·1525 1510 1522-1525 1520 1522-1525 1520 1509-1510 1509-1510 1511-1520 1509 1507 1522-1525 1522 1522 1550-1559 1552 150&-1525 1522-1525 1511 1522-1525 1522 1508
Séc. XVI 1552 150&-1525 1521-1525 1511 1522-1525 1510-1511 1520 1507·1525 1520 1509 1509 1550 1511 1522 1520 1522-1525 1520-1525 1510
Proveniência
Observações
Murada Tenerife
Esc
Oran ennaria
Est.
Tencrife Tenerife Tenenre Tenenfe Tenerife Tenenfe Tenerife Tenerife Tenenre Tenerire Tenerife
V.o Esl. ESI. Esl. Português, V.o
Esl.
Tenerire
Esl.
Gran Canaria Tenenfe
V."
Gran Canana
V.O V.O Esl. V." EsL. Português
Tenerife Tenenfe Teoerife Tenerife Teoerire Teoerife Tenenfe Tenerife Oran Qmarin Gran Canaria
Tenerife Teoerife Teoerife Tenerife Teoerife
Esl. V,o V,o Esl.. Português
Es!.
Tenerife
Tenerife Teoerife Tenerife Tooerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenerife Tenerire Tenerire Tenerife Gran Canaria Tenerife Tenerife Tcnerire Tenerire Tenerire Tenerife
V.o de Guia ES!. Es.r. E,l. E,I. Português V." ESI.
Fonte: Manuel Lobo Cabrera, lndices y extractos ... ; Idem, Protocolos del escribano Alonso GlItiérrez; F.C. Hernandez, ob. cit.; M. Isidra Coelho, ob. cit.; Manuela Marrem Rodriguez e E. Gonzalez Yannes, ob. cito
198
QUADRO N.o 10 ALMOCREVES NA MADEIRA SÉCULO XVI Almocreve Álvaro Afonso António Afonso Daniel Afonso Domingos Afonso Jorge Afonso Manuel Afonso Pedro Afonso Pedro Afonso Bastiam Álvares Gonçalo Álvares Rodrigo Álvares Afonso Anes Gonçalo ARes João Alies Pedro Anes
Domingos de Braga Custódio Brás Gonçalo Borges João de Canha André Correa Gonçalo Dias João Dias Gonçalo Dinis João Dinis Pedro Dinis João Doria António Esteves
Estevnrn Eanes Gonçaleanes Joaneanes Pedrianes João Farinha Agostinho Fernande~ Bento Fernandes Diogo Fernandes Domingues Fernandes Francisco Fernandes Gaspar Fernandes João Fernandes Pedro Fernandes Manuel de Freitas Galego
João Gomes Afonso Gonçalves Álvaro Gonçalves Amador Gonçalves António Gonçalves António Gonçalves Bartolomeu Gonçalves Brás Gonçalves Domingos Afonso Catarina Afonso Madalena Afonso Manne I Afonso Marta Afonso Joana de Almeida Pedro Alves Afonso Anes Filipe Correa Calarina Dias Diogo Dias I.,ahel Dinis Beatriz Enes Catarina Fernandes Luís Fernandes Luís Fernandes Manuel Fernandes Maria Fernandes Joana Fernandes Catarina Gomes Pedro Godinho Álvaro Gonçalves Elena Gonçalves Catarina Gonçalves Francisco Gonçalves Isahel Gonçalves João Gonçalves Maria Gonçalves Pedro Gonçalves Sebastião Gonçalves Maria Lopes Maria Lourenço Cntarina Luís
Provenlência
Data 1559 1540-1548 1554 1554(+) 1538 1549(+) 1547-1569 1547-1569 1517 1586 1540 1547(+) 1525-1582 1579 1517-1577 1595 1560(+) 1581-1598 1481 1560 1546 1550-1572(+) 1546 1569(+) 1507 1507 1547 1571 1582-1592(+) 1568-1574 1592 1509 1540-1585 1517 1534 1580 1570-1575 1552-1570 1582-1595 1507-1598 1597-1598 1509 1555-1571 1594(+) 1554·1595 1554-1577 1560-1595 1566 1595 1544·1573 1595-1597 1586 1495 1582 1495 1495 1495
ISSO 1593 1495 1593 1511(+) 1495 1495 1588 1495-1578 1572 1495 1495 1495 1553 1594 1495 1495 1581-1595 1593 1553-1573 1495 1595 1554 1574·1588 1495 1589
Morada
Observações
Funchal
Ribeira Brava Funchal Funchal Funchal Funchal
Arrifana
Guimarães Calhem
Lamego
Poiares
Fuachal Funchal Funchal Funchal Funchal Fuachal Fuachal Funchal Funchal Funchal Funchal Fuachal Funchal Funchal Funchal Fuachal Funchal Funchal Funchal Ribeira Brava Funchal Funchal Funchal Funchi1l Funchal Calhem Funchal
Esl.
Homem Bom
Beco João Tavim
de Ambrósio Raiz
EsC. Beco de Simão Achioli R. das Pretas
Est.
Santa Cruz
H. Baço, de Martim Meodos de Carvalho
Barcelos Santa Cruz
Das -moças do Caniço.
(+)
Ponta de Sol Funchal Fuochal Funchal
199
Almocreve Bárbaro Martins Gonçalo Martios
Inês Martins Isabel Martios Leanor Mota Leanor Pereira
Ambrósia Nunes Afonso Pires Isabel Pires
Catarina Pires Isabel Rodrigues Maria Rodrigues
Catarina Moreira ÁI',aro Vaz
Catarina Vaz Domingos Gonçalves Diogo Gonçalves
Francisco Gonçalves Francisco Gonçalves Gaspar Gonçalves Gonçalo Gonçalves Luis Gonçalves
Matias Gonçalves Martinho Gonçalves Pedro Gonçalves (I) Pedro Gonçalves Pedro Gonçalves Pedro Gonçalves Salvador Gonçalves António Jorge João Jorge Simão Jorge
Afonso de Lima Domiogos Lopes João Lopes Mateus Luís Pedro Machado Afonso Martins
António Martins António Martins Diogo Martins Pedro Moura João de Medeiros António Pinto
Afonso Pires André Pires
Amónio Pires Diogo Pires Domingos PitÓ
Gonçalo Pires Pedro Pinlo Pedro Pires Rodrigues Pires Simão Pires João Rodrigues Pascoal Simão Gonçalo Vaz
Proveniência
Data
1495 1502 1495 1571(+) 1552 1495 1590 1572 1495 1495 1495 1495 1495 -1586 1495-1586 1551-1562 1583 1573(+) 1598 1582-1583 1545-1598 1577 1597 1551 1552-1569(+) 15651559-1593 1588 1579-1593. 1596 1559 1567 1586-1595(+) 1560(+) 1536 1552-1559 1558 1552 1552 1560 1593·1595 1509 1558 1576 1547 1554 1559 1580-1585 1571 1555·1569 1581-1583 1553 1556 1551(+) 1509-1542 1559(+) 1574
Funchal
Calheta
Observações
Morada
Poço Novo
Santa Cruz
Santa Cruz Santa Cruz
Santa Cruz
F. de Ant. Gonçalves
Santa Cruz
Esl.
Braga
Basto Pombeiro Arco Calheta Portugal
Santa Cruz
Santa Cruz Ribeira Brava Caniço
Carvalho ...
Giar ?
Barcelos Viana de Caminha
Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Calheta Tábua Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal Funchal
Beco dos Mestres
Por soldada a Gonç,alo Álvares
Fonte: A.R.M., Paroquiais-Sé, 1539-1600; Idem, Misericórdia do Funchal, n.O 710-711,684; A.N.T.T., N.A., o n. 744-745, 902; A.R.M., C.M.F., n.o 1297, 700; Idem, l.R.C.; Idem, L,0 de notas de loão Tavira, 1597.
200
QUADRO N.o 11 VENDEIROS NA MADEIRA SÉCULO XVI Nome Catarina Afonso Madalena Afonso Marta Afonso
Joana Almeida Beatriz Anez
Catarina Dias Beatriz Enes Catarina Fernandes Luís Fernandes Joana Fernandes
Catarina Gonçalves Catarina Gomes Constância Gomes
Elena Gonçalves Maria Gonçalves Mêcia Lourenço Barbara Martins Catarina Moreira Leanor Pereira Catarina Pires
Isabel Pires Isabel Rodrigues Maria Rodrigues Mycea Rodrigues Catarina Vaz
Nome
Data 1488 1495 1495 1495 1489 1495 1495 1495 1495 1495 1495 1495 1495 1495 1495 1489 1495 1495 1495 1495 1495 1495 1495 1495 1495
Catarina Afonso Domingos Afonso Afonso Anes
Filipa Conea Isabel Dinis Luís Fernandes Manuel Fernandes Pedro Godinho Isabel Gonçalves Inês Gonçalves João Gonçalves Pedro Gonçalves Sebastião Gonçalves
Maria Lopes Catarina Lufs Gonçalo Martins Isabel Martins Leanor Mota Afonso Nunes
Afonso Pires Maria Se;(BS Álvaro Vaz Catarina Vaz
Data 1586 1595-1597 1550 1593 1511 1588 1572 1553 1593 1578 1553-1573 1595 1554 1574-1588 1589 1502 1571 1552 1590 1572 1592 1586 1586
Fonte: A.R.M., C.M.F., n. o 1298-1299, 1301; Idem, Misericórdia do Funchal, n. o 684, 710-719; Idem, J.R.C., Tombo; Idem, Paroquiais-Sé.
201
QUADRO N.O 12 OBRIGAÇÕES EM TRIGO DOS AÇORES 1509-1519 Credor
Devedor
Leanor Afonso
Leanor Afonso António Teixeira Heitor Lopes
Leanor Afonso Simão Lopes Pedro de Brito Leanor Afonso João Álvares de Arco Manuel Peslana Pedro de Brito
Elias Gonçalves Nuno Fernandes Jerónirno Fernandes Rui Dias
Baltasar Nicolau João Favila João Álvares Pedro do Quintal Antão de Lordelo
Jorge Lourenço João Rodrigues João Rodrigues Pedro Vaz Pedro Vaz Antão Lordelo AnIão Lordelo Antão Lordelo Jorge Lourenço Simão Lopes João do Rego
Branca Fernandes João Fernandes
João da Rosa João da Rosa e Henrique Ousei João Rodrigues João Rodrigues João Martins '(Tábua) Gonçalo Álvares
João Martins Vicente Álvares Gonçalo Vaz Gonçalo Vaz Álvaro Afonso
Antão Dias João Dias da Ribeira Gomes Fernande. Manuel de Florença Pedro Anes Preto Pedro Anes PrelO
Jerónimo Fernandez Martinho Anes Simão Acciolli Pedro Anes Pedro Anes Preto Lourenço Pires D. JOana M.V. Martin M. Pedro Homem Martim Vaz Gaspar Fernandes André Fernandes Diogo Lopes Álvaro Fernandes António Dias Pedro Anes Pedro Anes de Castro Diogo Gonçalves Diogo Homem João Fernandez da Casa João Rodrigues João Rodrigues Gonçalo Fernandes João Sebastião da Rosa Mes de Rosa viúva J. Vaz
Jerónimo Fernandes Gonçalo Fernandes Pedro Ornelas Gonçalo Caldeira Duarte Fernandes Álvaro Gonçalves Calha Nuno da Costa
202
Duarte Rodrigues Pinro Duarte Rodrigues Pinto rendeiros dos Aç ores Sebastião Morais Sebasdão Morais Duarte Rodrigues Pinto Sebastião Morais Duarte Rodrigues Pinto Sebastião Morais Luís Mendes de Vascon.
Sebastião de Morais rendeiro Jorge Dias rendeiro Jorge Dias rendeiro Jorge Dias Luís M. de Vasconcelos Duarte Rodrigues Pinto Duarte Rodrigues Pinto Jorge Dias Jorge Dias Jorge Dias Jorge Dias Luís M. de Vasconcelos Luís M. de Vasconcelos Duarte Rodrigues Pinto Duarte Rodrigues Pinto Luís M. de Vasconcelos Luis M. de Vasconcelos Luis M. de Vasconcelos Sebastião Morais Sebastião Morais Sebastião Morais Sebastião Morais Jorge Dias Sebastião Moreis Sebastião Morais Luis Mendes de Vasconc. Luis M. de Vasconcelos Sebastião Morais Luís M. de Vasconcelos Sebastião de Morais Namorante Vaz (rendei.) Luis Vaz de Negro (ren.) Luis Vaz de Negro (ren.) Luis Vaz de Negro (ren.) Luis Vaz de Negro (ren.) Luis Vaz de Negro (ren.) Luís Vaz de Negro (ren.) Luís Vaz de Negro (ron.) Luís Vaz de Negro (ren.) Luis Vaz de Negro (ren.) Namoranle Vaz Luís Vaz de Negro Fernão Pardo Namorante Vaz Namorante Vaz Namorante Vaz Namorante Vaz Namorante Vaz Namorante Vaz Namorante Vaz dízimo dos Açores d ízirna dos Açores Gonçalo Rodrigues (dizim.) Gonçalo Rodrigues (dizim.) Gonçalo Rodrigues (dizim.) Luís Vaz Luís Vaz Luís Vaz Luís Vaz
dízimo João de Freitas João de Freitas Namorante Vaz João R .• feitor da Terça João de Freitas Narnarante Vaz Namo-rante Vaz Luís Vaz de Negro Luís Vaz de Negro
Data
1509-VlIl-22 151O-X-6 151O-IV-12 151D-IY-19 151O-IV-20 151O-IV-27 1510-IV-19 151O-V-6 151O-VII-15 151O-X-27 151O-X-7 151O-X-16 151O·X-16 151O-X-16 151O-X-30 1510-X-30 151O-XI-2 151O-XI-15 1510-XII-10 151O-X-23 1510-YI-1O 1510-X-9 151O-X-28 1511-1-2 15ll-II-lI 151H-lI 1511-1-21Y 1511-X-23 1511-1-13 1511-1-29 1511-11-1 1511-11-1 1511-I1-1I 1511-11-11 1511-XII-28 1511-IY-I 1511-Y-23 1511-I1I-1O 1511-Y-lI 1511-YI-16-27 !511-X-6 1511-XI-25 1511-XII-22 1511-XII·5 1512-1-12 1512-1-30 1512-I1I-1 1512-IY-2 1512-IV-6 1512-VI-3 1512-IX-23 1512-X-12 1512-IX-3 1512-XI-17 1512-XI·27 1512-XII-6 1512-XII-6 1512-XII-16 1513-1-4 1513-1-9 1513-1-12 1513-1-26 1513-1-9 1513-11-22 1513-11-25 1513-11-26 1513-111-4 15131513-IY-2 1513-IY-2 15i3-1X-1 1513-Y-12 1513-YIII-28 1513-YIII-28 1513-1X·17 1513-IJ{-20 1513-IX-20 1513-IX-20 1513-IX-22 1513-1X-24 1513-1X-24
Trigo (molos)
6 8 I I I 2 2 I 6 4 3 3 3 1,5 I 112 20 2 2 112 20
10 I 30 alqueir. 30 alqueir. I 2 I 1 1,5 20 alqueir. I 3 8 I 2 8 30 alqueir. 4 1,5 2 30 alqueir. 4 30 alqueiro 30 alqueir. 30 alqueir. 2 I 4 I 2 8 I 2 30 alqueir.
30 alqueir. I 2 I I 30 alqueir. 2 2 30 alqueiro I 30 alqueir. 30 alqueir. 40 alqueir. 30 alqueir. 5 5 I 3 4 2 5 5 lOe 16 aI. 5 I 2
Açúear (arrobas)
Dinheiro (reais)
42 7 52 7 7 6 12 13 6 42 26 21 21 21 12 8 3 140 3S2oo 14 3 e 8 am. 140 70 4 4 4 4 14 7 6 9 2 7 21
56 7,5 16 56 3 e 24 ar. 18 9 10 2,5 24 2,5 lSOOO IS800 7S2OO 1$000 ISOOO 12S000 IS300 3S2OO S750 S800 S900 3S2OO IS600 IS600 3S000 3S2OO S800 IS600 S700 S800 IS066 S750 5S000 2S000 IS200 S960 6S050 3S000 6S000 6S5OO 14S000 7S000 IS600 3S000
Devedor
Credor
- - - - - - - - - - - - - - -
Estevão Sanche, Sebastião Gonçalves Marte Teixeira m. Diogo de N-oya Gonçalo Fernandes Pedro Gonçalve, Gonçalo Fernandes João Fernandes Afonso Anes João Escórcio Afonso u.ndeiro Pedro Lourenço Patrónia Gonçalves. m. Benoco Amador Gonçalo Fernandes Heitor Nunes Jerónimo Fernandes Gonçalo Aires Benoco Amador Diogo Gil
Luís Vaz de Negro Luis Vaz de Negro Luís Vaz de Negro Luis Vaz de Negro Luis Vaz de Negro Luis Vaz de Negro Luís Vaz de Negro Luí, Vaz de Negro Luís Vaz de Negro Luis Vaz de Negro Luis Vaz de Negro Luís Vaz de Negro Luis Vaz de Negro João Rodrigues Namorante Vaz Luís Vaz de Negro Luis Vaz de Negro Duarte Rodrigue, (ren.)
Trigo
Dala
(moios)
c
1513-IX-24 1513-IX-24 1513-IX-24 1513-IX-24 1513-IX-24 1513-IX-25 1513-IX-26 1513-IX-26 1513-IX-26 1513-IX-21 1513-IX-JO 1513-X-12 1513-IX-5 I513-IX-24 1513-XIl-18 J513-XIl·19 1514-IV-26 1519-11-1
c
I
I I
I 6 I
I I
30 alqueir. I 20 alqueir. II
I I I
15 6 e 40 alq.
Açúcar (arrobas)
Uinheiro (r~ais' _
IS600 IS600 IS6(X) IS(,(X) 9S000 IS600 IS600 IS600 S800 IS600 S533 IIS950
IS51XJ S300 IS11XJ 19S5OO 6S000
Fonte: A.N.T.T., C.C., I1-21 a 27,5,99,30 e 31, 33, 104,35 a 38, 41 a 43,185,50,56,60,63,70,88,143.
20, 83, 79, 46.
203
QUADRO N.o 13 MERCADORES E SEUS AGENTES/PROCURADORES Mercador
João Francisco Affaitati Diogo Afonso de Aguiar Pedro Afonso de Aguiar Pedro de AyaIla João Vaz de Almada Janim Bicudo Jorge Lopes Bixorda
Rui de Castanheda Francisco Castanho Claaes João Coquet Charles Correa Cristóvão Godinho Rui Gil B. Marchioni Tohias de Marim Bemardim de Medeiros Pera de Mimença B. MoreIli
Leonardo Nardl João Odom Garcia Pimentel Álvaro Pimentel João Álvares Pereira Jerónimo Semigi Welsers
Data
-1539 1504
1530 1528 1529 1506 1520
1525-1526 1505 1504 1507-1510 1530 \526 1506 1506 1507-1513 1535 1530 1524 1526 \528 1508 1509 1509-15\0 1504-1505 1527 1509 \506 1506 1507-1510
Feitor ou procurador
Gabriel Affaitati, Luca António, Cristóvão BacoIlo, CapeIla de Capellaoi, João Dias, João Gonçalves, Matia Manardi. Maffei Rogell, Lucas Giraldi Bano Brocone Capella de Capellani João Valdavesso João Rodrigues Castelhano, Simão Fernandes, João do Vale Feducho Lamaroto Matia Manardi João Rodrigues Castelhano Janim Bicudo Quirio Catanho Jorge Erndorfor, António Leonardo Charles Corroa João Pardo. João Valdavesso. João Rodrigues Castelhano Lucano GriIlo Lucano GriIlo Feducho Lamoroto, BeRaco Amador João Gonçalves, João Rodrigues João Rodrigues Castelhano João Mendes, João Rodrigues Castelhano João de Valdevesso João de Escalante Feducho Lamaroto e Benaco Amador Benaco Amador Cristóvão BocalIo, B. Marchionni, António Leonardo, João Augusta Feducho L.maroto António Boto Estevão Bogno, Gabriel Affaitati, Jorge Lomelim Benoco Amatori Feducho Lamarolo Bona Brocone, Benoco Amatori João Augusta, Bona Brocone. Jorge Erndorfor, Jácome Holzbock. Leo Rovensperger e Hans Schonid
Fonte: Fernando Jasmins Pereira, Os estrangeiros na Madeira entre 1500-1537
204
QUADRO N.o 14
PROCURADORES E AGENTES·PRAÇA DO FUNCHAL 1500·1537 Procurador I Agente
Mercador
Simão Acciaiuolli Gabriel Affaitati João Francisco Affaitati João de Agusta Benoco Amatori
B. Morelli, Lapo de Azevedo Cristóvão Bocollo. Garcia Pimentel Garcia Pimentel, Pedra Afonso de Aguiar e João Rodrigues de Noronha Welsers, B. Morelli
Jamin Bicudo
Rui de Castanheda João Francisco Affaitati, Bt Morelli João de Odom Jerónimo de Semigi, João Francisco Affaitati, Welsers. Diogo Afonso de Aguiar Pedra Afonso de Aguiar Jorge Lopos Bixorda, Pera Mimença, Pero de Ayala, Charles Correa Francisco eatanho João Coquet João Francisco Affaitati, Janim Bicudo Welsers Pera de Mimença D. Pedra de Moura Santogueda Pera de Ayala João Francisco Affaitati João Francisca Affaitati, Janim Bicudo, Tobias Marim Cristóvão Godinho, Rui Gil Welsers Leonardo Nardi, João Álvares Pereira, João Vaz de Almada, B. Marchionni, B. Morem Claves, Garcia Pimentel, B. MoreIli Garcia Pimentcl João Francisco Affnitati João Francisco Affaitati, Janim Bicudo Feducho Lamaroto, B. MoreIli Jorge Lopes, Bixorda, Pera de Mimença, Charles Carrea Tobias de Marim, Bemardim de MEdina, Pero de Mimença Jorge Lnpes Bixorda, Pera de Mimença. Charles Correa, Pera de Ayala Pera de Ayala
Cristóvão Bacono António Boto Bona Brocone CapoUa CapoUani João Rodrigues Castelhano
Quinio eatanho Charles Correa
João Dias Jorge Emdorfor
João Escalante João Esmeralda, O Velho Franceslindo Frances Simas Fernandes Lucas Giraldi João Gonçalves Lucano GriUo Jácome Holzhock Feducho Lamaroto António Leonardo J. Lomellin
António Luca Malia Manardi B. Marchionni João Pardo João Rodrigues João Valdavesso João da Vale
B. Marchionni. B. MoreIli, Álvaro Pimentel, Jerónimo Sernigi, Francisco Garducho
Fonte: Fernando Jasmins Pereira, ibidem.
205
QUADRO N.o 15 FRETAMENTO DE EMBARCAÇÕES NAS CANÁRIAS SÉCULO XVI Percurso
Data 1507-X-7 1507-XI·15 1508-XI-12 1508-XI-13 1509-1-5 1509-1-8 1509-lV-9 1509·Y-30
Tenerife-Cabo Aguer Tenerife-Cádiz Abona-St.' Cruz-Sevilha-Lisboa St.· Cruz~Cádiz Isletas-Cádiz ou Câdiz Tenerife-Gomera Tenerife-Cádiz Abona-St.' Cruz-Cádiz
1509·YI-15 1509-YII-15 1509·XI·3 1509-XI·12 1509·XI-26 1510-11-26 l51Ó-III-? 151O-In-18 1510-III-20 I51O·II1-27 151O-YIII·24 1510·IX-13 1511·1I·J3 1511·I1-16 151I·In-31 1511·IY-5
St.' Cruz-Pavro-St.a Cruz-Funchal St.· Cruz-Taoro-St.° Cruz-Cádiz Tenerife Tenerife-Lisboa ou Sevilha SI.' Cruz-Isletas St.:I Cruz-Madeira St.' Cruz-Abona·St.' Cruz-Setúbal ou Lisboa St.· Cruz-Abana-5t.· Cruz-Orao Caoaria-Lisboa SI.' Cruz-Hoyos-Castela 51.' Croz-Orao Caoaria-Sr.· Cruz-Berbéria SI.' Cruz-Cádiz St.' Cruz-Oaliza SI.' Cruz-Berbéria St.· Cruz-Berbéria St.· Cruz%Sanlúcar ou 51.a Maria 5t.· Cruz-Garachico-St.· Cruz-Sardina-Isletas
1511-Y-7 1511-Y·9 1511-Y·15 1511-Y-20 1511·YII-2 1511-YII·3 1511-VlI-16 151 I-IX-I 1511-IX-4 1511·X·I 1516·X-29 1517·1II-14 1518-X·23 1518·X-29 1519-Y-9 1519·YI·9 1519·XI·3 1520-IY-17 I 520-IY-309 I 520-Y-5 1520-Y-28 1520-YI-9 I 520-VII·3I
St,St.' SI.' St.· SI.' St.· St.· 5t.·
Cruz-Garachico-FaiaJ Cruz-Cádiz Cruz-La Palma-Cádiz Cruz ou Orotava-Galiza Cruz-Castela. Ayamonte ou Lepe Cruz-Orotava-Madeira-Raiona ou Vigo Cruz-Lanzarote-Oaliza Cruz-OfOlava-Lisboa
S1.· Cruz..(Jomera
SI.' Cruz-Galiza Isletas-Cádiz Agando·La Palma Isletas-Berbéria Islelas·Cádiz Isletas-Génova Hlerro-Sevilha Isletas Berbéria St.' Cruz-Taganana-St.' Cruz-Ysletas-San Lazaro-Telda Sr. li.
Cruz~Garachico-Orotava-Safi
St,a Cruz-Lisboa St,a Cruz-Buenavista-Lisboa ou Setúbal St.lI. Cruz-Aveiro
St. li Cruz-Madeira
1522-XII-IO
St. ll Crnz-Taganana-Telda St.' Cruz-Berberia St.' Cruz·Cabo de Aguer SI.' Cruz-Safi Isletas-Amberes Isletas-Sevilha Isletas-Agaeta-Cádiz St. ll Cruz-Berberia SI.' Cruz-Bérberia Islestas-Cádlz Agaete-Cádlz Isletas-St.o Domingo
1522-XII-26 1523-IlI-21
Cale ta-San Telmo--Berberia SL ll Cruz-Madeira-Tavira-Cádiz
I523-lV-2I I523-YII-1O
St. a Cruz-Fuerteventura SI.' Cruz-Aveiro-Vila do Conde
1523-IX-22
SI.' Cruz-Melenara (Oran Canaria)
1523-X-30
St.· "Cruz-Lanzarote
1523-YII-I 1523-YI-23 1523-XII-26 I524-Y-S I524-YlII-I 5
SI.' Cruz-Cabo Aguer lerez-Oran Canaria Isletas-Orolava-Caldar SI.' Cruz-Berberia Sr.· Cruz-Indias
1521·VJI·2 1521·YIlI-7 1522-1·18 I522-I1-24 I522-lV-22 I 522-YI·22 I522-YII·30 I522-VlII-1I I522-YIlI-I 3 I522-X-25
206
Mercadoria
Custo
11 000 rnrs por mês
buscar escravos
185 mrs/cax.-
70 eX.as de açúcar
15000 mrs. moeda Castela420 quintais de pez, 15 ex. a açúcar 125 mrs/caixa 50 ou 60 ex. li. de açúcar 300 ou 350 mrs/ f;lnega 500 ou 600 fanegas de cevada 18 rnrs/fanega cevada 4 reais/caixa 80 ex.as açúcar 38 mrs/qulntal 450 quintais de pez de Abona e 130 de St.- Cruz 12 000 mrs moeda ilha Pez 190 mes/caixa 70 ex. as açúcar 1/2 dobra a bota 20 botas de vinho 15000 mrs 420 quintais de pez e 15 ex.· de açúcar 112 real caixa 100 ex.as 33 rnrs. fanega e quintal 300 quintais de pez e 40 fanegas de trigo 27 000 mrs moeda Portugal Pez 100 dueados moeda ouro Pez 570 mrs/tonelada cevada e outros 12 000 mrs ao mês 554 mrs de Castela/tonelada25 toneladas de trigo 650 mrs + averias 350 fanegas de trigo 3S dobras ouro/mês 11 333 mrs/mês 200 mrs da Castela/dúzia 80 dúzias de tábuas 700 mrs/quintal urzela e açúcar 130 rnrs ex.500 mrs/tonelada 1000 fanegas de cevada II 770 mrs de Castela cevada 600 mrs/lonelada 250 mrs/tonelada 2S toneladas de cebo 530 mrs/tonelada trigo 500 mrs/tonelada 200 fanegas de trigo e 100 de eevada 400 rnrs/ tonelada trigo 16 000 mrs de Porto 6000 mrs 500 fanegas de trigo 1000 mrs/tonelada 4 reais prata/caixa 130 ex.· de açúcar 10250 mrs 2 barcas de pe~ra e cal 35 dobras ao mês 4 reais prata/mês 140 cx.· açúcar I ducado ouro/caixa açúcar 9000 mrs madeiras 35 dobras ouro/mês 45 dobras de ouro 4 eixos para- engenho 425 mrs/tonelada cevada 480 mrs/tonelada trigo ou cevada 480 mrs/tnnelada cevada 500 mrs/tonclada 800 fanegas de cevada 27 1/2 ducados de Portugal trigo e passageiros 500 mrs per pau 200 xaprães de madeira 48 dobras/mês 20 cruzados de oiro tabuado, madeiras 20 cruzados de ouro 20 duzias de tabuado e 100 queijos 7 coroas de ouro/tonelada açúcar e remei 60 ducados arrobas 60 ex.a açúcar 4 1/2 reais prata a ex.- 18 cx. a de açúcar 35 dobras/mês 45 dobras/mês 6 reais prata nova 6 reais prata nova 7 castelhanos de ouro marinheiros 3 dobras mestre 15
45 mrs/quinlal 700 mrs/tonelada 20 dobras de ouro 750 mrs%quintal 35 mrs/tonelada 18 rnrs de fanega 15 mrs de fanega I 1/2 reais fanega 35 mrs/quintal 600 mrs fanega 47 dobras de ouro
24 dobras de ouro 42 dobras de ouro 50 ducados ouro
400 quintais de pez e 130 fanegas de trigo
trigo e pez trigo e cevada em 2 viagens 300 fanegas de trigo e 30 quintais de biscoito 600 fanegas de cevada e 471 de trigo 47 botas de vinho e 6 serones de Castelan madeira
Data 1524-VIlI-16 I524-IX-24 1524-XI-18 I526-X-9 1527-VIIl-14 I528-V-S I530-VII-27 1531-VIlI-2 1532-V-2 1533-V-30 1534-IV-7 I534-V-20 1534-VII-16
Percurso
SI. a Cruz-Madeira SI.' Cruz-Abono-Baynna St. a Cruz-Berberia Isletas-Cádiz Se a Cruz--Orotava-Garachico-Lanzarote-Setúbal Isletas-Fuerteventura-Berberia Isletas~Cádiz·Génova
Isletas-La Palma-Cádiz lsletas-'Sardina ou Agate-Am6eres Isletas-Amberes lsletas-Amberes Melenara-Isletas-Amberes
Mercadoria
Custo
700 mrs/fanega 500 mrs/quinlal 50 dobras ouro/mês 100 dueados ouro 6 1/2 reais prata/cx,:II
600 fanegas de trigo
800 quintais de pez gado, queijo ...
210 ex. a de açucar 550 mrs/tonelada 2400 fanegas de cevada 28 dobras/mês mestre 3 ma~ rinheiros 2 1/2 quintal 15 reais pratafcx.açúcar 1/2 ducado ouro/ex. 1I 1100 a 120c.x. a açúcar 5 dueados ouro/lOneladq. 35 toneladas de açúcar e remei 5 dueados ouro (tonelada) açúcar e remei
5 ducado. ouro (tonelada) 30 pipas de mel e açúcar 5 ducados ouro {lonelada) açúcar e mel
Fonte: Emma Gonzalez Yanes, Protocolos dei escribano Hernan Guerra, La Laguna, 1958; Manuela Marrero Rodriguez, Protocolo dei escribano Juan Raiz de Berlanga, Tenerife, 1977; Manuel Lobo, Protocolos de Alonso Gutiérrez, Tenerife, 1979; Fernando Calvijo Hemandez, Protocolos de Hernan Guerra, Tenerife, 1980; Idem, «Los documentos de fletamentos ...", in IV Coloquio de História Canario Americana, I, 56-75; A.H.P.L.P., Protocolos de Cristobal de San Clemente, n. O 733-741.
207
QUADRO N.o 16 FRETAMENTO DE NAVIOS NA MADEIRA SÉCULO XVI Data 1503-1-18 1507-IX-25 1509-X-4 1509-X-4 1512-IV-15 1516-IX-30 1517-IV-25 1517-V-12 1520-V-23 1529-VIJ-30 1583-IX- I 2 1591 1591 1591 1591 1591 1591 1591 1591 1591 1591 1591 1591 1505 1505 1505 1505 1505 1505 1505 1505 1505
350 cs. Funchal-Lugares de Baixo I 170 cs. Funchal-Lisboa 5 755 cs. Funchal-Safim Funchal-Safim 14 000 cs. 5 700 cs. Funchal-Safim Funchal-Lugares de Baixo 400 rs. 200 cs. Funchal (do Calhau à nau) Nane da Ilha-Funchal 2 500 cs. 6 800 cs. Lisboa-Funchal Lisboa-Funchal 3 500 cs. 340 cs. Funchal-Lisboa Funcha1-Machlco-SI.· Cruz-Calheta-Ponta Delgada 500 cs. Funchal~Machico
Machico-Santa Cruz Funchal-Calheta Calhela-C. dos Lobos Calheta-Ponla de Sol Santa Cruz·FunchaI Ponta de Sol-Ribeira Brava do Calhau ao navio (Funchal) Funchal-Ribeira Grande Saída do Nordeste (S. Miguel) Ponta Delgada-Vila Franca Vila Franca-Ponta Delgada S. Miguel-Angra (Terceira) Terceira·Lisboa Funchal·Lisboa Funchal·Lisboa Madalena-Funchal Madalena-Funchal Calheta-Funchal Ribeira Brava-Funchal Funchal;Calheta Ribeira Brava-Funchal Funchal·Lisboa
Mercadoria
Custo
Percurso
2 cruzados
360 cs. I 570
Arma de socorro e Safim
Arma de socorro e Safim Arma de socorro e Safun Passageiros: contador e recebedor
Lenha Mastro de Barbusano Carta régia
Anilharia Passageiros: 10 soldados Passageiro: o inquisidor Passageiro: o inquisidor Passageiro: o inquisidor
Passageiro: o inquisidor
I 000 i 000 600
5 300 70000 280 600 780 25 680 70000 I 671 1206 330 352 300 ISO 300 300 2010
Passageiros: contador e recebedor 34 barris de conserva
Passageiro: o inquisidor tostões
r5. cs. cs. cs. cs. cs.
Passageiro: Q inquisidor Passageiro: o inquisidor Passageiro: o inquisidor Passageiro: o inquisidor Passageiro: o inquisidor Passageiro: o inquisidor o fato do inquisidor PaJi.sageiro: o inquisidor Passageiro: o inquisidor Açúcar Açúcar 16 arrobas de açúcar 16 arrobas de açúcar Passageiros. escrivão e Diogo Fernandes passageiro: recebedor e escrivão Passageiro: contador e escrivão Contador e escrivão Caixas e barris
Fonte: A.N.T.T., Inquisição de Lisboa, ms. de 148-6-287; Idem, N.A., n. o 903B; Idem, Corpo Cronológico II, 7, 16; 66-66; 13-89; 89-137; 157-68; 256-80; 18-151; 19-36; 31-130.
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PÀ
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ARQUIVO NACIONAL DA TORRE DO TOMBO
Corpo Cronológico II parte 1501-1600, maços 4-274.
Inquisição de Lisboa Livro Livro Livro Livro Livro Livro
de Denunciações das ilhas, Alentejo e Beira, 1575-1576; das Denúncias da visitação das ilhas dos Açores, 1592-1593; da Reconciliação das ilhas, Alentejo e Beira, 1575-1576; das Rectificações da visita à ilha da Madeira !t!ita por Jerónimo Teixeira' no ano de 1591; das Rectificações da visita à ilha S. Miguel, 1592; de registo dos Culpados Resultantes da visita à ilha da Madeira I em 1591.
Núcleo Antigo Entrada e saída da alfandega do Funchal, dízima das mercadorias, 1523; Livro de contas da alfandega do Funchal de 1505-1506; Livro da Alfândega de Santa Cruz, 1524; Livro da despesa do açúcar, ano de 1522-1523, Santa Cruz;
211
Livro Livro Livro Livro Livro Livro Livro Livro Livro Livro Livro Livro
dos Direitos do açúcar de Machico do ano de 1530; dos Direitos do açúcar da Ribeira Brava de 1517; dos Direitos do açúcar da Ribeira Brava de 1536; dos quartos da comarca da Calheta, ano de 1509; dos Quartos do Funchal, 1504-1505; dos quartos do Funchal, Machico, Ribeira Brava, Calheta, 1509-1511; dos quintos do açúcar, ano de 1537, da comarca da Ponta de Sol; dos quintos do assúcar da Alfândega da Cakheta, ano de 1534; dos quintos do Funchal, 1509; da receita e despesa oe João Tavares, recebedor da ilha de S. Miguel, anno de 1526; de Registo de Leis e Regimentos, 1516-1520; da sayda dos asuquares de varias pessoas da Alfandega de Ponta de Sol; anno de 1526;
ARQUIVO REGIONAL DA MADEIRA Camara Municipal do Funchal
Livro de Posturas desta câmara da cidade do Funchal aprovadas e feitas conforme a ordenaçam dei Rey Nosso Senhor, 1587; Registo Geral, tomos 1 a 4 Tomo Velho; Vereações, 1470-1599; Misericórdia do Funchal
Livro do Tombo, n.O 684, 710-711; Julgado de Residuos e Capelas
Livro do Tombo; Processos de Capelas, cx. as 3, 4, 8, 10-11, 15, 20-21, 24, 26-27, 29, 34, 37, 43, 48, 51, 53-54, 60. Paroquiais (Funchal)
Baptizados, 1538-1600; Casamentos, 1539-1600; Óbitos, 1~38-1600; BIDLIOTECA DEL MUSEO CANARIO Agustin Mil/ares
Anales de las Islas Canárias; Coleción de documentos para la história de las Islas Canárias; Extractos e apuntes. y copias dei Archivo de la inquisición de Canárias; Indice geral de todas las personas que han sido quemadas acconciliadas penitenciadas absultas y suspensas sim causas por el tribunal de la Inquisicion de las islas canarias / ... /, 1875. BmLIOTECA PúBLICA E ARQUIVO DE PONTA DELGADA Fundo Ernesto do Canto
Cartas, n.O 29; Casa Miguel Canto e Castro, n.O 3-9; Collecção de papeis de Pero Anes do Canto e seu filho António Pires do Canto, 1503, n.O 20-A; Documentos Antigos, n. ° 26; Documentos avulsos, 1521-1609; Documentos dos livros da Câmara de Ponta Delgada, 1447-1806, n.O 168; Escripturas, 1518-1599, n.o 56; Extractos de Documentos Michae1enses, vol. II-VIII; Tombo da Alfandega de Ponta Delgada: autos de arrematação 1540-1550, n.O 52; Tombo de Escripturas de compras e de cartas de Sesmarias, 1482, 1515, n.O 20.
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PÀ
ÍNDICES
PÀ
ÍNDICE DOS MAPAS E GRÁFICOS Vias de comunicação e portos na Madeira, Século XVI Vias de comunicação de S. Miguel Rotas e portos de comércio nas Canárias e Açores Sociedades Comerciais no Funchal, Século XVI Agentes de Transporte e comércio Agentes de transporte, século XV e XVI Almocreves na Madeira, século XVI Marinheiros e barqueiros na Madeira, século XVI Mercadores no mundo insular ' Mercadores, áreas de proveniência Mercadores do reino na Madeira, séculos XV e XVI Mercadores espanhóis nas Canárias, século XVI Mercadores nos Açores, século XVI Mercadores no Mundo Insular, séculos XV e XVI Vinhas e latadas na Madeira, século XVI Produção de açúcar na Madeira Comércio de açúcar da Madeira, 1490-1550 Rotas e principais mercados do comércio de açúcar da Madeira
. . . . . . . . . . . . . . . . . .
43 45 48-49 61
65 67
69 71 75 77 88 89
92 93 94 106-107-113 131 133
225
ÍNDICE DOS QUADROS Transporte do açúcar da Calheta para o Funchal Cabrestantes do porto do Funchal Preço das embarcações, século XVI Preço do frete nas Canárias Preço do transporte do Inquisidor em 1591 Preço do frete na Madeira O acúcar mercadoria de troca na Madeira, 1508-1509 Pagamentos em açúcar na madeira, 1509-1537 Obrigações de pagamento do trigo dos Açores Sociedades comerciais no Funchal século XVI Sociedades para o comércio do açúcar Sociedades para o arrendamento dos direitos : Almocreves na Madeira ' Agentes de transporte marítimo nas ilhas Agentes de transporte marítimo na Madeira Lojas de comércio no Funchal Mercadores nas ilhas Mercadores nas ilhas Mercadores estantes e vizinhos Mercadores estrangeiros Mercadores estrangeiros na Madeira Venda do açúcar dos direitos na Madeira, 1502-1534 Arrendamento dos direitos reais na Madeira Mercadores do reino na Madeira, séculos XV e XVI Mercadores espanhóis nas Canárias, século XVI Mercadores na Madeira Açoreanos e canários na Madeira, século XVI Dízimos nas Canárias Dízimos eclesiásticos em 1585 Relação consumo-produção de cereais nas Canárias no século XVI Comércio de cereais em Tenerife no século XVI Comércio de cevada em Tenerife no século XVI Registo de trigo entrado no porto do Funchal, século XVI Escápulas de açúcar na Madeira em 1498 Comércio do açúcar na Madeira em 1498 Comércio do açúcar na Madeira 1490-1550 Exportação de açúcar na Madeira, 1500-1540 Compra de açúcar na Madeira, 1500-1540 Exportação de açúcar para Viana do Castelo Os mercadores e o comércio do açúcar Principais mercadores estrangeiros Preço do açúcar no mercado europeu Destino dos navios normandos, 1530-1540 Navios portugueses com açúcar para Antuérpia 1536-1550 Comércio de Cereal das Ilhas Preço de venda ao público do vinho da Madeira
226
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
44 46 52 53 53 54 56 57 58 60 62 62 68 70 70 76 76 76 78 79 80 82 83 88 89 91 99 102 105 108 126 127 128
130 130
132 134 135
132 135 135
136 137 137 143 143
ANEXOS QUADROS
Quadro n. O 1 - Mercadores na Madeira, séculos XV a XVI . . Quadro n. o 2 - Mercadores nos Açores, séculos XVI . Quadro n o 3 - Mercadores nas Canárias, século XVI Quadra n. o 4 - Mercadores nacionais e o comércio de açúcar na Madeira . 1500-1540 ' .. , Quadro n. o 5 - Os mercadores estrangeiros e o comércio do açúcar na Madeira 1500-1540 . . Quadro n. o 6 - Agentes de transporte marítimo na Madeira . Quadro n. o 7 - Mareantes na Madeira, século XVI . Quadro n. o 8 - Mestres de navio nas Canárias, século XVI . Quadro n.O 9 - Almocreves nas Canárias, século XVI . Quadro n. o 10 - Almocreves na Madeira, século XVI . Quadro n.o 11 - Vendeiros na Madeira, séculos XV e XVI , .. , Quadro n. o 12 - Obrigações em trigo dos Açores, 1509-1519 . Quadro n. ° 13 - Mercadores e seus agentes/procuradores Quadro n.O 14 - Procuradores e agentes praça do Funchal, 1500-1537 . Quadro n. o 15 - Fretamento de embarcações nas Canárias, século XVI Quadro n. o 16 - Fretamento de navios na Madeira, século XVI .
165-176 177-178 179-185 186-188 189-190 191-192 193-195 196-197 198 199-200 201 202-203 204 205 206-207 208
227
ÍNDICE GERAL ABREVIATURAS
5
INTRODUÇÃO
7-9
I PARTE O ATLÂNTICO E AS ÁREAS INSULARES 1. A ECONOMIA INSULAR , " 2. AS ÁREAS INSULARES A EXPANSÃO E O COMÉRCIO NO ATLÂNTICO: AS ROTAS DE NAVEGAÇÃO E COMÉRCIO.....
13-16 17-24
II PARTE O COMÉRCIO INTER-INSULAR 1. FACTORES 1.1 Regulamentação das actividades económicas 1.2 Técnicas 1.3 Agentes 1.4 Emigração inter-insu1ar '" 1.5 Os produtos
. . . . . .
27-157 27-40 41-63 64-95 96-100 101-118
2. COMÉRCIO
.
119-158
. . . .
120-137 138-140 141-146 147-158
2.1 Mercados e produtos insulares 2.2. Comércio de cabotagem 2.3. Comércio Inter-insular '" 2.4. Comércio atlântico-europeu
159-161
CONCLUSÃO ANEXO: QUADROS
.
163-205
FONTES E BIBLIOGRAFIA
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209-221
ÍNDICES
.
223
. .
225 226
Indíces dos mapas e gráficos Índice dos quadros
IMPRENSA DE COIMBRA, LIMITADA
Largo de S. Salvador, 1-3 - Coimbra