Psanto

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Monumento Evocativo do descobrimento do Porto Santo

Escultura de António Aragão.(1960) S. BRANDÃO E O PORTO SANTO

Não existe consenso quanto à origem do nome da ilha do Porto Santo. Cadamosto é peremptório relacionar com o dia da descoberta no dia de Todos os Santos, mas segundo alguns autores, este nome relaciona-se com a lenda de S. Brandão. O Porto Santo seria o paraíso que o monge procurava e encontrou. Conta Martim Behaim que no ano de 565 d.C. o monge S. Brandão saiu da Irlanda com alguns companheiros à procura da Terra Prometida. Em pleno oceano foram assolados por uma tempestade acabando salvos numa ilha que os levou ao encontro da procurada terra de promissão, alcançada após terem ultrapassado uma cortina de espessa névoa. Aí estiveram sete anos, findos os quais, regressaram à Irlanda. A mais antiga representação da ilha de S. Brandão surge no mapa-mundo de Ebstorf de cerca 1270. Nas cartas, Dulcert (1339), dos irmãos Pizzigani (1367) representa-se a ilha de S. Brandão no local do Porto Santo.

DESCOBRIMENTO De acordo com a tradição, o descobrimento do arquipélago teria ocorrido a partir de 1418, quando João Gonçalves Zarco ao comando de uma barca, atingiu a ilha do Porto Santo. E, no ano i O DIA DO

“No tempo do infante D. Henrique, uma caravela correndo com tormenta viu uma ilha pequena, a qual está próxima da Madeira que se chama Porto Santo, não povoada.(…) E voltou a caravela anunciando ao infante a terra descoberta, (…). Pouco tempo depois mandou o senhor infante uma caravela para visitar e examinar a ilha descoberta de Porto Santo, onde foi o piloto Afonso Fernandes de Lisboa, e encontraram ela. E passaram além direitamente à ilha agora chamada de Madeira, e perto daí outra ilha agora chamada Deserta.(….)” [Diogo Gomes, “As Relações do Descobrimento da Guiné e das ilhas dos Açores, Madeira e Cabo Verde”, Boletim da Sociedade de Geografia, 1898-1899. ed. de Gabriel Pereira] “Em casa do Infante havia dois escudeiros nobres de criação daquele senhor, homens mancebos para muito, os quais depois da vinda que o infante fez do descerco de Ceuta,… requereram que os aviasse como pudessem fazer de suas honras, como homens que o muito desejavam, parecendo-lhes que seu tempo era mal disposto se não trabalhassem alguma coisa por seus corpos.

Vendo o infante suas boas vontades lhes mandou aparelhar uma barca, em que fossem de armada contra os mouros, encaminhandoos como se fossem em busca de terras da Guiné, a qual ele já tinha vontade de mandar buscar. E como Deus queria encaminhar tanto bem para este reino e ainda para outras muitas partes assim que com tempo contrário chegaram na ilha que agora se chama de Porto Santo, que é junto com a ilha da Madeira, na qual pode haver sete léguas em roda. E tornando dali para o reino falaram sobre isso ao infante contando-lhe a bondade da terra e o desejo que tinham acerca de sua povoação, de que o infante muito prouve, ordenando logo como pudessem haver as coisas que lhe cumpriam para se tomar a

dita ilha. [ Gomes Eanes de Zurara, Crónica de Guiné, Porto,1973, pp.345-351 ] “E andando assim neste trabalho de se encaminharem para partir, se juntou à sua campanha Bartolomeu Perestrelo, um fidalgo que era da casa do infante D. João, os quais tendo todas as suas coisas prestes, partiram em viagem da dita ilha.” [Gomes Eanes de Zurara, Crónica dos Feitos da Guiné, Porto, 1937, cap.CXXXII] “Esta ilha do Porto Santo (…) foi descoberta há vinte e sete anos pelas caravelas do sobredito senhor infante, que a fez habitar por portugueses. Nunca dantes fora habitada. Esta ilha da Madeira mandou-a o dito senhor infante só de há vinte e quatro anos para cá, e nunca foi dantes habitada”. [Alvise Cadamosto, Navegações, in Silva Marques, Descobrimentos Portugueses, vol. I]

ZARCO, João Gonçalves (1395?-1467/1472?)

Escudeiro da casa do infante, armado cavaleiro em Tânger, evidenciou-se como o principal obreiro do reconhecimento e ocupação do arquipélago. Antes foi corsário nas águas ribeirinhas da costa algarvia e o primeiro a utilizar a bordo uma peça de artilharia, o trabuco. Terá nascido em 1395 em Tomar, filho de Gonçalo Esteves Zarco e de D. Brites. Esta era filha de João Afonso, vedor da fazenda régia que teve o encargo de orientar o povoamento da Madeira. Casou com Constança Rodrigues, de quem teve os seguintes filhos: João Gonçalves da Câmara, Rui Gonçalves da Câmara, Garcia Rodrigues da Câmara, Helena Gonçalves da Câmara, Isabel Gonçalves da Câmara e Catarina Gonçalves Da Câmara. Ao receber, a 1 de Novembro de 1450, das mãos do Infante a posse da capitania, e dez anos depois a carta de armas (4 de Julho de 1460), via coroadas as suas façanhas no mar, nas praças de África e na ocupação da ilha. Morreu com idade avançada, talvez em 1467 ou em 1472, segundo outros, deixando aos descendentes um vasto património. Os restos mortais repousam hoje no Convento de Santa Clara, sendo para aí trasladados da primitiva capela de Nossa Senhora da Conceição de Cima, pelo filho varão. Zarco, ao contrário do que afirma a tradição não é alcunha resultante do facto de ser torto de um olho ou de ter morto no Norte de África um mouro com esse nome, mas sim apelido. A partir de 1460, com a carta de armas, deixou de usar o apelido Zarco passando a chamar-se João Gonçalves da Câmara de Lobos, perdendo com o tempo a parte final do título.

VAZ, Tristão(1390-1470)

Primeiro escudeiro, depois cavaleiro da casa do Infante. Foram as façanhas africanas que lhe valeram o último título e a notoriedade que o levou a ser conhecido simplesmente pelo nome de Tristão ou Tristão da Ilha. Por sua iniciativa armou uma caravela para o reconhecimento e povoamento da Madeira, tendo depois recebido em recompensa a posse da capitania de metade da ilha, conhecida como de Machico, por carta de 4 de Maio de 1440. Casou no reino com D. Branca Teixeira, de que teve quatro filhos e oito filhas. O varão, Tristão Teixeira, ficou conhecido pela sua arte de galantear as damas, o que lhe valeu o epíteto de Tristão das Damas. Pai e filho atribuíram pouca importância à administração da capitania, empenhando-se mais nas façanhas bélicas e nas diversões de carácter militar. Um e outro ficaram conhecidos pela prepotência do seu governo, sendo célebre o caso do castigo infligido a Tristão Barradas que o levou à perda para seu filho da capitania e ao degredo, sendo perdoado por carta de 17 de Fevereiro de 1452. Depois disto abandonou a capitania e passou a viver no Algarve, onde viria a morrer em Silves, com mais de oitenta anos. Segundo Henrique Henriques de Noronha (1722) “viveu 80 anos, governou 50, e faleceu em Silves no ano de 1470.”

Infante D. Henrique. Gravura(1734)

O INFANTE D. HENRIQUE (1394-1460).

É o quinto filho de D. João I e D. Filipa de Lencastre. Ficou para a História como o principal obreiro dos descobrimentos, mercê do panegírico de Zurara na Crónica de Guiné. Durante muito tempo entenderam-se os primeiros descobrimentos como obra sua, mas hoje todos estão de acordo que o processo foi nacional e que ele pode ser encarado como o símbolo disso. A partir de 1418 foi prior e administrador da Ordem Militar de Cristo e nesta condição interveio activamente, a partir de 1419, nas campanhas de corso na zona do Estrito, tendo uma armada para o efeito. Em 1433 recebeu como contrapartida da sua actividade marítima o senhorio da Madeira e a isenção no pagamento do quinto das presas do corso e o exclusivo do comércio do atum. Passados dez anos teve o direito exclusivo de exploração comercial dos territórios a sul do Bojador. E por bulas de 1455 e 1456 recebeu o governo espiritual destes territórios e a confirmação do direito de conquista e comércio exclusivo. POVOAMENTO DA MADEIRA: O REI OU O INFANTE ?

Uma das questões mais debatidas nos primórdios da História da Madeira prende-se com o protagonismo do rei D. João I e do infante D. Henrique no processo de (re)descobrimento e ocupação das ilhas do arquipélago. A leitura das crónicas leva-nos a concluir que tudo começou sob a orientação da coroa. De todas, a mais esclarecedora é a “Relação de Francisco Alcoforado” que diz ter o infante ordenado a João Gonçalves Zarco que “fosse logo a El Rei a Lisboa”. E foi o rei quem mandou preparar as embarcações para a viagem de reconhecimento da ilha como depois do povoamento. Em 1443 D. Duarte reclamava a sua intervenção referindo as ilhas “que agora novamente o dito infante per nossa autoridade povoa”. O próprio infante D. Henrique testemunha o protagonismo de seu pai ao afirmar em 1460 que “Por serviço de El-Rei meu senhor e padre de virtuosa memória, (...) comecei a povoar a minha ilha de Madeira haverá ora XXXV anos, E assim mesmo a de Porto Santo e daí prosseguindo a deserta (...)”. O infante diz que só em 1425 tomou conta do processo, enquanto a documentação estabelece o ano de 1433 como o de início desta intervenção e direito como senhor da ilha. Esta ideia contraria outra veiculada pelo próprio Infante nas cartas de doação das capitanias de Madeira e Porto Santo. Em 1440 ao conceder a posse da capitania de Machico a Tristão Vaz declara que este havia sido “um dos primeiros que por seu mandado fora povoar as ditas ilhas”. O mesmo surge quanto ao Porto Santo em 1446 e ao Funchal em 1450. Neste último caso o infante considera João Gonçalves Zarco como “o primeiro que por seu mandado povoara a ilha”. D. Afonso V, em 1454, tem outra opinião ao afirmar que “por serviço de Deus e nosso conquistou e povoou” as ilhas de Madeira e Porto Santo. Em 1461 reafirma que João Gonçalves Zarco fora o primeiro povoador aí enviado pelo infante. Esta ideia é expressa, mais tarde, pelo capitão do Funchal, Simão Gonçalves da Câmara: “esta ilha era uma horta do senhor infante e ele pôs e trouxe a semente e plantou estas canas e a deu a toda a ilha à sua própria custa (...)”. Isto contraria a ideia defendida por alguns de que a coordenação desta tarefa pertenceu ao rei, por intermédio do vedor da fazenda João Afonso.

De concreto apenas se sabe que foi no uso dos plenos poderes conferidos pela doação de 1433 que o infante D. Henrique distribuíu, a partir de 1440, as terras do arquipélago àqueles que haviam procedido ao reconhecimento delas e que seriam os seus capitães.

Infante D. Henrique. Estátua de Leopoldo de Almeida, inaugurada a 28 de Maio de 1947. Rotunda do Infante, Funchal

Capela dos Milagres em Machico, construída no local onde os portugueses encontraram,

segundo a lenda, no século XV, a cruz da sepultura de Robert Machim

O Senhor dos Milagres

Capela do Senhor dos Milagres em Machico Na vertente sul, para além da romagem de Nossa Senhora do Monte, persiste na vivência religiosa dos madeirenses o culto ao Senhor dos Milagres em Machico. Esta devoção ganhou fulgor a partir de 1803 com a aluvião que devastou o local e destruíu a capela. Desta só restou um crucifixo, encontrado por uma galera americana, que o entregou na Sé do Funchal. A 15 de Abril de 1813 a cruz regressou à nova capela, entretanto reconstruída, em procissão à luz de archotes. A partir de então ficou conhecida como a capela do Senhor dos Milagres e a imagem de Cristo crucificado como o Senhor dos Milagres. A memória deste fatídico dia 9 de Outubro é sempre evocada com a procissão em que a imagem é conduzida à igreja sob a luz de archotes e a iluminação da encosta com fachos, que se celebra todos os anos.

Palácio de S. Lourenço. Gravura de 1804

Palácio e S. Lourenço. Torreão

Palácio de S. Lourenço. Gravura de 1813

O Palácio de S. Lourenço, construído a partir do século XVI, por iniciativa da coroa, para servir como baluarte de defesa da cidade, ficou para a História como a expressão máxima do poder central no arquipélago. Primeiro com o capitão e, depois, a partir da união peninsular, com a figura do governador. No século XIX a separação dos poderes militar e civil obrigou a obras na fortaleza que passou a ser partilhada pelos governadores civil e militar. A situação manteve-se até a actualidade, sendo apenas o primeiro substituído pela figura do ministro da República, com o processo autonómico. “Adiante logo da alfândega... está a fortaleza Velha, que é a principal... e, assim como tem dentro água, não lhe faltam atafonas, fornos e celeiros para recolher os mantimentos e ricos aposentos, onde o capitão pousa, adornados com seu jardim e frescura.” [Gaspar Frutuoso, Livro Segundo das Saudades da Terra, Ponta Delgada,1979, p.111]

A Fortaleza/Palácio de S. Lourenço

Sala do Palácio de São Lourenço

A construção do primitivo baluarte foi ordenado em 1540 por D. João III. Em 1566, com o assalto dos corsários huguenotes, reconheceu-se a inoperância do mesmo, tendo-se avançado com a total transformação a cargo dos fortificadores Mateus Fernandes e Jerónimo Jorge, dando-lhe a forma do desenho traçado em 1654 por Bartolomeu João.

O conjunto destaca-se na frente marítima pela sua imponência. O torreão leste sobressai por evidenciar as marcas da primitiva construção com é o caso das armas manuelinas em cantaria da ilha A partir da ocupação filipina o edifício foi reservado a morada das autoridades superiores da ilha, perdendo as funcionalidades de fortaleza e adquirindo as de palácio de acolhimento de visitantes ilustres, convidados dos governadores no decurso dos séculos XVIII e XIX. O próprio rei D. Carlos I nele pernoitou em 1901. São vários os motivos de atenção e visita. Assim, no primeiro piso temos a sala gótica com abóbada de nervuras assentes com cinco ramos, fechada por uma Cruz de Cristo. Ainda, na entrada são de registar os retratos das autoridades da ilha: os capitães do Funchal, os capitães e governadores gerais e os governadores civis. Abaixo do plano da muralha, que se espraia sobre a baía, estavam as célebres fontes de João Dinis, destruídas em 1949 e que nos séculos passados abasteceram a navegação. Em 1993 foi inaugurada uma exposição permanente que conta a História do imóvel.

Alfândega do Funchal. Gravura de Bartolomeu João de 1654

Alfândega: sala do despacho

A primitiva Alfândega do Funchal, criada em 1477 no Largo do Pelourinho por ordem da Infanta D. Beatriz, só teve edifício próprio a partir do século XVI, por plano de D. Manuel. Aí esteve a alfândega até 1962, altura em que mudou para modernas instalações. Hoje o edifício antigo ressuscitou das ruínas sendo adaptado para sede da actual Assembleia legislativa Regional da Madeira, inaugurada em 4 de Dezembro de 1987. O projecto é da autoria do arquitecto Chorão Ramalho. Nesta adaptação salvou-se o que ainda restava da época manuelina, como o tecto de alfarge, arcarias góticas com capitéis das colunas e mísulas com decoração de elementos vegetais e figuras humanas das Salas dos Contos e do Despacho e o portal armoriado da fachada norte.

Pelourinho do Funchal. 1822

O PELOURINHO

O pelourinho ou picota era uma coluna de pedra colocada na praça pública defronte da Câmara. Simbolizava a jurisdição e autonomia do concelho. Era aí que se exercia a justiça, procedendo-se à aplicação das penas de açoites ou mutilação. Todos os concelhos da ilha criados até à revolução liberal deveriam ser possuidores destes. Apenas se tem notícia e imagem dos do Funchal e Santa Cruz. Dos demais resta apenas a referência toponímica. O do Funchal foi mandado erguer em 1486 por D. Manuel no então campo do Duque, no actual Largo da Sé. Gaspar Frutuoso fala-nos de um pelourinho de jaspe que existia no espaço do actual Largo do Pelourinho.

Planta da cidade do Funchal do Capitão Skinner. 1775

Planta da cidade do Funchal: Apresenta o estado em que ficou a cidade depois da aluvião de 3 de Outubro de 1803 e o projecto da nova cidade. Planta elaborada pelo Brigadeiro Oudinot em 1803 Cartografia da cidade

1570: planta de Mateus Fernandes 1697: planta de P. Coronelli 1775: planta do Capitão Skinner 1803: Planta de Paulo Dias de Almeida 1843: Planta do capitão Vidal 1895: planta dos engs. Carlos Roma Machado de Faria e Maia e Adriano Augusto Trigo 1911: planta dos engenheiros Adriano A. Trigo e Anibal A Trigo

Fachada da Casa de João Esmeraldo no Funchal

João Esmeraldo, flamengo, veio para o Funchal atraído pelo comércio do açúcar. A sua actividade tornou-se visível nas décadas de setenta e oitenta em que foi um dos principais lavradores e comerciantes de açúcar. Em 1473 adquiriu a Lombada na Ponta Sol a Rui Gonçalves da Câmara, onde ergueu um imponente palácio servido de capela e engenho. A casa de residência no Funchal foi construída a partir de 1495. A ele associa-se o convívio de Cristóvão Colombo, o navegador italiano que aportou à ilha por diversas vezes entre 1476 e 1482. A casa em 1495 ainda estava em construção, sendo portanto posterior à primeira permanência do navegador na ilha e portanto só poderia dar-lhe acolhimento na última passagem em 1498. A casa dita de Colombo foi demolida em 1876 para dar lugar a um novo arruamento com o nome de Cristóvão Colombo. Do palácio perdurou apenas uma das principais e primitivas janelas que se encontra na Quinta da Palmeira.

“(...) a vila do Funchal na nossa ilha da Madeira tem crescido em muito grande povoação e como vivem nela muitos fidalgos, cavaleiros e pessoas honradas e de grandes fazendas pelas quais e pelo grande trato da dita vila esperamos com ajuda de Nosso Senhor que a dita vila muito mais se enobreça e acrescente. E havendo respeito ao muito serviço que recebemos dos moradores e esperamos ao diante receber e de si (...). Por esta presente carta nos praz que daqui em diante se intitule e chame cidade e tenha todas as insígnias que as cidades de nossos reinos pertence ter (...)”. [ Carta régia de 21 de Agosto de 1508 publ. Arquivo Histórico da Madeira, vol. XVIII, 1974, p.512-513]

IGREJA E CONVENTO DE SANTA CLARA

Portal da Igreja

Panorâmica do claustro

Nas Cruzes fica o Convento de Santa Clara, onde Zarco terá erguido a sua morada e construído a capela de Nossa Senhora da Conceição de Cima. No local da primitiva capela o seu filho, João Gonçalves da Câmara, levantou a igreja e convento de Santa Clara, que havia recebido em 1476 do papa Sixto IV o direito de padroado do convento, só começou a ser construído em 1492. O edifício foi concluído em 1497, altura em que entraram as primeiras noviças. Os traços mais evidentes da arquitectura da época de construção estão no portal gótico da igreja, que dá acesso ao exterior e nas arcarias góticas do claustro. Na igreja merecem a atenção do visitante, o coro, os azulejos hispano-mouriscos do coro de cima e o túmulo de Martim Mendes de Vasconcelos (impropriamente atribuído a João Gonçalves Zarco), genro de Zarco, falecido em 1493, coroado com uma imponente arcaria gótica.

Túmulo de Martim Mendes de Vasconcelos

Torre da Igreja

Sob o pavimento da capela mor estão as sepulturas dos três primeiros capitães do Funchal e seus descendentes. Ainda, no coro de baixo podem ser presenciados um cadeiral e um órgão, que teria sido oferecido pelo rei D. Manuel.

O altar-mor apresenta um sacrário em prata do séc. XVII, tendo como fundo um retábulo de Nossa Senhora da Conceição, pintado no século XX por Alfredo Miguéis. Das capelas do convento merece a tenção a de S. Domingos que ostenta um conjunto de azulejos flamengos do séc. XVI, ao que consta únicos em todo o país. O conjunto destaca-se na paisagem pela torre com cúpula oitavada recoberta de azulejos dos séculos XVI e XVII. O convento foi extinto em 1821 e em 1896 entregue à Congregação das Franciscanas Missionárias de Maria que foram expulsas em 1910 com a República, mas retornaram em 1927.

Mirante do Convento de Santa Clara. gravura de F. Dillon.

A SÉ DO FUNCHAL A sé catedral é o templo principal do arquipélago, mandado construir por ordem de D. Manuel, para ser a principal paróquia da vila e sede do novo bispado, criado em 1514 por Leão X. As obras iniciaram-se em 1493, ficando concluídas só no século XVI, ocorrendo a sua sagração em 18 de Outubro de 1517. D. Manuel, enquanto Senhor da Ilha e Rei, demonstrou uma especial predilecção por este templo cumulando-o de ofertas: a pia baptismal, o porta paz, o púlpito e a cruz processional. A entrada abre-se por uma imponente fachada, onde o branco da cal contrasta com a cantaria vermelha da ilha, dominada por um portal de ogiva, encimado por uma coroa real e rosácea lavrada. O interior distribui-se por três naves, sendo as laterais servidas de diversas capelas com rica decoração barroca. Majestosa é a capela do altar-mor onde se destaca o políptico com doze painéis flamengos e o cadeiral. Este último é uma obra-prima da escultura quinhentista. O conjunto é coroado por uma abóbada, tendo ao centro as armas de D. Manuel, ladeadas por duas esferas armilares. O cadeiral apresenta-se com duas ordens de cadeiras, ricamente trabalhadas. Em madeira dourada, sobressaem esculturas com cenas bíblicas e do quotidiano madeirense do século XVI. Borracheiros e escravos convivem com santos e outras figurações populares em poses consideradas pouco dignas para o local onde se encontram. Uma das maiores preciosidades do templo é o tecto que cobre todo o espaço. A madeira de cedro é estilizada

Cabeceira

Capela mor

num precioso trabalho de alfarge hispano-árabe de bonito efeito visual. Este templo e monumento nacional continua ainda a ser uma referência artística e no culto religioso. Esta permanente utilização conduz a que aqui se misturem vários estilos. Os primitivos traços do manuelino persistem, na fachada, ábside, no púlpito e pia baptismal. O barroco está patente nas capelas laterais, como a do Santíssimo Sacramento. O actual relógio da torre sineira foi montado em 1989 em lugar de outro que em 1921 havia substituído o primitivo que desde 1775 ritmava o quotidiano da cidade.

Cruz processional

Tecto de alfarge Fabricante de odres ou borrachos Cadeirado da Sé do Funchal

Negro tocando Tambor: Cadeirado da Sé do Funchal. Século XVI

Negro. Cadeiral da Sé do Funchal do Século XVI

Centro do Funchal. Vista da torre da Igreja do Colégio

Capela do Espírito Santo, da Casa de J. Esmeraldo na Lombada da Ponta de Sol (o presente edifício é do séc. XVIII)

LOMBADA DA PONTA DO SOL Da Tabua pouco mais de meia légua está a Lombada de João Esmeraldo, de nação genovês, que chega do mar à serra, de muitas canas de açúcar e tão grossa fazenda, que já se aconteceu fazer João Esmeraldo vinte mil arrobas de sua lavra cada ano, e tinha como oitenta almas suas cativas entre mouros, mulatos e mulatas, negros, negras e canários. Foi esta a maior casa da ilha e tem grandes casarias de aposento, e engenho, e casas de purgar, e igreja. E depois do falecimento de João Esmeraldo, ficou tudo a seu filho Cristóvão Esmeraldo, que o mais do tempo andava na cidade do Funchal sobre uma mula muito formosa, com oito homens detrás de si, quatro de capa e quatro mancebos em corpo, filhos de homens honrados, muito bem tratados, e trazia grande contenda com o Capitão do Funchal sobre quem seria provedor da Alfândega de el-Rei, que é uma rica coisa de renda de Sua Alteza e ricas casarias. Casou João Esmeraldo na ilha com Águeda de Abreu, filha de João Fernandes, senhor da Lombada do Arco. [Gaspar Frutuoso, Saudades da Terra, Ponta Delgada, 1979, p.124

Capela do Corpo Santo No largo, domina a Capela do Corpo Santo, uma construção do século XV, alvo de inúmeras alterações posteriores, onde teve sede a confraria de S. Pedro Gonçalves Telmo, o santo padroeiro dos homens do mar.]

Esta praça foi construída em 1992 na área onde existiu a Casa de João Esmeraldo. Em 1989 o espaço foi alvo de uma prospecção arqueológica de que resultou a recuperação do poço, que domina uma das salas do Núcleo Museológico do Açúcar e algumas peças de cerâmica dos séculos XVI e XVII.

Aspecto da Praça de Colombo Colombo na Madeira

Casa de Colombo no Porto Santo

Desde os primórdios do século XIV que as principais casas genovesas - Spínola, Doria, Lomellini, Grimaldi e Cattaneo tinham familiares residentes em Lisboa, coordenavam as tarefas comerciais com o exterior, nomeadamente o apoio às rotas de ligação entre o Norte da Europa e o Mediterrâneo, por via marítima. A intervenção da comunidade genovesa de Lisboa e o permanente apelo, resultado do incremento do açúcar madeirense e do desenrolar do processo de descobrimento do litoral africano, tornava inevitável que um homem como Colombo, desde os 14 anos apaixonado pelo mar, correspondesse ao apelo. A presença de Colombo na Madeira, no período de 1478 a 1485, não pode alhear-se da familiaridade da comunidade genovesa na ilha. O objectivo era conduzir às mãos de Ludovico Centurione 2.400 arrobas de açúcar. O pedido fora feito em Lisboa por Paolo di Negro, representante da firma em causa. Regressado a Lisboa conheceu Filipa Moniz. O encontro deu-se no Mosteiro de Santos em Lisboa, onde estava recolhida. O casamento teve lugar em data e local que desconhecemos. Os biógrafos falam de Lisboa, O importante é que o enlace ocorreu, favoreceu o posicionamento de Colombo na sociedade madeirense e possibilitou-lhe o convívio com os marinheiros solitários da gesta descobridora do Novo Mundo Ocidental. A ilha da Madeira propiciou-lhe uma escola de aprendizagem do novo mar oceano. Foi a partir da vivência marítima atlântica que ele penetrou nos segredos insondáveis dos marinheiros que demandavam o Atlântico Ocidental. O Funchal era um dos principais centros de divergência das rotas descobridoras das plagas africanas e ocidentais. Madeirenses e açorianos viveram, desde meados do século XV, nesta obsessão. As cartas antecipadas daquilo que pensavam vir a descobrir assim o testemunham. O Ocidente exerceu sobre os ilhéus um fascínio especial,

sobre a existência de terras a Ocidente. Com estes e demais dados que reuniu junto dos marinheiros madeirenses ganhou forma o projecto de navegar para Ocidente, desafiando o rumo tomado pelos portugueses. Refira-se, ainda, que o seu cunhado Pedro Correia, capitão da ilha Graciosa (Açores) dava conta de outras notícias das terras açoreanas, sem esquecer os estranhos despojos que apareciam com assiduidade nas praias da ilha do Porto Santo, como a tão celebrizada castanha de Colombo. Por isso o navegador saiu do arquipélago com a firme certeza de que algo de novo poderia encontrar a Ocidente, capaz de justificar a sua viagem. A gratidão do navegador para com os madeirenses fêlo retornar ao arquipélago em 1498, no decurso da terceira viagem. Aqui teve oportunidade de relatar, aos que com ele acalentaram a ideia da existência de terras a Ocidente, o que encontrara de novo. O convívio com as gentes do Porto Santo foi cordial pois em Junho de 1498, aquando da terceira viagem, não resistiu à tentação de escalar a vila. A sua aproximação foi considerada mau presságio pois os porto-santenses pensavam estar perante mais uma armada de corsários. Desfeito o equívoco, o navegador foi recebido pelos naturais da terra seguindo depois para a Madeira. A 10 de Junho de 1498 a chegada ao Funchal foi apoteoticamente saudada, como nos refere frei Bartolomé de Las Casas, o que prova mais uma vez, a familiaridade com estas gentes. O cronista remata da seguinte forma o ambiente de festa que o envolveu: "lhe fizeram uma boa recepção e muita festa por ser ali muito conhecido, foi vizinho dela algum tempo". Só a partir das comemorações do quarto centenário do descobrimento da América, se começou a ser valorizada pela ligação da Madeira ao feito colombino. Na exposição Universal de Chicago de 1893 a parte referente à evocação da passagem do navegador pela Madeira mereceu algum destaque. Para isso contribuiu o empenho de John F. Healy, cônsul americano na ilha, e José Leite Monteiro, ilustre professor e advogado. Foi o último quem em Fevereiro de 1877, aquando da demolição, recolheu parte dos destroços da casa de João Esmeraldo, que depois vendeu à família Hinton. No Porto Santo é também referido pela tradição uma outra casa como mais um testemunho da passagem do navegador pela ilha. Aí teria pernoitado o navegador na casa dos sogros e, para muitos, aí nasceu o único filho legítimo do casal, Diogo Colombo. Deste edifício restam alguns vestígios que agora albergam um museu.

acalentado, ademais, pelas lendas recuperadas da tradição medieval. No extenso rol de aventureiros anónimos que deram a vida por esta descoberta, saão de referir os madeirenses Diogo de Teive, João Afonso do Estreito, Afonso Domingues do Arco, entre muitos. Alguns foram convivas e confidentes de Cristóvão Colombo. A permanência do navegador no Porto Santo e, depois, na Madeira possibilitou-lhe um conhecimento das técnicas de navegação usadas pelos portugueses e abriulhe as portas aos segredos, guardados na memória dos marinheiros,

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