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por Tiago Lobão
Algo de Errado
Umuarama, domingo, 22 de novembro de 2009
“ Foto por Thiago Casoni”
Eram 3:17 da manhã e os números vermelhos do relógio pareciam monstruosas inscrições iluminadas ao lado de sua cama. Podia sentir o calor daqueles pequenos feixes de luz lhe cutucando a cara - segundo após segundo. O travesseiro sufocava, o lençol esmagava, a cama o expulsava como se não admitisse ser traída, trocada por aquela insônia cada vez mais constante. Levantou-se. Pôs-se a andar pelo quarto como se estivesse com pressa de chegar a algum lugar, a alguma conclusão, mas nada mais fazia qualquer sentido. Queria dormir, mas não queria dormir; queria comer, mas estava sem fome; queria e não queria tudo no mundo. Não havia nada mais o que fazer, exceto tentar seguir os impulsos que sobrevivessem àquela autofagia de vontades. Vestiu-se e simplesmente saiu pra rua, sem destino certo. Enquanto caminhava ouvia o ruído da cidade. O Silêncio. Não havia carros, risos, gritos ou qualquer sinal de vida. A cidade era morta. “Morta às 3:40 da manhã, de uma quintafeira!” – pensava inconformado. Os semáforos, com os seus clicks ao fundo eram o único indício vida “inteligente”. Fora isso, lhe restava o sussurro das árvores e o som dos seus próprios passos. Já havia caminhado por 3 quarteirões e nenhum sinal de pessoa ou alma penada. Sequer um gato sarnento ou um cão perdido, sequer o maldito demônio se mostrava. Não havia qualquer pessoa por ali e, pelo visto, nem a muitos metros ao seu redor. Estava insone e solitário no centro da cidade. “Se me aparecesse o diabo eu agradeceria, ao menos alguma ação haveria” resmungava. Sentou-se num banco da calçada e acendeu o seu cigarro. Começara a fumar na tentativa de ter alguma doença e animar a vida, mas ainda não havia sinal de qualquer câncer ou mesmo uma bronquite. Sentir seu raciocínio minguando talvez seja sintoma de uma grande catástrofe interna, prestes a estourar. Era mesmo o que esperava. Emocionava-se no mundo das suposições. O pensamento voltou ao banco na rua e, enquanto sorvia a fumaça amarga, continuava a procurar por sinais de vida sem obter resposta. A rua continuava completamente vazia. Era como se a vida estivesse em outra dimensão e, por alguma maldição ele estava na dimensão errada, só ele. Sentiu-se deslocado. Sentiu-se desolado. Sentiu-se no lugar errado mais uma vez.
Escândalo por Ângela Russi
Você sabe da última?” Geralmente é com essa frase que começa o relato de uma fofoca, de um buchicho, de um babado, de um bafo ou qualquer outra expressão que represente algo escandaloso que tenha supostamente acontecido. Quem faz um escândalo virar escândalo? Pessoas escandalosas, gente sem educação, seres humanos necessitados de 15 minutos de atenção (ou mais), indivíduos desesperados, etc. Todos esses colaboram, mas, o que provoca um escândalo dos bons é a revelação de um grande segredo. Quanto mais cabeludo melhor e por mais tempo resistirá nas bocas e imaginário das pessoas. Um dos escândalos mais saboreados pelas pessoas, menos pelos envolvidos, é a descoberta de um adultério. Quando um comentário desses vem até mim fico impressionada com a riqueza de detalhes com que é contado e a velocidade com que chegou. É impressionante mesmo. É como a velocidade da luz. Como pode? Nesses casos sempre há no mínimo três lados e provavelmente três versões: o do traidor (adúltero), o do traído (coitado) e o da 3ª pessoa (obscura até o escândalo). Quem sabe do fato e passa à frente e quem ouve e comenta com os próximos fica dividido entre o trio envolvido. “O traidor é quem não vale nada” dizem seus partidários (geralmente quem já foi traído ou tem medo de ser). Quem se solidariza com o traidor diz que “o traído é um chato e merece levar os ‘galhos’ na cabeça mesmo”(geralmente quem dá suas puladinhas de cerca). E há ainda aqueles que defendem a 3ª pessoa, aquela obscura até então. Esses afirmam que “ela não deve ter programado nada. O relacionamento apenas aconteceu
sem que pudesse controlar” (geralmente quem não consegue se controlar também). É difícil. Todo escândalo que se preze tem de ser polêmico e dar combustível para tempos de comentários. Quando fico sabendo de uma história assim penso em como aquilo conseguiu chegar até aquele desfecho. Por que o traidor traiu? O que o levou a buscar a 3ª pessoa? Solidão? Tédio? Diversão? Ou, simplesmente, vontade de trair. E o traído? O que o levou a não perceber? Ingenuidade? Praticidade? Comodidade? Ou, apenas, felicidade conjugal. Por que a 3ª pessoa entrou nessa? Carência? Imprudência? Influência? Ou, só o querer ter alguém consigo. Pois é, o ser humano é muito complexo. Não dá para generalizar e com uma simples resposta explicar os porquês de um escândalo. O pior de tudo isso para mim é a vida dessas três pessoas ser exposta como um produto na feira. O vendedor anuncia e quem quer comprar observa, pergunta e se acreditar na conversa do feirante leva sem ter certeza se é verdade tudo o que ele falou. Que triste. A exposição não poupa os sentimentos de ninguém. Eles estão à mercê de julgamentos de estranhos. Gente que nem os conhece e falam do assunto como se fossem íntimos ou tivessem assistido tudo de cadeira cativa. Que pena que pessoas escandalosas, gente sem educação, seres humanos necessitados de atenção e desesperados usem disso para dar vida aos escândalos. Que bom que ainda existe gente discreta e educada, feliz e equilibrada para que os escândalos não sejam o prato do dia todos os dias ou a fruta da estação na feira do dia a dia. Respeito pela dor alheia. Essa é que deveria ser a última. “Olha aqui freguesa, fresquinho, fresquinho. É 2 por 1. É olhar e levar”. Por Caroline Guimarães Gil
“E se eu não fosse o herói? E se eu fosse o vilão?”
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É muito difícil o término de uma leitura. E por que eu digo isso? No início da leitura é tudo muito novo, há uma resistência muito grande de quem lê às idéias apresentadas. Aquele mundo que, até então, incoerente, sem nenhum sentido valorativo, e às vezes fantasioso por demais parece distante de uma realidade. Mas, ao longo da leitura, aquela simples história ganha uma significação particular. Os personagens transformam-se em fiéis companheiros ou mesmo repugnantes vilões, que torcemos a favor ou contra. E o final da leitura? Ah! Que tortura! Dar adeus às pessoas que nem mesmo sabemos quem são e que os construímos de acordo com um “ideal” ao longo da leitura, e que passaram a viver de fato em nossas vidas. Acredito que isso aconteceu muito com as pessoas que seguiram a saga do “Crepúsculo” de Stephenie Meyer, o romance da contemporaneidade? Ir ao cinema acontece coisa parecida. Nesta quinta-feira (19/11), teve a estréia do filme Lua Nova da autora, segundo livro da trama. E quem pode assistir, vivenciou a loucura da platéia ao se deparar com esses personagens na telinha do cinema! Aos delírios e gritos ao verem os personagens preferidos em ação! Intrigou-me muito o quanto atingiu e atinge milhares de pessoas este romance. Seja lá como deve ser visto por cada pessoa em particular, surpreendeu-me e passei a ler os livros não dando muito importância de início. No começo, irritou-me. Confesso! Sinceramente! Pelo fato de haver um personagem masculino tão perfeito, tão cheio de valores e princípios, um príncipe o qual todas as mulheres gostariam
de ter! E é claro, não poderia deixar de ter uma “Bella”, a frágil e donzela “princesa”, que se considera feia e insuficiente diante o seu ideal, que por alguma razão desconhecida, acaba se deparando com este “príncipe”, que ao mesmo tempo, é o “monstro”. Mas, depois, confesso ainda, que não conseguia tirar os olhos do livro, todo o ambiente, e particularidade intimista, aguçava-me a curiosidade. Quando você percebe, já saiu por ai, vendo Bella e Edward em todos os lugares. Esta trama já vendeu mais de 42 milhões de cópias em todo o mundo, com traduções em 37 línguas diferentes. Meyer diz que no dia 2 de junho de 2003 sonhou com uma garota apaixonada por um vampiro, e este desejava incontrolavelmente seu sangue – em contrapartida. Embora com pouca experiência na escrita, em 3 meses, Meyer transformou o sonho num romance concluído. Há nos livros da autora, uma variedade de personagens os quais os leitores poderão estar se encaixando por ali, identificando-se, e torcendo por eles. Pesquisando na internet, percebi o quanto este romance gerou discussões! Acusaram a autora de racismo, em alguns aspectos em seu texto e alguns psicólogos afirmaram que o livro descreve um romance doentio de relacionamento perfeito. O próprio Stephen King, autor de diversas obras (já citado aqui no culturanja), diz que “nada do que Stephenie Meyer escreve presta, pois é tudo cópia dos trabalhos de diversos escritores”. Embora eu seja leitora, não significa que eu concorde e nem mesmo discorde, mas é válido levar em consideração os dois lados da moeda. Pois como o próprio personagem Edward diz: “e se eu não fosse o herói, e se eu fosse o vilão”?