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JORNAL DO BRASIL
DOMINGO, 27 DE AGOSTO DE 2006
ESTUDO I Internauta nacional se informa, conversa por voz e texto, usa bancos e compra na web FOTOS DE DANIEL RAMALHO
Brasileiro amadurece no uso da Rede Marcelo Nóbrega
O internauta brasileiro se destaca pelo uso freqüente dos serviços bancários, pela comunicação por e-mail, bate-papo e adoção rápida de novas tecnologias, como a telefonia por IP. As conclusões estão no estudo eCMaster Profile, que comparou hábitos dos usuários nacionais com argentinos e mexicanos. Em relação à internet, o Brasil também é um país de contradições. Enquanto apenas 13,4 milhões acessaram à Rede em julho em suas casas, de acordo com o Ibope/NetRatings a variedade do uso do ciberespaço está entre as melhores no mundo. – Não há quem use mais o internet banking que o brasileiro – diz Raul Pavão, diretor de Marketing da Eversystems, empresa nacional com experiência de implantação de soluções de pagamento seguro na internet e no celular na América Latina, Estados Unidos e África. A eCMaster Profile aponta que 57% dos brasileiros usaram o internet banking nos últimos dois meses, contra 46% dos mexicanos e apenas 23% dos argentinos. A arquiteta Fabiana Gonçalves, 29 anos, acessa o site do seu banco com freqüência, mesmo com algum receio. – Tenho dois amigos que já tiveram suas contas invadidas e o
dinheiro roubado. Uso o internet banking pela comodidade. Faço quase tudo pela Rede – explica. Pavão atribui o sucesso dos bancos online à maturidade do sistema financeiro brasileiro e da tecnologia nacional. – Os americanos ficam impressionados ao descobrir que instituições têm centenas de serviços na internet – conta. Ele diz que a segurança do internet banking nacional está madura. Agora, a prevenção é com o usuário. A pesquisa surpreende ao mostrar que 96,4% dos brasileiros conectados têm antivírus instalados em seus PCs. A falta de atualização das proteções pode explicar problemas como os dos amigos de Fabiana. O universitário Roger Alves, 18 anos, faz parte da minoria que não acessa suas contas bancárias pela internet. Como 42% dos entrevistados, ele usa mais a Rede no ambiente de trabalho, onde tem banda larga. – Com a velocidade de conexão ouço músicas nos sites dos artistas e assisto a vídeos no YouTube. De acordo com a pesquisa, 9,5% dos internautas brasileiros já assistem a chamada WebTV, contra 7,8% dos argentinos e 7% dos mexicanos. Com um ano e meio de existência, o YouTube é a sensação
Fabiana comprou fogão na web sem conhecer modelo na loja e é cliente dos bancos online
Mais resultados da eCMaster Profile Média do usuário brasileiro Homem, 25 a 34 anos, renda de até US$ 20 mil anuais, tem celular, MP3 player, câmera digital, cartão de crédito. Fica online por mais de quatro horas no dia, acessa em casa e há mais de 3 anos. desse mercado, com valor estimado em 1 bilhão de dólares. O Brasil também é pioneiro na região no uso da telefonia pela internet. A eCMaster Profile mostrou que 15,2% dos usuários locais adotam a VoIP, como também é conhecida a tecnolo-
Principais usos da web Busca de notícias, downloads, informações para o trabalho, r elacionamentos, pagamentos, jogos, compras, vídeo-conferências gia. Os mexicanos vêm a seguir, com 12,5%, e depois os argentinos, com distantes 7,4%. – O Brasil está entre os cinco maiores mercados no mundo – diz Carlos Pires, gerente de Desenvolvimento de Negócios do Skype, líder no setor.
A publicitária Ilka Porto, 29 anos, trabalha com web e usa o software para falar com amigos distantes. Nos últimos anos, ela reparou a diversificação no uso da internet a sua volta. – O que antes se restringia à leitura de notícias e envio de e-mail, hoje inclui o comércio eletrônico, download de músicas, VoIP e muito mais. Os brasileiros também lideram as compras na web. A pesquisa mostrou que 48% adquiriram algum produto nos últimos dois meses. Submarino, Americans.com e Shoptime estão entre os sites mais usados. – Já comprei livros e eletrodomésticos. Escolhi o fogão no site, sem vê-lo na loja – conta Fabiana.
INTERNET I Casais navegam lado a lado e ampliam vantagens e problemas da relação a dois
Juntos até mesmo no ciberespaço Juliana Anselmo da Rocha
O hábito de navegar na internet, antes solitário, começa a ser compartilhado. Cada vez mais casais têm explorado juntos a Rede e descoberto prazeres e dissabores na troca de e-mails, arquivos e na exploração de sites. O jornalista Nick Currie, que cunhou o termo couple-surfing (“navegação de casal”, em tradução livre) em um artigo para a revista Wired, compara a atividade em conjunto a uma divindade do hinduísmo. – A internet pode ser uma destruidora de relacionamentos, mas tambem os fomenta – reflete. – É como Shiva, deus hindu que responde pela criação e destruição do mundo. O técnico de informática Renê Barbosa, 23 anos, conheceu a namorada, a estudante Luanda Belém, 21 anos, em uma LAN house há dois anos. O primeiro contato foi pela conversa em um mensageiro instantâneo. Com o relaciona-
mento, o hábito foi mantido. – Luanda me visitava na LAN onde eu trabalhava e ficávamos conversando pelo MSN, cada um sentado numa máquina – lembra Barbosa. Os dois se consideram viciados em internet e costumam trocar arquivos de música e poesias por e-mail e mensagens instantâneas.
Jornalista americano que cunhou o termo ‘couple-sur fing’ compara a prática à divindade hindu Shiva – Eu passo mais horas conectada – diz Luanda. – Às vezes, ele me controla e diz que uso muito a internet. Luanda conta que o site de redes sociais Orkut costuma provocar crises de ciúmes. – Vejo quem ela adicionou, os comentários dos outros e até brigamos por isso – completa Barbosa.
Eduardo Frota, psicanalista do Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, observa que a Rede pode servir para frear a intimidade provocada por um relacionamento a dois. – O contato é ameaçador – diz Frota. – A internet pode entrar como uma barreira diminuindo a intensidade desse contato ao excluir o real do corpo e da textura. Mas Frota não vê nisso uma desvantagem. Para o psicanalista, uma dose de proteção e separação é necessária para a continuidade da relação. – A mediação com um terceiro elemento é uma forma para relançar o desejo de cada um naquele relacionamento. A historiadora Patrícia Santos, 29 anos, diz que, na casa onde mora com a namorada, a designer Catarina Acampora, 25 anos, o PC está sempre ligado. – Paramos para checar algo, passeamos por um site interessante e dividimos o momento – conta. Patrícia diz que a relação que estabelecem com a internet não é diferente da que se dá com atividades como a leitura de jornais e comentários com a companheira. – É comum para pessoas que moram juntas, acredito, partilhar os momentos em casa.
Renê e Luanda se conheceram numa LAN house há dois anos