CYAN MAGENTA AMARELO PRETO
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TAB SAÚDE 30
Comunidade se dividiu entre elogios e críticas à proposta. Blogueiros temem censura do conteúdo, mas também não querem continuar sofrendo com o ciberculling
WEB I Tim O’Reilly cria selo de civilidade para blogs depois de ameaças de morte à Kathy Sierra
O cibercódigo de boas maneiras REUTERS
Blogueiros criticam a proposta
Juliana Anselmo da Rocha
Blogueiros do mundo, uni-vos! Embora não tenham sido estas as palavras exatas de Tim O’Reilly, fundador da editora de livros de computação que leva seu sobrenome, a máxima resume o chamado do americano por um código de boa conduta na internet. A iniciativa atraiu elogios e críticas inflamados. O’Reilly propôs medidas para evitar comentários ofensivos e ameaças aos blogueiros e criou um selo – uma estrela de xerife onde se lê “civilidade reforçada” – que deve ser publicado nas páginas que aderirem. O código, publicado em um wiki para aceitar contribuições da comunidade, foi inspirado na licença Creative Commons, que propõe uma gradação dos direitos autorais. Seguiu o episódio de terror enfrentado pela blogueira e programadora Kathy Sierra, ameaçada de morte por grupo que discorda de seu otimismo para com novas tecnologias. “Você é dono das próprias palavras, mas também do tom dos comentários que permite no blog ou forum que comanda. Quando as coisas vão mal, você deve assumir as conseqüências”, escreveu O’Reilly em seu site. Para Tim Karr, diretor de campanhas da Free Press, organização que defende a reforma dos meios de comunicação, o selo de civilidade é uma bobagem. – Detestaria ver tal indicação em um site e espero que nenhum blogueiro o leve a sério – completa. Diante das críticas ao selo, O’Reilly admitiu que a estrela de xerife é equivocada e aceitou a sugestão da comunidade por “uma imagem positiva, que represente o respeito, em vez de um símbolo da repressão”. “Os mecanismos que propus podem não ser os corretos, mas estou convencido que meu objetivo vale a pena. Precisamos descobrir a melhor maneira de alcançá-lo”, capitulou O’Reilly.
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Blogosfera crescente em países como China dificulta ética unificada Ronaldo Lemos, coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas, lembra que os comentários abusivos, “que vão de calúnias a ataques infundados, violações de direitos e injustiças verbais”, precipitaram o fim da Usenet – a primeira ferramenta de discussão online, extremamente popular na década de 90.
Código prega fim do anonimato e exclusão de comentários falsos ou abusivos – Quando um blogueiro reage a um comentário problemático, deletando-o, é acusado de censura – pondera. – O código do O’Reilly cria critérios para os blogs que permitem, de antemão, justificar medidas contra essas postagens. O jornalista Fernando Rodrigues, que também mantém um blog de análise política no portal UOL, está entre aqueles que te-
mem a censura. – Sou radical quanto o tema é liberdade de expressão. Nesse caso, não há meio-termo: ou somos livres ou não – diz. – Receio que qualquer tentativa de regular os blogs limite a característica chave de liberdade da Rede. Edney Souza, do blog Interney, nota que calúnia e difamação já são penalizáveis pela legislação dos países, o que torna o código “sem sentido”. Além de estender para o blogueiro a responsabilidade sobre os comentários de terceiros ao conteúdo publicado, O’Reilly sugere que o anonimato seja proibido. Souza argumenta que os cidadãos têm direitos garantidos pela Constituição dos países, e O’Reilly não pode almejar que seu código seja mais poderoso que a Carta. – Nos EUA, por exemplo, a primeira emenda é soberana e garante o anonimato, mesmo que O’Reilly não goste – critica. – É oportunismo dele. Criou o código para atrair para si a atenção que Kathy e seu blog vinham recebendo depois das ofensas online. I Leia e opine no JB Online. www.jb.com.br/24 horas
Tim Karr defende que blogueiros “não precisam, como os jornalistas, obedecer formatos rígidos”. – A beleza da blogosfera é que não é profissional. Essa característica permite discursos políticos em patamares incríveis de criatividade e abre múltiplas possibilidades – observa. – É estimulante pensar como essas discussões servem para tornar nossa democracia melhor. Ronaldo Lemos não acredita que o código de O’Reilly implique na profissionalização da atividade de blogar. – É uma tentativa para estabelecer critérios éticos para a comunicação online. Cumpre um papel muito importante ao propor a auto-regulamentação – completa. O ciberbulling é comum. Todos os blogueiros entrevistados revelaram ter sofrido com usuários impertinentes e ameaças.
Mas Carlos Cardoso, do blog Meiobit, não acredita em uma escalada da violência na internet. – Proporcionalmente, continua igual. Só que mais pessoas têm tido acesso aos computadores e o assumem como ferramenta de poder, deixando cair suas máscaras de bons cidadãos – avalia. Souza sugere que “como a ética varia de uma cultura para a outra, um código global de conduta está condenado ao fracasso”. – Existe uma blogosfera bastante ativa em países como a Índia e a China, onde o que é considerado ético nos EUA pode soar como completo absurdo – diz. E Cardoso completa: – As pessoas são rudes na vida real. Não há porque exigir que sejam magicamente boazinhas online. A blogueira MariMoon acredita que, no Brasil, o incidente com Kathy não provocaria o mesmo movimento da comunidade. Para Lemos, uma reação demonstraria a “maturidade da blogosfera brasileira”. – Quanto mais auto-definida e respeitada uma comunidade, maior sua estabilidade e os benefícios coletivos – garante.
Regras de O’Reilly Assuma a responsabilidade pelo que diz e pelos comentários que permite em seu blog Embora O’Reilly reconheça a importância da transparência, sugere apagar os comentários problemáticos Informe o seu grau de tolerância aos insultos A gradação é inspirada no licenciamento alternativo de direitos autorais Creative Commons
Ignore os trolls Trolls são os internautas que freqüentam os blogs apenas para postar ofensas e criar confusão Leve a discussão para o offline e fale diretamente com seu antagonista A idéia é falar direto com quem tem se compor tado mal no blog. Caso a disputa se acirre e não seja possível a conversa, O’Reilly sugere encontrar um mediador