Universidade Católica Portuguesa Mestrado Profissional Em Enfermagem Médico-Círúrgica Teorias de Enfermagem
Análise crítica à Teoria Geral de Enfermagem de Dorothea Orem
Ricardo Manuel Dias da Fonseca Covilhã / Viseu, 15 de Fevereiro de 2008
Universidade Católica Portuguesa Mestrado Profissional Em Enfermagem Médico-Círúrgica Teorias de Enfermagem
Análise crítica à Teoria Geral de Enfermagem de Dorothea Orem Sob a supervisão da Professora Doutora Margarida Vieira
Ricardo Manuel Dias da Fonseca Covilhã / Viseu, 15 de Fevereiro de 2008
Índice Introdução_____________________________________________________3 1- Análise crítica à Teoria Geral de Enfermagem de Dorothea Orem_______5 1.1- Descrição da Teoria__________________________________________5 1.2- Análise crítica_______________________________________________7 2- Conclusão___________________________________________________10 Bibliografia____________________________________________________11
Índice de Figuras Figura 1________________________________________________________5 Figura 2________________________________________________________8
Introdução No âmbito da disciplina Teorias de Enfermagem leccionada no Mestrado Profissional em Enfermagem Médico-Cirúrgica pela Professora Doutora Margarida Vieira, na Universidade Católica de Viseu, foi-nos proposta a realização de um trabalho escrito que tem como objectivo efectuar uma análise crítica a uma teoria de enfermagem. Deste trabalho constará um breve enquadramento teórico da Enfermagem como ciência, com a caracterização conceptual de alguns termos que irão ser abordados no decorrer do mesmo. Constará, também, a apresentação da teórica que seleccionei para executar este trabalho (Dorothea Orem), fazendo uma breve revisão biográfica da sua vida e obra antes de iniciar a descrição e análise crítica da sua Teoria do auto-cuidado, do deficit do auto-cuidado e Teoria dos sistemas de Enfermagem, baseado em diversos autores que aferem da pertinência, fiabilidade e aplicabilidade à realidade prática da teoria da supracitada autora. Deste texto constará uma nota introdutória, com um enquadramento global dos temas a abordar, uma fase de desenvolvimento, com descrição sumária, análise crítica e discussão acerca da teoria de Dorothea Orem e conclusão. A enfermagem, ao longo dos tempos, sempre viveu as suas experiências, estruturou as suas normas e princípios e divulgou-os, como forma de elaboração do seu corpo de conhecimento dentro de uma perspectiva histórica (Fialho et al, 2002) 8. Desde os anos 50 que se deu uma explosão no conhecimento na área da saúde (De Laure et al, 2002) 5. Surge, a partir desta altura, a necessidade de obter e organizar um corpo de conhecimento próprio, que veio a ganhar ênfase na década de 60. Neste particular, foi preciso organizar o gigantesco volume de informação gerada. No âmbito particular da enfermagem, existiu a preocupação de relacionar a teoria com os cuidados de enfermagem prestados. Nesta óptica, surgem as teorias de enfermagem como bases de pensamento com as quais avaliar as situações que se apresentam. À medida em que mais e mais situações vão surgindo, essas bases vão conferir uma estrutura de organização, análise e tomada de decisão. Segundo De Laure (2002) 5, as teorias de enfermagem fornecem estrutura para comunicação entre enfermeiros e profissionais de outras áreas da saúde, servem para auxiliar a clarificar crenças, valores e objectivos a atingir, ajudando a definir a contribuição única da Enfermagem no cuidado aos clientes e auxiliando ao desenvolvimento cada vez maior da disciplina de Enfermagem, conferindo-lhe maior autonomia. Parker (2001) 15 classifica teorias de Enfermagem como padrões de pensamento, do ser e do fazer em Enfermagem e que se revestem de suma importância para conferir estrutura e substância para fundamentar a prática, o ensino e a investigação nesta área e ao mesmo tempo serem flexíveis e dinâmicas para poderem acompanhar o crescimento e as mudanças na disciplina e na prática da Enfermagem. Horta (1979) 12 considera Enfermagem como ciência porque: “1) Os fenômenos que estuda são reais e passíveis de experimentação. 2) As teorias já desenvolvidas exprimem relações necessárias entre os fatos e os atos. 3) Suas conclusões estão dentro da certeza probabilística que explica não só as ciências hermenêuticas, como as empírico-formais e até a física considerada ciência formal ou positiva.” Após este enquadramento sucinto da afirmação da Enfermagem como ciência e a importância das teorias de Enfermagem para a afirmação da nossa profissão, passa a
apresentar-se de forma breve Dorothea Orem, para posteriormente se proceder à análise crítica da sua teoria. Dorothea Elisabeth Orem (1914-2007) nasceu em Baltimore, Maryland, nos Estados Unidos da América. Conclui a sua formação inicial em Enfermagem em 1930, pelo Providence Hospital School of Nursing, de Washington DC. Em 1939 obteve o grau de Bacharel em Ciências de Educação em Enfermagem e o grau de Mestre em Ciências de Educação em Enfermagem em 1946 pela Catholic University of América.25 Recebeu vários títulos honorários, entre os quais o de Doutora em Ciências pela Georgetown University em 1976, o mesmo grau mas pela Incarnate Word College, San António, Texas em 1980 e em 1988 o título de Doutora em Human Letters pela Illinois Western University, Blomington, Illinois. Em 1992 foi nomeada Membro Honorário da American Academy of Nursing. Em 1998 foi nomeada Doutora Honoris Causae em Enfermagem, pela Universidade do Missouri. Iniciou o desenvolvimento da sua teoria em 1959, fazendo a primeira publicação da sua teoria de Enfermagem. Porém, não permaneceu estanque e continuou o desenvolvimento do seu projecto. Em 1971, publicou o livro Nursing: Concepts of Practice, numa edição que tinha como foco principal de atenção o indivíduo. A segunda edição, publicada em 1980, foi desenvolvida de forma a incluir o indivíduo em grupos pluri-pessoais (família, comunidade e grupos de apoio). Em 1985, publica a Teoria Geral de Enfermagem de Orem, constituída por três bases teóricas inter-relacionadas entre si: a Teoria do Auto-Cuidado, a Teoria do Deficit do Auto-Cuidado e a Teoria dos Sistemas de Enfermagem. Em 1991, publicou uma nova obra em que incluiu a criança, os grupos e a sociedade. A sua obra foi republicada em 1995 e 2001. 9 Reformou-se em 1984, mas ainda assim continuou o desenvolvimento da sua Teoria de Enfermagem. Faleceu em 22 de Junho de 2007, na sua residência em Skidaway Island, aos 92 anos de idade. A sua teoria de Enfermagem apresenta um paradigma totalitário, virado a sua atenção para a relação de ajuda, em que concebe a acção de enfermagem como a realização das actividades que a pessoa não pode executar em determinadas fases do seu ciclo vital, mas fomentando sempre, em maior ou menor grau, o auto-cuidado por parte da própria pessoa. Assenta, também, em bases teóricas tais como a Teoria das Necessidades Humanas de Maslow, fazendo as adaptações teóricas à realidade de enfermagem, frisando que a satisfação das necessidades leva ao aperfeiçoamento, fortalecimento e desenvolvimento saudável da pessoa (Dueñas Fuentes, 2000). 7 Estes paradigmas assentam, por sua vez no conceito de metaparadigma de enfermagem, que é composto por 4 proposições: Pessoa – Indivíduo com exigências físicas e emocionais para o desenvolvimento de si mesmo e manutenção do seu bem-estar. 3 4 10 Ambiente – O que envolve a pessoa (todos os factores físicos, químicos, biológicos, sociais, familiares ou comunitários), e que pode afectar a sua capacidade para realizar as suas capacidades de auto-cuidado. 2 3 4 5 6 10 Saúde – Definida como um “estado de bem-estar físico, social e mental e não apenas a ausência de doença ou enfermidade” (Orem, 1980, citada por Bridge et al 2007) 8. Hanucharumkul (1989) citando Orem (1985) refere que os aspectos físicos, psicológicos, interpessoais e sociais da saúde são inseparáveis. 4 10 Enfermagem – Conjunto de actos de uma pessoa especialmente capaz e treinada para ajudar uma pessoa ou um conjunto de pessoas a lidar com os seus problemas reais ou potenciais de deficit de auto-cuidado. (Bruce et al, 2007) 3 4
1- Análise crítica à Teoria Geral de Enfermagem de Dorothea Orem 1.1- Descrição da Teoria A Teoria de Orem é considerada uma “Grand Theory” (De Laure, 2002; Parker, 2001) . Uma “Grand Theory” é composta por conceitos que representam fenómenos globais e extremamente complexos. É aquela que possui maior abrangência, representa o maior nível de desenvolvimento abstracto de conceptualização fenomenológica de relevo dentro da disciplina. As teorias deste tipo tendem a ser pertinentes para todas as áreas da Enfermagem (Parker, 2001) 15. Resultam da reflexão ponderada acerca da prática de enfermagem e do conhecimento dos diversos contextos da enfermagem ao longo dos tempos. A teoria de Orem é composta de três bases teóricas: A Teoria do Auto-Cuidado, a Teoria do Deficit do Auto-Cuidado e a Teoria dos Sistemas de Enfermagem. No entanto, a nomenclatura geral atribuída é Teoria do Deficit de Auto-Cuidado de Orem. A figura 1 oferece a representação esquemática desta teoria: 5 15
In http://www.eewb.br/autocuidado/fundamentacao%20teorica.html Esta teoria descreve “Enfermagem como uma profissão que satisfaz as necessidades de auto-cuidado das pessoas, para que estas prolonguem, a vida e a saúde ou recuperem-se do seu estado de doença” (Diniz, 2006) 6. A Teoria do Auto-Cuidado assenta em definir o auto-cuidado como um comportamento adquirido e uma acção deliberada em resposta a uma necessidade5, com o objectivo de manter a saúde e um completo bem-estar do corpo mente e espírito 3 22. Orem apresenta três requisitos (ou exigências) para o auto-cuidado: Universais – relacionados com os processos essenciais à saúde e à vitalidade, tendo em vista a manutenção do bem-estar e saúde, tais como a necessidade de oxigénio, alimentação, hidratação, eliminação, repouso e interacção social, comuns a todos os seres humanos nas diversas fases do ciclo vital e de vida quotidiana 2 3 5 6 22 . De desenvolvimento – são aquelas que se encontram ligadas às modificações nas diferentes fases da vida e adaptações sociais. Ajuda o indivíduo a viver, a amadurecer, a prevenir doenças ou suas complicações e a adaptar-se a novos papéis sociais 2 3 22. De desvio da saúde – é exigido em circunstâncias que se desviam do “normal”, como em caso de lesões ou doenças 3 9 22. Diniz (2006) refere que “aparecem como medidas terapêuticas necessárias para o diagnóstico e tratamento dos indivíduos com problemas de saúde ou com incapacidades físicas e psíquicas, que afectam o corpo como um todo” Orem considera auto-cuidado como um comportamento aprendido, influenciado pelo metaparadigma da pessoa, ambiente, saúde e Enfermagem, incluindo três aspectos: as necessidades universais de auto-cuidado, as necessidades de apoio e ajuda ao auto-
cuidado durante o desenvolvimento da pessoa e os desvios comportamentais em relação à saúde da pessoa. 9 Qual é então o conceito de auto-cuidado na visão de Dorothea Orem? É um conjunto de actividades iniciadas e executadas pelo próprio indivíduo para seu próprio benefício e cujas competências vão evoluindo com o desenvolvimento. Tem como objectivo manter a saúde e a vida, conservar a sensação de bem-estar e promover o seu desenvolvimento pessoal. Orem teoriza que todo o ser Humano possui as competências e requisitos básicos universais para o auto-cuidado 3 5 6 15 16 17 21. A Teoria do Deficit de Auto-Cuidado é considerada por Orem como o núcleo da teoria geral de Enfermagem. Foster e Janssens (1993) citados por Torres (1999) 6 referem que a Enfermagem passa a ser uma exigência a partir das necessidades de um adulto, quando o mesmo se acha incapacitado ou limitado para o seu auto-cuidado contínuo e eficaz e que os cuidados de Enfermagem podem ser prestados quando [...] as habilidades para cuidar sejam menores do que as exigidas para satisfazer uma exigência conhecida de autocuidado[ ...] ou habilidades de autocuidados ou de cuidados dependentes excedam ou igualem às exigidas para satisfazer a demanda atual de autocuidado, embora uma relação futura de deficiência possa ser prevista devido as diminuições previsíveis de habilidades de cuidado” (Foster e Janssens, 1993, p.92, citados por Torres, 1999). 6 Segundo esta teoria, todo o adulto tem a capacidade para satisfazer as suas necessidades de auto-cuidado, mas que quando existe a incapacidade para o fazer devido a limitações de várias ordens, existe um deficit de auto-cuidado. Bruce et al (2003) 3 refere que a pessoa beneficia da intervenção de Enfermagem quando uma situação de saúde inibe a sua capacidade de auto-cuidado ou quando se vê confrontado com situações onde as suas capacidades não são suficientes para manter a sua saúde ou o seu total bem-estar. As intervenções de Enfermagem focam-se na detecção das limitações ou deficits e implementando intervenções que auxiliem a pessoa a suprir essas limitações no restabelecimento do seu auto-cuidado, de acordo com as suas necessidades 2 3 5 6 22 23 24. Orem identificou cinco intervenções em que o enfermeiro interage com a pessoa, sendo elas agir ou fazer para o outro; guiar o outro; apoiar o outro (física e psicologicamente); proporcionar um ambiente que promova o desenvolvimento pessoal, para se tornar capaz de satisfazer as suas necessidades actuais ou futuras; ensinar o outro 22. A Teoria dos Sistemas de Enfermagem é, segundo Orem, a teoria unificadora, que abrange a Teoria do Deficit do Auto-Cuidado, que por sua vez abrange a Teoria do Auto-Cuidado 5. Foca-se na capacidade do enfermeiro para auxiliar a pessoa a suprir as suas necessidades reais ou potenciais de auto-cuidado ou a capacidade de execução alterada desse mesmo auto-cuidado. É uma teoria focada na pessoa e em que, para satisfazer a necessidade de auto-cuidado da pessoa, Orem identificou três sistemas: totalmente compensatório, parcialmente compensatório e sistema de apoio e educação 3 5 6 22 . O sistema totalmente compensatório reflecte o indivíduo incapaz de realizar as suas actividades de auto-cuidado, envolve a relação enfermeiro-pessoa incapaz de fazer por si própria. Apoia e protege a pessoa, compensando a sua incapacidade para o autcuidado 3 5 6 9 22. O sistema parcialmente compensatório representa um envolvimento quer do enfermeiro quer da pessoa num conjunto de medidas que visa concretizar as exigências do auto-cuidado. “…o enfermeiro efetiva algumas medidas de autocuidado pelo paciente, compensa suas limitações de autocuidadoatendendo o paciente conforme o exigido. O paciente age realizando algumas medidas de autocuidado, regula suas atividades e aceita atendimento e auxílio do enfermeiro.” (Torres, 1999) 22. O sistema de apoio e educação verifica-se quando a pessoa pode executar ou pode e deve aprender
a executar essas tarefas do auto-cuidado. A pessoa é responsável pelo seu próprio autocuidado, servindo o enfermeiro como guia, professor ou consultor na aprendizagem e na fomentação do cuidar de si próprio por parte da pessoa (por exemplo, quando um enfermeiro guia uma mãe inexperiente durante a amamentação do seu filho) 3 5 22. O objectivo da Teoria dos Sistemas de Enfermagem visa o conceito de Autonomia. O processo de Enfermagem segundo Orem comporta três fases: Fase 1 – fase de diagnóstico e prescrição, onde se faz um levantamento das necessidades de auto-cuidado da pessoa e onde se planeiam actividades de acordo com o diagnóstico efectuado, envolvendo essas acções num dos sistemas de Enfermagem supracitados. Fase 2 – fase de planeamento dos sistemas de Enfermagem e planeamento da execução das acções de Enfermagem, onde cria o sistema de Enfermagem adequado, com as actividades adequadas à necessidade da pessoa. Estabelecem-se metas juntamente com a pessoa para atingir fins específicos com o objectivo do bem-estar total. Fase 3 – gestão e controlo dos sistemas de Enfermagem, em que o enfermeiro auxilia a pessoa (ou família) a atingir os objectivos tendo em visa o auto-cuidado, diagnosticados e planeados nas fases anteriores 9 22. 1.2- Análise Crítica Após esta descrição global da teoria de Dorothea Orem, passa-se à avaliação critica propriamente dita. Os critérios a serem utilizados para estabelecer esta análise são: claridade, coerência, integridade e compreensibilidade, simplicidade, poder explicativo, poder justificativo, produtividade e viabilidade. Conquanto à claridade, Bridge et al (2007) 2 considera que os termos utilizados por Orem na construção da sua teoria estão perfeitamente definidos. A linguagem utilizada na teoria é consistente com a linguagem da filosofia subjacente. Não existem palavras criadas ou inventadas. Os termos utilizados são claros e objectivos. Em relação à coerência, as mesmas autoras, citando Tomey e Alligood (2002), referem que existe congruência na terminologia utilizada ao longo de toda a teoria. Orem definiu e elaborou uma estrutura para o termo auto-cuidado de uma forma única mas coerente com outras interpretações. As dificuldades na aquisição dos conceitos de Orem prendem-se, segundo Tomey e Alligood, citados por Bridge et al, com uma fraca familiaridade com o campo de acção da Enfermagem por parte dos leitores. De acordo com a retrospectiva conceptual descrita, e relativamente a estes dois itens de análise, estou de acordo com a leitura feita pelos autores que citei. A teoria de Orem é clara e coerente quanto aos seus objectivos e apresenta de forma esclarecedora todos os principais conceitos à volta dos quais se rege, nomeadamente o conceito base de autocuidado, que aparece claramente definido e inteligível. Em relação à simplicidade, a teoria geral de Orem abarca três teorias constituintes: a Teoria do Auto-Cuidado, do Deficit de Auto-Cuidado e dos Sistemas de Enfermagem. A interligação entre estas teorias e seus conceitos integrantes é simples e a relação entre estas teorias é fácil de representar através de diagramas. A estrutura substancial desta teoria encontra os seus alicerces no subconjunto das sub-teorias que a compõe 2. Embora seja uma teoria abrangente, extensa, a interligação entre os conceitos propostos por Orem é facilmente compreensível, uma vez que o conceito base de autocuidado tem uma aplicação universal e que é facilmente transportado para a prática da Enfermagem 9. Embora à primeira vista, a teoria de Orem possa ser entendida como
muito complexa, devido à integração de três teorias na sua formulação geral, o entendimento que esta teoria oferece aos seus leitores é relativamente simples e bastante inteligível, na mesma medida em que é claro e coerente com os seus objectivos de aplicação. Sendo simples, clara e congruente, esta teoria torna-se compreensível e passível de ser apreendida de forma objectiva por aqueles que buscam nela uma base teórica para se fundamentarem na abordagem prática. Não obstante, George (2002) citado por Bridge et al (2007) refere que a teoria de Orem é simples, mas no entanto complexa, uma vez que as diversas aplicações do termo auto-cuidado, nas variadas conceptualizações da teoria pode ser confuso numa fase inicial 2. Quanto à integridade da teoria, tal como já foi sumariamente referido acima, não se verificam incongruências, a relação vigente nas três teorias englobadas na teoria Geral de Orem é interdependente e com associações lógicas e coerentes interconceptuais, apoiadas na visão do metaparadigma teórico em que se baseia e na aplicação da base conceptual da promoção da autonomia fundamentada pelo conceito de auto-cuidado. Estes conceitos apresentam uma inter-relação proporcionando uma visão prática de Enfermagem. Figura 2 Indivíduo
Auto-cuidado
Actividade de Auto-cuidado
Exigências de Auto-cuidado (ou Déficit de Auto-Cuidado) Actividade de Enfermagem
Modelo Conceptual de Enfermagem de Orem, adaptado de Tomey e Alligood, 2002, p. 192, citado em Bridge et al (2007): Dorothea Orem’s Self-Care Deficit Theory Em relação às bases explicativas e justificativas desta teoria, Rosenbaum (1985) refere que a teoria de Orem oferece resposta a algumas perguntas de grande relevo no âmbito da Enfermagem, tais como: “porque é que a Enfermagem é necessária? ; porque é que o auto-cuidado é necessário na vida?; como é que as pessoas podem ser auxiliadas através da Enfermagem?” 16. Estas são perguntas de grande utilidade e importância para a prática da Enfermagem e as soluções que a teoria de Orem apresenta para estas questões são de grande importância para a formação do corpo de conhecimento em Enfermagem, pelo que apresenta soluções para problemas da ciência de Enfermagem decorrentes da
verificação desses mesmos problemas na realidade prática. Embora possua limitações conquanto à generalização da aplicação efectiva desta teoria (como será referido oportunamente), a base explicativa e justificativa constante da formulação teórica de Orem é consistente e de relevo para a prática da Enfermagem, como auxílio precioso ao desenvolvimento da ciência e disciplina. Em relação à produtividade, e segundo Hanucharurnkul (1989) 10,a teoria de Orem é extremamente apelativa na prática de Enfermagem, em especial em situações de saúde pública. Rosenbaum (1985) refere o uso da teoria de Orem em pessoas com diabetes, com enterostomias, em mulheres com cesarianas programadas, em pessoas que abusam de álcool e em crianças hospitalizadas 16 .Torres et al (1999) aplicam a teoria de Orem num estudo de caso de uma adolescente grávida, onde referem que “É possível considerar que o uso da teoria do autocuidado de Dorothea Orem é um instrumento válido, o qual nos ajudou a promover uma comunicação mais objetiva entre pesquisador e pesquisada, adequando-se de certa forma ao planejamento da assistência de enfermagem, à problemática dessa adolescente.” 22. Armer et al (2005) aplicaram o processo de Orem num estudo acerca de linfedema pós cancro do pulmão, onde referem que a teoria de Orem ajudou à detecção dos sintomas cruciais na prevenção e detecção precoce e tratamento do linfedema 1. Lima et al (2006) explicitaram a contribuição de Orem nos diagnósticos de enfermagem em doentes pós-cateterismo cardíaco 14. Silva (2004) publicou um estudo acerca da qualidade de vida e do auto-cuidado dos idosos residentes nos bairros da periferia de Monterrey, México 17. Silva e Kimura (2000) publicaram um estudo onde se basearam na teoria de Orem para validar uma escala de auto-cuidado, a ASA-A 18. No sítio da Portfolio Professional Nursing refere algumas das áreas passíveis de aplicação da teoria de Orem, tais como áreas de ensino acerca de medicação, nutrição, higiene, comportamento e de manutenção da saúde, através de exercício físico programado, controlo de peso, promoção de um ambiente seguro e gestão de stress 24. Estes são só alguns exemplos da produtividade da teoria de Orem para a prática e desenvolvimento da Enfermagem, onde poderíamos acrescentar diversas outras modalidades de autocuidado, como na educação da pessoa com hipertensão arterial, no ensino a familiares de pessoas com limitações e na fomentação de hábitos de vida saudáveis com vista a manutenção da saúde e prevenção da doença. A teoria de Orem, sendo uma teoria abrangente, abarca várias áreas de intervenção, sendo os exemplos citados apenas uma amostra. Podemos considerar que esta teoria tem uma grande contribuição para o desenvolvimento da Enfermagem, produzindo conhecimento e dirigindo o seu foco de atenção para a prática baseada na evidência. Tomey e Alligood (2002) citados por Bridge et al (2007) referem que a teoria de Orem, sendo uma teoria geral, é útil para os enfermeiros inseridos na Enfermagem prática, para o desenvolvimento e validação do conhecimento, ensino e aprendizagem da Enfermagem 2. Quanto à viabilidade da teoria de Orem, dos exemplos supracitados verificamos que é viável em diversos aspectos da prática da Enfermagem, contribuindo de forma positiva para o desenvolvimento da ciência e da profissão. Contudo, apresenta algumas limitações de aplicação. Horan (2004) publica um artigo onde ressalva o contributo inegável da teoria de Orem para a ciência de Enfermagem, ressalva um aspecto que pode ser considerado uma limitação major desta teoria. Orem considera que todo o ser Humano possui as competências para o auto-cuidado. E então aqueles que possuem dificuldades de aprendizagem, moderadas ou severas? Não considerarão eles demasiado complexo e difícil de concretizar e delinear objectivos? Se bem que este autor considera que do ponto de vista teórico e filosófico esta teoria poderia incluir estas situações, retrata como “anedótico” que se registem melhorias imensuráveis numa pessoa com deficits cognitivos apenas por se aplicar o modelo de auto-cuidado de Orem 11.
Spearman et al (1993) numa revisão selectiva de estudos entre 1986 e 1991 acerca da teoria de Orem, regista que dos estudos analisados, 32% fizeram um uso mínimo da teoria, 55% um uso insuficiente e 13% um uso adequado 20. Lauder (2001) identifica outra limitação à teoria de Orem, fazendo um estudo sobre auto-negligência, sendo a aplicabilidade do conceito de auto-cuidado pouco objectivo nestas circunstâncias 13. Em mais uma limitação apontada pela literatura, George (2002) citado por Bridge et al (2007) se encontra na definição de saúde que deve ser vista como um processo dinâmico e que, segundo este autor, está definido em premissas que lhe confere alguma rigidez, logo um carácter estático em contraponto ao dinamismo que deveria apresentar 2. Embora se encontrem estas limitações (como seria natural encontrar numa rede de pensamento), a teoria de Orem é viável e aplicável à realidade prática. Todas estas discussões acerca do modelo conceptual permitem auxiliar ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento da Enfermagem, como profissão e ciência. 2- Conclusão A Teoria Geral de Enfermagem de Dorothea Orem centra a sua abordagem conceptual no auto-cuidado. Desta teoria abrangente (ou Grand Theory) fazem parte três teorias: a Teoria do Auto-Cuidado, a Teoria do Deficit de Auto-Cuidado e a Teoria dos Sistemas de Enfermagem. Com base na sua teoria, Orem delineia o processo de Enfermagem, dirigido ao problema central que rege a teoria, o auto-cuidado e a satisfação de necessidades para manter a saúde e evitar a doença. Após se ter tecido uma sumária descrição de toda esta temática, seguiu-se a abordagem crítica. Recapitulando, verificámos que a conceptualização de Orem tem os requisitos para se considerar um teoria, e que através da sua aplicação na ciência da Enfermagem, contribuiu para o desenvolvimento desta profissão e para a construção de um corpo de conhecimento mais alargado dentro desta ciência, Analisando os critérios de análise de uma teoria, considera-se como uma teoria simples, congruente e compreensível, denotando integridade na sua elaboração conceptual. Utiliza termos claros e compreensíveis, proporcionando ao leitor e ao enfermeiro que deseje basear a sua prática nesta formulação teórica um suporte inteligível. Tem capacidade explicativa e justificativa, que se revela pela congruência da abordagem temática e clareza de conteúdos. Como vimos acima, vários são os estudos (embora apenas uma pequena porção desses estudos tenha sido citada) onde se exemplifica a produtividade científica da teoria de Orem, aplicada em diversas situações que afectam a pessoa. Por este prisma se valida e se viabiliza. No entanto, são reconhecidas algumas limitações à concepção teórica, sendo as principais a aplicação deste modelo em pessoas com limitações intelectuais e em casos de auto-negligência. Para finalizar, todos nós que estamos ligados à prática da Enfermagem devemos lutar para desenvolver a nossa profissão, a nossa ciência. O campo do saber é muito amplo, não é estanque. A nossa capacidade de produzir conhecimento científico não deve ser negligenciada, mas sim fomentada e potenciada. Nunca menosprezando e reconhecendo o trabalho excelente desenvolvido por pessoas que dedicaram parte da sua vida a esta nobre profissão, devemos valorizar os seus esforços e pegarmos nas bases existentes para também contribuirmos para o desenvolvimento da Enfermagem.
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