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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

DANIELE SOUZA SANTOS

QUAIS AS IMPLICAÇÕES DE ATRIBUIR UM CARÁTER PEDAGÓGICO À PSICOTERAPIA BREVE?

SÃO CRISTÓVÃO 2019

Introdução O presente trabalho busca analisar as implicações de atribuir um modelo pedagógico à psicoterapia breve, explorando visões diferentes que perpassam duas abordagens da psicologia; a Psicanálise e a Terapia Cognitivo-Comportamental. É intuito do trabalho, também, indagar se há maior coerência na utilização do modelo pedagógico em alguma destas abordagens.

Desenvolvimento As psicoterapias breves são terapias que trabalham com foco e tempo determinados e mais reduzidos que as terapias convencionais. Como apontam Moreno e Carvalho (2014) abordagens breves de psicoterapia têm ganhado cada vez mais espaço em função das constantes necessidades de diminuição de custos e otimização da participação de terapeutas no processo de psicoterapia. Enéas, Faleiros e Sá (2000 apud Moreno e Carvalho, 2014) afirmam que os objetivos são estabelecidos a partir de uma compreensão diagnóstica do paciente e da delimitação de um foco, considerando-se que esses objetivos sejam passíveis de serem atingidos em um espaço de tempo limitado (que pode ser ou não preestabelecido), por meio de determinadas estratégias clínicas. As psicoterapias breves estão, em termos técnicos, alicerçadas em um tripé: foco, estratégias e objetivos. Segundo Ramadam (2006) é possível considerar Freud como o precursor e questionador da psicoterapia breve. Freud chegou a fazer algumas análises curtas em alguns pacientes que, não residentes de Viena, permaneciam por breves temporadas. Embora tenha, no princípio, apoiado iniciativas de alguns discípulos, no sentido de abreviar o processo analítico, ele se mostrava reservado e cético em relação aos seus resultados. É que, se por um lado a psicoterapia breve busca atender a pressões e demandas atuais dos pacientes, por outro lado, a economia de tempo e dinheiro colide com alguns dos mais sólidos pilares do edifício psicanalítico. “A psicoterapia - na qual se inclui a psicanálise como uma das abordagens – surgiu como um procedimento médico visando a “cura” de uma doença. Etmologicamente o

conceito designa tratamento psicológico. Procurando fugir do modelo médico, muitos profissionais, principalmente americanos, propuseram adotar um modelo pedagógico.” (SIMON, 1990, p. 93)

Há divergências quanto ao uso do modelo pedagógico na psicoterapia breve psicanalítica. Para Costa (1978) a psicoterapia breve, ao mesmo tempo que quer depender da psicanálise para justificar sua cientificidade, quer desenvolver uma prática diversa à prática psicanalista. E o que se pretendeu fazer para diferenciar estas práticas foi tornar a psicanálise, tida como ciência do inconsciente em uma ciência da conduta humana. A psicanálise como “ciência da conduta humana” seria aquela que deixaria a realidade psíquica para intervir na realidade consciente do paciente. Costa (1978) afirma que não há dúvidas quanto a natureza destas intervenções; são todas, em maior ou menor grau, pedagógicas e moralmente persuasivas. Para ele, há uma grande dificuldade teórica em incluir instrumentos pedagógicos à técnica psicanalítica. “Uma coisa é reconhecer a inelutável intervenção no social da psicanálise e percebê-la como obstáculo, como fronteira ética ou epistemológica à ação terapêutica; outra coisa é usar deliberadamente essa intrusão como técnica psicoterápica. O que os terapeutas breves defendem é esta última idéia. Sob este aspecto, convém repetir, a psicanálise não sofreria progresso algum passando de “ciência do inconsciente” para “ciência da conduta [...] A psicanálise constatou, pela experiência clínica, que a psicopatologia não é educável. No máximo pode-se coagir o cliente a ocultar seus sintomas pela força. Ora, o ideal da psicanálise não é o de coagir nem educar, mas o de transformar”. (COSTA, 1978)

Simon (1990) traz uma visão diferente quanto ao uso do modelo pedagógico na psicoterapia breve de caráter psicanalítico. Ele aponta que, para os profissionais que adotaram o modelo pedagógico, o indivíduo que busca ajuda psicológica é encarado como possuidor de um distúrbio de aprendizagem. O modelo pedagógico surge, então, como forma de compreender e modificar os distúrbios psicológicos. “Como este paciente melhor desaprenderá, aprenderá , reaprenderá ou aprenderá de forma diferente o que necessita aprender? Mais especificamente: como pode aprender certos sintomas, a adquirir funções, a responder diretamente e a modificar aspectos de sua personalidade?” (Small e Bellak, 1978 p. 43 apud Simon, 1990 p. 93)

Simon (1990) afirma que o modelo pedagógico dá coerência e sentido à psicoterapia breve. O autor diz que a confusão que se faz entre os objetivos da psicanálise e da psicoterapia breve dão origem à argumentos de que a psicanálise se alonga por uma relação forte de dependência; ou porquê é necessário remontar às origens do conflito genético para obter cura. Para ele é arrogância visar a psicanálise como um processo melhor porque alcança níveis mais profundos e amplos do psiquismo. São estilos diferentes. “Respeito e compreendo o psicanalista que queira somente fazer psicanálise, embora sempre me venha a mente o modelo do alfaiate que somente faz um modelo e tamanho de roupa e o cliente precisa encaixar-se nela, ou desistir” critica Simon. O autor propõe que haja maior flexibilidade. Que o psicanalista aprenda modelos de técnicas curativas e reeducativas; não precisando abandonar a psicanálise mas diversificando seu procedimento. E defende que as escolhas referentes ao objetivo da psicoterapia sejam de livre escolha do terapeuta e do paciente. A perspectiva da terapia cognitivo-comportamental sobre a utilização do modelo pedagógico na psicoterapia breve tende a ser diferente. Como afirmam Moreno e Carvalho (2014) a terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma modalidade breve de atendimento por natureza, mas que ainda se mantém interessada na busca de intervenções cada vez mais breves e eficazes. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma abordagem psicoterapêutica estruturada, diretiva, ativa, de prazo limitado, utilizada como tratamento de escolha para uma variedade de transtornos psiquiátricos (Beck, 1997 apud Moreno e Carvalho, 2014). A TCC se baseia na premissa de que o afeto e o comportamento do indivíduo são, em grande parte, determinados pelo modo como ele estrutura o mundo. As técnicas terapêuticas dessa abordagem visam identificar e testar cognições distorcidas dos pacientes, guiando-os para a construção de esquemas cognitivos mais funcionais a sua realidade (Moreno & Wainer, 2014 apud Moreno e Carvalho, 2014). O terapeuta que trabalha com a TCC em sua modalidade breve deve ser capaz de manter o paciente focado nos objetivos e nas tarefas específicas do tratamento. Sendo assim, é exigida a habilidade para redirecionar os pacientes rapidamente, enquanto mantém uma forte aliança terapêutica (Bond & Dryden, 2004 apud Moreno e Carvalho, 2014).

As atitudes de guiar, redirecionar e propor tarefas ao paciente, utilizadas na TCC, são características marcantes do modelo pedagógico. Para a Psicóloga Andréa Borges, que

trabalha com TCC, o caráter pedagógico não traz, de forma alguma, implicações negativas, mas traz limitações. Segundo ela, nem todos os pacientes se adequam ao caráter breve. Andréa diz que em seu trabalho faz uma psicoeducação e flexibilização do pensamento. Ela utiliza técnicas de resolução do problema e técnicas de autocontrole e diz que, para otimizar o tempo durante a psicoterapia, passa tarefas de casa, mas sempre fica muito cuidadosa ao propor estas atividades aos pacientes.

Conclusão Como visto, há divergências quanto ao uso do modelo pedagógico na psicoterapia breve, inclusive divergências dentro da psicanálise. Não se trata, aqui, de apontar a melhor técnica ou de diminuir a importância ou o valor do modelo pedagógico. Trata-se de considerar como este modelo aparenta ter maior coerência dentro da TCC do que da Psicanálise. Uma vez que a terapia cognitivo-comportamental tem como parte da psicoterapia educar, reeducar, guiar e redirecionar, por si só, ela incorpora um caráter pedagógico. Agora, como afirma Costa (1978) pedagogia e psicanálise clínica opõem-se. Falar em pedagogia terapêutica ou terapêutica pedagógica, em termos psicanalíticos, é um contrasenso. A psicanálise constatou, pela experiência clínica, que a psicopatologia não é educável; o inconsciente é ineducável. O ideal da psicanálise não é o de educar e nem coagir, mas o de transformar.

Referências Freire-Costa, J. (1978). Psicoterapia breve: uma abordagem psicanalítica. Sociedade e doença mental. Rio de Janeiro, RJ: Campus, 227-41. Moreno, A. L., & Carvalho, R. G. N. D. (2014). Terapia cognitivo-comportamental breve para sintomas de ansiedade e depressão. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 10(2), 70-75. Ramadam, Zacaria J. A. (2006). Psicoterapia psicanalítica breve – Theodor Lowenkron, Editora Artmed, Porto Alegre.

Simon, Ryad. (1990). Psicanálise e psicoterapia breve. Psicologia - USP, São Paulo,1(1), 93-6.

ANEXO A – ENTREVISTA COM A PSICÓLOGA ANDRÉA BORGES

Entrevista com Andréa Borges Eu não tive a disciplina de psicoterapia breve, mas a percepção, pelo menos que eu tinha formado dentro da faculdade, é que iria atuar em situações muito mais rápidas. Para mim era o mesmo formato de psicoterapia normal, então de 50 a 60 minutos, enfim, uma vez por semana, mas que ela iria perdurar por menos tempo, então era dado um número de sessões logo no início, é claro que precisaria fazer um reajuste de acordo com o engajamento, o desenvolvimento do paciente. Mas eu via, pelo menos na faculdade foi me construído isso, que eram terapias que seriam mais curtas,digamos a psicanálise, ela leva muito tempo normalmente. Mas, o que foi que eu aprendi depois, a TCC mesmo, ela normalmente estipula 20 sessões, então de repente poderia ser considerada uma psicoterapia breve. Daí eu fui fazer a especialização e foi quando eu vi a psicoterapia breve para a TCC. Pelo menos para a TCC a psicoterapia breve é um formato diferente, é de 30 minutos, 25 a 30 minutos, eu não sei como, mas tem dizendo que é considerado de 15 a 30 minutos, eu disse “como alguém consegue uma psicoterapia de 15 minutos?” Eu já critico - eu sempre fui de criticar - as psicoterapias que são dadas no formato de plano de saúde, que normalmente é de 30 minutos, e “com 30 minutos você mal consegue elencar quais são os sintomas, você tá pegando o embalo e tem que acabar”. Essa era a minha percepção. Hoje eu vejo que é diferente. Então quando eu aprendi a TCC, pelo menos a psicoterapia breve para a TCC, eu vi que existia esse formato e hoje eu vivencio na prática que tem como você fazer uma boa consulta com 30 minutos, hoje eu consigo perceber que sim. Agora é claro que precisa de uma habilidade estúpida para você ser muito suscinto, ser muito planejado e organizado. Então hoje eu faço orientação de pais com a psicoterapia breve. Um dos meninos que eu atendo, que tem TDAH, então ele tem um nível de concentração muito baixo, então a psicoterapia que eu faço com ele é a psicoterapia breve. Eu acabo cobrando menos porquê o horário é reduzido. Agora precisa

de uma habilidade e a demanda que você tem em casa, porque todos os pacientes que você vai atender você vai ter uma demanda em casa, você vai ter que fazer um determinado planejamento, isso aí continua sendo a mesma demanda, então o horário que você investe, digamos assim, estuda para um determinado caso dentro de casa acaba sendo o mesmo, embora o horário da sessão diminua. No momento eu estou atendendo dois casos com a psicoterapia breve, e eu sei que dá para se fazer em um formato de 30 minutos, em um formato bom. Qual é a sua formação? MBA em gestão de pessoas, hipnose ericssoniana, especialização em TCC Em quais teóricos você baseia a sua prática? Beck (Aaron Beck) Como ele vê a psicologia breve? Segundo a literatura, psicoterapia com tempo reduzido e sempre atrelado ao uso de fármacos. É indicado para alguns casos, digamos, depressão, TDAH, que precisa ser mais ágil para não cansar o paciente. Mas, eu também faço o uso sem ser junto com fármacos. Então ele vê mais como sendo pra pacientes específicos? Isso, e sempre atrelado ao uso de fármacos. A ideia que a gente tem da psicoterapia breve é que ela é muito mais pontual, então se for fazer uma análise, vamos supor, eu vou aplicar terapia de esquema, eu não vou fazer tanto com a psicoterapia breve, não. Você acha que esse caráter pedagógico pode ter alguma implicação negativa? Não, de forma alguma, agora que vai ter limitações, sim. Porque na psicoterapia breve a gente trabalha muito em cima de pontos, é muito estabelecido a agenda, então o que a gente vai trabalhar hoje pode ser estabelecido na sessão passada ou pode ser estabelecido no momento. Pode ser feito por mim, de acordo com o que ele me traz como demanda ou pode ser feito por ele, “olha hoje eu queria conversar sobre isso, isso, isso que aconteceu essa semana, certo?” Mas a gente trabalha muito em cima de tópicos, então precisa de uma capacidade de reduzir, tanto do paciente, quanto da gente também, um jogo de cintura porque uma das coisas que eu acho muito

difícil é fazer com que ele perceba que estou interessada, que tudo que ele tá falando pra mim é importante, mas ao mesmo tempo, não parecer - e eu preciso como psicóloga reduzir - então, não parecer que eu estou com pressa e desinteressada na fala dele. Eu acho que essa é a maior dificuldade, o maior jogo de cintura que precisa ter. Então, assim, a gente otimiza muito o tempo fora, mas ainda assim eu vejo que tem limitações, não é todo mundo que vai se enquadrar no formato breve. Quando perguntada se acreditava que o caráter pedagógico poderia implicar em uma mudança superficial e não profunda, a profissional respondeu: Eu não concordo não. Eu tenho muitos cuidados em relação a abordagem. Tem pessoas que eu atendo dentro da escola que eu digo “gente, ele precisa de um psicodrama, ele precisa de um Gestalt”, tem pessoas que eu atendo que digo que vão dar muito certo dentro da psicanálise, mas eu não vejo uma abordagem como verdadeira para tudo. Agora, que em algumas pessoas pode não funcionar, também acredito.Agora criticar porque fica superficial por conta do caráter pedagógico... Realmente é um caráter mais pedagógico, isso é mesmo. Então são técnicas que são mais pontuais, são técnicas que eu uso em alguns casos: eu escuto o outro empaticamente, eu valido a emoção dele, sem necessariamente concordar com o que ele fez; depois disso eu posso contar uma história sobre um dilema que eu vivenciei que pode soar parecido, pra eu me aproximar, e depois disso eu tento resolver o problema, elencar as possibilidades de resolução de problemas e estabelecer limites. Então, uma paciente minha, por exemplo, me disse que é muito difcil controlar as emoções nos momentos de crise. Eu perguntei a ela o que fez com que ela agisse de forma “x”, até que ela pudesse me explicar de forma mais clara o motivou ela a reagir de tal maneira a tal situação. Depois de ela elaborar o que estava sentindo, aí sim, entra o caráter educativo: eu trouxe livros de inteligência emocional e disciplina positiva e fiz ela ver o passo a passo de um e de outro. “Então vamos lá: estabeleça o seu dialogo dessa forma”. Ela conseguiu fazer isso. Ela conseguiu estabelecer 3 formas de diálogo de forma assertiva e pronto. Liberei ela. Garantir que na hora do estresse ela vai mudar o comportamento? Não. Mas eu acho que nenhuma outra técnica faz você pensar sobre o que foi que mexeu com você. Verbalizar sobre isso não necessariamente faz você mudar de atitude, porque senão fumante não fumava, porque sabe que aquilo é terrível. Então não necessariamente mexer na ferida emocional vai garantir uma mudança de comportamento, isso eu não vejo. Agora, que a TCC dá

resultados, dá. E tem um caráter psicoeducativo? Tem, é um caráter pedagógico. Agora, dizer que ele é superficial, de forma nenhuma. Mas existem limites. Eu fiz o formato com uma mulher que estava depressiva e deu muito certo. Vai garantir que todos os pacientes que têm depressão vão se dar bem com a psicoterapia breve? Não, eu vejo que, claramente, muitos não entrariam no formato de psicoterapia breve. Até o tempo que eles levam pra verbalizar varia, porque em alguns pacientes o medicamento ainda está começando a fazer efeito. Não, não é pra todo mundo.

ANEXO B – ENTREVISTA COM A PSICÓLOGA ANIUSKA FIGUEIREDO

Você trabalha com a psicoterapia breve? Se sim, pode falar um pouco da abordagem e dos teóricos que baseiam sua prática? Na verdade a psicoterapia breve ela é muito importante na área escolar pra quem vai trabalhar com crianças e com jovens. A psicoterapia breve ela fala muito em você centralizar todo o atendimento na queixa, porque você tem um tempo mais ou menos determinado de fim. É algo mais, não é que seja imediatista, mas é algo mais focado. Eu gosto de trabalhar nela, principalmente em dois aspectos, no consultório, às vezes a gente se depara com pacientes que eles não têm nem estrutura psicológica e nem estrutura financeira e física para tá muito tempo na terapia. Então a gente tem a gente se depara muito com isso. A gente precisa resolver o foco, mas ele não tem tempo, não tem dinheiro, também é uma realidade muito importante, a gente que tá na área, a gente percebe que as pessoas não têm essa disponibilidade e você precisa resolver o problema da pessoa, então a gente foca, realmente, no problema em si. Então uma questão mais simples, mas simples não, uma questão mais clara. Um exemplo, eu tenho um aluno que ele tá tentando há vários anos, eu vou falar no vestibular de medicina porquê é um vestibular mais concorrido, vários anos nessa percepção de querer passar, então você percebe que o aluno já tem tudo. Ele já tem um conteúdo bastante, já tem habilidades e estratégias, mas emocionalmente ele tá fragilizado, então ele vem com essa demanda para o consultório. Então com a psicoterapia breve eu consigo trabalhar essa demanda

especificamente. Primeiro que ele não tem tempo, ele precisa também de ter tempo para estuda, então ele não pode estar vindo passar muito tempo na terapia e as vezes nem vai também, você percebe que seu paciente, na cabeça do vestibulando, ele não quer tá saindo toda hora, na cabecinha deles eles deixam de fazer questão, então você precisa ser o mais pontual possível. Então assim, pra mim, principalmente que trabalho com jovem e adolescente, eles precisam muito. Eu uso bastante a psicoterapia breve. Lógico que tem casos que não, que tem um fundo mais emocional, mais familiar, uma coisa mais conteudista, que você precisa fazer... voltar em algumas questões, aí sim, mas eu acho que funciona bastante, principalmente quando alguém já tem a meta da sua angústia. A formação, eu sou psicóloga e eu sou psicóloga escolar, sou pós-graduada em psicologia escolar. Gosto muito de Carl Roger e Jean Piaget eu acho que eles funcionam bastante juntos. Na verdade é uma coisa que eu tenho observado na prática que a gente sempre pega um pouquinho de cada um e vai formando nossa forma de trabalhar muitas pessoas falam bem assim "não dá você tem que escolher uma linha", eu sou muito sincera, eu não deixo de forma nenhuma, lógico que a psicanálise não foi uma linha que me encantou na faculdade, mas eu não deixo de muitas vezes passar por Freud ali, ver o que acontece na infância, depois eu passeio por Carl Roger vou por Jean Piaget, entendeu? Então assim, eu vou, lógico que quando você fala de educação você fala escolar você não pode perder de forma nenhuma Piaget, ele trás bastante bagagem pra você, mas eu não consigo me prender, não sei se tô errada ou não, mas eu não consigo tomar pra mim uma linha de verdade absoluta, por nós sermos psicólogos né? A gente já aprende isso muito rápido que não existe verdade absoluta, então eu tento passear, eu acho que é muito interessante. Agora eu tô na linha de psicologia positiva então eu percebo que a gente tá tendo muito ganho com os adolescentes, com as crianças, e com os jovens adultos também, a gente trabalhar psicologia positiva. Por que? Porque a sociedade tá muito crítica, a sociedade a família... então às vezes a gente deixa de potencializar qualidade nas pessoas e sempre tá ali com o dedão apontando o erro então às vezes quando a gente potencializa algo de, lógico que tem que ser um elogio positivo verdadeiro não adianta ser algo que seja pra poder fingir que a pessoa é legal não, mas eu acho que é... eu tô encantada, muito encantada com a psicologia positiva então eu tô nessa vibe agora. Na faculdade eu estava extremamente encantada com fenomenologia tanto é que meu TCC foi voltado pra isso então eu saí achando que eu ia trabalhar o fenômeno com as pessoas o tempo todo só que na prática eu não consigo só isso, principalmente por causa do meu público ele é um público imediatista

então eles precisam ter resultado eles precisam estar bem emocionalmente, porque a gente tem um simulado toda semana tem prova toda semana, então eu não tenho muito tempo pra poder andar por esses momentos e pra mim com psicologia escolar eu aciono bastante. Reforçando o que eu falei: na escola e no cursinho eu não faço terapia eu não sou clinica eu sou a psicóloga escolar que trabalha com o todo acolhe a informação e a maioria das vezes a demanda que vem pra mim eu encaminho pra um profissional e inclusive eu não atendo pessoas de onde eu trabalho, por questões de ética, eu não sei se no nosso estatuto da psicologia tem alguma coisa referente a isso mas pra mim a ética não tem sentido, você é uma aluna vem falar comigo, vejo que você ta emocionalmente com algumas questões que não ta conseguindo trabalhar sozinha e eu preciso encaminhar pra um profissional então jamais eu vou dizer “olhe, Luiza, tome aqui meu cartão e procure meu consultório que ce ta precisando de mim, de uma pessoa como eu”, não, então assim, eu separo bastante isso, entao alunos, tanto da escola quanto do cursinho eu não atendo no meu consultório, eu realmente encaminho pra outros profissionais, eu dou a opção de 3, caso eles me peçam ne, lógico, e é assim. Mas o TCC funciona muito muito muito, eu fiz alguns cursinhos de tcc e gostei bastante. Na verdade, eu vou fazendo umas teias de aranha viu. Eu vou fazendo algumas conexões, eu viajo na área da psicologia, lógico, eu tento ter uma linha e como eu te falei a tcc é algo que pra mim, pros meus alunos e pros meus pacientes funciona bastante, mas tem alguns alunos que eu percebo que eles se identificam mais com a psicanálise, e precisam... então, assim, dependendo do que eles tragam pra mim, eu to aberta a outras teorias também. Na sua opiniao, o caráter pedagógico presente na psicoterapia breve pode apresentar implicações negativas? Vejam, na verdade o que a gente não pode é induzir ao nosso paciente algo que seja... que a gente acha. Achismos, entendeu? Eu acho que aí realmente é uma linha bem fininha, e eu não vou dizer a você que muitas vezes eu preciso trazer opções pra meu paciente, eu uso bastante isso. Eu vou te dar um exemplo do que aconteceu com uma aluna: essa aluna já tinha tentado, já estava tentando 7 anos passar no vestibular em Medicina, então essa aluna já tinha passado por todos, todos os cursinhos que você imaginar em escolas. E ela estava pronta. Era aquele tipo de aluna que fazia os simulados e tirava uma nota boa, era aquele tipo aluna que tirava as dúvidas dos

colegas, mas na hora dela fazer a prova o resultado dela era extremamente negativo. Ela chorava, ela tinha crises de choro. Então, a partir do terceiro ano que ela tentou vestibular, ela apresentou essas crises. O que aconteceu? Ela chegou pra mim e a primeira consulta, o primeiro atendimento que eu tive, foi com a mãe dela. A mãe dela chegou assim pra mim e disse "veja, eu quero lhe pedir um favor" e eu disse "o que você quer me pedir?" e ela "eu quero que você fale pra ela desistir porque nós da família não aguentamos mais, é um sofrimento, e ela não tem como ficar do jeito que ela está. Então eu estou te pedindo, pelo amor de Deus, faça com que ela desista." Então, o que é que eu conversei com a mãe dela... e ela já tinha caído cabelo, vários sintomas já estavam causando ela. Aí eu disse a mãe dela que eu não poderia fazer isso, não posso induzir ninguém a desistir, mesmo sabendo que o sofrimento dela é muito grande. Então eu não poderia fazer isso. Eu poderia ver outros caminhos e possibilidades. E assim foi feito. Quando eu chamei ela pra conversar ela tava... ela tava no cursinho. Isso tem dois anos atrás, mais ou menos. Quando eu chamei ela pra conversar, a primeira coisa quando ela entrou no meu consultório, ela falou bem assim "Ani, eu vou lhe pedir uma coisa" e eu disse "diga" e ela "não peça para que eu desista" e eu disse "por que você ta me pedindo isso?" ... "eu tenho certeza que mãe já pediu isso, porque todo psicólogo que eu vou, minha mãe pede isso e meu vínculo é quebrado ali. Eu não quero. Então eu não quero que me peça pra desistir, porque se fosse pra desistir eu já teria me formado em outras graduações" ela já tinha passado em tudo que você possa imaginar, só não medicina. "... então eu não vou desistir". E eu fui acompanhando ela. Quando chegou no meio do ano a crise dela piorou. Então ela começou ter uma crise de se machucar. Vou só deixar um pouquinho mais vago pra não entrar muito em detalhes. Se machucar... Foi quando eu chamei novamente pra conversar e ela me trouxe a demanda que ela não se via fazendo outra coisa, então assim, ela não se imaginava fazendo outra coisa a não ser Medicina. Quando chegou... eu conversando com ela, eu disse "qual seu plano B?" ela disse "não existe plano B na minha vida" eu disse "por quê?" ela disse "porquê eu não me vejo fazendo outra coisa"... [psicóloga] "Então tudo bem, vamos conversar de maneira bem franca". Fiz um histórico breve do que estava acontecendo com ela e falei a ela "se daqui há dez anos você não conseguir" e ela disse "não é possível que eu não consiga" eu disse "sim, se daqui há 10 anos você ainda ta tentando aqui, e ai? Você vai estar com 37 anos. Como é que faz?" aí ela ficou um pouco em pânico, né? naquele momento, e eu disse "então vamos fazer o seguinte, o que você acha..." aí sim, no caso, eu tive que trazer um olhar meu. "... o que você acha de você dar um prazo pra você de

dois anos? Se em dois anos você não conseguir entrar em Medicina..." já tinha sete, né? Oito, nove "... você tenta um plano B?" aí ela disse "não, eu não consigo me ver em outra coisa" [psicóloga] "mas veja, tente o plano B. Diga assim "daqui 2 anos, se eu não conseguir, eu vou fazer um plano B. Meu plano B é tal profissão" e a gente, juntas, pesquisamos alguma situação." aí ela disse "tudo bem, mas eu não quero que você conte a ninguém" e eu disse "não se preocupa! eu não contei nada, quanto mais isso." E naquele dia... na segunda vez que eu encontrei com ela, ela disse "Ani, meu plano B é fisioterapia" eu disse "por quê?" Aí ela foi explicar, né? E eu disse "então, o seu plano B é esse?" [Paciente] "é, daqui há dois anos, se eu não passar, meu plano B é fisioterapia". E o que aconteceu com ela? Ela passou. Com três meses depois da nossa conversa. Isso foi em Junho... Julho, Agosto, Setembro, não... Outubro, porque o vestibular foi em Outubro... foi. Ela passou. Então o quê que tava faltando pra ela? Ela entender que ela precisava de um plano B. Eu tive que sugerir isso a ela. Eu entendi, no decorrer do tempo, eu entendi que se ela parasse de ser tão rígida com ela e trouxesse, entre aspas, esse plano B, ela se permitia relaxar. E aconteceu que ela passou. Então chega um momento que ela precisou... eu precisei trazer um novo olhar pra ela, e aí, assim, eu faço isso muitas vezes, principalmente quando eu acho que precisa. Lembrando que a escolha é sempre do paciente. A gente pode trazer, não é sugestionar, não é dizer "eu acho que você deve fazer isso", não. Eu acho, que na verdade, é trazer um novo olhar pra ele e ele vai decidir se ele está disposto ou não. Se ele disser que não, pronto! Se ela dissesse "não, não quero um plano B" eu trabalharia com ela, ela tentar lidar com as frustrações, entendeu? É mais ou menos assim. Acho que você entendeu. E o que garante que esse caráter pedagógico traga mudanças profundas e significativas?

Na verdade, nada garante... O que a gente tá fazendo é algo imediatista. E aí tem muitão com TCC também. Então, uma pessoa que tem pânico de andar no avião e precisa entrar no avião com urgência porque ela tem um congresso para ir, não tem como você trabalhar a não ser isso. Então talvez talvez você não tem tempo. Na verdade, a psicoterapia breve é para algo emergencial. Lógico que se o paciente tiver demanda e tempo, a gente vai trabalhar fundo, a gente sabe que existe muita coisa por trás disso. Mas a psicoterapia breve, ela já diz o nome: é breve. Não quer dizer que resolveu o problema, foi naquele momento, para aquela ação, o paciente conseguiu se mover, como

entrar dentro de um avião, entendeu? Mas naquele momento. Possa ser que a demanda depois venha? Possa. Possa ser que esse paciente, ele fique de boas depois? Também pode. Aí quando eu trago para você: não existe uma verdade absoluta. Se ficar muito presa em teoria de papel, a gente tem, pode correr o risco de trazer alguns prejuízos para o paciente entendeu? A menina está super feliz, feliz da vida. E o que é que ela me vem relatando? A gente sempre se comunica pelo Instagram, porque ela não passou aqui não, ela passou fora. Ela diz: Ani, a minha vida tem um plano B, porque toda vez que eu boto o plano B eu, parece que eu relaxo e me permito errar... Então ela traz isso pro relacionamento... antes o que ela fazia: os relacionamentos dela eram tudo na vida dela, então hoje ela diz: não, se não der certo eu vou ter minha resiliência para procurar... Então assim, para ela serviu, entendeu? Pode ser que para outra pessoa não. Então assim, vai muito da sensibilidade do terapeuta também.

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