Projeto Comu -gela

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Universidade de Mogi das Cruzes Camila Francini Mariana Rocha dos Santos Diego da Cunha Santos

Guaraná Antarctica Ice: Diversidade Cultural Brasileira, Biodiversidade e Propaganda.

Mogi das Cruzes, SP 2008 1

Universidade de Mogi das Cruzes Camila Francini – 52666 Mariana Rocha dos Santos – 54007 Diego da Cunha Santos – 54058

Guaraná Antarctica Ice: Diversidade Cultural Brasileira, Biodiversidade e Propaganda.

Relatório de pesquisa da disciplina Projetos Produtos e Processos Midiáticos apresentado ao curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda da Universidade de Mogi das Cruzes como parte dos requisitos para a conclusão do primeiro ano, sob orientação dos Professores Doutores: Luci Bonini e Sersi Bardari.

Mogi das Cruzes, SP 2008 2

Sumário 1. Introdução................................................................................................................ 4 2. Propaganda, Biodiversidade e Diversidade Cultural .............................................. 6 2.1 Propaganda ...................................................................................................... 6 2.2 Biodiversidade: o guaraná e sua descoberta ................................................... 7 2.3 O Guaraná Antarctica ..................................................................................... 10 2.4 O Histórico da Agência DM9DDB ................................................................... 13 2.5 Globalização, Biodiversidade e Diversidade Cultural ..................................... 15 3. Análise do Filme Publicitário ................................................................................ 18 4. Referências........................................................................................................... 25

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1.Introdução O comercial do novo Guaraná lançado pela Antarctica, o Guaraná Antarctica Ice, se passa na Amazônia, em uma aldeia típica da região, onde seus habitantes, nocaso os índios estão fazendo a dança da chuva. Enquanto dançam, batendo fortemente os pés e exagerando um pouco na coreografia, eles gritam fortemente “Éoqueé, éoqueé...”, como se fossem as palavras do ritual, então o cacique olha para o céu e as nuvens se fecham e de repente começam a cair flocos de neve e o chefe da tribo fala ao curandeiro “Xiii, acho que a gente exagerou”. Depois disso a cena corta para a aldeia coberta de neve, então entra a locução “Nevou na Amazônia. Chegou Guaraná Antarctica Ice. O Guaraná que gela a goela”. Ao final, aparece a vinheta do coração congelado pulsando. Este trabalho tem como tema analisar dentro do comercial a diversidade cultural brasileira, a biodiversidade e a propaganda, já que há no comercial um pouco desses três temas: a diversidade cultural brasileira denotada pela presença dos índios no comercial, a biodiversidade, uma vez que é na floresta Amazônica o berço do guaraná, e por último a propaganda, que é o anúncio do lançamento de um novo produto no mercado. Esta pesquisa utilizou-se da fundamentação teórica contida em Ribeiro (2007), Lewinsohn (2002), Oliveira (2002), Bonini (2008), César (2002), Vestergaard (2000), Mattelart (2000) Compreender o motivo que leva a Ambev, empresa produtora do Guaraná Antarctica Ice, a usar o índio em sua campanha publicitária poderá ajudar os estudantes de comunicação a ver o índio não apenas como mais um elemento na grande diversidade cultural brasileira, mas sim como um povo que merece ser respeitado por ser nativo da terra brasileira. Acreditamos ser importante mostrar a diversidade cultural, assim como a biodiversidade brasileira, pois ambos precisam ser alvos de discussões não só no meio acadêmico, mas também no meio social. Essa pesquisa se identifica como acadêmica, uma vez que o curso de Comunicação Social da Universidade de Mogi das Cruzes é articulado por projetos de pesquisas e com o tema pretende-se gerar conhecimento a partir do objeto acima citado.

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Como finalidade desta pesquisa, a discussão da Diversidade Cultural e Biodiversidade Brasileira que aparecem no comercial do “Guaraná Antarctica Ice”, pois esses dois temas são muito abordados nos dias de hoje. Compreender a biodiversidade brasileira, analisar a campanha do “Guaraná Antarctica Ice” levandose em consideração os fenômenos da diversidade cultural e a biodiversidade brasileira. Já a metodologia utilizada será o Estudo de Caso, usando o método dedutivo, pois iremos compreender como o comercial do Guaraná Antarctica Ice influência os consumidores. Também iremos pesquisar como a diversidade cultural e a biodiversidade brasileira são utilizadas nessa campanha da Antarctica. As técnicas utilizadas serão a pesquisa bibliográfica, pesquisa telematizada, utilizando sites como os da Ambev, anunciante do produto, a produtora DM9DDB, entre outros, pesquisa exploratória e análise da propaganda do Guaraná Antarctica Ice.

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2. Propaganda, Biodiversidade e Diversidade Cultural 2.1 Propaganda A propaganda é uma divulgação de um produto e se prestarmos a atenção, ela não nos abandona nunca: sempre que ligamos a TV ou olhamos para cartazes nas ruas, nos deparamos com anúncios de todos os tipos. A propaganda utiliza meios como televisão, rádio, internet para se difundir. Harris e Seldon (1962) definem a propaganda como uma notícia pública “destinada a divulgar informações com vistas à promoção de vendas e bens e serviços negociáveis”. A propaganda é persuasiva e capitalista, pois ela faz consumidores comprarem produtos, esses produtos muitas vezes são desnecessários. A propaganda não só vende produtos, mas também status. Por exemplo, se o consumidor comprar produto x, ele fará parte de um grupo especial de consumidores do produto x. Ela também é capitalista, como no comercial do Guaraná Antarctica Ice, o intuito do comercial é fazer com que os consumidores comprem o produto anunciado, que eles consumam, pois assim a empresa anunciante estará ganhando. Segundo Shroder (1988), a propaganda constrói um universo imaginário em que o leitor consegue materializar os desejos insatisfeitos da sua vida diária e também que a propaganda se fundamenta no desejo subconsciente de um mundo melhor. A função da propaganda vai muito além da venda de um produto – ela opera por caminhos sutis no sentido de nos levar a adotar um determinado modo de vida ou incorporar determinados padrões de necessidades.

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2.2 Biodiversidade: O Guaraná e sua Descoberta O guaranazeiro (Paullinia cupana, variedade sorbilis (Martius) Duke) é uma planta nativa da Amazônia, produz o fruto conhecido como guaraná. É uma espécie vegetal arbustiva e trepadeira da família das sapindáceas, cujo nome provém do termo indígena "varana", que significa árvore que sobe apoiada em outra. Cultivado inicialmente, na Amazônia pelos índios maués. A propagação do guaranazeiro por sementes é dificultada devido às suas características de perda rápida da viabilidade, não suportando desidratação acentuada nem baixa temperatura, enquadrando-se no grupo de sementes recalcitrantes. Além disso, a constituição genética altamente heterozigótica do guaranazeiro faz com que as características desejáveis sejam perdidas imediatamente, se forem propagadas por sementes, devido à segregação dos genes. As fotos abaixo revelam a grande variabilidade genética da espécie.

Imagem 1

Imagem 3

Imagem 2

Imagem 4

Imagens de 1 à 4 mostram frutos de guaraná maduros.

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O guaraná é usado na indústria farmacêutica e na fabricação de refrigerantes, xaropes, sucos, pó e bastões. São atribuídos ao guaraná, entre outras, as seguintes propriedades: estimulante, afrodisíaco, ação tônica cardiovascular, combate a cólicas, nevralgias e enxaquecas e ação diurética e febrífuga. O uso terapêutico da cafeína pode causar dependência psíquica e síndrome da abstinência; cosmético, no tratamento de pele oleosa e celulite (USP, 2004). O guaraná contém: cafeína, proteína, açúcares, amido, tanino, potássio, fósforo, ferro, cálcio, tiamina e vitamina A. O teor da cafeína na semente do guaraná pode variar de 2,0 a 5,0 % (do peso seco), maiores que os do café (1 a 2%), mate (1%) e cacau (0,7%).

Imagem 5

Imagem 6

Imagens 5 e 6 mostram frutos de guaraná maduros e secos.

A colheita é manual, retirando-se os frutos maduros (abertos) ou os cachos. Após a colheita, os frutos devem ser amontoados num galpão por dois a três dias, para uma leve fermentação. Em seguida, são despolpados, manualmente ou por meio de máquinas despolpadeiras, secados ao sol ou com auxílio de secador artificial. A secagem artificial deve lenta e durar em torno de quatro a cinco horas até atingir em torno de 9% de umidade. Temos, assim, o grão de guaraná torrado, conhecido como guaraná em rama.

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Imagem 7 – Senhor fazendo a colheita do guaraná.

Os indígenas criaram várias lendas para a origem do Guaraná, em uma dessas lendas, sua origem provém da morte do filho de uma índia e que retirando o olho direito do menino morto e enterrando-o na terra nasceu o guaranazeiro, uma outra lenda, o filho do Pajé da aldeia, uma criança muito bonita, ao ser assustada por um espírito em forma de serpente, cai da árvore e no local de sua sepultura nasce um pé de guaraná, já outra mostra um amor impossível entre uma índia e um índio de tribos inimigas que vendo que nunca poderiam ficar juntos se mataram aos pés de uma árvore, Jaci, a deusa protetora dessa índia fez brotar de sua sepultura uma árvore, onde seus frutos já maduros lembravam dois olhos negros, como os da índia. O predomínio da morte e sofrimento nessas lendas indígenas mostra o amor e devoção pela natureza e suas maravilhas.

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2.3 O Guaraná Antarctica A Ambev Companhia foi criada em 1º de julho de 1999, com a associação das cervejarias Brahma e Antarctica. A fusão foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em 30 de março de 2000. Líder no mercado brasileiro de cervejas, a AmBev está presente em 14 países, é referência mundial em gestão, crescimento e rentabilidade. Com a aliança global firmada com a InBev, em 3 de março de 2004, a Companhia passou a ter operações na América do Norte com a incorporação da Labatt canandense, tornando-se a Cervejaria das Américas, referência mundial entre as indústrias de bebidas. A Ambev trabalha com produtos como: Antarctica, Pepsi, Gatorade, entre outros.

Imagem 8 – Alguns produtos da Ambev Companhia

Um dos principais produtos da Ambev, no Brasil, é o Guaraná Antarctica, lançado no mercado brasileiro em 1921, como Guaraná Champagne Antarctica. Além do sabor único, uma de suas principais características é a de ser um refrigerante natural. Desde a criação do refrigerante, a Antarctica já comprava o fruto do guaraná diretamente de fornecedores da região de Maués (AM), para produzir o extrato em sua unidade em São Paulo. Com o sucesso do produto e o aumento do consumo, a Antarctica detectou, no final da década de 1940, a necessidade de estabelecer um escritório na região uma filial da companhia para facilitar o comércio do fruto, realizado diretamente em Maués. O extrato do guaraná, porém, continuou sendo produzido em São Paulo até 1962, quando entrou em atividade uma unidade industrial para extração do fruto na cidade de Maués. 10

Imagem 9

Imagem 10

Imagem 11

Imagens de 9 à 11 mostram propagandas antigas do Guaraná Antarctica

Mas foi no início da década de 1970, com a preocupação de garantir a qualidade da matéria-prima, que a Antarctica passou a produzir parte dos frutos para produção do Guaraná Antarctica. O início do plantio, em 1971, na Fazenda Santa Helena permitiu à empresa aprofundar os estudos sobre a cultura do guaraná e repassar a tecnologia e os conhecimentos desenvolvidos no local para os demais fornecedores. Assim, a Antarctica garantiria a melhor qualidade e preços menores das sementes compradas de terceiros, como diz o site do Guaraná Antarctica. O Guaraná Antarctica já teve vários slogans como: “Este é o sabor”, “O Original do Brasil”, “O único que conseguiu imitar o sabor do Guaraná Antarctica. (1995, linha Diet)”, “Guaraná Antarctica e você. Ninguém Faz Igual” (2005), “É o que é” (2007), “O Guaraná que gela a goela” (2007, GUARANÁ ANTARCTICA ICE), entre outros, como mostra o Blog Mundo das Marcas.

Imagem 12

Imagem 13

Imagens 12 e 13 mostram alguns layouts da lata de Guaraná Antarctica

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Em setembro 2007, a Ambev lançou seu mais novo produto no mercado, o Guaraná Antarctica Ice, o primeiro refrigerante com efeito “cooling”, que garante aquela refrescância que gela a garganta após a ingestão. Adrianne Elias, gerente de marketing de refrigerantes e não-alcoólicos da Ambev diz: “Com essa novidade, Guaraná Antarctica sai na frente e mostra a busca constante da marca por inovação e dinamismo. A sensação de frescor, sem descaracterizar o sabor único do Guaraná Antarctica, é o grande diferencial”.

Imagem 14

Imagem 15

Imagens 14 e 15 mostram logo do Guaraná Antarctica Ice e lata de 350 ml.

Nesse novo produto, a fórmula original à base de guaraná ganha um toque de ingredientes especiais que proporcionam o efeito “cooling”. A bebida chegou ao mercado na versão regular, e pode encontrada nas seguintes embalagens: lata de 350 ml ou PET de 2 litros. A lata, com ícones que remetem à refrescância do produto, foi desenvolvida pela agência Narita Design, assim como o rótulo da PET, que leva a assinatura da Coverplast.

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2.4 Histórico da Agência DM9DDB DM9DDB é uma agência de publicidade brasileira, fundada em São Paulo (a origem é baiana) em setembro de 1989. "História que foi iniciada e construída por Nizan Guanaes e Guga Valente repleta de inovações e ineditismos e que é continuada por Sérgio Valente desde 2005", diz a agência , em nota à imprensa. Nizan Guanaes e João Augusto Guga Valente compraram a marca DM9 antes usada regionalmente na Bahia.

Imagem 16 – Logo da agênica DM9DDB

Segundo o site o Portal da Propaganda, a DM9 se tornou a agência brasileira mais premiada internacionalmente sob o comando de Guanaes. Associou-se à DDB Worldwide, uma das maiores rede de agências do mundo, em 1997, passando a se chamar DM9DDB. A DM9 foi a agência que mais conquistou prêmios de 1999 pra cá, “Nestes 19 anos, a DM9 reuniu trabalhos memoráveis. Campanhas que fizeram e fazem parte da história da propaganda e do processo de construção de grandes marcas brasileiras ”, diz o presidente da agência, Sérgio Valente.

Imagem 17

Imagem 18

Imagens 17 e 18 mostram alguns cases eitos pela agência DM9DDB

¹O estilo criativo que sempre marcou a história da agência transborda para todos os departamentos. Na mídia, essa característica é visível. Quando se fala em trabalho de mídia diferenciado, muitas pessoas do mercado lembram do Super 15 13

andando de bicicleta pela cidade para anunciar o DDD e DDI da Telefônica, ou então os

projetos

para

a

Honda

nas

concessionárias.

Porém, na DM9 não existe a intenção de ousar apenas para os grandes clientes. Paulo César Queiroz, vice-presidente de mídia da DM9DDB diz “Não importa se a marca é grandiosa ou menor; a gente procura um local de domínio para que ela seja perceptível", e diz também “independentemente da verba, o objetivo da agência é fazer com que cada cliente tenha uma marca registrada e que esta se fixe na mente dos consumidores, para que eles passem a ligá-la diretamente ao anunciante”. (¹ Dados retirados da revista online “revista propagada”).

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2.5 Globalização, Biodiversidade e Diversidade Cultural Quando se fala sobre biodiversidade, logo se lembra da Amazônia, tanto pela sua importância cultural quanto vital para a manutenção do planeta, especialmente a porção brasileira dessa floresta tropical, pois a mesma esta ainda presente em outros países. Esse termo, biodiversidade, teve várias ênfases, em um primeiro estágio era usado para preservar espécies ameaçadas pela caça predatória, já em um segundo momento estava, ligada a espécies que tinham um certo carisma como baleias, urso panda e o boto rosa, a importância destas espécies era basicamente pelo seu carisma e não por suas funções na manutenção do sistema biológico. Biodiversidade ou diversidade biológica foi um termo proposto por biólogos em meados dos anos 80, a definição mais precisa foi a adotada pela Convenção sobre diversidade Biológica que a define como: a variabilidade dos organismos vivos de toda origem, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistemas.

A preservação da biodiversidade está diretamente ligada às fontes alimentares, pois o homem sempre utilizou e utilizará as plantas e os animais como fonte alimentar. A biodiversidade não consiste somente em um conjunto de seres vivos, mas em um sistema cujos integrantes são interdependentes e o desequilíbrio das partes afeta o todo. Segundo o Primeiro Relatório Nacional para Convenção sobre Diversidade Biológica, de 1998, o Brasil detém de 10 a 20% de toda a diversidade mundial, reunindo em seu território cerca de 70 % das espécies de vegetais e animais do planeta, o que lhe garante o primeiro lugar entre os países. A sua flora compreende de 20 a 22% do total mundial, a fauna corresponde a 27% do total planetário e ocupa o primeiro lugar na diversidade de peixes de água doce e mamíferos, está em segundo lugar na concentração de anfíbios e vertebrados, em terceiro na de aves e em quinto na de répteis. Toda essa diversidade biológica esta distribuída em seus principais biomas, são eles: a Floresta Amazônica, a maior floresta tropical remanescente, com 3.700.000 km² em território nacional, a Caatinga que possui vastas extensões semiáridas, e uma área de 1.000.000km², o Cerrado, incluindo os campos rupestres, é a 15

maior área de savana em um único país, com 2.000.000km², a Mata Atlântica, um dos mais importantes biomas do país que se estende de norte a sul, incluindo campos de altitude, restingas, mangues, floresta de araucária e campos sulinos, com uma área de 1.000.000km² e o Pantanal, uma importante área úmida, com 140.000km². Além da biodiversidade, o Brasil possui uma relevante diversidade cultural, que se manifesta pela diversidade de linguagem, crenças religiosas, práticas no trato com a terra, na arte, na estrutura social. Em todo território vivem descendentes de europeus, africanos, asiáticos além de mais de 200 grupos indígenas, e cada um desses grupos indígenas ainda se subdivide em outros, com línguas e formatos culturais distintos. Essa diversidade cultural e biológica contribui para a solução de alguns problemas: o conhecimento indígena é utilizado na fabricação de remédios, mas isso não ajuda em questões relativas ao uso da natureza como fonte de matéria prima de uma forma ordenada e que respeite a todos e não favoreça somente a um ou outro grupo. Segundo, Hassan Zaoual durante os últimos vinte anos, em resposta ao agravamento das crises financeiras dos países pobres, cresceu o interesse atribuído ás relações entre as culturas,até mesmo as religiões e por último o desenvolvimento. Hassan Zaoual acredita que essa evolução coincide perfeitamente com o questionamento das concepções mecanicistas e exclusivamente quantitativas da gestão de empresas nos países globalmente ricos. Essa concepção transversal e local em matéria de mudança fez com brechas se abrissem no mercado.Essas brechas ilustram a busca de uma articulação mais afetiva entre o econômico e o social, e no mesmo movimento,um deslocamento do global em direção ao local. A verdade segundo Hassan é que tudo acontece como se a globalização criasse um impulso planetário.Empurrando as populações, excluídas ou não,a buscar demarcações cognitivas. Segundo os critérios do progresso tal como definidos no Ocidente, os países pobres já experimentaram tudo: marxismo, nacionalismo e liberalismo.Assim podemos ver que o Ocidente é tão ambíguo quanto o Oriente! Cada vez que um país torna-se mais semelhante ao Oriente passa a ser então um concorrente a ser destruído. O país que mais se diferenciar e se afastar do paradigma de definições 16

ocidentais terá conseqüentemente restrições do mercado e recursos a menos para sua economia. Assim concluímos que cada sistema econômico possui seu capital cultural no qual é preciso integrar as motivações de sentido. Hassan Zaoual nos mostra que o dialogo entre as culturas e as religiões antecede o da cooperação econômico e tecnológica. O autor diz que “ A cultura do domínio esta abalada por quedas de confiança com que o mundo atual se defronta.Provando assim que a lógica do crescimento econômico é incompatível com a ecologia e a preservação da diversidade de culturas. Segundo Bonini (2008) A revolução digital é baseada no desenvolvimento de hardwares, na expansão das telecomunicações e no crescente aparecimento de novas soluções em softwares e teve como conseqüência uma internacionalização de idéias . Bonini acredita também que os mecanismos de acumulação de capital, a concorrência nos mercados, o desenvolvimento científico e tecnológico que proporcionam o trânsito internacional de bens materiais e simbólicos numa velocidade vertiginosa, levou a uma tendência de uniformização do sujeito. Enquanto a arte contemporânea foi em busca da subjetividade, a partir dos movimentos de vanguarda no início do século passado.

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3. Análise do filme publicitário A seguir faremos uma análise do filme publicitário “Amazônia”, duração 30 segundos, que foi produzido pela agência DM9DDB em São Paulo. Este filme anuncia o lançamento de uma nova bebida no mercado, o Guaraná Antarctica Ice, lançado pela AmBev

Nas primeiras cenas do comercial, é mostrada a aldeia de um ângulo superior. Como vemos na imagem, há a floresta amazônica em volta. A terra seca no chão e a poeira levantada que ela está causando, dá a idéia de um clima seco. Já no segundo No 7º quadro, quadro, aparece temos a a imagem imagem do do índio, pajé ejá preparado poeira, isso paraseo deve ritualaoda dança fato de daque chuva. faz parte da Depois Nestes éque dança mostrada o pajé próximos afique cena onde quadros jogando o terra pajé são para mostrados pega o ar. um punhado os pés mesmo Neste dos da terra índios quadro, seca que e logo estãoapós também em ele vemos um joga grande uma essa terra, círculo, pequena em eparte um as pontas da movimento floresta dos rápido, cajadosdando amazônica noaoassim chão. fundoinício eOso aocéu índios ritual. está começam Aazul, partirdando adeste batera4º quadro fortemente impressão o os restante depés clima e os dos índios cajados quente, daque no aldeia échão, típico já entram essa da em ação floreta cena.amazônica, dará Assimênfase que jáa que terra no éesta ritual jogada, é ao o uma ritual longo da floresta dança do datropical. comercial. chuva começa.

Então, depois que o ritual é iniciado, os índios começam a dizer as palavras “mágicas”, que no caso é “Éoqueé, éoqueé, éoque oqueé oqueé...”, essa frase É o que é, é o slogan do Guaraná Antarctica. A repetição da frase lembra os sons da língua tupi-guarani, como No começo do comercial, há por exemplo um som de manidoca, pássaros tacacá, Iguaçu, cantando, tucupi, pois a aldeia é Pindamonhangaba cercada por floresta, éentre um outras utilizadasa aldeia em nosso som tranqüilo, está dia-a-dia. em silêncio. No momento em que o pajé A biodiversidade brasileira olha para o céu a espera da nos dá diferentes paisagens chuva, há um neste silênciocaso. de como vemos expectativa, e bem ao queira fundo Embora o comercial escutamos novamente passar ao espectador que foio barulho da mata, gravado que na vem Amazônia, o que são pássaros. Pajés, no no mesmo foi gravado Brasil, conhecidos próprio sãoestado de como São pessoas de destaque em uma Paulo,conforme informações tribo indígenas. Em muitas da a produtora Killers. tribos são considerados Os diretores e produtores do Curandeiros, tidos por muitos comercial reproduziram um como portadores de poderes ambiente típico amazônico, ocultos ou representado orientadores matas, verde, espirituais. os por um Assim vilarejo,comoonde Xamãs, podem assumir dezenas de indígenas passamo papel de médicos, por um momento sacerdotes de seca. ou uso de plantas Estefazem ar deo seco ficou por para medicinais ou conta fins da terra seca, da invocação de entidades. poeira, do céu azul sem Normalmente nenhuma nuvem e do solo conhecimento da utilização forte. da planta correta para cada Podemos ver também as caso passado ocas, ou quesituação, são as é casas dos de geração emo site geração, índios e segundo portal trazendo uma da propaganda,assim para dar mais responsabilidade para ocaso realismo ao filme essas último Pajé da tribo. Os foram construídas seguindo índios acreditam que os os preceitos das tribos Pajés têm ligacões amazônicas, que diretas usam com os Deuses, é piaçava, madeira e cipó. um representante escolhido pelos Se prestarmos a atenção Deuses para passar a profecia escutaremos até o barulho da ao povo. terra sendo jogada. As falas é “Éoqueé, éoqueé, éoqueé, éoqueé, éoqueé...” voltam a ser repetidas todas as vezes em que eles começam a dançar a dança 18 da chuva, porém a cada tentativa, muda a entonação com que isso é dito.

Aqui temos a cena da primeira tentativa do pajé de fazer chover, todos em volta param de dançar e dizer, e se estabelece um silêncio em toda a aldeia. O pajé abre os braços e olha para o céu esperando que caíssem as primeiras gotas da chuva. Porém, não acontece nada, o céu continua do mesmo jeito que estava antes, azul e com um sol que parece estar esquentando muito as coisas por lá. Como nada acontece na primeira tentativa, todos voltam com o ritual, só que dessa vez, um pouco mais forte. Eles dançam, cantam novamente, fazem tudo de novo.

Nesta seqüência de cenas, temos imagens da dança e do Nesta que horaé aumimagem ganha índio, dos principais foco para o rosto docultural pajé, ícones da diversidade para mostrar o brasileira. Os índios deram desapontamento de eram mais uma origem ao Brasil, eles tentativa que não deu certo. que povoavam o Brasil antes Entãodescoberta eles começam tudo por de da feita novo, só que com muito mais Portugal, tanto é que aqui é vontade, eles como dançam com conhecida terra mais determinação, eles tupiniquim e que muitas das batem osdopés e os cajados palavras nosso vocabulário com origem mais força, eles gritam tem indígena, como mais forte. por exemplo, Tatuapé, que significa caminho do tatu; jacaré, aquele que olha de lado; mandioca, mãe da terra e por aí vai. O Brasil é um país muito rico em diversidade cultural, nossa cultura é uma mistura de várias dentretudo elas,dea Depoisculturas, de dançar indígena, africana... novo, o pajé abre os braços e olha para o céu, na expectativa que desta vez tenha dado certo.

Novamente, o pajé para, olha para o céu, um silêncio na aldeia e o som dos pássaros de fundo e rapidamente os índios começam é “Éoqueé, éoqueé, éoque oqueé oqueé...”, muito mais forte do que da outra vez. Não há uma música de fundo.

Todas as cenas de dança levam as falas é “Éoqueé, éoqueé, éoque oqueé oqueé...” Vale lembrar que todos os índios com exceção do pajé, pertencem às reservas indígenas Kayapó ou Mati que ficam localizadas em Jaraguá, Itanhaem e Parelheiros, em São Paulo. Antigamente os Kayapó eram considerados uma tribo muito belicosa e agressiva morando no sul do Pará e norte de Mato Grosso, vagueando por um território vasto desde a margem leste do Xingu até o Tapajós. A parte oriental da tribo foi pacificada por volta de 1940, e a parte ocidental 19 na década de 50, pelos irmãos Villas Boas.

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Nestas próximas cenas podemos perceber essa determinação. Os índios dançando, todos juntos, em busca de um objetivo, a chuva.

A dança é a mesma, bater fortemente os pés e seus cajados no chão, movimentando-se para os lados.

Depois de duas tentativas, o pajé vai para a terceira, novamente abre os braços e A câmera olha para o foca céu, nosó céu que escurecendo rapidamente, desta vez há uma mudança, tampando oazul, céuaquele azul e aquele O céu comercial mostrasol uma limpo, são e o deixando compor o forte tampados cena onde o céu aspectoescuras. de tempestade, nuvens escurece, dando o nessa hora vem sons de aspecto de chuva, O pajéventanias fica esperando pela brisas, e parece isso nas chuva,tempestade pois ao que floretas desta vez deu certo. tropicais, tempestades comuns Mas em vez de cairsão gotas de durante todo o ano, chuva, o que caiu forampor índiosentão, fazerem flocosisso dedos neve, o o ritual da chuva pois pajé faz uma cara de quem o tempo estava muito seco não entendeu o que tinha e isso não é comum para acontecido, e a neve suasaculturas. continua cair.

Esse comercial com índios, Amazônia, tem como finalidade representar um ambiente brasileiro, já que o guaraná, fruto utilizado para a produção da bebida anunciada, é um fruto brasileiro, de origem da floresta tropical, que é a Floresta Amazônica. E não teria nada mais brasileiro que índios e florestas. Tem até histórias sobre como surgiu esse fruto, uma delas é que um indiozinho que era muito bom e adorado por todos de sua aldeia, mas isso causou a inveja do anjo do mal, Jurupari. Então um dia, Jurupari matou o menino. Desolados, o povo da aldeia não tinham mais esperanças e a mãe do menino pediu a Tupã (Deus indígena) que seu filho ressuscita-se em forma de árvore, e o fruto dessa árvore curaria os males do povo. A mãe retirou os olhos do menino e os plantou, então nasceu uma nova árvore. Segundo a lenda, é por isso que o guaraná lembra um olho.

A partir daí, as cenas ficam mais escuras, mais sombrias, com um aspecto mais acinzentado, tirando aquela cor viva das imagens. Na parte sonora, os sons de pássaros saem de cena 21 para entrarem os sons que dão a idéia de frio, de ventos fortes.

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Com a floresta cheia de neve, dois índios comentam entre si o fato ocorrido, então um deles diz na linguagem indígena “Xii, acho que a gente exagerou”, ou seja, eles fizeram tudo com tanta vontade e tão forte que ao invésédemostrada chover, nevou. Então a imagem de uma parte da floresta cheia de neve.

Com a imagem da floresta coberta de neve de fundo, aparece à lata do Guaraná Antarctica Ice em um coração congelado, dando o sentido de frio, gelo, já que está bebida possui o efeito “cooling”, que dá um toque de frescor à garganta quando ingerido.

Já nos últimos quadros, some totalmente aquele clima tropical, e entra em cena um clima gelado, que lembra Antártida, que remete ao Guaraná Antarctica, além do uso da neve para lembrar do Guaraná Antarctica Ice, e dar a sensação de frio também nas imagens que perdem a cor, ficando um pouco apagadas, com um tom mais acinzentado que remete ao clima frio dos pólos.

Neste mesmo momento entra a narração “Chegou o guaraná Antarctica Ice, o guaraná, nesta parte há uma pausa na narração e entra em cena três índios, com as latas do guaraná na mão, um deles bebe o guaraná, e faz uma expressão de calafrio, nessa hora volta a narração: que gela a goela”. Esta pausa dura um segundo no máximo. Após a narração o comercial se encerra

4. Referências CESAR, Newton. Direção de arte em propaganda. 4. ed. São Paulo: Futura, 2002 255 p. LEWINSOHN, Thomas M.; PRADO, Paulo Inácio. Biodiversidade brasileira: síntese do estado atual do conhecimento. São Paulo: Contexto, 2002. 176 p.

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OLIVEIRA, Liziane Paixão Silva. Globalização e soberania: o Brasil e a biodiversidade na Amazônia. Brasília: Fundação Milton Campos, 2002. 137 p. RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia de Bolso, 2007 435 p. VESTERGAARD, Torben. A linguagem da propaganda. 3. ed São Paulo: Martins Fontes, 2000. 197 p. AmBev 2008  - Companhia de Bebidas das Américas disponível em . Acesso em 07 mar 2008. Blog da Luci disponível em . Acesso em 27 set 2008. Blog

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Antarctica

Ice

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. Acesso em 08 mar 2008.

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