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SEGUNDA-FEIRA, 29 DE JUNHO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
VIDA DIGITAL: ZED NESTI, 39 anos, ilustrador ■■■
O artista plástico brasileiro usa a rede social como fonte de inspiração e galeria para expor seus retratos
Um ‘livro de caras’ no Facebook
PARA FORA DO COMPUTADOR - Ilustração de
Zed Nesti feita para o ‘Link’; à esq., Madonna na série ‘Celebs’; abaixo, imagens de ‘The Book of Faces of Facebook’
ERNESTO RODRIGUES/AE
: LUCAS PRETTI Orkut é o nome do desenvolvedor turco que criou a rede social mais popular no Brasil, Orkut Büyükkökten. MySpace, em inglês, é algo como “Meu espaço” (ou “Meu canto”) – o local em que as pessoas podem ser o que quiserem. Facebook significa, na cabeça do criador Mark Zuckerberg, “um livro com todos os rostos do mundo” – e o Facebook é realmente tido como um site de penetração global. Pois o ilustrador e artista plástico brasileiro Zed Nesti levou ao pé da letra a imagem que Zuckerberg quer para o site. Elecriou umcaderno com desenhos inspirados em fotos postadas por usuários no Facebook – sejam eles amigos dele ou não. Cada página desenhada é fotografada e incluída numa galeria também dentro da rede social. O nome da obra só poderia ser The Book of Faces of Facebook (em português: ‘O Livro de Rostos do Facebook’). A ideia é simples e muito saborosa. A não ser que seja uma caramuitoconhecida,nãoépossível saber de primeira quem são os retratados. Zed então coloca na página consecutiva um número com 9 ou 10 algarismos que também dá título à obra: é o número de registro, a ID que leva ao perfil de quem está ali desenhado. A partir do desenhodafoto,então, é possível chegar à pessoa real,porintermédio do artista.
“
Essa é a coisa mais louca, as pessoas se conhecerem a partir da minha galeria” Zed Nesti, artista plástico
“Essa é a coisa mais louca desse projeto, as pessoas se conhecerem a partir da minha galeria defotos”, disse Zed aoLink duranteentrevistaemseuapartamento em São Paulo. É lá que produz as imagens e guarda o caderninhooriginal–quejásuscitou interesse de uma editora para publicá-lo e que já está no final, com poucas páginas faltando para ser completamente tomado pelo Facebook. Zed tem 39 anos e apenas hojecomeçaaesboçarumalinguageme identidadepróprias,após uma carreira que começou aos
7 anos com uma reprodução detraçosinfantisdaMonaLisa (que fica pendurada na parede do quarto dele). Nem de longe é apenas retratista, mas seus trabalhos de maior repercussão têm sido reproduções de rostos. A última coleção, Celebs, participou da exposição 8 Emerging Artists na Galeria Sho(www.g-sho.com),emTóquio, Japão. Zed (que assina ZED, com todas as letras maiúsculas) reproduziu rostos bem aproximados de famosos como Angelina Jolie, Heath Ledger, Madonna, entre outros. Eleprojetafotografias,separa os degradês e tons de cor e então preenche a imagem com tinta óleo. Visto de perto, o resultado é um rosto muito conhecido dotado de certafragilidade,instabilidade, desequilíbrio. Toda a obra de Zed está organizada em seu site, o www.zedonline.com.br, onde ele também bloga. Se bem que o melhor lugar para encontrá-lo é o Facebook. Ele realmente participa do site, com 1,9 mil amigos, respondeacomentários ecompartilha vídeos, imagens e outras influências. Imagine a quantidade de pessoas pedindo para Zed retratá-las no Book of Faces. “Sempre respondo com um ‘vai chegar a sua vez’”, diz.Oartista demoraumahora no máximo para fazer um retrato daqueles e apenas algunssegundos parasentir as primeiras repercussões no Facebook. “Outro dia postei um desenho e demorou dois minutos para o primeiro comentário. Não aguentava mais esperar.” Emque outraeradahistória artistas foram tão acessíveis? E em que outra era da história as pessoas quiseram exibir tanto a cara? ●
NA CARA - Zed, em casa, fotografado sob as projeções que usa para ilustrar
Artista é adepto do mashup: ‘É parte da natureza da arte’ Zed Nesti também desenha comomouse. Vidrado eminternet e navegador hardcore, conhece técnicas de ilustração em vetor, uma das vertentes de sua produção, principalmente as encomendas comerciais (a imagem desta página, claro, é dele). É ali em frente à tela que pratica um outro conceito que, segundo ele, não tem nada de novo: o mashup – colagens em que o artista faz questão de não esconder a obra original que foi utilizada. “É parte da natureza da arte. Desde Mozart, que se baseava emcançõesfolclóricasparachegar a novas melodias, até os novos recursos de copia e cola da internet”, diz. Zed tem pastas no computador, criadas há qua-
se dez anos, entulhadas de referências e imagens com que esbarra na internet. Ele também vai atrás delas e se considera um especialista em encontrar preciosidades nas busca de imagens de tamanho “Muito grande” no Google. Depois navega pelos achados, faz “colagens” digitais, altera cores, formas e perspectiva e então temos uma nova obra. O olhar artístico veio da infância. Zed é o irmão mais velho dotambém ilustradorFidoNesti, cujo traço é bem característico e diferente, mas que teve a mesma “educação visual” em casa, nos primeiros anos. “Minha mãe também pinta e desenha e nos ensinava, por exemplo, que para colorir é preciso
antes fazer a borda para depois rabiscar no meio. Cresci ouvindo essas coisas”, afirma Zed. Hoje, na frente do computador e da realidade digital, o artista reflete sobre quanto o fato deasobrasseremfacilmentereproduzíveis enterrou a ideia de magia da arte. Etambém algunsdetalhesquea altadefinição não alcança, como visualizar a direção e a força das pinceladas. “Fico muito pensativo ao ver uma pintura originaldoséculo 18, por exemplo, e saber que, um dia, o pintor esteve justamente ali onde eu estava, exatamente em frente ao quadro.” ● L.P.