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SEGUNDA-FEIRA, 25 DE MAIO DE 2009 O ESTADO DE S.PAULO
VIDA DIGITAL: CRONÓPIOS, portal de literatura CLAYTON DE SOUZA/AE
PARCERIA - Alexandre
Martins Fontes, Pipol e Egle Spinelli na livraria
Site publica textos de escritores brasileiros, transmite saraus e propõe novos formatos de consumo de literatura
Eles querem editar o seu livro na rede A internet permite que qualquer um produza qualquer conteúdo – literário inclusive – e ponha sua obra no mundo. Antes, era só pegar um papel e começar a escrever. Mas quem leria? A rede resolveu esse problema e gerou outros. O principal: o que garante qualidade, valor artístico e originalidade do resultado?É na contramão do que o historiador inglês Andrew Keen batizou de “cultura do amador” que atua o portal Cronópios (www.cronopios.com.br). Certos ou não, os três amantes de literatura por trás do site brasileiro acreditam que curadoria inteligente, moderação mínimaeedição compartilhada por pessoas capacitadas garantem rica produção colaborativa de textos literários. Eles são como editores tradicionais. Mas não há interesse comercial, nada de preocupação com o “apelo” das obras e nem sinal de cerceamento intelectual. Por isso, lá, quase qualquer um publica quase qualquer conteúdo. O sucesso pode ser medido pelos 200 e-mails recebidos por dia pelos editores Pipol (apelido de José Pires) e Edson Cruz, com textos inéditos de escritoresdetodooBrasil.Feitasascontas, são 4 mil textos por mês. Maisdo que sepoderiaimaginar e mais do que os leitores são capazesdedigerir.Assim,só60deles são publicados (2 por dia). “Não publicamos qualquer texto automaticamente porque editar é uma função humana, não deve existir um ranking gerado por computador”, diz Pipol. “Sentimos que, no meio literário, publicar no Cronópios é umsinaldeprestígioparaoescri-
Cronópios são verdes, molhados e encaracolados Cronópios são seres fantásticos criados pelo escritor argentino Julio Cortázar. O romance Histórias de Cronópios e de Famas (1962) define as criaturas como “objetos verdes, encaracolados e molhados”. É uma metáfora. Cronópios seriam seres flexíveis, criativos, sensíveis, idealistas, opostos aos famas (rígidos, organizados e objetivos). É como artistas se sentiriam em meio a engravatados. O quadro abaixo mostra um cronópio segundo o pintor chileno Jerónimo Carrasco.
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tor iniciante e independente.” Muitos projetos estão sob o selo Cronópios (leia o significado do nome acima). O principal éaTVCronópios(www.tvcronopios.com.br), que produz vídeos documentais sobre literatura e mantém dois programas inovadoresem formato e conteúdo. O Stand-Up de Literatura, transmitido ao vivo pela internet quinzenalmente, é uma espécie de sarau com autores lendo livros que escreveram. O outro é Bitniks, série de documentários sobreescritoresvivoscom estética voltada à web. Os progra-
mas reúnem entrevistas em vídeo, fotos históricas, sequências de slide e recortes de jornal, em uma mistura que só dá liga no ciberespaço. Por trás da TV Cronópios está a jornalista EgleSpinelli, doutora em comunicação audiovisual que viu no site a chance de de experimentar o que em teoriaévanguardaparaomeioacadêmico.Oresultadoapontapossibilidades para a produção de conteúdo para a web. Formato é uma preocupação doCronópios.Desde2004,quando a tecnologia flip – aquela em que o leitor “vira” uma página virtual que imita uma de livro – ainda não era disseminada, Pipol e Edson Cruz publicam o Mnemozine, revista eletrônica experimental sobre literatura com recursos arriscados de edição, como uma página com vídeos e figuras animadas passíveis de edição pelo internauta. Foi do zine que germinou o Cronópios, que, por sua vez, deu origem a outro risco: os pocket-books, publicações online híbridas entre e-books, livros e revistas. Há alguns no acervo, inclusive um do próprio Pipol, o livro de poesias Brinquedos de Palavras. O experimentalismo vira negócio nos próximos meses,quandooCronópiospretende abrir a editora Nuvem, especializada nos tais pocket-books. Falar em negócio a essa altura pode soar estranho. Afinal, o site vive da vontade e dos investimento dos fundadores desde 2005. Só agora começa a se pagar, após a parceria com a livraria Martins Fontes e a chancela daLeiRouanet.Émaisumacontradição da economia gratuita além da cultura do amador. O segredo seria transformar em produto rentável um empreendimento artístico. É possível? ●
LITERATURA EM PÉ REPRODUÇÃO
: LUCAS PRETTI
Uma espécie de sarau literário no domingo à tarde, transmitido ao vivo pela internet, em que o autor lê suas obras e conversa com internautas. Assim é o Stand-Up de Literatura, que a TV Cronópios promove quinzenalmente. ● Quem já foi
Andréadel Fuego, autora de Minto Enquanto Posso, Nego Tudo e EnganoSeu, além do blog delfuego.zip.net ● Quem vai
Marcelo Tápia, diretor da Casa Guilherme de Almeida e autor de Primitipo, O Bagatelista e Livro Aberto NEGO TUDO - Andréa del Fuego esteve no Stand-Up na semana passada
Parceria abre porta para autor independente Agora, qualquer escritor do Brasil, principalmente independentes, pode vender livros pela internet. Basta preencher um formulário online (http://is. gd/C8fN), resultado da parceria entre o Cronópios e a livraria Martins Fontes. Ali, o autor cadastra seus livros no catálogo da livraria. Os títulos ficam disponíveis nas lojas físicas e na internet, quebrando a barreira da distribuição. “O público envolvido com o Cronópios é exatamente o que queremos ter por perto. Enriquecer o catálogo faz bem para a livraria e para os leitores”, diz Alexandre Martins Fontes. O cadastro é gratuito. Os livros podem ser enviados para exposição na loja física. ● L.P.
● Web - www.cronopios.com.br
Para Martins Fontes, o futuro da livraria é incerto
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Com a provável popularização de livros digitais (seja pelos e-books tradicionais ou os “pockets” do Cronópios), as livrarias se tornarão as atuais – e vazias – lojas de CDs? É uma pergunta que faz estremecer os livreiros. A não ser que o livreiro emquestão sejaaAmazon,criadoradodispositivodeleitura (ereader) Kindle. “SeJeff Bezos(presidente da Amazon) aposta nesse mercado, certamente isso significa algo sobre o futuro”, afirma Alexandre Martins Fontes, da rede de mesmo nome. “A edição de livros ainda tem muito a oferecer no mundo digital, pois criar conteúdo depende menos do suporte,mas o papelda livraria se-
ráquestionadocomcerteza.” AopiniãodePipol,do Cronópios, segue a mesma linha, mas com pitadas de otimismo em relação à internet. “Ler num Kindle da vida é certamente mais confortável em determinados casos, como em viagens. Mas nunca se perderá o fetiche do livro.Nemasegmentação.”Pipol se refere a livros de arte e de arquitetura, por exemplo, que pedem alta qualidade de impressão. É algo para se pensar nos próximos anos. “Creio que, como na internet, valores como tradição e credibilidade farão a diferença”, diz Martins Fontes. ● L.P.