Análise Comportamental Aplicada ao Autismo Gina Green, PhD, BCBA San Diego State University and the University of North Texas Board of Trustees, Cambridge Center for Behavioral Studies Traduzido por Daniela Fazzio, MA, BCBA, sob autorização do CCBS
Os últimos anos viram o aumento no interesse em análise aplicada do comportamento (ABA, ou applied behavior analysis) no tratamento do autismo. Inúmeros programas e prestadores de serviços dizendo fazer ABA apareceram, alguns aparentemente do dia para a noite. Muitas estórias sobre ABA apareceram nas mídias eletrônica e impressa, e várias forças-tarefa e comitês se comprometeram a avaliar pesquisas publicadas em ABA e outras propostas para o tratamento do autismo. Ainda assim, concepções errôneas sobre ABA – incluindo algumas que estiveram presentes por anos – persistem e muitos programas de tratamento que dizem “fazer ABA” na verdade não fazem. Como podem famílias, profissionais, e agencias de fomento diferenciar programas e profissionais de ABA genuínos de impostores? É difícil descrever
em palavras o que é um tratamento ABA genuíno para autismo,
especialmente dentro de um espaço limitado, mas este artigo tenta descrever algumas das características-chave. Análise do comportamento é uma abordagem científica natural para o entendimento do comportamento; análise aplicada do comportamento é o uso de métodos
analítico-comportamentais
e
resultados
de
pesquisa
para
modificar
comportamentos socialmente relevantes de maneira significativa. Autismo é apenas um de muitos campos nos quais a análise do comportamento tem sido aplicada com sucesso. Desde os anos 60, centenas de pesquisas documentaram a efetividade de princípios e métodos da análise aplicada do comportamento em construir uma ampla
variedade de habilidades importantes e em reduzir problemas de comportamento em indivíduos com autismo e transtornos relacionados de todas as idades. Hoje, bona fide programação ABA para estudantes com autismo em geral combina muitos métodos validados por pesquisas em um pacote abrangente, mas altamente individualizado. Para cada aprendiz, habilidades a serem incrementadas e comportamentos problema a serem reduzidos são claramente definidos em termos observáveis e medidos cuidadosamente através de observação direta, com verificação independente por observadores secundários.
Uma avaliação inicial é conduzida para determinar
habilidades que o indivíduo tem e aquelas que necessita. A seleção de objetivos de tratamento para cada indivíduo é guiada pelos dados da avaliação inicial, e um currículo que liste as habilidades em seqüência, em todas as áreas (aprender a aprender, comunicação, social, acadêmica, autocuidado, motora, brincar, etc.), analisadas em componentes menores e seqüenciadas de acordo com o desenvolvimento, ou de simples-para-complexo. O objetivo geral é ajudar cada individuo a desenvolver habilidades que permitirão que ele ou ela seja tão independente e bem-sucedido(a) quanto possível em longo prazo. Uma variedade de procedimentos analítico-comportamentais são usados para fortalecer habilidades existentes e formar aquelas ainda não desenvolvidas. Isto envolve arranjar explicitamente para que o aluno tenha múltiplas, repetidas oportunidades para aprender e praticar habilidades durante cada dia, com reforçamento positivo abundante. Uma maneira de arranjar oportunidades de aprendizagem consiste de um adulto apresentar uma série de tentativas (trials) para o aluno, cada uma consistindo de um sinal ou dica (cue) específica ou instrução por parte do adulto, a oportunidade do aluno responder, e uma conseqüência apresentada pelo adulto a depender da resposta do aluno. Tais arranjos são chamados tentativas discretas (discrete trials), e são essenciais para desenvolver muitas habilidades importantes em alunos com autismo. Mas programações que consistem exclusivamente de procedimentos de tentativas discretas – freqüentemente chamadas de “treino de tentativas discretas”ou DTT) – não são ABA de
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ponta, especialmente quando os treinos são usados como num livro de receitas, de maneira não individualizada para cada aluno. Pesquisas demonstram que o uso excessivo de procedimentos de tentativas discretas tende a produzir habilidades que não generalizam da situação de ensino para outras situações quotidianas. Por esta razão, programação ABA efetiva mistura procedimentos de tentativas discretas com uma variedade de outros procedimentos de ABA, incluindo seqüências instrucionais iniciadas pela criança (conhecidas como procedimentos de treino incidental), análises de tarefa (task analyses) e encadeamento (chaining) para ensinar habilidades envolvendo seqüências de ações ou passos, tentativas instrucionais embutidas (embedded) em atividades, entre outros. Ha uma forte ênfase em tornar o aprender prazeroso, e em envolver o aluno em interações sociais positivas. Em um programa ABA de qualidade, procedimentos de modificação de comportamento são claramente especificados. As instruções e dicas (prompts), reforçadores (“recompensas”), materiais, etc que são usados para desenvolver cada habilidade são determinados individualmente para cada aluno. Há um programa escrito ou instruções para ensinar cada habilidade; o analista do comportamento responsável pela programação treina todas as pessoas que trabalham com o aluno a implementar os programas consistentemente. É particularmente importante para os pais ser treinados a implementar os procedimentos fora das sessões formais de ensino, em uma variedade de ambientes (em casa, no parquinho, na comunidade); pesquisas demonstraram que do contrário, as habilidades do aluno tendem a não generalizar. Comportamentos não adaptativos (como por exemplo, comportamento estereotipado, autolesivo, agressão e comportamento disruptivo) propositalmente não são reforçados; comportamentos alternativos apropriados são ensinados e reforçados. O progresso é medido freqüentemente, usando métodos de observação direta mencionados anteriormente. Dados são transformados em gráficos para possibilitar a visualização do que esta acontecendo com cada habilidade e cada comportamento-problema ou não 3 de 4
adaptativo selecionado para tratamento. Os dados são avaliados regularmente pelo analista do comportamento supervisionando a programação para que erros na aprendizagem sejam identificados cedo e métodos de intervenção ajustados rapidamente se o progresso não for satisfatório. O analista do comportamento também observa o tratamento e oferece comentários (feedback) regularmente para as pessoas implementando a intervenção. Por último, porém não menos importante, uma característica definidora de programas ABA é que eles são dirigidos por profissionais com treinamento formal avançado em Análise do Comportamento – no mínimo Mestres – assim como experiência supervisionada em delinear e implementar programação ABA para alunos com autismo e diagnósticos relacionados. Estes profissionais tem que ter atingido os critérios educacionais, de experiência profissional, e de critérios de performance Behavior Analyst Certification Board (http://www.bacb.com) e ser certificados (Board Certified Behavior Analysts, BCBA). Ou eles devem poder documentar que tiveram ao menos treino e experiência equivalentes. Eles devem aderir às Recomendações de Conduta Responsável do BACB (Guidelines for Responsible Conduct), e basear o tratamento nas melhores evidências científicas disponíveis. Para maiores informações sobre o treinamento e as habilidades necessárias para dirigir programas ABA para alunos
com
autismo,
veja
as
recomendações
para
consumidores
(http://www.bacb.com/consum_frame.html)
Dra Gina Green faz parte do Corpo de Trustees do Cambridge Center. Ela foi presidente da Associação de Análise do Comportamento (ABA) e é presidente-eleita da Associação para Análise do Comportamento da Califórnia (California Association for Behavior Analysis CalABA).
Este texto foi traduzido do inglês para o português por Daniela Fazzio, MA, BCBA, com autorização do Cambridge Center for Behavioral Studies (http: //www.behavior.org). 4 de 4