Ufs: Uma Análise Reflexiva, Retrospectiva E Perspectiva. (parte 5)

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(*) UZIEL SANTANA

UFS: uma análise reflexiva, retrospectiva e perspectiva. (V) “A UFS, os seus 39 anos e o mote estudantil 'E AGORA, JOS(U)É?' ” Conforme prometemos no ensaio da semana passada, neste quinto artigo da série que estamos a escrever sobre a Universidade Federal de Sergipe, discorreremos sobre os 39 anos de instalação e funcionamento da mesma no nosso Estado, no contexto da atual administração da Reitoria e dos fatos político-institucionais mais relevantes da comunidade acadêmica, dirigente e dirigida, neste ano de 2007. A nossa idéia é de, tãosomente, sob a mesma perspectiva analítica, reflexiva e proposicional, contribuirmos para o despertamento e aumento do espectro de conhecimento da sociedade sergipana a respeito da nossa instituição federal de ensino superior. Vejamos, então. A Universidade Federal de Sergipe já nasceu num contexto – internacional e nacional – que, sob os prismas político, econômico, social e cultural, é, por demais, efervescente e reprimidor. Estamos a nos referir aos acontecimentos do ano de 1968. No contexto mundial, sobretudo, na Europa, e mais especificamente, em França, no mês de maio, por conta da situação econômica, política e social em que viviam os franceses (e o mundo capitalista em geral), ocorreram os levantes estudantis da universidade de Nanterre (Université Paris X) que se propagaram e tomaram visibilidade internacional, quando aconteceram, do mesmo modo e com os mesmos ideais, na universidade de Sourbonne (Université Paris IV). Foi a maior revolução estudantil que já aconteceu na pós-modernidade. E essa sublevação teve repercussões em todo o mundo. No Brasil, nesse mesmo momento, estávamos sob a égide de um regime militar ditatorial e opressor. E é, exatamente, nesse contexto, que é instalada, em 1968, no mesmo mês de maio, a nossa UFS. E aqui um interessante paradoxo que nos demonstra, de modo claro, alguns traços característicos da nossa “sergipanidade”: enquanto o mundo efervescia com os acontecimentos de 1968 em França, na Sourbonne, enquanto, no Brasil, vivíamos sob a égide terrível e reprimidora de um governo militar, em “Sergipe Del Rey”, nossa querida terra, formalmente, com natureza jurídica de Estado, mas, por certo – e ainda o é, infelizmente, assim, hoje – com natureza sociológica de terra provinciana (com direito a senhores de engenho e tudo mais!), não se fez ecoar, nenhum desses acontecimentos, quando da instalação da nossa UFS. Tanto é assim que, conta a historiografia sergipana, as discussões maiores se deram, tão-somente, em torno de saber se a nova universidade seria uma autarquia ou uma fundação. Acabamos escolhendo a forma menos independente e mais burocrática de administrar: a fundação. Talvez isso tenha ocorrido, tendo em vista o dirigismo repressor militar em Sergipe, ou mesmo, tendo em vista a letargia e comodismo – político-cultural – dos nossos intelectuais da época, quase todos recrutados entre as famílias mais abastadas do Estado sergipano. Tanto é assim que, do ponto de vista histórico, segundo nos mostram as fontes primárias e secundárias que temos acesso, a instalação da FUFS (Fundação Universidade Federal de Sergipe), em 15 de maio de 1968, foi mais um fato jurídico do que qualquer outra coisa. Foi, simplesmente, a junção das faculdades, até então, existentes, em Sergipe. Contam alguns que as faculdades de Direito e Medicina – arraias das classes dominantes sergipanas da época – tentaram, comedidamente, sublevarem-se, porque não queriam se juntar a outras faculdades. Pensamos que a motivação não era outra a não

ser a idéia “Kikiana” (Kiko, personagem da série mexicana “Chaves”) “não me misturo com essa gentalha” (essa assertiva é cômica, mas, infelizmente, é real) Até mesmo porque, dentre todas as faculdades, por exemplo, a de Direito é que tinha a melhor estrutura física, fruto de uma programação orçamentária desigual e injusta. Em Medicina, era da mesma forma. Talvez, seja por isso que o primeiro Reitor, João Cardoso, era um médico. Talvez, também, essa tenha sido a forma de acomodar possíveis insatisfações. Seja como for, passando pela década de 70, quando houve a construção da atual sede, no Campus de São Cristóvão, e as graves crises econômicas porque passou o Brasil nas décadas de 80 e 90, com sérias implicações para o sistema federal de ensino, mormente, para as universidades federais de menor expressão política, como a UFS, chegamos à década de 2000 com as administrações dos Professores José Fernandes Lima (19962004) e Josué Modesto dos Passos Subrinho (2005-?). Já na administração de José Fernandes Lima, a UFS começou a viver um importante momento de reformas institucionais, sobretudo, na sua estrutura física que estava, há muito, abandonada. Nesse sentido, a administração passada foi um importante marco, porque se preocupou, na medida certa, em reestruturar o Campus de São Cristóvão e as diversas unidades autônomas da UFS fora da sede. Em 2004, do mesmo grupo político, foram eleitos, para o quadriênio 2005-2008, como Reitor e Vice-Reitor, respectivamente, o Profº Josué Modesto dos Passos Subrinho e o Profº Angelo Roberto Antoniolli. E o que podemos falar, desses quase três anos de administração dos Profºs Josué e Antoniolli, sobretudo, quando nos aproximamos do aniversário de 40 anos de instalação da UFS e tendo em vista os atuais fatos político-institucionais porque passamos? Evidente que não dá para sermos analíticos o bastante, usando este expediente jornalístico. Mas, sinteticamente, de acordo com o que temos vivido, visto e ouvido, poderíamos assentir o que adiante se segue. Sob o prisma administrativo, quando lemos documentos oficiais como o “Plano de Desenvolvimento Institucional – PDI (2005-2009)”, quando lemos os Relatórios Anuais de Gestão (2004/2005/2006) e observamos, ponto a ponto, aquilo que foi projeto e que está sendo executado e implementado pela atual administração, podemos, claramente, dizer que a UFS, com o que depende de si mesma para fazer acontecer, está no caminho correto de desenvolvimento institucional, seja na área de ensino, seja na área de pesquisa, seja na área de extensão. Agora, ainda sob o prisma administrativo, focando a gestão pública, um problema que, visivelmente, temos detectado é que, por conta dos acertos políticos feitos, já na eleição para Reitor e Vice-Reitor, a Administração é “forçada” a colocar em funções estratégicas e executivas pessoas que, notadamente, não têm o perfil adequado de administrador, sobretudo, quando se observa a formação técnica para isso. Esse tipo de situação, notadamente, traz sérios problemas para a Administração. E isso vem acontecendo nas administrações da UFS ao longo de décadas. O Profº Josué não conseguiu, ainda, resolver esse problema. Uma estratégia para tentar solucionar isso seria, talvez, a qualificação obrigatória – como pré-requisito para a assunção de determinadas funções – através de cursos de gestão pública. O fato é que para ser gestor de res publica é preciso ter uma formação mínima em administração pública. E isso, infelizmente, não vem acontecendo na UFS.

Sob o prisma político, observando os acontecimentos grevistas dos estudantes e servidores técnico-administrativos da UFS, e a forma de posicionamento da Reitoria, mais, especificamente, observando a postura do Profº Josué – anedoticamente, criticado pelos estudantes grevistas no manifesto “E agora, Jos(u)é?” em alusão ao poema de Carlos Drummond – pensamos que o comportamento adotado pelo atual Reitor, como autêntico gestor público, na tentativa de atender, acima de tudo, os interesses institucionais da UFS e da comunidade acadêmica, como um todo, é digno da mais alta exaltação. O documento produzido, de próprio punho, pelo Reitor, respondendo e atendendo, item por item, naquilo que é possível à Administração, as reivindicações dos estudantes, assim como também, as suas participações nas assembléias dos servidores técnicos-administrativos, leva-nos a pensar que, extraordinariamente, uma vez na história da UFS, a figura de uma pessoa – o Profº Josué – tem se tornado maior que a instituição. A analogia que podemos fazer é de um Rei que desce do seu, legal e legítimo, trono e majestade para ouvir o seu povo e atendê-los naquilo que é pertinente e possível a todo o Reino. Essa humildade e dialogicidade são históricas, relevantes e ficarão eternizadas na história da UFS. Nesse sentido, é impecável e digna de encômios a postura do Profº Josué. Ademais, próximo de completar o seu 40º aniversário, torcemos para que a UFS continue a se expandir, como assim está, mas que o seja de modo qualitativo, como achamos que pensa o atual Reitor, e não de forma, meramente, quantitativa, como parece querer o atual Governo Federal.

(*) Advogado. Professor da UFS – ([email protected]).

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