UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC
ANDRÉIA SILVA CAIO BIZ MALASSISE DANIEL JOSÉ DA SILVA FERNANDO HENRIQUE GOMES ZUCATELLI
PROJETO DIRIGIDO BASES COMPUTACIONAIS
SANTO ANDRÉ 2009
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC
ANDRÉIA SILVA CAIO BIZ MALASSISE DANIEL JOSÉ DA SILVA FERNANDO HENRIQUE GOMES ZUCATELLI
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE A FROTA DE VEÍCULOS AUTOMOTORES COM A CONCENTRAÇÃO DE OZÔNIO TROPOSFÉRICO NA RMSP
Trabalho apresentado como avaliação parcial da disciplina de Bases Computacionais do BC&T da UFABC.
Orientador: Profº Marcelo Bender Perotoni
SANTO ANDRÉ 2009
Sumário 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.
INTRODUÇÃO..................................................................................................................3 OBJETIVOS.......................................................................................................................4 JUSTIFICATIVA ...............................................................................................................4 METODOLOGIA...............................................................................................................4 DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS.....................................................................5 CONCLUSÃO....................................................................................................................9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................10 ANEXOS ..........................................................................................................................11 8.1. Anexo 1 ....................................................................................................................11 8.2. Anexo 2 ....................................................................................................................13
1. INTRODUÇÃO A CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) monitoria a qualidade do ar respirado no estado do São Paulo e publica relatórios anuais, nestes relatórios são apresentados os dados obtidos em suas estações de monitoramento de todo o estado. Em geral, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é a maior região poluidora, fato decorrente da sua urbanização e industrialização intensa. Dentre as fontes poluidoras, os veículos automotores são sempre destacados, ora por sua grande quantidade, ora por sua importância na transformação do modo de vida humano. Na RMSP são cerca de 2000 indústrias de alto potencial poluidor e da frota registrada de aproximadamente 8,4 milhões de veículos – ~6 milhões só na capital (Anexo 1). Essa frota representa cerca de 1/5 do total nacional. Saliente-se que o Brasil é o único país no mundo que conta com uma frota veicular que utiliza etanol em larga escala como combustível. Na frota atual da RMSP, os veículos movidos a etanol hidratado representam 11,4% e os movidos a gasolina (mistura 22% de etanol e 78% de gasolina), representam 61%. O álcool etílico, considerando suas formas anidra e hidratada, corresponde a 55,1% do combustível consumido. Os veículos do tipo “flex-fuel” (bi-combustível), lançados recentemente no mercado, correspondem a 10,1%, as motocicletas representam 12,1% e os veículos movidos a diesel representam 5,4% da frota. Deve-se também destacar que a frota da RMSP é bastante antiga, sendo que 49,5% desta são anteriores a 1997. Dentre os poluentes monitorados pelas estações, encontra-se o ozônio, importante na estratosfera onde forma uma camada protetora contra efeitos danosos da radiação ultravioleta do sol, mas tem efeitos tóxicos que causam complicações no sistema respiratório quando encontrado próximo da superfície (Anexo 2). O aumento dos níveis de ozônio (O3) nas regiões metropolitanas tem sido objeto de preocupação por parte das instituições ambientais em todo o mundo há vários anos, tanto pelas concentrações encontradas quanto pela dificuldade no controle de seus precursores. Na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), o ozônio ultrapassa frequentemente o padrão de qualidade do ar de 160 µg/m3 (82 ppb), estabelecido pela Lei Estadual 8.468, de 1976, e por diversas vezes supera o
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valor de 200 µg/m3 (102 ppb), o que determina a qualidade do ar má. O ozônio na RMSP destaca-se, atualmente, como o poluente com maior número de ultrapassagens do padrão. O ozônio não é um poluente emitido diretamente pelas fontes (veículos automotores), mas, formado na atmosfera através da reação entre os compostos orgânicos voláteis (COV’s) e óxidos de nitrogênio (NOx) em presença de luz solar. A formação do ozônio na troposfera inicia-se pela fotólise do NO2, o produto desta reação, NO, reage rapidamente com O3 para regenerar o NO2. hν NO2 → NO + O •
(1.1)
O • + O2 → O3
(1.2)
O3 + NO → NO2 + O2
(1.3)
Dessa maneira, o O3 mantém-se num estado estacionário que depende da velocidade de fotólise do NO2 e da razão [NO2]/[NO]. Assim, se nenhum outro processo convertesse NO em NO2 a concentração de ozônio não aumentaria significativamente. Sobre os óxidos de nitrogênio, NO e NO2, são lançados na atmosfera através de processos de combustão (veicular e industrial).
2. OBJETIVOS O objetivo do trabalho está em relacionar os dados da CETESB sobre o comportamento do ozônio, com o aumento da frota na RMSP.
3. JUSTIFICATIVA Os carros não produzem ozônio como subproduto da combustão, porém produzem óxidos de nitrogênio (NOx), que fazem parte do ciclo de produção do ozônio (O3) e do gás oxigênio (O2). É perceptível o aumento da frota de carros na RMSP e em todo o mundo, assim pretende-se evidenciar o aumento das ultrapassagens de ozônio na atmosfera com o aumento da frota de carros.
4. METODOLOGIA Os dados obtidos são da CETESB, companhia que monitora as condições ambientais, são coletados em diversas estações medidoras distribuídas pela RMSP. Estas estações coletam dados diariamente sobre diversos poluentes, dentre eles o
5
ozônio. Assim a CETESB possui um histórico sobre o comportamento o ozônio na RMSP ao longo dos anos. A regra utilizada para a coleta dos dados foi selecionar o número total de dias em que houve ultrapassagem do valor padrão de ozônio, que pela Lei Estadual 8.468 de 1976, é estabelecido em 160 µg/m3 (82ppb) Foram selecionadas as amostras de 1999 até 2007, conforme relatórios de 2006 a 2008 publicados pela CETESB. Quanto à frota de veículos na RSMP, os dados disponibilizados pelo DETRAN são de 1998 a 2008, pois relacionam o período de uma década. Estas amostras são significativas porque representam uma área (RMSP) de grande densidade populacional e grande desenvolvimento econômico e tecnológico. Os carros da cidade de São Paulo circulam por toda a região metropolitana e vice-versa, justificando a escolha dos dados utilizados.
5. DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS A Tabela 1 apresenta o número de dias em que o padrão de qualidade do ar para o ozônio foi ultrapassado em cada mês dos últimos nove anos, para as estações da RMSP. Em 2007, o ozônio ultrapassou o padrão em 72 dias, considerando todas as estações que medem este poluente, o que representa 20% dos dias do ano. Até o ano de 2006, verificou-se que o número de dias de ultrapassagens diminuiu gradativamente, entretanto tornou a aumentar em 2007, quebrando uma sequência de reduções iniciada em 2003 e, atingindo apenas seis dias a menos que em 2003. Da comparação entre os meses, cabe destaque para março, outubro, por terem a maior quantidade histórica de ultrapassagens dos últimos nove anos. Tabela 1 – Ultrapassagens desde 1999 a 2007 [Relatórios de 2006 a 2008 adaptados].
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Com relação à distribuição dos episódios durante os dias da semana, pode-se observar na análise da Figura 1, que não há diferenças significativas entre os dias úteis e finais de semana, ou seja, mesmo aos sábados e domingos, quando ocorre uma redução no tráfego urbano, e consequentemente na emissão de precursores, observou-se ainda um grande número de eventos.
3
Figura 1 – Total de ultrapassagens do padrão de ozônio (160 µg/m ) por dia da semana, na RMSP de mai/96 a dez/99. (CETESB 2000)
Na Figura 2 está o gráfico com o total de ultrapassagens de ozônio de 1999 a 2007. Ultrapassagens do ozônio
Ultrapassagens do ozônio
Dias com ultrapassagem
120 100 80 60 40 20 0 1998
1999
2000
2001
2002
2003 Ano
2004
2005
2006
2007
2008
Figura 2 – Nº de dias com ultrapassagens do ozônio de 1999 a 2007.
Analisando a série de ultrapassagens nos meses de cada ano, se obtém as curvas do gráfico da Figura 3.
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Variação das ultrapassagens nos meses dos anos 25
1999 2000
Dias com ultrapassagens
20
2001
15 2002
10
2003 2004
5
2005
0 0
1
2
3
4
5
6
-5
7
8
9
10
11
12
13
Mês
2006 2007
Figura 3 – Dias com ultrapassagem por mês por ano.
Somando as ultrapassagens de cada mês, foi gerado o gráfico da Figura 4 que é mais fácil de visualizar que o da Figura 3. Histórico mensal de 1999 a 2007
Total
Polinômio (Total)
120
Dias com ultrapassagem
100 80 60 40 20 0 Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
-20 6
5
4
3
2
y = 0,0168x - 0,6255x + 8,6966x - 55,634x + 163,53x - 203,26x + 156,86 2
R = 0,9559
Figura 4 – Total de dias com ultrapassagem por mês ao longo dos anos.
Na Figura 4 é possível visualizar a linha de tendência das ultrapassagens de ozônio em cada mês dentro do ano. Com os dados da frota disponibilizados pelo Detran (Anexo 1), foi gerado o gráfico da Figura 5.
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Frota capital em milhões 6,50
Milhões
6,00 5,50 5,00 4,50 4,00 1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
Ano
Frota capital em milhões
Figura 5 – Gráfico a partir dos dados do Anexo 1
Analisando o gráfico, nota-se o contínuo crescimento da frota até o ano de 2005, no ano de 2006 houve uma diminuição da frota, mas acompanhado de novo aumento nos anos seguintes. Para facilitar a visualização do comportamento das curvas de ultrapassagens do ozônio e da frota, seus gráficos foram inseridos no mesmo gráfico, para isso os valores da frota foram divididos por 105, sem influenciar no seu comportamento. Frota capital em centenas de milhares
Ultrapassagens do ozônio
120 110 100 90 80 70 60 50 40 1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Ano
Figura 6 – Sobreposição dos gráfico da Figura 2 com a Figura 5.
Usando o Excel® foi obtida a correlação de -0,678 entre os dados do gráfico da Figura 2 com os da Figura 5. O que significa pouca correlação entre os dados e no sentido oposto no qual quando um valor cresce o outro decresce (Figura 7).
Média de dias c om ultrapas s ag em de oz ônio
9
10 9 8 7 6 5 4 3 49
49
51
53
55
56
58
53
56
F rota de veículos em centenas de milhares Figura 7 – Correlação da frota e ultrapassagens de ozônio.
6. CONCLUSÃO Analisando os gráficos, foi possível perceber que, enquanto os níveis de concentração de ozônio decrescem de 1999 a 2007, o número de veículos automotores aumentou, entre 1998 e 2008. Isso pode ser explicado possivelmente devido à eficiência dos catalisadores instalados nos veículos nos últimos anos. E também relacionado às leis ambientais cada vez mais restritivas, que impuseram um maior controle na qualidade dos combustíveis. Além do fato de que, no Brasil, o uso de biocombustíveis (como o etanol), menos poluentes que os combustíveis fósseis (como a gasolina), têm se disseminado cada vez mais rápido. De acordo com os dados do relatório da CETESB de 2000 e comprovado pela Figura 4, a variação da concentração de ozônio está em função de fatores climáticos, sendo aumentada quando há maior propagação de calor na atmosfera (verão) e diminuída nos meses mais frios (inverno). Portanto, a correlação entre concentrações de ozônio na atmosfera e número de veículos automotores em circulação é pouco significativa.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CETESB. Estudo do Comportamento do Ozônio na Região Metropolitana de São Paulo. São Paulo: CETESB, 2000. Disponível em: Acesso em 26.03.09 CETESB. Relatório de qualidade do ar no estado de São Paulo 2007 [recurso eletrônico]. São Paulo: CETESB, 2008. Disponível em: . Acesso em 27.03.09 CETESB. Relatório de qualidade do ar no estado de São Paulo 2006 [recurso eletrônico]. São Paulo: CETESB, 2007. Disponível em: . Acesso em 12.04.09 CETESB. Relatório de qualidade do ar no estado de São Paulo 2005 [recurso eletrônico]. São Paulo: CETESB, 2006. Disponível em: . Acesso em 12.04.09 ESTEVES, Gheisa R. T.; DA SILVA, Ennio P.; BARBOSA, Sonia R.C.S. Estimativa da Redução de Emissões na Região Metropolitana de São Paulo pela Introdução de Transportes Alternativos Limpos. Disponível em : . Acesso em 26.03.09 FROTA de veículos - DETRAN-SP. Disponível em: . Acesso em 12.04.09 RANGEL, M. C.; CARVALHO, M. F. A. Impacto dos catalisadores automotivos no controle da qualidade do ar. Quím. Nova [online]. 2003, vol.26, n.2, pp. 265-277. Disponível em: , acesso em 15.04.09
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8. ANEXOS 8.1.
Anexo 1
Dados do Detran sobre a frota do estado e da capital em Janeiro de cada ano. Tabela 2 – DETRAN Legenda: Coluna 1: ciclomoto, motoneta, motociclo, triciclo e quadriciclo Coluna 2: micro ônibus, camioneta, caminhonete, utilitário Coluna 3: automóvel Coluna 4: ônibus Coluna 5: caminhão Coluna 6: reboque e semi-reboque Coluna 7: outros
Janeiro 2008 1
2
3
4
5
6
7
Total
Capital
658.973
548.965
4.512.118
40.253
158.865
64.420
5.640
5.989.234
Estado
3.061.892
1.574.530
11.785.589
116.141
626.887
302.255
116.125
17.583.419
5
6
7
Total
Janeiro 2007 1
2
3
4
Capital
569.806
507.560
4.285.620
38.151
152.808
61.604
5.500
5.621.049
Estado
2.627.283
1.454.238
11.094.236
109.026
597.769
281.636
115.710
16.279.898
Janeiro 2006 1
2
3
4
5
6
7
Total
Capital
499.686
478.452
4.108.461
36.493
148.125
59.293
5.392
5.335.902
Estado
2.277.370
1.367.943
10.553.263
103.612
575.592
264.384
115.388
15.257.552
5
6
7
Total
Janeiro 2005 1
2
3
4
Capital
503.937
502.071
4.494.626
44.672
172.513
76.919
6.456
5.801.194
Estado
2.192.412
1.407.463
10.964.740
116.310
630.226
288.763
120.101
15.720.015
5
6
7
Total
Janeiro 2004 1
2
3
4
Capital
470.195
486.934
4.392.056
41.984
169.453
75.016
6.433
5.642.071
Estado
1.993.572
1.352.595
10.563.878
111.481
612.997
274.274
120.027
15.028.824
Janeiro 2003 1
2
3
4
5
6
7
Total
Capital
437.515
475.811
4.285.355
37.762
168.695
73.910
6.420
5.485.468
Estado
1.813.929
1.310.200
10.196.189
105.588
601.548
262.054
119.963
14.409.471
5
6
7
Total
Janeiro 2002 1
2
3
4
Capital
405.969
463.466
4.158.831
36.577
167.464
71.893
6.407
5.310.607
Estado
1.648.536
1.266.392
9.782.037
101.612
589.108
248.854
119.838
13.756.377
12
Janeiro 2001 1
2
3
4
5
6
7
Total
Capital
376.805
445.284
4.021.586
36.030
165.383
69.336
6.374
5.120.700
Estado
1.500.503
1.207.934
9.326.662
98.606
573.928
236.346
119.843
13.063.822
5
6
7
Total
Janeiro 2000 1
2
3
4
Capital
348.098
411.457
3.908.816
36.241
163.421
67.468
12.638
4.948.139
Estado
1.383.499
1.119.380
8.907.260
96.828
558.848
224.920
135.046
12.425.781
Janeiro 1999 1
2
3
4
5
6
7
Total
Capital
323.208
399.660
3.855.663
37.198
162.442
66.356
7.387
4.851.914
Estado
1.297.291
1.085.737
8.572.210
96.425
547.258
214.692
122.632
11.936.245
5
6
7
Total
Janeiro 1998 1
2
3
4
Capital
299.755
382.546
3.795.534
37.836
162.218
64.604
7.352
4.749.845
Estado
1.185.111
1.018.270
8.109.924
93.242
528.131
200.116
123.560
11.258.354
13
8.2.
Anexo 2
As complicações respiratórias provocadas pelo ozônio nas camadas baixa da atmosfera dependem da sua concentração, conforme a Tabela 3. Tabela 3 – Tabela com os valores de qualidade do ar e efeitos para o ser humano com o ozônio.
Qualidade do ar Índice(μg/m³)
O3(μg/m³)
Boa 0-50 0-80
Efeitos desprezíveis
Regular 51-100 >80 - 160
Pessoas com doenças respiratórias podem apresentar sintomas como tosse seca e cansaço
Inadequada Má 101-150 151-199 200-250 251-299 >160 e ≤180 >180 e <200 ≥200 e ≤400 >400 e <800 Pessoas com doenças Aumento dos Agravamento respiratórias, como sintomas significativo Agravamento de asma, e crianças respiratórios em dos sintomas sintomas têm crianças respiratórios os sintomas respiratórios. e pessoas com e dificuldade de agravados. Agravamento de doenças respirar População em doenças pulmonares, como na população em pulmonares, como geral pode asma. Aumento geral. asma, apresentar de Risco mortes e doença sintomas como sintomas prematuras pulmonar ardor nos olhos, respiratórios na de pessoas com obstrutiva crônica nariz e população em doenças garganta, tosse geral respiratórias seca e cansaço Fonte: CETESB 2008
Péssima ≥300 ≥800
Sérios riscos de manifestações de doenças respiratórias. Aumento de mortes prematuras de pessoas com doenças respiratórias