Jesus viajou com seus discípulos para a região norte da Palestina, a cerca de cento e noventa quilômetros de Jerusalém, chegando às partes de Cesaréia de Filipe, que era um território gentio, localizado ao pé do monte Hermon, junto à nascente principal do rio Jordão. Em Cesaréia de Filipe se centralizava o culto pagão ao deus grego Pan. A cidade havia sido local de adoração ao falso deus Baal e vivia sob forte influência de várias religiões, sendo que até César Augusto ganhou um templo em sua homenagem, construído por Herodes, o grande. E foi assim que “chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Que dizem os homens ser o filho do homem?” (Mt 16:13). Jesus sabia que a sua mensagem sobre o Reino de Deus na terra havia sido rejeitada e que não existia senão uma pequena fé (Mt 16:5-12). A pergunta está ecoando até hoje: Quem é o filho do homem? Quem é Jesus? Hoje, alguém responde que é o seu dinheiro. Outros falam de seus ídolos. Até Cícero Romão Batista é colocado no lugar do Senhor Jesus. No passado, Herodes, o tetrarca disse que Jesus era João Batista (Mt 14:2). Pilatos também não sabia quem era Jesus, pois a Ele formulou perguntas tolas (Lc 23:3). Aliás, nem os anciãos do povo, nem os principais dos sacerdotes e nem os escribas, de igual modo, sabiam quem era Jesus (Lc 22:66-67). Os discípulos, de sua parte, responderam: João Batista, dizem uns e outros afirmam que o Senhor, Mestre, é o profeta Elias ou Jeremias ou qualquer um dos profetas. Jesus apertou um pouco mais o cerco aos seus discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Algo surpreendente estava acontecendo naquele lugar tão negativo, espiritualmente falando, e muito mais estava para acontecer diante da resposta que poderia vir deles ou de um deles. Jesus recebeu de Simão Pedro algo que foi além da pálida e já noticiada “pequena fé”: ”Tu és o Cristo o Filho do Deus vivo.” Sabe-se que “o Cristo” é a divindade que desceu do céu. Portanto, diferente de Jesus Cristo. Como conseqüência da resposta dada pelo discípulo pescador de Homens, na distante Cesaréia de Filipe, debaixo de uma revelação divina o Salvador noticiou pela primeira vez o seu magnífico projeto de edificar a sua poderosa igreja na face da terra. O Mestre disse que edificaria a sua majestosa igreja e que Pedro seria pedra de fundamento, ou seja, de alicerce: “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne ou sangue quem to revelou, mais meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.” (Mt 16:17-18) Determinada organização religiosa tomou esta passagem das Escrituras Sagradas fora do contexto e apoiada nela engana descaradamente uma boa pare da humanidade e
o faz com um sermão sínico e extremamente malicioso, inclusive atribuindo ao citado discípulo de Jesus um titulo que jamais poderia pertencer a ele, pois não há nenhuma alusão, sequer, a tal titulo na Bíblia Sagrada. O pastor Russell N. Champlin ensina que não há, nem nas Escrituras nem na história eclesiástica, evidencias do tal titulo ou oficio na igreja primitiva. Acrescenta, que os ensinos relativos a primazia dada a Pedro procedem da tradição, e não das escrituras, pois “os privilégios e poderes que Jesus deu a Pedro, posteriormente foram conferidos a todos os outros apóstolos, e até mesmo aos crentes comuns, como indica a referencia em Mt 18:17-19.” O tema, que não é dos mais fáceis, ganha um tom quase enigmático diante da afirmação de Paulo aos coríntios, de que “ninguém pode por outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.” (I Co 3:11). Ocorre que é o próprio apóstolo das nações quem oferece luzes à tão complexa questão, quando escreve aos efésios (Ef 2:20), assegurando que a igreja do Senhor Jesus (no aspecto histórico e somente histórico) é mesmo edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus é a principal pedra de esquina.” Não se pode deixar em brancas nuvens as palavras do próprio apostolo Pedro (I Pe 2:5-8) incluído os crentes em Cristo (as pedras vivas), na base histórica da igreja de Jesus Cristo. Portanto, quando se fala da igreja do Senhor Jesus no tocante ao fundamento histórico, isto é, a igreja que pode ser vista se movendo na terra, tem-se que ela foi edificada sobre todos os apóstolos (e não somente sobre Pedro), sobre os profetas do Novo Testamento e também sobre os crentes em Cristo. Entretanto, é evidente que Paulo não se equivocou quando escreveu aos coríntios, pois o apóstolo dos gentios estava se referindo ao fundamento que toca diretamente na salvação do homem, pois “em nenhum outro há salvação, pois também debaixo do céu nenhum outro nome há dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4:12). Aliás, o próprio Redentor assegurou que ninguém será salvo senão por Ele (Jo 14:6). Finalmente, ressaltem-se as próprias palavras do apóstolo Pedro, em sua primeira epístola universal (1Pe 5:1) onde ele reivindica o titulo de presbítero e não o de chefe de alguma igreja, como lhe atribuem, violentando a teologia, a lógica e, principalmente, a Bíblia Sagrada. Não se iluda e não tente enganar a ninguém. A igreja do Senhor Jesus tem, com certeza, conforme o acima exposto, dois fundamentos e não apenas um. É uma igreja apostólica, que tem como líder maior, como cabeça, Jesus Cristo, o nosso Salvador. O único que salva a alma do homem.
Pr. Eliardo Cabral