O Monstro No Espelho - Oribes Neto

  • May 2020
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  • Words: 406
  • Pages: 2
O Monstro no Espelho Até hoje, ignoro o conceito de normalidade e equilíbrio mental, pois, até bem pouco tempo atrás considerava-me um ser humano completamente são. Talvez, algumas circunstâncias incutidas pela própria vida tenham modificado este quadro irreversivelmente. Não pelo fato de um dia ter insistido em degustar arroz-doce pelas narinas, ou ainda por, durante a solicitação de um táxi pelo telefone, pedi-lo sabor frango e com borda recheada de catupiry, ou ainda pelo motivo de em inúmeras situações , ver-me obrigado a apaziguar conflitos físicos entre meu ego e meu inconsciente que degladiavamse ferozmente: nunca consegui fazê-lo com sucesso. Um dos mais sérios conflitos já testemunhados , deu-se numa daquelas manhãs letivas, onde o sono confunde-se com a realidade e vice-versa. Via-me letárgico ao extremo. Como de costume, levantei-me de meu Nirvana terreno (contra minha vontade, evidentemente) , e balbuciando sons indecifráveis, dirigi-me ao banheiro, e neste, deparei-me com uma das figuras mais tenebrosas , tétricas, e grotescas jamais vistas: um verdadeiro monstro no espelho!!! Rosto amassado, cabelos em pé, olhos vermelhos e inchados, aberturas diferentes entre eles, cara de pouquíssimos amigos. O susto acordou-me definitivamente. Como de praxe, lavei o rosto que parecia-me deformado: não adiantou: - Talvez escovando os dentes. - pensei Abri violentamente o armário, o qual continha diversos aparatos de higiene pessoal, desde escova de dentes e cabelos, até um "kit Ivo Pytangui instantâneo" para uma ocasião destas. Não posso precisar se calculei errado a distância entre meu rosto e a abertura da porta, ou se foi um compleau da imagem refletida contra mim, só lembro-me do violento choque da madeira contra minha fronte, um baque que quase levou-me ao chão. Praticamente recomposto, encarei longamente aquele horrível ser do outro lado do

espelho, que, vejam só que audácia, continuava a encarar-me como se estivesse com a razão. Minha vingança foi astuta e ligeira: um único soco bem nos dentes ainda não escovados da medonha criatura, que adormeceu para sempre nos cacos do infinito. Dando-me por vencido e ignorando os cortes na minha dolorida mão, exclamei absoluto: - E nunca, nunca mais faça isso de novo! E só após uns dez segundos de sorriso vitorioso, que compreendi o que havia ocorrido na realidade, que atitude inaceitável! Atualmente, mais maduro e equilibrado, vejo que numa situação dessas, uma boa lição de moral e alguns exemplos de boa conduta à criatura agressora teriam sido mais do que suficientes para solucionar o problema. Oribes Neto

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