O Administrador Infiel

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O Administrador Infiel Lucas 16.1-9

- por René Burkhardt | 25 de Março de 2009

Esta parábola faz parte do contexto apresentado desde Lucas 14.1, até Lucas 16.15. Entre outras lições, o Senhor Jesus Se concentra em ensinar que devemos dar toda a primazia a Ele, abrindo mão de toda e qualquer coisa que nos impeça disso, e que Ele dá um valor muito grande à reconciliação dos perdidos com o Deus Pai. O Senhor inicia a parábola apresentando alguns personagens: um homem rico, dono dos bens, que representa Deus, pois é a pessoa que está acima de todos na história e é quem comanda tudo; e o administrador, que representa os cristãos, por ser um homem de confiança daquele senhor, um homem com fácil acesso aos bens do rico e que deveria levar outras pessoas a usufruírem desses bens. Sua função era a de negociar com as pessoas que quisessem comprar a comida “que subsiste para a vida eterna” (Jo 6.27), “ouro refinado pelo fogo..., vestiduras brancas..., e colírio para ungir os olhos” (Ap 3.18). É importante frisar que, desde Lucas 14.1, o Senhor está falando com diversas pessoas e, aqui, ele se dirige aos Seus discípulos, Seus futuros administradores, mas de forma que os fariseus também ouvissem (16.14). Ora, esse servo foi denunciado como sendo uma pessoa que estava usurpando os bens do senhor dele, que estava se apropriando desses bens de forma fraudulenta, através de engano, de má fé. E essa denúncia foi feita por outros servos desse senhor, pois tinha que ser feita por quem tivesse acesso a ele. E tinha que ser mais de uma pessoa, pois o homem rico não aceitaria denúncia contra seu homem de confiança, se não fosse pelo depoimento de duas ou três testemunhas (ver 1Tm 5.19). Também sabemos que ele não foi denunciado pelos homens que negociavam com ele, pois, se eles soubessem que o administrador estava sendo desonesto, eles não negociariam mais com ele. Aqui cabe um parêntesis a respeito da conduta das pessoas que denunciaram o administrador: eles tiveram uma atitude perfeita, exemplar. Eles observaram aquele homem. Julgaram, não a ele, mas a sua atitude. Eles não levaram o caso ao conhecimento das pessoas que negociavam com ele e, nem mesmo, o confrontaram, para não serem culpados de julgarem ao servo alheio (ver Rm 14.4, 10, 12). Antes, eles levaram o caso ao conhecimento do senhor daquele servo, para que ele tomasse a atitude que fosse de sua vontade. Que lição maravilhosa! Quantas vezes negligenciamos isso! Vemos administradores do Senhor agindo com má fé, pregando um evangelho que não é verdadeiro, acrescentando ou tirando coisas da Palavra de Deus, e o que fazemos? Às vezes os confrontamos, gerando discussões que só servem para perverter aos ouvintes. Às vezes falamos diretamente com as pessoas que estão sob sua autoridade, correndo o risco de que elas desanimem a ponto de se desviarem, de rejeitarem a Palavra. E tudo o que deveríamos fazer era apresentar o caso ao nosso Senhor, para que Ele fizesse a Sua vontade sobre o servo, que, afinal, é Seu. É Ele que tem o poder e a autoridade para condenar, ou ser misericordioso com Seu servo, disciplinando-o. E, caso nós é que estivéssemos errados, quanto à avaliação que fizemos da outra pessoa, Ele nos ensinaria e nos faria conhecer a verdade sobre o assunto, poderosamente, sem prejuízo de ninguém. De volta à parábola, considerando que o homem rico é Deus e que o administrador é um cristão, precisamos entender de que forma este homem está defraudando os bens do Senhor. Pois bem: aqui vemos tipificado o cristão que afastou o seu coração do Senhor, ao valorizar mais Suas bênçãos, Seus dons, do que a Ele próprio. Mais do que isto, vemos o cristão que tem se preocupado mais em adquirir bens terrenos, fazendo disso o seu tesouro. É o cristão que tem depositado a sua esperança na instabilidade das riquezas, não em Deus. Ele não tem acumulado o sólido fundamento para o futuro (1Tm 6.17-19). O temor desse servo para com o Senhor “consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu” (Is 29.13), pois se habituou a reservar para si os dons e as bênçãos, enquanto que, para os outros, lançava fardos pesados, difíceis de carregar (ver Mt 23.4). Este é o homem que se apropriou da liberdade para a qual Cristo nos libertou, usufruindo de Sua vida abundante, enquanto, aos outros, impõe a lei. Em resumo, esse homem passou a negar a primazia devida a Cristo, priorizando seu próprio

bem estar, se considerando como a única pessoa digna de atenção e de adoração, ao se justificar diante dos homens como um ser perfeito. E podemos chegar a esta conclusão, pelo simples fato de sabermos que uma pessoa que se apropria de algo do seu senhor, o faz por pensar que isso é um direito seu e que ela está acima de qualquer suspeita, tendo em vista a posição de honra que ocupa. Isso tudo é usurpar os bens do Senhor, é acumular riquezas de forma iníqua, injusta. Ciente dos fatos, o homem rico manda chamar o administrador e proclama a sentença: “Você não pode mais ser um administrador meu” (Lc 16.2). Mas, antes dessa dura sentença, o homem rico ainda demonstrou sua misericórdia para com o seu servo. Ele questionou o administrador, em outras palavras: “O que é que você fez? Você é um homem de minha confiança, tem acesso a tudo o que é meu, e todas as pessoas sabem disso. Você sabe que a minha intenção é a de que o maior número possível de pessoas desfrute de minhas riquezas. Por que você passou a direcionar tudo para você mesmo e a oprimir aos outros? Além do mais, apesar de toda a liberdade para agir, que eu lhe dei, você sabia que teria que prestar contas de tudo para mim. Você sabia que eu viria cobrar os frutos de tudo o que você tivesse negociado e que poderia vir a qualquer momento. Agora, por uma questão de justiça, tenho que tirar você da frente de meus negócios, até mesmo para servir de exemplo aos outros. Portanto, preste contas de tudo o que você fez, para eu decidir com exatidão qual atitude tomar”. Percebemos que o homem rico estava usando de misericórdia, porque o administrador ficou mudo perante ele, sem apresentar nenhuma justificativa razoável, e, ainda, lhe foi permitido sair de sua presença, a fim de preparar a prestação de contas. Isto também foi um tempo que o administrador ganhou para tentar corrigir alguns erros. E, percebam, com esse tempo à disposição, o administrador também poderia fazer o contrário, ou seja, se apropriar de mais bens ainda, afinal, ele seria afastado de seu cargo. Mas, nos versículos três a sete, vemos que não foi isto o que aconteceu. O administrador demonstra que “sentiu o golpe” da palavra de seu senhor. Ele se viu, diante do senhor, prestando contas de tudo que havia feito e, em um momento, ele percebeu o quanto estava agindo errado, que era justo ele perder seu trabalho, e que, devido a tudo o que ele fez durante esse período, ninguém mais confiaria nele e isto o afastaria definitivamente daquela comunidade. Ele sabia que fora dali não teria vida. E ele queria viver. Ele queria manter um relacionamento com o homem rico e com as outras pessoas daquele círculo, mesmo que não tivesse mais a posição de honra que tinha antes. Então, ele se arrependeu! Creio que vemos uma situação parecida com essa na história de Davi, que adulterou, assassinou, mas não se dava conta de seu pecado, até que Natã lhe trouxe a Palavra do Senhor, chamando atenção para seu erro. O resultado foi um imediato “cair em si”, que levou ao arrependimento e à aceitação da disciplina de Deus. Também há um paralelo com a história de Zaqueu, que, ao ouvir a Palavra de Jesus, se arrependeu e se prontificou a corrigir seus erros e a iniciar uma nova vida. Quanto mais, podemos relacionar esse fato com o filho pródigo, que também tomou bens para si, a fim de satisfazer a sua própria vontade, e depois, envergonhado e arrependido, se propôs a abrir mão de sua posição de filho, tão-somente para participar daquele reino que ele havia abandonado. O arrependimento do administrador e seu renovado temor por aquele que poderia lançá-lo num inferno, o levou a agir com rapidez e sagacidade, com esperteza. Então ele partiu para corrigir o seu erro. Buscou as pessoas com quem negociava e lhes disse: “Vejam, a negociação que tenho feito com vocês não tem sido justa. Grande parte do peso que está sobre vocês foi lançada por mim mesmo. O meu senhor negocia de uma forma justa e esperava que eu também agisse assim. Mas eu me preocupei mais em satisfazer a minha própria vontade, do que a do meu senhor. Na verdade, meu senhor não espera receber tudo isso de vocês e, nem mesmo, cobraria isso. Assim, de agora em diante, vocês só precisam se preocupar com o que é realmente justo” (vs. 5-7). Ora, diante dessa confissão, essas pessoas passariam a ter grande consideração por esse homem, pois, além de demonstrar arrependimento e mudança de atitude, ele diminuiu suas dívidas de forma considerável. Essas pessoas, aliviadas e agradecidas, diriam ao administrador para as procurar sempre que precisasse, afinal, se tornaram amigos. Depois disso, o administrador foi ter com seu senhor e relatou tudo o que aconteceu, prestando contas de sua administração. O senhor ouviu atentamente a tudo e acabou elogiando aquele

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servo: “Vejo seu arrependimento e seu empenho em corrigir seu erro. Você agiu muito bem, servo. Você foi rápido, eficiente e esperto. Fico feliz que você tenha aprendido o valor real das coisas e tenha optado pelas que têm valor espiritual” (v. 8). Ou seja, o senhor percebeu que o servo mudou seu comportamento, sua base de valores, passando a considerar a vida com amizade e amor mais importante do que a vida com bens materiais. É surpreendente, irmãos, o que o Senhor Jesus declara aqui. Ao narrar a transformação desse homem, o Senhor traça uma comparação entre a atitude das pessoas do mundo e a atitude de muitos cristãos. O Senhor está dizendo que muitos cristãos, em sua vida diante de seu Senhor, agem com tanto medo de Seu juízo, que se prendem a regras, formadas por eles mesmos, a fim de não provocarem a ira de Deus sobre eles, se esquecendo de Seu amor, Sua misericórdia, e da liberdade que Ele proporciona. E, com isto, deixam, até mesmo, de fazer a Sua vontade, como o homem da parábola dos talentos em Mateus 25. E aquele homem foi chamado de servo mau e negligente, além de ser lançado fora da presença de seu senhor (Mt 25.26, 30). Por outro lado, o Senhor diz que as pessoas do mundo agem destemidamente, como quem não tem nada a perder, em todas as áreas de suas vidas. Estas pessoas seguem suas consciências, com base no conhecimento que adquiriram. Quanto mais os cristãos deveriam agir dessa forma, já que seu conhecimento vem do Espírito Santo e é Ele que orienta suas consciências! Então, no versículo nove, o Senhor Jesus faz um resumo de seus ensinamentos, recomendando: “Vocês passaram a vida acumulando bens para o seu próprio conforto, para satisfazerem os seus próprios interesses. Esses bens e essas riquezas que vocês têm não são justos, são iníquos. Libertem-se disso, distribuam o que vocês têm com as outras pessoas (Mt 19.21; Mc 12.42-43; Lc 14.13; 2Co 9.9; etc.), pois, ao fazerem isto, além de agradarem a Deus e de acumularem tesouros nos céus, vocês estarão dando um valioso testemunho para elas e criando um eterno laço de amizade com elas. Assim, elas sempre estarão prontas para os receber em suas casas, em suas vidas, e para compartilhar aquilo que é verdadeiramente precioso. Mais do que isto, ajam com intrepidez, com opinião bem definida em suas mentes (Rm 14.5), porque Deus está com vocês”. Amados, apesar da estranha forma que o Senhor Jesus colocou essas coisas, podemos ter a certeza de que Ele não Se afastou em nada daquilo que Ele mesmo ensinou durante todo o Seu ministério aqui na terra. “Os fariseus, que eram avarentos, ouviam tudo isto e o ridiculizavam” (Mt 16.14), porque eles entenderam essa mensagem dessa forma aqui apresentada. Eles tinham os seus interesses voltados para si mesmos e não concebiam a idéia de mudança de comportamento, como o Senhor estava dizendo. Eles sabiam que prestariam contas a Deus, um dia, mas confiavam na sua salvação, pois eles cumpriam as regras que eles mesmos haviam criado com o intuito de não ‘aborrecer a Deus’. Essas regras eram mais importantes do que o sentido da lei, para eles. E o Senhor, então, concluiu: “Aquilo que é elevado entre homens é abominação diante de Deus” (v.15). Precisamos nos examinar, não com medo da ira de Deus, pois esta está reservada para os que O rejeitam, mas para sabermos se andamos no Seu amor. Amém.

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