Jardim de Inconstância Nas escolas desta vida, fiz escolhas acertadas Tendo escrito por destino as palavras mais cruzadas. No começo era galinha, que eu criava na fazenda Fui fazendo , e me enfezando, fiz do ovo meu milhão Mas cantei alto demais, foi caindo minha renda Desisti pois foi chocante ver gorar a criação Bem mais tarde eu me formei Em forminhas de outro assado Fui padeiro e não assei, O meu aço bronzeado. Passa o tempo e eu virei um padre santo E vi na obra empedrada do mosteiro Um pedreiro que perdeu em tudo e tanto Que virei mestre-de-obras, ou obreiro Obrei tanto, abri buraco, me enterrei Fui obrando tudo aos poucos por inteiro Fui senhor dos meus engenhos e ganhei O diploma tão sonhado de engenheiro. Bacharel ali no alto, que opulência! Quis malhar meu tenro corpo , baboseira Musculando, movimento, resistência Virei físico! Meteórica carreira Desta fase não salvei o que devia, Mas devia por demais e sem desconto e pra saldar o meu destino sem demora Eu disse agora é hora de passar meu ponto
Pontuei isso é verdade ou eu mentia? Fiz folia e logo mais perdia a pista Vista grossa é olho gordo e eu só ria Mas sorria de tristeza, eu era artista Já fiz arte, já fiz parte e não fui esquartejado Fui Adão, fui anão e assim reconheci É perfeito ser profeta de proveta e aprovado No meu círculo da vida: um triângulo quadrado. Já tentei ser professor de profundos fundadores. Embasando teorias, aí sim cavei valetas E enterrei sob pressão, meus dilemas, minhas dores Praticando a teoria, sem bengalas ou muletas Depois quis puxar conversa, quis apenas conversar Duras penas conversando, fui versando e me completa Descobri a vocação , descobri que sei rimar E no final de toda a conta ... Sou poeta. Oribes Neto