Madrugada Aventuras e desventuras fazem parte de um cotidiano saudável, as anomalias são deveras rotineiras nos casos e descasos desta nossa era contemporânea. Voltava eu do trabalho numa daquelas segundas-feiras produtivas. Tanto que o “expediente”iniciou-se por volta das 10:00am, e qual não foi minha surpresa quando deparei-me com com o ponteiro grande sorridente na casa das 4:00am! Pois bem, missão comprida cumprida! Antes do meu destino final, resolvi fazer meu costumeiro passeio de fim de dia. Costumo ladear vias expressas onde o risco de se estacionar é menor, concomitantemente, menos arriscado. Uma interessante higiene mental, uma espécie de ópio que não traz seqüelas às gerações futuras. Durante o degustar da curtíssima viagem, numa das ruas que, não sei ao certo o por quê, mas chama-me a atenção, indaguei-me: Como viver pode ser tão bom? Poder respirar, andar, sentir o vento, todos temos de conviver com empecilhos é claro, mas quando sentimos que estamos vivos, todos estes voltam a ser problemas meramente terrenos. Pois bem, do alto de minhas reflexões de alto teor filosófico, observei ao não muito longe uma barraquinha de cachorro-quente daquelas 24hs. Sem pensar muito resolvi solucionar temporariamente um dos mais antigos problemas da vida em geral : fome. Desci do carro na mais completa paz que um ser humano já sentiu, mas quando a porta foi fechada, um pedaço de minha unha da mão fechou junto também, a dor foi tão ridiculamente exagerada, que meu impulso único foi pular para os lados e para trás, e vejam só, um daqueles rechonchudos e frescos “bolinhos ecológicos” aguardava por mim. Cheguei a barraca deveras atordoado. Uma simpática balzaquiana fitava-me como quem observa um ser cansado, putrefato e dolorido. Sorri para ela como quem quisesse dizer: - Fazer o que, né? – Já que esta havia presenciado toda a cena. Discreta, não riu. Fagocitei meu sanduíche usando apenas uma das mãos. Pois a outra, a minha mais útil, encontrava-se terminantemente inutilizada. Observei o carpet do automóvel: imundo. Assim como seus bancos tão temperados de Catchup e mostarda quanto o próprio Cachorro-quente, que em momento demonstrou felicidade abanando o rabo. Fitei minha unha, já negra, negra assim como o céu daquela madrugada única, que ensinou-me que é muito melhor sofrer dentro da felicidade, do que sorrir vivendo-se na tristeza. Oribes Neto 10/03/99