Sabemos que está cada vez mais difícil despertar nas crianças o hábito da leitura, o prazer de ler, imaginar histórias e escrever, conseguindo externar aquilo que sentem, suas impressões, suas opiniões, etc. Elas preferem estar à frente da TV, do video game ou do computador, onde tudo já está pronto, muito bem elaborado, cheio de efeitos fantásticos. Porém, embora a tecnologia e a globalização tenham papéis importantes no desenvolvimento cultural, não podemos permitir que os livros e a literatura fiquem para a criança como algo chato, obrigatório, desestimulante. Trabalhar com a literatura deve ser prazeroso, interessante e criativo.
Histórias e faixas etárias
1 / 2 anos - A criança nesta idade ainda não se prende à história, que deve ser composta de frases soltas, com vocabulário simples e assuntos presentes na realidade da criança, de preferência improvisadas. O que prenderá a atenção da criança é o movimento, o tom de voz, o colorido. 2 / 3 anos - Histórias ainda curtas e rápidas, com poucos detalhes e poucos personagens são as indicadas para esta idade. A criança vive a história como se fosse real. Tudo tem vida. 3 / 5 anos - As histórias vão sendo aos poucos mais elaboradas, com maior riqueza de vocabulário, porém, ainda simples e fáceis de serem compreendidas. A criança nesta fase assusta-se com facilidade por ainda não separar completamente a realidade da fantasia e por estar experimentando a "fase do medo", o que é natural. Por isso, é importante tomar cuidado com o tom de voz, personagens malvados, etc. 6 / 7 anos - Momento de começar a ler as histórias, embora ainda com dificuldade. As indicadas ainda são as da fase anterior, contendo assuntos que façam parte da realidade da criança, mesmo que subjetivamente ou metaforicamente. 8 / 9 anos - Histórias bem humoradas e engraçadas ou gibis são bem vindas nesta fase. A criança já domina a leitura e é capaz de fazer interpretações. 9 / 10 anos - Aqui as histórias vão ficando bem ricas, os textos mais longos, maior número de personagens, com diálogos e situações diversas. As aventuras, ficções fantásticas e a realidade à sua volta são temas que atraem bastante. 11 anos em diante - Os interesses vão crescendo no sentido dos fatos reais, os fatos polêmicos, a realidade social, mas também são interessantes as grandes aventuras, invenções, etc.
Detalhes importantes para a seleção das histórias 1) Se vamos trabalhar com uma história devemos gostar dela. Do contrário, o trabalho não será agradável, será cansativo e a criança perceberá a falta de entusiasmo do educador e também não se sentirá estimulada. É importante que a história seja lida antes e, caso não agrade, deve-se trocá-la por outra, que contenha o mesmo objetivo procurado e que agrade. Não faltam ótimas histórias e excelentes autores. 2) Verificar se a história está adequada à idade e à realidade da criança. Algumas coleções já trazem a faixa etária indicada. 3) Observar se a história tem um conteúdo rico e interessante que possa dar margem a um bom trabalho. 4) Perceber se as ilustrações são boas. Às vezes,uma história excelente pode não ser bem ilustrada. Tem-se a opção de sugerir que as próprias crianças criem ilustrações para a história. 5) Em todas as idades é sempre interessante trabalhar com temas associados à realidade de cada turma. Contos de fadas
Os contos de fadas são histórias originadas na tradição popular e que vêm atravessando gerações e gerações sem modificar a sua estrutura básica. Isto acontece porque estes contos partem das emoções naturais do ser humano, que são transformadas em personagens imaginários de um mundo de fantasia, que somos nós, o nosso mundo interior. É por isso que somos tocados tão profundamente por estes contos, às vezes levando-nos de forma inconsciente, a buscar durante toda a vida por
situações semelhantes. Exemplos: a procura eterna de uma "Cinderela" ou de um "Príncipe Encantado". Essa observação é para chamar a atenção para a importância da seleção dessas histórias... Existe o momento certo no desenvolvimento da criança para a introdução de cada um desses contos, de acordo com sua maior ou menor complexidade, pois sua estrutura básica não deve ser modificada. Por exemplo, não se pode transformar o "lobo mau" em "lobo bom", anulando assim a sua função na história, que no caso, seria a de entrarmos em contato com os medos e as dificuldades para, então, conseguir vencê-los. É realmente importante que tomemos cuidado ao trabalhar com contos de fadas para que não seja prejudicada a riqueza dos resultados que podem ser alcançados.
Atividades a partir da história Uma vez que a história já tenha sido escolhida e o tema seja adequado, basta usar a criatividade e trabalhá-la até esgotar as possibilidades. Infelizmente, a forma de utilização dos livros de leitura nas escolas, na maioria das vezes, não tem sido a ideal. As crianças lêem o livro para fazer uma prova de interpretação. Esse procedimento ao invés de despertar o interesse pela leitura, acaba por fazer dela uma obrigação, uma coisa chata e repetitiva e até sem sentido, já que uma prova não é suficiente para avaliar alguém, ainda mais em se tratando de um assunto tão subjetivo como é a interpretação.
A idéia é tornar interessante e divertida esta parte importante do aprendizado. Sugestões de atividades
Dramatização Máscaras Dobraduras Fantoches Maquetes Desenhos, colagens, pinturas, esculturas Expressão corporal Criar outros finais para a história Criar novas histórias com os mesmos personagens Criar novas ilustrações Selecionar palavras da história e criar outras histórias contendo estas palavras Identificar nos personagens semelhanças com pessoas que fazem parte da vida da criança, comentar, encaixá-las na história, brincar com isso. Explorar as possibilidades de trabalhar a ortografia, gramática e vocabulário, de forma criativa e divertida, fazendo jogos com o significado das palavras, com antônimos e sinônimos, separação de sílabas, som das palavras, rimas etc. Descobrir na história o que pode ser relacionado com as outras disciplinas e trabalhar. Ex.: Onde a história acontece, características do lugar, clima, hábitos regionais, roupas, etc. Dependendo da história, é possível encontrar associações com a matemática, história, ciências, artes, idiomas, enfim, basta o tema e o objetivo serem definidos para o trabalho não ter limites. É fundamental que as crianças sejam ouvidas. Cada criança terá a sua impressão pessoal sobre a história, que nem sempre será positiva e isto deve ser respeitado e, nesse caso, deve-se trabalhar no sentido de levar a criança a identificar o que não agradou e permitir que ela crie novas soluções para a situação, observando que de alguma forma a situação está presente em sua vida.
Porém, não somente a leitura é importante. Criar histórias, crônicas, letras de músicas, poesias, etc., também é fascinante.
Mas como fazer a criança a se interessar pelo universo da escrita? Seguem algumas idéias para atividades
Sortear palavras sugeridas pelas crianças e criar uma história partindo destas palavras. Criar histórias a partir de um desenho. Fazer brincadeiras com rimas, levando o grupo a criar versos e depois poesias ou letras de músicas. Trazer um tema que esteja sendo trabalhado nas outras disciplinas e pedir que as crianças criem histórias a partir dele. Escrever sobre recortes de jornais e revistas selecionados pelas crianças. Criar uma história que terá que acontecer em determinado lugar escolhido pelo grupo. Selecionar frases de várias histórias diferentes e reuni-las formando uma nova história. Montar o dicionário das palavras da turma. Cada um traz as palavras que acha mais interessantes, então a turma relaciona todas elas em ordem alfabética, escrevem seus significados (com ou sem o auxílio do dicionário, dependendo da idade da criança), fazem ilustrações e montam o dicionário da turma, que deve ter espaços em branco para que sejam acrescentadas palavras novas e interessantes que irão surgir no dia-a-dia da turma. Escrever coisas engraçadas ou que chamarão a atenção de alguma forma e criar o jornal ou a revista da turma. As crianças se revezarão na busca de novos fatos e notícias que deverão entrar nos próximos números do jornal ou da revista. Trabalhar na criação de textos, ilustrações, colagens e confeccionar livros. Livros com histórias das próprias crianças, partindo de gravuras, fotos, fatos etc. Pode-se encadernar os livros, fazer exposições, tarde ou manhã de autógrafos, etc. Através deste tipo de trabalho, com certeza serão descobertos novos e grandes talentos e mesmo aqueles que não se identificarem com a escrita aprenderão, de alguma forma, que a leitura é fundamental e pode ser extremamente prazerosa, independente da área de interesse, já que ela não tem limites, não tem fronteiras tanto na realidade quanto na ficção.
Bibliografia ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. Editora Scipione, 1991. ASCHENBACH, Lena; FAZENDA, Ivani e ELIAS, Marisa. A arte-magia das dobraduras: histórias e atividades pedagógicas com origami. Editora Scipione, 1992. ALENCAR, Eurenice Soriano. Como desenvolver o potencial criador: um guia para a liberação da criatividade em sala de aula. Editora Vozes, 1990.
Autora: Ieda Saroldi Rodrigues