Maré Viva 12 Outubro E fez-se limpeza À hora a que escrevo esta crónica, parece ter-se concretizado o que escrevi em Ordem para limpar, publicada no Maré Viva de 8 de Setembro. É agora tempo para arrumar a parafrenália da campanha eleitoral e arregaçar as mangas, que o tempo urge. Muitos aproveitarão a euforia da suada vitória para substituir assessores e renovar gabinetes jogando fora mesas, cadeiras, armários e computadores, substituindo-os por modelos novos, mais sexy, sem esquecer as fotografias actualizadas no salão nobre e na página electrónica. Seria ultrajante usar equipamentos já manuseados por outros e deixar fantasmas do passado ensombrar os sucessos que se lhes vislumbram no horizonte. Os espinhenses que vivem, trabalham e pagam os impostos em Espinho, - cada munícipe terá pago 235 euros em impostos municipais em 2007, garante um estudo credenciado -, nunca se sentiram bem ao ver que certas obras estavam a ser feitas para forasteiro ver, porque executadas no Verão, e para efeitos de propaganda partidária, porque realizadas em vésperas de eleições. O alcatroamento de algumas ruas, a pintura de algumas passadeiras e a inauguração atabalhoada da nova biblioteca são pequenos exemplos. Outrossim o início envergonhado da obra de alargamento e prolongamento da rua 8 para norte da 15 e da colocação apressada de cartazes com alegado projecto de imensa eira ao longo do Vazio, perdão, Canal ferroviário. E ainda a pesporrência de quem julga saber mais por inerência do cargo que ocupa e rejeita opiniões e ideias, menosprezando quem quis contribuir desinteressadamente para a melhoria de muita situação menos boa e tentou avançar com propostas mas acabou sendo humilhado com o repetido desdém de que os assuntos já estavam a ser tratados e de que já havia grupos de trabalho a tratar dos problemas cuja solução, porém, nunca aparecia. Para não falar nas tão apregoadas e prolongadas viagens à terra do Pélé. Tudo isso e ainda todo aquele puré de atitudes, todo aquele mosaico de comportamentos de quem sabe de tudo e de tudo consegue com as pessoas certas nos lugares certos, de quem rotula os adversários de estúpidos, de quem promove eventos estilo girândola final de arraial, tudo ao mesmo tempo, com muito barulho, muita luz, muito fumo, muita confusão, mas pouco discernimento, pouca uva e pouco sumo. Terá sido tudo isso que, em parte, fez muito boa gente votar na mudança. Na sua peculiar sabedoria , o povo sabe que vassourinha nova varre bem, que no princípio tudo parece correr às mil maravilhas e que, à medida que a vassoura se gasta, os defeitos começam a aparecer. Como São Tomé, vejamos o que fará o novo executivo nas áreas em que durante 16 anos o anterior muito falou e prometeu mas pouco ou nada fez. Refiro-me, por exemplo, ao ambiente, ao abandono da poluída ribeira de Rio Maior e da não menos poluída Lagoa de Paramos, vítima do autismo da autarquia espinhense e da sua incapacidade de dialogar com as autarquias vizinhas de Ovar e de Santa Maria da Feira. Para já, os novos responsáveis pela liderança da autarquia avisaram que vão pedir uma auditoria aos executivos anteriores. Será que se vai abrir uma nova Caixa de Pandora? Octávio Lima