FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
DO OLHAR EMPÁTICO SEM SER SIMPÁTICO1 Uma breve discussão em torno de uma proposta didática para a disciplina de História Redigido em 08 de novembro de 2008, 31ª Semana do Tempo Comum, dia de São Godofredo. Por Dartagnan da Silva Zanela2 "Escrever a história é um modo de nos livrarmos do passado". (Johann Goethe)
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INTRODUÇÃO
O presente ensaio tem por objetivo desenvolver uma
breve
discussão
em
torno
do
conceito
de
“empatia
histórica” e sobre sua relevância para o desenvolvimento de uma didática da História, ou para o ensino da História. Esta discussão
tomará
como
ponto
de
partida
o
artigo
“NÓS
FABRICAMOS CARROS E ELES TINHAM QUE ANDAR A PÉ”: compreensão das pessoas do passado (2001), da autoria do professor Peter LEE, da Universidade de Londres. Para
desenvolvemos
a
discussão
proposta,
primeiramente procurar-se-á levantar o status questione sobre
1 Trabalho apresentado no “Grupo de Trabalho de Rede” da SEED/PR para discussão junto ao curso DEMOCRACIA E ESCOLA, que tem como Tutor o professor - PDE Josué Carlos dos Santos. 2 Professor da Rede Pública Estatal do Paraná e da Faculdade Campo Real. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas (UEPG), Especialista em Pedagogia Escolar (IBEPEX) e graduado em Licenciatura em História (UNICENTRO).
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o conceito de empatia e de seus usos na seara da História. Após isso, deitaremos nossa pena no sentido de tecer algumas considerações
sobre
a
contribuição
do
mesmo
para
o
desenvolvimento de uma didática para a disciplina de história procurando manter um diálogo com as ponderações feitas pelo professor Peter Lee no artigo apontado linhas acima.
1. DA EMPATIA PARA HISTÓRIA
Para darmos início a nossas digressões sobre o tema proposto, começaremos por expor algumas discussões que se
fazem
presentes
em
torno
do
conceito
de
empatia
para
apenas depois tratarmos do conceito de empatia histórica. Segundo Nicola Abbagnano (1998, p. 325), empatia seria a “união ou fusão emotiva com outros seres ou objetos”. Ainda,
segundo
conceito
foram
(pseudônimo depois
o
de
mesmo, os
Georg
retomado
os
primeiros
filósofos Philipp
por
Johann
Friedrich
Robert
a
discutirem Herder,
von
Vischer
este
Novalis
Hardenberg) e
e
disseminado
especialmente por Theodor Lipps. Doravante, a empatia é vista, de maneira geral como: 2
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[...] "participación afectiva y, por lo común, emotiva, de un sujeto humano en una realidad ajena al sujeto." En principio, la realidad en la que el sujeto puede participar afectivamente ofrece numerosos aspectos; puede tratarse de objetos del contorno familiar; de procesos o fenómenos naturales; de bienes culturales y en particular de obras artísticas; de ideas; de ideales; de otros sujetos humanos; de una comunidad; de una forma de vida; de un período histórico, etc. La participación en cuestión puede ser a su vez consciente o inconsciente. Puede tener lugar como consecuencia de una intención o sin previa intención. Los autores que admiten la posibilidad, y la frecuencia, de semejante participación afectiva suelen poner de relieve que sólo mediante ella puede alcanzarse una "más profunda" comprensión de ciertos fenómenos o procesos extrasubjetivos. (MORA; 1964, p. 507)
Ou
seja,
o
colocar-se
no
lugar
do
outro,
participar da realidade vivida pelo outro seria uma via para se ampliar a compreensão do sujeito sobre uma determinada realidade, pois, permitindo-se integrar num cenário que se apresenta
diante
de
suas
vistas,
o
indivíduo
não
apenas
observará a cena, mas também poderá ver a cena e a si mesmo estando dentro dela, sendo parte dela, participando de sua realidade. Procedendo deste modo, o observador estaria não apenas ouvindo as motivações do outro. Ele estaria também ouvindo como se fosse o próprio outro, ampliando assim o seu 3
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horizonte
de
consciência
(CARVALHO;
[s/Ed.])
de
modo
significativo. Dentro deste contexto, o conceito de empatia será uma grande ferramenta epistêmica para os antropólogos, onde destacamos, em especial, o antropólogo Bronisław Malinowski (1978), com o seu conceito de olhar participante e os estudos de Franz Boas (1964). A
leitura
do
livro
ARGONAUTAS
DO
PACÍFICO
OCIDENTAL (1978), apresenta-nos uma imagem de formação de um antropólogo
e
de
sua
teoria
antropológica,
que
tinha
por
intento combater as imposturas do etnocentrismo etnográfico e buscar estudar o diferente em seus próprios meios e encará-lo segundo a lógica da sua própria visão cultural de mundo. Desta maneira, procurava-se evitar a “contaminação cultural” nos encontros com o outro, o que evitava que se fizesse análises decorrentes dos juízos de valor advindos da própria cultura
do
pesquisador.
Ou
seja:
sobrepondo-se
os
seus
valores sobre os valores do grupo observado. Segundo Vagner Gonçalves da Silva (2008):
Aprendemos, portanto, Malinowski, que a viagem às terras do Outro, seja sociedades tribais - os estudo da antropologia -,
com a leitura de feita pelo antropólogo este entendido como as primeiros "objetos" de ou os grupos inseridos
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nas sociedades urbanas contemporâneas, deveria conter um grande despojamento de si mesmo, uma vocação para a identificação humana apesar das agruras e dificuldades que o contato poderia oferecer. Somente assim, ao final desta viagem ao coração das culturas estrangeiras, o antropólogo, como um herói das odisséias, poderia voltar trazendo o Outro "revivificado" aos olhos dos leitores de suas etnografias.
Já
nas
terras
Cabralinas,
não
temos
como
não
destacar o nome do Antropólogo Gilberto Freire que fez um uso bastante
profícuo
do
que
o
mesmo
nominava
de
empatia
antropológica (FREIRE; 1968). Tais trabalhos lhe renderam a antipatia do stablishiment acadêmico totalmente imerso nos conceitos e pré-conceitos advindos do materialismo histórico reinante. Freire
sempre
procurava
apresentar
os
vários
olhares que compunham uma determinada realidade histórica e, via
de
regra,
estes
acabavam
se
mostrando
um
tanto
contraditórios, pois refletiam as experiências específicas de grupos
sociais
específicos
que,
por
sua
deixa,
acabam
causando um certo assombro ao olhar do observador hodierno. Um bom exemplo disso são as laudas que o referido autor escreveu sobre a escravidão em nosso país (FREIRE; 2003).
5
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Mas, o que o referido autor nos ensina sobre o uso da empatia como técnica da ciência antropológica em nosso país (FREIRE; 1968)? Segundo ele,
O criador ou o analista ou o intérprete de tal ou qual realidade se serve, em tais casos, desdobrando a própria personalidade, das chamadas personalidades hipotéticas que completem a sua, para assim enriquecer-se de novas perspectivas da mesma realidade. Procura ver essa realidade através de outras pessoas ou de outras personalidades reais ou um tanto sob a forma weberiana de "tipos ideais", com os quais procura identificar-se para, assim identificado, por empatia, aperceber-se de aspectos da mesma realidade dos quais não se aperceberia, fechado na sua exclusiva ou única personalidade; ou no seu sexo; ou na sua raça; ou na sua cultura; ou na sua classe. (FREIRE; 1968)
Destacamos também, as considerações feitas pelo historiador José Carlos Reis, que um dos grandes méritos da obra
gilbertiana
é
o
seu
estilo
quase
que
coloquial
que
mantém uma conversa informal entre o presente e o passado da nação brasileira. Ele, Freire, procura descrever a sociedade brasileira a partir de dentro, de sua alma e não de fora, como
se
estive
a
observar
um
objeto
natural,
dando
a
impressão de que ele teria vivido o que está nos escrevendo (REIS; 1999). Gilberto
também
era
e
é
acusado
de
ser
uma
espécie de “apologista da escravidão” (CARDOSO; 2003), devido 6
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as leituras equivocadas feitas de sua obra, leitura estas que não procuravam levar em contar a devida compreensão do uso do conceito todos
de
empatia
esses
antropológica
méritos
e
(MENEZES;
deméritos
da
2000).
obra
do
Aliás,
referido
antropólogo-historiador se devem justamente ao largo uso do conceito de empatia. Os
bons
resultados
obtidos
na
seara
da
antropologia acabaram por chamar a atenção dos historiadores que passaram a se dedicar a construção de uma antropologiahistórica. trabalhos história
Neste da
ínterim,
Escola
produziram
dos
foi
de
Annales,
estudos
inestimável que
basilares
no
valia
correr
sobre
os
de
os sua
seguintes
temas: (i) a história das mentalidades, (ii) a tentativa de empregar métodos quantitativos na história cultural e (iii) uma
antropologia
histórica,
num
retorno
à
política
ou
o
ressurgimento da narrativa (BURKE; 1992). Ora,
frente
ao
que
fora
exposto
até
aqui,
compreendemos a razão que levou Peter Lee a enfatizar que o uso do
referido
apenas
se
conceito
restringir
nos
aos
estudos
históricos
sentimentos
vividos
não
deve
em
uma
determinada época histórica (2001; p. 30). De mais a mais, nós, enquanto seres dotados de capacidade racional também somos dotados de uma determinada 7
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carga emotiva que, por sua deixa, também é dotada de uma forma específica de cognição. E mais: as emoções não poderiam ser classificadas estas,
via
de
como
regra,
uma são
reles uma
forma forma
de
sensação,
de
reação
pois
a
uma
determinada carga de informações que nós captamos através de nossos sentidos (2001; p. 30). Uma mesma informação pode, em sujeitos
diferentes,
ou
em
diferentes
momentos,
despertar
sentimentos de nojo e prazer, logo, a empatia pode muito bem ser utilizada como uma ferramenta pedagógica em sala de aula. Ponto este que iremos tratar no próximo tópico.
2. DA EMPATIA PARA O ENSINO DA MESTRA DA VIDA
A
proposta
da
discussão
deste
GTR
(Grupo
de
Trabalho de Rede) da SEED/PR, neste primeiro momento, é de que os membros desenvolvam uma reflexão sobre a possibilidade de
se
desenvolver
uma
didática
do
ensino
de
história
recorrendo ao uso do conceito de empatia histórica. Pois bem, como toda proposta didática, esta tem os seus méritos e seus deméritos. Não há nada que seja feito por mãos humanas que não
acabe
esbarrando
neste
aspecto
de
nossa
constituição
existencial. 8
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Somos razão,
não
fundamentalmente
temos
como
edificar
imperfeitos algo
que
e,
seja
por
essa
isento
de
imperfeições. Todavia, por sermos dotados da centelha divina (AGOSTINHO; 1994), a razão, temos como avaliar os prós e os contras de uma proposta e assim, concluirmos sobre a vacância ou não de algo, como é o caso do uso do conceito de empatia no ensino da disciplina de História. Dito
isso,
passaremos
a
expor
os
pontos
que
julgamos serem meritórios na possibilidade de uma didática com
essa
fundamentação
conceitual
e,
logo
na
seqüência,
passaremos a expor os perigos epistemológicos que os usos e abusos da empatia podem acarretar na formação do indivíduo. Feito isso, nos propomos a apresentar uma síntese integradora sobre os pontos levantados e assim, dar o nosso parecer sobre o problema proposto.
2.1. DOS MÉRITOS DO USO
Já a muito nos ensina o filósofo grego Platão que o
Ser
é
realidade
o de
último um
na
categoria
objeto
é
a
do
última
conhecer. instância
Ou
seja,
que
a
nossa
capacidade cognitiva capta e compreende (PLATÃO; 2005). Tal 9
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observação
é
válida
para
todas
as
searas
do
conhecimento
humano e, bem como, para todos os fazeres humanos, inclusive a ato de ensinar algo. Todo aluno quando entra em sala de aula tem em sua mente uma imagem ou um sentimento edificado sobre as disciplinas
que
sentimento
sobre
lhe
serão
esta
ministradas
acaba
e
esta
influenciando
no
imagem
e/ou
aprendizado,
pois, como nos ensina o Doutor Angélico nós apenas lembramos daquilo que amamos (ou odiamos) (ZANELA; 2002). Esta primeira impressão sobre algo pode vir a ser a que ficará para sempre, ou por um longo período. Porém, necessariamente, não deve ser assim, visto
que,
esta
primeira
impressão
pode
ser
vista
apenas como uma primeira “compreensão” da disciplina e, por essa mesma razão, ser trabalhada gradativamente, refletida devidamente
para,
deste
modo,
aproximar
cada
vez
mais
o
intelecto do agente ao Ser que poderá vir a ser revelado no ato de aprender. Deste modo, vemos na aplicação do conceito de empatia
na
oportunidade
disciplina para
se
de
História
trabalhar
como com
sendo esta
uma
grande
gradação
do
aprendizado e, através desta vereda, trabalhar com um maior desenvolvimento do diálogo interno do sujeito. 10
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Entendamos simplesmente
a
situações
que
em
por
capacidade ele
tem
diálogo
interno
tão
só
e
para
si
solução,
ou
do
indivíduo
propor
que
encontrar
uma
apresentar um juízo. Para tanto o mesmo entra em conflito com sua consciência e, deste modo, passa a refletir sobre os possíveis cenários que vão se desenhando em sua mente. O aluno poderá desenvolver de modo mais profícuo a
sua
sindérese
(ALBERTUNI;
2006)
que,
segundo
os
escolásticos, seria tão só a capacidade natural de todo ser humano
julgar
de
modo
correto
o
fatos
que
lhe
são
apresentados ou que ele é o sujeito central. Ou simplesmente o que popularmente chamamos de bom senso. Cremos
ser
possível
desenvolver
esta
potencialidade humana através da proposição de questões que levem o educando a se deslocar mentalmente para os cenários que são apresentados pelo educador em sala de aula e assim, deste modo, ele terá que esforçar-se a recriar em sua mente a sociedade em questão, reconstruir os valores que norteavam esta sociedade e, após este esforço, colocar-se no lugar dos sujeitos que viviam nesta sociedade que agora se faz presente em sua imaginação (SANTOS; 1962). Perguntas do gênero: o que significava ser um Cristão
no
primeiro
século
da
Era
de
Nosso
Senhor?
Como 11
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viviam as crianças na cidade de Esparta no século V a.C.? Ou por
que
as
mulheres
Civilização
Romana?
mares,
sua
em
eram
Por
tratadas
que
os
imensidão,
como
europeus
eram
RES
(coisas)
afirmavam
habitados
por
na
que
os
bestas
e
monstros? Por que os europeus achavam-se o centro do mundo? Por que os mulçumanos e cristãos respeitavam tanto a quaresma como o mês do Ramadã durante as Santas Cruzadas? Estas
e
outras
perguntas
enunciam
a
primeira
categoria do conhecer e, deste modo, instigam a curiosidade dos
alunos
a
se
deslocarem
gradativamente
a
subirem
os
degraus para se aproximarem mais e mais do Ser em questão (SANTOS; 2000). O
mais
interessante
nisso,
é
todo
o
esforço
intelectual que o indivíduo tem que realizar para chegar até esse ponto. Ou seja: o mais importe neste trabalho não é, em si, o resultado externo que pode ser-nos apresentado em uma avaliação escrita ou em uma exposição oral feita pelo aluno, mas sim, a disciplina interna que ele desenvolve com essas práticas. Disciplina esta que ele carregará para o resto de sua vida. Outro ponto que merece ser destacado no uso do conceito
de
empatia
na
aplicada
na
disciplina
formação de
de
história
uma é
a
didática
a
possibilidade
ser de 12
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desenvolver a capacidade do educando trabalhar com mais de uma hipótese possível em uma situação em que exigirá dele uma tomada de decisão. Questões como: Quais foram os erros do exército Alemão na operação Barba Roxa? Além do suicídio, que outras possibilidades de ação teria Getúlio Vargas no término de seu mandato? Nas
duas
questões,
apontados
os
cenários
possíveis, caberia indagar: por que tais cenários não foram possíveis
de
serem
encenados
no
palco
da
História?
Nesta
situação, os alunos terão uma clara visão da dimensão do horizonte de consciência que os atores envolvidos tinha em comparação com seu horizonte decisório (CARVALHO; [s/Ed.]) em contraste
com
as
condições
objetivas
que
se
apresentavam
naquele ou neste momento histórico em questão. Entendamos
por
horizonte
de
consciência
a
quantidade de operações mentais que o sujeito é capaz de realizar multiplicada pela quantidade de informações que ele possui (sabe). Doravante, entendamos por horizonte decisório os meios que o indivíduo dispõe para tornar aquilo que ele está pensando, ou aquilo que ele deseja, em algo efetivo. Por fim, entenda-se por condições objetivas a conjuntara que o indivíduo está inserido. 13
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Ora,
recorrendo
epistemológico,
o
aluno
necessariamente,
na
maioria
horizonte
de
consciência
a
este
tipo
rapidamente dos mais
de
experiente
compreenderá
casos,
os
parvo
são
sujeitos
que, com
justamente
o os
indivíduos que tem o mais amplo horizonte decisório; que na maioria dos casos os indivíduos com o mais amplo horizonte de consciência são justamente os que têm o mais insignificante horizonte decisório e, por fim, que muitas das vezes, mesmo tendo
um
amplo
horizonte
de
consciência
e
decisório,
o
indivíduo não dispõe das condições objetivas para realizar o seu intento. Em fim, ironias da vida que se faz presente na história da humanidade desde os tempos primordiais. E mais! Através de uma atividade deste gênero, torna-se possível instigar os alunos a aprenderem a fazer uma análise de conjuntura e, o aprendizado de tal procedimento é algo que todo e qualquer indivíduo em toda e qualquer seara de atuação poderá vir a se beneficiar na avaliação de suas tomadas de decisão e, em consonância com o desenvolvimento do diálogo interno, o aluno poderá desenvolver-se de maneira virtuosa e, das virtudes, a que acreditamos que melhor poderá ser
desenvolvida
prudência,
que
com
tanto
um
trabalho
carece
muitas
desta vezes
monta em
será
nossas
a
da
vidas
humanamente vividas. 14
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2.2. DOS DEMÉRITOS E SUAS ARMADILHAS
Como nem tudo neste vale de lágrimas que é a vida é um mar de rosas é possível vislumbrar no uso do conceito de
empatia
na
formulação
de
história
disciplina
exclusivamente
no
figura
de
uma
dois do
didática
do
problemas.
professor
e
o
ensino Um
da
focado
outro
na
do
educando. No
que
tange
possibilidade
do
uso
ao
papel
do
distorcido
professor,
da
vemos
referida
a
técnica
pedagógica, de maneira consciente ou inconsciente, pois, a empatia histórica se dá não com um sujeito concreto, mas sim através de uma reconstrução histórica que, necessariamente, é organizada pelo professor em sala de aula, correto? Nesta impregne
os
construção
seus
valores,
é
possível
visão
de
que
um
mundo
e
professor mesmo
as
impressões de sua ideologia política e, ao invés de levar o aluno
a
desconstruir
possíveis
estereótipos,
ele
irá
absorver os estereótipos edificados pelo seu professor em sala de aula. Trocando
por
dorso,
como
dizem
os
garotos,
o
desenvolvimento de uma didática que tenha como fundamento a 15
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empatia
histórica
pode
abrir
um
viés
relativamente
significativo para a manipulação ideológica, tal qual nós podemos perceber no uso de ícones, imagens e gravuras tanto pela mídia popular como nos livros didáticos (DEIRO; 2005). Da
parte
dos
alunos
da
sociedade
brasileira
hodierna, devemos destacar literalmente a letargia mental que
vem
gradativamente
tomando
conta
da
mentalidade
contemporânea que literalmente vem resumindo o pensar a um mero
ato
de
decorar
alguns
cacoetes
mentais
(CARVALHO;
1996), topus (SANTOS; 1957) e slogans publicitários como se estes
fossem
conceitos
“cientificamente”
demonstrados
(ZANELA; 2008). Muito desta desídia mental deve-se a perda da noção de que todo aprendizado de toda e qualquer disciplina epistêmica inclui certa disposição do espírito humano a se submeter a um determinado ordenamento. A isso nós podemos simplesmente dar o nome da virtude da humildade que, segundo Hugo de São Vitor, é a virtude basilar para a boa formação de um estudante (DE SÃO VITOR; 2001). Ou
podemos
fazer
a
seguinte
analogia
(se
preferirem), fazendo a seguinte pergunta: seria possível que um garoto se torne um bom jogador de futebol sem que ao menos em algum momento de sua vida ele tenha se dedicado a 16
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treinos intensos e a um bom condicionamento físico? Bem isso seria possível apenas se o garoto tiver um grande dom, não é mesmo? Bem, a regra não é muito diferente quando o assunto é estudar, seja história ou matemática. Doravante, junte-se a isso, o total desdém que se tem pelo conceito de verdade, em seu sentido ontológico e metafísico,
devido
aos
grandes
vícios
introduzidos
na
cultura moderna através do relativismo (BENTO XVI; 2007) e da submissão da vida humana a esta via que apenas beneficia aqueles que desejam não compreender e apreender os valores humanos universais (CORÇÃO; [s/d]), mas apenas manipulá-los de acordo com os seus intentos seculares (JOÃO PAULO II; 1998). Por
exemplo:
um
professor
ao
indagar
para
um
grupo de alunos como um homem medieval concebia as suas relações
com
facilidade,
a
Igreja
impregnar
Católica
inúmeros
poderá,
preconceitos
com
grande
sobre
este
período da História do Ocidente (FRANCO JÚNIOR; 2001) e, de quebra, sobre a Igreja Católica Apostólica Romana (PERNOUD; 1981).
Ou
então,
ao
se
referir
sobre
o
assim
nominado
socialismo que, via de regra, sempre é apresentada como uma forma quimérica de humanismo desdenhando-se por completo o 17
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seu aspecto fundamentalmente genocida (COURTOIS; 1999), como atestam as suas experiências no correr de sua história. Em fim, o ensino da mestra da vida é sempre um risco, pois, em seu entorno há sempre uma aguda disputa de poder, por uma posição privilegiada que permita ser a voz autorizada
a
fazer
uma
determinada
versão
dos
fatos
(ou
falseamento mesmo deles), podendo assim contar a “história oficial” (FERRO, 1989). Este perigo é uma força constante na investigação histórica e no ensino desta disciplina. Para evitar
tal
risco,
cremos
que
podemos
apenas
sugerir
o
conselho que nos é dado pelo escritor Humberto de Campos: “Sê-de senhor de tua vontade e escravo de tua consciência”. Aliás, não há melhor meio ético para garantir a seriedade de um processo pedagógico do que uma aguda e reta consciência moral que, a nosso ver, deve ser condição sine qua non para o exercício do magistério.
PARECER FINAL
Em vista do que fora exposto nas linhas acima, vemos com bons olhos o uso de procedimentos didáticos que tenham em vista a aplicação do conceito de empatia, mesmo 18
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diante dos riscos apresentados, pois, como havia dito em certa feira, Albert Einstein, o universo pode até não ser infinito, mas a estupidez humana o é. E, se assim for, com ou sem o uso de tais práticas pedagógicas, o perigo estará sempre a rondar a possibilidade da existência de uma aula séria e honesta. De mais a mais, os problemas apontados por nós em nossa exposição não são, em sim, problemas inerentes ao uso do conceito de empatia no ensino da disciplina de história, mas sim, uma problemática que advém do contexto que circunda o
ensino
postura
hodierno ética
do
em
nosso
educador
país
e
frente
que aos
é
concernente
saberes
que
a
irá
ministrar e diante das consciências que estão em suas mãos, clamando ou não, sedentas ou não, por aprender (Putz! Nesta aí eu acho que forcei). Por isso, não apenas vemos como válida a proposta defendida
pelo
professor
Peter
Lee,
mas
sim,
como
algo
necessário e que poderá render bons frutos se bem aplicada e bem desenvolvida. Agora, se for feito com pouca ou nenhuma retidão, a única coisa que renderá será mais uma safra dos mesmos frutos que a educação contemporânea em nosso país vem apresentando. 19
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REFERÊNCIAS
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de de
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