Do Olhar Empático Sem Ser Simpático

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FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

DO OLHAR EMPÁTICO SEM SER SIMPÁTICO1 Uma breve discussão em torno de uma proposta didática para a disciplina de História Redigido em 08 de novembro de 2008, 31ª Semana do Tempo Comum, dia de São Godofredo. Por Dartagnan da Silva Zanela2 "Escrever a história é um modo de nos livrarmos do passado". (Johann Goethe)

- - - - - + - - - - -

INTRODUÇÃO

O presente ensaio tem por objetivo desenvolver uma

breve

discussão

em

torno

do

conceito

de

“empatia

histórica” e sobre sua relevância para o desenvolvimento de uma didática da História, ou para o ensino da História. Esta discussão

tomará

como

ponto

de

partida

o

artigo

“NÓS

FABRICAMOS CARROS E ELES TINHAM QUE ANDAR A PÉ”: compreensão das pessoas do passado (2001), da autoria do professor Peter LEE, da Universidade de Londres. Para

desenvolvemos

a

discussão

proposta,

primeiramente procurar-se-á levantar o status questione sobre

1 Trabalho apresentado no “Grupo de Trabalho de Rede” da SEED/PR para discussão junto ao curso DEMOCRACIA E ESCOLA, que tem como Tutor o professor - PDE Josué Carlos dos Santos. 2 Professor da Rede Pública Estatal do Paraná e da Faculdade Campo Real. Mestre em Ciências Sociais Aplicadas (UEPG), Especialista em Pedagogia Escolar (IBEPEX) e graduado em Licenciatura em História (UNICENTRO).

1

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

o conceito de empatia e de seus usos na seara da História. Após isso, deitaremos nossa pena no sentido de tecer algumas considerações

sobre

a

contribuição

do

mesmo

para

o

desenvolvimento de uma didática para a disciplina de história procurando manter um diálogo com as ponderações feitas pelo professor Peter Lee no artigo apontado linhas acima.

1. DA EMPATIA PARA HISTÓRIA

Para darmos início a nossas digressões sobre o tema proposto, começaremos por expor algumas discussões que se

fazem

presentes

em

torno

do

conceito

de

empatia

para

apenas depois tratarmos do conceito de empatia histórica. Segundo Nicola Abbagnano (1998, p. 325), empatia seria a “união ou fusão emotiva com outros seres ou objetos”. Ainda,

segundo

conceito

foram

(pseudônimo depois

o

de

mesmo, os

Georg

retomado

os

primeiros

filósofos Philipp

por

Johann

Friedrich

Robert

a

discutirem Herder,

von

Vischer

este

Novalis

Hardenberg) e

e

disseminado

especialmente por Theodor Lipps. Doravante, a empatia é vista, de maneira geral como: 2

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

[...] "participación afectiva y, por lo común, emotiva, de un sujeto humano en una realidad ajena al sujeto." En principio, la realidad en la que el sujeto puede participar afectivamente ofrece numerosos aspectos; puede tratarse de objetos del contorno familiar; de procesos o fenómenos naturales; de bienes culturales y en particular de obras artísticas; de ideas; de ideales; de otros sujetos humanos; de una comunidad; de una forma de vida; de un período histórico, etc. La participación en cuestión puede ser a su vez consciente o inconsciente. Puede tener lugar como consecuencia de una intención o sin previa intención. Los autores que admiten la posibilidad, y la frecuencia, de semejante participación afectiva suelen poner de relieve que sólo mediante ella puede alcanzarse una "más profunda" comprensión de ciertos fenómenos o procesos extrasubjetivos. (MORA; 1964, p. 507)

Ou

seja,

o

colocar-se

no

lugar

do

outro,

participar da realidade vivida pelo outro seria uma via para se ampliar a compreensão do sujeito sobre uma determinada realidade, pois, permitindo-se integrar num cenário que se apresenta

diante

de

suas

vistas,

o

indivíduo

não

apenas

observará a cena, mas também poderá ver a cena e a si mesmo estando dentro dela, sendo parte dela, participando de sua realidade. Procedendo deste modo, o observador estaria não apenas ouvindo as motivações do outro. Ele estaria também ouvindo como se fosse o próprio outro, ampliando assim o seu 3

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

horizonte

de

consciência

(CARVALHO;

[s/Ed.])

de

modo

significativo. Dentro deste contexto, o conceito de empatia será uma grande ferramenta epistêmica para os antropólogos, onde destacamos, em especial, o antropólogo Bronisław Malinowski (1978), com o seu conceito de olhar participante e os estudos de Franz Boas (1964). A

leitura

do

livro

ARGONAUTAS

DO

PACÍFICO

OCIDENTAL (1978), apresenta-nos uma imagem de formação de um antropólogo

e

de

sua

teoria

antropológica,

que

tinha

por

intento combater as imposturas do etnocentrismo etnográfico e buscar estudar o diferente em seus próprios meios e encará-lo segundo a lógica da sua própria visão cultural de mundo. Desta maneira, procurava-se evitar a “contaminação cultural” nos encontros com o outro, o que evitava que se fizesse análises decorrentes dos juízos de valor advindos da própria cultura

do

pesquisador.

Ou

seja:

sobrepondo-se

os

seus

valores sobre os valores do grupo observado. Segundo Vagner Gonçalves da Silva (2008):

Aprendemos, portanto, Malinowski, que a viagem às terras do Outro, seja sociedades tribais - os estudo da antropologia -,

com a leitura de feita pelo antropólogo este entendido como as primeiros "objetos" de ou os grupos inseridos

4

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

nas sociedades urbanas contemporâneas, deveria conter um grande despojamento de si mesmo, uma vocação para a identificação humana apesar das agruras e dificuldades que o contato poderia oferecer. Somente assim, ao final desta viagem ao coração das culturas estrangeiras, o antropólogo, como um herói das odisséias, poderia voltar trazendo o Outro "revivificado" aos olhos dos leitores de suas etnografias.



nas

terras

Cabralinas,

não

temos

como

não

destacar o nome do Antropólogo Gilberto Freire que fez um uso bastante

profícuo

do

que

o

mesmo

nominava

de

empatia

antropológica (FREIRE; 1968). Tais trabalhos lhe renderam a antipatia do stablishiment acadêmico totalmente imerso nos conceitos e pré-conceitos advindos do materialismo histórico reinante. Freire

sempre

procurava

apresentar

os

vários

olhares que compunham uma determinada realidade histórica e, via

de

regra,

estes

acabavam

se

mostrando

um

tanto

contraditórios, pois refletiam as experiências específicas de grupos

sociais

específicos

que,

por

sua

deixa,

acabam

causando um certo assombro ao olhar do observador hodierno. Um bom exemplo disso são as laudas que o referido autor escreveu sobre a escravidão em nosso país (FREIRE; 2003).

5

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Mas, o que o referido autor nos ensina sobre o uso da empatia como técnica da ciência antropológica em nosso país (FREIRE; 1968)? Segundo ele,

O criador ou o analista ou o intérprete de tal ou qual realidade se serve, em tais casos, desdobrando a própria personalidade, das chamadas personalidades hipotéticas que completem a sua, para assim enriquecer-se de novas perspectivas da mesma realidade. Procura ver essa realidade através de outras pessoas ou de outras personalidades reais ou um tanto sob a forma weberiana de "tipos ideais", com os quais procura identificar-se para, assim identificado, por empatia, aperceber-se de aspectos da mesma realidade dos quais não se aperceberia, fechado na sua exclusiva ou única personalidade; ou no seu sexo; ou na sua raça; ou na sua cultura; ou na sua classe. (FREIRE; 1968)

Destacamos também, as considerações feitas pelo historiador José Carlos Reis, que um dos grandes méritos da obra

gilbertiana

é

o

seu

estilo

quase

que

coloquial

que

mantém uma conversa informal entre o presente e o passado da nação brasileira. Ele, Freire, procura descrever a sociedade brasileira a partir de dentro, de sua alma e não de fora, como

se

estive

a

observar

um

objeto

natural,

dando

a

impressão de que ele teria vivido o que está nos escrevendo (REIS; 1999). Gilberto

também

era

e

é

acusado

de

ser

uma

espécie de “apologista da escravidão” (CARDOSO; 2003), devido 6

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

as leituras equivocadas feitas de sua obra, leitura estas que não procuravam levar em contar a devida compreensão do uso do conceito todos

de

empatia

esses

antropológica

méritos

e

(MENEZES;

deméritos

da

2000).

obra

do

Aliás,

referido

antropólogo-historiador se devem justamente ao largo uso do conceito de empatia. Os

bons

resultados

obtidos

na

seara

da

antropologia acabaram por chamar a atenção dos historiadores que passaram a se dedicar a construção de uma antropologiahistórica. trabalhos história

Neste da

ínterim,

Escola

produziram

dos

foi

de

Annales,

estudos

inestimável que

basilares

no

valia

correr

sobre

os

de

os sua

seguintes

temas: (i) a história das mentalidades, (ii) a tentativa de empregar métodos quantitativos na história cultural e (iii) uma

antropologia

histórica,

num

retorno

à

política

ou

o

ressurgimento da narrativa (BURKE; 1992). Ora,

frente

ao

que

fora

exposto

até

aqui,

compreendemos a razão que levou Peter Lee a enfatizar que o uso do

referido

apenas

se

conceito

restringir

nos

aos

estudos

históricos

sentimentos

vividos

não

deve

em

uma

determinada época histórica (2001; p. 30). De mais a mais, nós, enquanto seres dotados de capacidade racional também somos dotados de uma determinada 7

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carga emotiva que, por sua deixa, também é dotada de uma forma específica de cognição. E mais: as emoções não poderiam ser classificadas estas,

via

de

como

regra,

uma são

reles uma

forma forma

de

sensação,

de

reação

pois

a

uma

determinada carga de informações que nós captamos através de nossos sentidos (2001; p. 30). Uma mesma informação pode, em sujeitos

diferentes,

ou

em

diferentes

momentos,

despertar

sentimentos de nojo e prazer, logo, a empatia pode muito bem ser utilizada como uma ferramenta pedagógica em sala de aula. Ponto este que iremos tratar no próximo tópico.

2. DA EMPATIA PARA O ENSINO DA MESTRA DA VIDA

A

proposta

da

discussão

deste

GTR

(Grupo

de

Trabalho de Rede) da SEED/PR, neste primeiro momento, é de que os membros desenvolvam uma reflexão sobre a possibilidade de

se

desenvolver

uma

didática

do

ensino

de

história

recorrendo ao uso do conceito de empatia histórica. Pois bem, como toda proposta didática, esta tem os seus méritos e seus deméritos. Não há nada que seja feito por mãos humanas que não

acabe

esbarrando

neste

aspecto

de

nossa

constituição

existencial. 8

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Somos razão,

não

fundamentalmente

temos

como

edificar

imperfeitos algo

que

e,

seja

por

essa

isento

de

imperfeições. Todavia, por sermos dotados da centelha divina (AGOSTINHO; 1994), a razão, temos como avaliar os prós e os contras de uma proposta e assim, concluirmos sobre a vacância ou não de algo, como é o caso do uso do conceito de empatia no ensino da disciplina de História. Dito

isso,

passaremos

a

expor

os

pontos

que

julgamos serem meritórios na possibilidade de uma didática com

essa

fundamentação

conceitual

e,

logo

na

seqüência,

passaremos a expor os perigos epistemológicos que os usos e abusos da empatia podem acarretar na formação do indivíduo. Feito isso, nos propomos a apresentar uma síntese integradora sobre os pontos levantados e assim, dar o nosso parecer sobre o problema proposto.

2.1. DOS MÉRITOS DO USO

Já a muito nos ensina o filósofo grego Platão que o

Ser

é

realidade

o de

último um

na

categoria

objeto

é

a

do

última

conhecer. instância

Ou

seja,

que

a

nossa

capacidade cognitiva capta e compreende (PLATÃO; 2005). Tal 9

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

observação

é

válida

para

todas

as

searas

do

conhecimento

humano e, bem como, para todos os fazeres humanos, inclusive a ato de ensinar algo. Todo aluno quando entra em sala de aula tem em sua mente uma imagem ou um sentimento edificado sobre as disciplinas

que

sentimento

sobre

lhe

serão

esta

ministradas

acaba

e

esta

influenciando

no

imagem

e/ou

aprendizado,

pois, como nos ensina o Doutor Angélico nós apenas lembramos daquilo que amamos (ou odiamos) (ZANELA; 2002). Esta primeira impressão sobre algo pode vir a ser a que ficará para sempre, ou por um longo período. Porém, necessariamente, não deve ser assim, visto

que,

esta

primeira

impressão

pode

ser

vista

apenas como uma primeira “compreensão” da disciplina e, por essa mesma razão, ser trabalhada gradativamente, refletida devidamente

para,

deste

modo,

aproximar

cada

vez

mais

o

intelecto do agente ao Ser que poderá vir a ser revelado no ato de aprender. Deste modo, vemos na aplicação do conceito de empatia

na

oportunidade

disciplina para

se

de

História

trabalhar

como com

sendo esta

uma

grande

gradação

do

aprendizado e, através desta vereda, trabalhar com um maior desenvolvimento do diálogo interno do sujeito. 10

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Entendamos simplesmente

a

situações

que

em

por

capacidade ele

tem

diálogo

interno

tão



e

para

si

solução,

ou

do

indivíduo

propor

que

encontrar

uma

apresentar um juízo. Para tanto o mesmo entra em conflito com sua consciência e, deste modo, passa a refletir sobre os possíveis cenários que vão se desenhando em sua mente. O aluno poderá desenvolver de modo mais profícuo a

sua

sindérese

(ALBERTUNI;

2006)

que,

segundo

os

escolásticos, seria tão só a capacidade natural de todo ser humano

julgar

de

modo

correto

o

fatos

que

lhe

são

apresentados ou que ele é o sujeito central. Ou simplesmente o que popularmente chamamos de bom senso. Cremos

ser

possível

desenvolver

esta

potencialidade humana através da proposição de questões que levem o educando a se deslocar mentalmente para os cenários que são apresentados pelo educador em sala de aula e assim, deste modo, ele terá que esforçar-se a recriar em sua mente a sociedade em questão, reconstruir os valores que norteavam esta sociedade e, após este esforço, colocar-se no lugar dos sujeitos que viviam nesta sociedade que agora se faz presente em sua imaginação (SANTOS; 1962). Perguntas do gênero: o que significava ser um Cristão

no

primeiro

século

da

Era

de

Nosso

Senhor?

Como 11

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viviam as crianças na cidade de Esparta no século V a.C.? Ou por

que

as

mulheres

Civilização

Romana?

mares,

sua

em

eram

Por

tratadas

que

os

imensidão,

como

europeus

eram

RES

(coisas)

afirmavam

habitados

por

na

que

os

bestas

e

monstros? Por que os europeus achavam-se o centro do mundo? Por que os mulçumanos e cristãos respeitavam tanto a quaresma como o mês do Ramadã durante as Santas Cruzadas? Estas

e

outras

perguntas

enunciam

a

primeira

categoria do conhecer e, deste modo, instigam a curiosidade dos

alunos

a

se

deslocarem

gradativamente

a

subirem

os

degraus para se aproximarem mais e mais do Ser em questão (SANTOS; 2000). O

mais

interessante

nisso,

é

todo

o

esforço

intelectual que o indivíduo tem que realizar para chegar até esse ponto. Ou seja: o mais importe neste trabalho não é, em si, o resultado externo que pode ser-nos apresentado em uma avaliação escrita ou em uma exposição oral feita pelo aluno, mas sim, a disciplina interna que ele desenvolve com essas práticas. Disciplina esta que ele carregará para o resto de sua vida. Outro ponto que merece ser destacado no uso do conceito

de

empatia

na

aplicada

na

disciplina

formação de

de

história

uma é

a

didática

a

possibilidade

ser de 12

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

desenvolver a capacidade do educando trabalhar com mais de uma hipótese possível em uma situação em que exigirá dele uma tomada de decisão. Questões como: Quais foram os erros do exército Alemão na operação Barba Roxa? Além do suicídio, que outras possibilidades de ação teria Getúlio Vargas no término de seu mandato? Nas

duas

questões,

apontados

os

cenários

possíveis, caberia indagar: por que tais cenários não foram possíveis

de

serem

encenados

no

palco

da

História?

Nesta

situação, os alunos terão uma clara visão da dimensão do horizonte de consciência que os atores envolvidos tinha em comparação com seu horizonte decisório (CARVALHO; [s/Ed.]) em contraste

com

as

condições

objetivas

que

se

apresentavam

naquele ou neste momento histórico em questão. Entendamos

por

horizonte

de

consciência

a

quantidade de operações mentais que o sujeito é capaz de realizar multiplicada pela quantidade de informações que ele possui (sabe). Doravante, entendamos por horizonte decisório os meios que o indivíduo dispõe para tornar aquilo que ele está pensando, ou aquilo que ele deseja, em algo efetivo. Por fim, entenda-se por condições objetivas a conjuntara que o indivíduo está inserido. 13

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Ora,

recorrendo

epistemológico,

o

aluno

necessariamente,

na

maioria

horizonte

de

consciência

a

este

tipo

rapidamente dos mais

de

experiente

compreenderá

casos,

os

parvo

são

sujeitos

que, com

justamente

o os

indivíduos que tem o mais amplo horizonte decisório; que na maioria dos casos os indivíduos com o mais amplo horizonte de consciência são justamente os que têm o mais insignificante horizonte decisório e, por fim, que muitas das vezes, mesmo tendo

um

amplo

horizonte

de

consciência

e

decisório,

o

indivíduo não dispõe das condições objetivas para realizar o seu intento. Em fim, ironias da vida que se faz presente na história da humanidade desde os tempos primordiais. E mais! Através de uma atividade deste gênero, torna-se possível instigar os alunos a aprenderem a fazer uma análise de conjuntura e, o aprendizado de tal procedimento é algo que todo e qualquer indivíduo em toda e qualquer seara de atuação poderá vir a se beneficiar na avaliação de suas tomadas de decisão e, em consonância com o desenvolvimento do diálogo interno, o aluno poderá desenvolver-se de maneira virtuosa e, das virtudes, a que acreditamos que melhor poderá ser

desenvolvida

prudência,

que

com

tanto

um

trabalho

carece

muitas

desta vezes

monta em

será

nossas

a

da

vidas

humanamente vividas. 14

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

2.2. DOS DEMÉRITOS E SUAS ARMADILHAS

Como nem tudo neste vale de lágrimas que é a vida é um mar de rosas é possível vislumbrar no uso do conceito de

empatia

na

formulação

de

história

disciplina

exclusivamente

no

figura

de

uma

dois do

didática

do

problemas.

professor

e

o

ensino Um

da

focado

outro

na

do

educando. No

que

tange

possibilidade

do

uso

ao

papel

do

distorcido

professor,

da

vemos

referida

a

técnica

pedagógica, de maneira consciente ou inconsciente, pois, a empatia histórica se dá não com um sujeito concreto, mas sim através de uma reconstrução histórica que, necessariamente, é organizada pelo professor em sala de aula, correto? Nesta impregne

os

construção

seus

valores,

é

possível

visão

de

que

um

mundo

e

professor mesmo

as

impressões de sua ideologia política e, ao invés de levar o aluno

a

desconstruir

possíveis

estereótipos,

ele

irá

absorver os estereótipos edificados pelo seu professor em sala de aula. Trocando

por

dorso,

como

dizem

os

garotos,

o

desenvolvimento de uma didática que tenha como fundamento a 15

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

empatia

histórica

pode

abrir

um

viés

relativamente

significativo para a manipulação ideológica, tal qual nós podemos perceber no uso de ícones, imagens e gravuras tanto pela mídia popular como nos livros didáticos (DEIRO; 2005). Da

parte

dos

alunos

da

sociedade

brasileira

hodierna, devemos destacar literalmente a letargia mental que

vem

gradativamente

tomando

conta

da

mentalidade

contemporânea que literalmente vem resumindo o pensar a um mero

ato

de

decorar

alguns

cacoetes

mentais

(CARVALHO;

1996), topus (SANTOS; 1957) e slogans publicitários como se estes

fossem

conceitos

“cientificamente”

demonstrados

(ZANELA; 2008). Muito desta desídia mental deve-se a perda da noção de que todo aprendizado de toda e qualquer disciplina epistêmica inclui certa disposição do espírito humano a se submeter a um determinado ordenamento. A isso nós podemos simplesmente dar o nome da virtude da humildade que, segundo Hugo de São Vitor, é a virtude basilar para a boa formação de um estudante (DE SÃO VITOR; 2001). Ou

podemos

fazer

a

seguinte

analogia

(se

preferirem), fazendo a seguinte pergunta: seria possível que um garoto se torne um bom jogador de futebol sem que ao menos em algum momento de sua vida ele tenha se dedicado a 16

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

treinos intensos e a um bom condicionamento físico? Bem isso seria possível apenas se o garoto tiver um grande dom, não é mesmo? Bem, a regra não é muito diferente quando o assunto é estudar, seja história ou matemática. Doravante, junte-se a isso, o total desdém que se tem pelo conceito de verdade, em seu sentido ontológico e metafísico,

devido

aos

grandes

vícios

introduzidos

na

cultura moderna através do relativismo (BENTO XVI; 2007) e da submissão da vida humana a esta via que apenas beneficia aqueles que desejam não compreender e apreender os valores humanos universais (CORÇÃO; [s/d]), mas apenas manipulá-los de acordo com os seus intentos seculares (JOÃO PAULO II; 1998). Por

exemplo:

um

professor

ao

indagar

para

um

grupo de alunos como um homem medieval concebia as suas relações

com

facilidade,

a

Igreja

impregnar

Católica

inúmeros

poderá,

preconceitos

com

grande

sobre

este

período da História do Ocidente (FRANCO JÚNIOR; 2001) e, de quebra, sobre a Igreja Católica Apostólica Romana (PERNOUD; 1981).

Ou

então,

ao

se

referir

sobre

o

assim

nominado

socialismo que, via de regra, sempre é apresentada como uma forma quimérica de humanismo desdenhando-se por completo o 17

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

seu aspecto fundamentalmente genocida (COURTOIS; 1999), como atestam as suas experiências no correr de sua história. Em fim, o ensino da mestra da vida é sempre um risco, pois, em seu entorno há sempre uma aguda disputa de poder, por uma posição privilegiada que permita ser a voz autorizada

a

fazer

uma

determinada

versão

dos

fatos

(ou

falseamento mesmo deles), podendo assim contar a “história oficial” (FERRO, 1989). Este perigo é uma força constante na investigação histórica e no ensino desta disciplina. Para evitar

tal

risco,

cremos

que

podemos

apenas

sugerir

o

conselho que nos é dado pelo escritor Humberto de Campos: “Sê-de senhor de tua vontade e escravo de tua consciência”. Aliás, não há melhor meio ético para garantir a seriedade de um processo pedagógico do que uma aguda e reta consciência moral que, a nosso ver, deve ser condição sine qua non para o exercício do magistério.

PARECER FINAL

Em vista do que fora exposto nas linhas acima, vemos com bons olhos o uso de procedimentos didáticos que tenham em vista a aplicação do conceito de empatia, mesmo 18

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diante dos riscos apresentados, pois, como havia dito em certa feira, Albert Einstein, o universo pode até não ser infinito, mas a estupidez humana o é. E, se assim for, com ou sem o uso de tais práticas pedagógicas, o perigo estará sempre a rondar a possibilidade da existência de uma aula séria e honesta. De mais a mais, os problemas apontados por nós em nossa exposição não são, em sim, problemas inerentes ao uso do conceito de empatia no ensino da disciplina de história, mas sim, uma problemática que advém do contexto que circunda o

ensino

postura

hodierno ética

do

em

nosso

educador

país

e

frente

que aos

é

concernente

saberes

que

a

irá

ministrar e diante das consciências que estão em suas mãos, clamando ou não, sedentas ou não, por aprender (Putz! Nesta aí eu acho que forcei). Por isso, não apenas vemos como válida a proposta defendida

pelo

professor

Peter

Lee,

mas

sim,

como

algo

necessário e que poderá render bons frutos se bem aplicada e bem desenvolvida. Agora, se for feito com pouca ou nenhuma retidão, a única coisa que renderá será mais uma safra dos mesmos frutos que a educação contemporânea em nosso país vem apresentando. 19

FALSUM COMMITTIT, QUI VERUM TACET - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

REFERÊNCIAS

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de de

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