Depoimento De Maria Brito Da Silva.

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NÚCLEOS INTEGRALISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Depoimento de Maria Brito da Silva.

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NÚCLEOS INTEGRALISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Visite nosso portal: www.integralismorio.org [email protected]

Depoimento de Maria Brito da Silva. Documento cedido pela UFF UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA LABORATÓRIO DE HISTÓRIA ORAL E ICONOGRAFIA EDIÇÃO DA ENTREVISTA COM MARIA BRITO DA SILVA Depoimento nº 69 Esta entrevista foi dividida em duas sessões. A primeira no dia 13 de abril e a segunda no dia 7 de maio de 1996. Ambas foram realizadas na casa da filha mais nova da depoente, no bairro do Mutuá, na cidade de São Gonçalo, Rio de Janeiro. As respostas da principal depoente estão assinaladas pelo travessão. As perguntas das entrevistadoras estão em caracteres itálicos. A filha da depoente, Maria Gelséra, participou de alguns trechos da entrevista. Sua participação está assinalada pelas iniciais MG.

I - INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA A família imigrante “fazendo” o Brasil: infância, educação escolar e da menina-moça - Eu queria começar perguntando o nome completo da senhora, a data e o local de nascimento. - Maria Brito da Silva. Nascida em 10 de fevereiro de 1905. - Em que local? - Em Cambuci (1). - O nome dos pais da senhora e a profissão João Brito Castrilho, meu pai. Minha mãe, Maria Francisca Sanches Garcia. Naquele tempo não assinava o nome do marido não, mas era casada. Era casada, mas não assinava o nome. Ela assinava Francisca Sanches Garcia. E ele era João Brito Castrilho. - Os dois eram espanhóis? - Espanhóis. - Mas vieram e se conheceram aqui no Brasil? - Isso. Ele veio com 11 anos e ela veio com 9. - E eles vieram de que parte da Espanha?

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- Ela de Santa Cruz de Tenerife (2) e ele das Ilhas Canárias.(3) - Por que vieram para o Brasil? - Vieram para ganhar a vida. Vieram como Imigrantes (4) - Os dois foram morar aonde? - Cambuci. Primeiro moraram numa cidade chamada Cantagalo, no Estado do Rio também. Lá morou meu avô materno com a família. E o outro veio diretamente para Cambuci. E lá foi que eles se conheceram. - A senhora lembra mais ou menos a época em eles casaram, com quantos anos. Eles se casaram novos? - Casaram. Ela com 27 anos ele com 20. - E eles trabalhavam aonde? -Tudo lavoura, só lavoura, cafezais... - Era um sítio, era uma fazenda., o que era? - Era tudo sítio. - E esse sítio era de quem? - O meu avô materno era sitiante. Agora o outro era empregado, esse de Cantagalo. Não tinha propriedade não. - E quando seus pais se casaram, eles foram morar aonde? - Em Cambuci. - Em um sítio também? - No sítio de meu avô, o que tinha propriedade - A senhora se lembra deste sítio, no qual passou toda a infância? - Era a casa e algumas casas de colonos. Os trabalhadores moravam na própria propriedade. Trabalhavam e recebiam ali. Naquele tempo era coisa muito difícil a gente arranjar quem trabalhasse. Mas eu sei que meu pai sempre teve empregados assim. - Seus pais tiveram quantos filhos? - Na casa de meu pai eram sete, seis homens. Eram quatro homens e eu, que era menina, que era mais velha. Depois no fim, nasceram mais duas. Eram sete, Éramos sete irmãos. Três mulheres e quatro homens. - A senhora se lembra do nome de todos os seus irmãos? - Lembro. O mais velho José, depois Maria, que sou eu, depois Justo, depois Higino, depois João, depois Nicanora e depois Carmem. Carmem era a caçula.(5) - A senhora, das meninas, era a mais velha? - Era a mais velha. Eu que pajeava os outros e tudo Eu até tenho um ombro mais baixo que o outro de tanto carregar criança. - A senhora tem alguma lembrança dos avós da senhora, ou não? - Ah, muita! Da minha avó materna, tenho. Dormia no quarto dela, trançava meus cabelos, ensinava fazer crochê, ensinava marcar ponto de cruz... Dessa eu tenho lembrança. Agora, dos outros, não. - A senhora chegou a conhecer os outros avós? - Quando papai se casou, a mãe dele já tinha morrido. Tanto que eu nasci no dia que fez um ano dela falecida. - Essas coisas todas da educação feminina sua avó materna era quem ensinava? - Ela! Ela! Trancava até a porta por dentro para que eu não saísse. - É? A senhora gostava de dar uma saidinha? [risos]

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- Lá tinha outras crianças, não é? Nós éramos sete irmãos. Era lógico que eu queria brincar. Mas menina que tinha era só eu, e ela então caprichava... - Como é que era a religião na casa de seus pais? - Era rezar, rezar e rezar. - Era religião Católica? - Católica Apostólica e Romana. - Sua mãe era muito religiosa? - Muito! Religiosíssima! - Quando a senhora era criança todo mundo fazia a Primeira Comunhão? Ou naquela época não tinha isso? - Não, não existia isso. - A senhora se lembra de seu pai, de sua mãe falando de política dentro de casa? - Não, não falavam não. Só se votavam no dia. Acabou, pronto. - Eles podiam votar mesmo sendo espanhóis? - Sendo espanhóis. Podia. O meu pai era analfabeto, a minha mãe não, minha mãe era muito inteligente. Não chegou a votar porque, quando veio a ordem para as mulheres votarem, ela já havia morrido. Quer dizer, ela não votou. Agora, eu votei. Desde a primeira vez eu votei. - Quando a senhora era pequena, as crianças podiam conversar com os mais velhos, ou a educação era muito rígida? - Não, não podia conversar. - O que se podia conversar? - Assunto corriqueiro mesmo, mais nada. As crianças respeitavam muito os mais velhos. Onde os mais velhos estivessem reunidos, crianças não piavam. [risos] - E seus pais, com a senhora, na questão da mulher. Eles reclamavam sobre roupa? Como era a educação moral que seu pai deu para vocês? - Tudo muito decente. Você sabe que naquele tempo a pessoa usava corpinho, [ri] em vez de sutiã. O corpinho tudo muito fechadinho. Em vez de sutiã. Um corpinho “fechadinhozinho”, todo fechadinho. Ninguém via o corpo da gente não, minha filha! Não via não! Hoje está tão...tão familiarizado com... - Eu queria que a senhora falasse um pouco das lembranças da infância que a senhora tem de Cambuci. Em termos de brincadeira, de cantiga... - A gente fazia muito era brinquedo de roda. Naquele tempo era muito usado, brinquedinho de roda na escola. - A senhora brincava com quem? - Com os meus irmãos. - E tinha algum vizinho, algum amigo? - Não, não tinha não. Depois, quando eu já estava mocinha, deram uma menina para meu pai batizar. Ela foi conviver conosco, brincar. Ela acabou sendo criada na nossa casa. - Ficou como mais uma filha? - É, ficou mais uma filha. - Ficaram oito? - É, ficaram oito. - E a senhora ajudava em casa? Como é que era? - Eu tomava conta das crianças, varria a casa, carregava água, que naquele tempo não havia água encanada, era só água carregada... - E a sua mãe, também ajudava seu pai? 4

- Não, minha mãe tomava conta exclusivamente da casa. - E os irmãos da senhora? Trabalhavam na lavoura com seu pai? - Eles eram pequenos. Depois, lá onde nós morávamos não existia escola, nem um grupo escolar. Tanto que eu falava espanhol. Até grandinha eu falava espanhol. - Por quê? Quem ensinava? - Porque minha avó era espanhola e só se transmitia conosco através do idioma dela. Meu pai também era espanhol. Minha mãe também. Quer dizer que o convívio... - Normalmente se falava espanhol na casa da senhora? - Espanhol. Lá não existia escola. Quando meu irmão fez dez anos, a minha tia mais velha foi para Minas. Meu tio foi contratado lá para administrar uma usina de cana de açúcar. - Qual o lugar de Minas? A senhora lembra? - Foi em Rio Branco. Foi contratado para ir fazer, administrar e fabricar açúcar etc. A cana era toda conduzida numas máquinas, porque não existia trem. Mas umas máquinas...Levava-se a cana para um desvio que eram dois ramais. Ia a cana para ali, dali ia para a usina e aí. fabricava o açúcar e tal. Então, meu pai foi influenciado pelo meu tio. Ele queria educar os filhos, mas não podia. Nem aprender a ler em espanhol não adiantava porque nós estávamos no Brasil, não é? Meu tio falou assim: “Manda esse menino para Minas porque lá existe escola para todo o lado”. Aí, meu irmão foi para Minas. Ficou lá dois anos. Nesse ínterim meu pai foi animado a ir também para lá. Foi convidado para ir também para lá. Mas prometeram a ele mundos e fundos. Que ele fosse para lá, que lá ia também administrar alguma coisa. Não sei o que, não sei que lá...Chegou lá, minha filha, ele foi trabalhar na enxada. - Ele foi sozinho ou foi com a família toda? - Foi com a família. Para nos sustentar, ele trabalhava na enxada de manhã, para a gente comer de noite. - Lá a senhora morou aonde? Era um sítio também? - Era uma casa, onde tinha sido um armazém. Cederam para a gente morar ali. - A senhora tinha mais ou menos quantos anos nesta época? - Ah, tinha uns dez anos, mais ou menos. Minha irmã menor, menor não, a outra. Adoeceu com uns acessos. Então, levaram ela para a cidade, para casa de meu tio, que nesta época já estava morando na cidade. Levaram para lá para tratá-la e ela ficou boa. Papai com aquela dificuldade...meus tios insistiram com ele: “Você tem seu sítio, não tem necessidade de estar passando esta miséria aí!” - Seu tios estavam falando para seu pai voltar, não é? - Também. Todo mundo animado “Volta para o seu sítio, volta para o seu sítio.” Meus tios, que cá estavam, mandaram dinheiro, que era para as passagens para a gente voltar. Meu irmão veio e eu fiquei. Eu fiquei seis anos em Minas . - A senhora ficou sozinha, ou com a família? - Fiquei na casa de minha tia. A minha tia tinha dez filhos. Fiquei na casa dela. Só eu que fiquei. Fiquei lá seis anos. Mas isso, teve intervalo que eu vim em casa, intervalo que ia... Aquele convívio... - A senhora ficou para estudar? - Fui lá para estudar e fiquei estudando. - A senhora lembra da escola? - Lembro. Era o Grupo Escolar Afonso Soares. 5

- Tinha algum professor, alguma professora, que a marcou? - A professora que eu mais gostava era uma tal de Dona Zelica. [ri] Dessa que eu mais gostava porque era mais camarada. Que naquele tempo os professores eram muito enérgicos. A gente tinha que dar conta mesmo! - E o que se ensinava na escola? - Na escola ensinava tudo. Ensinava português, tabuada... - E as coisas de mulher, de uma moça, como crochê?. Estas coisas também ensinavam na escola? - Ensinava, ensinava. Tinha os dias de aula de trabalhos manuais. - A senhora gostava? - Ah! eu gostava... - Naquele tempo toda menina tinha que fazer este tipo de atividade? - É, todo mundo tinha aquela influência. Você vê que antigamente as noivas se preocupavam muito com os enxovais. Hoje não. Hoje a gente compra tudo feito, não é? Hoje compra tudo feito. Naquele tempo, não, a gente tinha que aprender a fazer as coisas. - A senhora aprendeu a tocar algum instrumento musical? - A minha prima estudava piano. Uma delas. - E a senhora gostava? - Ah, eu gostava! Também andei dedilhando lá um bocadinho. [Ri] Mas depois vim para a roça...Acabou. - Na roça é mais difícil? - É. - E a senhora fez até que ano lá? - Até o primeiro normal. Fiz lá. - Depois fez o quê? - Depois entrou roça. Vim para roça com 18 anos. Me casei logo. Parei de estudar. Fui cuidar de casa, de meus filhos, do meu lar. - A senhora gostava de ler livros, essas coisas? - Ah! Eu gostava muito de ler poesias. Mas hoje eu não lembro mais nada. - A senhora depois viria a ser uma militante, vai entrar na política. Nessa época, nesses estudos em Minas, a senhora acha que isso já influenciava alguma coisa? - Não, não influenciou não, apesar do meu marido estar também lá em Minas. Porque ele também não tinha esses colégios para estudar lá na nossa cidade. Ele foi para lá e fez até Contabilidade (6). Até teve convite para ele trabalhar no Granbery, em Juiz de Fora , que é o maior. A melhor escola de Minas é o Granbery. Convidaram ele para trabalhar lá. Mas a mãe dele era viúva e botaram um administrador que limpou tudo, sabe? Roubou tudo. Então meu marido ficou naquela influência: “Não, eu vou para salvar mamãe. Não é possível!” Aí ele voltou para a nossa cidade. - Qual era o nome dele?. - João da Silva Lopes. (7) - A senhora o conheceu em Cambuci, antes de Minas? - Já o conhecia porque éramos vizinhos. - A senhora voltou na mesma época que ele, aqui para Cambuci? - Não, ele voltou antes.

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II - CASAMENTO, VIDA EM FAMÍLIA Tempo de namorar e casar - a moça volta à cidade e constrói seu lar - Aos 18 anos, quando retornou a Cambuci, a senhora voltou a morar com seus pais? - É, com meus pais. - E a senhora já trabalhava em alguma coisa, ou continuou ajudando dentro de casa? - Não. Fiquei como dona de casa, só como dona de casa. - Naquela época, em Minas, a senhora e aquele que viria a ser seu futuro marido, já namoravam? - Não. - Só vieram namorar em Cambuci? - Ah! A gente andava assim na linha de trem, de mãos dadas, para lá e para cá...[ri] - Lá em Minas? - Em Minas. Porque a gente ia a pé para a escola, não tinha condução! Só tinha essa tal máquina de puxar cana, mas tinha os dias determinados. Não era todo dia. Então a gente vinha a pé, descalça, para a escola. - Vocês começaram a namorar em Minas? - Não, quando eu cheguei na minha terra, eu estava com 18 anos. Então fizeram uma festa. Naquele tempo todo mundo dançava. Fizeram um baile. Então foi que eu travei maior conhecimento com ele. Foi lá, nessa época. A gente era muito “jeca”. Não se comunicava com ninguém. Aí foi que eu me comuniquei com ele e começamos a namorar. - Como foi este baile? Como eram as roupas naquela época? - Era só roupa comprida, não é? Roupa comprida. - Sempre vestido? - Sempre vestido. - Como era a música, a dança? A senhora lembra o ritmo, mais ou menos? Que tipo de música era? Dançava junto? Dançava separado? Como é que era? - A gente dançava separada, minha filha! Não tinha esse negócio de se encostar não! - Mas as mulheres de um lado, os homens de outro? - É. Era dança de quadrilha... - Seus pais eram muito rígidos na educação com a senhora? - Eram exigentíssimos! - Eles não deixavam namorar? - Não! Olha, lá na casa de meu pai tinha um banco grande, eu sentava numa ponta e ele sentava na outra. A gente ali conversava e tal, normalmente... - E tinha que ter gente junto, ou vocês podiam ficar sozinhos? - Sempre meu irmão ficava junto. E ele falava: “Estou fazendo guarda a defunto vivo.” [ri] - Vocês namoraram quanto tempo? - Namoro e casamento: 11 meses. - A senhora tinha mais ou menos quantos anos quando casou? - Dezenove. Casei com 19 e ele 27. (8) 7

- Quando a senhora casou para onde vocês foram? - Fomos morar na casa de minha sogra. A minha sogra era proprietária e morava anexo a meu pai. Minha sogra morou três anos comigo. Depois meu marido fez uma casa do outro lado da rua. Ela foi morar lá e eu fiquei na casa. - E a senhora se dava bem com a sua sogra? - Me dava muito bem. Ela era boníssima, muito boa mesmo. Eu podia passear à vontade que ela tomava conta dos meus filhos. [Risos] - A senhora logo teve filhos? - Naquele tempo. Ora, ora! Naquele tempo não tinha pílula não. [Risos] Era bater e valer. [Risos] - Quantos filhos a senhora teve? - Eu tive 5. - A senhora lembra com quantos anos a senhora teve o primeiro filho? - Eu me casei em junho e a minha primeira filha nasceu em maio do ano seguinte. - Qual o nome desta primeira filha? - Maria Lizete. - E o nome dos outros? - Gelta Therezinha, Maria Gelséra, Gelson e Marina.(9) - A senhora ,então, teve 4 filhas e um filho? - É, só um homem. - Vocês eram religiosos? - Meu marido tinha vontade de construir uma capela desde a infância. Porque ele era muito devoto de São João Batista. Então, nunca pode fazer, ficou por isso. - Como era a prática da religião em sua casa? Vocês rezavam? - A família inteira. Todos, até o pai. O pai sentava. O meu marido reunia as crianças: “Todo mundo rezar!” Não tinha padre, não tinha igreja, não tinha nada. - Somente a família? - Só íntimo. Atividades econômicas da família e seus percalços em Cambuci - Havia plantações na propriedade em que moravam em Cambuci? - Lá em Cambuci as primeiras eram canaviais e cafezais. - Vocês exerciam outra atividade além da agrícola? - Meu marido abriu uma casa de negócios. Aliás, na ocasião que eu me casei, nós estávamos muito bem de vida. - O que vendiam nessa casa de negócios? - Naquele tempo um armazém continha tudo: continha calçado, continha fazenda, continha ferragem, continha tudo. Cada lugar, cada canto determinava para uma mercadoria. - Então, ele não ficou exercendo mais a contabilidade? Ele ficou cuidando dos negócios? - Negociante. - Como era a vida de negociante onde vocês moravam? Havia concorrência entre negociantes?

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- Olha, quiseram matá-lo! Essa já é outra parte, uma história que eu vou contar: Ele não brigava com ninguém, não discutia com ninguém. Era uma pessoa boníssima. Ele era negociante e tinha um outro negociante também, um tal de Gumercindo Machado. Ele foi levar uma prima para Monte Verde, visitar os parentes, ele foi levar à cavalo. Chegando no caminho, o cavalo da moça enguiçou, não quis andar, e ele foi bater no cavalo, o cavalo deu um coice na perna dele e deu um talho. Ele ficou com a perna machucada. Ele não podia ler, estava com febre. Sentou na sala, colocou o lampião e falou assim: “Olha, vem ler o jornal para mim , que é de hoje, que você sabe que eu não posso ler porque estou com febre.” Eu fui, sentei, e comecei a ler para ele. Nisso bateram palmas. O tal Gurmecindo Machado tinha sido alvejado na noite anterior. Quando nós estávamos assim, gritaram: “João, olha a polícia! Olha a polícia, João!” Ele falou assim: “Que (incompreensível) de polícia o quê, sua corja! Entra, entra, vêm entrando!” Ele pensou que eram meus irmãos que estavam servindo o exército, ele pensou que fossem eles. - Que fosse brincadeira? - Que fosse brincadeira. Eu cheguei na janela, vi assim um tenente, um bruto, um [incompreensível]. Falei: “Não, é polícia mesmo!” “Polícia? Para que polícia?” Eu Falei: “Eu sei para quê? Vou mandar ele entrar.” Abri a porta e mandei o tal coronel entrar. Ele entrou. Entrou e ficou assim [a entrevistada engrossa a voz] : “Onde está a arma que o senhor atirou em Gumercindo Machado?” Ele [o marido] falou assim: “Eu não tenho arma.” Eu tinha um revolver, mas tinha ele sempre escondido. “Não, mas a senhora dele me disse que o senhor é que mandou atirar nele ontem. Como é que o senhor não tem arma?” Eu falei assim: “Escuta aqui, o senhor quer revistar a nossa casa? O senhor pensa que tem gente mentirosa aqui, é? Faz favor de me acompanhar.” Eu entrei, ele não podia andar, o homem entrou atrás de mim. Chegou lá, revirou os colchões, prateleiras, virou tudo. - E nisso a arma da senhora estava escondidinha. - Estava escondida. Virou aquilo tudo e tal. “O senhor atirou nele com uma carabina! “Nunca possuí carabina!” Minha sogra morava junto com a gente, mas a sala era dividida por uma grade por causa das crianças, sabe? Eu cheguei assim na calçada: “Escuta, o senhor ainda está desconfiado? O senhor quer correr a casa da minha, que é aqui ao lado? ” “Ah, é bom, não é?” “ Pois então, faz favor!” Chamou o soldado, o ordenança dele e falou assim: “Procura aí, revista esta casa!” Ele foi lá, procurou, revistou . Não tinha nada mesmo. Ele falou: “Não tem nada.” Ele falou assim: “É, a senhora deve desculpar porque foi a mulher do homem quem denunciou seu marido.” Eu falei: “É falta de serviço!” Eles foram embora. Quando passou 15 dias voltaram. Voltaram, minha filha, já era meia-noite: “João, João, olha a polícia! Olha a polícia!” Escandalosos à beça! Eu falei assim: “Vou abrir a porta!” “Seu” Pedro Rodrigues, que era amigo dele, estava junto. Falei: “Olha, ‘Seu’ Pedro Rodrigues está aqui, vou mandar entrar.” “Então manda!” Eu mandei entrar, ele entrou.

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O irmão o ofendia: “Você mesmo, quase matou meu irmão, e agora está com cara de santo, se vendendo como santo!” Ele falou assim: “Eu só digo a verdade.” Segui-os até um pedaço. Eu falei o que tinha que falar, porque a família dele são todos bandidos. Ele falou assim, o tal chefe falou assim: “Vamos embora, gente, vamos embora. Toma conta dele aí, Pedro Rodrigues, leva ele de manhã!” Nós não fomos dormir mais. Nós fomos procurar cavalo no mato para trazer. Foi para Pureza. Quando o dia estava clareando ele chegou lá. Quando chegou a São Fidélis, dali foi para São Fidélis. - Ele saiu com a senhora ou foi sozinho? - Essa hora ele foi sozinho. Quando ele chegou lá em São Fidélis, anunciaram assim: “Quem é João da Silva Lopes?” Disse: “É esse!” Ele falou: “O senhor não pode entrar na cadeia não, que já tem uma ordem aqui para o senhor ficar livre.” Um advogado, Chatão, era irmão do delegado de Cambuci. “Chatão já recebeu um telegrama aqui, que o senhor não pode ficar preso.” - Ele tinha sido acusado de quê? - Que tinha atirado no outro. - Mas, por quê? - Por questão de negócio. - Ah! briga de negociante! - Inveja de negócio. Mas meu marido nunca foi invejoso, não. Mas o outro era um negócio! “Vem deponer! Vem depor!” Ele foi, depunha. Ele depunha, depunha e falava assim: “Não senhor! Faz favor! O senhor tem que pôr aí o que estou ditando!” O homem voltava atrás... Soltaram ele. Levou dois anos, minha filha, para descobrir quem foi. - E depois descobriu? - Descobriu! Era um amigo dele. Passaram dois anos, ele vinha para Cambuci, chegava tarde da noite em casa, na fazenda. Eu falava assim: “O que você veio fazer aqui, criatura, você não sabe que você está sentenciado?” “A arma que tem que me matar não foi feita ainda não!” Levou dois anos. Quando foi no fim dos dois anos, um camarada, que morava em Pureza mas se transferiu para Três Irmãos, um lugarejo lá, falou assim: “Prenderam o tal Faustino. Ih, prenderam Faustino! Prenderam Faustino!” - Era quem tinha atirado no tal Gumercindo? - Quem atirou foi ele. Amigo dele, foi criado junto com ele. Com meu marido não, com o tal... - E atirou no amigo. - Atirou no amigo. Falou assim: “Mas ó Faustino, como é que você fez isso? Você queria me matar, rapaz? Nós não somos irmãos de criação?” “É, aqueles ‘contecos’ seus é que fez isso.” - Quer dizer que atirou para roubar. - Só por causa de dinheiro. - Depois seu marido ficou livre? 10

- Ficou livre. Mas levou dois anos, minha filha! - Mas nesses dois anos ele não ficava na fazenda? - Não. Ele foi para Cambuci, abriu um açougue. Os amigos dele diziam: “João você fica no claro. Porque no claro nós estamos aqui para te defender. E você lá na sua casa está no escuro, porque na fazenda...” Ele ficou em Cambuci.

III - O MOVIMENTO INTEGRALISTA A militância no Integralismo - Como foi a sua entrada na política? - A política? Porque meu marido entrou. Ele entrou e levou a corrente toda. Meu marido era muito metido a político. Quer dizer, ele foi vereador seis anos em Cambuci. - Ele foi vereador em Cambuci? - Em Cambuci, seis anos. - Ele foi eleito mais de uma vez? - Duas vezes. - Nesse período em que ele foi vereador, quem é que cuidava dos negócios? - O vereador só trabalhava mesmo à noite. Quer dizer que, de dia, ele estava ali para tomar conta dos negócios dele, tudo bonitinho. - À noite ele ia para a Câmara? - Ia para a Câmara. - A senhora se lembra qual era o Partido dele? - Ah, minha filha! Agora você me correu atrás! Não me lembro. - Como era a campanha política dele? - Marcava um lugar, tal cidade assim, assim, tal dia. E aí reunia os companheiros e ia para lá. E lá fazia o comício. Fazia a propaganda necessária. - O seu marido era remunerado pelo trabalho como vereador? - Não recebia tostão! Não recebia um centavo! Trabalhava de graça! Naquele tempo, só quem ganhava um dinheirinho era o presidente da Câmara. Tinha um “ordenadozinho michazinho”, mas tinha. Agora, os outros, os vereadores, os outros serventes trabalhavam de graça. Por amor à Pátria. - Por que ele quis ser vereador? - Política! Porque amava o Brasil e queria fazer alguma coisa. - A senhora chegou a votar nele? - Cheguei a votar nele! - Na primeira eleição a senhora votou nele? - Votei nele! E trabalhava para ele! Angariando votos, etc. Sempre para ele. - Já que a senhora votou nele, as mulheres só começam a votar na eleição de 34. Então ele se elegeu depois disso? - É, depois disso. - Quem eram as pessoas que votavam nele? Eram os empregados do sítio? - Não tinha escolha. Era tudo comum. Ele, aos domingos, arriava um animal e ia para essas cidades do interior. E lá ele fazia as propagandas dele. Já ele marcava antes com os companheiros e lá se reuniam. 11

Saía a cavalo lá pelo interior, pelas fazendas, pelos conhecidos... Aos domingos, o dia que ele estava de folga, era assim que ele fazia. - Ele era oposição ao governo, ou não? - Ele era de oposição. - E a senhora ajudava na campanha? - Lógico, ajudava! - Fazia o que para ajudar? - Fazia comícios, fazia reuniões em casa. Eu morava numa fazenda, com a casa muito grande. Então botava lampiões, porque não tinha eletricidade. Reunia aquela porção de gente, moça, velho, criança, todo mundo... Todo domingo. Eu fazia reunião, convocava... - Como é que era? - Se quisesse estabelecer uma outra pessoa para falar , a gente convidava. Falava sobre o Partido. O que é o Partido. Tanto é que eu ... esqueci como é que chama, gente! Sei dizer que o distintivo deles chamava Sigma. - Mas era um Partido? O que era? - Era um Partido. Era um Partido. - E ele entrou nesse Partido por quê? Como é que foi isso? - Assistindo as reuniões deles, os comícios, ele achou que era uma política muito boa para nós, para o Brasil. - A primeira lembrança que a senhora tem de contato com o Integralismo, foi através do seu marido? - Através dele. Ele que veio, e trouxe o fotógrafo, para que eu tirasse a fotografia para me pôr lá. Tirou minha fotografia, aí que mandei fazer o uniforme. - Mas ele conversava com a senhora dentro de casa sobre o Integralismo? - Conversava, conversava. Comigo, com as crianças... - A senhora já tinha filho nessa época? - Já tinha. Já tinha todos. Tinha todos, não. Não tinha Marina. - A senhora e seu marido foram dirigentes do Partido Integralista na época de Cambuci ou em São Gonçalo? - Em São Gonçalo. Já comecei em Cambuci. Eu fui nomeada dirigente em Cambuci. Aí eu continuei. - Vocês já tinham contato com o Integralismo em Cambuci? - Já tinha. Desde lá. Depois que Getúlio entrou foi que acabou. - Quais as idéias principais do Partido? - Oferecia tudo quanto era vantagem, porque toda política é assim. - E criticavam o que no governo? Porque a senhora falou que eles eram oposição. - O governo sempre tem o que criticar. Sempre tem. Porque o governo não pode fazer a vontade a todo mundo, ele tem que seguir a reta dele. - Qual era a tarefa principal da senhora como dirigente? - Era animar o povo para continuar no Partido: “Vamos ter essa vantagem, essa e aquela, aquela... O que está não faz isso, não faz aquilo... - A senhora lembra que vantagens eram essas? - Não, não me lembro não. - Mas a senhora tem certeza que, na época, era a coisa certa que a senhora estava fazendo? - É, era a coisa certa.

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- E a senhora tinha contato com essas vantagens através de quê? Quem é que contava para a senhora? - Era nas reuniões. A gente se reunia duas vezes por semana. - Aonde? - Na sede, dentro de Cambuci. - Vinham outros dirigentes de fora? - Vinha de fora. Quando tinha reunião mais importante a gente corria uma circular. E se reuniam todos. - O lugar onde eram feitas as reuniões era longe de sua casa? - Mais de uma légua. - Que horas, mais ou menos, a senhora saía de casa para ir à reunião dia de semana? - Eu saía sempre de casa aí pelas 5 e meia, por aí. Porque tinha que ir a pé. - Como a senhora ia vestida? - Ia vestida com o uniforme. - E como era o uniforme? - Era verde e branco. - A blusa? - Verde. - E a saia? - Divisores e tudo era branco. A saia era branca. - Saia branca ou preta? - Acho que era branca, não me lembro não. Ah, mas o Integralismo era muito bonito! Era muito bonito! - A senhora participou de alguma marcha, de algum desfile? - Tem! Marcha muito bonita! Se você for lá em São Paulo, você vai achar! - E a senhora marchava também? - Todo mundo marchava. - Os desfiles eram em que datas? - Qualquer data. Onde tivesse que fazer um comício, a gente já ia prevenido para fazer o desfile. - E muita gente assistia os desfiles? - Não. - Pouca gente assistia? - Lá é terra de pouca gente. Agora não, agora é povoada. Era sempre, pouca porque era pouco mesmo que tinha. - E as pessoas saudavam o desfile? - Batiam palmas. - Como era o sinal dos integralistas? - O Sigma era: braço alto - “Anauê!” (10) - A maioria dos participantes era formada por homens? - Não, tinha mulher e homem. - Quantas pessoas participavam da reunião? - Umas trinta, cinqüenta. Por exemplo: quando reunia aos domingos era num sobrado enorme. Reunia o pessoal, fazia-se o discurso... Se tivesse um mais capacitado a gente passava a palavra para ele falar sobre essas coisas. E era assim que a gente ia levando. - A senhora falava muito nas reuniões? 13

- Falava, eu era... - Dirigente, não é? - Não, não é isso, não. Era média. Mas eu era um membro. Ele era o chefe principal, municipal, e eu era distrital. Eu fazia as reuniões. - E quantas pessoas, mais ou menos, tinha nessas reuniões? - Ih, minha filha! Juntava gente que você nem queira saber! Todo mundo, naquela época, estava animado, pensando que haver uma renovação, geralmente. Todo mundo tinha esperança. - As reuniões de domingo eram maiores? - Eram maiores. - Tinha mais de trinta pessoas? - Mais, umas cem pessoas. A fazenda era grande, o quintal muito grande. Brincavam de roda, aquelas moças, aquele pessoal. Naquele tempo até os rapazes brincavam de roda. [ri] - Primeiro tinha as discussões, depois tinhas as brincadeiras? - Depois que acabava, a gente ia servir café. Aí fazia a brincadeira. - E era na fazenda de quem? - A fazenda era a tal que foi arrendada por nós: “Fazenda São Sebastião das Paineiras”. - Então era na fazenda da senhora que faziam as reuniões? - Era! MG: Tinha a sede integralista. - Geralmente a gente tinha duas reuniões por semana. A que era aos domingos, essa era a essencial. Podia ir todo mundo, criança e tudo. E no meio da semana, assim quarta ou quinta-feira a gente se reunia também para conversar, para... MG: Fazer discurso... Mas tinha reunião também em Cambuci, na sede. - É, em Cambuci, na sede, mas a sede era menor. Comportava menos gente. Agora, lá na fazenda, meu Deus! E depois disso, assim na roça, o pessoal não tem outra diversão, quando aparece um negócio assim... Chama mesmo! - Era festa? - Era. - Essas reuniões eram só com o pessoal de mais dinheiro, ou tinha empregado também? Como é que eram? - Era geral. - Tinha gente de todo tipo? - Quem quisesse ir assistir, brincar lá, podia ir. Era como se fosse uma família. - Mas a maioria das pessoas era o quê? Era de fazendeiros, era quem tinha sítio ou quem era empregado? - Era médio. Era empregado, e tinha... MG: Não era só de rico, não. - Tinha empregado nosso e tinha empregados dos outros... MG: Não era só o pessoal rico, não. Era todo mundo. - Não era não, era geral. MG: Não tinha discriminação. - E todo mundo que ia ali era por que acreditava no Integralismo? - Acreditava. MG: Acreditava, eles eram fanáticos. 14

- Naquele tempo, quase ninguém andava calçado. Aquele pessoal pobre, todo mundo de pé no chão, roupinha de riscado, como se chamava, todos eram recebidos da mesma maneira. - E tinha alguma diferença em termos de cor? De branco, preto? Ou não? - Não. MG: Não tinha, não. - Não tinha distinção, não. - Não tinha não. Tinha preto, tinha branco, tinha chinês, tinha tudo? - É, tudo. MG: Eles implantavam igualdade e fraternidade. Implantavam isso também Era lema deles também. - É. - E vocês cantavam o Hino Nacional? - Cantava o Hino Nacional, a primeira parte. - Abria a reunião assim? - É, abria a reunião assim. - E por que somente a primeira parte do Hino Nacional? - Porque “deitado eternamente” não era permitido. - Não era permitido? - “Deitado eternamente” não. Nós queríamos o Brasil de pé. - Interessante! Então vocês cantavam a primeira parte. E tinha algum outro tipo de música? - Tinha hinos deles, tinha diversos. Eu não me lembro de nada. Mas tinha diversos. Tinha hinos muito bonitos. - Tinha alguma musiquinha, alguma coisa que a senhora se lembre? MG: Tinha muitas! Não é, mamãe? - Tinha! Tinha muitas! - Em que ocasiões vocês cantavam essas músicas. Era em festas que cantavam as músicas? Era em quê? MG: Tinha as reuniões. - Em todas as reuniões se cantava. - Cantavam? - Em todas as reuniões. - Como eram os comícios Integralistas? - Os comícios... Reunia o pessoal, arrumava um orador bom, que falasse. Ele falava e a gente aplaudia e por ali... Lá, perto de minha casa, onde eu morava, passa o rio Paraíba. Se fazia a travessia de Cambuci para um lugar chamado Colônia, que era uma fazenda grande. A gente ia fazer comício lá. Atravessava o rio de barca, barca tocada a mão. A gente atravessava [ri] uma quantidade, depois vinha apanhar outra. A gente passava o dia inteiro por lá conversando. Nos comícios, a gente visitava as cidades, aquela turma, todos uniformizados, com bandeiras, com tudo. E a gente ia muito distante. Tem um lugar lá chamado "Bóia”, que é do outro lado do Paraíba. Paraíba lá é muito extenso. A gente ia de barca. Só passava duas, três pessoas de cada vez, porque era barca à mão, tocando à mão. A gente ia, passava o rio Paraíba e caminhava, mas muito distante mesmo. - Todo mundo uniformizado? - Todos uniformizados. 15

- E qual era o objetivo do comício? - Do comício era atrair mais gente. - Para a ideologia? - Era, para a ideologia. - E os filhos participavam também, ajudavam? - Essa menina que eu criei falava. A minha filha mais velha falava. A “outrazinha” também falava. Todos falavam. E falavam bem. Se você conseguir apanhar uma arrecadação de qualquer comício que elas tenham falado, você verá que... - Vocês cantavam? Como é que era? Tinha discurso? - Tinha discurso, tinha uns hinos muito bonitos. Eu não me lembro de nada. Talvez Lizete se lembre do hino. - Uns hinos muito bonitos. Todos patriotas. - Na sua lembrança, qual foi o maior comício que a senhora participou? - Houve muitos. - Quantas pessoas, mais ou menos, participavam dos comícios? - Contar assim eu não sei. Mas sei que era muita gente. O maior foi quando Plínio Salgado (11) foi a Pureza. - Plínio Salgado chegou a ir em Cambuci? - Foi a Cambuci. Foi a Pureza. Tanto que um discurso muito bonito, que não sei se está arquivado lá, é da minha filha mais velha. - Ela fez um discurso no comício? - Fez um discurso no comício. Engraçado que nós fomos para lá e ficamos o dia inteiro esperando. Mas ele chegava aqui, chegava ali... Quer dizer, chegou lá já de madrugada no dia seguinte. Nós fomos esperar. Esperamos, e quando chamaram os oradores, não chamaram Lizete. Lizete abriu uma boca desse tamanho... - Ela tinha quantos anos nessa época? - Não me lembro. Era mocinha... Ela pegou a chorar, quando pegou a chorar o condutor do negócio falou assim: “Vamos suspender esse discurso porque tem uma oradora aqui que não pode deixar que se apresente.” Parou tudo e Lizete... Só me lembro que diz assim ... Ah, meu Deus! Esqueci os qualificativos de... Lizete sabe. - E a senhora falou nesse comício do Plínio Salgado? - Eu tinha que falar porque eu era dirigente, tinha que falar. Mesmo que eu não falasse muito, mas fazia a apresentação da pessoa e falava umas poucas palavras e pronto, aí o camarada seguia. Que tinha bons oradores! - Tinha? - Tinha. Meu marido então era um orador!.. - Era bom ele? - Tudo de improviso! - Não preparava o discurso? - Não preparava nada não. Falava tudo de improviso. - A senhora gostava de ouvi-lo falar? - Lógico! Aplaudia muito. - Então, normalmente falava a senhora, o seu marido e os outros chefes. - Muitos que quisessem falar, tivessem o dom de falar e quisessem falar, dava-se autorização para que falasse. Alguns mesmo que não dessem lá muita prova, mas se manifestavam, falavam: “ ‘Seu’ Fulano, muito bem, o senhor falou muito bem!” 16

- Mas era valorizada, então, na época, a oratória dos políticos? - É, a oratória. - A senhora lembra de algum outro chefe importante, alguma outra liderança importante, além de Plínio Salgado? - Tinha diversos: Gustavo Barroso , Dr. Madeira de Freitas (12). Muita coisa. - E todos eles vinham também para o interior? - Alguns deles vinham. E outros não. Porque às vezes tinham seus afazeres cá e não podiam ir a Cambuci. Mas alguns iam. - Como que era a roupa das pessoas do comício? - A roupa era camisa verde, de golinha branca. Acho que era, não estou me lembrando, não [ri]. - E tinha chapéu? - Tinha um casquete. - Verde também? - Nas duas cores. Eu estou esquecida de tudo, que naquele tempo... - Vocês tinham espaço na imprensa local? - Ah, não! - Vocês não conseguiam? - Só no A Ofensiva. MG: O nome do jornal era A Ofensiva. - E esse jornal era feito onde? - Era no Rio de Janeiro. MG: Não, era Nacional. - E como era fazia o contato para chegar aqui em Cambuci? - Vinha pelo correio, como uma correspondência qualquer. - Eu queria saber um pouco mais da ligação do marido da senhora com as pessoas mais importantes do Integralismo, com Plínio Salgado. A senhora pode falar outros nomes também? - Miguel Reale (13), Madeira de Freitas. Me foge à cabeça. MG: Esse que foi governador do Estado. - Raymundo Padilha.(14) - Tinha muitos. MG: Padilha chegou a ir a Cambuci. - Padilha era um dos essenciais na política. Ele chegou a ser presidente... Foi do Rio de Janeiro que ele foi presidente? Foi do Estado do Rio, não é? MG: Do Estado do Rio. Ele foi a Cambuci, Raymundo Padilha, naquela época. - E como seu pai, no caso, o marido da senhora, conhecia essas pessoas? Fazia contato? Ele ia ao Rio, ele não ia? - Ele ia ao Rio. Ia a reuniões em Petrópolis. - Tinha reuniões em Petrópolis também? - Tinha em Petrópolis também. E no Rio de Janeiro, então, era forte mesmo! MG: Ele vinha muito ao Rio. - Ia muito ao Rio. Ele viajava para todo lado. Pelo interior... - E isso tudo sem ganhar nada? - Sem ganhar nada. Não ganhava nada, minha filha! - Mas tinha o Partido, não é? MG: Partido Integralista. 17

- O Partido ajudava nos custos, ou tudo era por conta..? - Não ajudava nada. A gente fazia tudo por amor à Pátria. Botava do bolso! - E a senhora não reclamava? MG: Não, ela também gostava. - Eu gostava também. MG: O lema deles era: “Deus, Pátria e Família”. - É, “Deus, Pátria e Família”. - Quando a senhora e o seu marido chegaram a São Gonçalo, vocês continuaram fazendo política, mantiveram com contato com o Partido? E a senhora tinha algum cargo específico no Partido em São Gonçalo? - Era chefe. - Também era chefe? - Eu era chefe distrital e ele municipal. - E nessa época ele trabalhava em quê? Continuou no sítio? - Continuou no sítio. No sítio de dia, e à noite ele saía para fazer o trabalho. - As reuniões eram longe da casa da senhora? - Era longe. Uma légua e tanto. - A senhora ia a cavalo? - Ia a cavalo e ia a pé. - E ia armada? - Ia armada. Eu sempre andei armada, agora que eu não ando mais. - E a senhora ia armada por quê? - Porque queriam matá-lo... - E a senhora sabia manejar a arma? - Ora, ora, quem não sabe puxar...? [ri] - E ele também andava armado? - Ele não.

A família Integralista - Nós vamos falar agora um pouquinho com a filha de Dona Maria. Ela estava só ajudando, mas agora vamos perguntar algumas coisas. Você se lembra da época em que seus pais participavam do Movimento Integralista? MG: Eu era muito nova. - Mas você lembra, dentro de casa, se eles conversavam muito sobre o Integralismo? MG: Eu me lembro, assim, eu era muito pequena, de muito envolvimento deles com o Integralismo. Eles só viviam em função disso. Eu me lembro até da figura deles, ele de calça preta e camisa verde, boné na cabeça e de sigma. Sigma era um emblema que eles colocavam. - Sigma na manga. MG: Então, eu me lembro muito deles com essa roupa, saindo sempre. Eu achava, assim, também, muito preocupados. Eu não entendia porquê, mas eu achava as pessoas muito preocupadas E a gente também, que era pequena, que era da família, ainda pequena. Então, a gente sentia um certo temor. Eles levavam para a gente isso: medo. - Todos uniformizados. 18

MG: A gente estava sempre pensando numa coisa ruim que pudesse acontecer. Isso eu lembro. - De fato eles eram mal intencionados mesmo. Nunca chegaram lá. Meu marido foi preso. Já disse a você, não é? MG: Sempre com medo. Muito medo - Como é que sua mãe se vestia? MG: Também: saia preta, blusa verde, de manga comprida, o símbolo aqui no braço e o boné na cabeça. - Um casquete. MG: Um casquete na cabeça, sapato preto, a saia bem comprida. - E a gravata preta. MG: E gravata preta. Ainda gravata, tipo assim um militar. - Isso era só no dia do comício, ou nas reuniões também? MG: Nas reuniões. Inclusive papai, quando saía de manhã, esses domingos que meu pai se arrumava logo de manhã para sair, já saía uniformizado. - Já saía uniformizado. MG: E a gente tinha muito medo. Papai tinha medo de ser morto a qualquer momento. A gente pensava que a qualquer hora ele pudesse ser assassinado. E mamãe, também, tinha muito medo. E esse medo eles passavam para a gente. Sabe? Agora, na época que o Integralismo acabou também, foi uma época de muito pavor que nós tivemos porque teve que esconder armas no fundo do quintal. - Tudo escondido! MG: Pegar aquelas coisas todas de papéis. Um monte de papel, que tinha muita coisa, muita publicação. - Jornais... MG: Muito jornal, muito livro... Então me lembro disso assim, eles botando fogo no fundo do quintal, nessas coisas. - Tinha uma mangueira, que tinha uma boca assim... MG: Uma mangueira, onde eles guardavam... - Botei os revólveres todos ali dentro. MG: É, botavam os revólveres, as armas... - A senhora falou que a senhora que mexia nas armas. Seu marido não gostava de armas não? MG: Mas ele andava armado também. - Eu me armava todo dia. MG: É. - A senhora se armava? - Eu me armava todo dia e vinha na cidade. - E a senhora sabia manejar arma? - Perfeitamente, minha filha, ora, ora! MG: Também eu me lembro de vocês (deles dois) chegando tarde da noite em casa. Tudo escuro, não tinha luz elétrica. - Pois é. Quando corria boato que iam matá-lo: "Ah, é hoje e tal." Eu me preparava, me armava e vinha sozinha. MG: É. E às vezes mamãe chegava sozinha em casa. - Não deixava ele vir não. Falava: Não, você não vai. Porque se me matar, mata uma mulher e se matar você, mata um chefe! 19

MG: Ele chegava no dia seguinte de manhã. - As reuniões dia de semana eram de noite? MG: Eram de noite! Eles iam de noite! - Às quintas-feiras. MG: Eles iam de noite. A gente ficava com aquela tensão, com medo que eles não chegassem. A gente que era filho, que era pequeno...Sabe o que é essa coisa de passar aquele pavor para a criança? Então a gente tinha esse medo. A gente se sentia sempre ameaçada. Até assim, ameaça com a gente mesmo. Não é seqüestro, porque antigamente ninguém falava em seqüestro. - Eles se sentiam órfãos. MG: Mas uma maldade que pudessem fazer com a gente na ausência deles. Que a gente ficava praticamente assim abandonado em casa. Tipo acuada, porque a gente tinha medo de tudo e que acontecesse alguma coisa também. - E a senhora tinha medo? - Eu não. - Não tinha? - Nasci para morrer. Tinha não. Não tinha, eu o defendia de dentes e unha. - Tudo pelo ideal? - Tudo pelo ideal. MG: E também, eu acho, que isso envolvia muito a parte financeira deles. Porque eles sempre davam tudo para o ideal. - E não recebíamos nada. MG: E a gente ficava sempre prejudicada porque não sobrava nada para nós. - Mas as filhas acabaram integrando também o Integralismo, não é? MG: Não, foi só minha irmã mais velha e Carmelita. Carmelita é nossa irmã de criação. Mamãe a criou desde pequenininha. Então ela chegou a ser integralista. Mas os menores não, porque nós éramos bem pequenos. - Não participaram muito? - Não, a gente só via, só assistia. Os ideais Integralistas convertidos em ação - Se a senhora pudesse falar, assim, em uma palavra, qual era o objetivo maior do Integralismo? - Era “Deus, Pátria e Família”. - Deus, em que sentido? - De religião, a pessoa tinha que ter religião. Se não tivesse religião, não... - No caso, religião, era religião católica? - Qualquer uma. Católica ou Protestante, fosse lá o que fosse, mas tinha quer ser religioso. Pessoa atéia eles não gostavam, não. - Bastava ser cristão? - É. - E tinha reza? Nas reuniões vocês rezavam alguma coisa? Tinha alguma oração? - “Deus, Pátria e Família”, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. - Então, abria assim, depois fazia o sinal da Cruz? - É, depois a gente fazia.

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- Deus é isso, que não podia ser ateu, tinha que ser cristão. Família, o que significava Família? - Agora, Família, sempre eles faziam por moralizar. Quando se era amigado, eles marcavam um certo prazo. Todos que quisessem faziam um ordenado para o escrivão e juntava uma porção de gente pobre que não era casado e ele casava as pessoas. Ganhava aquele ordenadozinho micha, mas ganhava. MG: Encaminhavam. - Então vocês organizavam os casamentos para as pessoas que não tinha condição de casar? - É, que não tinham condições. - Casamento no civil? - É, no civil. - Religioso não? - Não. - Por que não? - Porque naquele tempo nem padre quase não existia, minha filha. - Não era porque tinham sido amigados antes e tinham vivido em pecado? - Não. Não se comentava nada disso. - Mesmo que tivesse vivido amigado antes, depois de casar estava tudo bem, não tinha problema? - Tudo justo. - Não era necessário casar na igreja? - Não, não era necessário. Naquele tempo, minha filha quase não tinha nem padre. Lá, por exemplo, na minha cidade, tinha um padre só para três municípios. Até que me casou, batizou meus filhos todos, foi esse. MG: Mas a senhora é casada na igreja. - Eu só casei no religioso, na fazenda. - Essa renovação que vocês queriam para o Brasil, como é que vocês pensavam? Como era o sonho de vocês para essa renovação? Como é que vocês pensavam que o Brasil poderia ficar? - Nós pensávamos que poderia baratear tudo e a pessoa se trajar melhor, calçar, pelo menos, que ninguém calçava, não é? - Mas o que estava errado? O que podia mudar? Por que estava ruim? O que vocês criticavam mais? - Tudo era a falta de desenvolvimento do País. Pobre não tinha valor nenhum. Você vê, naquele tempo, um homem que trabalhava um dia, era para ganhar dez tostões. Dez tostões era uma miséria. Trabalhava, coitado, o dia inteiro no sol a pino, para ter aquele ordenadozinho para dar comida à família. A comida do pobre, naquela época, era verdura e um oleozinho, uma banhazinha. Não comiam carne, muito difícil. Lá na fazenda do meu pai, ele comprava uns fardos de carne-seca e fim de semana, sempre, ele repartia com os empregados, para cada um, um pedaço, para não passarem o domingo de todo em branco. - Mas, para que acontecesse isso, tinha que ter um governo mais forte? - É. Tinha que ter dinheiro. Quase não se produzia nada. Arroz, naquele tempo, não existia no Brasil, depois é que veio. Acho que da África, se não me engano. Veio carregamento de arroz e foi que dividiram arroz pelos municípios. Aí que apareceu o arroz. Que nem arroz existia.

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MG: Mas eles pregavam assim porque eles queriam tomar conta do poder, também. Eles queriam o poder do Brasil. Eles queriam que o Integralismo vencesse e que eles tomassem conta. - Tivesse terra para plantar... MG: Falavam em divisão de terra, do rico dividir com o pobre. - Eles falavam nisso? Que quando eles estivessem no poder eles iam dividir as terras, que os pobres iam ter terras, também.? - Todo mundo pensava num pedacinho de terra. MG: É, para os pobres poderem plantar e eles queriam implantar o governo deles, o regime deles. - O regime deles era muito bom! MG: Eles queriam era tomar o Brasil, de uma certa forma, do poder que então existia, para ficar com o poder todo. Eles eram ambiciosos nessa questão de poder. - E como seria esse regime? - Ah, minha filha, minha cabeça não vai dar! O regime era “Deus, Pátria e Família”. Muito respeito, ser o pessoal casado, como vocês acabaram de ouvir. - A senhora acha que nesse período precisava esse tipo de governo? - Precisava sim, porque o Brasil já foi muito pobre. Hoje que ele está progredindo e está melhorando. Mas enquanto estava aquela pobreza, miserável mesmo, as pessoas passavam muita miséria. Você via, por exemplo, uma família de pretos, que tinha uma porção de criolinhos, andava todo mundo nu. Muitos nem uma esteira para se deitar não tinha. Eu sempre me lembro, na casa de meu pai, os pretinhos, coitadinhos, aquela filazinha para ir lá receber o leite, uma coisinha na casa dos outros. - Então o objetivo era fazer com que o Brasil se desenvolvesse para acabar com a miséria? - É, a miséria. Para ter o conforto - Para ter conforto para todos? - Para todos. - E a questão da educação, vocês valorizavam muito isso? - Não se falava nem em professor. Por exemplo, na casa de meu pai, nós éramos sete filhos. Se quisemos estudar alguma coisa, saímos do município. Olha que o município é muito grande, mas não tinha um professor. Primeiro meu irmão foi para Rio Branco, em Minas, ficou lá dois anos, depois eu fui, fiquei seis anos. Se quisemos aprender alguma coisa foi assim, porque não existia professor. Não existia nada. - No ideal Integralista a educação era muito valorizada. - É educação! Você vê, Lizete, por exemplo, deu aula para...A gente organizava, sabe? Por exemplo, tinha reunião nessa sala. Quando era lá no meio da semana, a gente dava uma aula para quem quisesse, a gente matriculava uma porção de gente. Lisete deu aula para um velhinho de 64 anos e o velho ainda votou. Ele disse: “Maior ideal da minha vida era votar!” [ri] - Votou? - Chamava-se “seu” Geraldo. E aprendeu com Lizete, com a minha filha. - E isso que o Partido fazia também? Alfabetizar? - É. Alfabetizar era um dos ideais. A gente passava a mão na pessoa, assim, que ia estudar. Para pegar na mão para ensinar escrever, a pessoa calejada, mas a gente pegava e ensinava. E não tinha esse negócio de escolher, porque aquele é preto não se ensina, que ele é amarelo, não se ensina, 22

que é branco... Não senhora, todo mundo tinha o direito, desde que quisesse aprender, tinha os mesmos direitos. - Não só para votar, não, mas para tudo? - Para tudo. - Para votar, para poder melhorar? - Para votar... Porque a pessoa que não sabe ler nada é um cego. A gente procura darlhe a luz para ele seguir seu caminho. - Tinha alguma exigência para que as pessoas pudessem assistir as aulas? Não, vocês podem entrar, vocês não podem. Como era essa seleção? - Não, desde que a pessoa fosse honesta. Exigia-se que fosse honesta. Naquele tempo não existia essa bandalheira de hoje em dia, não. Procurava-se legalizar e selecionar: Fulano, você não pode vir a aula tal dia não porque é só de pessoal decente, escolhido. Você vem tal dia assim que eu te ensino. Mas não ficava assim desprezado, não. Dizer que ele não ia aprender, não. Que ele ia aprender, mas separado daqueles, para não contaminar. - Em questão de moral, de honestidade, o que era? - De honestidade. Se a pessoa, por exemplo, Deus me livre e guarde, uma mulher, uma piranha, como dizem, a gente não ia misturar com as moças decentes, com família, não podia. MG: Tinham preconceito. - Mas dava assistência assim mesmo? - Dava aula. Dava separado. A gente fazia tudo mais ou menos secreto. Falava: Fulano, olha, você sabe que você não é decente para estar no meio da família. Você faz isso, faz aquilo, faz aquilo outro, mas você vai aprender. Você vem tal dia que terá sua aula. - E a pessoa aceitava? - A pessoa ia. - A senhora e Lizete ensinavam. Vocês ficavam sozinhas com essa pessoas, ou tinha alguém mais? - Nós separávamos umas tantas pessoas para lecionar, os que tinham capacidade: Olha, Fulano, a sua turma é tal dia, de tal hora à tal hora. A pessoa se responsabilizava e dava aula mesmo. - Essas aulas eram dadas onde? Na sede ou na fazenda? - Conforme. Se a fazenda tivesse espaço suficiente, dava-se mesmo na fazenda. Porque naquele tempo não se usava móveis chiques, essas coisas, não. Era banco e tal. Qualquer pessoa podia se localizar lá e estudar, não tinha importância. Podia ser na fazenda, podia ser : Oh Fulano, minha casa lá é muito pequena, não dá comportar o pessoal. Você me empresta sua sala tal dia? “Prontamente!” Emprestava a sala e a gente dava a aula. Lá ainda deve ter muita gente que aprendeu com a gente.[ri] Menos “seu” Geraldo [ri] - “Seu” Geraldo foi o tal de 64 anos? - Foi o velho de 64 anos que aprendeu a ler. - E que ainda votou. - Ainda votou. - A questão do nacionalismo era uma coisa muito forte, não era? 23

- Era muito forte! - E a questão da raça, como era vista dentro do Integralismo? - O Integralismo não se metia não, deixava. Integralismo - o seu contrário e suas identificações - A senhora, nessa época, tinha algum contato com aspectos da política mais geral? O que a senhora, por exemplo, lembra da Primeira Guerra Mundial? - Não. - E a senhora já tinha ouvido falar na Revolução Russa? - Já,...muito! Nós tínhamos até livros para exposição, livros deles, para a gente ver que era errado mesmo aquele castigo para o povo. - E na sua casa tinha panfletos, tinha livros? - Tinha livros. Tinha livros. Livro Integralista, livro que falava sobre a Rússia e seus costumes... - E como a senhora conseguia esses livros? - Meu marido comprava, não sei como ele comprava. Comprava e trazia. - A senhora falou que os comunistas eram errados. Por que vocês não concordavam com eles? - Por que o sistema era todo diferente. - Como era o deles? - O deles, pelos livros, era tudo racionado: roupa, mantimentos... Tudo era racionado. Já no nosso não. Já no nosso era de acordo com as possibilidades de cada um. Entendeu? Por exemplo: se você podia passar melhor, bem, você passava melhor. Fazia melhores comidas, as melhores roupas. Já o que não podia, coitado, ficava abandonado. Dizem que na Rússia (nós tínhamos livros, agora que não temos mais nada, que queimamos tudo) é tudo racionado, até a roupa. Dizem que quanto a roupa, escolhem tantas calças para essa turma... Tanto que lá, até as mulheres trabalham nos tetos fazendo casas. Até mulheres e que dirá os homens. Mas naquele tempo dizia que era muito forte o exército russo. Por isso as mulheres tinham que se dedicar mais aos trabalhos masculinos por que eles não podiam, tinham que ficar. Era um exército muito forte. - E vocês eram contra isso? - Éramos contra. Nós queríamos tudo dentro do possível, com decência. MG: Era assim, o oposto, o Integralismo do Comunismo. - Vocês queriam maior liberdade? - É, maior liberdade. - A senhora lia os livros sobre o Comunismo também? - Tinha sobre o Comunismo. Era para a gente comparar. - Para comparar? - Para comparar a possibilidade de cada um. - Mas vocês liam também? - Liam. Até para a pessoa falar em público, ela tinha que aprender. Então tinha que ler os livros, e selecionar o que a gente pudesse falar. O que não pudesse, deixava para lá. - O que a senhora achava de mais errado nas idéias comunistas? - No Comunismo. Ah! minha filha, isso eu não sei analisar não. - Mas a senhora achava que tinha coisa errada? - Tinha. tinha... 24

- Agora, no Integralismo, o que a senhora achava mais certo? - Mais certo que era, no signo deles, era Família. - O que eles valorizavam na Família? - A decência em primeiro lugar. Em primeiro lugar a decência. E a verdade. O sigma é um divisa que a gente punha aqui na manga. - O que eles falavam que podia fazer na família? O que era decência? O que podia fazer, o que não podia? - Decência, por exemplo, os casais serem casados. Negócio de todo mundo lá, essa coisa... Não! - E a senhora tinha alguma crítica ao Integralismo? - Eu não. - Nem teve briga nenhuma dentro do Partido? - Não. Briga era só quando os comunistas vinham brigar, e a gente ia para se defender. - Geralmente eles que provocavam? - Eram os comunistas. - E o que vocês criticavam moral na Rússia? - Na Rússia, quanto a moral, nós não comentar nada, porque era tudo secreto. Na Rússia era tudo ali! - Mas a religião, vocês criticavam? - Eles não tinham religião. Os pavilhões que eles faziam, que diziam que era para religião, para isso e para aquilo, era tudo para depósito de armas. Não tinham religião. Tudo era político, tudo ali, no duro mesmo! - Não acreditavam em Deus? - Não acreditavam em Deus, não. Dizem que perguntavam assim: “Quem é seu Deus?” “É Mussolini!” O pessoal respondia: “Meu Deus é Mussolini!” - Mussolini era o chefe, não é? - Mussolini era o chefe lá na Itália. -Da Itália, da Rússia. Da Rússia era... - Stalin. - Stalin, é. - O que vocês, integralistas, achavam de Hitler? - Nós... - Muitas acusações, que na época, eles faziam era que ligavam o Integralismo aos movimentos fascistas, do Hitler, do Mussolini. O que a senhora achava? - É, justamente. Diziam eles, que era igual a Itália. Eram antagônicos: o Integralismo e o Fascismo. - A senhora acha isso? - É. Eram antagônicos sim. - E porque a senhora acha que eles acusavam de serem a mesma coisa? - Cada um quer sua parte maior. Toda política é sempre assim. Um sempre quer vencer, agora, se vai vencer, eu não sei. - Mas a senhora acha que não tinha pontos em comum? - Vocês ouviam falar do Hitler, o chefe da Alemanha? - É, o chefe da Alemanha. 25

- Vocês já tinham ouvido falar? - Já, muito. Tinha livros também. O Integralismo comprava livros de diversos países para a gente poder fazer um confronto. - E a senhora se lembra de alguma referência a Hitler? - Não, agora não me lembro de mais nada. - Não se lembra se gostavam dele, se não gostavam? - Todos eles eram muito enérgicos. Muito forte, muito.., MG: Autoritários. - É. - Mas vocês não queriam também um governo forte, ou não? - Nós queríamos forte, mas dentro da religião, com “Deus, Pátria e Família” - Nos municípios vizinhos o Integralismo também tinha representantes, como São Fidélis, Campos? Se vocês tinham esse contato? - Por toda parte tinha. O Integralismo, por toda parte, tinha suas sedes. - Qual o lugar que tinha mais forte o Integralismo? A senhora lembra? - Não sei não. MG: Era em Campos. - O Comunismo lá em Cambuci era forte também, ou não? - Tinha bastante adeptos. - E vocês tentavam trazer os adeptos deles para vocês? - Podia tentar que eles não vinham não! - Não vinham não? - Não vinham não! - E eles tiravam de vocês, ou não tiravam adeptos? - Não. - Em Campos houve muitos comícios nos quais aconteceram embates, até de brigas violentas entre Comunista e Integralista. Lá em Cambuci houve algum comício desse com luta física? - Nunca houve, não. Mas eles queriam se preparar (ri) para isso. Mas nunca houve assim briga, essa coisa, não. - Eles quem? A senhora acha que os Comunistas que queriam brigar com vocês? - De parte a parte. De parte a parte. O mais forte engolia o menor. - E naquela época quem era mais forte em Cambuci? - Em Cambuci era mais forte o Partido dominante. - Qual era mais forte o Integralismo ou o Comunismo, na sua época? - Era o oposto. Era o Comunismo. Não era o Integralismo não. Os outros eram mais fortes, tinha mais. - Tinha mais? - Tinha mais gente. Gente de mais posição, que tinha dinheiro para poder custear alguma coisa. Já no Integralismo eram mais pobres. - No Comunismo tinha pouca gente? MG: Não, mais. - O Comunismo era mais forte. - Mas as pessoas mais ricas eram a favor do Comunismo? - Eram a favor do Comunismo. Eram os políticos dominantes. Porque o político dominante abrange tudo. 26

O Integralismo depois do golpe de 37 - A senhora falou que seu marido, lá em Cambuci, era vereador e parou de ser vereador com a revolução de 30. (15) - É, foi com a revolução de 30. - O que vocês achavam da revolução de 30? - Todo mundo achava que era errado, mas eles venceram, não é? Passavam os carros cheios de polícia para aqui e para ali. Uns corriam e se escondiam, outros se apresentavam. Foi assim, essa bagunça. - Lá em Cambuci vocês fizeram algum tipo de resistência ao movimento? - Olha, meu marido foi preso. - A partir de 1937, com as dificuldades do Estado Novo, vocês sofreram algum tipo de pressão? - Sofremos esse que eu disse, que ele foi preso... - Mas isso foi depois de 37? - Depois de 37. - Mas mesmo assim depois, o Partido continuou funcionando? - Continuou funcionando, mas muito restritamente porque tinha muito inimigo. Às vezes chegava um camarada lá em casa: “João, olha, está preparado um alçapão para você.” “OK “ e tal. “Fulano vai te atirar hoje na reunião.” Eu não deixava ele ir, eu ia. Eu ia e ficava perto do camarada. Ficava de costas, encostada nele. Disseram a um amigo nosso, um dos partidários: “Escuta aqui, é verdade que a mulher de João da Silva Lopes falou que vai me quebrar a cara?” E ele falou assim: “Olha fulano, se ela disse eu não sei, mas que ela quebra, quebra mesmo.” - A senhora lembra de uma outra briga assim? - Ah, minha filha! Quando se falava que iam matá-lo, meu marido, eu não deixava ele ir, eu ia. Eu ia sozinha. Ia lá, explorava o negócio, como é que era, como é que não era. Depois que acalmava eu vinha para casa. - Em 30? - Não, depois. - Depois da revolução? - À noite chegaram e prenderam. Por causa do Integralismo. Os que estavam no poder mandaram prender. Prenderam ele e, aquela noite, eu já não dormi. Ele estava na cadeia e vinha para a detenção no dia seguinte de manhã. Prometeram que vinha. Quando foi de manhã eu me levantei cedo, me arrumei e fui para Cambuci.: “O que a senhora deseja?” Eu falei: “Eu queria me apresentar para ser presa.” “Por que a senhora vai ...?” “Porque eu pertenço a mesma política dele e eu sou uma das chefes”. “A senhora não tem necessidade”. “ Quem sabe quem tem necessidade sou eu”. “O senhor não pode opinar a respeito”. Eles entraram. Entrou ele, o tal chefe de polícia, entraram para lá, levaram ele para lá. Daí a pouco eles voltaram com ele solto. [ri] - Voltaram com ele solto? Eles estranharam uma mulher lá, naquela época? - Nunca prenderam mulher também. Eles o soltaram. - Como vocês queriam chegar ao poder? Pela eleição ou vocês achavam que tinha que pegar nas armas e fazer algum tipo de revolução? 27

- Muitos achavam que podiam dar o golpe. Muitos estavam se preparando para dar o golpe. Mas antes disso foi fechado o Integralismo. - Como vocês se preparavam para dar o golpe? - Com união. - Juntavam armas? - Cada um tinha uma ou duas armas só. Nunca foi assim: formar um batalhão. Uma ou duas armas todo mundo tinha, como tem até hoje suas defesas. Mas, fazer ajuntamento para arma, não. Nunca fizeram. - Mas depois, se fosse realmente dar o golpe, tinha que fazer isso? - É. - Mas não deu tempo de organizar tanto. Não é isso? - Não deu tempo. Não deu tempo. - Mas um dia vocês queriam tomar o poder realmente? - Todo mundo queria tomar, não é? Tanto que houve dois princípios de ... Houve do Comunismo, que tentaram o golpe. E houve do Integralismo também. Eu, afinal de contas, assim, no princípio, a gente não acha nada. Fica de fora esperando ver o resultado, qual vai ser. Mas eu achava mesmo que Getúlio que ia vencer. Porque os carros cheios de soldados...E já o Integralismo não tinha posse para isso. - Quando seu marido perdeu o mandato ele parou de participar do Movimento? - Ele parou de trabalhar como político, mas como integralista ele continuou trabalhando. Até que foi suspenso por completo, que perseguiam a gente, tivemos que esconder os uniformes, tive que esconder arma, tive que esconder tudo. - Mesmo depois que seu marido foi preso ele continuou fazendo política? - Continuou fazendo política! - A senhora lembra de algum acontecimento referente ao levante Integralista? - Do Integralismo, me esqueço o nome do homem. Mas um chefe se promoveu numa espécie de uma revolução. E ele foi preso. - Lá em Cambuci? - Lá em Cambuci. Só ele que foi preso. Puseram ele numa ilha onde só plantava quiabo e colhia quiabo. Diz que estava todo ferido... [ri] Todo ferido...(16) - Não, não tinha não. Getúlio Vargas, na véspera dele dar o golpe no Integralismo, dizem que passou a noite conferenciando com Plínio Salgado. Dizem que passou! O programa deles era semelhante, entendeu? E quando foi de manhã ele deu o golpe no Integralismo. - A senhora achava o que sobre governo de Getúlio? - Eu não falei a respeito disso não. - O que a senhora achava? - Eu achava que ele ia ganhar. Porque ele era um governo forte, como foi. Você vê que ele governou muito tempo. Acreditava nele. A gente não se manifestava assim, porque as duas políticas se encontravam, que era o Integralismo e Getúlio, que era estadista. De maneira que a gente não opinava a respeito, não. - Ele sempre falava também da idéia de nação, de Pátria. A senhora não concordava com ele? - Eu concordava com ele. Dizem que ele conferenciou com Plínio Salgado na véspera de dar o golpe. Porque depois ele deu o golpe e proibiu por completo e não podia mais se falar mais em política. Dizem que aquela noite eles conferenciaram, noite inteira, a respeito do modo, da política... Me falha tudo na memória. [ri nervosamente] 28

MG: De prosseguir o ideal. - É, pois é, perseguir o ideal dele. Conferenciaram durante à noite, Getúlio concordou e tudo e por tudo. Quando foi no dia seguinte ele deu o golpe. Deu o golpe, aí acabou o Integralismo por completo. Aí acabou por completo mesmo. Se conversava pelos cantos. - E a senhora lembra de ter continuado? Como eram essas reuniões secretas do Integralismo, depois? - Só pessoas amigas, a gente juntava para conversar, mas era muito secreto mesmo. MG: Teve que esconder tudo... - Tudo! Escondi tudo: uniformes, jornais. Uns queimados, outros jogados no lixo... Que teve que acabar foi com tudo mesmo. - E a senhora, depois, teve algum contato com Plínio Salgado? - Não nunca mais. Ficou lá por São Paulo, nunca mais voltou aqui.

O Integralismo e Getúlio Vargas - As pessoas acreditavam muito em Getúlio nesta época? - Uns acreditavam e outros tinham medo. - A senhora falou que, depois com o golpe em 37 e o Estado Novo, o Integralismo recebe um baque muito grande e Getúlio vai acabando, minando com o Integralismo, que tem que ser escondido. - É. - E depois, quando entrou na década de 50, com a segunda fase de Getúlio, a senhora concordava com alguma coisa dele? Por exemplo: a questão nacionalista do “O Petróleo é Nosso”, essas coisas? A senhora concordava? - Ele fez muita coisa boa. Getúlio fez muita coisa boa. Você vê: o Petróleo, o direito da mulher votar. Foi no tempo dele. Ele tinha muitas idéias boas. MG: E ele também , segundo o pessoal integralista falava, ele copiou muita coisa do Integralismo. - Copiou? - Muita coisa. MG: Era voz corrente entre os integralistas que muita coisa ele tirou de Plínio Salgado conferenciou durante a noite com ele, a noite toda, e depois deu o golpe. - Mas Plínio Salgado falava mal de Getúlio? - Não, ele não tocava no nome de ninguém. - Não falava? - Não. Só falava do povo! Dos nacionalistas... Falava, mas nunca ele tocou no nome de Getúlio para desfazer dele. - E agora na ditadura militar, na década de 60, quando Jango estava no poder. A senhora lembra de agora, bem recente, que os militares tomaram o poder? - Eu me lembro. - A senhora participou de alguma manifestação, ou já não ligava mais para a política? - Eu não fiz parte de nada. - Por que o Integralismo já tinha acabado? - Já tinha ido para o “beleléu” [risos]

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- Mesmo depois do Partido ter acabado, depois o seu marido morreu, a senhora sempre continuou com esse ideal do Integralismo? - Tinha o ideal, mas só para mim. Não me manifestava porque o pessoal era todo contra. Eu não podia me manifestar. - A senhora não continuou com alguns amigos integralistas? - Tinha os amigos, mas não fazia reunião, essas coisas não.

A mulher no Integralismo, a mulher na sociedade: valores a resguardar e direitos a conquistar - A senhora falou que sempre votou. A senhora lutou pelo voto das mulheres? - Eu achava que as mulheres deviam ter os mesmos direitos que os homens. - O Partido Integralista achava isso também? - Achava também. O Integralismo valorizava. - A senhora lembra quando foi a primeira vez que a senhora votou? - Ah, minha filha! Não me lembro não. [risos] Nos primeiros votos, o meu foi. Agora, não me lembro a data. - A senhora lembra de ter votado para presidente nas primeiras eleições? - Votei, votei. Agora que eu não estou votando mais, porque eu estou com 90 anos. Não posso mais. Eu querendo votar, eu posso, mas eu já acho que é amolação... - Naquela época, também, era muito raro a mulher se envolver com a política. - Muito, muito. - O que a senhora acha que despertou na senhora essa vontade de se envolver com militância? - Eu não sei não. Eu acho que sou meio masculinizada. [ri] Porque eu acho que deve dar toda força a mulher. Não procurar diferenciá-la do homem, não. - E a senhora acha que o Partido Integralista também achava isso? - Achava! - Valorizava realmente? - Tanto achava, que eu era uma chefe. Valorizava! - O que a senhora achava do Movimento Feminista da época, nessa coisa de igualdade - Acho muito justo. - Além do direito igual de voto, o que a senhora achava mais que a mulher tem que ser igual ao homem? - Tem que ser igual é assim, nos direitos, não é? Nos direitos de votação, na criação da família. O homem e a mulher devem marchar unidos. Eu acho. Não cada um puxar para o seu lado [inaudível]. - Na opinião da senhora, qual a educação correta que uma mulher deve ter? - Mulher deve ser em primeiro lugar dona de casa! Porque às vezes a pessoa perde o tempo com outras coisas, com programazinhos pequenos, com coisa sem importância, e a família fica desprezada. Eu acho que deve, em primeiro lugar, ser dona de casa, para depois ter mais alguma coisa. - Só a senhora freqüentava as reuniões ou havia outras mulheres? - Não, tinha muitas. - Geralmente eram mulheres dos políticos? 30

- Esposas vinham, outras não. As que gostavam vinham de qualquer maneira. - A senhora priorizava ser dona de casa a ser militante? - Primeiro lugar dona de casa. Porque hoje têm pessoas que casam não sabem nem botar uma panela no fogo. Isso é muito ruim. Ruim para o homem e para ela, e para a família em geral. - A senhora sofreu algum preconceito, justamente por estar participando da política? Era mal vista por alguém de sua família, ou por algum amigo? - Não. Nunca me criticaram. - Nunca te criticaram? As pessoas valorizaram a sua militância?. - É. - E os filhos também sentiam falta da senhora por causa da militância? - Não. - A senhora sentiu que os direitos da mulher aumentaram muito depois de 1930? - Aumentaram! Aumentaram demais! - O que a senhora acha que mudou? - Antigamente a mulher não tinha essas pensões, que hoje ela recebe. - A senhora concorda com tudo isso? - Eu concordo! A mulher tem que ter o mesmo direito que o homem! - E a senhora chegou a participar de algum movimento em prol da mulher especificamente? - Não, nunca assisti.

IV - DEIXANDO AS RAÍZES A migração para São Gonçalo - a construção do capital cultural dos filhos. O trabalho - da casa à rua. A viuvez - construção do matriarcado - Como foi esse momento de mudança para São Gonçalo?: Como sua família veio? Veio junto com seu marido? Veio a família toda, ou ele veio primeiro? - Ele veio antes. Arrendou um sítio em Alcântara. Ele veio em agosto, se não me engano, e eu vim em outubro. - Agosto de 1938. - Viemos de trem! Naquele tempo não tinha quase caminhão, não tinha essas conduções. Então, ele veio, arrendou a casa, resolveu tudo direitinho. Eu estava esperando Marina, essa minha filha. Ele arrendou a casa, tudo direitinho, escreveu para mim que eu viesse que ele esperaria na estação de Alcântara, que era a única que existia naquela época. Eu vim. Vim de trem, a bagagem toda encaixotada. - E com os filhos todos? - E com os filhos todos. Marina que estava por nascer. Veio também, mas veio ensacada. [risos] - Quais motivos levaram a família a migrar para São Gonçalo? - Em conseqüência da educação das crianças, que nós lá não tínhamos nenhum grupo que se pudesse acreditar mesmo, então meu marido resolveu vir para aqui. Aqui para São Gonçalo. 31

- Então vocês vieram para São Gonçalo por causa do estudo dos filhos? - Por causa dos filhos. Para educar os filhos. - Ele já estava trabalhando aqui? - Ele já estava trabalhando. - A lavoura era de quê? - Aqui em São Gonçalo eram geralmente verduras, feijão...alface... - Aonde que ele trabalhava? - Em Alcântara, no tal sítio que ele arrendou, ele fez plantação de laranja, aipim, comprou umas vaquinhas para explorar o leite. Nós fomos morar lá. Lá nós ficamos... Você se lembra até quando nós ficamos em Alcântara? MG: Até depois dele morrer, que ele morreu em 44. Depois que ele morreu que nós saímos de Alcântara. - Vocês compraram esse sítio em São Gonçalo? - Não, ele arrendou. - E sítio de Cambuci vocês deixaram com quem? - O de Cambuci, depois que nós já estávamos aqui, ele vendeu. - Vocês compraram alguma propriedade aqui em São Gonçalo? - Não, não compramos nada. Não compramos nada! - Que nós mudamos, não é? - A senhora tinha me falado que ele tinha uma idéia de trabalhar com almofadinha de ombro. Como é que era isso? - É, com almofada! Isso mesmo! - Mas ele chamou vocês para virem trabalhar aqui? - Não. Já havia uma família amiga que usava esse serviço. Então ele me ofereceu e eu fui trabalhar, fazer as tais das almofadinhas para paletó de homem. - Mas a senhora já estava trabalhando no sítio? - Já estava no sítio. - A senhora estava no sítio e isso era um coisa extra. - É, uma coisa extra. Tinha uma menina que eu criava, que já estava uma mocinha. Eu fazia o serviço mais pesado e deixava ela tomar conta: dividir a comida, arrumar a cozinha, essas coisas, ficava por conta dela. Paramos porque não dava resultado. Não dava resultado, nós deixamos. Fui costurar com uma amiga no Rio de Janeiro, agora o endereço não me lembro, no Rio de Janeiro, fazer calça de homem. - Mas isso seu marido já tinha morrido? MG: Não, antes. - Então, a senhora trabalhava fora ainda ele vivo? - É. Fui fazer calças com essa amiga. Às segundas feiras de manhã, ficava a semana lá com ela, quando era sábado eu trazia o resto do dinheiro, que eu já tinha recebido, para ajudar o meu marido. - Quem cuidava dos seus filhos? Já estavam grandinhos, ou a mais velha ajudava a mais nova? Como é que era? - Nesta época, Marina já era nascida, já estava grandinha. De modo que podia ficar por conta dos outros, da mocinha que eu criava e pelo pai, que não tinha importância. Ficava muito bem tratada. - E como era esse negócio da mulher trabalhar fora? Era mal vista, não era? Tinha problema, não tinha? 32

- Algumas tinha. Dependia muito da mulher. Se a mulher se dava ao respeito, respeitada seria, e se não tivesse, minha filha, é como hoje. - E agora , perguntando um pouco sobre o Integralismo, em relação a essa coisa da mulher trabalhar fora. O ideal do Integralismo era que a mulher ficasse em casa, ou não tinha problema, podia trabalhar? - Não se opunha. Nunca se opuseram. A gente cumpria geralmente o dever como Integralismo, reuniões, essas coisas, e trabalhava normalmente. - Não tinha problema nenhum? - Não tinha problema. Nunca teve problema. - Quando a senhora veio, a primeira filha já estava estudando? - Já. Já estava no terceiro ano primário. Ela começou lá. Aí, ela se transferiu para São Gonçalo. Naquele tempo existia um grupo ali na praça, bonzinho mesmo. Então elas foram para ali.. Ali ela estudou, terminou o Primário. Não tinha Ginásio. Mas o prefeito de São Gonçalo resolveu fazer um prédio e um concurso para um colégio Normal. Não. É Ginasial. Assim ele fez o tal prédio e um concurso. Dona Esthefânia, uma professora boníssima, venceu o concurso. Sabe com quantos alunos inaugurou? - Não. - Vinte e dois. Vinte e dois alunos. Naquele tempo não tinha gente. Em São Gonçalo não tinha gente. Minhas filhas foram para lá, as duas mais velhas. E o filho era menor, ficou estudando o Primário. Elas duas venceram o concurso e foram estudar com Dona Esthefânia. Ficaram lá. Minha filha mais velha trabalhou 16 anos naquele colégio, na secretaria, quando terminou o Ginásio. Sempre foi a primeira aluna, a mais velha. A outra também, muito boa aluna. Muito inteligente. - Pelo que estou vendo, a família da senhora valorizava muito a questão dos estudos, não é? - Muita coisa. Essa diretora (meu marido estava em dificuldade de dinheiro) examinou a Lizete, fez uma comparação com ela e falou: “Você pode ficar na secretaria. Ela, na secretaria, paga o colégio dela e da outra.” Ela foi e trabalhou lá por 16 anos, como eu estou dizendo. Depois que as duas fizeram o Ginásio, não tinha outra escola para seguir. Elas queriam fazer o Normal, mas só existia em Niterói. Passagem muito cara e nós não estávamos em condições disso. Então, apareceu Contabilidade. Minha filha mais velha disse: “Já que não tem o Normal, eu vou fazer Contabilidade.” Aí, fez Contabilidade. Quando ela estava terminando Contabilidade, que ela já estava namorando, apareceu o Normal. Ela ia casar naquele ano. Aí o noivo disse: “Não, você não vai fazer o Normal, porque o Normal são quatro anos e nós já estamos com o casamento marcado...” Ela falou: “Olha, prefiro o Normal. Se não puder esperar, paciência. Mas o meu ideal é ser professora e do meu pai também. Eu vou fazer o professorado.” - E vocês, os pais, apoiaram isso? - Apoiamos. Nisso, morre o pai. O pai morreu, ela estava fazendo Normal. Morreu o pai e nós ficamos naquela dificuldade tremenda. Você pode contar mesmo. Uma viúva pobre, com 6 crianças para criar. Porque eu tinha os meus e ainda tinha uma menina dos outros que eu criei, que é casada e mora em Silva Jardim. Quando ele faleceu eu fiquei na “lapa”. Com 6 crianças nas costas para criar. “Sem eira, nem beira”. Não tinha pensão porque naquele tempo não se usava. Não se usava pensão. Aí, minha filha, fiquei eu no sítio, com umas vaquinhas. Arrumava uns camaradas,

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plantava as coisas e ia levando. Quando ele morreu, como é que eu fiquei para criar essas crianças? - Ele morreu em que ano? - Em 44. Eu fiquei viúva nova. - O marido da senhora morreu de quê - Sepcemia. - A senhora atravessou muitas dificuldades depois da morte de seu marido? - Ih! Minha filha! Bota dificuldade nisso! Foi difícil porque eu não tinha uma renda. Mas, quando meu marido morreu, nós abrimos as portas: Vamos trabalhar! Então, já as meninas foram trabalhar, as duas foram trabalhar. Só quem nunca se empregou foi a minha filha de criação porque eu não permiti que se empregasse. Porque eu primeiro defendia os direitos do filho alheio para depois defender o meu. Então, as duas minhas foram trabalhar. Eu plantava no sítio e colhia, tinha vaca de leite, vendia leite na cidade. E fui vivendo. - E o filho? - O filho era rapazinho ainda. - Ajudava a plantar? - Não, ele ajudava a vender as coisas. - A senhora plantava, depois vendia, não é isso? - É, depois vendia - A senhora acha que conseguiu, mesmo após a morte de seu marido, continuar o objetivos dos dois de educar os filhos? - Ora! As meninas todas estudaram, são todas formadas. Só meu filho que não é porque ele nunca quis estudar. Porque meu pai era...Não sabia ler. - Analfabeto? - Analfabeto. Então ele achava que ele podia fazer como o avô. Que o avô enriqueceu sem saber ler. Então ele achava: “Eu não! Estudar para quê? Olha aí, vovô! Vovô, como é que está rico!” - E não adiantava a senhora falar? - Adiantava nada! Desesperava [com] ele, brigava com ele! Eu fui criando meus filhos, com meu esforço. Todo mundo estudando, todo mundo estudando, graças a Deus! Quando elas já estavam formadas como professoras, trabalhando, Dona Estefânia, diretora do grupo de São Gonçalo, me pediu para que eu fosse tomar conta da Escola Normal, numa filial. Eu fui para lá. Fui, ganhei dinheiro e a experiência, e casa para fazer o casamento das filhas. Que a casa que eu morava era muito ruinzinha. E lá não. Era uma casa enorme! As duas filhas estavam noivas. Fomos para lá, fizemos o casamento, muito bonitinho. Que dizer: aqui em casa ninguém pulou a cerca. Graças a Deus! Ninguém! - A educação moral da família e das mulheres, para a senhora era muito importante? - Família, para mim., eu sou dura mesmo! Eu quero tudo certinho. Eu dizia às minhas filhas: Minhas filhas, vocês não querem namorar? Acertem tudo primeiro. Depois que vocês se formarem e se colocarem, aí vocês vão. Minha casa não foi freqüentada por homem não. - Essas coisas de ensinar as filhas a fazer crochê, a cozinhar... A senhora também fazia? A senhora ensinou tudo? - Ensinei. Por exemplo, o casamento de Marina, o enxoval dela foi quase todo feito em casa. A não ser o vestido. Mas um bordadinho daqui, um bordadinho dali... 34

- Por um outro lado, também, algumas famílias não gostavam que as mulheres trabalhassem fora de casa. A senhora permitia isso? - Mas no colégio pode trabalhar. - Mas a senhora não gostava que trabalhassem sem ser no colégio. - Mas elas tinham que trabalhar, tinham que comer, não tinha quem desse. Vai trabalhar, minha filha! - Depois da morte de seu marido, a senhora continuou sua militância? Até quando a senhora continuou no Partido? - Não, minha filha, quando o meu marido morreu, o Integralismo já tinha “ido para o brejo”. Tanto que ele queria ser sepultado com a camisa, na época, e não consentiram. - Não permitiram que ele fosse sepultado com a camisa do Integralismo? - Não. Integralismo não “piava” não. - A senhora lembra quando, mais ou menos, o Integralismo acabou? - Não me lembro não. - Em 44, quando seu marido faleceu, ainda havia o Integralismo? - Nessa época ainda existia o Integralismo. Existia sim, mas muito restrito, sabe? Já estava mais para acabar que para continuar. - Mas vocês continuavam se reunindo, ou não? - Não. Conversávamos, assim, familiarmente, mas... - Não faziam mais reuniões? - Não. A gente estava vendo que não tinha força mesmo. - Nessa época a senhora começou a apoiar outro movimento, já que o Integralismo não estava com força? - Nessa época já não opinava em nada: Vamos esperar para ver como é que fica. - E Getúlio Vargas? O que a senhora achava dele depois? - Getúlio Vargas, depois, ele fez alguma coisa boa, muita gente gosta. Mas ele foi o maior inimigo do Integralismo. - A senhora acha que ele era inimigo do Integralismo, por quê? - Porque era partido político. Um partido político quer comer o outro. - Mas depois que acabou, a senhora votou em Getúlio Vargas nas outras eleições? - Não. - A senhora votava em que Partido? - Não me lembro mais. - Mas em Getúlio a senhora não votava. - Agora, Marina viu Getúlio Vargas. Ela era pequena, falou assim: “Papai eu quero dar um abraço nele!” [ri] “Não, minha! Que isso?” [ri] - Os filhos da senhora todos seguiram o caminho do Integralismo - As meninas dispersaram. Quando aparecia um candidato que a gente achava que era bom, ia lá, votava nele, que era o dever votar. - Mas a senhora continuou acompanhando a política? - Não. - Perdeu o interesse? - Perdi completamente. - A senhora, hoje, continua acreditando nas idéias do Integralismo - Hoje estou completamente indiferente. Não sei mais nada. - Mas a senhora tem convicção de que aquelas idéias eram corretas.

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- Eu tenho a impressão se ele vencesse seria um boa política. Mas como perdeu... Perdeu a força toda...

V - DESPEDIDAS - Sempre que a gente termina uma entrevista, a gente deixa um espaço aberto para a senhora falar o que quiser. Se a senhora quiser reforçar alguma coisa... Eu sempre termino com a uma pergunta: valeu a pena? Valeu a pena esse tempo todo de militância? Ter tido tanto trabalho e mesmo assim não ter conseguido o ideal? Ou a senhora, se fosse viver tudo de novo, não faria nada disso? - Não faria mais nada não. - Não? - Não. Porque nós éramos mais fracos, os outros eram mais fortes. MG: Mas agora que a senhora reconhece. Mas na época a senhora achou que era bom, que o Integralismo ia vencer. - Na época eu trabalhei muito. MG: Eles usavam muito isso: “O Integralismo vai vencer!” - Trabalhava muito mesmo! MG: Usavam muito essa frase. Achavam que iam tomar conta de tudo. - Meu marido, assim, aos domingos, pelo menos de manhã cedinho, já estava arreando os animais e ia fazer política. MG: Quando passava por um companheiro cumprimentava... - "Anauê!" MG: “Anauê!”. Levantava o braço direito. - É. O nosso cumprimento era “Anauê!” MG: O cumprimento não era “Bom Dia” nem “Boa Tarde”, levantava o braço e falava: "Anauê!" - Agora, você vai a São Paulo e apura esse negócio direitinho para ver se tem... Quando vocês apurarem tudo e eu, se Deus quiser, comprar uns bons óculos, eu quero ler. Quero ler, faço questão! - Foi um experiência muito enriquecedora esta entrevista, muito obrigada. - Nada. Vocês vão me desculpar que não está nem a metade como eu gostaria. Porque estou muito esquecida. Que eu sou “meia” cara. Sou “meio” miolo, só. Mas eu gostaria, se tivesse o que resta dos livros, aquelas coisas... Aquilo que dava muita vida a gente. Mas não tem nenhum livro, nada. Tivemos que acabar com tudo. As camisas tivemos que queimar... - Com medo da repressão? - Não, a polícia vinha e queimava. A gente era coagido mesmo. - Então estamos terminando aqui a entrevista, agradecendo mais uma vez à Dona Maria. - Eu que agradeço, muito obrigada por vocês terem se lembrado de mim. 36

NOTAS 1Cambuci é um município do Estado do Rio de Janeiro. 2O conjunto de ilhas da parte ocidental do Arquipélago das Canárias recebe o nome de Santa Cruz de Tenerife. A mãe da depoente nasceu no ano de 1876. Chegou ao Brasil em 1885. 3O pai da entrevistada é originário da Ilha de Fuerteventura, que fica na parte oriental das Ilhas Canárias denominada de Las Palmas. Nasceu em 1883 e veio para o Brasil em 1894. 4O avô materno da entrevistada veio contratado como feitor de escravos. Seu avô paterno veio trabalhar como colono na lavoura. 5Irmãos vivos em maio de 1996: Nicanora, Carmem e João. 6O curso ao qual se refere é de Prático de Contabilidade. Corresponde ao curso técnico em Contabilidade do 2o. Grau atual. 7Os pais do sr. João também eram imigrantes originários das Ilhas Canárias. 8Ano do casamento: 1924. 9Filhos vivos em dezembro de 1997: Lizete, Maria Gelséra, Gelson, Marian e a filha de criação, Carmelita. Gelta faleceu aos 22 anos. 10 “Anauê” - Grito de guerra tupi. Significa: “Você é meu parente!” 11 - Plínio Salgado foi o idealizador e o Chefe Nacional da AIB. 12 Gustavo Barroso e Madeira de Freitas eram membros do Conselho Supremo (junho de1936 até a dissolução da AIB) 13 - Miguel Reale - Também membro do Conselho do Supremo. 14 - Raymundo Padilha - Dirigente regional da AIB. 15 - Na verdade a entrevistada queria se referir ao momento do golpe do Estado Novo. 16 - Este chefe chamava-se Belmiro Valverde. Era um médico baiano. Foi membro do Secretariado Nacional entre 1936 até a dissolução da AIB. Participou da tentativa de golpe em 11 de março de 1938 e da conspiração com o grupo liberal articulado por Otávio Mangabeira e Euclides de Figueiredo em maio do mesmo ano. Em sua casa foi encontrado grande suprimento de armas em março. Foragido desde então, participou do ataque à residência de Vargas no palácio Guanabara em 11 de maio do mesmo ano. Foi preso em setembro, fugindo, logo a seguir da Casa de Correção. A sua prisão ocorreu no dia 14 de outubro de 1938. Ficou detido algum tempo na Ilha Grande, no município de Angra dos Reis (RJ). Fugiu da prisão com a ajuda de elementos integralistas e através de suborno de alguns funcionários da detenção. Se você deseja maiores informações sobre o Integralismo, contate: NÚCLEOS INTEGRALISTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO [email protected] VISITE NOSSO PORTAL: www.integralismorio.org

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