Quarta-feira, 24/06/2009. Corais e coragem. Princesa do castelo de areia que vive sozinha em sua instabilidade. Pequena criatura que esconde os olhos nas mãos, cegando-se parcialmente, para impedir que a coragem escape por eles. Ah, a coragem necessária para andar descalça sobre cacos de vidro... Foi tão difícil capturá-la naquela onda; a princesa, desde então, aprisionou-a dentro de si. E o tempo agia, o vento rugia, destruindo o muro do castelo. Dia e noite, ela fazia escuro, tapando os olhos, guardando a coragem. Mas, como nada vence o exércio ágil do tempo, o castelo de areia por ele foi destruído. A princesa tapou forte os olhos, sentindo a tropa do vento desmontar sua fortaleza. O coração enchia-se de maresia, batendo contra o peito da mesma forma que faz o barco contra as pedras em mares revoltos. Ela sentia que a onda se aproximava, gigante e decidida: recuperaria o que lhe pertencia. E a coragem se agitava, querendo sair, saltar para fora da princesa-prisão em direção à sua onda-liberdade. De repente... Chegou! A língua salgada lambeu-a, a coragem agitou-se. A princesa estremeceu, molhada pela água fria da onda exigente; queria, agora, enxergar o inimigo! Pequena criatura, tão inocente! Nem, ao menos, desconfiava que essa vontade fora manipulada pela traiçoeira coragem: ela se aproveitaria da espiadinha da princesa e escaparia rapidamente. Deu-se o ocorrido. A princesa do castelo destruído viu-se sem coragem ao espiar o inimigo. Caiu de joelhos sobre os cacos de vidro; a onda cresceu, enlevada pela coragem readquirida. Estava pronta para ser engolida, quando operou-se o milagre: ela correu para dentro da onda (e, para quem não sabe, há certa diferença entre optar por entrar ou ser engolida pela onda). A princesa correu para dentro da onda, rasgando-a no meio. No início, estava escuro, ela sentira a coragem e fechou os olhos imediatamente; mas, gradativamente, foi abrindo-os e, com alegria, percebeu que aquela coragem era sua. Agora, era princesa dos corais coloridos que sabia que tudo o que vier a precisar algum dia, encontra-se em algum lugar do mar que ela mesma é. Marina F. Rocha www.mariseoceanos.blogspot.com