Cinco anos depois Quando todos as julgavam bem mortas e enterradas, ei-las de volta, cinco anos depois. A sua ressurreição foi tão repentina quão repentino foi o seu parto e o seu enterro, como documenta a foto tirada na tarde de 4ª feira, 11 de Agosto de 2004 na rua 8, entre a 21 e a 23. Há cinco anos, irromperam durante a época balnear, sem estudos de impacto, sem debates, sem informação. Como Ninguém foi ouvido, Ninguém as perfilhou, Ninguém cumpriu sinais, Ninguém respeitou tapetes amarelos, Ninguém hesitou violar o código de estrada e a postura municipal de trânsito, Ninguém perdeu a oportunidade, o prazer e o gozo de estacionar em cima delas. Humilhada e assassinada, a ideia entrou em coma, envolta em sacos pretos de plástico, e, um mês depois, era sepultada sob o peso das filas de carros estacionados. Triste final este, que nem um dobre a finados mereceu por parte dos media locais. Apesar de tudo, sabemos muito bem que as cidades não se medem aos palmos. Uma ciclovia é sempre possível, mesmo na mais pequena cidade do mundo. O seu segredo reside na coerência, no facto de ela estar cosida na textura do local e ser aceite como útil. E é isto que não parece acontecer por cá. Primeiro, não há coerência nem consistência, não se adivinha um plano integrado, articulado com as actividades económicas e de lazer. Segundo, não evidencia utilidade. Convenhamos que chamar ciclovia a três segmentos de recta, com cerca de 500 metros pintados de amarelo, sem apoios para estacionamento, é obra! Será, por exemplo, uma coisa para espanhol, francês ou brasileiro ver, uma coisa que fica bem na fotografia de uma cidade pequena que frequentemente se arroga o direito de pedir meças a outras de mais estirpe mas menos estrépido. Não me interpretem mal. Não julguem que estou a pugnar pelo segundo enterramento da ciclovia em Espinho. Não sou contra as ciclovias. Muito pelo contrário. Pedalo com regularidade e reconheço a enorme importância da bicicleta e das ciclovias integradas num sistema de acessibilidades e de transportes coerente e consistente, integrado na rede viária. O problema é que, por cá, a ciclovia parece uma brincadeira de Lego, parece não haver plano, o traçado da ciclovia carece de lógica e seria desastroso para a imagem da cidade e para as finanças do município ver uma boa ideia sumir-se por não ter sido ponderada e planeada tendo em conta a cidade no seu todo, as suas cinco freguesias e a ligação com os vizinhos. Dizia Einstein, o Alberto, que a vida era como a bicicleta, que, para a manter equilibrada, era preciso não parar. Façamos, então, como ele, o ciclista, que não pára de corrigir o seu equilíbrio. Ele sabe que só assim poderá evitar acidentes semeados por distrações, lapsos e falhas ocasionais.