* Pedro Nastri
Carlos Gardel A Casa de Gardel no Brás
Numa pequena Rua do Brás, espremida entre a avenida Rangel Pestana e a linha do metrô, cerca de 50 pessoas reuniam-se todas as sextas-feiras à noite para ouvir os maiores clássicos do tango. Eram os cultuadores da memória de Carlos Gardel, o francês de Toulouse que melhor aprendeu a alma argentina, com todas as suas nuances. Anualmente, a imprensa prepara extensas matérias quando se aproxima o dia 24 de junho, data da morte do maior mito do tango. Este ano, porém, com todas as atenções voltadas aos Jogos Pan-americano, talvez não se registre a passagem dos 72 anos daquele que foi a alma e a voz do tango. Na casa de nº 120 da rua Melo Barreto – onde o culto a Gardel obedecia quase um ritual – a data da morte do artista não passava despercebida. Aos poucos, as pessoas chegavam e se acomodavam. Um clima de discreta excitação dominava corações e mentes à medida que os cantores – como Carlos Lombardi – iam se revezando na interpretação de sucessos como Corrientes 348 – “Y todo a media luz, que es un brujo el amor,... a media luz los besos, a media luz los dos... Y todo a media luz, crepúsculo interior, que suave terciopelo la media luz de amor” (Este endereço da Avenida Corrientes foi imortalizado pelo tango “A media luz”, cuja letra narra os encontros amorosos entre jovens de classe alta e as mulheres da noite), La Cumparsita, Caminito, entre outros. A emoção desenhava-se nas faces. Havia um quê de derramamento, característico da alma portenha. Com ar de enlevo, o público acompanhava as músicas, para a satisfação de Antonio Gomes, idealizador da Casa de Gardel no Brás, a única no gênero em São Paulo.
Infelizmente, neste 24 de junho (São João), Antônio Gomes não mais poderá recepcionar os cultuadores de Gardel. A casa não mais existe e Antônio esta a “tanguear” embalado pela voz angelical daquele que foi o maior cantor de tangos de todos os tempos. “Adiós muchachos, compañeros de mi vida... ...Y al darle, mis amigos el adiós postrero,les doy con toda mi alma,mi bendición.” “Desde que se fue / nunca más volvió. / Seguiré sus pasos... / Caminito, adiós.”
* Pedro Nastri / Pedro Oswaldo Nastri – Jornalista e Escritor
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