Boletim Athanor 004 Junho 2006

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O Athanor D O Q U IN T O I M P É R IO

T TE EM MÁ ÁT TIIC CA AE ES SO OT TÉ ÉR RIIC CA AE E IIN NIIC CIIÁ ÁT TIIC CA A

N.º4 N NEESSTTA A EED DIIÇ ÇÃ ÃO O::

Editorial A Sociedade de Direitos ppeelloo R ∴IIrr∴ ∴U Ulliisssseess R∴

Os Números Sagrados na Tradição Pitagórica Maçónica ppeelloo R ∴IIrr∴ ∴A Arrttuurroo R R∴ Reegghhiinnii

Período Anual de Influência Terrena da Deusa Egípcia Ísiss ppeelloo R ∴IIrr∴ ∴G Geerrvváássiioo SSeeqquueeiirraa R∴

D Doom miinnggoo,, 44 ddee JJuunnhhoo ddee 22000066

O “Athanor” do V Império – Boletim Mensal de Temática Esotérica – Ed. n.º 4 – Domingo, 04.06.2006

Editorial Avançámos

outro mês na grande caminhada em direcção ao infinito.

Gostosamente, marcámos este período com mais uma edição do “Athanor” (o n.º 4).

Deixamos

aqui o mais profundo agradecimento a todos os IIr.’. que tornaram possível este trabalho.

Sabemos

avaliar o esforço que isto implica, numa época em que o tempo se tornou veloz.

Apresentamos

mais uma vez as nossas desculpas por ainda não darmos continuidade à 3ª parte do artigo “Da Mente Individual à Egrégora da Ordem”.

Dedicamos este boletim a todos os que, tal como nós, procuram ver para além das brumas da ilusão.

Muitas coisas mais devem ser ditas, mas não como Editorial. Por isso deixamo-vos com os artigos que conseguimos preparar. TT∴AA∴FF∴ para Todos !

A Sociedade de direitos PELO R ∴ IR ∴ ULISSES

“A ignorância das causas remotas predispõe os homens para atribuir todo o evento às causas imediatas e instrumentais, pois são estas causas que percebem” (In “Leviatã” Thomas Hobbes/INCM - pag.95) Diz-nos a história que durante séculos os cidadãos foram meros espectadores das decisões dos governantes. O poder decidia e impunha. Aos cidadãos, na sua grande maioria, nada mais restava do que aceitar como seu o destino que o poder traçava. Encarreirar ou resistir era algo que surgia consoante as capacidades de intervenção de cada um e/ou a coragem de assumir as divergências.

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O “Athanor” do V Império – Boletim Mensal de Temática Esotérica – Ed. n.º 4 – Domingo, 04.06.2006

Facilmente se percebe que quem assume divergências, sejam elas assumidas por temperamento ou pelas circunstâncias, fá-lo no exercício da sua capacidade de escolha, exercício esse que exige informação e esclarecimento. Daí que à medida que os cidadãos se tornam mais esclarecidos, mais difícil se torna pedir-lhes que subscrevam ditaduras de qualquer tipo, que censurem o exercício das suas liberdades. Daí, em sentido contrário, que cidadãos pouco esclarecidos e informados facilmente depositem nos outros a defesa dos seus próprios interesses: os outros que façam em seu favor as escolhas que as suas incapacidades não permitem que sejam feitas individualmente. Sabemos que o advento da sociedade industrial teve o seu principal impulso com a afirmação de uma “moralidade do individualismo”. Esta afirmação quebrou os laços comunitários, contrapondo à segurança, solidariedade e igualdade, os conceitos de liberdade, de livre iniciativa e de autodeterminação. O indivíduo demonstra perante a sociedade que tem pontos de vista próprios e que sabe cuidar de si. Esta moralidade individualista que deu fôlego à primeira revolução industrial traduzia-se, no entanto, numa concepção de liberdade bem diferente, na sua essência, da ideia que hoje temos dela. Defendiam os liberais de então um individualismo que valorizava não só a liberdade, como também a responsabilidade individual. É certo que a afirmação da liberdade individual fez-se através da redução da interferência das diversas tutelas na vida dos indivíduos. Mas esta autonomia da sociedade civil não se manifestava adversa à lei, a qual, produzida pelos eleitos pelo povo, estaria por isso acima de todos e de cada um. Os direitos individuais eram reclamados mas não se enjeitavam os deveres correspondentes. E qual a ideia de liberdade que predomina nos nossos dias? O que entendem os cidadãos quando se fala da libertação da sociedade civil e do seu fortalecimento? facilmente nos apercebemos que nos dias de hoje sobressaem formas de individualismo que confundem a liberdade com a irresponsabilidade e tolerância com o laxismo. Vivemos numa sociedade em que se sobre-estimam os direitos individuais em detrimento dos deveres. Se é certo que temos hoje uma sociedade civil livre, forte e atenta, também não deixa de ser verdade que ela se exprime de forma corporativa, numa lógica perfeitamente egoísta. E poderíamos exemplificar com muitas situações que diariamente os órgãos de comunicação social trazem a lume. Situações em que toda a gente reclama de forma egoísta pelos seus direitos e nas quais se faz tábua rasa dos deveres de cidadania correspondentes E porque a sociedade civil se liberta de forma corporativa, talvez por isso, vivamos hoje numa sociedade de direitos.

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Daí a importância da educação para a cidadania, na qual a comunicação social tem um papel fundamental: mais do que dar notícias, o que é inegavelmente importante, importa que se esclareça o cidadão. Mas isso só será possível quando ele quiser ser esclarecido e reclamar isso mesmo da comunicação social. O que, ainda, não é o caso..

Os Números Sagrados na Tradição Pitagórica Maçónica PELO R ∴ IR ∴ ARTURO REGHINI 1

Procura a Liberdade, que é tão querida Como sabe quem por ela despreza a vida. (Dante, Purgatório. I, 71-722). Segundo os antigos rituais e as antigas constituições maçónicas, o fim da Franco-maçonaria é o aperfeiçoamento do homem. Os antigos mistérios clássicos não tinham outro objectivo e conferiam a télétê , perfeição iniciática. Este termo técnico estava vinculado etimologicamente com os três sentidos de fim, morte e perfeição, como Já o faz observar o pitagórico Plutarco. Jesus utiliza também a palavra téleios quando exorta os seus discípulos a ser "perfeitos como vosso Pai que está nos céus", inclusivamente quando, por uma dessas frequentes incongruências das Santas Escrituras, afirma que "nada é perfeito excepto o meu Pai que está nos céus". Essa definição poderia parecer explícita e precisa; e sem dúvida uma ligeira alteração formal alterou gravemente o conceito. Tomemos como exemplo o dicionário de Pianigiani que afirma que o fim da Franco-maçonaria é o aperfeiçoamento da humanidade; grande quantidade de profanos, tal como numerosos maçons, aceita essa definição. 1

Arturo Reghini (1878-1946), matemático e filólogo, foi alto cargo da Maçonaria italiana (Sup. Cons. REAA, e foi membro honorário de Sup Cons de outros países). Correspondeu-se com René Guénon e foi fundador e director das revistas Atanòr (onde Guénon publicou a primeira versão de O Esoterismo de Dante e O Rei do Mundo) e Ignis (192425). Contribuiu na Ur (1927-28). Foi autor de numerosos artigos e chefe de redacção da Rassegna Massonica. Algumas das suas obras são :

Cagliostro, documents et études; Notes brèves sur le Cosmopolite; Considérations sur le Rituel de l'Apprenti Franc-Maçon; Les Mots sacrés et de passe des trois premiers grades et le plus grand mystère maçonnique; Aritmosofia; Les Nombres Sacrés dans la Tradition Pythagoricienne Maçonnique (actualmente editados por Archè, Milão), e uma obra inédita em sete volumes: Dei Numeri Pitagorici. 2 Libertà va cercando ch’è si cara / Come sa chi per lei vita rifiuta. (Dante, Purgatorio. I, 71-72.)

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À primeira vista pode parecer que aperfeiçoamento do homem e aperfeiçoamento da humanidade significam o mesmo; de facto, referem-se a dois conceitos profundamente distintos, e a sua aparente sinonímia gera um equívoco e oculta uma incompreensão. Outros utilizam a expressão aperfeiçoamento dos homens, também equívoca. Evidentemente, é quase impossível estabelecer qual é a expressão justa, porque qualquer franco-maçom pode declarar justa a que mais de acordo está com as suas preferências, e ainda satisfazer-se, talvez, no equívoco. Mas se se trata de determinar, histórica e tradicionalmente, a interpretação correcta e conforme com o simbolismo maçónico, a questão muda de aspecto e já não se trata de preferências particulares. O manuscrito encontrado por Locke (1696) na Bodleian Library – e que não se publicou até 1748 – atribui-se a Henrique VI de Inglaterra: define a Franco-maçonaria como "o conhecimento da natureza e a compreensão das forças que há nela"; enuncia expressamente a existência de um vínculo entre a Maçonaria e a Escola Itálica, pois afirma que Pitágoras, um grego, viajou para instruir-se, ao Egipto, à Síria e a todos os países aonde os Venezianos [leia-se os Fenícios] haviam introduzido a Maçonaria. Admitido em todas as lojas dos Maçons, adquiriu um grande saber, voltou à Magna Grécia... e fundou uma importante loja em Crotona.3 Na verdade, o manuscrito fala de Peter Gower; e, como o nome Gower existe em Inglaterra, Locke ficou bastante perplexo ante a identificação de Gower com Pitágoras. Mas outros manuscritos e as Constituições de Anderson mencionam explicitamente Pitágoras. O manuscrito de Cooke diz que a Maçonaria é a parte principal da Geometria, e que foi Euclides, sábio e subtil inventor, quem estabeleceu as regras desta arte e lhe chamou Maçonaria. Há outras pistas de reminiscências pitagóricas tanto nos " Old Charges" como no mais antigo dos rituais impressos4 (1724) que atribui uma importância particular aos números ímpares, de acordo com a tradição pitagórica.5 Todos os antigos manuscritos maçónicos concordam em assinalar o aperfeiçoamento do homem, o do simples indivíduo, como único objectivo da franco-maçonaria. As provas iniciáticas, as viagens simbólicas, o trabalho do aprendiz e do companheiro têm um carácter manifestamente individual e não colectivo. Hutchinson, Spirit of Masonry; Preston, Illustrations of Masonry; G. De Castro, Mondo segreto, IV, 91; A. Reghini, Noterelle iniziatiche, Sull’origine del simbolismo, en Rassegna Massonica, Junho-Julho 1923. 3

The Grand Mystery of Free-masons discovered wherein are the several questions put to them at their Meetings and installation, Londres 1724. 5 Virgilio, Bucólicas, Égloga VIII. 4

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Segundo a mais antiga concepção maçónica, a "grande obra" do aperfeiçoamento, realiza-se trabalhando sobre a "pedra bruta", quer dizer sobre o indivíduo, desbastando, polindo e esquadrando a pedra bruta até a transformar em "pedra cúbica da Mestria", graças às regras tradicionais da "Arte Real" maçónica de edificação espiritual. Existe uma perfeita analogia com uma tradição paralela, a tradição hermética que, pelo menos desde 1600, se encontra enxertada nela e ensina que a "grande obra" se realiza trabalhando sobre a "matéria prima" e transformando-a em "pedra filosofal" segundo as regras da "Arte Real hermética”. A operação que resume a máxima de Basílio Valentim: V.I.T.R.I.O.L. (Visita Interiora Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem = Visita o interior da Terra, por rectificação encontrarás a pedra oculta) ou a Tábua de Esmeralda, modernos arabistas atribuem ao pitagórico Apolónio de Tiana. Pelo contrário, segundo a concepção maçónica profana e mais moderna, o trabalho de aperfeiçoamento deve ser realizado sobre a colectividade humana; é a humanidade ou a sociedade o que há que transformar e aperfeiçoar; e de esse modo a ascese espiritual do indivíduo é substituída pela política colectiva. Os trabalhos maçónicos acabam por ter então uma meta e um carácter primeiramente social, por vezes unicamente social. O verdadeiro fim da francomaçonaria – o aperfeiçoamento do indivíduo – passa para segundo plano, quando não é francamente descuidado, esquecido e ignorado. Tradicionalmente é a primeira concepção sem dúvida a correcta, e na literatura maçónica do século XVIII estiveram muito em voga as comparações e identificações exageradas e fantasiosas entre os mistérios de Eleusis e a Francomaçonaria. É indiscutível que o património ritual e simbólico da Ordem maçónica somente se harmoniza com a concepção mais antiga do fim da maçonaria; efectivamente, o testamento do candidato à iniciação, as viagens simbólicos, as terríveis provas, o nascimento na Luz iniciática, a morte e a ressurreição de Hiram, não podem compreender-se em relação com os trabalhos maçónicos e o fim da Francomaçonaria se tudo deve reduzir-se a não fazer outra coisa que política. Historicamente, o interesse e a intervenção da Francomaçonaria nas questões políticas e sociais não se manifesta mais do que até 1730, e unicamente em algumas regiões europeias, com a introdução da Franco-maçonaria inglesa no continente.

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O pouco que, por outra parte, se sabe das antigas lojas, de antes do século XVII, mostra a presença e o uso nos trabalhos maçónicos de um simbolismo de ofício, arquitectónico, geométrico, numérico, que, tendo por sua natureza um carácter universal, não se encontra ligado nem a uma civilização determinada nem a uma língua em particular e permanece independente de todo o credo de ordem política e religiosa; é por essa razão que o maçom, de acordo com o ritual, não sabe ler nem escrever. Com a lenda de Hiram e a construção do Templo, faz a sua aparição um elemento hebraico: as palavras sagradas do aprendiz e do companheiro (as únicas graduações ou graus então existentes) que se referem a esta lenda são hebraicas. Mas esta lenda não pertence ao património tradicional da Ordem; a morte de Hiram não figura nos antigos manuscritos maçónicos, e as Constituições de Anderson ignoram o terceiro grau. De qualquer forma não há nada de extraordinário na presença de elementos e palavras hebraicas numa época em que o hebraico era considerado como uma língua sagrada, a língua sagrada, aquela que Deus havia utilizado para falar com o homem no Paraíso Terrestre; trata-se de um facto cuja importância e significado não há que exagerar e que de nenhuma maneira basta para justificar a afirmação do carácter hebraico da Franco-maçonaria. A letra G do alfabeto greco-latino, inicial de geometria e de Deus (God) em inglês, que aparece na Estrela Flamígera ou no Delta maçónico, parece não ser senão uma inovação (sem utilidade para quem não sabe ler nem escrever), enquanto que os dois símbolos fundamentais da Ordem são os dois mais importantes do pitagorismo: a pentalfa ou pentagrama e a tetraktys pitagórica. A arte maçónica ou arte real, termos utilizados pelo neoplatónico Máximo de Tiro,6 era identificada com a geometria, uma das ciências do quadrivium pitagórico, e é difícil compreender como um Oswald Wirth, maçom erudito e hermetista, pôde escrever que os maçons do século XVII7 se proclamavam adeptos da Arte real porque noutro tempo houve reis que se interessaram na obra das privilegiadas corporações dos construtores da Idade Média. Os elementos de puro carácter maçónico constituem, junto com o simbolismo numérico e geométrico, o património simbólico e ritual arcaico e autêntico da fraternidade. Não dizemos o seu património característico, porque estes elementos aparecem também, ao menos parcialmente, na Companheirança8, demasiado próxima da Francomaçonaria. 6 Máximo de Tiro, Discours philosophiques, traducción Formey, Leyden, 1764: Discurso XI, pág. 173. 7 Cf. Oswald Wirth, Le Livre du Maître, 1923, pág. 7. 8 A “companheirança” provém dos construtores das catedrais medievais, cuja origem tradicional remonta ao templo de Salomão e às construções das pirâmides egípcias. São estes os "compagnons" fran-

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Posteriormente, entre os séculos XVII e XVIII, quando as lojas inglesas começaram a receber como irmãos os accepted masons, pessoas que não exerciam a profissão de arquitecto ou o ofício de pedreiro, fazem a sua aparição elementos herméticos e rosacrucianos, como por exemplo Elias Ashmole (16171692), tal como assinala Gould na sua história da Francomaçonaria. O contacto entre a tradição hermética e a maçónica fora de Inglaterra produz-se igualmente quase na mesma época, o que, evidentemente, implica a existência no continente de lojas maçónicas independentes da Grande Loja Inglesa. O frontispício de um texto hermético importante, editado em 16189, reproduz junto aos símbolos herméticos (a Rebis) os símbolos estritamente maçónicos do esquadro e do compasso; ocorre o mesmo num opúsculo italiano de alquimia10, impresso em lâminas de chumbo e que remonta praticamente a essa época.

ceses, os "knight of labour" (cavaleiros do trabalho) ingleses, e os "zimmerman" (carpinteiros) alemães. Em todas as construções tradicionais podem observar-se as marcas ou assinaturas que estes canteiros deixaram nas pedras esculpidas. (Nota do tradu-

tor).

Neste opúsculo vê-se, entre outras coisas, Tubalcaim com um esquadro e um compasso nas suas mãos. Ora bem, na Bíblia considera-se Tubalcaim como o primeiro ferreiro. Um erro de etimologia, naquele tempo muito frequente, ao qual retornou o erudito Vossius, identificou-o com Vulcano, o ferreiro dos Deuses e Deus do fogo, quem, segundo os alquimistas e os hermetistas, presidia o fogo hermético (o ardor espiritual), fogo que realizava a grande obra da transmutação. Numa das nossas obras de juventude11 demos uma interpretação errónea da palavra de passe Tubalcaim, pois ignorávamos a equívoca identificação de Vulcano com Tubalcaim aceite pelos hermetistas e eruditos dos séculos XVII e XVIII. Hoje parece-nos evidente que esta palavra de passe e algumas outras vêm do hermetismo, e que provavelmente foram introduzidas na Franco-maçonaria e incluídas nas palavras sagradas, constituindo provas do contacto que se havia estabelecido entre a tradição hermética e a maçónica. As palavras de passe do 2° e 3er grau não existem no ritual de Prichard (1730). Hermetismo e Maçonaria têm como fim a "grande obra da transmutação" e ambas as tradições transmitem o segredo de uma arte, a que designam com o termo de arte real, utilizado já por Máximo de Tiro. É pois natural que se tenham sentido muito próximas uma da outra. Observemos que a adopção do simbolismo hermético não se efectua em detrimento da universalidade maçónica nem da sua independência perante a religião e a política, pois o simbolismo hermético ou alquímico é, também, alheio pela sua natureza a todo o credo religioso ou político. A arte maçónica e a arte hermética, ou simplesmente a arte, é uma arte e não uma doutrina ou uma confissão.

Johannes Daniel Mylius, Basilica Philosophica, Francfort, 1618. Cf. Pietro Negri [= A. Reghini], Un codice plumbeo alchemico italiano, em UR, números 9 e 10, 1927. 11 Cf. A. Reghini, Le parole sacre e di passo ed il massimo mistero massonico, Todi 1922. 9

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Até 1717 cada loja, de facto, era livre e autónoma; os irmãos de uma oficina eram recebidos como visitantes nas outras oficinas na condição de satisfazerem as perguntas (uma espécie de exame que permitia reconhecer que um irmão o era na verdade); mas somente o Venerável de uma oficina detinha a autoridade única e suprema entre os irmãos da mesma. Em 1717, produz-se uma mudança, com a constituição da primeira Grande Loja, a Grande Loja de Londres, e pouco depois o pastor protestante Anderson redige as Constituições maçónicas para as Lojas sob a Obediência da Grande Loja de Londres; e, se bem que teoricamente uma oficina podia e pode conservar a sua autonomia ou aderir à Obediência de uma Grande Loja,12 na prática só se consideram hoje lojas regulares aquelas que, directa ou indirectamente, são emanações ou derivações da Grande Loja de Londres, no pressuposto de que esta derivação, e somente ela, possa conferir a "regularidade". Ora bem, é muito importante observar que as Constituições de Anderson afirmam explicitamente que para ser iniciado e pertencer à Franco-maçonaria a única condição é a de ser um homem livre de costumes irreprováveis, e exaltam (ao contrário das diversas seitas cristãs) o princípio da tolerância de cada um pelos credos dos demais, acrescentando somente que um maçom não será nunca um "ateu estúpido". Poderia pensar-se que Anderson admite que o francomaçom pode ser um ateu inteligente, mas é mais verosímil que, como bom cristão, pense que um ateu é obrigatoriamente um imbecil, segundo a máxima que disse: Dixit stultus in corde suo: Non est Deus, (O coração do estúpido diz: Deus não existe). Aqui, seria necessário fazer uma digressão e observar que nesta disputa tanto o que afirma como o que nega não possui em geral nenhuma noção de existir ou não aquilo que afirma e que a palavra Deus se emprega habitualmente num sentido tão vago que toda a discussão se torna inútil. Seja como for, as Constituições da Francomaçonaria são explicitamente teístas; e os profanos, que acusam a franco-maçonaria de ateísmo, ou bem o fazem por má fé ou ignoram que trabalha para a glória do Grande Arquitecto do Universo. Observemos ainda que esta designação, que se harmoniza com o carácter do simbolismo maçónico, tem igualmente um sentido preciso e inteligível, ao contrário de certas designações vagas ou carentes de sentido como as de "Nosso Senhor", "Pai de todos os homens", etc. 12

O. Wirth expressa categoricamente esta opinião, cf. Le Livre du

Maître, pág. 189.

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A qualidade de homem livre, exigida ao profano, para o iniciar, ou ao maçom, para o considerar como irmão, é de grande interesse. Anderson não deixa de chamar Francomaçons aos Free Masons, e não resta senão examinar em que consiste esse freedom dos Freemasons. Trata-se somente da prerrogativa económica e social que exclui os escravos e criados, e das liberdades e privilégios de que desfrutava a corporação dos franco-maçons perante os governos dos estados e das distintas regiões onde exercia a sua actividade? Ou essa denominação de maçons livres ou libertos deve tomar-se noutro sentido, o de pessoas que não são escravas dos preconceitos nem dos credos, liberdade que seria inútil trazer à luz? Se isto era assim, seria vão querer encontrar as provas documentais, e a pergunta ficaria pendente. Sem dúvida pode acrescentar-se um esclarecimento graças a um documento de 1509, cuja existência e importância não tem sido, segundo parece, valorizada até ao presente. Trata-se de uma carta escrita em 4 de Fevereiro de 1509 a Cornelius Agrippa pelo seu amigo italiano, Landolfo, para lhe recomendar um iniciado. Landolfo diz-lhe13: "É alemão como tu, originário de Nuremberga, mas vive em Lyon. Investigador curioso dos arcanos da natureza, é um homem livre , completamente independente dos demais, que deseja, por causa da reputação que já possuis, explorar também o teu abismo... Lança-o pois no espaço, para o provares; e levado nas asas de Mercúrio voa das regiões do Austro às do Norte; arranca também o ceptro de Júpiter; e se o nosso neófito quer jurar os nossos estatutos, associa-o à nossa fraternidade". Tratava-se de uma associação secreta hermética criada por Agrippa, e há uma evidente analogia entre a prova do espaço que deve confrontar o iniciado e as terríveis provas e viagens simbólicas da iniciação maçónica, inclusive se a prova, aqui, se faz nas asas de Hermes. Hermes Psicopompo, o pai dos filósofos segundo a tradição hermética, é o guia das almas no mais além clássico e nos mistérios iniciáticos. Também nesta carta, se refere a qualidade de homem livre, o suficiente para abrir ao profano a porta do templo que procura; também aqui, manifesta-se em substância o princípio da liberdade de consciência a par da tolerância. Ambas as tradições paralelas, hermética e maçónica, põem idêntica condição ao profano a iniciar, a de ser um homem livre; do que pode presumir-se que não se referia às exclusividades particulares das corporações de ofício, ou que, por outro lado, estivesse fora de questão exigir aos accepted Masons que não eram pedreiros de profissão senão franco-maçons. Cornelius Agrippa, Cartas. Cf. Também a monografia de A. Reghini, prefácio da versão italiana da Filosofia Oculta de Agrippa. 13

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O carácter fundamental das Constituições de Anderson reside pois no princípio da liberdade de consciência e de tolerância, que permite também aos não cristãos pertencer à Ordem. Nas Constituições de Anderson a Franco-maçonaria conserva o seu carácter universal, não está subordinada a nenhum credo filosófico particular nem a nenhuma seita religiosa, e não manifesta nenhuma inclinação por trabalhos de ordem social ou política; pode ser que este carácter aconfessional e livre tenha inspirado igualmente a Maçonaria anterior a 1717 e que Anderson não tenha feito mais do que ratificá-lo nas Constituições. Ao implantar-se na América e no continente europeu, a Franco-maçonaria conservou em geral o seu carácter universal de tolerância religiosa e filosófica e permaneceu alheia a todo o movimento político e social, incluso acentuando por vezes, como na Alemanha, o seu interesse pelo hermetismo. Por volta de 1740, começaram a multiplicar-se os novos ritos e os altos graus, mas conservando cuidadosamente os rituais e o rito dos três primeiros graus, os da verdadeira franco-maçonaria, chamada igualmente maçonaria simbólica ou azul. Os rituais de estes altos graus são muitas vezes um desenvolvimento da lenda de Hiram, ou relacionam-se com os Rosacruzes, o hermetismo, os Templários, o gnosticismo, os Cátaros..., e não têm já um autêntico carácter maçónico; do ponto de vista da iniciação maçónica, são absolutamente supérfluos. A Franco-maçonaria está completa nos três primeiros graus, reconhecidos por todos os ritos, e sobre os quais se baseiam os altos graus e as lojas superiores dos diferentes ritos. O companheiro franco-maçom, uma vez que chegou a mestre, terminou simbolicamente a sua grande obra. Os altos graus só poderiam ter uma função verdadeiramente maçónica se contribuíssem para uma interpretação correcta da tradição maçónica e para uma compreensão e aplicação mais inteligente do rito, quer dizer da arte real. Desde logo isto não significa que haja que abolir os altos graus, já que os irmãos que com eles estão decorados são livres, e que quem gosta de reunir-se em ritos e corpos para efectuar trabalhos que não se opõem às obras maçónicas deve ter a liberdade de o fazer. Sem dúvida, do ponto de vista estritamente maçónico, a sua pertença a outros ritos e a outras lojas superiores não os põe por cima dos mestres que não experimentam outra necessidade que não seja efectuar o trabalho da maçonaria universal dos três primeiros graus. Além disso, é evidente que ritos distintos como o de Swedenborg, os Escoceses, os da Estrita Observância, de Memphis..., ao ser diferentes, já não são universais, ou não o são mais do que a medida em que se baseiam, sobre os três primeiros graus. Esquecê-lo ou tentar desnaturalizar o carácter universal, livre e tolerante da Francomaçonaria, para impor aos irmãos das Lojas pontos de vista ou objectivos particulares, seria ir contra o espírito da tradição maçónica e contra a letra das Constituições da Fraternidade.

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É em França que aparece a primeira alteração, ao mesmo tempo que o florescimento dos altos graus. A efervescência das ideias nessa época, o movimento da Enciclopédia, repercute na Franco-maçonaria que se difunde ampla e rapidamente; e pela primeira vez, o interesse da Ordem dirige-se e concentra-se nas questões políticas e sociais. Afirmar que a revolução francesa seja obra da Franco-maçonaria parece-nos, no mínimo, exagerado; pelo contrário, é inegável que a franco-maçonaria sofreu em França, e teria sido difícil que isso não ocorresse, sob a influência do grande movimento profano que conduziu à revolução e culminou no império. A Franco-maçonaria francesa passou então e continuou sendo, desde esse momento, uma maçonaria comprometida e interessada nas questões políticas e sociais; alguns quiseram considerá-la como "tradicional" quando, no máximo, representa a tradição maçónica francesa, muito distinta da antiga tradição. Este desvio e este compromisso é a causa principal, se não a única, da oposição que seguidamente nasceu entre a maçonaria anglo-saxónica e a francesa; em Itália, criou as divergências destes últimos cinquenta anos, que tiveram como consequência a sua desunião e o debilitamento ante os ataques e a perseguição dos jesuítas e dos fascistas. Seja como for, mesmo os irmãos que seguem a tradição maçónica francesa não se esqueceram do princípio de tolerância, e nas lojas maçónicas italianas, muito antes da perseguição fascista, havia irmãos de todas as crenças religiosas e de todos os partidos políticos, incluindo católicos e monárquicos. Há que recordar também que no período prévio à revolução francesa, nem todos os maçons esqueceram a verdadeira natureza da Franco-maçonaria, mesmo quando ficaram desorientados pelo cortejo de ritos diversos e opostos. No Convento dos Philalèthes reuniram-se maçons de todos os ritos, animados todos eles pelo mesmo desejo de restabelecer a unidade. Só Cagliostro, que havia fundado o rito da Maçonaria Egípcia, que unicamente constava de três graus, e era exclusivamente dedicada à obra de edificação espiritual, se negou a comparecer neste Convento por razões cuja exposição seria demasiado extensa. A influência maçónica francesa afirmou-se também em Itália, depois da revolução e durante o império. Ainda hoje, a presença de certos termos técnicos nos "trabalhos" maçónicos, como o "malhete" do Venerável (traduzido em italiano literalmente por "maglietto") assim como outros termos (louveton, tradução fonético-semantica de Lufton, filho de Gabaón, nome genérico do maçom segundo os primeiros rituais ingleses e franceses) são prova de isso.

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O “Athanor” do V Império – Boletim Mensal de Temática Esotérica – Ed. n.º 4 – Domingo, 04.06.2006

A franco-maçonaria francesa e a italiana tiveram estreitas relações durante todo o ultimo século, e por vezes uma atitude revolucionária, republicana, mas também materialista e positivista que seguia a moda filosófica da época. Não se pode dizer, sem dúvida, que a franco-maçonaria italiana se converteu numa franco-maçonaria materialista, pois se bem que foi sempre tolerante ante todas as opiniões, nem por isso deixou de venerar, e muito particularmente, a um grande espírito como Giuseppe Mazzini e aos grandes francomaçons como Garibaldi, Bovio, Carducci, Filopanti, Pascoli, Domizio Torrigiani, e Giovanni Amendola, todos idealistas e espiritualistas.14 Foi o selvajismo furioso e o vandalismo dos incultos fascistas o que devastou os nossos templos, as nossas bibliotecas e partiu os bustos de Mazzini e Garibaldi que decoravam as nossas sedes. Por outro lado há que reconhecer que se a francomaçonaria inglesa conservou sempre um carácter espiritualista e nunca lhe ocorreu negar a existência do Grande Arquitecto do Universo, frequentemente esteve tentada, e ainda o está, a conferir um certo tom cristão ao seu espiritualismo, afastando-se dessa forma do espírito de imparcialidade absoluta e não confessional das Constituições de Anderson. Não se pode negar que o facto de obrigar a prestar juramento sobre o Evangelho de São João não é uma prova de tolerância ante profanos e irmãos agnósticos ou pagãos, judeus ou livre pensadores, que não têm uma especial simpatia pelo Evangelho de São João e ignoram tudo da tradição joanista. A intolerância acentua-se com o mau costume de infligir a leitura e o comentário dos versículos do Evangelho durante os trabalhos da Loja. Se este hábito criticável adquire importância, terminará por reduzir os trabalhos da Loja a um simples serviço religioso corriqueiro ou puritano, a uma espécie de "rosário" ou de "vésperas" fastidiosas, inúteis e insuportáveis para a livre consciência de tantos irmãos que, em Inglaterra e na América, não vão à missa, nem aceitam a infalibilidade do papa, como tampouco a autoridade da Bíblia. É necessário criar mal-estar e irritação nas nossas colunas sem uma contrapartida apreciável? Pode acreditar-se que por esses meios se converterá os outros às próprias crenças e que dessa forma se conterá o agnosticismo inglês e americano?

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Giuseppe Mazzini (1805-1872), fundador da "Jovem Itália" (sociedade secreta que trabalhava para o estabelecimento da república em Itália). Giuseppe Garibaldi (1807-1882), patriota italiano que lutou para libertar a Itália do domínio austríaco, dos Borbõns (reino das Duas Sicílias) e finalmente do papado. Giovanni Bovio (1841-1903) filósofo e homem político radical de esquerda. Giosue Carducci (1835-1907) poeta. Quirico Filopanti (1812-1894) patriota e universitário. Giovanni Pascoli (1855-1912) poeta. Domizio Torrigiani (1879-1932). Giovanni Amendola (1882-1926) homem político, filósofo fundador do Movimento União Democrática Nacional.

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Estas considerações exortam a conservar o carácter universal da Franco-Maçonaria por cima dos credos religiosos e filosóficos e dos compromissos políticos. Isto não significa que se deva ignorar a política. Com efeito, há que proteger-se dela. A intolerância não pode abrir o campo à tolerância e a tolerância pode tolerar tudo excepto a intolerância deliberadamente hostil. Desde o momento em que apareceram as Constituições de Anderson com o seu princípio de liberdade e de tolerância, a Igreja católica excomungou a Francomaçonaria, culpável precisamente de tolerância; e o encarniçamento contra a Franco-maçonaria já nunca seria desmentido. Em Itália, a perseguição à Franco-maçonaria durante estes últimos vinte anos foi começada e mantida pelos jesuítas e os nacionalistas15; enquanto os fascistas, para ganharem a simpatia destes senhores, não vacilaram em provocar a aversão do mundo civilizado, no que respeita a Itália, com o seu vandalismo contra a Franco-maçonaria. Os jesuítas perderam esta guerra; mas a lepra da intolerância propaga-se sempre, reveste novas formas e é necessário proteger-mo-nos dela. Por outro lado, chegou a hora, se não nos enganamos, de difundir a Franco-maçonaria por toda a Terra e estabelecer uma fraternidade entre os homens de todas as raças, civilizações e religiões; para levar a bom termo esta tarefa, é necessário que a Franco-maçonaria não assuma uma fisionomia e um tom que não pertencem mais que a uma minoria perante a qual as grandes civilizações orientais, China, Índia, Japão, Malásia, o mundo do Islão, se têm mostrado refractárias. A coisa é possível enquanto a Franco-maçonaria não se circunscreva a uma crença qualquer e permaneça fiel ao seu património espiritual, que não consiste nem numa fé codificada, um credo religioso ou filosófico, um conjunto de postulados ou de preconceitos ideológicos e moralistas, nem numa bagagem doutrinal considerada detentora e portadora da verdade, à qual se deva converter os não crentes. Há que pensar que, ainda se a verdadeira religião e a verdadeira filosofia existem, é uma ilusão crer que se as pode conquistar ou comunicar mediante uma conversão, uma confissão ou o recitar de certas fórmulas, porque cada qual entende as palavras destes credos e fórmulas à sua maneira, de acordo com a sua civilização e a sua inteligência; e no fundo, não são, como dizia Hamlet, senão "words, words, words".

Cf. Os artigos de Emilio Bodrero em Civiltà cattolica, órgão da Companhia de Jesus, e em Roma Fascista, jornais; cf. Também Ignis e Rassegna Massonica, ano 1925. 15

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Enquanto não se reflecte nisto, tem-se a ilusão de que essas palavras se compreendem de igual maneira; tão pronto como se começa a raciocinar, surgem seitas e heresias, cada uma persuadida de que detém a verdade. A sabedoria não pode Já ser compreendida racionalmente, nem expressada, nem comunicada; é uma visão, uma vidya, essencial e necessariamente indeterminada, incerta; e, quando os olhos se abrem à luz com o nascimento na nova vida, aproximamo-nos a essa visão. A arte maçónica ou arte real é a arte de trabalhar a pedra bruta para tornar possível a transmutação humana e a percepção gradual da luz iniciática. O que não significa, naturalmente, que a Francomaçonaria tenha o monopólio da arte real. No decurso dos dois últimos séculos a maior parte dos inimigos da Franco-maçonaria recorreram sistemática e unicamente à injúria e à calúnia, apoiando-se em sentimentos moralistas e patrióticos. Afirmou-se assim que os trabalhos maçónicos consistiam em orgias abomináveis, e com isso se tem manipulado os rituais, se tem desvelado as cerimónias maçónicas pondoas ao ridículo, se tem acusado os maçons de atraiçoar a sua pátria pelo carácter internacional da Ordem, se tem afirmado que a Franco-maçonaria não é outra coisa que o instrumento dos judeus, sempre para enganar e alçar os crentes e o público em geral contra a "Sociedade Secreta". Os franco-maçons, naturalmente, sabiam muito bem que não se tratava mais que de calúnias; e, como nada conseguia convencê-los, pensou-se em suprimi-los ou em retirar-lhes a possibilidade de reunir-se para trabalhar, ou de responder e defender-se. Recentemente, um escritor católico16 publicou um estudo histórico sobre ”Tradição Secreta”; conduzido com competência e habilidade; as habituais e costumeiras calúnias, destinadas a impressionar os profanos, foram habilmente substituídas nele por uma crítica insidiosa, destinada a impressionar o leitor culto e o espírito dos nossos irmãos. Esta crítica afirma que o fundo da tradição secreta não contém senão o vazio absoluto (pág. 139) e conclui afirmando que "na Escola Iniciática ou por meio dela a Tradição Secreta não tem ensinado absolutamente nada à humanidade" (pág. 155). Não se compreende muito bem então como pode afirmar-se igualmente que este vazio absoluto, "esta tradição secreta coincide (pág. 141), ainda quando frequentemente seja de uma forma corrompida, com as doutrinas gnósticas", mas não pretendamos demasiado. A Franco-maçonaria é pois, segundo o autor, uma esfinge sem segredo dado que não ensina nenhuma doutrina; desse modo o leitor se vê levado a concluir que ao estar desprovida de conteúdo, a Maçonaria não tem nenhum valor. 16

Cf. Raffaele Del Castillo, La tradizione segreta, Milão 1941.

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Nas páginas que precedem temos mostrado que a Francomaçonaria não ensina nenhuma doutrina e não deve ensiná-la, enfatizando que esta atitude é um dos seus méritos. Ora bem, para chegar a concluir que a Tradição secreta contém o vazio ao não conter uma doutrina, há que crer que somente uma doutrina pode ocupar o vazio. Na página 153, o autor afirma, contudo: "o sistema iniciático supõe que o homem possa chegar a compreender por um esforço da inteligência os problemas inexplicados do cosmos e do mais além"; na página 152 escreve: "a Igreja católica opõe às vãs elucubrações dos que se autodenominam iniciados, a força intangível do seu dogma que deve ser único porque não podem existir duas verdades" e que o sistema iniciático é incompatível com o cristianismo. A estas afirmações respondemos que ignoramos a existência de um sistema iniciático, que não conhecemos iniciados que façam suposições, e ainda menos que se façam ilusões sobre a possibilidade de resolver por meio da sua inteligência ou de elucubrações os problemas inexplicados; mas é-nos impossível admitir que a fé num dogma possa constituir um conhecimento, pois saber não é crer. De facto compreendemos que a verdade é necessariamente inefável e indizível; deixamos aos profanos a consoladora e ingénua ilusão de crer que é possível formular de alguma maneira esta verdade e este conhecimento em credos, fórmulas, doutrinas, sistemas e teorias. Para mais, até Jesus sabia que as suas parábolas não eram mais que parábolas; mas dizia também aos seus discípulos que a eles "lhes era dado entender o mistério do reino dos céus". Evidentemente sola fides sufficit ad firmandum cor

sincerum , mas non sufficit para entender os mistérios. O que é igualmente válido para o simples raciocínio. Com isto não queremos diminuir de nenhuma maneira o valor da fé e do raciocínio; a fé isolada conduz ao desespero filosófico; e ambos são um pouco como o tabaco e o café: dois venenos que se compensam; mas desde logo não basta fumar com cachimbo e degustar um café para elevar-se ao conhecimento. Ao conhecimento multi vocati

sunt , mas não todos; e, entre estes muitos, pauci electi sunt ; segundo a Igreja católica, pelo contrário, é suficiente ter fé no Dogma, e o conhecimento e o paraíso estão ao alcance de todos os bolsos a preços realmente insuperáveis.

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Resumimos: Não existe uma doutrina maçónica secreta17; mas existe uma arte secreta, chamada arte real ou mais simplesmente Arte; é a arte da edificação espiritual a que corresponde a arquitectura sagrada. Os instrumentos maçónicos têm pois um sentido figurado na obra da transmutação, e ao segredo da arte real corresponde o segredo arquitectónico dos construtores das grandes catedrais medievais. É natural que os franco-maçons venerem o Grande Arquitecto do Universo, ainda que não se defina o que há que entender por esta designação. Na arquitectura antiga, especialmente na arquitectura sagrada, as questões de relação e proporção tinham uma importância capital; a arquitectura clássica regulava a proporção das diferentes partes de um edifício, e em particular dos templos, baseando-se num módulo secreto ao qual alude Vitruvio; existe toda uma literatura referente à arquitectura egípcia e sobretudo à pirâmide de Kéops, que ilustra o seu carácter matemático; e procedendo inclusivamente com a maior circunspecção, é certo, por exemplo, que esta pirâmide se encontra exactamente a 30° de latitude para formar com o centro da terra e o pólo Norte um triângulo equilátero; é certo que está perfeitamente orientada e que a face voltada para o setentrião é exactamente perpendicular ao eixo de rotação terrestre, em função da posição que este tinha na época da sua construção. Quanto aos construtores da Idade Média, não os guiava somente uns critérios estéticos; preocupavam-se com a orientação da igreja, com o número de naves, etc.; a arte dos construtores estava em relação com a ciência da geometria. O esquadro e o compasso são os dois símbolos de ofício fundamentais na arte maçónica; e a régua e o compasso os dois instrumentos fundamentais na geometria elementar. A Bíblia afirma que Deus fez omnia in numero, pondere et mensura; os pitagóricos criaram a palavra cosmos para indicar a beleza do universo no qual reconheciam uma unidade, uma ordem, uma harmonia, uma proporção; e entre as quatro ciências liberais do quadrivio pitagórico, a aritmética, a geometria, a música e a estética, a primeira estava na base de todas as demais.

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O. Wirth já tinha dito a mesma coisa em 1941: "Como o método iniciático se nega a inculcar o que quer que seja, apenas é admissível que se tenha ensinado uma doutrina positiva no seio dos Mistérios", no Livre du Maître, pág. 119. Del Castillo mantém, pelo contrário – y sem nenhuma prova – que a Maçonaria pretendeu ensinar uma doutrina secreta, e constata que não se encontra traça desta doutrina positiva. Em vez de reconhecer que o seu ponto de vista não é demonstrável, acusa a Maçonaria de ser redundante e incapaz. O vos qui cum Jesu itis, non ite cum Jesuitis.

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Dante comparava o céu do Sol com a aritmética porque "como da luz do Sol todas as estrelas se iluminam, assim da luz da aritmética se iluminam todas as ciências" e do mesmo modo "que o olho não pode olhar o sol, assim o olho do intelecto não pode ver o número que é infinito"18. Sem entrar na crítica desta passagem, não deixa de ficar estabelecida a posição que ocupa a Aritmética segundo Dante. Por outro lado, tanto a Bíblia como a arquitectura aconselhavam considerar os números. Hoje em dia, ainda que negando-se a reconhecer no cosmos uma unidade, uma ordem, uma harmonia, uma lei, e não aceitando mais que o determinismo limitado pela lei das probabilidades, a física moderna continua limitando-se a considerar os números e as relações numéricas; de facto não restam senão eles, e tanto Einstein como Bertrand Russell constataram e reconheceram que a ciência moderna voltava ao pitagorismo. Assim pois, não há nada surpreendente em que os francomaçons tenham identificado a arte arquitectónica com a geometria e tenham dado ao conhecimento dos números uma tal importância que lhes justifica a sua pretensão tradicional de ser os únicos a conhecer os "números sagrados". Mas ainda temos que fazer algumas observações. A geometria na sua parte métrica, quer dizer nas medidas, exige o conhecimento da aritmética; ora bem, antigamente a acepção da palavra geometria era menos específica do que hoje, e geometria significava genericamente toda a matemática; assim a identificação da arte real com a geometria, tradicional na Franco-maçonaria, não se refere à geometria tomada no seu sentido moderno, mas também à aritmética. Além disso, devemos observar que a relação entre geometria, arte real da arquitectura e edificação espiritual, é a mesma que inspira a máxima platónica: "Que ninguém entre aqui se não é geómetra". Máxima de uma atribuição algo duvidosa, pois não é referida mais do que por um comentarista bastante tardio; mas em obras que indiscutivelmente são de Platão podemos ler: "...a geometria é um método para dirigir a alma até ao ser eterno, uma escola preparatória para um espírito científico, capaz de voltar as actividades da alma para as coisas supra-humanas", [...] "é incluso impossível chegar a uma verdadeira fé em Deus se não se conhece a matemática, a astronomia e a íntima união desta ultima com a música"19. 18 "come del lume del Sole tutte le stelle si alluminano, così del lume dell’aritmetica tutte le scienze si alluminano [...] che l’occhio dell’intelletto non può mirare [...] il numero [...] è infinito". Dante, O Banquete, II, XIII, 15 e 19. 19 Gino Loria, Le scienze esatte nell’antica Grecia, 2ª edição, Milão 1914, pág. 110.

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Esta concepção e atitude de Platão serão as da Escola Itálica ou pitagórica, que exerceu sobre ele uma grande influência, o que permite dizer quando se quer admitir que a Maçonaria se inspirou em Platão, que em ultima análise, se volta sempre à geometria e à aritmética dos pitagóricos. O vínculo entre a Franco-maçonaria e a Ordem pitagórica, sem que se trate de uma derivação histórica ininterrupta, senão somente de uma filiação espiritual, é seguro e manifesto. O Arcipreste Domenico Angherà, no prefácio que escreveu para a reedição dos Estatutos gerais da Sociedade dos Franco-maçons do Rito Escocês Antigo e Aceite (1874), que já tinham sido publicados em Nápoles em 1820, afirma categoricamente que a Ordem Maçónica é idêntica à Ordem pitagórica; mas sem irmos tão longe, a afinidade entre ambas as ordens é certa. A arte geométrica da Franco-maçonaria, em particular, provém directa ou indirectamente da geometria e da aritmética pitagóricas; e não é anterior, porque os pitagóricos foram os criadores destas ciências liberais, segundo o que pode deduzir-se historicamente e a partir dos testemunhos de Proclo. "À parte de algumas propriedades geométricas atribuídas, sem dúvida equivocadamente, a Tales, a geometria, diz Paul Tannery, brotou completa do cérebro de Pitágoras tal como Minerva saiu inteiramente armada do de Júpiter; e os Pitagóricos foram os primeiros a estudar a aritmética e os números". Para estudar as propriedades dos números sagrados dos Franco-maçons e a sua função na Franco-maçonaria, a via que se oferece por ela mesma é pois a do estudo da antiga aritmética pitagórica; e estudá-la tanto sob o ponto de vista aritmético ordinário como do da aritmética simbólica ou formal, como lhe chama Pico de Mirándola, corresponde à realização filosófica e espiritual que Platão atribui à geometria. Ambos os sentidos se encontram estreitamente ligados no desenvolvimento da aritmética pitagórica. A compreensão dos números pitagóricos facilitará a dos números sagrados da Maçonaria.

(Tradução para português e inserção de imagens pelo R∴IR∴ APOLÓNIO ALAGNI)

Período Anual de Influência Terrena da Deusa Egípcia Ísis PELO R ∴ IR ∴ GERVÁSIO SEQUEIRA Dotada de grandes poderes, a deusa Ísis era irmã e mulher de Osíris. Era também protectora das crianças.

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A sua influência terrena, segundo a tradição, faz-se notar no período compreendido entre 16 de Junho e 15 de Julho, e dota, os que nasceram neste período, de grande sensibilidade, imaginação fértil, acentuados instintos maternais/paternais, desejo e disponibilidade para ajudar os outros, fidelidade amorosa, pureza de sentimentos, compreensão, tolerância, gentileza, ausência de ócio, gosto pela vida doméstica, excelentes qualidades morais, perfeito discernimento e justa capacidade para julgar os outros. Estas pessoas não atraem aborrecimentos à sua vida pessoal, e por isso os aborrecimentos dos outros podem produzirlhes algum mau humor, o qual disfarçam, fechando-se e tornando-se tímidos, introvertidos e “antipáticos”. A sua conduta é marcada pela pureza. São ingénuos, aos olhos dos outros. Esta pureza pode levá-los a grandes decepções e torná-los desconfiados, fazendo-os isolar-se do mundo, como forma de protecção. Na sua natural superioridade consideram-se inferiores e são complexados. São bons em todas as profissões onde a precisão e a meticulosidade manual são a regra, sendo muito disciplinados e bons administradores. Podem ser excelentes terapeutas. “Saber”; é sempre bom; “acreditar”, só às vezes!

Efemérides Maçónicas Pelo facto do R∴IR∴ JOSÉ MELO BRÁS se encontrar em Férias, não serão publicadas, neste número, as habituais Efemérides Maçónicas do mês.

Que o Soberano Arquitecto dos Mundos nos permita viver a nossa existência nas mais absolutas condições de harmonia, amor, verdade e justiça. 4 de Junho de 2006

O∴M∴M∴M∴ L∴ V Imperivm

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