2ª Edição Eletrônica VILMA MATOS AUTORA
Capa e Edição Eletrônica: L P Baçan Outubro de 2009 Direitos exclusivos para língua portuguesa: Copyright © 2009 da Autora Autorizadas a reprodução e distribuição gratuita desde que sejam preservadas as características originais da obra. http://www.avllb.org
A OUTRA FACE Texto publicado na VII coletânea da Academia de Letras do Estado do Ceará ALMECE, em 2009
Camille sai de casa quase sempre às sete horas, retornando somente, depois da faculdade. Por morar longe prefere ficar o dia toda na empresa, uma das 150 melhores para se trabalhar, segundo pesquisa divulgada na Revista EXAME, do que enfrentar o estresse do trânsito, na hora do almoço. Antes de sair de casa, Camille põe na bagagem de mão tudo que utilizará durante o dia, por vezes, esquece o celular ou até mesmo a bolsa, mas nunca deixa de levar consigo coragem, boa vontade para desenvolver tarefas diárias ou eventuais, bem como uma porção de bálsamo do amor para distribuir, por onde passar. O importante é oferecer o que se tem de melhor e mais precioso, muito embora, alguns não estejam propícios a recebê-lo, isso acontece pelo simples fato de que, o ser humano ainda se encontra preso às suas próprias frustrações e não percebe que pensamentos positivos e boas palavras, podem ampliar nossa visão durante a caminhada “pelas estradas da vida”. Um leve sorriso nos lábios transparece no rosto de Camille, marcas que somente o tempo consegue deixar no rosto de uma mulher. Seus olhos refletem o brilho e a simplicidade de sua alma, em busca de outras que guardem os segredos da arte do viver em paz consigo e com o próximo. Dizem que o olhar transmite a verdadeira linguagem da alma e do espírito. Estar na empresa, antes das oito horas era meta diária de Camille, mas quase sempre havia alguém que chegava primeiro. Naquele dia, ela entrou no elevador, cantarolando para alegrar aquele salutar e abençoado dia de trabalho. Do estacionamento ao andar em que Camille trabalhava, ela caminhava cerca de dez minutos e durante o percurso encontrava colegas que também
gostavam de chegar cedo. Por ser uma apaixonada por gente, ela os saudava com um alegre “bom dia!” Alguns lhe respondiam com o mesmo entusiasmo e simpatia, outros apenas mecanicamente e ainda existiam aqueles que além de não responderem, olhavam-na com a cara sisuda... Talvez, nem lembrassem que sorriso não se vende, ganha-se, e quem quiser dar “um sorriso” fará com que o seu seja multiplicado. Esta é apenas mais uma das inúmeras operações que se pode realizar, com o emprego da matemática do amor que, ao mesmo tempo e proporção que se divide também se multiplica. É lei natural da vida (lei do retorno). Ainda no elevador viu entrar um jovem. Ele tinha o olhar distante e direcionado para o horizonte, ou melhor, para a beleza que se podia apreciar através do elevador panorâmico. Imaginava-se que sua alma não estava ali, junto ao seu corpo físico, por sua expressão fisionômica, dava para jurar que estava acessando outras dimensões astrais. A rigidez de seu corpo, de seus gestos eram perceptíveis, ele transmitia uma sensação de fadiga, de cansaço, parecia carregar em seus ombros o peso do mundo e não, simplesmente, o de sua própria história de vida. Era inacreditável que um jovem daquela idade (uns 21 anos), bonito, talvez bem sucedido no trabalho e nos estudos, mantivesse sua alma presa a algo que por ventura lhe tenha ocorrido no passado. Não, não tinha nada a ver com o jovem que Camille costumava admirar, quando com vigor, descia e subia correndo as escadas do prédio velho, em que trabalhavam. Alguma coisa tinha, naquela manhã de sol ardente, ofuscado o seu brilho, empanado a sua beleza peculiar. Após esta silenciosa análise, Camille, impulsivamente chamou-lhe atenção, com a pergunta: ”O que você acha de ter hoje, um lindo dia?” O jovem se assustou e, saindo de seu transe matinal se mostrou surpreso com aquela forma de abordagem. Esboçando um sorriso encantador, disse: “Desculpe-me eu estava distraído.”
Passados alguns dias, Camille estava sozinha na copa, quando de repente alguém entra. Era aquele jovem que, mais uma vez não a cumprimenta. Camille olhou fixamente para ele e pensou: “hoje ele está ‘mais lindo do que nunca’. Contudo, seu olhar continuava opaco e perdido, parecendo não pertencer a este planeta. Será ele um anjo arrependido de ter descido à terra para ajudar os pobres mortais?” Naquele instante, a mente de Camille foi povoada por mil pensamentos incabíveis e sem nexos. Antes que ele se servisse de água ou café, interpelou-o: - O que você acha de ter uma linda tarde? O rapaz sorriu e desta vez mostrou toda sua luminosidade e encanto. Abraçou Camille e lhe pediu desculpas... No dia seguinte, ainda pela manhã, Camille foi surpreendida, em seu local de trabalho, pela presença de seu “anjo amigo” que, com um sorriso encantador ofereceu-lhe um solitário de vidro, dentro uma flor, (a beleza de ambos se misturavam, o que tornava aquele momento especial e místico), em seguida, explicou-lhe que aquele mimo era para lhe mostrar que não era mal educado. O momento merecia ser registrado, pois os dois estavam estreitando espaço e apertando laços afetivos. Por trabalharem no mesmo andar, desde então, tornou-se um hábito para Camille ir até seu novo amigo, desejar-lhe um bom dia, dar-lhe e receber um abraço, totalmente energizado com a força e o poder da verdadeira amizade.
Vilma Matos Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará – ALMECE Autora do livro Odisséia em Ulisséia Fortaleza, 20 de janeiro de 2009.
VILMA MATOS Maria Vilma Matos Peixoto nasceu em 18/11/62, em Crateús, pequena cidade do interior do Estado do Ceará - Brasil, filha de João Marques Barbosa e Maria da Conceição de Matos. Aos 18 anos foi morar em Brasília - DF, oportunidade em que trabalhou como recepcionista de anúncios fonados, no Jornal de Brasília, sito no Setor Gráfico. Retornou a sua cidade natal em 1982, onde concluiu o 2º Grau, ministrou cursos de datilografia na sede do Lions Clube de Crateús, patrocinados pela antiga LBA, SENAC, MOBRAL e outros. No início de 1985, foi morar com seus primos em Fortaleza, capital do Estado, em busca de realizar seus sonhos. Desejava arranjar um bom emprego e ingressar na faculdade de Direito. Em setembro do mesmo ano, conseguiu o emprego sonhado, onde permanece até hoje. Posteriormente, ingressou na Faculdade de Pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acaraú, curso este já concluído. Foi nas dependências da faculdade que seu interesse pela poesia foi aguçado, visto que desde a adolescência cultivava o gosto pela escrita. Como resultado de um trabalho literário na Disciplina "Prática do Ensino" , a poeta criou sua primogênita poesia, entitulada "Ética Pedagógica". O resultado foi tão extasiante e apreciado, que não mais parou de compor. A poeta fala fluentemente Espanhol e está cursando Inglês. Sendo adepta da Doutrina Espírita, acredita na reencarnação e consequentemente na reforma íntima do ser humano.