Boletim
Informativo da Secretaria de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
No 2 Abril de 2009
As cúpulas dos grandes e a movimentação dos povos
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á se sabia que a reunião do G-20 ia dar em quase nada. Uma apagada e vil tristeza, como diria o escritor português Gil Vicente, é o estado de ânimo que caracteriza os principais centros econômicos e financeiros, assim como governos e chancelarias dos países imperialistas, o que se reflete no vazio das intenções vazadas no comunicado conjunto. O mundo capitalista-imperialista encontra-se mergulhado em profunda crise e fica mais uma vez patente que esta não é de fácil solução. É que se os problemas de fundo e estruturais não forem enfrentados, os pacotes trilionários e as medidas de reforço dos organismos financeiros internacionais resultam inócuos. O Brasil, a China e a Rússia, países continentais, de grandes economias tentaram cumprir o papel que lhes cabe. Empenhados em neutralizar em alguma medida os efeitos mais deletérios da crise e contornar o perigo de eclosão de uma crise social, usaram o G-20 como tribuna, para cada um à sua maneira, denunciar o caráter da crise e responsabilizar quem de fato tem culpa no cartório – os países imperialistas, à frente os EUA. A China, apoiada pela Rússia, propõe nova moeda de reserva internacional, pondo a nu a fragilidade do dólar, sintoma incontornável do declínio histórico do imperialismo estadunidense. A reunião de Londres pôs a descoberto as contradições interimperialistas entre a França e a Alemanha, por um lado, e os Estados Unidos, por outro. O G-20 não tinha como oferecer soluções para a crise. Até agora a crise tem ignorado os pacotes salvacionistas. Tudo indica estar-se diante de sintomas realmente muito graves e frases de efeito
Arquivo CTB
como “combater os excessos do mercado”, “adotar mecanismos de regulação”, e “refundar o capitalismo” não vão adiantar muita coisa. Por outro lado, o G20 é mais um desses engendros que aparecem no cenário internacional com o fito de estabelecer algum mecanismo multilateral de consulta e inter- Nos últimos dias 30 de março e 1o de abril, centenas de venção. Desta feita, à di- milhares de trabalhadores foram às ruas em várias partes ferença do G7/G8, não do mundo para protestar contra a tentativa de jogar sobre apenas entre as potênci- os ombros dos trabalhadores e dos povos os efeitos da crise as imperialistas, mas permitindo também a presença dos chamados países emergentes. e no dia da cúpula. Da parte do povo brasileiro e de suas Além da reunião do G-20, nos últiforças políticas progressistas, não nutri- mos dias realizou-se outra cúpula de chemos qualquer ilusão de que os interesses fes de estados, desta feita com sentido nacionais e populares irão prevalecer em geopolítico, e militar. Trata-se da cúpula tal cenário. Nossa voz poderá ser escuta- da OTAN - Organização do Tratado do da entre os povos do mundo, mas no ce- Atlântico Norte, braço armado do impenário do G-20 faz-se muito pouco caso rialismo norte-americano no continente do que venhamos a dizer, apesar do “Eu europeu, instrumento agressivo voltado te adoro” declarado por Obama a Lula. para sufocar as lutas dos povos não só na Sem ignorar a importância da diploma- Europa, mas em toda a parte segundo a cia e das brechas que as disputas e con- nova concepção estratégica. A OTAN flitos internacionais abrem, sabemos que hoje está bem presente nas ocupações do as grandes conquistas nacionais e popu- Iraque e do Afeganistão. Segundo prolares serão arrancadas em outros cenári- posta do presidente estadunidense Barak os de luta e através de outros conteúdos Obama, é necessário incrementar a pree formas. Nos últimos dias 30 de março sença da OTAN no país centro-asiático. e 1o de abril, centenas de milhares de Isto mostra que o militarismo continua trabalhadores foram às ruas em várias sendo a principal vertente da política do partes do mundo para protestar contra a imperialismo. tentativa de jogar sobre os ombros dos Neste contexto, ganha relevo a realitrabalhadores e dos povos os efeitos da zação dos eventos organizados em Belcrise. Na própria Londres ocorreram ve- grado, Estrasburgo e Buenos Aires pelo ementes protestos de massas na véspera Conselho Mundial da Paz, os quais resultaram não só numa viva denúncia das políticas de guerra do imperialismo, mas "A China, apoiada pela Rússia, propõe nova moeda de reserva também num vigoroso chamamento aos povos para a luta pela paz, numa persinternacional, pondo a nu a fragilidade do dólar, sintoma pectiva antiimperialista. incontornável do declínio histórico do imperialismo estadunidense"
Atividade internacionalista começa a todo vapor em 2009
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primeiro trimestre de 2009, refletindo o adensamento da atividade internacionalista do PCdoB nos últimos anos, começou a todo vapor, com o envio de diversas delegações internacionalistas ao exterior. O ano começou com a participação do Partido na Festa dos Abraços, tradicional evento anual organizado pelo Partido Comunista Chileno, no Parque O’Higgins, em Santiago do Chile, desde ainda antes do fim da ditadura, em 1988. Este ano, a Festa, realizada de 9 a 11 de janeiro, na qual comparecem mais de 20 mil pessoas teve uma particularidade: o lançamento de Guilhermo Teillier, presidente do PC, como candidato à presidência da República, nas eleições de dezembro próximo. No ato de lançamento, um comício com mais de dez mil pessoas, tiveram a palavra, além do candidato, o PC Cubano e o PCdoB. Representou o Partido, o camarada Ronaldo Carmona, da Comissão Internacional. Na seqüência, o Senador comunista Inácio Arruda representou o Partido no referendo que aprovou, em 25 de janeiro, a nova Constituição da Bolívia. A aprovação da Constituição foi um grande avanço para o processo de mudanças naquele país. No final de janeiro o Partido participou do Congresso do Partido Comunista da Turquia (TKP). O Congresso, ocorrido em Istambul, preparou a luta dos comunistas turcos contra ameaças de retrocessos no secularismo turco, que desde o século passado efetivou a laicidade, com a separação entre o Estado e o islamismo. Representou-nos o camarada Julio Veloso, de São Paulo. Em seguida o camarada José Reinaldo Carvalho, Secretário de Relações Internacionais viajou à Europa para duas atividades de grande importância. A primeira delas foi a reunião do Grupo de Trabalho do Encontro de Partidos Comunistas e Operários. Foi a primeira reunião realizada desde o 11o Encontro, que 2
o PCdoB teve a honra de sediar em novembro passado. Na reunião do GT, que coordena as atividades entre um Encontro e outro, decidiu-se realizar o 12o Encontro de Partidos Comunistas e OperáArquivo PC Chileno rios, em novembro, na Índia, sob responsabilidade do Partido Comunista da Índia (marxista) e do Partido Comunista da India. José Reinaldo participou imediatamente depois de um Seminário promovido pelo NELF, sigla em inglês para Novo Fórum da Esquerda Européia, auspiciado pelo PdCI (Partido dos Comunistas Italianos), em Roma. Do Seminário, participaram dezenas de partidos comunistas e de esquerda da Europa e de outros continentes. José Reinaldo fez uma intervenção especial na mesa dedicada à América Latina. Quase no mesmo período, o camarada Adalberto Monteiro, Secretário de Formação do Partido, participou de dois Congressos de dois Partidos com os quais o PCdoB tem fortes laços. Primeiro, o Partido esteve no Congresso do Partido Comunista da Grécia (KKE, na sigla em grego). O Congresso, além dos debates políticos sobre a situação internacional, européia e grega, debateu profundamente o tema do socialismo. Os documentos,
em inglês, podem ser lidos em http:// inter.kke.gr Na seqüência o PCdoB foi a Beirute, no Líbano, onde participou do Congresso do Partido Comunista Libanês. Um dia antes de iniciar o Congresso, o PCL organizou um seminário sobre a crise do capitalismo, na qual o PCdoB apresentou uma comunicação. No final de fevereiro, o PCdoB assistiu ao Congresso do Polo Democrático Alternativo (PDA), a frente da esquerda colombiana. Fomos representado pelo senador Inácio Arruda. O Congresso debateu a preparação da esquerda para as eleições de 2010 e a necessidade de derrotar Uribe e incluir o país no rol de governos progressistas da América Latina. O PCdoB participou ainda, no mês de março, da 13o edição do Seminário “os Partidos e a nova sociedade”, tradicional evento da esquerda mundial organizada pelo Partido do Trabalho (PT). Na ocasião, José Reinaldo Carvalho apresentou uma comunicação sobre a crise do capitalismo e a luta pelo socialismo.
Arquivo KKE
Boletim Internacional Informativo da Secretaria de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) Rua Rego Freitas, no 192 – República – CEP 01220-010 – São Paulo-SP, Brasil. Tel: (55 11) 3054-1800. www.pcdob.org.br www.vermelho.org.br Correio eletrônico:
[email protected] Jornalista responsável: José Reinaldo Carvalho, MTb no 21408. Equipe: Ronaldo Carmona e Maria Helena D' Eugenio. Diagramação: Sandra Luiz Alves. Impressão e acabamento: Gráfica Giramundo. Tiragem: 1.000 exemplares
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www3.washingtontimes.com
"Um a um, os povos latinoamericanos em geral, e centroamericanos em especial, vão se libertando dos governos direitistas que impuseram políticas antipopulares e antinacionais ao longo de décadas" http://salvapress.files.wordpress.com
PCdoB sauda vitória de Mauricio Funes, da FMLN, em El Salvador
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PCdoB enviou uma nota, assinada por Renato Rabelo e José Reinaldo Carvalho, “em nome de sua direção e de todos os seus militantes” ao companheiro Mauricio Funes, novo presidente da República de El Salvador, eleito no último dia 15 de março, com mais de 1,3 milhões de votos. Na mensagem, o PCdoB congratula-se com sua eleição, pois “vencendo o terrorismo anticomunista da ultradireita e as ameaças de fraude, com sua eleição ganhou a mensagem de mudança e esperança, de mais democracia e mais direitos para os trabalhadores e para o povo salvadorenho, depois de 17 anos
da assinatura dos Acordos de Paz em El Salvador”. A nota do PCdoB faz referência ainda à importância da vitória da FMLN para o avanço da tendência progressista na América Latina. Diz a nota que “a histórica vitória da FMLN reforça o movimento de virada à esquerda da América Latina e do Caribe. Em especial, tem grande significado histórico e estratégico o fato de que na América Central, uma das regiões do mundo que mais sofreu o intervencionismo do imperialismo norte-americano, tenha mais um governo de sentido popular e democrático. Um a um, os povos latino-ame-
ricanos em geral, e centro-americanos em especial, vão se libertando dos governos direitistas que impuseram políticas antipopulares e antinacionais ao longo de décadas. Com o governo da FMLN em El Salvador, serão 14 os países de nossa região em que partidos de esquerda, membros do Fórum de São Paulo, participam em governos”. A nota termina “reiterando a amizade entre a FMLN e o PCdoB” salientando que “nos somamos, desde o Brasil, à imensa alegria que enche de esperança nossa região com mais uma vitória das forças democráticas e de esquerda em nossa América Latina”
PCdoB e PT realizarão Seminário Internacional em junho As direções do PCdoB e do PT, com apoio das Fundações Mauricio Grabois e Perseu Abramo, decidiram realizar em São Paulo, nos dias 20 e 21 de junho, o Seminário “A crise mundial e as alternativas de esquerda”. O Seminário reunirá prestigiados intelectuais de esquerda de vários países, além de dirigentes partidários e sociais. Terá o apoio da Rede Marxista Correspondências Internacionais sediada na França. Boletim Internacional
A versão final do Programa, bem como a lista dos debatedores, que ainda está sendo ajustada pela Comissão organizadora, será divulgada na próxima edição deste Boletim. Já está definido, no entanto que haverá cinco sessões de trabalho: 1) Diagnóstico da crise internacional: natureza, profundidade e extensão; 2) Reações frente à crise: EUA, Europa e instituições internacionais;
3) Reações frente à crise: Rússia, Índia, China e África do Sul; 4) América Latina: lutas populares e governos progressistas frente à crise; 5) Crise e alternativas socialistas; O Seminário será uma importante contribuição à luta de idéias que se trava na esquerda mundial sobre as características da atual crise e o relançamento da luta pelo socialismo no mundo. 3
Seminário no México discutiu a crise do capitalismo Alberto Anaya, presidente do Partido do Trabajo, e Andrés Manuel López Obrador, durante o seminário internacional denominado "Los partidos y una nueva sociedad" José Carlo González
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ais de cem organizações de todo o mundo, em especial da América Latina, participaram do XIII Seminário anual ‘Os partidos e uma nova sociedade’. O evento, promovido pelo Partido do Trabalho do México, aconteceu entre os dias 19 e 21 de março. A atividade versou sobre a crise e as lutas políticas e sociais conduzidas pelas forças progressistas. Com um total de 200 participantes internacionais, vindos de 39 países distintos, o seminário contou com a presença do líder progressista Andrés Manuel López Obrador, ‘o presidente legítimo do México´, como é tratado pela esquerda mexicana. Nos últimos dois anos, Obrador tem percorrido todos os municípios do país, organizando um movimento popular para criar o que chama de um poder nacional alternativo, ou seja, de oposição à gestão Calderón. No evento, Obrador falou sobre o atual cenário do México, que destoa dos avanços promovidos em outras nações da América Latina. “Por que no México não se consegue essa mudança? Porque no México há um estado mafioso e um governo usurpador. A política neoliberal aqui se converteu em um autêntico vandalismo, em uma política de pilhagem, exercida por um grupo oligárquico que se formou no governo a partir da presidência de Salinas de Gortari (1988-1990)”, disse.
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Segundo ele, em 2006, as eleições foram marcadas por uma espécie de terrorismo midiático. “Ganhamos, mas a máfia não deixou. Não há estado de direito. Um grupo confiscou todos os poderes. Mas nosso movimento é forte e foi graças a ele que impedimos a privatização do petróleo”, declarou, alertando que os partidos PRI (Partido Revolucionário Institucional) e PAN (Partido da Ação nacional) representam a mesma linha de direita. “Ajudaram-se mutuamente a cometer as fraudes eleitorais de 1988 e 2006”, acusou. Um dos fundadores do movimento encabeçado por Obrador e uma das principais figuras da oposição no México, Porfírio Muñoz Ledo reforçou as declarações do aliado. De acordo com ele, o país caminha para graves conflitos, pois estaria no limite de suas possibilidades de suportar a crise e um governo tão “impopular e antinacional”.
A senilidade do capitalismo mundial A principal intervenção sobre a crise, no seminário, foi feita pelo economista
argentino Jorge Beinstein, membro do Partido Comunista. Beinstein falou sobre a decadência dos Estados Unidos e a desintegração do sistema global. Ele prevê uma radicalização da crise e detalha o comportamento da sociedade norte-americana que, durante as três últimas décadas, foi cultivando equívocos, cujas conseqüências estão sendo vistas na atual turbulência na economia mundial. Para Beinstein, o capitalismo entrou num processo de senilidade desde os anos 70, “quando o parasitismo tornou-se hegemônico”. Ele cita que um primeiro indicador dessa senilidade é a decadência dos Estados Unidos. “A `globalização´ desenvolvida desde os anos 70 implicou um triplo processo: o “aburguesamento” quase completo do planeta, a financeirização integral do capitalismo e a unipolaridade. A instalação do Império norteamericano como poder supremo mundial, principal consumidor global e área central dos negócios financeiros internacionais, ao que se agrega o fato decisivo da `norteamericanização´ da cultura das classes dominantes do mundo. É por isso que o declínio dos Estados Unidos constitui o motor da decadência universal do capitalismo”, defendeu. Segundo o economista, a crise financeira é ‘gigantesca’, mas também o são as `outras crises´. “A crise energética foi até bem pouco tempo um catalisador decisivo da especulação e da inflação. Por outro lado, está associada à crise alimentar e ambas assinalam a existência de um impasse tecnológico geral que se estende ao Meio Ambiente e ao aparato militarindustrial, todo ele concentrado e exacerbado a partir do colapso financeiro nos Estados Unidos, o centro do mundo. É possível então afirmar que as diversas crises nada são senão aspectos de uma mesma crise, sistêmica, do capitalismo como etapa da história humana”. http://resistir.info/
"Para a região da América Latina e Caribe, é o momento de superar dificuldades geradas pela crise capitalista mundial, radicalizando os processos nacionalistas e revitalizando a Alba" Boletim Internacional
Régis Lachaume/http://commons.wikimedia.org
“Essas instituições são falidas [OMC, FMI, BIRD e G-20], não podem ser reformadas. Para criar instituições multilaterais que correspondam a interesses soberanos dos povos é preciso questionar e combater o próprio sistema imperialista”
Novas potencialidades O presidente do Partido do Trabalho mexicano, o senador Alberto Anaya Gutiérrrez avaliou que a crise constitui um ambiente favorável para que movimentos e organizações sociais e políticos de esquerda e centro-esquerda lancem uma ofensiva que “liquide finalmente o neoliberalismo e permita mudar o rumo do planeta em uma direção anticapitalista e abertamente socialista”. Por isso, ele defende uma maior organização dessas forças.”Para a região da América Latina e Caribe, é o momento de superar dificuldades geradas pela crise capitalista mundial, radicalizando os processos nacionalistas e revitalizando a Alba, que pode cumprir um papel mais significativo, de formulação e ensaio das respostas ao tsunami econômico e como base para abandonar o FMI e o Banco Mundial e criar novos organismos regionais de cooperação e solidariedade”, disse Anaya.
Cenário da América Latina Também participante do encontro, o secretário de Relações Internacionais do PCdoB, José Reinaldo Carvalho, defendeu que a maior expressão das derrotas do imperialismo norte-americano é o novo cenário na América Latina. “A partir dos anos 90, com o esgotamento das políticas ditadas pelo chamado consenso de Washington, presenciamos a ascensão de governos progressistas e uma mudança de quadro, cada vez mais caracterizado pela contestação da hegemonia estadunidense”, discursou. José Reinaldo também mostrou os contrastes existentes entre o momento pós-Guerra Fria, “onde os Estados UniBoletim Internacional
dos pareciam estar no auge do domínio do mundo”, e o contexto atual, em que há um “claro declínio histórico dos EUA”, que os obriga a mudar de política. “Obama, até agora, faz um discurso em busca de um reposicionamento dos EUA, para ver se contém o ódio da humanidade contra o imperialismo”, afirmou Reinaldo, lembrando as “derrotas do imperialismo no Oriente Médio, Iraque, Afeganistão, Líbano e Palestina e o fato de que existem várias potências emergentes, como a China”. “Estamos presenciando a decadência das instituições supostamente multilaterais, fundadas no pós-guerra, essencialmente as Bretton Woods e suas derivadas. Presenciamos também a decadência do G-7 e a erosão do papel da ONU, impotente para deter a mão agressiva de Israel e a sua própria instrumentalização pela política dos EUA”, discorreu. De acordo com José Reinaldo, agora se começa a falar em reforma da OMC, do FMI e do BIRD e que o G-20 seria o novo fórum para buscar soluções à crise, com a participação de países emergentes. “Mas essas instituições são falidas, não podem ser reformadas. Para criar instituições multilaterais que correspondam a interesses soberanos dos povos é preciso questionar e combater o próprio sistema imperialista”.
O Brasil Durante o seminário, José Reinaldo fez um resumo da situação brasileira. Destacou a ascensão das forças democráticas ao poder, desde a vitória do presidente Lula. Segundo ele, o país avançou no aprofundamento da democracia, na defesa da soberania nacional e da integração latino-americana, e no exercício de uma política externa independente e de uma política social de combate à miséria.
Mas ressaltou que o governo não avançou no sentido da ruptura, nem da realização de mudanças estruturais na sociedade. “Desde o primeiro momento, caracteriza-se como um governo de contradições, de luta entre dois caminhos – mudança ou continuidade. Luta que se manifesta no interior do próprio governo, na medida em que deste participam tanto forças progressistas como setores conservadores”, afirmou. O representante do PCdoB completou que é preciso dar continuidade ao ciclo aberto com a eleição de Lula, acumulando forças. Nesse sentido, falou da importância de eleger alguém comprometido com o projeto atual e que reúna convicções e força política para unir o povo brasileiro a empreender as reformas estruturais tão urgentes e indispensáveis para o país vencer o atraso, a pobreza e a dependência. Por último, explicou que os comunistas reafirmam sua convicção de que não há solução capitalista para a crise do capitalismo. “A luta política pelo socialismo é muito concreta e só avança se os partidos e movimentos sociais nela interessados forem capazes de descobrir quais são as grandes questões políticas que mobilizam as energias criadoras do povo. No Brasil, na época que vivemos, essas lutas são: a luta nacional antiimperialista, a luta democrática, contra o poder político das classes dominantes e a luta social, pelos direitos das massas trabalhadoras e populares”, encerrou.
Foram lançados livro e vídeo sobre o 10o Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários, realizado em São Paulo-SP, em novembro de 2008. Pedidos podem ser feitos à Secretaria de Relações Internacionais do PCdoB (11) 3054-1800 ou 22
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Conselho Mundial da Paz organiza Jornada Internacional contra a OTAN
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ob o lema “OTAN Inimiga dos Povos e da Paz”, a jornada organizada pelo Conselho Mundial da Paz (CMP), contou com uma série de atividades espalhadas pelo mundo. Elas fazem parte do plano de ação do CMP, que nesse aspecto coincide com o que foi aprovado na Assembléia dos Movimentos Sociais, realizada durante o Fórum Social Mundial, na cidade brasileira de Belém do Pará. A primeira dessas atividades foi a Conferência Internacional “A OTAN, a Quarta Frota dos EUA e as Malvinas”, em Buenos Aires, Argentina. Para Socorro Gomes, presidente do Conselho Mundial da Paz, a conferência foi uma oportunidade para os latino-americanos demonstrarem seu repúdio aos instrumentos de guerra do imperialismo. Segundo ela, “tanto a Quarta Frota como a OTAN fazem parte da mesma estratégia de domínio global e de militarização das relações internacionais”. Socorro
conclui prestando solidariedade à causa do povo argentino pela imediata devolução das Ilhas Malvinas – “Não é possível que em pleno século XXI ainda existam territórios ocupados por forças colonialistas”. Já em Belgrado, onde o CMP organizou uma conferência rememorando os 10 anos dos bombardeios da OTAN contra a então Iugoslávia, Socorro Gomes foi recebida por importantes autoridades do Estado sérvio, entre estes o presidente do parlamento do país, Slavica Ðukic Dejanovic, e pelo vice-ministro das Relações Exteriores, Zoran Vujic, que agradeceram a presença e deram boas vindas à presidente do CMP. Perante tais autoridades Socorro, expressou as saudações do povo brasileiro e a solidariedade das organizações do CMP ao povo Sérvio. Em seu discurso durante a conferência, realizada no exato dia em que se completavam os 10 anos do bombardeio criminoso, a presidente do CMP, expressou que “A guerra dos Estados Unidos e da OTAN contra a Iugoslávia, tal como todas as guerras recentes do
imperialismo estadunidense e seus aliados contra povos e nações, foram feitas com falsos pretextos, contando com a cumplicidade dos meios de comunicação”. "Os bombardeios de 1999 eram parte de uma estratégia global do imperialismo estadunidense no quadro dos esforços que esta potência realiza para impor por meio da força e da militarização seu domínio sobre todo o planeta”, disse Socorro. “O país não havia cometido crime algum”, acrescenta a presidente do CMP. Na grande mobilização popular em Estrasburgo, durante a Cúpula da OTAN, realizada no dia 04 de abril, Socorro Gomes ao fazer uso da palavra, afirmou não haver ilusões com o imperialismo “Quando os chefes das principais potências imperialistas se reúnem para celebrar o 60o aniversário da fundação da OTAN estão elaborando novos planos de agressão aos povos”, afirma Socorro. O novo conceito estratégico da OTAN é uma ameaça aos povos de todas as latitudes do mundo. As forças defensoras da paz devem se mobilizar contra ele.
15o Encontro do Fórum de São Paulo será em agosto, no México Neste mês de março, por ocasião do Seminário do Partido do Trabalho (PT) do México, reuniu-se o Grupo de Trabalho do Fórum de São Paulo, instância de coordenação deste espaço da esquerda latino-americana entre um Encontro e outro. A principal decisão da reunião foi a de realizar o 15o Encontro na Cidade do México, sob os auspícios do PRD (Partido da Revolução Democrática) e do PT (Partido do Trabalho), ambos mexicanos, entre 20 e 23 de agosto de 2009. O ultimo Encontro (14o) foi realizado em maio passado, em Montevidéu, no Uruguai. O 15o Encontro terá como temário “As alternativas da esquerda latino-americana fren-
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te à crise capitalista”. Com base neste tema, será preparado um documento-base, que será aprovado na próxima reunião do GT, em 1o de junho, em San Salvador, El Salvador, quando nova reunião ocorrerá por ocasião da posse no novo presidente salvadorenho Mauricio Funes. Outra novidade do 15o Encontro é a realização concomitante do 1o Encontro Juvenil do Fórum de São Paulo. No que diz respeito à crise, a Secretariaexecutiva do Fórum de São Paulo compilará e fará circular as posições de seus membros sobre a atual crise capitalista. Por fim, a reunião do México aprovou um calendário com as próximas iniciativas apoiadas pelo Fórum, que são as seguintes:
l Encontro de Partidos Populares e Movimentos
Sociais, Buenos Aires, 27-29 de abril de 2009; l Seminário sobre a América Latina, em Bruxelas, 2-3 de maio de 2009; l Visita de solidariedade de Delegação do Fórum de São Paulo à Palestina, 04-08 de maio de 2009; l Seminário sobre processos constituintes na região andina, Lima, com data a definir; l Seminário sobre as experiência dos partidos do Fórum de São Paulo nos governos nacionais, San Salvador, 3 de junho; l Seminário sobre a crise e as alternativas, São Paulo, 20 e 21 de junho de 2009 (ver matéria neste Boletim); l Seminário “As tarefas da esquerda diante da crise do capitalismo”, Manágua, 20-21 de julho de 2009.
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