18800039 Ponto Dos Concursos Economiacomplementar

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CURSOS ON-LINE – ECONOMIA 2 – PROF. MOZART FOSCHETE

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“A arte de ensinar Economia de uma maneira simples, sem mistérios”. De Maria Eulália, uma ex-aluna.

AULA 1: INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DA INFLAÇÃO Um observação importante: Este Curso online de Economia II é praticamente uma continuação de nosso curso online anterior de Economia I. Seu conteúdo se constituirá de tópicos de Macroeconomia não abordados naquele curso e que constam do Edital do concurso da AFRF. Por isso, para um melhor aproveitamento, é importante que o aluno inscrito neste curso tenha feito o Curso online de Economia I. Esta nossa Aula n° 1 versará sobre inflação, suas causas e modelos explicativos do processo inflacionário. Para um melhor entendimento deste tópico, principalmente quando estivermos tratando dos modelos analíticos da inflação, é importante que você dê uma revisada na Aula 10 de nosso curso online de Economia I – sobre A Oferta e a Demanda Agregadas, ok? Então, vamos lá, já que o tempo de vocês é curto, aliás curtíssimo!

1 . Introdução: o conceito de inflação Ocorre inflação quando há um aumento continuado, permanente, do nível geral de preços - o que, em conseqüência, provoca uma perda do poder aquisitivo da moeda. Pela definição acima, vê-se que inflação é um processo de aumento contínuo dos preços ao longo de um certo período. Tecnicamente, se houver um aumento súbito do nível de preços, – que tenha sido provocado, por exemplo, por uma medida governamental que objetivasse a correção de alguns preços “que estavam atrasados” – mas que não tenha continuidade no tempo,

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tal fenômeno não seria considerado inflação e, sim, um fenômeno isolado e temporário que se esgota em si mesmo. Da mesma forma, há que se distinguir num processo inflacionário os aumentos de preços por efeito de, digamos, quebras de safras ou de aumento exagerado da demanda, de aumentos de preços de um determinado produto, frutos de melhoria tecnológica ou de qualidade do produto. É claro que, um novo modelo de automóvel, com novas tecnologias (vidro elétrico, ar condicionado, etc.) deve ter seu preço elevado em relação a um modelo anterior, porém mais simples. Este aumento de preço “por melhoria tecnológica ou por melhor qualidade” não pode ser considerado inflação.

2 Principais Distorções Provocadas pela Inflação Muito embora a inflação, em qualquer grau e circunstância, seja vista, nos países mais desenvolvidos, como um mal a ser evitado por todos os meios, muitos economistas são de opinião que, nas economias em desenvolvimento, uma inflação moderada, suave, digamos de 10% ao ano, pode até ser benéfica à atividade econômica na medida em que pode servir de estímulo a aumentos da produção e do emprego. No entanto, é ponto pacífico que um processo inflacionário agudo e crônico provoca distorções e desarranjos de toda ordem no sistema econômico, podendo ser citados os seguintes principais efeitos perversos: i) Efeitos sobre a distribuição de renda Este talvez seja a pior distorção provocada por um processo inflacionário acelerado ao reduzir drasticamente o poder aquisitivo de todos os indivíduos que vivem de rendas fixas – como ‚ é o caso dos assalariados, pensionistas, aposentados, ou daqueles que vivem de aluguéis. O mesmo não se pode dizer daqueles que têm renda variável, com possibilidades de reajustes periódicos (preços) ou de aplicação financeira com proteção contra a corrosão inflacionária.

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ii) Efeitos sobre pagamentos de débitos e de impostos Ganham com a inflação todos aqueles que têm dívida de longo prazo, mesmo que haja previsão de correção monetária – o que dificulta o fornecimento de crédito para investimentos, crédito este geralmente de longo prazo. A concessão de empréstimos, limitada ao curto prazo, impossibilita os investimentos produtivos que, por natureza, são de longo prazo. Da mesma forma, com a inflação perde o governo na arrecadação de impostos – dada a defasagem temporal entre o momento do fato gerador do imposto e seu recolhimento aos cofres do governo. iii) Efeitos sobre o mercado financeiro e de capitais A inflação provoca um desestímulo à aplicação de recursos no mercado primário de ações, dada a perda acentuada do valor da moeda. Também desestimula a poupança, estimulando, isto sim, a aplicação em imóveis, fazendas, lotes, etc., de natureza nãoprodutiva. O instituto da correção monetária, ao mesmo tempo em que procurou reduzir estes efeitos desestimulantes sobre a poupança, acabou por criar outros problemas, como a chamada “inércia inflacionária”, transferindo para hoje a inflação de ontem. Este foi um mecanismo utilizado pelo Brasil desde a segunda metade dos anos 60 até meados da década passada, mas que, agora, com o Plano Real, parece felizmente ter se tornado coisa do passado. iv) Efeitos sobre o balanço de pagamentos O aumento continuado dos preços domésticos acaba por desestimular as exportações do País – pois compensa mais ao exportador vender seus produtos internamente do que no exterior. Da mesma forma, o aumento dos preços internos termina por estimular um aumento das importações. A solução, no caso, é uma correção permanente da taxa de câmbio, com desvalorização da moeda doméstica. Tal como no caso da correção monetária, a desvalorização cambial, se resolve o www.pontodosconcursos.com.br

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problema do balanço de pagamentos, acarreta mais inflação na medida em que todos os produtos importados (equipamentos, petróleo, produtos farmacêuticos, etc.) se tornam mais caros. v) Efeitos sobre as expectativas e incertezas Um processo inflacionário crônico e agudo, como o caso brasileiro dos anos 80 e início dos anos 90, acaba por gerar expectativas pessimistas dos empresários quanto ao futuro da economia e quanto a eventuais medidas drásticas que o governo pode vir a adotar. O aumento do grau de incertezas daí decorrente passa a desestimular os investimentos produtivos e a economia entra num processo de stagflação – ou seja, estagnação com inflação.

3 Tipos ou Causas Clássicas de Inflação Um processo inflacionário pode ter diversas origens ou causas. Costuma-se classificar os diversos tipos de inflação de acordo com suas causas principais. Assim, temos:

3.1 Inflação de demanda Diz-se que a inflação é de demanda quando a demanda agregada excede a oferta agregada de bens e serviços. Normalmente, a inflação de demanda é interpretada como sendo o resultado de “dinheiro demais em circulação à procura de bens e serviços de menos!” Tecnicamente, a probabilidade de surgimento de inflação de demanda ocorre quando a economia estiver no ou próxima do pleno emprego. Isto porque, caso haja desemprego em larga escala, a demanda tende a ser relativamente pequena. Se, por um motivo qualquer, houver um incremento ou excesso de demanda agregada, e estando a economia com capacidade ociosa no setor produtivo, o efeito inicial será estimular um aumento da produção, sem que os preços se alterem. Caso esteja a economia próxima do pleno emprego, e havendo um aumento da demanda agregada, www.pontodosconcursos.com.br

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não há como aumentar a oferta de bens para satisfazer esta demanda extra. Aí, então, o ajuste ou equilíbrio se dará através de aumentos nos preços, caracterizando um típico caso de “inflação de demanda”. As principais causas de inflação de demanda são: i) gastos do governo em excesso à suas receitas tributárias, gerando os conhecidos déficits fiscais, tal como ocorreu sistematicamente três últimas décadas e que desaguou na atual absurdamente elevada dívida interna pública e que tanta dor de cabeça têm causado às autoridades econômicas; ii) emissões monetárias acima da taxa de crescimento do produto interno – um fenômeno em grande parte associado aos déficits governamentais; e, iii) vendas a crédito – que aumentam o consumo presente, relativamente à renda dos indivíduos.

3.2 Os choques de oferta e a inflação de custos Quando se fala de inflação de custos, está-se falando de inflação cuja causa principal se origina do lado da oferta. Neste caso, o nível de demanda agregada permanece praticamente o mesmo, enquanto os custos de produção dos bens e serviços se elevam e são repassados aos preços. Estes aumentos de custos, extemporâneos e abruptos, decorrem dos chamados choques de oferta e estão geralmente associados ao poder de mercado de grupos de empresas, ou de sindicatos trabalhistas, de fornecedores de matérias-primas, ou não raras vezes estão associados a algum aumento dos impostos sobre as firmas. Como se vê, trata-se, na maioria dos casos, de distorções de mercado, a chamada “concorrência imperfeita”. Os choques de oferta surgem das seguintes situações: i)

Se as empresas, atuando num mercado monopolista ou oligopolista, julgam baixas suas margens de lucro (markup), elas serão capazes de aumentá-las através de uma elevação dos preços dos bens e serviços que produzem – o que termina por extrapolar para todos os setores econômicos. www.pontodosconcursos.com.br

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ii)

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Da mesma forma, se os sindicatos trabalhistas mais organizados e com maior poder de barganha são capazes de forçar um aumento dos salários acima do aumento da produtividade, haverá um aumento dos custos de produção – o que, fatalmente, será repassado aos preços dos produtos, gerando inflação.

iii) A partir da observação anterior, surge uma questão que está sempre sendo objeto de discussão: Afinal de contas, os reajustes de salários são ou não causa de inflação? A resposta a esta questão é bastante simples: tecnicamente, os reajustes de salários só serão causa de mais inflação se eles se situarem acima da taxa de aumento da produtividade mais a taxa de inflação corrente. Em outras palavras, se o aumento da produtividade foi de 4% e a taxa de inflação corrente foi de 10%, os salários deverão ser aumentados em, no máximo 14% (numa conta aritmética!). Se o reajuste superar esta taxa, então, podese dizer que os salários estão causando um aumento da inflação pelo lado dos custos. iv)

Uma outra fonte de inflação de custos pode ser a chamada “inflação importada” – um aumento de preços de origem externa e que acaba por se transmitir a toda a economia – tal como ocorreu com o aumento dos preços do petróleo em 1973/74 e em 1979/80, que elevou não só os preços dos derivados deste produto, mas, também, das matériasprimas e insumos básicos em geral.

v)

Também ocorre inflação de custo quando há uma quebra de safra agrícola. Isto porque, dado um custo do plantio, à medida que a produção esperada se reduz (devido a geadas, secas ou pragas), o custo unitário de produção aumenta – o que faz elevar o preço do produto no mercado.

Estas são, em síntese, as principais fontes ou causas de surgimento de inflação do lado dos custos, conhecidos na literatura econômica como choques de oferta.

3.3 Inflação estrutural

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Apenas para registro histórico, uma explicação ou justificação para o surgimento do processo inflacionário crônico por que passou a maioria dos países da América Latina nos anos 60/70 do século passado, foi a chamada inflação estrutural. A verdade é que muitos dos países desta região experimentaram, naquelas duas décadas, um processo de rápido crescimento econômico, associado relativamente a altas taxas de inflação no período. Daí, surgiram inúmeras explicações para o fenômeno, que veio a ser denominado de “escola estruturalista” a qual raciocinava do seguinte modo: – A inflação é uma característica típica dos países que experimentam um rápido processo de crescimento econômico porque: – Primeiro, os países subdesenvolvidos apresentam uma estrutura setorial produtiva desbalanceada ou desequilibrada, coexistindo, lado a lado, setores bastante dinâmicos e modernos (o setor urbano e a indústria, por exemplo) com setores ortodoxos, atrasados (como a agricultura, a indústria têxtil, etc.). Neste contexto, ao se iniciar um processo de rápido crescimento econômico, os setores modernos e dinâmicos da economia tendem a pressionar os demais setores, com um acentuado aumento de suas demandas por mais matérias-primas, mais alimentos, etc. Estes últimos setores, no entanto, não têm capacidade de pronta resposta, isto é, de satisfazer prontamente este aumento da demanda por seus produtos e, em conseqüência, sua resposta é via aumento de preços. – Outra explicação residia no papel de liderança desempenhado pelo Estado neste processo de crescimento econômico. Na maioria dos casos, o governo se tornou a verdadeira locomotiva da economia, puxando atrás de si o processo de crescimento econômico, seja através de grandes projetos de eletrificação, de telefonia, de siderurgia, de abertura de estradas, portos e hidroelétricas; seja através de concessão de subsídios ao setor privado. Ocorre, no entanto, que, sendo o país pobre, a arrecadação de impostos era baixa, e a única forma de o governo financiar seus elevados gastos era através de emissão maciça de moeda e/ou através de endividamento – o que só fez gerar inflação. www.pontodosconcursos.com.br

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– Uma outra explicação do fenômeno residia na necessidade de o país importar matérias-primas e equipamentos para atender ao desenvolvimento econômico. Isto exigiu endividamento externo e/ou desvalorizações cambiais que estimulassem as exportações cujas receitas se destinam ao pagamento das importações. Tais desvalorizações só fizeram gerar inflação interna. 3.4 Estagflação Trata-se de um estado da economia em que se tem recessão econômica concomitantemente com inflação. O fenômeno se deve ao fato de que, com a recessão econômica e conseqüente redução da demanda, as empresas com poder de mercado (caso típico dos oligopólios) aumentam seus preços para compensar as quedas nas vendas, mantendo com isso suas margens de lucro sobre seus custos. Em síntese, na estagflação os preços sobem enquanto a produção e o emprego estão caindo ou, pelo menos, não estão crescendo.

4. A função oferta agregada e a determinação dos preços Conforme foi visto e analisado na nossa Aula 10, do Curso online de Economia I, a função oferta agregada indica quais as quantidades ofertadas de produto pelo conjunto das empresas do país para cada nível de preços. Embora intuitivamente pareça que a curva de oferta agregada deva ser positivamente inclinada – ou seja, quando os preços sobem, a oferta agregada também se eleva e vice-versa, na realidade ela pode também ser vertical – isto é, não se altera com o aumento dos preços – e pode até mesmo ser horizontal. Neste último caso, se, por qualquer motivo, houver um aumento da demanda agregada, o produto ofertado se expande sem que os preços se elevem. www.pontodosconcursos.com.br

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A bem da verdade, o formato da curva de oferta agregada é um dos temas mais controversos entre os macroeconomistas. Dependendo deste formato, os efeitos da política econômica sobre os preços e o produto de equilíbrio podem ser os mais diferentes possíveis. Vejamos isso com um pouco mais de detalhe: Já foi visto na nossa Aula 10 do curso online de Economia I que a hipótese de uma curva de oferta vertical está diretamente associada com a Escola Clássica. Os economistas desta Escola argumentam que tanto a oferta como a demanda por mão-de-obra é função do salário real. Assim, dado um salário nominal e um nível de preço vigentes num certo momento – que determinam o nível do salário real – encontra-se o nível de emprego da economia e, daí, o nível de produto agregado de equilíbrio. Neste contexto, qualquer tentativa do governo para aumentar o nível de emprego e daí o nível do produto – via aumentos na demanda agregada - terá como única conseqüência um aumento dos preços. Este aumento dos preços provocaria, em princípio, um aumento no emprego, mas como a mão-de-obra percebe a perda real de sua renda, exigirá aumentos nominais de salário proporcionais à taxa de inflação, retornando, assim, o salário real ao seu nível anterior. Com isso, o emprego não cresce e, em conseqüência, o produto ofertado também não cresce. A Figura 1 ilustra este raciocínio, mostrando a curva de oferta agregada (OA) na posição vertical e a curva de demanda agregada inicial (DA1). Como sabemos, a curva de demanda agregada é determinada no mercado de produtos e no mercado monetário (Curva IS-LM). Observe que o cruzamento da DA1 com a curva de oferta agregada determina simultaneamente o nível do produto de equilíbrio (Y) e nível de preços vigente na economia (P1). Supondo que o governo resolva, por exemplo, aumentar seus gastos na tentativa de criar mais empregos na economia, a curva de demanda agregada se desloca para cima – para DA2. Como a curva de oferta agregada é vertical (isto é, totalmente inelástica a preço) o produto de equilíbrio não se altera, mas os preços se elevam para P1. Ou seja, no caso da oferta vertical (dos clássicos) o efeito da política fiscal expansionista do governo foi somente sobre o nível de preços.

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P

P

OA

P DA0 DA1

P1

P1

P0

P0

OA

DA0 DA1

P0

OA

DA1 DA0 Y

Figura 1

Y

Y0

Y1

Y

Figura 2

Y0

Y1

Y

Figura 3

Já na hipótese de uma curva de oferta positivamente inclinada – esta associada com a escola keynesiana – onde se supõe que os trabalhadores sofrem um pouco de ilusão monetária, exigindo aumentos nominais de salário quando há aumento de demanda por trabalho, porém sem associá-los com a taxa corrente de inflação – uma política fiscal expansionista , ao aumentar a demanda agregada, provoca um aumento do nível de preços corrente. Este aumento no nível de preços não é repassado inteiramente aos salários, gerando daí um aumento do emprego e, por conseqüência, o produto de equilíbrio cresce de Y0 para Y1, conforme ilustrado na Figura 2, assim como os preços que passam de P1 para P2. Além dessas duas versões sobre a curva de oferta agregada, existe uma terceira versão que argumenta que, em épocas de crise econômica com muito desemprego, a curva de oferta agregada é horizontal até próximo do pleno emprego. Esta versão é conhecida como keynesiano extremo. De acordo com esta “escola”, em época de desemprego desenfreado na economia – tal como ocorreu na grande depressão de 1929/33, - havendo um aumento na demanda agregada por bens e serviços, os empresários têm condições de aumentar o emprego sem necessidade de conceder aumentos salariais, elevando, assim, o produto ofertado sem que haja pressão sobre os preços, tal como ilustrado na Figura 3. Feitas estas considerações, vamos analisar, agora, a questão da inflação X desemprego.

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5. Um modelo simples de inflação de demanda Os modelos de inflação de demanda atribuem a elevação de preços a um excesso de demanda no mercado de produtos. Os preços se elevam porque a demanda agregada de consumo privado, de investimentos e de gastos governamentais excedem a oferta agregada potencial da economia, definido essa ao nível do pleno emprego. Tomando-se por hipótese um modelo simples tipicamente keynesiano – onde os salários e preços são rígidos no sentido descendente e a oferta de mão-de-obra é função do salário nominal vigente no mercado – a curva do produto ofertado agregado é perfeitamente elástica ao nível de preços vigentes (P0) até próximo ao nível de pleno emprego (Yf), quando se torna perfeitamente inelástica às variações nos preços, como mostra a Figura 4, onde OA representa a curva de oferta agregada e DA representa a curva de demanda agregada.

P

OA

P2 P1 P0 DA0 Y0

Yf

DA3 DA2 DA1 Y

Figura 4 Sob essa hipótese, e supondo que a economia encontre-se numa situação de desemprego, ao nível de Y0, um aumento da demanda agregada de DA0 até DA1– seja por elevação dos gastos do governo, seja por um aumento autônomo dos investimentos – não deverá provocar uma elevação do nível de preços. Quando, no

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entanto, a economia atingir o nível de pleno emprego (Yf), qualquer aumento da demanda agregada, de forma a deslocar a curva DA para DA2, DA3, etc., provocará aumentos no nível de preços para P2, P3, etc. Em termos dinâmicos, a proposição é de que a taxa de inflação (dP/P) é uma função do excesso de demanda sobre a oferta agregada, tratando-se de uma função descontínua, não se verificando qualquer mudança no nível de preços até que o pleno emprego seja alcançado. Ocorre que, na prática, é difícil se medir com exatidão o excesso (percentual) de demanda agregada sobre a oferta agregada. O procedimento comum, nesse caso, é tomar-se o mercado de trabalho como “proxy” do grau de excesso de demanda, verificando-se particularmente a taxa de desemprego existente naquele momento. Assim, um nível baixo de desemprego indicaria um nível alto de demanda, e vice-versa. No entanto, a verdade é que não existe uma simetria precisa entre o “estado” da demanda agregada por bens e serviços e o nível de desemprego na economia. Essa questão se torna mais problemática ainda quando se tenta aplicar esse critério a uma economia em desenvolvimento, como a brasileira, com elevado desemprego “estrutural” 1 que, de forma alguma, é devido a uma deficiente ou fraca demanda agregada. Nesses países, muito do desemprego aberto, observado nas áreas urbanas, é explicado claramente pelos desequilíbrios estruturais dessas economias. De toda forma, o teste clássico para se verificar a existência de excesso de demanda agregada seria dado pela Teoria Quantitativa da Moeda – que mostra o elo de ligação entre variações na quantidade de moeda existente num dado momento na economia e o nível de preços. Se, ao nível de renda de pleno emprego, os preços variam proporcionalmente às variações na quantidade de moeda, obtém-se um razoável indicador da presença de inflação de demanda2. 1

Tecnicamente, desemprego estrutural ocorre quando as pessoas desempregadas não dispõem da qualificação necessária para ocupar as vagas oferecidas (há, por exemplo, vagas de professor universitário, mas o desempregado é pedreiro ou enfermeiro). Nos países em desenvolvimento, o desemprego estrutural também surge do simples fato de que a economia é incapaz de absorver toda a mão-de-obra existente. 2 Veja no anexo a esta Aula 1 uma versão detalhada da Teoria Quantitativa da Moeda.

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Antes, porém, de passarmos adiante, vale a pena observar o seguinte: até aqui, consideramos um modelo simples keynesiano em que a função oferta agregada da economia se apresentava em forma de L invertido, com uma porção horizontal até atingir o pleno emprego. Sob tal hipótese, qualquer aumento da demanda agregada causaria um aumento no produto real (pelo deslocamento da curva de demanda agregada ao longo da porção horizontal da curva de oferta agregada), sem afetar o nível de preços. Os preços só começariam a subir a partir do nível de pleno emprego. Essa função foi derivada da chamada versão keynesiana extrema que argumenta que, em época de grave crise econômica, com amplo desemprego, os trabalhadores estão preocupados com seus salários nominais e resistem firmemente a qualquer redução desses salários (um posição, diga-se, totalmente contrária à opinião dos clássicos até então predominante). Desse modo, uma redução na demanda por trabalho não deve resultar numa queda dos salários nominais dada a sua inflexibilidade no sentido descendente. Havendo desemprego em larga escala e sendo a oferta de trabalho horizontal ao nível do salário nominal vigente, mais e mais trabalhadores poderão ser contratados sem que aquele salário se altere. Essa interpretação, no entanto, foi posteriormente retificada, levando a uma versão um pouco mais complexa da função oferta agregada keynesiana3. Isso ocorreu por uma razão bastante simples: dizer-se que a taxa salarial será constante (até o pleno emprego), em face de variações na demanda por trabalho, não implica necessariamente que o nível geral de preços será estável diante de variações na demanda agregada. Em outras palavras, é preciso deixar claro que o fato de a curva de oferta de trabalho apresentar uma seção horizontal não significa que a função oferta agregada da economia também apresentará esta porção horizontal. Isso se explica pelo simples fato de que, quanto mais se empregar mão-de-obra, menor é o produto marginal de trabalho – o que, associado a um salário nominal constante, W, exigirá um aumento dos preços para que a receita marginal (=PxPMgL) se iguale ao custo marginal (W). Em

3

Confira: Wonnacott, P., Macroeconomics, R.D. Irwin Inc., Illinois, 1988, cap. 13.

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conseqüência, a curva de oferta agregada mostrará, no gráfico YP, uma inclinação positiva antes de se atingir o pleno emprego. Feitas essas considerações, vejamos, agora, um modelo de inflação de demanda mais completo e analítico utilizando o instrumental desenvolvido na Aula 10 de nosso curso online de Economia I, relativo à derivação das curvas de oferta e de demanda agregadas.

6. Inflação de demanda: um modelo mais analítico Para desenvolver um modelo de inflação de demanda de forma mais exaustiva, vamos recuperar as equações do sistema IS-LM, isto é, que definem o equilíbrio no mercado de produtos e no mercado monetário, conforme visto na Aula 10 do curso de Economia I, ou seja: i) Mercado de produtos (Curva IS): ii) Mercado monetário (Curva LM):

Y = C + I + ir + G Ms/P = kY + hr

(1) (2)

Como já foi visto, a combinação desses dois mercados determina os valores de equilíbrio do nível de produto demandado (Y) e da taxa de juros (r), a um dado nível de preços. Se fizermos variar os preços, obtemos a curva de demanda agregada (DA) da economia, no gráfico Y-P. De outra parte, vimos também que a oferta agregada da economia, no curto prazo, era função do nível de emprego da mão-de-obra, tendo, para tanto, derivado uma função de produção da forma: Y = f(K, L)

(3)

onde, K = estoque de capital, considerado constante; e, L = quantidade de mão-de-obra (variável). O nível de emprego era determinado no mercado de trabalho, através da interação da oferta de trabalho (SL) e da demanda por trabalho. Na ocasião, ficou claro que a demanda por www.pontodosconcursos.com.br

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trabalho, da parte das firmas, era sempre função do salário real (w = W/P), enquanto a oferta de mão-de-obra podia ser função ou do salário real (hipótese dos clássicos) ou do salário nominal (W) – que é a hipótese associada à escola keynesiana. Para desenvolver nosso modelo de inflação de demanda, vamos adotar a hipótese keynesiana4, ou seja, a quantidade de trabalho que os trabalhadores estão dispostos a oferecer é função do nível do salário nominal (W). Em outras palavras, caso haja um aumento na demanda por trabalho, os trabalhadores só oferecerão mais horas de trabalho caso o salário nominal (W) aumente. A diferença entre esta hipótese e a dos clássicos está em que, na hipótese clássica, variações de preços provocam, num gráfico de salário nominal, deslocamentos da curva de oferta de trabalho para a esquerda em idêntica proporção. Ou seja, havendo uma elevação de preços, exige-se uma idêntica elevação do salário nominal para que a quantidade ofertada de trabalho permaneça no mesmo nível anterior. Com essa correção salarial, o salário real retorna ao seu valor original e, com isso, não se altera a quantidade de trabalho demandado pelas firmas. Já na hipótese que adotamos, os trabalhadores têm uma certa ilusão monetária, não exigindo, a curto prazo, aumentos de salários devido a aumentos de preços. Dessa forma, pode-se definir a função oferta agregada de trabalho como: SL = f(W) Enquanto expressa por:

a

função

(4) demanda

agregada

DL = f (W/P)

de

trabalho

é

(5)

Pela forma como aparecem, as equações (4) e (5) dizem coisas bem diferentes. A equação (4) quer significar que P não influi na oferta de trabalho, enquanto na equação (5) a influência de P sobre a demanda por trabalho é tão importante quanto o nível do salário nominal. 4

Para os nossos propósitos aqui, é indiferente adotarmos a hipótese clássica ou keynesiana.

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A visualização gráfica dessas duas funções exige uma certa “concessão” do estudioso. A rigor, tecnicamente, seria difícil justificar a inclusão dessas duas funções num gráfico de duas variáveis, de vez que elas estão medindo coisas diferentes. Mas, para fins de análise, a verificação do efeito combinado de uma alteração no nível de preços sobre a curva de demanda e de oferta de trabalho torna-se mais evidente quando colocadas as duas funções num mesmo gráfico. A Figura 5 retrata as duas funções, de demanda e de oferta de mão-de-obra, de acordo com as hipóteses descritas acima, estando o mercado de trabalho em equilíbrio ao nível do salário nominal W0, havendo L0 homens empregados. Se, por qualquer razão, houver um aumento de preços para P1, as firmas verão suas receitas aumentarem e aumentarão sua demanda por mãode-obra para qualquer nível de salário nominal – o que implica um deslocamento da curva de demanda para a direita. W SL W2 W1 W0

DL(P2)

DL(P1) DL(P0) L0

L1

L2

L

Figura 5 Para atender a este aumento na demanda por trabalho, os trabalhadores, conforme nossa hipótese, exigirão um aumento de salário de W0 para W1 e o emprego cresce para L1. Note-se que, se os trabalhadores não exigissem aumentos de seus salários nominais o novo nível de emprego, ao nível do salário W0, chegaria a L2.

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Caso o nível de preços se eleve a P2, o mesmo processo se repete, e o salário nominal sobe para W2, e o nível de emprego aumenta até L2. Observe-se que embora tenha havido um aumento do salário nominal em W1 e W2, estes dois salários representam um salário real menor que o inicial, já que houve um aumento no nível de emprego. Esse aumento do nível de emprego provocará um aumento no nível do produto ofertado da economia. Temos, agora, todo o instrumental à mão necessário para analisarmos o processo inflacionário com origem do lado da demanda. Assim, vamos considerar que a economia se encontra em equilíbrio – no sentido de que a oferta agregada é igual à demanda agregada – aos níveis de P0, W0, L0, r0, Y0, conforme aparece na Figura 6. Suponha, agora, que o produto corrente de equilíbrio (Y0) situa-se abaixo do nível do produto de pleno emprego e que o governo decida adotar uma política fiscal expansionista – aumentando seus gastos, digamos, em ∆G – no intuito de reduzir a taxa de desemprego da economia. Como resultado, a curva IS se desloca para a direita até, digamos, IS1. Conseqüentemente, a curva de demanda agregada se desloca para DA1 e, agora, ao nível de P0, há um excesso de demanda agregada sobre o produto ofertado igual a Y1 – Y0 – o que faz com que os preços comecem a subir. Já vimos, na Aula 10 do curso online de Economia I, os desdobramentos desse processo: o aumento de preços reduz a oferta real de moeda, deslocando a curva LM para LM1, elevando a taxa de juros e daí reduzindo o nível dos investimentos e, conseqüentemente, o novo nível da demanda agregada até Y2 (Figura 6a). No mercado de trabalho, o aumento dos preços reduz o salário real, provocando um aumento da demanda por trabalho (deslocamento da DL para a direita). Esse deslocamento da curva DL provoca uma aumento do salário nominal, e o emprego aumenta até L1 a um salário nominal (mas não o real) mais alto Figura 6b). Esse aumento do emprego elevará, por sua vez, o nível do produto ofertado, implicando um deslocamento ao longo da curva de oferta agregada, OA, no gráfico Y-P, conforme se pode ver na Figura 6c. r IS1 LM1 www.pontodosconcursos.com.br

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IS0

LM0

r2 r1 r0

(a)

Y0 Y1 Y2

Y

W SL W2 W0 DL2 (P2) DL1 (P0)

(b)

L0 L2

L

P OA

P2 P0 DA1

DA0 (c)

Y0 Y2

Y1

Y

Figura 6 Vale observar que o nível de preços continua se elevando enquanto houver excesso de demanda, ou seja, até que os preços www.pontodosconcursos.com.br

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atinjam P1. Ao final desse processo de ajustamento, o aumento exógeno inicial da demanda agregada terá provocado um aumento no nível de preços, o nível de emprego se elevou (como queria o governo, aliás), o salário nominal (mas não o real) estará mais alto, a taxa de juros estará, também, mais alta e o produto de equilíbrio ter-se-á elevado para Y2. Esses, em síntese, os efeitos de um processo inflacionário originário do lado da demanda agregada. Vejamos, agora, uma inflação originária do lado da oferta, também, chamada inflação de custos.

7. Inflação de custos Diz-se que uma economia enfrenta uma inflação de custos quando os preços se elevam independentemente de pressões da demanda por bens e serviços. Esse fenômeno decorre, geralmente, como já foi visto, dos chamados choques de oferta, traduzidos na “inflação importada”, ou em quebras de safras agrícolas, sendo também um fenômeno bastante comum numa economia onde existem grupos monopolísticos ou oligopolísticos com razoável poder barganha, como é o caso da indústria automobilística, do cimento, etc e de sindicatos trabalhistas fortemente organizados. Nessas situações, a inflação é debitada às atividades desses grupos que são capazes de obter, conforme o caso, aumentos de salários ou de lucros, sem que se verifiquem pressões de demanda no mercado de trabalho e no mercado de produtos. No caso dos salários, os aumentos obtidos são transmitidos aos preços através de um mark-up de preços sobre os custos salariais por unidade de produto; no caso dos lucros, a inflação é provocada pelo aumento do próprio valor do mark-up5. A hipótese mais simples do mark-up pode ser algebricamente definida por:

5

Mark-up corresponde, na prática, a um percentual de lucros calculado sobre os custos diretos de produção (basicamente mão-de-obra e matérias-primas).

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P = W/m (1 + π)

(6)

onde, P é o preço por unidade de produto W é o nível do salário m é a produtividade média do trabalho (= Q/L) w é o custo salarial por unidade de produto (= W/m) π é o percentual de mark-up sobre os custos salariais. Da equação acima, tem-se que6: dP/P = dW/W – dm/m + dπ/1+ π)

(7)

A expressão (7) diz simplesmente que a taxa de variação dos preços é igual à taxa de variação dos salários menos a taxa de variação da produtividade do trabalho mais a taxa de variação de (1 + π). Se o percentual do mark-up é fixo, então a taxa de inflação será simplesmente a diferença entre a taxa de variação salarial e a taxa de crescimento da produtividade do trabalho. Para se descrever o processo de uma inflação de custos, imagine-se que os trabalhadores, por uma razão qualquer, exijam um reajuste salarial – o que se traduz num deslocamento da curva de oferta de trabalho para a esquerda, até, digamos, SL1 (Figura 7b). Ao nível de preços P0, o nível de emprego ser reduz de L0 para L1 – provocando, em conseqüência, uma queda no produto ofertado para Y1, traduzido no deslocamento da curva de oferta agregada para SL1, conforme ilustrado na Figura 7c. Agora, ao nível de preços P0, verifica-se um excesso de demanda agregada sobre o produto ofertado igual a Y0 – Y1, o que causa uma elevação dos preços. Esse aumento dos preços, por sua vez, reduz a oferta real de moeda (Ms/P), deslocando a curva LM para LM1 e elevando a taxa de juros para r1 (Figura 7a). Daí, a demanda por investimento se reduz, diminuindo a demanda agregada ao longo da curva D0 (Figura 7c).

r

LM1

6

Sabendo que a maioria de nossos alunos não têm boa formação matemática, temos evitado ao máximo o uso de cálculos em nossas Aulas. Mas, vez por outra, isso se torna inevitável...

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LM0

ro r2 r1

IS (a)

Y 1 Y0

Y

W

SL1 SL0

W1 W0 DL1

DL(P0) (b)

L1 L2 L0

L

P OA1 OA0 P1 P0 DA0 (c)

Y1 Y2 Y0

Y

Figura 7 Do lado da oferta, a elevação dos preços provoca um aumento na demanda das firmas por mão-de-obra, deslocando a curva DL para a direita. Haverá, assim, um acréscimo no nível de

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emprego, de L1 para L2, implicando um aumento na oferta agregada de bens e serviços de Y1 para Y2. Desse modo, a elevação de preços reduz o excesso de demanda ao longo da curva DA, ao mesmo tempo em que aumenta a oferta agregada ao longo da curva OA1. Ao nível de preços P1, o excesso de demanda foi eliminado, os produtos ofertado e demandado estão novamente em equilíbrio ao nível Y2, enquanto o nível de emprego situa-se, agora, em L2.

8. Algumas observações finais Este aumento de preços provocado por um deslocamento para a esquerda da curva de oferta agregada da economia é comumente associado à inflação de custos. Como se pode verificar, ao contrário da inflação de demanda, a inflação de custos reduz o nível de emprego e o nível de produto de equilíbrio. Um ponto importante a observar é que, tanto do lado da demanda como do lado dos custos, a inflação possui uma natureza auto-eliminadora, se deixada por conta das forças de mercado. Em ambos os processos, a elevação de preços ocorreu, a rigor, devido ao excesso de demanda sobre a oferta. Ora, a análise aqui descrita mostrou que a própria elevação de preços desencadeia uma série de mudanças nas variáveis que afetam tanto os componentes da demanda agregada (r, Ms/P), como a oferta agregada (W, P, etc.) de tal modo que um novo equilíbrio é alcançado com a eliminação do excesso de demanda. Se isso é fato, resta a pergunta: por que, em geral, uma vez desencadeado o processo inflacionário, a inflação tende a se perpetuar, às vezes até se agravando? A resposta residiria no que se tem denominado política de validação, adotada quase sempre pelos governos. Essa política se materializa em adoção pelo governo de políticas fiscal e monetária expansionista, na tentativa de elevar o nível de emprego da economia. Tais políticas, como já sabemos, deslocam as curvas IS e LM para a direita, provocando aumentos contínuos dos preços. Esses aumentos de preços deslocam a curva de oferta de trabalho para a esquerda, causando desemprego, o que exigirá novas www.pontodosconcursos.com.br

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medidas fiscais e monetárias expansionistas por parte do governo, entrando-se no círculo vicioso de preços e salários em permanente elevação. Ao adotar tal política, o governo estará sancionando a elevação dos preços e criando obstáculos cada vez maiores ao controle da inflação. * * * Com essas considerações, encerramos esta nossa Aula 1, sobre inflação. Os pontos mais importantes analisados aqui foram: as principais causas de inflação de demanda, os choques de oferta e a inflação de custos, um modelo simples de inflação de demanda e dois modelos mais analíticos de inflação de demanda e de custos. Na próxima Aula, a de n° 2, o tema será, de certa forma, uma continuação deste, quando abordaremos o tópico “Inflação e desemprego: a Curva de Phillips” – que mostra um modelo de inflação híbrida que incorpora elementos causais tanto do lado da demanda como do lado dos custos. A seguir, no Anexo 1, e como complemento, apresentamos uma abordagem da inflação de demanda vista analisada através da Teoria Quantitativa da Moeda. _________________________ A N E X O 1:

A Teoria Quantitativa da Moeda e a Inflação de Demanda O teste clássico para se verificar a existência de excesso de demanda agregada seria dado pela Teoria Quantitativa da Moeda – que mostra o elo de ligação entre variações na quantidade de moeda existente num dado momento na economia e o nível de preços. Se, ao nível de renda de pleno emprego, os preços variam proporcionalmente às variações na quantidade de moeda, obtém-se um razoável indicador da presença de inflação de demanda. Essa relação entre quantidade de moeda ou de meios de pagamento e o nível de preços é derivada da conhecida “equação das trocas” clássica, que pode ser assim expressa: MV = PY (1) onde, M = quantidade de moeda ou de meios de pagamento existente na economia; V = velocidade-renda de circulação da moeda; P = nível médio dos preços; e Y = renda real ou produto físico.

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CURSOS ON-LINE – ECONOMIA 2 – PROF. MOZART FOSCHETE 24 Como está expressa, a equação (1) nos diz meramente que o valor das compras é igual ao valor das vendas. Nesses termos, dir-se-ia que a equação das trocas é uma tautologia, isto é, está afirmando o óbvio. Para transformar essa equação numa teoria de determinação dos preços em geral, os clássicos foram adiante e supuseram que V e Y são constantes no curto prazo, sob o argumento de que a velocidade da moeda reflete os hábitos de compra da população e a tecnologia de compensação bancária – fatores estes que não não mudam no curto prazo, digamos, em seis meses – enquanto Y reflete a capacidade instalada da economia – o que também não muda no curto prazo – estando a economia, na suposição, no pleno emprego. Assim, com essas duas restrições a respeito dos valores de V e de Y, a teoria quantitativa clássica torna-se a melhor representação de um modelo puro de inflação de demanda, predizendo que o nível de preços subirá proporcionalmente a um aumento da oferta monetária. A expansão monetária torna-se, então, o fator causal do processo inflacionário. Observe-se que a hipótese de V constante implica supor que a demanda por moeda é uma função constante ou pelo menos estável do nível de renda, isto é, Md = kPY

(2)

onde, k = 1/V No entanto, uma corrente de economistas, geralmente associados à teoria keynesiana, costuma fazer restrições à essa associação direta entre expansão monetária e aumentos automáticos dos preços, argumentando que a hipótese de uma demanda por moeda estável tinha uma certa lógica numa época em que a única função da moeda era a de servir como meio de pagamento. No entanto, com o desenvolvimento do mercado de títulos e o posterior reconhecimento de que parte da demanda por moeda é explicada por motivos especulativos (à feição keynesiana), dificilmente se poderia sustentar a tese de uma função demanda por moeda estável e conseqüentemente de V estável. Isso porque, sendo a demanda por moeda para especulação uma função da taxa de juros, a demanda agregada por moeda oscilaria toda vez que a taxa de juros se alterasse. Assim, para se manter a igualdade expressa na equação (1), a velocidade , V, da moeda teria que se alterar. Esse ponto pode ser facilmente verificando que o equilíbrio do setor monetário ocorre quando Ms = Md = M onde, Ms é a oferta monetária e, Md é a demanda total por moeda. Substituindo Md (dado pela equação (3)) na equação (1), temos: MdV = PY

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(3)

CURSOS ON-LINE – ECONOMIA 2 – PROF. MOZART FOSCHETE 25 ou, V =PY/Md

(4)

Assim, sendo Md variável em função das alterações na taxa de juros, V torna-se altamente adaptável. Nesse sentido, concluem aqueles críticos, a relação direta entre aumentos na oferta monetária e conseqüentes aumentos no nível geral de preços deixa de ser tão automática como previsto pela teoria clássica. De toda forma, essa é apenas uma questão preliminar neste modelo introdutório de inflação de demanda. Na realidade, um processo inflacionário, seja qual for sua origem, exige um tratamento mais abrangente e mais analítico, enfocando não só suas causas mas, também, seus principais efeitos nos vários setores da economia. Os modelos analíticos de inflação de demanda e de custos apresentados anteriormente mostraram justamente isso. _________________________

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1

“A arte de ensinar Economia de uma maneira simples, sem mistérios”. De Maria Eulália, uma ex-aluna.

AULA 2: INFLAÇÃO E EMPREGO: -A CURVA DE PHILLIPS Esta nossa Aula 2 – do curso de Economia II – junta dois tópicos do programa de Economia do AFRFB: Inflação e emprego e a Curva de Phillips. Na realidade, são dois tópicos sobre o mesmo tema. A Curva de Phillips, como veremos aqui, nada mais é que uma relação entre taxas de inflação e taxas de desemprego. Trata-se de um tema interessante e de fácil assimilação, com o qual você não deverá ter nenhuma dificuldade em aprender. Vamos lá, então!

1. Introdução A partir do final da década de 50, o enfoque analítico do processo inflacionário tem-se deslocado de modelos puros de inflação de demanda e/ou de custos para os chamados “modelos híbridos” ou mistos, que incorporam elementos explicativos tanto do lado da oferta como do lado da demanda. Nesses modelos, a inflação geralmente é debitada às exigências dos sindicatos trabalhistas, mas, no mais das vezes, tais exigências são influenciadas pela pressão de demanda no mercado de trabalho. Se a economia está “aquecida”, o mercado de trabalho se torna “apertado” e, assim, os trabalhadores batalharão por aumentos salariais mais elevados. Mas, caso o mercado de trabalho esteja “frouxo”, devido a uma crise econômica ou recessão, por exemplo, as exigências dos sindicatos se tornam mais brandas, reduzindo seu poder de pressão. O mais familiar modelo de inflação híbrida é caracterizado pela Curva de Phillips – que, em sua versão original, relaciona a taxa

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percentual de variação de salários nominais ∆W/W com a taxa percentual de desemprego (U%), taxa esta que reflete o nível de pressão de demanda no mercado de trabalho. A Figura 1 mostra a Curva de Phillips na sua versão original. ∆%W 8%

2%

µn%

µ%

Figura 1 O eixo vertical da Figura 1 mostra a taxa de variação percentual de salários (∆%W) e, o eixo horizontal, a taxa de desemprego (µ%). Já µn% representa a chamada taxa natural de desemprego da economia – um conceito que será visto um pouco mais à frente. A Figura 1 ilustra o fato de que, estando o mercado de trabalho “apertado” – isto é, com baixa taxa de desemprego, como é o caso da taxa de 2% - os trabalhadores têm condições de obter maiores reajustes de salários (8%, neste caso). A curva de Phillips - assim chamada em homenagem ao economista inglês Arthur W. Phillips que, pioneiramente, publicou em 1958 o resultado de uma pesquisa sobre inflação e taxas de desemprego na Grã-Bretanha - ilustra o fato de que níveis relativamente baixos de desemprego – coincidentes com níveis relativamente altos de demanda agregada por bens e serviços fazem com que os trabalhadores exijam (e consigam) maiores reajustes do salário nominal, surgindo, assim, elementos de inflação de custo. Deste modo, o componente “alta demanda www.pontodosconcursos.com.br

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agregada por bens e serviços” junto com esses aumentos de custos (aumentos salariais) pressionam os preços para cima – e por isso, a curva de Phillips caracteriza um modelo híbrido de inflação. Do mesmo modo, esta curva mostra que durante períodos de altas taxas de desemprego, os reajustes salariais são baixos, quando não nulos, já que demanda por bens e serviços está “fraca” e os sindicatos trabalhistas não têm condições de reivindicar reajustes salariais. Em termos dinâmicos, diz-se que existe um “trade-off” (troca) entre a taxa de aumento do salário nominal e o nível de pressão de demanda. O argumento subjacente é que um excesso de demanda por bens e serviços, principalmente se for acompanhado de elevações de preços, conduzirá a um excesso na demanda por trabalho, fazendo com que os sindicatos obtenham aumentos dos salários nominais. Este aumento salarial será tanto maior quanto maior for o excesso de demanda no mercado de produtos.

2. A Curva de Phillips transformada Observe-se que a versão original da curva de Phillips relacionava a taxa de variação de salários nominais no eixo vertical com a taxa de desemprego no eixo horizontal. Ocorre que, de uma forma geral, a taxa de variação salarial corresponde à soma da taxa de inflação mais a taxa média de crescimento da produtividade - situando-se esta última geralmente em torno de 2% ao ano, o que, a bem da verdade, em períodos de altas taxas de inflação, pouco representam nos aumentos salários. Em outras palavras, os reajustes dos salários nominais seguem, grosso modo, a taxa de inflação. Se assim é, podemos substituir no eixo vertical a taxa de variação dos salários nominais pela taxa de inflação, resultando daí a chamada “versão transformada” da curva de Phillips. É esta versão que tem sido objeto de estudos e debates.

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4

∆%P

7%

2%

µn%

µ%

Figura 2 Na realidade, esta versão modificada da curva de Phillips mostra o nível de inflação que prevaleceria na economia para diferentes níveis de desemprego. Como mostra a Figura 2, esta curva é negativamente inclinada, refletindo o fato de que a níveis baixos de desemprego (ou, visto de outra forma, elevada demanda agregada por bens e serviços), os fatores que pressionam a demanda fazem com que aumentem, também, os fatores que pressionam os custos (reivindicações trabalhistas por maiores salários), elevando a inflação. De outro lado, a altos níveis de desemprego, os fatores que pressionam os custos são arrefecidos, reduzindo-se as pressões inflacionárias. Observe-se que o ponto em que a curva intercepta o eixo horizontal representa a taxa de desemprego existente quando o mercado de trabalho está em equilíbrio – conhecida na literatura econômica como a taxa natural de desemprego (Un%) - sendo este nível de desemprego constituído de indivíduos que estão desempregados por condições estruturais1 e friccionais do mercado de trabalho. De outra parte, a curva nunca intercepta o 1

-Diz-se que há desemprego estrutural quando, mesmo havendo vagas nas empresas, seu preenchimento é impossibilitado pelo fato de a mão-de-obra ofertada não possuir os requisitos ou qualificações exigidas. No caso dos países em desenvolvimento, esse conceito pode ser ampliado de forma a incluir, também, aqueles indivíduos que sempre estiveram desempregados pelo simples fato de que a economia é incapaz de gerar empregos suficientes para absorvê-los todos, decorrendo daí a economia informal (biscateiros, camelôs, etc.). Já o desemprego friccional é caracterizado pelos indivíduos que estão em processo de transferência de um para outro emprego, isto é, momentaneamente desempregados, incluindo também aí aqueles que estão chegando, agora, no mercado de trabalho e começando a procurar seu primeiro emprego.

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eixo vertical, devido à existência permanente do desemprego friccional. Vista nessa sua versão transformada, com variações de preços no eixo vertical, a Curva de Phillips parece oferecer à autoridade econômica um “menu de escolhas” entre dois demônios que ela gostaria de evitar a todo custo: a inflação e o desemprego. De fato, observando-se a Figura 2, a curva mostra que existe um “trade-off” entre os dois demônios, e movendo-se ao longo da mesma pode-se ter ou mais inflação com menos desemprego ou (quase) nenhuma inflação porém com uma taxa mais alta de desemprego. Matematicamente, a Curva de Phillips pode ser expressa assim: Л = -ß(µ - µn)

(1)

onde, Л é a taxa de inflação; ß é a elasticidade da inflação em relação aos desvios da taxa de desemprego vigente em relação à taxa natural de desemprego; µ é a taxa de desemprego prevalecente na economia;e, µn é a chamada taxa natural de desemprego (isto é, a taxa de desemprego compatível com o pleno emprego). Note-se que, quando a taxa de desemprego vigente for igual à taxa natural, a inflação é zero. A inflação será positiva se o desemprego estiver abaixo da taxa natural, como no caso de U1% que leva a inflação para 7%, e será negativa (deflação), se o desemprego estiver acima daquela taxa. Considerando que as condições de troca entre desemprego e inflação não parecem política e economicamente atraentes, a “melhor” solução de política econômica estaria na tentativa de deslocar a Curva de Phillips para a esquerda através de políticas de formação e de aperfeiçoamento de mão-de-obra - o que reduzirá o desemprego estrutural - além de políticas que facilitem uma maior mobilidade setorial ou mesmo regional da mão-de-obra desempregada. Essas deduções retiradas da Curva de Phillips orientaram a política econômica – notadamente na Inglaterra e nos Estados Unidos – por mais de uma década. Nesse período, caso se julgasse www.pontodosconcursos.com.br

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que a taxa de desemprego estava em um nível relativamente alto, o governo adotava uma política econômica expansionista que reduzia a taxa de desemprego, mas à custa de uma maior taxa (porém aceitável) de inflação. No entanto, já na segunda metade da década de 60, notava-se que algumas economias desenvolvidas enfrentavam o fenômeno da “estagflação”, isto é, pouco ou nenhum crescimento da produção nacional acompanhada, porém, de taxas de inflação acima da média histórica. Tal fato, em si, reduziu a importância da Curva de Phillips - e seu trade-off implícito, dando margem ao surgimento de críticas e contestações acadêmicas quanto à sua eficácia como orientadora de política econômica. A crítica mais contundente e mais comumente conhecida nos meios acadêmicos partiu dos eméritos professores Milton Friedman e Edmund S. Phelps que desenvolveram o chamado “modelo de expectativas inflacionárias”, cujas linhas básicas são a seguir desenvolvidas.

3. O modelo de expectativas inflacionárias e a tese aceleracionista. Como foi dito acima, ao final da década de 60, alguns economistas começaram a questionar conclusões tiradas da Curva de Phillips, duvidando de que a autoridade econômica, de fato, se defronte com as alternativas de inflação ou desemprego, ou seja, se, de fato, uma taxa menor de desemprego pode ser “comprada” ou “trocada” por uma taxa mais elevada de inflação. O expoente maior desses críticos foi o Professor Friedman, da Universidade de Chicago, e é dele que tomamos o argumento contrário às prescrições derivadas da curva de Phillips. Assim, a crítica do Professor Friedman começa por afirmar que existe um erro crasso na Curva de Phillips original, uma vez que seu autor analisou a variação dos salários nominais quando deveria ter considerado a variação dos salários reais. Apoiando-se na escola clássico-monetarista, Friedman argumenta que os ajustamentos no mercado de trabalho se dão em função do salário

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real e não do salário nominal. A falha de Phillips, ao tomar salários nominais, diz ele, reflete a influência keynesiana então em voga.

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4.

A equação da aceleracionista

Curva

de

Phillips

e

a

1

tese

Vejamos o que, de fato, está por trás do argumento desses críticos: Já sabemos que os preços se alteram em decorrência de deslocamentos das curvas de demanda e de oferta agregadas. No caso da curva de demanda agregada, seus deslocamentos são fruto de medidas de política econômica – expansão dos gastos do governo, redução de impostos e expansões da oferta monetária. Quanto à curva de oferta agregada, seus deslocamentos geralmente decorrem dos chamados “choques de oferta”, traduzindo estes em aumentos de custos de produção, tais como os choques do petróleo dos anos 70, as quebras agrícolas, aumentos de “margens de lucro” (mark-up), aumentos dos preços das matérias-primas e, notadamente, aumentos de salários acima da taxa de aumento da produtividade. Vamos tomar os aumentos de salários como a principal causa do deslocamento da curva de oferta agregada (OA) - no caso para a esquerda1. Esse deslocamento da curva (OA) para a esquerda significa que, com um aumento de salários, os mesmos níveis de produção só serão oferecidos a um preço mais alto, ou seja, a um preço que compense o aumento do custo em que se incorre para cada nível de produção. Este deslocamento da curva de oferta agregada para cima e para a esquerda está ilustrado na Figura 3, a seguir:

1

Atente-se que pode ocorrer, também, choques de oferta positivos, de redução de custos – o que deslocaria a curva de oferta para a direita.

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2

P OA1 P1

OA0

P0 DA

Y1

Y0

Y

Figura 3 Vamos, agora, estabelecer um padrão de comportamento para a evolução dos salários ao longo do tempo. Por hipótese, podemos imaginar uma situação em que os salários do período t são negociados no período t-1 e esta negociação está condicionada a duas variáveis: o nível do desemprego e a taxa esperada de inflação para o tempo t, já que os assalariados têm duas preocupações básicas: a manutenção do emprego e a defesa do poder de compra dos seus salários. Neste contexto, quanto maior for a taxa de desemprego no período t-1, menor será o reajuste dos salários no período t; e quanto maior a expectativa de aumento de preço entre t-1 e t, maior deve ser o reajuste de salários em t. Matematicamente, esta conclusão pode ser facilmente representada pela seguinte equação:

Л = Лe -ß(µ - µn)

(2)

e

onde, Л é a taxa de inflação esperada. Pela equação (2), a taxa de inflação em dado período depende de quanto os agentes econômicos esperam de inflação e do nível da atividade econômica. Em outras palavras, pode ocorrer inflação simplesmente porque os agentes acreditam que haverá inflação.

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3

Mas, como os indivíduos formam suas expectativas? Existem duas correntes explicativas: as chamadas expectativas adaptadas e as expectativas racionais. De acordo com a versão das expectativas adaptadas ou adaptativas, a inflação esperada para o período t é o resultado de uma média ponderada da inflação observada nos últimos anos. Já a corrente das expectativas racionais considera que os agentes econômicos não olham o passado, mas as informações disponíveis no presente. Para formar suas expectativas sobre a inflação futura, o indivíduo não incorre em erros sistemáticos, e aprende com os erros passados, incorporando essa informação às suas expectativas. Feitas estas considerações, argumentos do Professor Friedman:

voltemos

às

críticas

e

5. A Curva de Phillips de longo prazo Friedman argumenta que a curva de Phillips que nós observamos é uma curva traçada historicamente quando os indivíduos nunca sabiam que taxa de inflação esperar. A possibilidade de escolha entre inflação e desemprego só existiria no curto prazo e na medida em que exista um ajustamento defasado dos salários em relação aos preços. Porém, quando os trabalhadores começam a perceber e a esperar uma elevação de preços, eles passam a lutar por reajustes salariais em montante equivalente à taxa esperada de inflação. A visão de Friedman, como se pode deduzir facilmente, é inteiramente dentro da análise da escola clássica que afirma que o mercado de trabalho funciona em termos de salários reais – tanto do lado da demanda por trabalho (da parte das empresas), como da parte da oferta de trabalho (da parte dos trabalhadores). Seguindo esse raciocínio, qualquer tentativa governamental de reduzir o nível de desemprego através de ativação da demanda agregada que conduza a mais inflação resultará fatalmente numa inflação em permanente aceleração, pois uma vez que se criam expectativas inflacionárias no sistema econômico, os trabalhadores exigirão novos reajustes salariais, retornando o salário real aos

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níveis anteriores e, portanto, não propiciando o aumento do nível de emprego. O desenvolvimento deste processo de ajustamento desloca a Curva de Phillips para a direita anulando o trade-off supostamente existente no curto prazo. A repetição deste processo por algum período de tempo vai mostrar que a Curva de Phillips de longo prazo é vertical. Negando a possibilidade (no longo prazo) do trade-off implícito na Curva de Phillips tradicional, este modelo de expectativas inflacionárias afirma que é impossível conduzir a atividade econômica a níveis mais altos de emprego do que a assim chamada taxa natural de desemprego sem gerar uma inflação em aceleração. Esta taxa é determinada no ponto em que a curva de Phillips é vertical. Analiticamente, a taxa natural de desemprego é aquela taxa de desemprego que poderia ser chamada de nível de desemprego de equilíbrio a longo prazo quando a economia se desenvolve normalmente ao longo de seu curso de expansão de longo prazo. Esta taxa – como já foi visto - é composta pelo desemprego friccional - existente em qualquer momento na economia, - e pelo desemprego estrutural, concorrendo para estes tipos de desemprego as condições estruturais do mercado de trabalho e de produtos. O desenvolvimento do processo que conduz, no longo prazo, a uma curva de Phillips vertical pode ser assim descrito: Dada a “taxa natural” de desemprego, aparentemente só é possível reduzir o desemprego de fato temporariamente, com políticas expansionistas que elevam a demanda agregada – o que provoca uma elevação dos preços e conseqüentemente redução dos salários reais. Este aumento na demanda por produtos e a queda do salário real levam as firmas a demandarem mais mãode-obra, reduzindo-se temporariamente o desemprego para um nível menor que a “taxa natural”. Do lado dos trabalhadores, no entanto, sua oferta de trabalho será afetada não só pela maior demanda das firmas, mas, principalmente, pela elevação dos preços, levando-os a exigirem aumentos salariais compensatórios.

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CURSOS ON-LINE – ECONOMIA 2 – PROF. MOZART FOSCHETE U% P

5

Curva de Phillips de longo prazo

P2 P1

µ1

µn

µ%

Figura 4 O aumento obtido dos salários nominais faz com que os salários reais retornem a seus níveis anteriores, provocando conseqüentemente um retorno do desemprego ao nível da “taxa natural”, porém, agora, com uma inflação mais alta. Novas tentativas de redução do desemprego através do mesmo mecanismo já descrito provocará contínuas elevações de preços, deslocando a curva de Phillips de curto prazo para a direita, sucessivamente, conforme ilustrado na Figura 4.

6. Conclusões De tudo o que foi dito, tira-se uma única conclusão: o preço de se reduzir o nível de desemprego abaixo da “taxa natural” é uma inflação em permanente aceleração, dado que, a cada “rodada”, os trabalhadores, na expectativa de mais e mais inflação, revisarão para cima suas exigências salariais, prosseguindo-se o processo indefinidamente. A rigor, concluiriam os defensores da tese aceleracionista, a escolha não é entre inflação e desemprego, mas entre desemprego

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abaixo da “taxa natural” e uma inflação em permanente aceleração. A conclusão que se tira da análise da Figura 4 é que a curva de Phillips de longo prazo é vertical, não existindo o suposto “trade-off” entre taxas de inflação e desemprego. A título de conclusão, no entanto, vale registrar que ainda há os que defendem a tese espelhada na curva de Phillips. Para esses economistas, políticas de demanda expansionistas, que elevam os preços e reduzem o desemprego no curto prazo, acabam por ter efeito positivo no longo prazo na medida em que os indivíduos que obtêm emprego se tornam mais qualificados, provocando uma redução do nível de desemprego estrutural e, portanto, deslocando a curva de Phillips para a esquerda. *

*

*

Com isso, encerramos nossa Aula 2 de Economia II. Nesta Aula nós abordamos a questão da inflação e do desemprego, cujo modelo mais expressivo é a Curva de Phillips.

Nossa próxima Aula – a de n° 3 – versará sobre a Economia Intertemporal.Até lá, então! _____________________

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4.

A equação da aceleracionista

Curva

de

Phillips

e

a

1

tese

Vejamos o que, de fato, está por trás do argumento desses críticos: Já sabemos que os preços se alteram em decorrência de deslocamentos das curvas de demanda e de oferta agregadas. No caso da curva de demanda agregada, seus deslocamentos são fruto de medidas de política econômica – expansão dos gastos do governo, redução de impostos e expansões da oferta monetária. Quanto à curva de oferta agregada, seus deslocamentos geralmente decorrem dos chamados “choques de oferta”, traduzindo estes em aumentos de custos de produção, tais como os choques do petróleo dos anos 70, as quebras agrícolas, aumentos de “margens de lucro” (mark-up), aumentos dos preços das matérias-primas e, notadamente, aumentos de salários acima da taxa de aumento da produtividade. Vamos tomar os aumentos de salários como a principal causa do deslocamento da curva de oferta agregada (OA) - no caso para a esquerda1. Esse deslocamento da curva (OA) para a esquerda significa que, com um aumento de salários, os mesmos níveis de produção só serão oferecidos a um preço mais alto, ou seja, a um preço que compense o aumento do custo em que se incorre para cada nível de produção. Este deslocamento da curva de oferta agregada para cima e para a esquerda está ilustrado na Figura 3, a seguir:

1

Atente-se que pode ocorrer, também, choques de oferta positivos, de redução de custos – o que deslocaria a curva de oferta para a direita.

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2

P OA1 P1

OA0

P0 DA

Y1

Y0

Y

Figura 3 Vamos, agora, estabelecer um padrão de comportamento para a evolução dos salários ao longo do tempo. Por hipótese, podemos imaginar uma situação em que os salários do período t são negociados no período t-1 e esta negociação está condicionada a duas variáveis: o nível do desemprego e a taxa esperada de inflação para o tempo t, já que os assalariados têm duas preocupações básicas: a manutenção do emprego e a defesa do poder de compra dos seus salários. Neste contexto, quanto maior for a taxa de desemprego no período t-1, menor será o reajuste dos salários no período t; e quanto maior a expectativa de aumento de preço entre t-1 e t, maior deve ser o reajuste de salários em t. Matematicamente, esta conclusão pode ser facilmente representada pela seguinte equação:

Л = Лe -ß(µ - µn)

(2)

e

onde, Л é a taxa de inflação esperada. Pela equação (2), a taxa de inflação em dado período depende de quanto os agentes econômicos esperam de inflação e do nível da atividade econômica. Em outras palavras, pode ocorrer inflação simplesmente porque os agentes acreditam que haverá inflação.

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Mas, como os indivíduos formam suas expectativas? Existem duas correntes explicativas: as chamadas expectativas adaptadas e as expectativas racionais. De acordo com a versão das expectativas adaptadas ou adaptativas, a inflação esperada para o período t é o resultado de uma média ponderada da inflação observada nos últimos anos. Já a corrente das expectativas racionais considera que os agentes econômicos não olham o passado, mas as informações disponíveis no presente. Para formar suas expectativas sobre a inflação futura, o indivíduo não incorre em erros sistemáticos, e aprende com os erros passados, incorporando essa informação às suas expectativas. Feitas estas considerações, argumentos do Professor Friedman:

voltemos

às

críticas

e

5. A Curva de Phillips de longo prazo Friedman argumenta que a curva de Phillips que nós observamos é uma curva traçada historicamente quando os indivíduos nunca sabiam que taxa de inflação esperar. A possibilidade de escolha entre inflação e desemprego só existiria no curto prazo e na medida em que exista um ajustamento defasado dos salários em relação aos preços. Porém, quando os trabalhadores começam a perceber e a esperar uma elevação de preços, eles passam a lutar por reajustes salariais em montante equivalente à taxa esperada de inflação. A visão de Friedman, como se pode deduzir facilmente, é inteiramente dentro da análise da escola clássica que afirma que o mercado de trabalho funciona em termos de salários reais – tanto do lado da demanda por trabalho (da parte das empresas), como da parte da oferta de trabalho (da parte dos trabalhadores). Seguindo esse raciocínio, qualquer tentativa governamental de reduzir o nível de desemprego através de ativação da demanda agregada que conduza a mais inflação resultará fatalmente numa inflação em permanente aceleração, pois uma vez que se criam expectativas inflacionárias no sistema econômico, os trabalhadores exigirão novos reajustes salariais, retornando o salário real aos

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níveis anteriores e, portanto, não propiciando o aumento do nível de emprego. O desenvolvimento deste processo de ajustamento desloca a Curva de Phillips para a direita anulando o trade-off supostamente existente no curto prazo. A repetição deste processo por algum período de tempo vai mostrar que a Curva de Phillips de longo prazo é vertical. Negando a possibilidade (no longo prazo) do trade-off implícito na Curva de Phillips tradicional, este modelo de expectativas inflacionárias afirma que é impossível conduzir a atividade econômica a níveis mais altos de emprego do que a assim chamada taxa natural de desemprego sem gerar uma inflação em aceleração. Esta taxa é determinada no ponto em que a curva de Phillips é vertical. Analiticamente, a taxa natural de desemprego é aquela taxa de desemprego que poderia ser chamada de nível de desemprego de equilíbrio a longo prazo quando a economia se desenvolve normalmente ao longo de seu curso de expansão de longo prazo. Esta taxa – como já foi visto - é composta pelo desemprego friccional - existente em qualquer momento na economia, - e pelo desemprego estrutural, concorrendo para estes tipos de desemprego as condições estruturais do mercado de trabalho e de produtos. O desenvolvimento do processo que conduz, no longo prazo, a uma curva de Phillips vertical pode ser assim descrito: Dada a “taxa natural” de desemprego, aparentemente só é possível reduzir o desemprego de fato temporariamente, com políticas expansionistas que elevam a demanda agregada – o que provoca uma elevação dos preços e conseqüentemente redução dos salários reais. Este aumento na demanda por produtos e a queda do salário real levam as firmas a demandarem mais mãode-obra, reduzindo-se temporariamente o desemprego para um nível menor que a “taxa natural”. Do lado dos trabalhadores, no entanto, sua oferta de trabalho será afetada não só pela maior demanda das firmas, mas, principalmente, pela elevação dos preços, levando-os a exigirem aumentos salariais compensatórios.

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5

Curva de Phillips de longo prazo

P2 P1

µ1

µn

µ%

Figura 4 O aumento obtido dos salários nominais faz com que os salários reais retornem a seus níveis anteriores, provocando conseqüentemente um retorno do desemprego ao nível da “taxa natural”, porém, agora, com uma inflação mais alta. Novas tentativas de redução do desemprego através do mesmo mecanismo já descrito provocará contínuas elevações de preços, deslocando a curva de Phillips de curto prazo para a direita, sucessivamente, conforme ilustrado na Figura 4.

6. Conclusões De tudo o que foi dito, tira-se uma única conclusão: o preço de se reduzir o nível de desemprego abaixo da “taxa natural” é uma inflação em permanente aceleração, dado que, a cada “rodada”, os trabalhadores, na expectativa de mais e mais inflação, revisarão para cima suas exigências salariais, prosseguindo-se o processo indefinidamente. A rigor, concluiriam os defensores da tese aceleracionista, a escolha não é entre inflação e desemprego, mas entre desemprego

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abaixo da “taxa natural” e uma inflação em permanente aceleração. A conclusão que se tira da análise da Figura 4 é que a curva de Phillips de longo prazo é vertical, não existindo o suposto “trade-off” entre taxas de inflação e desemprego. A título de conclusão, no entanto, vale registrar que ainda há os que defendem a tese espelhada na curva de Phillips. Para esses economistas, políticas de demanda expansionistas, que elevam os preços e reduzem o desemprego no curto prazo, acabam por ter efeito positivo no longo prazo na medida em que os indivíduos que obtêm emprego se tornam mais qualificados, provocando uma redução do nível de desemprego estrutural e, portanto, deslocando a curva de Phillips para a esquerda. *

*

*

Com isso, encerramos nossa Aula 2 de Economia II. Nesta Aula nós abordamos a questão da inflação e do desemprego, cujo modelo mais expressivo é a Curva de Phillips.

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“A arte de ensinar Economia de uma maneira simples, sem mistérios”. De Maria Eulália, uma ex-aluna.

AULA 3: A ECONOMIA INTERTEMPORAL PARTE 1: O CONSUMO Observação importante: O tópico 6 do programa de Economia do concurso de AFRFB – que versa sobre Economia Intertemporal - é muito longo e muito analítico. Por isso, resolvemos dividi-lo em quatro partes: Na Parte I, objeto desta Aula 3, trataremos do Consumo; na Parte II, estudaremos o Investimento; na Parte III, trataremos da restrição orçamentária do governo e a equivalência ricardiana; e, na Parte IV, vamos enfocar o modelo de crescimento de Solow que tem sido objeto de questões em praticamente todas as provas de Economia do AFRF. Apenas um alerta: trata-se de assuntos um tanto “chatos” para um aluno, principalmente quando ele não tem uma base sólida de conhecimentos de Economia. Mas, como faz parte do programa, não temos como evitá-los...

1. Introdução As decisões de consumo dos indivíduos afetam a atividade econômica como um todo, tanto no longo como no curto prazo. Para a economia, é importante saber como as pessoas decidem quanto de seus rendimentos eles vão consumir hoje, e quanto pretendem poupar para consumir no futuro. A curto prazo, decisão de consumir e de poupar é crucial para a determinação do nível da demanda agregada, já que, de uma forma geral, o consumo corresponde a dois terços do produto do país. Já a longo prazo, a decisão de consumir e de poupar é importante para a teoria do crescimento econômico. Por exemplo, no modelo de crescimento de Solow – que estudaremos numa outra aula mais à frente – a taxa de poupança da economia é um determinante básico de capital e, daí, do nível de bem-estar da população. Neste modelo, a taxa de poupança mede quanto de sua renda a geração atual está disposta a guardar para o seu próprio futuro e para as gerações futuras. Foi visto na Economia I que o consumo, nos modelos keynesianos, é uma função da renda disponível - ou, C = a +bYd), onde b é a www.pontodosconcursos.com.br

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propensão marginal a consumir, sendo a magnitude de b o principal determinante dos multiplicadores dos gastos autônomos. No entanto, com o passar dos anos pós-keynes, surgiram novas pesquisas e novas proposições teóricas sobre o consumo e seus determinantes, contestando, na maioria das vezes, a proposta keynesiana sobre o assunto. Nesta Aula, vamos apresentar as principais correntes explicativas da função consumo, apresentando a versão de três proeminentes economistas, começando, antes, por revisar a teoria keynesiana a respeito. 2. A função consumo keynesiana – uma crítica Como se sabe, Keynes escreveu sua famosa Teoria Geral do Juro, do Emprego e da Moeda na primeira metade dos anos 30 do século passado. Por falta de base estatística e de instrumentos técnicos, como microcomputadores, por exemplo, - inexistentes àquela época, - Keynes teve de fazer uma série de conjecturas sobre o comportamento da função consumo, fruto mais da observação e análise do quotidiano do que de levantamentos “científicos” dos dados. Provavelmente, em função disso, ou seja, da falta de pesquisa empírica, três conjecturas afirmadas por Keynes foram, mais tarde, objeto de críticas e até mesmo contestações, a saber: i) Keynes supôs que a propensão marginal a consumir - um dos seus conceitos mais inovadores para a teoria econômica - situava-se entre zero e um, afirmando que “...os homens estão dispostos, em regra e em média, a aumentar seu consumo à medida que a renda aumenta, mas não tanto quanto o aumento da renda”. Ou seja, se o indivíduo ganhar 100 reais extras, ele deverá gastar uma boa parte disso e poupar uma outra parte. ii) Keynes achava (e afirmava) que a propensão média a consumir – que é dada pela razão entre o consumo total e a renda disponível - cai à medida que a renda aumenta. Em outras palavras, para ele os ricos têm uma tendência a poupar maior que os mais pobres. E, iii) Para Keynes, o principal determinante, se não o único, do consumo era a renda, e que a taxa de juros não tinha praticamente nenhum papel relevante neste processo. Essa afirmativa contrastava frontalmente com a opinião dos economistas clássicos1. 1

Embora o período da Escola Clássica tenha se encerrado por volta de 1880, Keynes chamou de “clássicos” todos os economistas que vieram antes dele.

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Vale ressaltar que várias pesquisas e estudos levados a efeito nos primeiros anos após ser publicada a Teoria Geral pareciam confirmar a validade dessas proposições keynesianas (pelo menos no curto prazo) – o que lhes trouxe bastante sucesso nos meios acadêmicos nos seus primeiros anos. Ocorre que, tomando por base a função consumo keynesiana, alguns economistas, àquela época, começaram a fazer previsões sinistras sobre o futuro da economia capitalista, argumentando mais ou menos o seguinte: se é fato que o consumo vai caindo à medida que a renda cresce – ou seja, a parcela da renda destinada à poupança seria então cada vez maior – como seria possível conseguir mais e mais projetos de investimentos para absorver toda esta poupança, de forma que a economia permaneça em equilíbrio? O resultado seria que, com um consumo caindo proporcionalmente, e sendo impraticável ou mesmo impossível substituir integralmente a poupança por gastos com novos investimentos, a demanda agregada seria insuficiente para manter a economia próxima do pleno emprego, decorrendo daí um estado de recessão permanente e cada vez mais agudo. No entanto, felizmente para a economia, não foi isso o que se observou no período pós 2ª Grande Guerra. Embora nesse período a produção e a renda registrassem níveis muitíssimos maiores do que nos anos anteriores, não se observou nenhum aumento desproporcional da taxa de poupança. Esta tese foi reforçada pelos estudos sobre renda e consumo desenvolvidos por Simon Kuznets, cobrindo o período de 1869 a 1940, estudos estes que mostraram uma relação bastante estável, ao longo dos anos, entre consumo e renda. Tais achados negavam a hipótese de Keynes de que a propensão média a consumir cairia à medida que a renda aumentasse. Ficaram no ar algumas questões sem respostas, do tipo: porque as pesquisas de curto prazo pareciam embasar a hipótese keynesiana, mas falhavam quando se tratava de longo prazo? As conclusões indicaram que havia, de fato, duas funções consumo: uma para o curto prazo – que confirmava as hipóteses keynesianas sobre o consumo - e outra para o longo prazo que, contrastando com as conjeturas de Keynes, indicavam uma propensão média a consumir relativamente constante. A partir dessas constatações, os economistas passaram a procurar explicações para essa aparente contradição. Somente na década de 1950, apareceram explicações convincentes sobre essas divergências, sendo as principais a de Franco Modigliano e a de Milton Friedman. Antes porém de apresentarmos as explicações desses dois economistas para aquele fenômeno, vamos examinar, primeiro, a contribuição de www.pontodosconcursos.com.br

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Irving Fisher para a teoria do consumo das famílias – que serviu de base para os estudos de Modigliano e de Friedman.

3. A restrição orçamentária intertemporal das famílias – o que é isso? A função consumo keynesiana relaciona o consumo presente com a renda atual, mas esta relação é um tanto incompleta. Na verdade, ao decidirem sobre quanto consumir e quanto poupar, as pessoas levam em conta não só o presente mas também o futuro. Quanto mais consumirem hoje, menos poderão consumir amanhã. A maioria das pessoas preferiria aumentar a quantidade e/ou a qualidade dos bens e serviços que consome: comprar melhores roupas, viajar mais, ir a bons restaurantes. Mas, sofrem uma restrição: seu consumo é limitado pelo seu nível de renda – o que, na teoria microeconômica é chamado de restrição orçamentária intertemporal das famílias. Esta restrição orçamentária intertemporal mede os recursos disponíveis para consumo hoje e no futuro. O economista Irving Fisher desenvolveu um modelo sobre como consumidores racionais tomam suas decisões envolvendo períodos diferentes, isto é, envolvendo opções intertemporais. Vejamos como funciona este modelo: Para simplificar, vamos imaginar um consumidor que tem dois períodos de vida: o período 1 – que corresponde à sua juventude - e o período 2 - que representa sua velhice. No período 1, o consumidor ganha a renda Y1 e consome C1, e, no período 2 ele ganha a renda Y2 e consome C2 . Assim, no período 1, a poupança (S) é igual à renda menos o consumo. Ou seja, S = Y 1 – C1

(1)

Já no período 2, o consumo é igual à poupança acumulada, inclusive os juros recebidos sobre aquela poupança, mais obviamente a renda deste período. Ou seja, C2 = (1+r)S + Y2.

(2)

onde, r é a taxa de juros real. Assim, por exemplo, se r=10%, para cada R$ 1 de poupança no período 1 o consumidor pode contar com um extra de R$ 1,10 de

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consumo no período 2. Vale observar que, como por hipótese só existem 2 períodos, o consumidor não poupa no período 2. Observe mais que, se o consumo no período 1 for maior que a sua renda neste período, o consumidor estará, então, tomando emprestado, e sua poupança neste período é negativa. A restrição orçamentária do consumidor pode ser obtida pela combinação das equações (1) e (2), inclusive substituindo S da equação (2) pelo seu valor dado na equação (1), resultando: C2 = (1+r)(Y1-C1) + Y2

(3)

Para tornar mais fácil a interpretação da equação (3), podemos rearranjar os seus termos, colocando do lado esquerdo os termos que têm consumo, obtendo: (1+r)C1 + C2 = (1+r)Y1 + Y2

(4)

Dividindo os dois lados de (4) por 1+r, temos: C1 + C2/(1+r) = Y1+ Y2/(1+r)

(5)

A equação (5) relaciona o consumo dos dois períodos com a renda dos dois períodos. Ou seja, esta é a sua restrição orçamentária intertemporal. Observe que, se a taxa de juros é zero, a restrição orçamentária mostra que o consumo total nos dois períodos é igual à renda total nos dois períodos. Sendo a taxa de juros maior que zero, o consumo futuro e a renda futura devem ser descontados pelo fator 1+r. Isso ocorre porque se o consumidor ganha juros sobre a renda corrente poupada, a renda futura vale menos que a renda corrente. Uma análise gráfica talvez contribua melhor para o entendimento do que é a restrição orçamentária intertemporal. A Figura 1 mostra o máximo de renda e de consumo que o consumidor pode ter no período 1 e no período 2. No eixo horizontal, aparece, além do consumo total possível no período 1 (C1), o máximo de renda disponível que o consumidor poderia obter quando somamos a renda dos dois períodos, descontada a do período 2 pelo fator 1+r. No eixo vertical, além do consumo total possível no período 2 (C2), aparece o máximo de renda que o consumidor poderia ter para gastar (dada pela renda do período 2 mais a eventual poupança do período 1 acrescida dos juros). O limite máximo da renda total e do consumo total nos dois períodos correspondem, respectivamente, aos pontos A e B. A reta que liga

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estes dois pontos constitui, então, a restrição orçamentária do consumidor. Além daqueles dois pontos, há que se considerar ainda o ponto A. Consumo no 2° período, C2

(1+r)Y1 + Y2 B

Y2

Restrição orçamentária do consumidor

A Empréstimo

C Y1 Y1 + Y2/(1+r) Consumo no 1° período, C1

Figura 1 Observe que, no ponto A, o consumidor estaria consumindo exatamente sua renda em cada período (C1 = Y1 e C2 = Y2), não havendo, portanto, nem poupança nem empréstimos entre os dois períodos. No ponto B, o consumidor nada consome no primeiro período (C1 = 0), poupando toda a renda. Assim, o consumo no segundo período C2 é (1+r)Y1 + Y2. Já no ponto C, o consumidor não pretende consumir nada no segundo período (C2 = 0), e toma emprestado tanto quanto possível contra a renda do segundo período. Resumindo o que está na Figura 1: Esta Figura mostra as combinações de consumo no primeiro e no segundo períodos que o consumidor pode escolher. Se ele escolhe os pontos A e B, o consumidor consome menos que a sua renda no primeiro período e poupa o resto para o segundo período. Se escolhe os pontos A e C, ele consome mais do que a sua renda no primeiro período e toma emprestado para compensar a diferença. Vale observar que essas são apenas três das muitas combinações de primeiro e segundo períodos que o consumidor pode se permitir. Na

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verdade, todos os pontos na linha, de B a C, estão disponíveis para o consumidor.

4. As preferências do Consumidor e as curvas de indiferença As preferências do consumidor em relação ao consumo nos dois períodos são geralmente representadas por curvas de indiferença. Uma curva de indiferença mostra as combinações de consumo no primeiro período e no segundo período que tornam o consumidor igualmente satisfeito. A Figura 2 mostra duas das muitas curvas de indiferença com que o consumidor pode se defrontar. Vamos entender bem o que representa uma curvas de indiferença: pontos situados sobre uma mesma curva de indiferença oferecem ao consumidor o mesmo nível de satisfação e, portanto, para ele é indiferente situar-se nos pontos A, B e C, da CI1. Já as curvas de indiferença mais altas – como a CI2 - oferecem maiores combinações de consumo e, por isso, são preferidas pelo consumidor em comparação com as curvas mais baixas – como CI1. Assim, ele prefere o ponto D em relação a qualquer daqueles três pontos, uma vez que D situa-se numa curva de indiferença mais alta. Consumo no 2° período, C2

A B

D C

CI2 CI1

Consumo no 1º período, C1

Figura 2 Uma observação importante: a inclinação em qualquer ponto da curva de indiferença mostra o quanto de consumo no segundo período o consumidor exige para compensar a redução de 1 unidade do consumo no primeiro período. Esta inclinação fornece a taxa marginal

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de substituição (TMS) – taxa esta que indica o quanto o consumidor está disposto a substituir o consumo no primeiro período pelo consumo no segundo período. A otimização e o equilíbrio do consumidor Mas, em que curva de indiferença e em que ponto desta curva irá o consumidor se situar? Para responder esta questão, temos de colocar num mesmo gráfico a reta da restrição orçamentária e as curvas de indiferença. O consumidor gostaria de escolher a curva de indiferença mais alta. Mas, este desejo esbarra nos recursos ou renda de que dispõe e que definem sua reta orçamentária. A Figura 3 ilustra bem as escolhas com que se defronta o consumidor. De acordo com sua restrição orçamentária, o consumidor poderia escolher entre os pontos A, B e C. Sua escolha, logicamente, recairá sobre o ponto C – situado sobre a CI3 – que é tangente à reta orçamentária e que, portanto, é a mais alta curva de indiferença que ele pode atingir. Claro que ele preferiria o ponto D, mas este ponto ou nível de consumo não é atingível com renda de que ele dispõe. Consumo no 2° período, C2

D C

CI4 CI3 B

CI2 A

CI1

Consumo no 1° período,

C1

Figura 4 Em resumo, o consumidor alcança seu nível mais alto de satisfação ao escolher o ponto da restrição orçamentária que está na

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curva de indiferença mais alta. No ponto ótimo, a curva de indiferença é tangente à restrição orçamentária. Note-se que no nível ótimo, isto é, no ponto C, a inclinação da curva de indiferença é igual à inclinação da reta orçamentária – que dá a taxa marginal de substituição TMS. Esta inclinação da reta orçamentária é dada por 1 mais a taxa de juros real. Ou seja, no ponto C, TMS = 1+r

(6)

Duas observações importantes para nossos objetivos aqui dizem respeito aos efeitos de eventuais variações da renda e de variações na taxa de juros real sobre o consumo. No caso de variações da renda, deve ficar claro que, caso ocorra um aumento na renda do consumidor, no primeiro período ou no segundo período, a reta da restrição orçamentária se desloca para fora e para cima. Se o consumo nos dois períodos é de bens normais, este aumento da renda leva o consumidor a atingir uma curva de indiferença mais alta, indicando que o consumo desses bens se elevou nos dois períodos. Uma das conclusões que se pode tirar da análise anterior é que, independentemente do período em que tenha ocorrido o aumento da renda, o consumidor estende seu consumo pelos dois períodos. Este comportamento costuma ser chamado de nivelamento do consumo. Ou seja, como o consumidor pode emprestar parte de sua renda ou tomar emprestado entre um período e outro, o período da renda se torna irrelevante para a definição do quanto ele consome. Observe que esta conclusão é muito diferente da conclusão keynesiana. Keynes afirmava que o consumo corrente de um indivíduo depende em sua maior parte de sua renda presente. Já o modelo de Fisher diz que, em vez disso, o consumo baseia-se nos recursos que consumidor espera ter ao longo de sua vida. Quanto às variações na taxa de juros real e seus efeitos sobre o consumo, sabemos que o consumidor pode optar por poupar no período 1 e consumir mais no período 2, ou tomar emprestado no período 1, aumentando seu consumo neste período e reduzindo seu consumo no período 2 – quando vai pagar o empréstimo. Vamos supor que o consumidor opte por poupar no primeiro período, reduzindo, então, seu consumo neste período e aumentando sua renda e conseqüentemente o seu consumo no segundo período. Graficamente, isso implica um giro da reta da restrição orçamentária, interceptando o eixo horizontal num valor menor que anteriormente, e o eixo vertical num valor maior. Tal rotação possibilita que o consumidor atinja uma www.pontodosconcursos.com.br

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curva de indiferença mais alta, implicando uma nova combinação de consumo dos dois períodos, com ligeira redução no consumo do período 1 e um maior consumo no período 2. Como a nova combinação de consumo situa-se numa curva de indiferença mais alta, o consumidor obrigatoriamente está mais satisfeito agora do que antes. Apenas um detalhe: os economistas decompõem o impacto de um aumento na taxa de juros real sobre o consumo em dois efeitos: o efeito renda e o efeito substituição. Os manuais de microeconomia estudam esses dois efeitos em detalhes. Mas nós aqui vamos apenas defini-los: i)

Efeito-renda: corresponde à mudança do consumo que resulta do movimento para uma curva de indiferença mais alta. Como sua renda, ao final dos dois períodos, será maior que antes – devido aos ganhos com os juros reais – o consumidor estará consumindo mais, no frigir dos ovos, do antes. Ademais, este consumidor vai querer consumir mais nos dois períodos do que consumia antes.

ii)

Efeito-substituição: corresponde à mudança na estrutura do consumo que resulta da mudança no preço relativo do consumo nos dois períodos. Ou seja, o consumidor troca parte do consumo no período 1 por mais consumo no período 2.

Observe que a composição final do consumo do consumidor depende dos dois efeitos: ambos os efeitos atuam no sentido de aumentar o consumo do segundo período e, com certeza, o consumo deste período será aumentado. Já com relação ao consumo do período 1, o efeito final é incerto, pois o efeito-renda (positivo) pode mais que compensar o efeito-substituição (negativo). Feitas essas considerações, vamos analisar duas outras importantes teorias sobre o consumo – desenvolvidas a partir deste modelo de Irving Fisher - e que, de certa forma, contrastam com a função consumo keynesiana.

5. A hipótese do ciclo da vida Através de uma série de pesquisas e trabalhos publicados nos anos 50, o economista Franco Modigliani, tomando por base o modelo de comportamento do consumidor desenvolvido por Fisher, chegou à conclusão que, diferentemente do que Keynes propôs, o consumo depende da renda auferida pelo indivíduo ao longo da sua vida. De fato, Modiglini observou que a renda varia sistematicamente ao longo da vida das pessoas. Nesta situação, as pessoas poupam na época www.pontodosconcursos.com.br

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de renda alta (época das “vacas gordas”) e transferem esta poupança para a época de baixa renda (época da “vacas magras”). Esta conclusão levou-o a elaborar a sua teoria do consumo a que ele denominou de hipótese do ciclo da vida. O raciocínio de Modigliani é o seguinte: As pessoas, em sua maioria, pretendem se aposentar por volta dos 65 anos. Na aposentadoria, esperam que sua renda caia bastante, provocando, então, uma queda acentuada no nível de consumo. Assim, pensando em como evitar esta queda no seu padrão de vida (ou de consumo), as pessoas optam por poupar enquanto podem, isto é, enquanto estão ganhando uma renda razoável. Agora imagine a situação de um indivíduo que tem uma riqueza W, que espera viver T anos, e espera receber uma renda Y até a data de se aposentar daqui a R anos. Caso este indivíduo pretenda, quando se aposentar, manter seu nível de consumo mais ou menos como está hoje, que nível de consumo ele deverá escolher hoje? Ou seja, qual a implicação disso para a função consumo? Bem, os recursos do consumidor ao longo de sua vida são compostos pela riqueza inicial (W) e pelos recursos que ele deve auferir ao longo de seus anos de trabalho (R x Y). O consumidor pode dividir os seus recursos de toda a sua vida entre os T anos que lhe restam de vida. Supondo que ele queira manter seu consumo mais ou menos no mesmo nível ao longo dos anos, ele deve dividir os seus recursos totais (W + RY) pelos T anos que lhe restam de vida, consumindo em cada ano: C = (W+RY)/T como

(7)

A partir daí, pode-se escrever esta função consumo do indivíduo C = (1/T)W + (R/T)Y

(8)

Um exemplo numérico pode ajudar no entendimento desta função consumo: suponha que o consumidor espera viver mais 40 anos e trabalhar durante 25 anos desses anos. Então, T = 40 e R=25. Assim, a função consumo da equação (8) será dada por: C = 0,025W + 0,5Y

(9)

Ou seja, pela equação (9), o consumo depende não só da renda presente mas, também, da riqueza. O que a equação (9) está dizendo é que se o consumidor receber R$1,00 extra de renda por ano, seu consumo deve aumentar em R$0,50, e R$1,00 extra de riqueza aumenta o seu consumo em R$0,025.

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12

Generalizando a função consumo da equação (9) para toda a economia, veremos que o consumo agregado depende da renda e da riqueza, e a função consumo da economia passa a ser representada por: C = αW + βY

(10)

Onde, o parâmetro α é a propensão marginal a consumir decorrente da riqueza (W) e o parâmetro β é a propensão marginal a consumir decorrente da renda. Implicações dessa nova função consumo Pela equação (10), pode-se constatar que, se a renda (Y) cair a zero, haveria ainda um consumo igual a αW – que pode variar conforme a variação em W -, não sendo portanto um valor fixo como é a parcela autônoma do consumo na função consumo keynesiana. De outra parte, pela função consumo do ciclo da vida, a propensão média a consumir é dada por: C/Y = α(W/Y) + β

(11)

Como a riqueza não varia na mesma proporção da renda de pessoa para pessoa e de ano para ano (em períodos curtos), podemos concluir que a uma renda elevada corresponde uma baixa propensão média a consumir. Já em períodos mais longos, no entanto, a riqueza e a renda crescem juntas, resultando em um razão W/Y praticamente constante e, daí, em uma propensão média a consumir constante. Em outras palavras, como a riqueza aumenta com o passar dos anos, a propensão média a consumir não cai, constrastando, assim, com a propensão média a consumir keynesiana – que é decrescente ao longo do tempo. Interessante observar que as pesquisas de pós-guerra (particularmente as de Simon Kuznets) estão mais de acordo com a teoria do ciclo da vida. Uma outra previsão importante do modelo do ciclo da vida é a de que a poupança varia ao longo da vida das pessoas. Em outras palavras, pode-se imaginar um indivíduo jovem que está começando a trabalhar agora e, como tal, não dispõe de nenhuma riqueza. Sua riqueza vai sendo, então, acumulada durante seus anos de vida economicamente ativa para, depois, usufruir dela durante seus anos de aposentadoria. Ou seja, segundo a hipótese do ciclo da vida, como as pessoas querem um consumo estável ao longo da sua vida, os jovens que estão trabalhando poupam, enquanto os velhos aposentados despoupam.

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6. A hipótese da renda permanente Ainda analisando a economia intertemporal, uma teoria sobre a função consumo bastante difundida nos anos 60/70, também constrastando com a função consumo keynesiana, foi a chamada hipótese da renda permanente, de Milton Friedman, que, de certa forma, complementa a teoria do ciclo da vida. Note-se que tanto a teoria do ciclo da vida como a da renda permanente pretendem demonstrar que o consumo não depende apenas da renda atual como diz Keynes. Vejamos, então, com mais detalhes, os argumentos subjacentes à teoria da renda permanente: Para Friedman, a renda Y é constituída de dois componentes: a renda permanente (YP) – que corresponde à parte da renda que os indivíduos esperam que vai permanecer ao longo dos anos - e a renda transitória (YT) – que é a parte da renda que os indivíduos não esperam que vai persistir. Ou seja: Y = YP + YT

(12)

Em outras palavras, pode-se dizer que a renda permanente corresponde à renda média que as pessoas recebem, enquanto a renda transitória é o desvio aleatório e eventual dessa média. Para ficar mais claro como se distinguem essas duas rendas, considere os seguintes exemplos: i)

Pedro, um advogado, ganhou este ano mais do que Antônio, que abandonou os estudos no curso médio. Como Pedro tem curso superior, sua renda permanente foi maior e deverá permanecer maior do a de Antônio.

ii)

João, um plantador de café do sul de Minas, ganhou menos do que o habitual este ano porque uma geada destruiu seu cafezal. Já o Beto, um plantador de café do Espírito Santo ganhou mais do que o normal, porque a geada do sul de Minas provocou um aumento no preço do café e ele acabou sendo beneficiado por isso. Este ganho de renda maior de Beto nada mais é que uma renda transitória, eventual. É possível que este fato (a geada) se repita no próximo ano e o Beto volte a ter uma renda maior que João. Mas, pode ser que isso não ocorra novamente. Tal ocorrência, como se vê, é aleatória. Da mesma forma, João teve uma perda transitória de renda neste ano e, como tal, este prejuízo não deve representar sua renda permanente.

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Daí, pode-se concluir que diferentes formas de renda têm diferentes possibilidades de persistirem. No caso de Pedro, sua boa instrução lhe garante uma renda maior em caráter permanente, enquanto no caso de Beto, o bom tempo lhe proporcionou uma renda maior em caráter transitório. Para Friedman, o consumo depende principalmente da renda permanente, porque os consumidores usam poupanças prévias e empréstimos para estabilizar o consumo em reação a mudanças transitórias na renda. Para entender melhor, suponha que um indivíduo recebeu um aumento permanente de renda de R$2.000,00 por mês. Neste caso, seu consumo aumentaria neste valor. Mas, se este indivíduo tivesse ganho R$ 5.000,00 na loteria, ele não consumiria tudo em um ano. Ao contrário, ele deve estender o consumo extra pelo resto da vida. Ou seja, o consumidor gasta sua renda permanente, mas poupa a maior parte da renda transitória para gastá-la ao longo dos anos. Com este raciocínio, Friedman propôs que a função consumo fosse assim representada: C = αYP

(13)

onde α é uma constante que mede a fração da renda permanente que é consumida. Ou seja, de acordo com a hipótese da renda permanente, o consumo é uma proporção da renda permanente. Implicações da hipótese da renda permanente Quais são as implicações por trás da proposta da renda permanente? Uma primeira implicação diz respeito à propensão média a consumir. Para visualizar melhor isso, vamos dividir os dois lados da função consumo expressa na equação (13) por Y, obtendo: PMeC = C/Y = αYP/Y

(13)

Pelo que se deduz da equação (13), na hipótese da renda permanente, a propensão média a consumir (PMeC) depende da razão entre a renda permanente e a renda corrente. Quando a renda corrente (Y) aumenta temporariamente acima da renda permanente, a propensão média a consumir cai temporariamente; quando a renda corrente cai temporariamente, a PMeC aumenta temporariamente. Para Friedman, essas oscilações de ano para ano da renda são dominadas pela renda transitória. Mas, considerando longos períodos – digamos, décadas para décadas – a variação na renda vem do componente permanente. Em conclusão, em prazos mais longos, devese observar um propensão média a consumir relativamente constante – www.pontodosconcursos.com.br

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(tal como as pesquisas pós-guerra, principalmente as de Kuznets mostraram). 7. Um resumo do que foi analisado aqui, nesta nossa Aula 3 Tudo o que foi discutido e analisado nesta Aula 3 (de Economia 2) pode ser assim resumido: i)

Keynes afirmou que a propensão marginal a consumir (PMgC) situase entre 0 e 1, e que a propensão média a consumir (PmeC) cai à medida que a renda sobe, e que a renda corrente (Y) é o principal determinante do consumo. Alguns estudos sobre o consumo, de curto prazo, pareceram comprovar a afirmação keynesiana. No entanto, nos estudos de longo prazo, não foi encontrada qualquer tendência de a PMeC cair quando a renda aumenta.

ii)

Irving Fisher elaborou um modelo de consumo do consumidor onde este se defronta com uma restrição orçamentária intertemporal, e escolhe o consumo para o presente e para o futuro, a fim de alcançar o mais alto nível de satisfação durante a vida. Enquanto o consumidor puder poupar e tomar emprestado, o consumo depende dos seus recursos ao longo de sua vida.

iii)

A hipótese do ciclo da vida, de Modiliani, enfatiza que a renda varia de maneira um tanto previsível ao longo da vida de uma indivíduo, e que os consumidores usam a poupança e o empréstimo para manter o consumo estável ao longo da vida. Segundo esta hipótese, o consumo depende da renda e da riqueza.

iv)

Já a hipótese da renda permanente, de Friedman, enfatiza que as pessoas experimentam oscilações permanentes e oscilações transitória em sua renda. Como os consumidores podem poupar e tomar emprestado, e porque querem manter seu consumo estável, o consumo não reage muito à renda transitória. O consumo depende então principalmente da renda permanente.

_________________________ Bibliografia consultada: Este texto foi elaborado tomando por base, fundamentalmente, o capítulo 16 de Mankiw, N. G., Macroeconomia, LTC Editora, R.Janeiro, 5ª Edição, 2004. Complementarmente, foram também consultados o Manual de Macroeconomia, da equipe de Professores da FEA-USP, Editora Atlas, S.Paulo, 1998, 1ª Edição, e Macroeconomia, de Olivier Blanchard, S.Paulo, Prentice Hall, 3ª Edição, 2004.

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“A arte de ensinar Economia de uma maneira simples, sem mistérios”. De Maria Eulália, uma ex-aluna.

AULA 4: A ECONOMIA INTERTEMPORAL Parte 2: O INVESTIMENTO (Veja observação contida no início da Aula 4, anterior).

1.

Introdução

O investimento tem um duplo papel nos modelos macroeconômicos: primeiro, constitui-se num importante componente da demanda agregada da economia; segundo, contribui para o aumento da capacidade produtiva da economia ao longo dos anos. Também é, certamente, o componente da demanda agregada mais volátil. De uma forma geral, quando os gastos com bens e serviços caem durante uma recessão, um boa parte desta queda decorre do redução dos gastos de investimento. Os modelos de produto e de demanda agregada que estudamos em tópicos anteriores como, por exemplo, no caso do modelo IS-LM, baseavam-se em hipóteses simples, ora fazendo o valor do investimento como uma variável autônoma (I = I), não dependente de nada, ora relacionando negativamente o investimento com a taxa de juros: I = I - ir. Há três tipos de gasto com investimento: o investimento em capital fixo privado – que inclui os máquinas e equipamentos que as empresas compram para usar na sua produção; o investimento em imóveis residenciais – que inclui a construção de imóveis novos que as pessoas compram para morar ou para alugar; e o investimento em estoque – que inclui tanto as matérias-primas que as empresas guardam, como os próprios bens produzidos pela empresa e eventualmente não vendidos.

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Neste texto, nós vamos nos concentrar no estudo do investimento em capital fixo privado que, na verdade, representa quase 80% do total de investimento da economia. O termo “privado” aqui significa que não estamos tratando dos gastos de investimento do governo e sim dos bens de capital adquiridos pelas empresas particulares para sua produção futura. Já o termo “capital fixo” significa um capital que vai ficar instalado por algum tempo, o que não é o caso, por exemplo, do investimento em estoque que será vendido ou usado logo, num futuro mais ou menos breve. A rigor, o investimento em capital fixo inclui desde uma fábrica até um aparelho de fax, microcomputadores e caminhões que a empresa utiliza. Nesta Aula 4, nós examinaremos mais a fundo a teoria subjacente à função investimento, tentando responder as seguintes questões principais:

. Por que o investimento se relaciona negativamente com a taxa de juros?

. O que causa o deslocamento da função investimento? . O que faz o investimento aumentar durante os períodos de crescimento recessão?

2.

econômico

e

diminuir

nos

períodos

de

O Modelo Neoclássico de Investimento

O modelo padrão de análise do investimento em capital fixo privado é o chamado modelo neoclássico de investimento. Este modelo examina os benefícios e os custos que as empresas têm com a posse de bens de capital, mostrando como os acréscimos ao estoque de capital se relacionam com o rendimento marginal do capital, com a taxa de juros e com as regras tributárias relativas às empresas. Para desenvolver e entender o modelo, vamos imaginar que há dois tipos de empresas na economia: as empresas de produção - que produzem bens e serviços usando máquinas e equipamentos (bens de capital) alugados – e as empresas de locação que, de fato realizam todos os investimentos na economia, comprando www.pontodosconcursos.com.br

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máquinas e equipamentos e alugando-os para as empresas de produção. Na economia real, a maioria das empresas desempenha, de fato, as duas funções, ou seja, investem em capital para produção futura e também produzem bens e serviços. Mas, para tornar a análise mais simples, é melhor separar as empresas naquelas duas categorias acima. Vamos, então, primeiro analisar a empresa de produção típica, isto é, aquela que aluga as máquinas para produzir bens e serviços. Ao decidir alugar capital, a empresa compara, antes, o custo e o benefício de cada unidade de capital. A empresa aluga a máquina a um custo de aluguel A, e vende sua produção pelo preço P. O custo real desta máquina para a empresa é A/P. O benefício real de uma unidade de capital é o produto marginal do capital – PMgK – ou seja, a produção extra que se obtém com o uso de mais uma unidade de capital. Observe que o PMgK declina à medida que aumenta a quantidade de capital utilizada. Pela teoria microeconômica, sabemos que, para maximizar seu lucro, a empresa alugará o capital até que o PMgK se iguale com o custo do capital, isto é, com o valor do aluguel. A/P Oferta de capital

A/P = preço real do capital

Demanda por Capital PMgK

Quantidade de capital

Figura 1

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A Figura 1 mostra a curva de demanda por capital que, na verdade, coincide com a curva do PMgk. Esta curva de demanda é negativamente inclinada, indicando que quanto maior a quantidade de capital utilizada, menor é o PMgK. Em qualquer momento, existe um estoque de capital fixo e, por isso, a curva de oferta de capital é vertical. O preço real do aluguel de capital é determinado, no ponto de equilíbrio entre a oferta e a demanda por capital – o que ocorre no cruzamento das duas curvas, tal como ilustrado na Figura 1. Já que, em equilíbrio, o preço do aluguel é igual ao produto marginal do capital, podemos concluir o seguinte:

3.

i)

Quanto mais baixo for o volume de capital instalado (maior, portanto, é o PMgK), mais alto será o preço real do aluguel;

ii)

Quanto melhor a tecnologia, maior é o PMgK e, então, maior será o preço real do aluguel.

O custo do capital

Vamos, agora, analisar a situação das empresas de locação. Tal como as locadoras de automóveis, essas empresas compram bens de capital e os oferecem para alugar. A exemplo do que ocorre com as empresas de produção, as empresas de locação, ao fazer investimentos em mais capital, comparam o benefício e o custo de se possuir capital. A vantagem ou benefício de se possuir capital é a receita obtida ao alugá-lo para as empresas de produção. Já o custo de se possuir o capital é um pouco mais complexo pois, na verdade, para cada período de locação, a empresa arca com três custos: i) Para adquirir o capital, a empresa ou pega dinheiro emprestado no banco e paga juros (r), ou usa o próprio dinheiro e deixa de ganhar juros sobre ele. De qualquer forma, a empresa tem um custo de juros que será dado por rPk – sendo Pk o preço do capital; ii) um segundo custo ocorreria se, durante a locação, o preço do capital se alterar: se Pk cai, a empresa perde porque o valor de

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seu ativo diminuiu; se Pk sobe, a empresa ganha, porque o valor de seu ativo aumentou. O custo desta perda ou deste ganho pode ser representado por -∆Pk (sinal de menos significa que estamos medindo custos e não benefícios). iii) um terceiro tipo de custos para a empresa é a depreciação, que corresponde ao desgaste da máquina enquanto está alugada. Chamando de δ a taxa de depreciação, o custo da depreciação será dado por δPk. Assim, o custo total de aluguel de uma unidade de capital (Ck) por um período qualquer é dado por: Ck = rPk - ∆Pk + δPk

(1)

Ck = Pk(r - ∆Pk/ Pk + δ)

(2)

Ou,

Ou seja, o custo do de uma unidade de capital depende do preço do capital, da taxa de juros, da taxa à qual o preço do capital varia e da taxa de depreciação. Um exemplo numérico pode facilitar a compreensão do que estamos dizendo. Vamos imaginar uma empresa que aluga carros para empresas e que o preço de compra de cada carro seja R$20.000,00. A taxa de juros (r) é de 10% ao ano, ou seja, R$2.000,00 para cada carro. Supondo que o preço do carro suba 5% ao ano, a empresa tem um ganho de R$1.000,00 por ano e, supondo, ainda, que o carro sofra uma depreciação de 15% ao ano, então δPk é de R$3.000,00. Temos, assim: Ck = 2000 + 1000 + 3000 = 6000 Agora, supondo que o preço do capital suba na mesma proporção da taxa de inflação (π), e que a taxa de juros real (r*) seja dada pela taxa nominal de juros (r) menos a taxa de inflação (π), podemos definir o custo do capital como: Ck = Pk(r* – δ)

(3)

A equação (3) diz que o custo do capital depende do preço do capital, da taxa de juros real e da taxa de depreciação.

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Por fim, queremos expressar o custo de capital relativamente a outros bens da economia, encontrando, assim, o custo real do capital (CRk) que será dado por: CRk = (Pk/P)(r* + δ)

(4)

A equação (4) diz, simplesmente, que o custo real do capital depende do preço relativo de um bem de capital (Pk/P), da taxa de juros real (r*) e da taxa de depreciação (δ).

4.

Os determinantes do investimento

Vamos analisar, agora, a situação em que uma empresa de locação decida aumentar ou diminuir seu capital instalado. Note-se que cada unidade de capital gera uma receita real para a empresa igual a R/P e acarreta um custo real igual a (Pk/P)(r* + δ). Assim, o lucro real por unidade de capital será dado por: Lucro = Receita – Custo Lucro = R/P - (Pk/P)(r* + δ)

(5) (6)

Como, em equilíbrio, o preço real do aluguel é igual ao produto marginal do capital (PMgK), podemos escrever o lucro como: Lucro = PMgK – (Pk/P)(r* + δ)

(7)

Ou seja, a empresa de locação só terá lucro se o PMgK for maior que o custo de capital (Pk/P)(r* + δ), e terá prejuízo se o PMgK for menor que o custo de capital. A partir daí podemos deduzir os determinantes da decisão da empresa de investir ou não, ou seja, de aumentar seu estoque de capital ou se deixa que o capital instalado se deprecie. Pelo que foi visto, esta decisão depende de se determinar se é lucrativo possuir ou alugar capital. Em outras palavras, a variação do capital instalado – chamado de investimento líquido – depende da diferença entre produto marginal do capital e o custo do capital, podendo-se afirmar o seguinte: www.pontodosconcursos.com.br

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5.

7

i)

se o PMgK > (Pk/P)(r* + δ), as empresas consideram vantajoso, isto é, lucrativo, aumentar o estoque de capital instalado;

ii)

se o PMgK < (Pk/P)(r* + δ), as empresas preferirão deixar o capital instalado diminuir.

A demanda por investimento em geral

A separação que fizemos entre empresas de produção e empresas de locação de capital, embora torne mais fácil a análise do investimento, não é essencial nem necessária para se deduzir a maneira como as empresas decidem quanto investir. Assim, por exemplo, vamos imaginar o caso de uma empresa que possui e utiliza o capital (que é o caso mais comum). Para esta empresa, o benefício de uma unidade extra de capital é o seu produto marginal, e o custo é o custo de capital. A exemplo do que acontece com uma empresa que possui e aluga capital, essa empresa só aumentará seu estoque de capital se o produto marginal do capital superar o custo do capital. Ou seja: ∆K = i[(PMgk - (Pk/P)(r* + δ)]

(8)

onde i seria o coeficiente que mostra o quanto o investimento reage ao incentivo de investir. Em outras palavras, o coeficiente i corresponderia à elasticidade do investimento ao incentivo de investir, sendo este último dado pela expressão: I = i[(PMgk -(Pk/P)(r*+δ) + δK

(9)

De outra parte, o gasto total em investimento em capital fixo privado, isto é, o investimento bruto, é dado pela soma do investimento líquido e a substituição do capital depreciado. E, pela expressão (9), este investimento bruto depende do produto marginal do capital, do custo de capital e da depreciação do capital. Neste raciocínio, chegamos à conclusão de que o investimento privado depende essencialmente da taxa de juros real (r*). Caso r* se reduza, o custo do capital também se reduz, www.pontodosconcursos.com.br

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aumentando, portanto, o lucro do capital e, daí, estimulando novos investimentos. O contrário ocorrerá caso a r* se eleve. Esta relação negativa entre o volume de novos investimentos e o valor de r* está mostrada na Figura 2. Já a Figura 3 mostra um deslocamento da curva de investimento para direita provocado por, digamos, uma melhoria tecnológica que aumente o produto marginal do capital, elevando, em conseqüência, a lucratividade do investimento. Este aumento na lucratividade do investimento aumenta a quantidade de unidades de capital que a empresa gostaria de adquirir para qualquer nível de r*. r*

r*

Investimento, I

Figura 2

Investimento, I

Figura 3

A Figura 2 mostra que o investimento em capital fixo privado aumenta quando a taxa de juros cai. Isso acontece porque uma taxa de juros mais baixa reduz o custo do capital e faz com que possuir capital seja mais lucrativo. Já a Figura 3 mostra um deslocamento para fora da função investimento, o que pode se decorrente de um aumento do produto marginal do capital. Agora, vejamos o que pode ocorrer ao longo do tempo: Se o produto marginal está acima do custo de capital, haverá novos investimentos, reduzindo o produto marginal do capital; se o produto marginal estiver abaixo do custo de capital, o estoque de capital cairá, aumentando, em conseqüência, o produto marginal do capital. www.pontodosconcursos.com.br

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Neste raciocínio, podemos concluir que o nível ótimo de investimento será aquele em que o produto marginal do capital se iguala com o custo do capital, quando a empresa atinge, então, o estado estacionário que ocorre quando: PMgK = (Pk/P)(r* + δ)

(10)

Em conclusão, no longo prazo, o produto marginal do capital é igual ao custo real do capital. A velocidade de ajuste do estoque de capital ao estado estacionário depende da rapidez com que as empresas ajustam seu capital instalado – o que, por seu turno, depende do custo de fabricar, entregar e instalar capital novo. *

*

*

Com essas considerações, encerramos esta 2ª Parte do tópico “Economia Intertemporal”. Com já prevenimos nossos alunos, trata-se de um assunto um tanto abstrato para a maioria dos estudantes de Economia. Mas, infelizmente, este tópico está no programa... e o jeito é estudá-lo, gostemos dele ou não! Nossa próxima Aula – a de n° 5 – continuaremos nesta mesma linha de estudo, analisando a restrição intertemporal do governo. Até lá!

______________________ Bibliografia consultada: Este texto foi elaborado tomando por base, fundamentalmente, o capítulo 17 de Mankiw, N. G., Macroeconomia, LTC Editora, R.Janeiro, 5ª Edição, 2004. Complementarmente, foram também consultados o Manual de Macroeconomia, da equipe de Professores da FEA-USP, Editora Atlas, S.Paulo, 1998, 1ª Edição, e Macroeconomia, de Olivier Blanchard, S.Paulo, Prentice Hall, 3ª Edição, 2004.

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“A arte de ensinar Economia de uma maneira simples, sem mistérios”. De Maria Eulália, uma ex-aluna.

Aula 5: A ECONOMIA INTERTEMPORAL Parte 3: A restrição orçamentária intertemporal do governo e a equivalência ricardiana Observação: A Economia intertemporal, como já foi dito, é um tópico uma tanto complexo e constituído de temas que exigem tratamento diferente. Foi esta a razão que nos levou em separar o tópico em quatro tópicos distintos, pois, apesar de se enquadrarem no título “Economia Intertemporal”, não guardam relação um com o outro. Depois do tema dessa Aula 5, ainda teremos uma Parte 4 – que trata do modelo de crescimento de Solow – que , das quatro partes, é a que tem maiores chances de cair na prova. Voltamos a repetir que Economia Intertemporal se constitui, sem dúvida, na parte mais “chata” do programa do concurso do AFRFB, principalmente para os candidatos não economistas. A vida, também, não é feita só de flores, concorda? Então, vamos lá.

1. Introdução Como é sabido, as contas do setor público brasileiro apresentam um déficit crônico de forma recorrente, um fenômeno que vem ocorrendo desde meados dos anos 70 do século passado. Para financiar ou cobrir este déficit, o governo conta com quatro alternativas: i) ii) iii) iv)

emissão monetária; tomada de empréstimos bancários; aumento da carga tributária; e, venda de títulos públicos.

A emissão monetária foi um mecanismo bastante utilizado pelo governo ao longo dos anos 70/80, do século passado, mas devido aos seus efeitos perversos sobre o processo inflacionário, praticamente foi eliminado pela proibição constitucional de 1988. Mas, vale registrar que a emissão monetária destinada a atender as necessidades da economia acaba se constituindo, ainda, numa fonte de financiamento do déficit público. Este é conhecido fenômeno da “senhoriagem”, bastante estudado em Finanças Públicas.

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Da mesma forma, a tomada de empréstimos bancários, também bastante utilizada em anos passados, hoje já não se constitui em alternativa de financiamento do déficit graças a inúmeros dispositivos legais que impedem que órgãos do governo se endividem junto ao setor bancário. Restaram como opções, então, o aumento da carga tributária e a venda de títulos públicos – mecanismos que o governo tem usado e abusado. A carga tributária no Brasil tem crescido de forma sistemática ao longo das duas últimas décadas, saltando de algo como 22% do final dos anos 70 para algo em torno de 32% na virada do século e, segundo estimativas recentes, já está atingindo cerca de 38% do PIB, agora em 2005. Para se ter uma idéia da magnitude desta taxa, basta dizer que não existe paralelo em nenhum país de estágio de desenvolvimento equivalente ao do Brasil. Na América Latina, os países com maiores cargas tributárias são o México e a Argentina, mas ambos giram em torno dos 20%-21% do PIB – ou seja, praticamente a metade da taxa registrada no Brasil. A venda de títulos públicos – outro mecanismo bastante usado pelos sucessivos governos brasileiros para financiar o déficit fiscal ou orçamentário - tem como principal resultado a formação da chamada dívida interna pública (DIP) que, no caso brasileiro, mercê dos elevados juros, tem crescido de forma geométrica nos últimos 15 anos. Assim, por exemplo, em 1994, quando se iniciou o Governo FHC, a DIP situava-se em torno de R$ 64,0 bilhões; já em 2002, isto é, oito anos depois, quando Lula assumiu o governo, aquela dívida havia se multiplicado por 10, situando-se em cerca de R$ 650,0 bilhões. Agora, dois anos e meio depois, a dívida interna pública, situa-se em aproximadamente R$ 1,0 trilhão! Qual a principal implicação desta monstruosa dívida? A resposta é muito simples e óbvia: uma despesa com juros que supera, de longe, qualquer outro item da despesa governamental. Com uma taxa média de juros incidente sobre a DIP da ordem de 17% ao ano, a despesa anual do governo federal com juros está projetada, este ano, para algo como R$ 170,0 bilhões – o correspondente a um terço da arrecadação tributária total do governo e equivalente a mais do dobro dos gastos previstos com educação e saúde somados! Registre-se que o volume dos juros devidos pelo governo é tão elevado que, por maior que seja o “superávit primário”, não é suficiente para

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o pagamento daquele montante. Conseqüentemente, a alternativa é a venda de mais títulos no mercado para pagar os juros vencidos, elevando mais ainda a DIP. Neste contexto, está, então, criado o círculo vicioso da dívida pública: mais dívida leva a mais juros que leva a mais dívida, e assim, sucessivamente. Diante desse quadro um tanto desanimador, para não dizer aterrador, o que deve ser feito? A resposta de qualquer economista com um mínimo de sensatez é: redução dos gastos públicos, via corte de gastos com pessoal, redução das aposentadorias, dos gastos supérfluos, do empreguismo político, das obras desnecessariamente suntuosas, e coisas do gênero. Infelizmente, no entanto, tais cortes contrariam fortes interesses de grupos com grande poder de pressão (magistratura, procuradoria, auditores fiscais, militares e assemelhados) – o que tem inviabilizado todas as tentativas e esforços naquele sentido. Feitas estas colocações, vamos analisar a chamada “equivalência ricardiana” relativa às contas públicas. O objeto desse tema é verificar a reação dos indivíduos – ou agentes econômicos – diante do anúncio por parte do governo de que vai cortar parte dos impostos, e que o eventual déficit público daí derivado será financiado com empréstimos.

2. A visão tradicional da dívida do Governo Suponha, apenas, para raciocinar, que o Governo, pressionado por amplos setores da sociedade para reduzir a carga tributária, decide efetuar um corte no nível dos impostos da ordem de 20%. Antes, porém, de adotar esta medida, resolve consultar a área econômica do Ministério da Fazenda sobre os efeitos benéficos e maléficos de tal medida. Para analisar os efeitos dessa mudança na política fiscal, no curto e no longo prazo, e fornecer uma resposta técnica ao Presidente, os economistas do Ministério da Fazenda recorrem aos modelos keynesianos, ao modelo IS-LM, ao modelo MundellFleming, aos modelos de crescimento econômico e a outros que constam dos manuais de macroeconomia. Depois de muito analisarem e discutirem os efeitos da redução dos impostos, à luz dos modelos macroeconômicos, a

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área econômica fornece a resposta ao Governo, mais ou menos nas seguintes linhas: “O corte dos impostos provoca, de imediato, um aumento na renda pessoal disponível, aumentando, em conseqüência, os gastos de consumo das famílias. Este aumento do consumo afeta a atividade econômica no curto e no longo prazos. No contexto do modelo de curto prazo da IS-LM, o aumento do consumo se traduz num aumento da demanda agregada por bens e serviços, provocando um aumento do produto (ou da renda) agregado e do emprego. No entanto, mantida a oferta monetária atual, o aumento do produto e da renda causa uma maior demanda por moeda para transações, elevando a taxa de juros doméstica – o que desestimula o investimento mas, ao mesmo tempo, estimula a entrada de capitais externos. Esta entrada de capitais externos (dólares), aumenta o valor do Real em relação à moeda americana (e, também, em relação às outras moedas. Com isso, as exportações brasileiras perdem competitividade no mercado internacional, ao mesmo tempo em que as nossas importações tenderão a se elevar. A longo prazo, o corte fiscal reduz a poupança do governo e, daí, a poupança interna se reduz também. Com conseqüência, os investimentos domésticos se reduzem e o produto do país deve cair. Quanto ao efeito do corte fiscal sobre o bem-estar da economia, vale registrar que as gerações atuais se beneficiariam de um consumo maior e de um emprego maior, ainda que talvez com inflação mais alta. Certamente, as gerações futuras arcarão com grande parte do ônus dos déficits orçamentários de hoje, pois sua herança será uma dívida pública impagável. Pelo exposto acima, a área econômica deste Ministério não recomendaria a adoção desta medida. Sem mais para o momento, agradecemos a confiança em nós depositada. a) Chefe da Coordenação Econômica.

Dias depois, o Chefe da Coordenação Econômica do Ministério da Fazenda recebe do Chefe da Casa Civil da Presidência da República a seguinte resposta: “Prezado Chefe da Coordenação Econômica, O governo recebeu sua análise sobre os efeitos de um eventual corte dos impostos e achou que se trata de um documento sério e bem elaborado. No entanto, ontem, um proeminente economista – que se declarou “ricardiano” – em visita ao Palácio do Planalto, leu seu relatório e, em seguida, prestou um longo depoimento às Chefias do Palácio, inclusive com a presença do Sr. Presidente, e chegou a conclusões totalmente diferentes daquelas que sua Coordenação Econômica apresentou. Entre outras coisas, aquele economista declarou que o corte dos impostos não estimularia o consumo das famílias e, sendo assim, o déficit orçamentário não provocaria os efeitos maléficos apontados por vocês da Coordenação Econômica.

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Deste modo, tendo por base a análise daquele economista “ricardiano”, gostaria de comunicar a V.Sa. e à sua equipe que o governo levará adiante a proposta do corte fiscal. Atenciosamente, J.D. – Secretário do Governo”.

3. A visão ricardiana da dívida do Governo Como foi visto, pela visão tradicional da dívida do governo, exposta pelo Chefe da Coordenação Econômica do Ministério da Fazenda, quando o Governo reduz os impostos, provocando um déficit orçamentário, os consumidores, ao perceberem que estão recebendo uma renda maior, passarão a gastar mais. No entanto, alguns teóricos da economia e das finanças públicas, baseados na chamada equivalência ricardiana, questionam estas conclusões “tradicionais”. Segundo esta abordagem, os consumidores são mais previdentes do que alguns supõem e, por isso, baseiam seus gastos não só na renda presente, ma também na renda esperada no futuro. Como será, então, o raciocínio deste consumidor previdente diante de um eventual corte dos impostos? Para esse consumidor, o corte de impostos provocará um déficit orçamentário que terá de ser financiado com empréstimos. Esses empréstimos gerarão despesas do governo maiores no futuro, seja para pagar os juros desse empréstimo, seja para quitar o próprio empréstimo. Essas despesas maiores no futuro exigirão forçosamente um aumento nos impostos. Ou seja, o corte dos impostos de hoje representa um aumento dos impostos amanhã. Isso significa que o corte fiscal proporciona a ele, hoje, um ganho de renda que é transitório e que, eventualmente, lhe será tomado de volta amanhã. E se assim é, não convém alterar seu consumo hoje para se sacrificar amanhã! Na verdade, o raciocínio que está por trás do comportamento deste consumidor previdente é que a dívida atual do governo equivale a impostos no futuro e os impostos futuros equivalem aos impostos correntes. Portanto, financiar o governo com mais dívida é o mesmo que financiá-lo com mais impostos. Essa é a conhecida equivalência ricardiana – denominação esta devida a

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David Ricardo1 que foi o economista a tratar desse tema, no século XIX. Em outras palavras, a equivalência ricardiana argumenta que um corte fiscal hoje, que gera um déficit orçamentário financiado por dívida, deixa o consumo inalterado. Neste contexto, as famílias prevenidamente deverão destinar à poupança a renda extra obtida, visando pagar o aumento futuro dos impostos conseqüente do corte fiscal de hoje. Esse aumento da poupança privada compensa exatamente o decréscimo da poupança pública fruto daquele corte nos impostos. Ou seja, no frigir dos ovos, a poupança nacional – que corresponde à soma da poupança pública mais a poupança privada – permanece a mesma. Esta conclusão é, portanto, bastante diferente daquela prevista pela visão tradicional. Agora, vejamos um outro desdobramento do corte dos impostos: suponha, por exemplo, que, ao cortar os impostos, o governo deixa claro que pretende cortar também suas despesas, reduzindo suas compras no futuro. Caso o consumidor perceba que isso é um fato, ele acreditará que não haverá aumento de impostos no futuro, e então se sentirá mais rico e, nesta situação, ele aumenta seu consumo presente. Mas, note-se que a aumento do consumo, nesta hipótese, se deveu ao corte dos gastos do governo e , não, ao corte nos impostos. Em outras palavras, caso o governo anunciasse uma redução futura das suas compras, o consumo aumentaria hoje, mesmo que os impostos atuais permanecessem inalterados, já que isso implicaria impostos mais baixos amanhã.

4. As bases da equivalência Ricardiana – uma síntese De todo o raciocínio exposto acima pode-se deduzir que o a teoria da equivalência Ricardiana está embasada em três argumentos principais: i)

Primeiro, os agentes econômicos tomam suas decisões no presente olhando para o futuro. Este futuro pode ser bastante longo, extrapolando para

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David Ricardo foi, sem dúvida, um dos economistas (clássicos) mais brilhantes do século XIX, hábil negociador e aplicador na Bolsa de Valores onde, ao que consta, ficou rico. É autor, entre outros, da conhecida Teoria das Vantagens comparativas que, por longos e longos anos, orientou o comércio em todos os países.

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outras gerações, mostrando uma certa preocupação com os próprios descendentes da atual geração e com seu bem-estar. Portanto, pela teoria da equivalência ricardiana, não há razão para os agentes econômicos alterarem seu nível de consumo presente em razão de eventuais reduções de impostos e aumento do déficit público, porque isso terá repercussões nas próximas gerações; ii)

Segundo, o setor público defronta-se com uma restrição orçamentária intertemporal que precisa ser atendida. Mas, o governo, como qualquer outro agente econômico, não pode acumular dívida indefinidamente. Assim, menor carga tributária hoje significa maiores impostos amanhã. Em conclusão, os agentes econômicos não definem seu consumo pelo nível dos impostos vigentes, mas pelo valor presente desses impostos.

iii)

Terceiro, a teoria da equivalência ricardiana se apóia na hipótese da renda permanente, ou seja, as famílias tomam decisões quanto ao nível de seu consumo tendo por base sua renda permanente, e não sua atual renda disponível. Como já vimos na Aula 3, a renda permanente é definida como o valor presente esperado dos rendimentos líquidos (descontados os impostos). Portanto, flutuações abaixo ou acima do valor presente dos impostos alteram a renda disponível das famílias, mas não interferem em sua trajetória de consumo.

5. Contraargumentos da visão tradicional Pelo que foi visto acima, a essência da equivalência ricardiana reside na crença de que as pessoas, quando decidem consumir, avaliam racionalmente os impostos futuros, conseqüentes do endividamento do governo hoje. Ou seja, na visão ricardiana, as pessoas têm considerável conhecimento do que se passa e uma ótima previsão do que ocorrerá no futuro. Mas, até que ponto os consumidores são assim tão previdentes? Na visão tradicional da dívida governamental, a

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perspectiva de impostos futuros não tem uma influência tão grande no consumo atual, como sugere a visão ricardiana. Esses “tradicionalistas” apresentam três argumentos contrários à visão ricardiana: primeiro, eles argumentam que as pessoas são “míopes”, sendo incapazes de compreenderem plenamente as implicações dos déficits orçamentários do governo. Nesta hipótese, um corte fiscal financiado, hoje, por endividamento, levará esta pessoa a acreditar que sua renda permanente aumentou, mesmo que isso não tenha ocorrido. Daí afirmarem que o corte fiscal levará a um consumo maior hoje e a uma poupança nacional menor. Um segundo argumento dos tradicionalistas pode ser descrito assim: a visão ricardiana da dívida do governo parte do pressuposto de que os consumidores baseiam seu consumo não apenas na renda presente, mas também na renda permanente, que inclui não só a renda atual mas também a renda esperada no futuro. Neste raciocínio, um corte fiscal financiado por endividamento aumenta a renda atual, mas não altera a renda nem o consumo permanente. No entanto, os defensores da visão tradicional da dívida do governo argumentam que a renda atual é mais importante do que a renda permanente para os consumidores, especialmente levando-se em conta que os consumidores enfrentam restrições para contrair empréstimos. Ora, uma pessoa que deseje consumir mais do que sua renda atual permanente – talvez porque espera uma renda maior no futuro – só precisa tomar emprestado. Mas, se ela não pode tomar empréstimo para financiar seus consumo ou se só pode tomar emprestado uma quantia limitada, a renda atual determina seu nível de gasto – independentemente de qual é a sua renda permanente. Nesse caso, um corte fiscal financiado por dívida do governo aumenta, sim, a renda atual e, em conseqüência, aumenta também o consumo, mesmo que a renda futura seja mais baixa. Em outras palavras, este corte de impostos funciona, para o consumidor, como um empréstimo que o governo lhe faz e este empréstimo deverá ser pago no futuro com aumento dos impostos. E se assim é, o corte fiscal, ao contrário do que afirma a visão ricardiana, amplia, sim, o consumo presente . Além da miopia e das restrições aos empréstimos, os teóricos da visão tradicional da dívida do governo argumentam, mais, que os consumidores esperam que os impostos futuros maiores

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recairão não só sobre eles, mas também sobre as gerações futuras. Vejamos um exemplo de tal situação: suponha que o governo corte impostos hoje e, para compensar, emita títulos com prazo de 30 anos e, ao encerrar este prazo, aumente os impostos para pagar os títulos. Nesse caso, dívida hoje do governo representa uma transferência de riqueza da próxima geração de contribuintes – que vai ter de pagar aqueles impostos – para a geração atual de contribuintes (que recebeu o aumento de renda fruto do corte dos impostos). Ou seja, um corte fiscal financiado com dívida estimula o consumo pois propicia à atual geração a chance de consumir às custa da próxima geração.

6. Algumas conclusões De tudo o que se disse acima pode-se concluir que o debate sobre a dívida do governo é, na verdade, um debate sobre o comportamento do consumidor. A equivalência ricardiana pressupõe que os consumidores são previdentes e não aumentarão seu consumo de imediato quando houver um corte dos impostos, pois julgam que, mais cedo ou mais tarde, virão novos impostos para pagar o conseqüente endividamento do governo. Nesta visão, os consumidores tenderão a poupar a renda extra que obtiveram com o corte dos impostos com o objetivo de poderem pagar os impostos de amanhã. Já a visão tradicional acredita que os consumidores, por uma série de razões – seja porque são míopes e não compreendem os efeitos de um déficit orçamentário, seja porque sofrem restrições quanto à possibilidade de contraírem empréstimos, ou, ainda, seja porque acreditam que os impostos de amanhã recairão sobre um maior número de indivíduos – optam por aumentar seu consumo presente sempre que houver um corte de impostos que aumente sua renda disponível. De qualquer forma, a conclusão desse debate acerca da validade da teoria da equivalência Ricardiana não deve assumir posições extremas. De um lado, muito economistas acreditam que a equivalência ricardiana é uma mera construção teórica e de pouco interesse como mecanismo orientador das políticas econômicas. De outro lado, há aqueles economistas que, www.pontodosconcursos.com.br

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mesmo reconhecendo as limitações desta teoria, acreditam fortemente que ela representa uma boa aproximação da realidade. É difícil tomar partido nesse debate. De qualquer forma, se a visão tradicional da dívida pública estiver correta, palmas para a análise do Coordenador da Área Econômica do Ministério da Fazenda. Sua interpretação dos efeitos do corte dos impostos estava correta. E o Palácio com suas Chefias míopes que pague o “pato” do corte dos impostos! ______________ Bibliografia consultada: -Esta Aula 5 foi inteiramente embasada, com as devidas adaptações e reduções nas seguintes duas obras: 1.

Rezende, F. – Finanças S.Paulo, 2001.

Públicas – 2ª Edição, Editora Atlas,

2.

Mankiw, N.G. – Macroeconomia – 5ª edição, Editora LTC, R.Janeiro, 2004.

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“A arte de ensinar Economia de uma maneira simples, sem mistérios”. De Maria Eulália, uma ex-aluna.

AULA 6: ECONOMIA INTERTEMPORAL Parte 4: Teoria do crescimento: O modelo de Solow Observação: Embora se enquadre em Economia Intertemporal, a rigor, a rigor, teoria do crescimento não consta do programa de Economia do concurso do AFRFB. No entanto, em quase todas as provas anteriores deste concurso aparece pelo menos uma questão relativa ao modelo de crescimento de Solow. Esta é a razão pela qual decidimos incluir este tópico em nossa Economia 2. Mas, vale um alerta: trata-se de um tópico relativamente avançado da teoria econômica, apresentado através de equações e funções matemáticas que podem complicar para o aluno não iniciado em Economia e em matemática. Por isso, vale o conselho: se o texto parecer confuso, procure guardar pelo menos as premissas do modelo e suas conclusões. Isso pode ajudá-lo a resolver uma eventual questão deste tipo na prova. Feita essa ressalva, vamos lá:

1. Introdução A teoria econômica vista por nós até agora – tal como mostrada nos modelos keynesianos de determinação do nível da renda/produto de equilíbrio, no sistema iS-LM, na geração e análise das curvas de oferta e demanda agregadas e, também, na análise do processo inflacionário enfocava a economia no curto prazo. Como se costuma dizer, a análise de curto prazo da economia é uma análise estática, como se fosse uma fotografia num determinado instante da economia. No entanto, se quisermos uma explicação por que o produto interno do país cresce, e por que algumas economias crescem mais depressa que outras, temos de ampliar nossa análise para ver o que acontece no longo prazo. Ao fazer isso, transformamos nossa análise de estática em dinâmica, tal como num filme, ao invés de uma fotografia.

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Para tanto, vamos tomar como exemplo o chamado modelo de crescimento de Solow – não por julgarmos que é o modelo mais representativo e completo da teoria do crescimento, mas sim por que, como dissemos, este modelo tem sido objeto de questões das provas de Economia dos concursos públicos, particularmente do AFRFB. O modelo de crescimento de Solow mostra como a poupança, o crescimento populacional e o progresso tecnológico afetam o nível do produto da economia e sua expansão no longo prazo. Neste texto, nós vamos expor o modelo de forma resumida, porém por partes, primeiro analisando o papel da poupança e do crescimento populacional e, depois, o do progresso tecnológico. Em fazendo assim acredito que esta análise se tornará mais “palatável” aos nossos alunos.

2. A função de produção de longo prazo Como foi dito acima, o modelo de crescimento de Solow procura mostrar como o crescimento do estoque de capital, o crescimento do emprego da mão-de-obra e o progresso tecnológico interagem em uma economia e como afetam a produção total de bens e serviços de um país. Vamos apresentar este modelo por etapas, primeiro partindo da hipótese de que tanto a força de trabalho como a tecnologia são fixos, e, depois, relaxamos esta hipótese. Tal como aconteceu na nossa análise estática de curto prazo, também no modelo de Solow a oferta e a demanda agregadas de bens e serviços desempenham um papel fundamental. Uma primeira questão que, então, se levanta é: o que determina a quantidade do produto disponível num dado momento e quais os destinos ou como se distribui esse produto? A oferta de bens e serviços, no modelo Solow, baseia-se na função de produção – já nossa conhecida, - que diz que o nível de produção de depende do estoque de capital (K) e da quantidade de mão-deobra empregada (L). Ou, Y = f(K,L)

(1)

Uma observação importante é que a função de produção de Solow apresenta rendimentos ou retornos constantes de escala. Isso quer dizer, simplesmente, que, se se aumentar a quantidade dos dois fatores em 10%, o produto (Y) crescerá também 10%; se a quantidade de fatores crescer 5%, o produto crescerá os mesmos 5%! Pode-se dizer, então, que o produto tem elasticidade unitária em relação à variação daqueles dois fatores de produção.

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Agora, se dividirmos todos os termos da equação (1) por L, nós teremos: Y/L = f(K/L, 1)

(2)

Ou seja, pela equação (2), o produto por trabalhador (Y/L) depende, ou é uma função do estoque de capital por trabalhador (K/L) – lembrando que o nº 1 é uma constante e, como tal, pode ser ignorado. Agora, substituindo o produto por trabalhador – Y/L – por y e o capital por trabalhador (K/L) por k, a nossa função de produção pode ser expressa por: Y = f(k)

(3)

Esta função de produção está ilustrada na Figura 1, onde a inclinação desta função nos permite ver qual será o produto extra de um trabalhador quando é acrescentada uma unidade a mais de capital. Essa produção extra corresponde ao produto marginal do capital – PMgK – que, matematicamente, pode ser assim expresso: PMgK = f(k + 1) – f(k)

(4)

Observe que, à medida que o capital aumenta, o produto marginal do capital se mostra decrescente. Isso decorre do fato de que, quando k é baixo, o trabalhador dispõe de pouco capital com que trabalhar e, assim, uma unidade adicional de capital é muito útil e gera um produto adicional relativamente grande; se, no entanto, k é alto, o trabalhador tem muito capital com que trabalhar, e assim uma unidade extra de capital pouco acrescenta em termos de produção. Visto como atua a oferta de produtos, vejamos agora a demanda agregada por bens e serviços. No modelo de Solow, a demanda agregada (y) se compõe do consumo por trabalhador (c) e do investimento por trabalhador (i), ou seja: y=c+i

(5)

A equação (5) omite, por conveniência, os gastos do governo e, por pressupor uma economia fechada, também omite as exportações líquidas (X - M). Também o modelo de Solow pressupõe que as pessoas poupam uma fração s de sua renda e consomem uma fração (1-s). Ou seja, a função consumo do modelo pode se assim definida: c = (1 –s)y

(6)

onde s é a taxa de poupança da economia, com um valor variando entre zero e 1.

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Para verificar o que essa função consumo (6) acarreta para o investimento, vamos substituir c na equação (5) por essa função, encontrando: y = (1 – s)y + i

(7)

E, rearrumando os temos da equação (7), obtemos: i = sy

(8)

A equação (8) diz simplesmente o que nós já sabemos de aulas anteriores – ou seja, que o investimento é igual à poupança. Deste modo, a poupança s é também a fração do produto ou renda destinada ao investimento. Com as informações acima, podemos concluir que, para qualquer estoque de k dado, a função de produção y = f(k) determina quanto de produto a economia gera, enquanto a taxa de poupança s determina a distribuição desse produto entre consumo e investimento.

3. O estoque de capital e o estado estacionário O estoque de capital – que é crucial para determinar o nível de produto da economia – pode variar ao longo do tempo, provocando com isso, crescimento econômico. O nível do estoque de capital é afetado por dois fatores: o investimento e a depreciação. O primeiro corresponde aos gastos com uma nova filial, ou a aquisição de novos equipamentos – o que aumenta aquele estoque; o segundo, isto é, a depreciação, refere-se ao desgaste das máquinas e equipamentos já existentes – o que reduz o estoque de capital. Vejamos um de cada vez. Como se viu acima, o investimento por trabalhador i é igual a sy. Pela substituição que fizemos por y, podemos expressar o investimento por trabalhador como uma função do estoque de capital por trabalhador, assim: I = sf(k)

(9)

A equação (9) relaciona o capital existente k à acumulação de novo capital i. Observe-se que, para qualquer valor de k, o produto é determinado pela função de produção f(k), e a repartição desse produto entre consumo e poupança é determinada pela taxa de poupança s. Para incorporar a depreciação no modelo, pressupomos que uma certa fração δ do estoque de capital se desgasta a cada ano. Aqui, a

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letra grega δ é chamada de taxa de depreciação. Assim, por exemplo, se o capital tem uma vida média de 20 anos, a taxa de depreciação é de 5% ao ano (δ = 0,05). Podemos expressar o impacto do investimento e da depreciação sobre o estoque de capital pela seguinte equação: Variação do estoque de capital = investimento – depreciação Ou,

∆k = i - δk

(10)

Como o investimento i é igual a sf(k), podemos substituir este valor na equação (10), obtendo: ∆k = sf(k) – δk

(11)

Pode-se afirmar que quanto maior o nível do estoque de capital, maior é o nível do produto, mas também maior será a depreciação, como está ilustrado na Figura 4. Como se pode ver na Figura 4, há um único estoque de capital k* em que o investimento iguala a depreciação. Se a economia atingir este nível de estoque de capital, o estoque de capital não variará, porque os dois fatores atuando sobre ele – o investimento e a depreciação – se equilibram, isto é, são iguais. Ou seja, em k*, k = 0; logo, o estoque de capital, k, e o produto f(k) são constantes ao longo do tempo (em vez de crescerem ou diminuírem). Chamamos k* de nível de capital de estado estacionário. E o que há de diferente neste estado estacionário? Há duas coisas importantes neste estado: primeiro, uma economia no estado estacionário, nele permanecerá; segundo, se uma economia não se encontra neste estado, para ele caminhará. Para entender por que uma economia sempre caminha para e acaba no estado estacionário, vamos raciocinar do seguinte modo: suponha que a economia esteja com menos estoque de capital do que o nível de capital do estado estacionário, ao nível, digamos, de k1. Nesse ponto, o nível de investimento supera a depreciação. Ao longo do tempo, o estoque de capital aumentará e continuará aumentando – junto com o produto f(k) – até se aproximar do estado estacionário k*. Do mesmo modo, suponha que a economia esteja com mais capial do que o do estado estacionário, como ocorreria, digamos, no nível k2. Neste ponto, o investimento é menor que a depreciação – ou seja, o capital se desgasta mais que o investimento novo. Então, o capital cairá, até se aproximar do nível do capital estacionário. Quando o estoque de capital alcança o estado estacionário, o investimento igual a depreciação e não há pressão para o estoque de capital aumentar nem para diminuir. Nesse sentido, o estado estacionário representa o equilíbrio da economia no longo prazo.

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Um exemplo numérico: Vamos suor que a função de produção seja dada por: Y = K1/2L1/21

(12)

Para obtermos a função de produção por trabalhador f(k), dividimos os dois lados da função de produção pela trabalho, L. Y/L = K1/2L1/2/L Rearrumando os termos, temos: Y/L = (K/L)1/2

(13)

E, como já vimos que y = Y/L e k = K/L, a equação (13) se torna: Y =k1/2

(14)

Esta equação (14) também pode ser escrita como: Y = √k

(15)

O que a equação (15) está dizendo é que a produção por tralhador é igual à raiz quadrada do capital por trabalhador. Usando um exemplo com números, suponha que 30% do produto são poupados (s = 0,3), que 10% do estoque de capital realizado depreciam todo ano (δ = 0,1) e que a economia esteja com 4 unidades por trabalhador (k = 4). Dados esses números, podemos agora examinar o que deve acontecer com essa economia no longo prazo. Vamos começar pelo estudo do produto e sua distribuição no 1º ano. Pela função de produção, as 4 unidades de capital por trabalhador geram 2 unidades de produto por trabalhador. Como 30% do produto são poupados e investidos, e 70% são consumidos, i = 0,6 e c = 1,4. Como também 10% do estoque de capital se depreciam, δk = 0,4. Assim, com investimento = 0,6, e depreciação = 0,4, a variação do estoque de capital é ∆= 0,2. Deste modo, o 2º ano já começa com 4,2 unidades de capital por trabalhador. Fazendo novos cálculos como este por muitos anos, a cada ano um capital novo é acrescentado e o produto cresce, aproximando-se do estado estacionário, até atingir 9 unidades de capital por trabalhador. Nesse ponto, o investimento de 1

Esta é a conhecida função de produção Cobb-Douglas, onde o expoente ½ corresponde `a elasticidade do produto (Y) a uma variação percentual de K e de L,

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0,9 compensa a depreciação de 0,9. Aí, o estoque de capital e o produto não estão mais crescendo.

4. Efeito da poupança sobre o crescimento Vamos ver o que acontece com uma economia quando sua taxa de poupança aumenta. Supõe-se que a economia esteja em um estado estacionário, com a taxa de poupança s1, e o estoque de capital k*1. Quando a taxa de poupança aumenta de s1 para s2, a curva sf(k) se desloca para cima. À taxa de poupança inicial s1 e ao estoque de capital inicial k*1, o investimento apenas compensa a depreciação. Logo após o aumento da taxa de poupança, o investimento torna-se maior, mas o estoque de capital e a depreciação permanecem inalterados. Portanto, o investimento excede a depreciação. O estoque de capital aumentará gradativamente, até que a economia alcance o novo estado estacionário k*2, que tem um estoque de capital maior e um nível de produto superior ao estado estacionário anterior. O modelo de Solow mostra que a taxa de poupança é um determinante fundamental do estoque de capital do estado estacionário, podendo ser concluído que: -Se a taxa de poupança é alta, a economia terá um grande estoque de capital e um nível de produto elevado; se a taxa de poupança é baixa, a economia terá um pequeno estoque de capital e um nível de produto reduzido. E o que diz o modelo Solow sobre a relação entre poupança e crescimento econômico? A resposta é: a poupança maior leva a um crescimento mais rápido, mas apenas temporariamente, só até que a economia atinja o novo estado estacionário. Se a economia mantém uma alta taxa de poupança, manterá um grande estoque de capital e um alto nível de produção, mas não será capaz de manter uma elevada taxa de crescimento para sempre.

5. Os efeitos do crescimento populacional O modelo de Solow básico mostra que a acumulação de capital, por si só, não pode explicar o crescimento econômico sustentado: taxas elevadas de poupança levam a um grande crescimento temporário, mas a economia acaba se aproximando de um estado estacionário, em que capital e produto são constantes. Para explicar o crescimento econômico sustentado, devemos introduzir em nosso modelo o crescimento populacional e o progresso www.pontodosconcursos.com.br

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tecnológico. Nessa seção, vamos analisar o crescimento populacional. Para tanto, vamos imaginar que a população e a força de trabalho crescem a uma taxa constante η. Assim, se a população do Brasil crescer a uma taxa de 2% ao ano, η = 0,02. Mas, então, qual é o efeito do crescimento populacional sobre o estado estacionário? Como já foi dito, o investimento aumenta o estoque de capital por trabalhador, enquanto a depreciação o reduz. Mas, agora, o crescimento do número de trabalhadores faz, também, com que o capital por trabalhador diminua. Vamos continuar utilizando letras em caixa baixa para representar as quantidades por trabalhador. Assim k = K/L é o capital por trabalhador e y = Y/L é o produto por trabalhador. Como, agora, o número de trabalhadores está crescendo ao longo do tempo, a variação do estoque de capital por trabalhador é: ∆k = i – (δ+ η)k

(16)

A equação (16) mostra como o investimento, a depreciação e o crescimento populacional influem no estoque de capital por trabalhador. O investimento aumenta k, enquanto a depreciação e o crescimento populacional diminuem k. Pode-se imaginar o termo (δ+ η)k como definindo o investimento de equilíbrio, que é a quantidade necessária de investimento para se manter constante o capital por trabalhador, incluindo nesse investimento não só a depreciação do capital existente – que é igual a δk – como também o investimento necessário para proporcionar capital aos novos trabalhadores. O investimento necessário para esse propósito é nk, porque há η novos trabalhadores para cada trabalhador existente, porque k é o capital por trabalhador. A equação (16) mostra que o crescimento populacional reduz a acumulação de capital por trabalhador, como também o faz a depreciação. Nossa análise com o crescimento populacional prossegue agora como antes. Primeiro, substituímos sf(k) por i. A equação (16) pode então ser escrita como: ∆k = sf(k) – (δ+ η)k

(17)

Note-se que uma economia está no estado estacionário se o capital por trabalhador permanece inalterado. Como antes, designamos o valor no estado estacionário de k como k*. Se k é menor k*, o investimento é maior do que o investimento de equilíbrio; portanto, k aumenta. Se k é maior que k*, o investimento é inferior ao investimento de equilíbrio e, então, k diminui.

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Ou seja, no estado estacionário, o efeito positivo do investimento sobre o estoque de capital por trabalhador equilibra exatamente os efeitos negativos da depreciação e do crescimento populacional. Depois que a economia está em estado estacionário, o investimento tem dois propósitos. Uma parte (δk*) substitui o capital depreciado, e o restante (ηk*) proporciona aos novos trabalhadores o capital de estado estacionário.

6. Os efeitos do progresso tecnológico Vamos, agora, introduzir no modelo de crescimento de Solow o progresso tecnológico. Para tanto, devemos retornar à função de produção, que relaciona o capital total – K – e o trabalho total – L – com o nível do produto total – Y. Com isso, a função de produção que era expressa por Y=F(K,L), passa a ser expressa por: Y=F(K,L x E)

(18)

onde E é uma variável chamada eficiência do trabalho – que reflete o nível de conhecimento da sociedade sobre técnicas e métodos de produção. Assim, novas tecnologias melhoram a eficiência do trabalho. A rigor, esta eficiência do trabalho também melhora quando melhora a saúde e a educação. O termo LxE, da equação (18), é a força de trabalho medida em unidades de eficiência e que leva em conta o número de trabalhadores L e a eficiência de cada trabalhador. No caso da função de produção, os aumentos da eficiência do trabalho E funcionam como se houvesse aumentos da força de trabalho L. Trocando em miúdos, o progresso tecnológico faz com que a eficiência do trabalho E cresça a uma taxa constante g. Assim, se g = 0,02, cada unidade de trabalho torna-se 2% mais eficiente a cada ano e o produto aumenta como se tivesse sido aumentada a quantidade de trabalho naquele montante. Essa forma de progresso tecnológico é chamada de incorporadora de trabalho, e g é a taxa de progresso tecnológico incorporador de trabalho. Como a força de trabalho L está crescendo à taxa η e a eficiência de cada unidade de trabalho E cresce à taxa g, o número de unidades de eficiência LxE cresce à taxa η + g. Vale registrar que nossa análise da economia continua da mesma maneira que ocorria quando examinamos o crescimento populacional. O que altera é a equação que mostra a evolução de k ao longo do tempo que, agora, muda para: ∆k = sf(k) – (δ+ η +g)k

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Como antes, a mudança do estoque de capital ∆ké igual ao investimento sf(k) menos o investimento de equilíbrio (δ+ η +g)k. Uma observação importante é que, com inclusão do progresso tecnológico, o modelo de Solow pode explicar os aumentos sustentados dos padrões de vida que se observam nos países desenvolvidos. Enquanto a poupança só leva a uma alta taxa de crescimento até que se alcança o estado estacionário, o progresso tecnológico pode levar a crescimento sustentado do produto por trabalhador. No estado estacionário, a taxa de crescimento do produto por trabalhador depende apenas do progresso tecnológico.

7. Um resumo do modelo de Solow

(guarde isso!)

Podemos resumir os principais pontos e características do modelo de Solow do seguinte modo: i)

O modelo de crescimento de Solow mostra que, no longo prazo, a taxa de poupança de uma economia determina o tamanho do seu estoque de capital, e com isso seu produto. Em outras palavras, quanto maior a poupança, maior o capital realizado, e mais alto o produto.

ii)

No modelo de Solow, um aumento da taxa de poupança proporciona um período de rápido crescimento, mas eventualmente esse crescimento diminui à medida que se alcança o novo estado estacionário. Ou seja, embora uma alta taxa de poupança proporcione um produto elevado em estado estacionário, a poupança por si só não pode gerar o crescimento sustentado.

iii)

O nível de capital que maximiza o consumo no estado estacionário é chamado de nível da Regra de Ouro.

iv)

Ademais, o modelo de Solow mostra que a taxa de crescimento populacional de uma economia é outro determinante do padrão de vida no longo prazo. Quanto maior a taxa de crescimento populacional, menor o produto por trabalhador.

v)

Incluindo no modelo o progresso tecnológico, a taxa de crescimento da renda per capita, no estado estacionário, é determinada exclusivamente pela taxa exógena do progresso tecnológico.

vi)

E, por fim, como conclusão, o modelo de Solow mostra que a poupança, o crescimento populacional e o progresso tecnológico se constituem nos motores propulsores do crescimento do padrão de vida de uma nação.

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11

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Com esse resumo-conclusão, encerramos esta nossa Aula de n° 7 que, certamente, se constitui na parte teórica mais complexa e mais difícil entendimento. Como dissemos no início, a rigor este tópico não consta do programa de Economia do Edital do concurso do AFRFB, mas fizemos questão de transformá-lo num dos temas de nossas Aulas de Economia 2 porque em praticamente todas as provas de Economia dos concursos mais recentes de Auditor Fiscal aparece uma ou mais questão sobre este modelo de Solow. Por que isso acontece, eu não sei. Talvez algum dos elaboradores da prova gosta desse modelo. Afinal, existe gosto pra tudo, não é mesmo? Na nossa próxima (e última) Aula versará sobre Contas do Sistema Financeiro – a rigor, o único tópico do programa de Economia que ainda não foi abordado em nossas Aulas. Até lá, então!

__________________ Bibliografia consultada: Este texto foi extraído, com algumas alterações na redação, do Cap. 7 do livro de N.G.Mankiw, Macroeconomia, 5ª edição, Editora LTC, R. Janeiro, 2004. As alterações que introduzimos na redação objetivaram, precipuamente, tornar o texto mais palatável ao aluno não-economista. Este mesmo tópico está exposto também em R.Vasconcelos – Macroeconomia – porém de uma forma mais matemática e menos descritiva – o que torna o modelo praticamente ininteligível para os não iniciados em economia e para aqueles que não têm muita base matemática.

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“A arte de ensinar Economia de uma maneira simples, sem mistérios”. De Maria Eulália, uma ex-aluna.

AULA 7: AS CONTAS DO SISTEMA FINANCEIRO Observação: Este é, a rigor, o único tópico que faltava para cobrirmos todo o programa de Economia do concurso de AFRFB e, com ele, nós encerramos os textos de Economia 2. Com estes sete textos mais os dez textos de Economia 1 (afora o de exercícios), nós podemos dizer que cobrimos todo o vasto programa de Economia daquele concurso. E mais: Podemos afirmar com certeza que nenhum outro curso ou apostila ou livro – cobre ou cobriu tão exaustivamente aquele programa como estes nossos dois cursos e com uma vantagem a mais para vocês: os textos foram escritos numa linguagem fácil, dirigida principalmente aos não-economistas, e, temos certeza que, se você conseguiu assimilar bem o conteúdo desses textos, você tem excelentes condições de fazer uma boa prova de Economia. Assim, só me resta lhe desejar uma boa sorte!

1. Introdução O sistema financeiro nacional é constituído de dois grupos de instituições: o chamado sistema monetário e o sistema nãomonetário. O sistema-monetário é constituído pelas instituições financeiras que criam moeda, ou seja, é constituído de apenas o Banco Central – que emite moeda – e dos bancos comerciais – que recebem depósitos à vista. Já o sistema não-monetário é constituído de todas as demais instituições financeiras (as que não criam meios de pagamento), aí compreendidos os bancos de investimento, os bancos de desenvolvimento, as sociedades de crédito, financiamento e investimento (financeiras), o sistema brasileiro de

2

poupança e empréstimo (cadernetas de distribuidoras, as corretoras e tantas outras.

poupança),

as

No programa de Economia do concurso de Auditor Fiscal da Receita Federal contém, como um de seus tópicos “As contas do sistema financeiro nacional” – o que, evidentemente, parece ser um engano. Certamente, o elaborador deste programa cometeu um ato falho ao se referir às contas do sistema financeiro quando, na verdade, queria dizer “As contas do sistema monetário”. Dizemos isso porque seria inimaginável se exigir num programa de concurso público o conhecimento das contas de inúmeras e tão diversas e díspares instituições financeiras que compõem o sistema financeiro como um todo, especialmente as que compõem o sistema não-monetário. Tratando-se de instituições com objetivos e ações tão diferentes uma da outra, torna-se impraticável, senão impossível por irrealista, a consolidação de seus balancetes. Assim considerado, o que vamos fazer aqui é uma descrição das principais contas das duas instituições do sistema monetário: o Banco Central e os bancos comerciais. Após apresentar de forma sintética as contas de cada um, faremos uma consolidação dos dois balancetes para mostrar as contas do sistema monetário como um todo. Comecemos pelos Bancos Comerciais.

2. Balancete consolidado dos Bancos Comerciais As contas do sistema monetário aparecem no balancete consolidado deste sistema, destacando-se as principais contas do passivo (fonte dos recursos) e do ativo (aplicação ou destino dos recursos) dos bancos públicos e privados e da autoridade monetária – o Banco Central. Seguindo os princípios contábeis, o balancete dos bancos comerciais apresenta, de um lado, as contas (operações) ativas, isto é, aquelas que dizem respeito à aplicação dos recursos e, do outro, as contas (operações) passivas – que se referem à captação ou origem dos recursos. Assim entendido, quando um banco faz um empréstimo, esta operação é registrada no lado do Ativo, pois trata-se de uma

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operação de aplicação de recursos. Já o recebimento de depósitos à vista é registrado no lado do Passivo pois trata-se de uma operação de captação de recursos. Em síntese, os recursos registrados no Passivo se destinam ao financiamento das operações ativas do banco, observando-se, sempre, a regra contábil de que o total do Passivo deve sempre se igualar ao total do Ativo. A Tabela 1 mostra as principais contas que normalmente aparecem no balancete consolidado sintético de todos os bancos comerciais (os números são fictícios). Do lado do Passivo, para financiar suas aplicações, os bancos comerciais contam com recursos de depósitos (principal fonte), os redescontos e outros empréstimos obtidos junto Banco Central, as operações cambiais (resultado de empréstimos externos e transações internas com exportadores/importadores), os recursos próprios, as obrigações por arrecadações (impostos, luz, água, telefone, etc) considerando-se a defasagem entre o recebimento dessas contas pelos bancos comerciais e o seu posterior recolhimento ao Banco Central ou à empresa credora do recurso. Do lado do Ativo, as diversas rubricas mostram o destino dos recursos: um percentual dos depósitos permanece em caixa, como moeda corrente, para atender, principalmente, cheques à vista ou saques no caixa eletrônico; outro percentual se destina aos depósitos voluntários dos bancos comerciais no Banco Cetral (principalmente para cobertura da compensação de cheques); e um terceiro percentual corresponde ao recolhimento compulsório de parte dos depósitos à vista ao Banco Central.

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TABELA 1 BALANCETE CONSOLIDADO SINTÉTICO DOS BANCOS COMERCIAIS Saldo em R$ bilhões

Ativo

(Aplicações)

1. Encaixe total

Dez/ 2004

Passivo

239,0

1.Depósitos

(Recursos)

Dez/ 2004 1.200,0

a) Caixa (moeda corrente)

29,0

a) À vista (Rec. Monetários)

907,0

b)Dep. Voluntário no Bacen

18,0

b) A prazo

183,0

c) Judiciais e outros

110,0

2. Obrig. junto ao Bacen.

410,0

c) Depósito Compulsório 2. Empréstimos

192,0 1.585,0

3. Títulos e Val. Mobiliários

306,0

a) Redescontos de liquidez

4. Imobilizado

139,0

b) Outros empréstimos

334,0

5.Outras contas (Saldo líq.)

131,0

3.Obrigações por Arrecadações

141,0

4. Operações cambiais (S.Líq.)

329,0

5. Recursos próprios

320,0

TOTAL

2.400,0

TOTAL

76,0

2.400,0

Uma outra importante aplicação dos bancos comerciais são os empréstimos ao público e a entidades governamentais. Além desses, os bancos possuem aplicações em títulos públicos federais e outros valores mobiliários, incluindo aí LFT, LTN, NTN, letras de câmbio, letras imobiliárias, etc. O restante dos recursos está aplicado em diversas outras pequenas contas e sob a forma de ativo fixo, ou seja, o imobilizado. Vale observar que, de todas as fontes de recursos dos bancos comerciais, a única que constitui “recursos monetários” são os depósitos à vista do público que são parte dos meios de pagamentos (M1). Todos os demais são recursos não monetários.

5

3. O Balancete do Banco Central As contas que aparecem no balancete consolidado do Banco Central refletem claramente as funções que lhe são atribuídas, no Brasil. Pelo modo como o sistema financeiro brasileiro foi (e está) estruturado, o Banco Central, diferente dos países capitalistas mais adiantados, além de exercer as funções típicas de um banco central, ainda exerce (melhor diríamos, exercia até pouco tempo atrás) funções de fomento, administrando uma série de programas para a agricultura, o turismo, o comércio exterior. É verdade que, caminhando rapidamente para a tão sonhada autonomia e independência em relação ao governo ou ao Ministério da Fazenda, o Banco Central tem repassado esta função de fomento para outros bancos oficiais de desenvolvimento (BNDEs) e Caixa Econômica Federal e outros, mas em seus balancetes há ainda resíduos dessas operações (que, por serem, assim, residuais, não estão mostradas no balancete mostrado na Tabela 2). Tradicionalmente, as funções típicas de um Banco Central são: i)

banco emissor de papel-moeda;

ii)

banqueiro dos bancos comerciais;

iii)

agente depositário dos recursos do Tesouro Nacional; e

iv)

depositário das reservas internacionais do país.

Todas estas funções típicas de Banco Central aparecem em algumas contas do balancete consolidado da Autoridade Monetária, tal como mostrado na Tabela 2. Como se pode ver pela Tabela 2, as contas do passivo do Banco Central estão divididas em dois grupos: o passivo nãomonetário e o passivo monetário, conforme a natureza da conta. Os recursos que fazem parte do passivo não-monetário são aqueles que não se encontram à disposição do público e, como tal, não são exigíveis a curto prazo. Já os recursos monetários se constituem de todos aqueles valores exigíveis a curto prazo (o Papel-moeda em circulação – PMC -, os depósitos voluntários e compulsórios dos bancos comerciais).

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TABELA 2 BALANCETE CONSOLIDADO SINTÉTICO DO BANCO CENTRAL Saldo em R$bilhões

Ativo (Aplicações)

Dez/ 2004

Passivo (Recursos)

Dez/ 2004

1. Crédito ao Setor Financeiro

410,0

A – Passivo não-monetário

1.104,0

a) Redescontos de liquidez

76,0

1. Oper. Com T.N. , ligadas à execução orçamentária

(13)

b) Outros Empréstimos

332,0

2. Reserva monetária (iof, etc)

105,0

2. Créd. A Inst. Não financeir.

216,0

3. Depósitos diversos

642,0

3. Contas cambiais (s. líquido)

181,0

4. Depósitos a prazo

134,0

4.Títulos e valores mobiliários

676,0

5. Recursos próprios

223,0

5. Imobilizado

65,0

B- Recursos monetários

529,0

6. Demais contas (saldo)

95,0

6. Papel-moeda em circulação

319,0

a) Caixa dos bcos. comerciais

29,0

b) Papel-moeda em p.público

290,0

7.Depósitos dos Bcos. Comerc.

210,0

a) Voluntários

18,0

b) Recolh. compulsório

192,0

TOTAL

1.643,0

TOTAL

1.643,0

Feita esta colocação, vamos voltar ao Balancete do Banco Central. Como órgão emissor de papel-moeda, o total emitido deve aparecer no lado do passivo (monetário) como uma das fontes de financiamento das operações do Banco Central. Observe que, na Tabela 2, aparece apenas o papel-moeda em circulação (PMC) de vez que, na consolidação deste balancete, no

7

Ativo deveria aparecer o “dinheiro em caixa” existente naquele Banco. Deste modo, subtraindo-se, na consolidação, este encaixe de ambos os lados, este dinheiro em caixa do Bacen desaparece do lado do Ativo, e, do lado do Passivo, o papel-moeda emitido vira PMC (lembre-se que “papel-moeda emitido” menos dinheiro em caixa do Banco Central é igual a moeda em circulação – PMC). Como banqueiro dos bancos, aparecem no passivo os depósitos voluntários e recolhimentos compulsórios dos bancos comerciais, enquanto, no ativo aparecem os redescontos de liquidez e outros empréstimos e adiantamentos que o Banco Central faz àqueles bancos. Como banqueiro do Tesouro Nacional, aparecem no passivo os depósitos da União (geralmente, recursos tributários) e, no ativo o saldo dos títulos públicos federais e empréstimos ao Tesouro. Na função de depositário das reservas internacionais do país, aparece no ativo o contra-valor, em reais, dessas reservas. Feitos estes registros, podemos observar que, se subtrairmos do Ativo Total do Banco Central o total do Passivo-não monetário, obtemos o passivo monetário que, por definição, é igual à base monetária. Para guardar: o PASSIVO MONETÁRIO do Banco Central é, por definição, igual à BASE MONETÁRIA!

4. O Balancete Consolidado Sintético do Sistema Monetário Sinteticamente, o balancete consolidado do Sistema Monetário consiste na soma algébrica dos valores das contas comuns constantes dos balancetes consolidados do Banco Central e dos bancos comerciais (como, por exemplo, é o caso dos “recursos próprios”, “depósitos a prazo”, “contas cambiais”, etc.) repetindose, por outro lado, os valores daquelas contas peculiares a cada balancete (por exemplo, “obrigações por arrecadações”, “recursos do Tesouro Nacional”, etc., conforme é mostrado na Tabela 3.

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TABELA 3 BALANCETE CONSOLIDADO SINTÉTICO DO SISTEMA MONETÁRIO Ativo (aplicações) 1. Empréstimos

Dez/ 2004 1.585,0

2. Títulos e valores mobiliários

982,0

3. Contas Cambiais (s.líquido)

(148,0)

Passivo (recursos)

A) Passivo não-monetário 1.868,0 1. Rec. Tesouro Nacional

204,0

3. Obrigações por arrecadaç.

5. Outras contas (saldo líquido)

226,0

B) Passivo monetário 1. Papel-moeda em poder do público (PMP) 2. Depósitos à vista

3.065,0

(13)

2.Depósitos a prazo e outros 1.069,0

4. Imobilizado

TOTAL

Dez/ 2004

TOTAL

141,0 1.197,0 290,0 907,00

3.065,0

Um ponto importante a observar é que, nesta consolidação, as contas que aparecem no ativo do Banco Central e, correspondentemente, no passivo dos bancos comerciais, e viceversa, são automaticamente eliminadas – como é o caso dos encaixes e depósitos voluntários e compulsórios - que aparecem no ativo dos bancos comerciais e no passivo do Banco Central – como também é o caso dos outros empréstimos e adiantamentos do Banco Central aos bancos comerciais. Mais uma vez, aqui também o passivo está decomposto em dois grupos de recursos: os recursos não-monetários e os recursos monetários. Observe-se que, com as eliminações feitas, os recursos monetários restantes correspondem exatamente ao total dos Meios de Pagamento (M1) – que são constituídos pelo Papel-moeda em Poder do Público mais os Depósitos à vista do Público nos bancos comerciais.

9

Para guardar: O PASSIVO MONETÁRIO monetário é igual, por definição, aos PAGAMENTO! *

*

do sistema MEIOS DE

*

Feitas estas colocações, encerramos este nosso último texto de Economia 2. Como dissemos no início, com este texto, podemos afirmar que todo o programa de Economia do concurso de AFRFB foi coberto – algo que você não encontrará em nenhum outro livro, ou apostila ou “cursinho preparatório”. Assim, mais uma vez, só nos resta lhe desejar muito sucesso. Boa sorte e muito obrigado! Vou ficar torcendo por você! E até uma nova oportunidade. Prof. Mozart Foschete. _______________________ Bibliografia consultada: Este Texto foi extraído, com as devidas adaptações de redação, de: Foschete, M. – MANUAL DE ECONOMIA – Ed. Vestcon, Brasília, 3ª Edição, 1996. ______________________

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“A arte de ensinar Economia de uma maneira simples, sem mistérios”. De Maria Eulália, uma ex-aluna.

AULA 8 - EXERCÍCIOS DE REVISÃO: 2ª BATERIA - COM SOLUÇÃO COMENTADA Observação: Esta lista não contém somente questões da matéria vista em Economia 2, mas, sim, questões de provas recentes de Economia, selecionadas de acordo com a intensidade com que têm aparecido naquelas provas. Ou seja, são questões que, por caírem repetitivamente nas provas elaboradas pela Esaf, servem de indicador para o candidato sobre onde concentrar seu estudo de revisão final. Um abraço e boa sorte! 1. (AFRF-2002.2) Considere um sistema de contas nacionais para uma economia aberta sem governo. Suponha os seguintes dados: Importações de bens e serviços não-fatores = 100 Renda líquida enviada ao exterior = 50 Renda nacional líquida = 1.000 Depreciação = 5 Exportações de bens e serviços não-fatores = 200 Consumo pessoal = 500 Variação de estoques = 80 Com base nessas informações, é correto afirmar que a formação bruta de capital fixo é igual a: a) 375 b) 275 c) 430 d) 330 e) 150. Solução: Lembre-se de que, a nível macroeconômico, a Oferta Agregada (OA) = PIB a preços de mercado + importações de bens e serviços não-fatores (M) e que a Demanda Agregada (DA) = consumo pessoal ou final (C) + formação bruta de capital fixo (FBKF) + gastos do governo (G) + exportações de bens e serviços não-fatores (X) + variações de estoques (∆est). De outra parte, a OA = DA, ou seja: PIBpm + M = C + FBKF + G + X + ∆est No caso presente, não havendo governo, não há G nem impostos e só existe o PIB a custo de fatores. Então, temos de achar o valor do PIBcf que é igual à Renda Interna Bruta (RIB). Para acharmos a RIB, procedemos da seguinte forma: Renda Nacional líquida (1000) mais RLEE (50) = RIL (1050) + depreciação (5) = RIB = 1055 = PIBcf. Assim, 1055 + 100 = 500 + FBKF + 200 + 80 FBKF = 375. Logo, a resposta é a letra a.

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(AFRF-2002.2) No ano de 2000, a conta de produção do sistema de contas nacionais no Brasil apresentou os seguintes dados (em R$1.000.000,00): Produção: 1.979.057 Consumo intermediário: 1.011.751 Impostos sobre produto: 119.394 Imposto sobre importação: 8.430 Produto interno bruto: 1.086.700

Com base nestas informações, o item da conta “demais impostos sobre produto”, foi: a) 839.482 b) 74.949 c) 110.964 d) 128.364 e) 66.519 Solução: Este tipo de questão tem caído bastante, quando se trata de “contabilidade nacional e estão sempre pedindo para calcular um dos valores listados na questão. A fórmula geral para resolver este tipo de questão (e que você deve saber de cor) é a seguinte: Produto interno bruto = produção – consumo intermediário + impostos sobre produto. Os impostos sobre produto são compostos de impostos indiretos (IPI + ICMS + imposto sobre importação). No caso presente, como foram dados os valores dos impostos sobre produtos e discriminado apenas o imposto sobre importação, fica fácil achar o valor dos “demais impostos”: basta subtrair dos impostos sobre produto o imposto sobre importação, encontrando: 119.394 – 8.430 = 110.964 Logo, a resposta é a letra c. 3. (Esaf-APO-MP-2005) Considere os seguintes dados de um sistema de contas nacionais, que segue a metodología do sistema adotado no Brasil, em unidades monetárias: - Produção = 1200 - Importação de bens e serviços = 60 - Impostos sobre produtos = 70 - Consumo final = 600 - Formação bruta de capital fixo = 100 - Variação de estoques = 10 - Exportações de bens e serviços = 120. Com base nessas informações, o consumo intermediário é igual a: a) 500 b) 400 c) 450 d) 550 e) 600 Solução: Lembre-se do que dissemos na questão anterior: a fórmula para este tipo de questão – que, como foi dito, tem caído muito nas provas de Economia – é a seguinte: Produto interno bruto = produção – produção intermediária + imposto s sobre produto. www.pontodosconcursos.com.br

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Para resolver esta fórmula, temos de ter o valor do PIB que, pelos dados do problema, pode ser assim encontrado: PIB + importações = C + FBKF + G + X + ∆est PIB + 60 = 600 + 100 + 120 + 10 (não há G). PIB = 770. Ssubstituindo este valor na fórmula anterior: 770 = 1200 – consumo intermediário + 70 Consumo intermediário = 500 Logo, a resposta é a letra a. 4. (AFRF-2002.2) No ano de 1999, a conta de capital do sistema de contas nacionais no Brasil apresentou os seguintes dados (R$1.000.000,00): Poupança bruta: 149.491 Formação bruta de capital fixo: 184.087 Variação de estoques: 11.314 Transferências de capital recebida do resto do mundo: 91 Transferências de capital enviada para o resto do mundo: 29 Com base nessas informações, é correto afirmar que a necessidade de financiamento foi igual a: a) 334.566 b) 45.848 c) 80.414 d) 11.282 e) 195.401 Solução: Este é outro tipo de questão que está sempre caindo nas provas de Economia. Para resolver, você deve colocar do lado esquerdo os investimentos e do lado direito as poupanças, assim: Investimentos

Poupanças

FBKF = 184.087

Poupança bruta = 149.491

Var. estoques = 11.314

Transf. de cap. Resto do mundo = 91 Transf. de cap. p/ resto mundo = -29

Total = 195.401

Total = 149.553

Como os dois lados da tabela acima têm de apresentar valores totais iguais, constata-se que há uma diferença de poupança igual a 195.401 – 149.553 = 45.848. Esta é, então, a “necessidade de financiamento”. Logo, a resposta é a letra b. 5. (AFRF-2002.2) Considere: . Curva de demanda agregada derivada do modelo IS/LM .Curva de oferta agregada de longo prazo horizontal .Curva de oferta agregada de curto prazo vertical. Considere a ocorrência de um choque adverso de oferta como, por exemplo, uma elevação nos preços internacionais do petróleo. Supondo que este choque não desloca a curva de oferta de longo prazo, é correto afirmar que: www.pontodosconcursos.com.br

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a) Uma elevação na demanda tenderá a intensificar a queda no produto que decorre do choque de oferta. b) O choque adverso de oferta aumenta os custos e, portanto, os preços. Se não houver alterações na demanda agregada, teremos uma combinação, no curto prazo, de preços crescentes com redução do produto. No longo prazo, com a queda dos preços, a economia retornará ao seu nível de pleno emprego. c) Se não ocorrer deslocamentos na curva de demanda agregada, o choque de oferta causará deflação. d) O choque de oferta alterará apenas o produto de pleno emprego. e) Não ocorrerá alterações nem nos preços, nem no nível do produto, tanto no curto quanto no longo prazo, uma vez que, se o choque de oferta não desloca a curva de oferta de longo prazo, também não deslocará a curva de oferta de curto prazo. Solução: Este é o típico modelo clássico. Caso haja algum choque de oferta (aumentos abruptos de custos, como o aumento dos preços do petróleo, mencionado nesta questão), os preços devem se elevar no curto prazo. Graficamente, a curva de oferta vertical se desloca para a esquerda, cortando a curva de demanda agregada (DA) num ponto mais elevado e reduzindo o produto de equilíbrio e elevando os preços no curto prazo. Com o passar do tempo, no entanto, com preços e salários flexíveis, tudo volta ao nível original, definido pela curva de oferta de oferta horizontal. Assim considerado, vejamos as afirmativas da questão: i) a letra a está errada porque, com uma curva de oferta vertical, um aumento da DA desloca esta curva para a direita, porém ela continua interceptando a curva de oferta vertical no mesmo nível de produto (Y) de equilíbrio – não intensificando, assim, o efeito do choque de oferta. ii) a letra b está correta e responde à questão. iii) Pelo que se disse acima, as demais alternativas estão erradas. 6.

(AFRF-2003) Não fazem parte do ativo do balancete consolidado dos bancos comerciais: a) Os encaixes em moeda corrente b) Os redescontos e demais recursos provenientes do Banco Central c) Os empréstimos ao setor público d) Os empréstimos ao setor privado e) Os títulos privados.

Solução: Todas as alternativa desta questão – exceto a descrita na letra b – são, tecnicamente, aplicações ou destino dos recursos que vêm do passivo. Já os descontos e outros recursos que o Banco Central fornece aos bancos comerciais fazem parte do passivo dos bancos comerciais. Logo, a resposta é a letra b. 7. (AFRF-2003) Considere uma economia hipotética aberta e sem governo. Suponha os seguintes dados, em unidades monetárias: - renda líquida enviada ao exterior = 100 - soma dos salários, juros, lucros e aluguéis = 900 - importações de bens e serviços não-fatores = 50 - depreciação = 10 - exportações de bens e serviços não-fatores = 100

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- formação bruta de capital fixo mais variação de estoques = 360 Com base nestas informações e considerando a identidades macroeconômicas de um sistema de contas nacionais, é correto afirmar que a renda nacional líquida e o consumo pessoal são, respectivamente: a) 950 e 600 b) 900 e 500 c) 900 e 600 d) 850 e 550 e) 800 e 500 Solução: A soma de salários + juros + aluguéis + lucros = 900, corresponde ao produto interno líquido a custo de fatores – que é igual, por definição, à renda interna líquida (RIL). Subtraindo-se da RIL a renda líquida enviada ao exterior (100) encontramos a “renda nacional líquida” (RNL) = 800. Para encontrarmos o consumo pessoal, temos de usar a fórmula já vista atrás: OA = DA, ou seja: PIB + M = C + FBKF + G + X + ∆est O PIB = RIL (900) + depreciação (10) = 910. Assim: 910 + 50 = C + 360 + 100 (não há G nem variação de estoques!) Ou, C = 500. Logo, a resposta é a letra e. Vale observar que o gabarito oficial deu como correta a letra c, mas, como se pode ver pelas contas acima, o correto é a letra e. 8.

(AFRF-2002) Suponha uma economia hipotética que produza apenas 2 bens finais: A e B. Considere a tabela a seguir: Ano bem A bem B Preço Quantidade Preço Quantidade 1 2,00 10 3,50 15 2 2,50 12 4,83 10 Com base nestas informações e utilizando-se o índice de preços de Laspeyres, é correto afirmar que, entre os períodos 1 2: a) O produto nominal apresentou uma variação positiva de 8% e o produto real não apresentou variação. b) O produto nominal apresentou uma variação positiva de 12% e o produto real uma variação negativa de 19,65%, aproximadamente. c) O produto nominal apresentou uma variação positiva de 8% e o produto real uma variação negativa de 8,33%, aproximadamente. d) O produto nominal apresentou uma variação positiva de 8% e o produto real uma variação positiva de 2,5%. e) O produto nominal apresentou uma variação positiva de 8% e o produto real uma variação negativa de 19,66%, aproximadamente. Solução: O critério ou fórmula de Laspeyres para o cálculo de variações de preços é expressa por:

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CURSOS ON-LINE – ECONOMIA 2 PROFESSOR MOZART FOSCHETE Lto . tj =

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∑ QoPj ∑ QoPo

Onde, to = ano base tj = ano atual QoPo = quantidades e preços vigentes no ano base. QoPj = quantidades vigentes no ano base e preços vigentes no ano atual. Ou seja, pela fórmula de Laspeyres, o índice de preços toma como constantes as quantidades produzidas nos dois anos (igual à do ano base), fazendo distinção apenas entre os preços vigentes nos dois anos. Assim, aplicando o índice de preços de Laspeyres nos dados da questão, temos: Σ QoPj = 10 x 2,50 + 15 x 4,83 = 97,45 Σ QoPo = 10 x 2,00 + 15 x 3,50 = 72,50 Dividindo-se 97,45 por 72,50 encontramos 1, 344. Logo, a taxa de inflação entre o ano 1 e o ano 2 foi de 34,4%. Vamos, agora, achar o valor do produto nominal no ano 1 e no ano 2: Ano 1: 10 x 2 + 3,50 x 15 = 72,50 Ano 2: 2,50 x 12 + 4,83 x 10 = 78,30 Para acharmos a taxa de crescimento nominal entre os dois anos, dividimos 78,30 por 72,50, encontrando 1,08. Logo, houve um crescimento nominal de 8%. Para acharmos a taxa de crescimento (ou queda) real do Ano 2 em relação ao Ano 1, temos de deflacionar o valor do produto nominal do Ano 2 pela taxa de inflação (dividindo por 1,344), assim: 97,45/1,344 = 58,40 Agora, o produto do Ano 2 é “real”, estando medido aos preços do Ano 1. E verifica-se que, em termos reais, o produto do Ano 2 é menor que o do Ano 1. Para sabermos de quanto foi a queda real, dividimos o produto real do Ano 2 pelo produto do Ano 1, assim: 58,40/72,50 = 0,8055 (0,80,55–1) x 100 = -19,45 Logo, a reposta é a letra e. 9. (AFRF-2002) Considere o modelo a seguir, também conhecido como modelo IS/LM para uma pequena economia aberta com livre mobilidade de capital: Y = C(Y-T) + I(r) + G + NX(e) M/P= L(r,Y); Lr < 0 e Ly >0 r = r* Onde, Y = produto; (T-Y) = renda disponível; C = Consumo; I = Investimento; G = Gastos de governo; NX = exportações líquidas; e = taxa de câmbio; r = taxa de juros; M/P = oferta de saldos monetários reais;

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L(r,Y) = demanda de saldos monetários reais; Lr = derivada parcial da função demanda de saldos monetários reais em relação à taxa de juros; Ly = derivada parcial da função demanda de saldos monetários reais em relação à renda; r* = taxa de juros mundial. Com base neste modelo, é incorreto afirmar que: a) O modelo é compatível com a hipótese de perfeita mobilidade de capital. b) Um aumento dos gastos do governo não exerce influência sobre a renda agregada quando as taxas de câmbio são flutuantes. c) Os efeitos tanto da política monetária quanto fiscal dependem do regime cambial adotado. d) No modelo a curva LM é positivamente inclinada. e) Uma expansão monetária exerce influência sobre a renda, se a economia trabalha com um regime de taxas de câmbio fixas. Solução: Este é o nosso conhecido modelo de Mundell-Fleming – para o sistema IS-LM com uma economia aberta. Como já vimos em nossa Aula 9 de Economia 1, este modelo prevê perfeita mobilidade de capital – o que faz com que a taxa de juros interna (r) seja igual à taxa de juros externa (r*). Também sabemos da análise deste modelo, que, num regime de taxas de câmbio flutuantes, a política monetária é a única eficaz para alterar o nível da renda ou produto de equilíbrio; enquanto que, num regime de câmbio fixo, a política fiscal é a única eficaz para aquele fim. Assim, analisando as afirmativas propostas, verifica-se que a opção contida na letra e é claramente incorreta e, como tal, responde à questão. No entanto, vale observar que, no gráfico do modelo Mundell-Fleming, aparece no eixo horizontal os valores do produto – Y, enquanto no eixo vertical aparece a taxa de câmbio (e), em lugar da taxa de juros (r). Assim, como na equação da LM a taxa de câmbio não aparece, a curva LM é desenhada, sempre, verticalmente no modelo Mundell-Fleming. Assim, a rigor, a alternativa d também está errada. Mas, como temos de escolher apenas uma alternativa, ficamos com a letra e sobre a qual não paira dúvidas. Logo, a resposta é a letra e. 10. (Esaf- APO/MPOG-2002) Considere os seguintes dados para uma economia hipotética, em unidades monetárias e num determinado período de tempo: - déficit comercial = 100 - transferências unilaterais recebidas = 10 - saldo líquido positivo do movimento de capitais autônomos = 100 Considerando que o saldo total do Balanço de Pagamentos foi nulo e supondo a ausência de erros e omissões, é correto afirmar: a) o balanço de serviços apresentou saldo negativo de 110 e o saldo em transações correntes foi deficitário em 110. b) O saldo do balanço de sérvios foi nulo e o saldo em transações correntes foi deficitário em 90. c) O balanço de serviços apresentou saldo negativo de 10 e o saldo em transações correntes foi deficitário em 100. d) O saldo do balanço de serviços foi nulo e o saldo em transações correntes foi deficitário em 110. e) O saldo do balanço de serviços foi igual ao saldo em transações correntes. www.pontodosconcursos.com.br

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Solução: Lembre-se de que o resultado do Balanço de Pagamentos é dado pela soma do saldo da balança de transações correntes (BTC) + o saldo da conta de capitais autônomos. Como o resultado do BP = 0 e como a conta de capitais autônomos teve um saldo positivo de 100, o saldo da BTC foi, obrigatoriamente, negativo em 100. Assim, como o saldo da conta comercial (-100) + o saldo da conta de serviços (+10) foi de –90, então a conta de serviços apresentou um saldo negativo de 10. Logo, a resposta é a letra c. 11. (AFC/STN-ESAF-2005) Com relação ao conceito de produto agregado, é incorreto afirmar que: a) o produto agregado a preços de mercado é necessariamente maior do que o produto agregado a custo de fatores. b) O produto agregado pode ser considerado como uma “variável-fluxo" c) É possível uma elevação do produto agregado nominal junto com uma queda no produto real. d) O produto agregado pode ser entendido como a renda agregada da economia. e) O produto interno bruto pode ser menor do que o produto nacional bruto. Solução: Este é o tipo de questão que a gente deve torcer para cair na nossa prova, de tão trivial que é. Senão vejamos: - A opção a está incorreta porque, caso os subsídios sejam maiores que os impostos indiretos (algo surrealista, mas possível!), o produto a preços de mercado torna-se menor que o produto a custo de fatores. - A opção b está correta: produto agregado começa a ser medido no dia 1° de janeiro de um ano e é encerrado no dia 31/dezembro deste mesmo ano. Logo é uma variável-fluxo pois ocorre num período e não em uma data específica. - O produto nominal pode crescer, sim, enquanto cai o produto real. Um exemplo disso foi o problema que nós resolvemos na questão 8, acima. - Em macroeconomia, o valor do produto agregado é, por definição, igual ao valor da renda agregada. Assim, a alternativa d está correta. - A letra e está correta: se um país recebe mais renda do exterior do que envia para o exterior, seu PNB é maior que seu PIB. Logo, a resposta é a letra a. 12. (Esaf-AFC/STN – 2005) No modelo IS/LM sem os denominados casos clássico e keynesiano, a demanda por moeda: a) Não varia com a renda e com a taxa de juros. b) Não depende da renda. c) Só depende da taxa de juros quando esta taxa produz juros reais negativos. d) É inversamente proporcional à renda. e) É inversamente proporcional à taxa de juros. Solução: Para responder esta questão, é preciso que você releia o texto de nossa Aula 8, da Economia 1. De toda forma, vamos lá:

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a) No modelo IS-LM, a demanda por moeda é uma função positiva do nível de renda (para transações) e uma função inversa da taxa de juros (para especulação). Assim, a opção a está errada. b) Pela explicação dada na letra (a) anterior, as opções b, c e d estão erradas. c) Resta, assim, a letra e como resposta da questão. Porém, devemos fazer uma ressalva: não se trata de uma relação inversamente proporcional à taxa de juros e, sim, simplesmente, uma relação inversa à taxa de juros. Diz-se que a relação é proporcional quando as duas variáveis se alteram na mesma proporção ou no mesmo percentual (exemplo, ambas variam 10% por cento). Mas, como não resta outra alternativa melhor, ficamos com esta letra e. Logo, a resposta é a letra e. 13. (Esaf-AFC/STN -2005) Considere um regime de câmbio fixo. Seja a taxa de câmbio representada pela letra “e” e considere o conceito de taxa de câmbio utilizado no Brasil. Suponha que o Banco Central fixe a taxa de câmbio em “e1”. Com base nessas informações, é correto afirmar que: a) O Banco Central é obrigado a comprar qualquer demanda por moeda estrangeira a uma taxa menor que “e1”. b) Não é possível utilizar a política fiscal. c) Se existem pressões no mercado de câmbio para uma taxa maior do que e1 o Banco Central deverá vender a moeda estrangeira à taxa e1. d) O Banco Central não precisa intervir no mercado cambial uma vez que o regime de câmbio fixo é determinado por lei. e) Se o mercado sinaliza para uma taxa maior do que e1, o Banco Central deve emitir moeda para manter a taxa fixa. Solução: A regra é: Quando um país adota um regime de câmbio fixo, o Banco Central é obrigado a vender e a comprar qualquer quantidade de divisa estrangeira à taxa que ele mesmo fixou. Assim: i)

A letra a está incorreta;

ii)

Como já foi visto na questão 9, num regime de câmbio fixo, somente á política fiscal é eficaz. Logo, a opção b também está incorreta.

iii)

Pelo que afirmamos anteriormente, a opção c está correta.

iv)

A letra d não tem nem sentido lógico. Está errada.

v)

Não existe a relação mencionada na letra e.

Logo, a resposta correta é a letra c. 14. (Esaf-AFTN-1998) O governo pode afetar a demanda agregada usando uma política fiscal recessiva quando: a) Diminui os gastos do governo e/ou aumenta os impostos. b) Aumenta os dispêndios governamentais. c) Aumenta o nível da renda e a taxa de juros. d) Aumenta o nível de impacto fiscal a um nível de renda de pleno emprego. e) Aumenta os gastos públicos e diminui os impostos, introduzindo um diminuição no consumo. www.pontodosconcursos.com.br

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Solução: Como já sabemos dos modelos keynesianos, todas as medidas listadas nas alternativas b, c, d e e são expansionistas, isto é, aumentam a demanda agregada da economia. A única que não tem esta característica é a letra a. Logo, a resposta é a letra a. 15. (Esaf-Gestor-2003) Considere os seguintes dados extraídos da Conta de Produção do Sistema de Contas Econômicas Integradas: - Produção: 1.323.410.847 - Produto Interno Bruto: 778.889.727 - Imposto de importação: 4.183.987 - Demais impostos sobre produtos: 79.736.442 Com base nestas informações, é correto afirmar que o consumo intermediário é: a) 628.444.549 b) 632.628.536 c) 600.000.000 d) 595.484.200 e) 550.000.003 Solução: Mais um exemplo de um tipo de questão que tem se tornado repetitivo nas provas de Economia. Como já dissemos anteriormente (veja questões 2 e 3, acima), a fórmula para responder este tipo de questão é: Produto interno bruto = produção – consumo intermediário = impostos sobre produtos. No caso presente, os impostos sobre produtos foram abertos em “imposto de importação” e “demais impostos sobre produtos”. Assim, temos: 778.889.727 = 1.323.410.847 – consumo intermediário + 4.183.987 + 79.736.442 Consumo intermediário = 628.444.549. Logo, a reposta é a letra a. 16. (Esaf-Gestor-2003) Considere os seguintes dados extraídos da Conta de Bens e Serviços do Sistema de Contas Econômicas Integradas: - Produção: 1.323.410.847 - Importação de bens e serviços: 69.310.584 - Impostos sobre produtos: 83.920.429 - Consumo intermediário: 628.444.549 - Consumo final: 630.813.704 - Variação de estoques: 12.903.180 - Exportações de bens e serviços: 54.430.127 Com base nessas informações, é correto afirmar que a formação bruta de capital fixo é igual a: a) 150.050.300 b) 66.129.871 c) 233.970.729 d) 100.540.580 e) 200.000.000 Solução: Para acharmos a FBKF, usamos a equação da OA = DA, ou seja: PIB + M = C + FBKF + G + X + ∆est.

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Temos, assim, de achar o valor do PIB através daquela já nossa bastante conhecida equação: PIB = produção – consumo intermediário + impostos sobre produto Ou: PIB = 1.323.410.847 – 628.444.549 + 83.920.429 PIB = 778.889.727 Assim: 778.889.727 + 69.310.584 = 630.813.704 + FBKF + 54.430.127 + 12.903.180 E, FBKF = 150.050.300 Logo, a resposta é a letra a. 17. (Esaf-Gestor-2003) Considere que as exportações brasileiras dependam da taxa de câmbio real calculada a partir da relação entre o real e o dólar e considerando as taxas de inflação no Brasil e Estados Unidos da América. É então correto afirmar que: a) A inflação americana tende a desestimular as exportações brasileiras. b) Tudo o mais constante, a inflação brasileira tende a estimular as exportações brasileiras. c) Tudo o mais constante, uma desvalorização do dólar frente ao real tende a estimular as exportações brasileiras. d) Tudo o mais constante, uma desvalorização do real frente ao dólar tende a desestimular as exportações brasileiras. e) Tudo o mais constante, a inflação americana tende a estimular as exportações brasileiras. Solução: i) Caso a inflação americana implique em desvalorização do dólar perante o real, isto é, o dólar compraria menos produtos brasileiros cotados em real, tal fato tenderia a reduzir as importações americanas de produtos brasileiros. Mas, mantida a taxa de câmbio, o fato de os preços nos Estados Unidos estarem mais altos em dólares, tende a aumentar as exportações brasileiras para aquele país. ii) A inflação brasileira tende a estimular os exportadores a vender no mercado doméstico, e as exportações brasileiras tenderia a se reduzir. A letra b está errada. iii) Se o dólar perder valor frente ao real, as exportações brasileiras tenderão a se reduzir. Logo, a alternativa c está incorreta. iv)

Com uma desvalorização do real frente ao dólar, a moeda americana estará valorizada, isto é, pode comprar mais produtos brasileiros que antes. As exportações tendem a aumentar. A afirmativa d está errada.

v)

Se consideramos a alternativa a errada, então, por conclusão a alternativa e está correta.

Logo, a opção e é a resposta.

18. (Esaf-AFC/STN-2002) Não faz(em) parte do balancete consolidado do sistema monetário: www.pontodosconcursos.com.br

CURSOS ON-LINE – ECONOMIA 2 PROFESSOR MOZART FOSCHETE a) b) c) d) e)

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Empréstimos dos bancos comerciais ao setor privado. Reservas internacionais. Empréstimos do Banco Central ao setor privado. Papel-moeda em poder do público. Aplicações dos bancos comerciais em títulos públicos e privados.

Solução: Há um engano do examinador na formulação desta questão: Na verdade, todos os itens fazem parte do balancete consolidado do sistema monetário. Só que todos os itens, exceto a opção d, fazem parte do ativo do sistema monetário. De fato, a letra d é a única que faz parte do passivo. A proposição correta seria: “Não faz parte do Ativo do balancete consolidado do sistema monetário”...: 19. (Esaf-AFC-STN-2002) Considere: c = papel-moeda em poder do público/meios de pagamentos d = depósitos à vista nos bancos comerciais/meios de pagamento R = encaixes totais dos bancos comerciais/depósitos à vista nos bancos comerciais. Sabendo-se que c = d e R = 0,3, pode-se afirmar que o valor do multiplicador será de, aproximadamente: a) 1,2234 b) 2,1023 c) 1,9687 d) 1 e) 1,5385. Solução: Se Meios de pagamento = papel-moeda em poder do público (PMP) mais Depósitos à vista do público nos bancos comerciais (DV) e se c = PMP/MP e se d = DV/MP e, mais ainda, se c = d, então c = d = 0,5. Sabendo que R = taxa de encaixe total dos bancos comerciais, então o multiplicador dos meios de pagamento é dado por: k = 1/1-d (1-R) >> k = 1/1-0,5 (1-0,3) >> k = 1/0,65 >> k = 1,5385 Logo, a resposta é a letra e. 20. (Esaf-Gestor-2005) Considere os seguintes dados de um sistema de contas nacionais que segue a metodologia do sistema adotado no Brasil, em unidades monetárias: - Produção: 1.300 - Importação de bens e serviços: 70 - Imposto sobre produtos: 85 - Consumo intermediário: 607 - Consumo final: 630 - Variação de estoques: 13 - Exportação de bens e serviços: 55 Com base nessas informações, a formação bruta de capital fixo é igual a: a) 150 b) 100 c) 50 d) 200 e) 250.

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Solução: Como podem ver, seja em provas de 2002 ou de 2003, ou de 2005, como esta, este tipo de questão está sempre se repetindo. Aqui, como já foi visto, temos de usar a equação da OA = DA, ou seja: PIB + M = C + FBKF + G + X + ∆est Para resolver a questão, temos de achar, antes, o valor do PIB que é dado por: Produto interno bruto = produção – consumo intermediário + impostos sobre produtos Assim: PIB = 1.300 – 607 + 85 PIB = 778 Substituindo este valor na fórmula OA = DA: 778 + 70 = 630 + FBKF + 55 + 13 FBKF = 150 Logo, a resposta é a opção a. 21. (Esaf-AFC/STN-2002) Considere: - A = Poupança privada - B = Investimento privado - C = Poupança externa - D = Déficit público. Com base nas identidades macroeconômicas básicas, é correto afirmar que: a) D = C –A b) D = A –B+C c) D = C-B d) D = B – C e) D = - A-B-C Solução: Se o investimento é igual à poupança total (D + A + C), temos que: Déficit público (D) = à poupança privada (A) mais a poupança externa (C) menos o investimento privado (B). Ou seja, D = A + C – B. Logo, a resposta é a letra b. 21. (AFRF-2003) Com relação ao modelo de crescimento de Solow, é correto afirmar que, no equilíbrio de longo prazo: a) Quanto maior for a taxa de depreciação, maior será o estoque de capital por trabalhador. b) A taxa de crescimento do produto por trabalhador é igual à taxa de depreciação. c) Quanto maior for a taxa de poupança, maior será o consumo por trabalhador. d) Quanto maior for a taxa de crescimento populacional, maior será o estoque de capital por trabalhador. e) Quanto maior a taxa de poupança, maior será o estoque de capital por trabalhador. Solução: A rigor, o modelo de crescimento de Solow não consta do programa do concurso do AFRF. Se se forçar muito a barra, o examinador da ESAF www.pontodosconcursos.com.br

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argumentaria que este modelo faz parte da economia intertemporal. Mas, na realidade, não faz, mesmo! No entanto, em praticamente todas as provas de concursos elaboradas pela Esaf, aparece pelo menos uma questão do modelo de Solow. Esta é a razão pela qual resolvemos incluir três questões deste modelo. Quem sabe, com a orientação que damos a seguir, você acerta a resposta. Quem sabe? Mas, veja bem: o modelo de Solow é um tanto complexo, complicado mesmo, cheio de equações confusas para os não-matemáticos. Assim, me parece uma perda de tempo um candidato de concurso – que luta contra o tempo e o relógio – pretender gastar boa parte de seu precioso tempo procurando entender este modelo. Por isso, achei melhor fornecer a você, candidato, algumas dicas e definições importantes sobre as características deste modelo e que, certamente, o ajudarão a resolver qualquer questão sobre Solow que vier na prova e que, por isso mesmo, você deve procurar decorar (e, não necessariamente, entender!). São as seguintes: 1) No modelo de Solow, a taxa de poupança (s) de uma economia determina, no longo prazo, o tamanho do estoque de capital e, também, por conseqüência, o nível do produto desta economia. 2) “Estado estacionário” – corresponde a uma situação de equilíbrio da economia de longo prazo. 3) “Estado estacionário da regra de ouro” corresponde ao nível de capital que maximiza o consumo da população. 4) O modelo de Solow mostra que a taxa de crescimento da população de uma economia é um dos determinantes do padrão de vida no longo prazo. 5) Quanto maior a taxa de crescimento populacional, menor é o produto por trabalhador. 6) Pelo modelo de Solow, somente o progresso tecnológico explica o crescimento de longo prazo. 7) No modelo de Solow, valem as seguintes definições: k = estoque de capital por trabalhador; y = produto por trabalhador = √k, ou seja, o produto por trabalhador é dado pela raiz quadrada do estoque de capital. s = taxa de poupança da economia; ∂ = taxa de depreciação do estoque de capital. Com estes esclarecimentos e com estas simbologias, pode-se deduzir que a única alternativa correta dentre as opções da questão 21 é a letra e. Logo, a resposta é a letra e. 22. Com relação ao modelo de Solow, é incorreto afirmar: a) O estado estacionário que maximiza o consumo é aquele definido pela denominada “regra de ouro”. b) A taxa de poupança determina a quantidade do estoque de capital por trabalhador e, portanto, o nível do produto por trabalhador no estado estacionário. www.pontodosconcursos.com.br

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c) Quanto maior a taxa de poupança, maior o bem-estar da sociedade. d) O estado estacionário pode ser considerado como um equilíbrio de longo prazo. e) Somente o progresso tecnológico explica o crescimento de longo prazo. Solução: Pelo que foi resumido na solução da questão 21, anterior, a resposta que está incorreta é a letra c. Logo, a resposta é a letra c. 25. Considere os seguintes dados para o modelo de crescimento de Solow: k = estoque de capital por trabalhador δ = taxa de depreciação y = produto por trabalhador s = taxa de poupança. 0,5

Sabendo-se que y = (k) , δ = 0,1 e s = 0,4, os níveis de k e y no estado estacionário serão, respectivamente: a) 16 e 4 b) 16 e 8 c) 4 e 16 d) 4 e 8 e) 4 e 12. Solução: Parece até que estes números foram retirados do próprio texto onde Solow expõe seu modelo de crescimento. Há mais uma ou duas questões em outras provas passadas semelhantes a esta, com variação apenas dos números. O padrão de solução para esta questão é:

k/√k = s/ δ ou, k/√k = 0,4/01 >> k/√k = 4 Elevando-se ambos os lado desta última equação ao quadrado, temos:

k2/k = 16 >> k = 16 e y = √k = √16 = 4. Ou seja, k = 16 e y = 4. Portanto, a resposta é a letra a. ______________________

THAT’S ALL! >>> B O A

S O R T E!!!<<<

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