by Vania DaSilva
Introdução Filho de Edmundo e Elizabeth Carey, William Carey nasceu em uma humilde cabana em Agosto de 1761, na pequena vila de Paulerspury, em Northamptonshire, na Inglaterra. Em Piddington, aos 14 anos, William aprendeu a arte de sapateiro. Apesar de nascer em um lar anglicano, sua primeira identificação com a fé genuína, foi através de seu companheiro de trabalho, John Warr, filho de um desertor da Igreja Estatal. Em 1779, aos 18 anos, nasceu de novo, quando ainda estava identificado com a igreja oficial da Inglaterra, e uniu-se a uma pequena igreja batista. Logo começou a se preparar para pregar. Saturou-se de conhecimentos tornando-se poliglota, dominando o latim, grego, hebraico, italiano, francês e holandês, além de diversas ciências. Assim, aos poucos, entendeu que o mundo era bem maior do que as Ilhas Britânicas e sentiu, como todo o crente verdadeiro deve sentir, a perdição de uma humanidade sem um Salvador. Em Junho de 1781, casou-se com a jovem Dorothy Placket, da qual teve cinco filhos. No ano de 1775, foi atingido pelo avivamento trazido pelas mensagens de John Wesley e George Whitefield. Apesar de ter sido batizado quando criança, William Carey sentiu a necessidade de confessar sua fé publicamente. Sendo assim, foi batizado nas águas no dia 5 de Outubro de 1783, pelo pastor John Ryland. Em 1787, foi consagrado e começou a pregar sobre a necessidade missionária no mundo, e não só na Inglaterra. Como os membros de sua congregação eram pobres, Carey teve por necessidade continuar trabalhando para ganhar o seu sustento. Seus Primeiros Desafios Na sua pequena oficina pendurou um mapa mundial feito pelas suas próprias mãos. Neste mapa, ele incluíra todas as informações disponíveis: população, flora, fauna, características dos indígenas, etc. Enquanto trabalhava, olhava para ele, orava, sonhava e agia! Foi assim que sentiu mais e mais a chamada de Deus em sua vida. A denominação que Carey pertencia achava-se em grande decadência espiritual. Quando quis introduzir o assunto de missões numa sessão de ministros, foi repreendido pelo veneravél presidente John Ryland, que lhe disse: "Jovem assente-se. Quando Deus resolver converter os pagãos, fa-lo-á sem a sua e a minha ajuda." Mas Carey continuou a sua propaganda pró-missões estrangeiras, e tomando Isaías 54.2 como texto, pregava sobre o tema: "Esperai grandes coisas de Deus; praticai proezas para Deus." Sua Chamada O resultado foi que um grupo de doze pastores batistas, reunidos na casa da Ir. Wallis, formaram a Sociedade Missionária Batista, no dia 2 de Outubro de 1792. Carey se ofereceu para ser o primeiro missionário. Através do testemunho do Dr. Thomas, um missionário e médico que trabalhou por vários anos em Bengali, na Índia, William Carey recebeu confirmação de sua chamada no dia 10 de Janeiro de 1793. Apesar de Carey ter certeza de sua chamada, sua esposa recusou deixar a Inglaterra. Isto muito doeu em seu coração. Foi decidido, no entanto, que seu filho mais velho, Felix, o acompanharia à India. Além deste fator, outro problema que parecia insolúvel, era a proibição de qualquer missionário na Índia. Sob tais circunstâncias era inútil pedir licença para entrar, mas mesmo assim, conseguiram embarcar sem o documento no dia 4 de Abril de 1793. Ao esperar na ilha de Wight por outro navio que os levaria à Índia, o comandante recusou levá-los sem a permissão necessária. Com lágrimas nos olhos e o coração apertado, William Carey,
viu o navio partir e ele ficar. Sua jornada missionária para Índia parecia terminar ali. Porém, Deus tinha todas as coisas sobre controle. Ao regressar à Londres, a sociedade missionária conseguiu granjear dinheiro e comprar as passagens em um navio dinamarquês. Uma vez mais, Carey rogou à sua esposa que o acompanhasse. Ela ainda persestia na recusa e ao despedir-se pela segunda vez disse: "Se eu possuisse o mundo inteiro, daria alegremente tudo pelo privilégio de levar-te e os nossos filhos comigo; mas o sentido do meu dever sobrepuja todas as outras considerações. Não posso voltar para trás sem incorrer em culpa a minha alma." Ao se preparar para partir, um dos amigos que iria viajar com Carey, Dr. Thomas, voltou e conversou com Dorothy, esposa de William Carey, e milagrosamente ela decidiu acompanhá-lo. Que alegria não foi para ele ver sua esposa e filhos com as malas prontas a lhe acompanhar. Agora ele compreendia a razão de não ter viajado no primeiro navio. Sua Partida Para Índia Deus comoveu o coração do comandante do navio que permitiu a toda família viajar sem pagar as passagens. Finalmente, no dia 13 de Junho de 1793, a bordo do navio Kron Princesa Maria, William Carey deixou a Inglaterra e nunca mais voltou, partindo para a Índia com sua família, onde, em condições dificílimas e de oposição, trabalhou durante 41 anos. Durante sua viagem, aprendeu suficiente o Bengali, e ao desembarcar, já comunicava com o povo. William Carey não foi dotado de inteligência superior e nem de qualquer dom que deslumbrasse os homens. Entretanto, em seu caráter de persistir, com espírito indômito e inconquistável, até completar tudo quanto inciava, é que vemos o segredo do maravilhoso êxito da sua vida. Apesar de não haver recebido educação em sua mocidade, Carey chegou a ser um dos homens mais eruditos do mundo, no que diz respeito à lingua sânscrito e a outras línguas orientais. Suas gramáticas e dicionários são usados ainda hoje. Suas Conquistas Dois missionários se juntaram à William Carey em 1799, William Ward e Joshua Marshman. Juntos eles fundaram 26 igrejas, 126 escolas com 10.000 alunos, traduziram as Escrituras em 44 línguas, produziram gramáticas e dicionários, organizaram a primeira missão médica na Índia, seminários, escola para meninas, e o jornal na língua Bengali. Além disso, William Carey foi responsável pela erradicação do costume "suttee", o qual queimava a viúva juntamente com o corpo do difunto numa fogueira; vários experimentos agriculturais; fundação da Sociedade de Agricultura e Horticultura na Índia em 1820; primeira imprensa, fábrica de papel e motor à vapor na Índia; e a tradução da Bíblia em Sânscrito, Bengali, Marati, Telegu e nos idiomas dos Siques. Em 1800, William Carey fez o batismo do primeiro hindu convertido ao Evangelho. Calcula-se que William Carey traduziu a Bíblia para a terça parte dos habitantes do mundo. Alguns missionários, em 1855, ao apresentarem o Evangelho no Afeganistão, acharam que a única versão que esse povo entendia era o Pushtoo, feita em Sarampore por Carey. Durante mais de trinta anos, William Carey foi professor de línguas orientais no Colégio de Fort Williams. Fundou, também, o Serampore College para ensinar os obreiros. Sob a sua direção, o colégio prosperou, preenchendo um grande vácuo na evangelização do país. Os seus esforços, inspiraram a fundação de outras missões, dentre elas: a Associação Missionária de Londres, em 1795; a Associação Missionária da Holanda, em 1797; a Associação Missionária Americana, em 1810; e a União Missionária Batista Americana, em 1814. O Adeus da Índia
Na manhã de 9 de Junho de 1834, a Índia disse adeus ao grande Pai das Missões, e os Céus disseram bem-vindo a um servo fiel! Carey morreu com 73 anos, respeitado por todo o mundo, como o pai de um grande movimento missionário. Quando chegou à Índia, os ingleses negaram-lhe permissão para desembarcar. Ao morrer, porém, o governo mandou içar as bandeiras a meia haste em honra de um herói que fizera mais para a Índia do que todos os generais britânicos. Grande foi a contribuição de William Carey para o Reino de Deus, e grande será o seu galardão.
William Carey Um missionário a ser lembrado Inglaterra, século XVIII. Um sapateiro e pregador leigo chamado William Carey sente-se chamado para o trabalho transcultural na Índia. Após muito trabalhar, Carey conseguiu comprar as passagens e embarcou para a Índia numa viagem de navio que durou 5 meses, juntamente com sua esposa Doroty e cinco filhos, o menor com cerca de 3 meses de idade. Permaneceu naquele País durante 41 anos. Traduziu a Bíblia inteira para o Bengalês, Sanscrito e Marathí, e o Novo Testamento para várias outras línguas; fundou escolas cristãs, foi usado na conversão de grande número de hindus e na formação de várias Igrejas, além de discipular vários pregadores nativos. Sem dúvida, ele fez a Índia sentir a mensagem do Evangelho, porém, nestes 41 anos de trabalho Missionário. o que poucos sabem é que ele e sua família tiveram tempos críticos: doenças, mortes, fome, falta de um teto onde pudessem dormir e a falta de sustento financeiro por parte de inúmeras igrejas Inglesas. Mas não esmoreceu. Através de suas habilidades e profissões, conseguiu diversos empregos. Mas a Igreja Inglesa perdeu uma rica oportunidade de financiar a Evangelização da Índia. Hoje Carey é chamado de "O Pai das Missões Modernas", e, entre os poucos na Inglaterra que auxiliaram a obra, haviam duas mulheres que reconheceram nele a vontade de DEUS naquele país, e o sustentaram naquela obra de Evangelização. Será que você pode fazer várias coisas de uma só vez e fazer todas bem feitas? William Carey, um menino inglês, aprendeu fazer sapatos com seu pai. Certo dia encontrou um Novo Testamento escrito com letras estranhas. Ao indagar seu idoso professor, ele lhe explicou que eram palavras gregas. William ficou tão interessado na língua antiga que procurou outros livros escritos em grego até que aprendeu a ler esta língua. Ele sustentava a família fazendo sapatos e ao mesmo tempo estudava outras línguas tais como Hebraico, Latim, Grego, Alemão e Francês. - Talvez algum dia Deus vai me usar. Não devo perder tempo - pensou ele. William tornou-se professor. Durante o dia ensinava e continuou fazendo sapatos à noite. Ensinando, fazendo sapatos e estudando. Fazia tudo de uma vez e não tinha tempo a perder! Ensinava em uma classe de geografia um dia, quando teve uma idéia e arrumou pedaços de couro de várias cores, emendou-os um ao outro, fazendo um globo do mundo. Ele o
pendurou na sua sala de aula. Enquanto ele olhava os países, reconheceu que existiam outras línguas que ele não conhecia. Então começou a estudar Holandês e Italiano estando logo apto para ler e falar em oito línguas. Enquanto estudava o globo, Deus começou a falar ao seu coração dando-lhe grande compaixão pelas almas perdidas. Deus o estava preparando para seu próximo trabalho. Seria um missionário do evangelho. Ele leu a história da vida de David Brainerd, missionário aos índios norte americanos. Enquanto lia, sentiu vontade de gastar sua vida assim. Dizem que neste tempo ele nunca fazia uma oração sem implorar a Deus para deixá-lo ir ajudar os pagãos. Naquela tempo, 200 anos atrás, as igrejas na Inglaterra não enviavam missionários. De fato, ninguém parecia se importar que milhões de pessoas ainda não tinham ouvido que Jesus morreu na cruz para salvar os pecadores. Ele orava por estas pessoas perdidas. Ninguém prestou atenção quando Carey disse que queria ser missionário. Um pastor lhe disse: - Rapaz, quando agradar a Deus converter os pagãos, Ele o fará sem o seu auxílio. Mas ele não desistiu pois sabia que Deus assim desejava. "Escreva um folheto mostrando a necessidade de missões. Eu pagarei a conta para publicá-lo." Ele resolveu que, se ninguém o ajudasse a ir ao campo missionário, ele deveria seguir e confiar em Deus para seu sustento. Agora ele pôde ver a razão dos longos anos de estudo. Todas as línguas aprendidas seriam necessárias para seu trabalho! Ninguém estava mais bem preparado para ser um missionário do que Carey. Logo no começo sua esposa recusou-se a ir com ele. Ela nunca tinha visto o mar, e tinha tanto medo que preferia ficar em casa. Disse: - Como posso deixar meus amigos, minha família e meu lar? Não vou! Carey insistiu que Deus o tinha chamado para ser um missionário e, finalmente, Dorotéia consentiu acompanhar o seu marido. Eles partiram para a Índia em 1793. Willian estava entusiasmado e alegre quando chegaram nas praias desta terra desconhecida. Era aqui que Deus queria que Ele pregasse o Evangelho. Numa carta à sua terra ele escreveu: - Eu nunca me senti tão feliz. Este pobre sapateiro, com amor às almas perdidas, tornou-se um dos maiores missionários batistas. Ele batizou o primeiro convertido numa terra onde agora há milhões de cristãos. Ele traduziu a Bíblia, ou partes da Bíblia em mais de uma dúzia de línguas. Ele é conhecido hoje como "o Pai das Missões Modernas". O Filme Ele navegou em 1793 para a Índia com sua esposa relutante e quatro filhos para compartilhar a Mensagem de Jesus. Lá ele enfrentou tantos sofrimentos que é incrível
que ele não tenha abandonado seu chamado e voltado para casa. Mas, Carey continuou morando naquela escuridão por mais de 40 anos. Ele foi chocado e atormentado ao ver as viuvas queimadas vivas num ato religioso Hindu chamado "sati". Enfrentando incontáveis oposições, ele continuou na batalha e teve influencia na abolição de "sati". Ele também ficou conhecido por ser "O Amigo da Índia" e "O Pai de Missões Modernas". Carey ficou encarregado de traduzir mais versões da Bíblia do que haviam sido feitas durante a história do Cristianismo até ali. A vida nunca foi fácil, mas ele se recusou a desistir, mesmo quando um fogo devastador destruiu anos de seus trabalhos literários. A herança que ele deixou tem dado inspiração para muitos cristãos até os dias de hoje. Uma vida dedicada a Deus e obediente à sua chamada pode fazer uma diferença profunda no mundo. Este filme demonstra isso de modo dramático. Uma produção do Instituto de Historia do Cristianismo. 1998 • 97 minutos • dublado / VHS – NTSC Comev Vídeos – www.comev.org.br
William Carey (1761-1834)
William Carey viveu num momento muito importante do movimento missionário protestante, que começou com seu ministério de quarenta anos na Índia, e incluía outros nomes famosos, como Henry Martyn, Adoniram Judson, Robert Morrison, David Livingston e Hudson Taylor. Todos conheciam Carey pessoalmente ou foram influenciados por ele.
Uma Testemunha Fiel William Carey nasceu pobre na zona rural de Northamptonshire, no centro da Inglaterra, a 17 de agosto de 1761. Foi criado num lar anglicano e seu pai era tecelão e trabalhava num tear em sua própria casa. A infância de Carey foi rotineira, exceto por problemas de alergia que o impediram de trabalhar como jardineiro. Em lugar disso, começou a trabalhar como sapateiro. Aos dezessete anos foi convidado para ouvir uma pregação "não-conformista" e converteu-se. Aos 22 ou 23 anos dedicou-se ao estudo das Escrituras acerca do batismo e decidiu ser batizado como crente, por John Ryland Jr., no rio Nene, em 5 de outubro de 1783, tornando-se
membro da igreja batista. Mesmo morando perto de Oxford e Cambridge, onde estão duas das mais famosas universidades do mundo, freqüentou a escola apenas até os doze anos. Antes dos vinte anos, casou-se com a cunhada de seu patrão, Dorothy, que era cinco anos mais velha de que Carey, e como muitas mulheres de sua classe naquela época ela era analfabeta. Os primeiros anos de casamento foram difíceis e pobres. Depois de algum tempo ele também precisou cuidar da viúva de seu falecido patrão e seus quatro filhos. Apesar destas dificuldades, Carey continuou estudando como autodidata e tornou-se um pregador leigo. Foi consagrado ao ministério em 1785 com a cooperação de John Ryland e Andrew Fuller, pastoreando a igreja batista em Moulton. Depois assumiu outro Pastorado em Leicestershire, na Associação de Northampton, embora mesmo ali fosse forçado a trabalhar para sustentar a família. Ainda assim ele seguiu um plano rígido de estudos no pastorado. Na segunda-feira estudava os Clássicos, e na terça-feira estudava hebraico e Novo Testamento grego, e nos outros dias preparava-se para os cultos. Durante esses anos no pastorado, sua filosofia de missões começou a tomar forma, e aos poucos desenvolveu uma perspectiva bíblica do assunto, convencendo-se de que a Grande Comissão é um desafio para ganhar os povos não-alcançados para Cristo. Em 1791, depois de várias pesquisas, notou que 70% do mundo não professavam o cristianismo. Quando Carey apresentou suas idéias a um grupo de pastores batistas, um deles replicou: “Jovem, sente-se”. Quando Deus quiser converter os pagãos, Ele o fará sem a sua ajuda ou a minha “. Mas Carey não desistiu. Na primavera de 1792 ele publicou um livro de 87 páginas, intitulado Uma averiguação da obrigação dos cristãos de usar meios para a conversão dos pagãos. Em 30 de maio de 1792 pregou, numa reunião de ministros da Associação Batista em Nottingham, o famoso sermão de Isaías 54.2-3:” Esperai grandes coisas de Deus e empreendei grandes coisas para Deus “. No dia seguinte", sob a influência de Fuller, foi votada a resolução de planejar a formação da “Sociedade Batista para Propagação do Evangelho entre os Pagãos”. Esta não foi uma decisão precipitada, pois, como Carey, a maioria dos ministros recebia um salário de fome, o envolvimento com missões no estrangeiro envolveria tremendos sacrifícios. Um maior interesse por missões, então, foi encorajado por Fuller e Carey. Andrew Fuller foi nomeado primeiro secretário e mais tarde William Carey, informado de que podia sustentar-se a si mesmo, ofereceu-se à nova sociedade para ir à Índia, sendo entusiasticamente aceito. Mas esta decisão de seguir para a Índia, com seu clima tropical, esbarrou na firme recusa de Dorothy. Eles já tinham três filhos, e mais um estava a caminho. Mas Carey estava disposto a ir, mesmo que sozinho. A primeira tentativa de embarcar para a Índia foi abortada. Esta demora, ainda que decepcionante para ele forneceu uma oportunidade para uma mudança de planos; Dorothy, que dera à luz há três semanas, concordou em ir, desde que Kitty, sua irmã mais nova, pudesse ir junto. Então, a 13 de junho de 1793, eles tomaram um navio dinamarquês e partiram para a Índia, chegando lá em 19 de novembro. O começo foi bastante difícil. A Companhia das Índias Orientais tinha virtualmente o controle do país, e temia que os esforços evangelísticos de Carey diminuíssem, de alguma forma, seus lucros. Com medo de ser deportado, Carey levou sua família para morar no interior, onde passaram pobreza e grandes dificuldades. Ele teve que trabalhar o tempo todo, pois o pouco que recebia da “Sociedade" era insuficiente para seu sustento. Seu filho mais novo Peter de cinco anos, morreu de disenteria e sua esposa jamais se recuperou desta perda, ficando progressivamente deprimida e mentalmente perturbada, sendo descrita depois por colegas da missão, como “totalmente louca". Apesar desta situação traumática e de precisar estar trabalhando continuamente numa fábrica, Carey passava horas traduzindo a Bíblia, e pregando e estabelecendo escolas. Em fins de 1795 uma igreja batista foi organizada em Malda, embora só houvesse quatro membros - todos ingleses! Mas era um começo. O culto, porém, atraía grandes multidões do povo bengalês, e Carey podia afirmar com convicção
que “o nome de Jesus Cristo tornou-se agora conhecido nesta região”. Mas, depois de sete anos em Bengala, Carey não podia reivindicar nem um só convertido indiano. Mas ele não ficou desanimado. Em 1800, chegaram mais missionários ingleses, e para evitar as perturbações com o governo inglês eles se mudaram para Calcutá, no território dinamarquês de Serampore, e foi ali que ele passou os 34 anos restantes de sua vida. Com mais dois colaboradores, Joshua Marshman e William Watd, se tornaram conhecidos como o "Trio de Serampore" - uma das mais famosas equipes missionárias da história. Este posto abrigava dez missionários e seus nove filhos, numa verdadeira atmosfera familiar. Eles viviam juntos e tinham tudo em comum. Nas noites de sábado, eles se reuniam para orar e para dividir suas reclamações, sempre "prometendo amar uns aos outros'. Ruth Tucker diz:” 0 grande sucesso da Missão de Serampore durante os primeiros anos pode ser creditado em grande parte a Carey e seu comportamento santo. Sua disposição para sacrificar os bens materiais e ultrapassar o chamado do dever foi sempre um exemplo contínuo para os demais.”Como prova do trabalho harmonioso realizado em Serampore, foram organizadas escolas, levantou-se uma grande estrutura para o estabelecimento de uma impressora e acima de tudo, o trabalho de tradução continuava sendo feito. Em 20 anos, Carey e os seus amigos publicaram folhetos em 20 línguas e porções das Escrituras em 18. Durante seus anos em Serampore, Carey fez três traduções da Bíblia inteira (bengalês, sânscrito e maráthi), ajudou em outras, traduções da Bíblia inteira e traduziu o Novo Testamento e porções bíblicas em muitas outras línguas e dialetos - sempre refazendo-as para que fossem bem compreendidas. Carey disse ao completar uma de suas traduções: "Existem apenas dois obstáculos ao trabalho de Deus: o pecado do coração humano e a falta das Escrituras. Aqui, este último foi removido, pois o Novo Testamento já está traduzido em bengali “. Durante os primeiros 18 séculos de história do cristianismo foram feitas 30 traduções da Bíblia. Carey, e seus companheiros de Serampore e Calcutá dobraram o número nas três primeiras décadas do século 19! Ele também escreveu dicionários e gramáticas. A evangelização era uma parte importante do trabalho em Serampore. Carey e seus amigos, até o ano de 1818, depois de 25 anos de trabalho batista na Índia, podiam contar 600 convertidos, depois batizados, e alguns milhares que compareciam às aulas e cultos. Além dos trabalhos de tradução e evangelização, Carey procurou preparar um ministério indígena. Pensava que era fútil evangelizar a Índia com missionários estrangeiros. Estabeleceu o Colégio Serampore, em 1819, que se tornou o centro de um grupo de escolas, para o treinamento de fundadores de igrejas e evangelistas indianos. A escola começou com 37 alunos, indianos dos quais mais da metade era constituída de cristãos. Ele também se envolveu no ensino secular, tendo sido convidado para se tornar professor de Línguas Orientais no Colégio de Fort William, em Calcutá. "Tratava-se de uma grande honra para Carey, um sapateiro inculto, ser convidado para preencher tão elevada posição, a qual foi aceita com o apoio entusiasta de seus companheiros. A posição não só proporcionou uma renda muito útil aos missionários, mas também os colocou em melhor situação diante da Companhia das Índias Orientais e deu a Cárey uma oportunidade para aperfeiçoar seu conhecimento de línguas enquanto procurava responder as perguntas de seus alunos”. Por causa de seu trabalho, Carey não podia cuidar dos filhos como necessário e sua natureza dócil impedia-o de aplicar a devida disciplina, cuja falta estava se manifestando no comportamento dos meninos. Ao falar desta situação, Hannah Marshman escreveu: "O bom homem via e lamentava o mal, mas era brando demais para aplicar a correção eficaz". Mas Hannah interveio. Mas em 1807 seu filho Félix foi ordenado como missionário para a Birmânia, e em 1814 Jabez foi ordenado para ás Ilhas Molucas. Em 1807, aos 51 anos de idade, Dorothy Carey morreu. Carey sentiu-se, sem dúvida, aliviado. Ela há muito deixara de ser um membro útil da família missionária, sendo na verdade um impedimento para a obra. John Marshman escreveu como Carey quantas vezes trabalhava em suas traduções, "enquanto uma mulher insana, freqüentemente alterada ao máximo, se encontrava no quarto junto ao seu...” Depois, em 1808, ele casou com Lady Charlotte Rumohr,
nascida na família real dinamarquesa e vivendo em Serampore, na esperança de que o clima fizesse bem à sua frágil saúde. Ela foi convertida pela pregação de Carey, sendo batizada por ele em 1803, e a partir daí, começou a dedicar tempo e dinheiro à missão. Carey foi verdadeiramente feliz nos treze anos em que durou o casamento, tendo se apaixonado pela primeira vez na vida. Charlotte tinha uma mente brilhante e um dom para lingüística, auxiliando Carey em seu trabalho de tradução. Ela também se aproximou dos meninos, tornando-se a mãe que eles jamais haviam tido. Ela veio a falecer em 1821. Dois anos depois com 62 anos, Carey casou-se novamente com Grace Hughes, uma jovem viúva, que cuidou dele até o fim da vida. A Companhia das Índias Orientais opôs-se ao trabalho missionário, o que acarretou reações hostis na Inglaterra. A Companhia receava perder seus lucros da escravidão. William Wilberforce (1759-1833), membro da igreja anglicana, abolicionista do tráfico de escravos e líder político no Parlamento inglês, tornou-se o campeão da causa missionária, juntamente com outros, que alcançaram sucesso em uma resolução do Parlamento a favor da liberdade dos missionários batistas na Índia, em 1813. Um incêndio em Serampore destruiu muito do trabalho feito pelos missionários até 1813 - seu enorme dicionário poliglota, dois livros de gramática e versões inteiras da Bíblia. Os batistas ingleses contribuíram com 10.000 libras para a aquisição de novo equipamento. Durante quinze anos a missão em Serampore trabalhou e conviveu em relativa harmonia, mas quando novos missionários chegaram, a situação mudou. Eles não se sujeitaram ao estilo de vida comunitária da missão. Um deles exigiu “uma casa separada, estábulo e serviçais”, e achavam os veteranos, especialmente Joshua Marshaman, ditatoriais. Como resultado, por causa da inabilidade do grupo mais novo, houve uma divisão, e os missionários mais novos formaram a União Missionária de Calcutá, a poucos quilômetros de seus irmãos batistas de Serampore. William Ward descreveu a situação como ”indelicada”. Mesmo os membros da Sociedade, na Inglaterra apoiaram os jovens, e por isto, em 1826, a Missão de Serampore cortou relações com a Sociedade Missionária Batista. Ele morreu em 1834 em Serampore e a seu pedido uma tabuleta simples marcou sua sepultura, com a inscrição: “Verme vil, pobre e incapaz, caio em Teus braços carinhosos”. Carey estava avançado no tempo em sua metodologia missionária. O bispo anglicano Stephen C. Neill propôs um modelo hierárquico de ação em três níveis sobre a penetração do evangelho na cultura. Para ele, em primeiro lugar, alguns costumes não podem ser tolerados, tais como: a idolatria, infanticídio, canibalismo, vingança, mutilação física, prostituição, ritual etc. Em segundo lugar, alguns costumes podem ser temporariamente tolerados, tais como: a escravidão, o sistema de castas, o sistema tribal, a poligamia etc. E, em terceiro lugar, há alguns costumes cujas objeções não são relevantes para o evangelho, tais como o homem e a mulher sentarem-se separados nos cultos, costumes alimentares, vestimentas, hábitos de higiene pessoal etc. Uma outra categoria que poderia ser acrescentada entre a segunda e a terceira, trataria de assuntos onde há controvérsias entre as igrejas. Antecipando estas formulações, Carey por um lado, se opôs às práticas indianas prejudiciais, como a queima de viúvas e o infanticídio, mas em outras áreas procurou deixar a cultura intacta, jamais tentando impor sua cultura ocidental. Seu objetivo era fundar uma igreja nativa “através de pregadores locais”, fornecendo as Escrituras na língua nativa, e foi com esta finalidade que dedicou sua vida. Missões não são o alvo final da Igreja, mas o culto é. O culto é o impulsor das missões, e o alvo das Missões é trazer as nações para glorificar a Deus. “Quando a chama da adoração queima pelo verdadeiro calor da real dignidade de Deus, a luz das missões brilhará até os mais remotos povos da terra”. Onde a paixão por
Deus é fraca, o zelo por missões será fraco. William Carey expressou esta conexão da seguinte forma, “Quando eu deixei a Inglaterra, a minha esperança de conversão da Índia era muito forte; mas em meio a tantos obstáculos, ela viria a morrer, a menos que fosse sustentada por Deus. Bem, eu tenho Deus, e a Sua palavra é a verdade. Ainda que as superstições dos pagãos fossem mil vezes mais fortes do que são e o exemplo dos europeus mil vezes pior; mesmo que eu fosse desertado por todos e perseguido por todos, ainda assim a minha fé fixa na Palavra que não pode falhar, se elevaria acima de todos os obstáculos e venceria cada tentação. A causa de Deus triunfará". Se Carey perseverou foi por causa da visão de um Deus soberano e triunfante. Esta visão tem de vir primeiro. Experimentá-lo na adoração precede o propagá-lo em missões. Dedicado Integralmente, William Carey era um autodidata, apaixonado por lingüística botânica, história e geografia. Ele aprendeu latim, grego, hebraico italiano, francês, holandês bengali, sânscrito, marathi, outras línguas orientais. Uma página de seu diário dá a idéia de sua dedicação: Leu a Bíblia em hebraico às 5h45 para sua devoção particular, realizou o culto doméstico em bengali às 7h, leu com um intérprete um escrito em marathi às 8h, trabalhou na tradução de um poema em sânscrito para o inglês às 9h, deu uma aula de bengali na Universidade às 10h, leu as provas do livro de Jeremias em bengali às 15h, traduziu o oitavo capítulo de Mateus para o sânscrito com o auxílio de um tradutor da Universidade às 17h, estudou um pouco a língua telinga às 18h, pregou em inglês para um grupo de oficiais britânicos e suas famílias às 19h30, traduziu o nono capítulo de Ezequiel para o bengali às 21h, escreveu cartas para a Inglaterra às 23h, e antes de dormir, ainda leu um capítulo do Novo Testamento em grego. Para Carey, o que contava não era dar tempo integral à obra de Deus, mas dar dedicação integral. Apesar de não ter feito nenhum curso de primeiro e segundo graus, Carey recebeu o título de Doutor em Divindades da Brown University em 1807 aos 46 anos, e foi membro de três sociedades científicas com sede em Londres. Foi um dos poucos missionários que nunca voltou à pátria, nem para férias, nem para trabalhos especiais, nem para morrer. Teve três esposas, sete filhos e 16 netos, dos quais o último veio a falecer em 1957. O púlpito da Abadia de Westminster, em Londres, do qual se faz a leitura das Sagradas Escrituras em todas as cerimônias religiosas inclusive casamentos da família real, é dedicado a Carey. Na madeira do púlpito está escrita a maior mensagem do famoso missionário: “Esperem grandes coisas de Deus, empreendam grandes coisas para Deus".