Antonio Alberto Trindade
O USO DO JORNAL COMO MATERIAL EDUCATIVO Uma Análise do Programa Folha Educação do Jornal Folha de S.Paulo
Mestrado - Ciências Sociais
PUC/São Paulo - 1999
Antonio Alberto Trindade
O USO DO JORNAL COMO MATERIAL EDUCATIVO Uma Análise do Programa Folha Educação do Jornal Folha de S.Paulo
Dissertação
apresentada
à
Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Ciências Sociais, sob a orientação da Profª. Drª. Vera Lúcia M. Chaia.
RESUMO
O uso dos meios de comunicação de massa no campo da educação cresce a cada dia; dada esta realidade, torna-se fundamental a avaliação das propostas
de interferência apresentadas pelas diversas empresas de
comunicação, para que se possa estruturar, apoiar e desenvolver iniciativas que tenham verdadeiramente como objetivo auxiliar os processos educativos formais.
Negligenciar esta necessidade significa submeter professores e
alunos a processos e ações estranhos aos objetivos da escola. Neste trabalho apresentamos uma reflexão sobre os programas Jornal na Educação e uma análise do Programa Folha Educação – Leitura de Jornais do Jornal Folha de S.Paulo. Procuramos trazer informações que possibilitem ao leitor obter um histórico deste tipo de interferência das empresas jornalísticas no Brasil e no mundo, e apresentamos conteúdos que possibilitam o conhecimento e avaliação da estrutura dos programas brasileiros.
Fizemos
uma análise dos tipos de atividades que o Folha Educação propõe com o uso do jornal a partir de categorias que nossa pesquisa e reflexão teórica indicaram como pertinentes. Problematizamos o tema abordando os aspectos políticos e culturais que o envolvem e apresentamos reflexões que indicam a necessidade da abordagem teórica numa perspectiva interdisciplinar para a continuidade e aprofundamento da pesquisa neste campo. Concluímos nosso trabalho salientando a necessidade de a escola e os professores participarem diretamente das elaborações e ações educativas envolvendo o uso do jornal, produto cultural que, com esta pesquisa, passamos a considerar como viável, importante e necessário para o desenvolvimento dos processos formais de educação.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Profª. Drª. Vera Lúcia M. Chaia pela orientação que recebi, sem a qual seria impossível a realização deste trabalho. Ao CNPq pela concessão da bolsa que é tão fundamental para que pesquisadores possam se dedicar ao trabalho científico. À PUC-SP pela oportunidade que tive de contar com profissionais da maior competência durante todo o período do curso. Ao Profº. Drº Maurício Tragtemberg pela amizade e atenção que me dispensou dentro e fora da Universidade ( in memorian ). Ao Profº. Drº. Paulo Freire pelo incentivo, apoio e conselhos valiosos ( in memorian ). À Profª Drª Carmem Sylvia de Alvarenga Junqueira, pela simpatia e dedicação que confere a seus alunos. A Celso João Ferretti e Luiz Eduardo W. Wanderley pelas contribuições feitas no Exame de Qualificação, muitas delas incorporadas no texto. À Lenir F. Viscovini, pelo carinho e pela colaboração fundamental em todo o processo de realização deste trabalho. À Flávia Aidar e Nilson José Machado, pelas entrevistas concedidas. À Elaine Cristina Giomo Ferreira das Neves, pela revisão do trabalho.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...................................................................................................01 CAPÍTULO 1 : OS PROGRAMAS JORNAL NA EDUCAÇÃO...........................06 CAPÍTULO 2 : O PROGRAMA FOLHA EDUCAÇÃO........................................21 - A Concepção de Educação do Folha Educação.............................................24 CAPÍTULO 3 : OS CADERNOS DE SUGESTÕES DE ATIVIDADES...............51 - Análises das Atividades dos Cadernos de Sugestões do Folha Educação....59 CAPÍTULO 4 : O USO DO JORNAL COMO MATERIAL EDUCATIVO.............89 - Os Diversos e Diferentes Jornais....................................................................92 - O Jornal mais Adequado para Uso Educativo...............................................104 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................113 BIBLIOGRAFIA................................................................................................115
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, vamos analisar a proposta do programa Folha Educação para uso do jornal como material educativo. A constante e crescente crítica da escola brasileira tem nos colocado de frente com os principais problemas que afetam o setor da educação; ao mesmo tempo - e felizmente - nos deparamos constantemente com propostas de trabalho educativo que buscam contribuir para a superação de tais problemas. Este é o caso dos programas Jornal na Educação que começam a ganhar fôlego no Brasil, impulsionados pela notoriedade social dos resultados positivos que vêm apresentando em outros países. Nos Estados Unidos, segundo Rene Gunter, pelo menos 700 jornais desenvolvem tais programas considerados como importantes não só porque garantem um público leitor no futuro, mas porque melhoram o desempenho dos alunos em leitura e redação e os tornam bem mais informados.1 Segundo pesquisa feita nos EUA, alunos que utilizam sistematicamente jornais em sala de aula, têm desempenho em testes de leitura, redação e conhecimentos gerais 15 % melhor que os demais; segundo a mesma pesquisa, os estudantes envolvidos em programas que usam a TV como suporte didático, tiveram resultados
nos
testes,
semelhantes ao dos que só dispõem de livros
didáticos. 2 As informações de Rene Gunter mostram um pouco daquilo que é considerado como êxito dos programas Jornal na Educação nos EUA, local onde, segundo Flavia Aidar, muitos programas trabalham a idéia de que o jornal é útil para tudo, até para limpar o chão. Por outro lado, observa que em países europeus há programas neste campo inspirados em Paulo Freire. 3 Uma análise ampla dos diversos programas Jornal na Educação existentes certamente nos daria uma visão exata da diversidade de propostas e objetivos neste campo; o que nos interessa neste trabalho, contudo, é entender, do ponto de vista da educação - a partir de uma análise sociológica -, 1
Gunter Rene, Gerente de Programas Educacionais da Newspaper Association of America - Folha de S.Paulo - 11/09/96, em entrevista concedida por ocasião do 3º Congresso Internacional de Jornal na Educação ocorrido em Brasília. 2 ibidem 3 Aidar, Flavia. Ex-coordenadora do Programa Folha Educação – 1993 a 1997 e atual Gerente de Projetos do Instituto Itaú Cultural – SP.
1
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
de
que
maneira
o
jornal
pode
realmente
servir
para
um
melhor
desenvolvimento dos processos educativos na escola. Para tanto, faremos uma análise de um destes programas - o Folha Educação - desenvolvido pelo jornal Folha de S.Paulo desde 1993. A partir da análise de sua estrutura - em sentido amplo - e dos materiais que utiliza para desenvolver os trabalhos nas escolas, buscaremos extrair do Folha Educação o máximo de elementos que nos possibilite formular questões e definir caminhos para que possamos estruturar uma forma de abordagem significativa - do ponto de vista teórico - para avaliar programas deste gênero. É interessante refletir sobre a possibilidade de um material atualizado e diário - no caso, o jornal - servir como um instrumento educativo. Para nós, educadores, que temos buscado formas para que os conteúdos que trabalhamos em sala de aula correspondam às realidades dos educandos, é importante poder analisar o jornal como possível material educativo que expressa os fatos cotidianos de forma particular e dinâmica. Mesmo tendo tal intenção, não é ainda possível, para nenhum de nós, apontar com segurança o material e os procedimentos pedagógicos que possam nos levar a realizar tal trabalho; isso porque não é algo simples identificar a maneira de trabalhar que nos colocaria, de fato, satisfatoriamente próximos à realidade do aluno. Ao desejar realizar um tal trabalho, o professor está sendo movido pela idéia de que, na escola, o aluno deve encontrar um ambiente que, por um lado, saiba absorver as experiências de vida daqueles que ali chegam e, por outro, não seja um espaço estranho às características, interesses, necessidades e aspirações dos educandos - o que faria de tal espaço uma espécie de reformatório que obrigaria o aluno a pensar, agir e querer com base em alguma visão de mundo distinta da do grupo social a que pertence. O jornal diário impresso é um material de informação destinado ao público em geral ( ou a alguma massa específica heterogênea ); a organização dos jornais não tem como objetivo central promover educação, ou seja, as matérias em geral - excetuando-se aqui ( e não inteiramente ) alguns cadernos específicos como os de cultura, por exemplo - procuram dar conta do que acontece como tarefa fundamental. Quando pensamos na possibilidade de utilização do jornal como instrumento de um trabalho sistemático de educação e quando nos damos conta da existência de programas destinados a introduzir 2
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tal material na escola, nos vêm algumas indagações: o que pode justificar a validade do jornal como material educativo ? Todos os jornais valem como material educativo ? Em que posição o jornal se coloca neste ambiente de predomínio do livro didático ?
Com quais atores, sistemas, metodologias,
práticas pedagógicas e políticas, estruturas e objetivos educacionais estão dialogando os programas de uso do jornal em sala de aula e que implicações tem isso ? O que de fato propõem tais programas e qual visão de educação os orienta ? Pelo que representam as empresas jornalísticas e seus produtos na sociedade, como avaliar tais propostas cujos contornos não se limitam ao plano educativo ? Estas são algumas das principais questões que envolvem o tema e com base nas quais nomeamos como nossos objetivos centrais nesta pesquisa: -
Entender a estrutura de um programa Jornal na Educação e, em especial, a do Folha Educação.
-
Conhecer e refletir sobre os argumentos que buscam transformar a antiga prática de uso do jornal em sala de aula de informal e eventual para sistemática e permanente.
-
Identificar a visão de educação que orienta o programa Folha Educação.
-
A partir da proposta do Folha Educação, pensar o uso sistemático do jornal num espaço ocupado pelo livro didático e por práticas educativas predominantemente apoiadas neste material pedagógico.
-
Refletir sobre alguns dos contornos políticos e culturais que envolvem a questão do uso do produto jornal na sala de aula.
-
Contribuir para a estruturação de uma forma de abordagem significativa - do ponto de vista teórico - para avaliar programas Jornal na Educação. 3
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
No primeiro capítulo, falaremos dos trabalhos que estão sendo desenvolvidos hoje no campo do Jornal na Educação para que possamos conhecer e entender um pouco da proposta, já antiga, de utilização de jornais em sala de aula. Faremos um breve histórico deste tipo de interferência dando atenção especial aos fundamentos que vêm norteando tais trabalhos no Brasil. No segundo capítulo, apresentaremos o Programa Folha Educação buscando identificar os pressupostos educativos e teóricos que dão sustentação à proposta; desta forma, analisaremos textos introdutórios que constam dos Cadernos de Sugestões de Atividades preparados pelo Programa destinados a servirem no processo de treinamento de professores na proposta. As informações contidas nestes materiais serão complementadas com entrevistas que realizamos com os dois principais integrantes da equipe que estruturou o Folha Educação - a educadora Flavia Aidar e o Prof. Dr. Nilson José Machado. 4 No terceiro capítulo, apresentaremos nossa análise das atividades propostas no Caderno de Sugestões preparado para orientar o uso do jornal com alunos de 5ª a 8ª série. Nesta parte, submeteremos cada uma das atividades deste Caderno a nove categorias de análise elaboradas a partir de nossa compreensão da proposta e dos objetivos do Folha Educação No quarto capítulo, faremos uma reflexão teórica tentando analisar a contribuição de Antonio Gramsci, e outros autores à questão; tocaremos no ponto sensível e polêmico de se um jornal pode valer, para a finalidade educativa,
pelo que publica ou se pode valer pelo papel que desempenha
como veiculador e produtor de informação, interlocutor das mais diferentes vozes e visões existentes no plano da cultura e como produto de consumo que atende à demandas diversas representadas pelos diferentes leitores.
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Machado, Nilson José. Professor-doutor do Depto. de Metodologia do Ensino e Educação Comparada da Faculdade de Educação da USP; Colaborador do Programa Folha Educação.
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Apresentaremos, ainda, nossas considerações finais e um anexo destinado a oferecer ao leitor uma visão mais profunda do tipo de elaboração das propostas de atividades contidas nos Cadernos de Sugestões.
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CAPÍTULO 1 OS PROGRAMAS JORNAL NA EDUCAÇÃO
Já em 1932, exemplares do "The New York Times" eram distribuídos em escolas americanas; esta é a ocorrência mais antiga que se conhece sobre os programas de leitura de jornal na escola, conhecidos como NIE ( Newspaper in Education) ou, Jornal na Educação.
5
Tais programas são promovidos por um
jornal ou por uma associação de jornais e procuram, segundo a ANJ ( Associação Nacional de Jornais )
6
sensibilizar professores e alunos para o
uso adequado desse meio de comunicação em sala de aula. Para tanto, valemse de algumas iniciativas como oficinas de treinamento para professores, material instrucional, cadernos de sugestões de atividades por tema e/ou área de conhecimento, dentre outras, além de promoverem a distribuição gratuita de exemplares de jornal nas escolas. Com o apoio da AMJ7 ( Associação Mundial de Jornais ), da SIP8 ( Sociedade Interamericana de Imprensa ) e de diversas outras instituições que atuam em territórios nacionais, os programas de leitura de jornal na escola vêm
5
A discussão sobre o tema, contudo, data de antes de 1920. Um texto de José Ortega y Gasset ( Revista da Faculdade de Educação da USP, volume 19, nº1, 1993 ) na Espanha, discute o que deve ser ensinado na escola. O texto é uma reflexão motivada pelas manifestações dos professores espanhóis contra a obrigatoriedade da leitura de Don Quixote na escola, imposta pela Real Ordem Espanhola. Para tais professores o jornal é que deveria ser utilizado como material pedagógico. Machado, Nilson José. USP 6 A Associação Nacional de Jornais é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, constituída por empresas jornalísticas, fundada em 17 de agosto de 1979. Desde 1986, sua sede está localizada em Brasilia, capital do Brasil. O quadro de associados da ANJ é constituído por empresas editoras de jornais brasileiros de circulação diária e paga, editados em língua portuguesa, há no mínimo três anos sem interrupção, excluindo destes os órgãos oficiais ou dependentes de pessoas jurídicas de direito público. Atualmente, seu quadro social está composto por 105 sócios, sendo 103 jornais e dois colaboradores. 7 A AMJ ( Associação Mundial de Jornais ) é uma entidade internacional formada por empresas jornalísticas, agências noticiosas e executivos e entidades nacionais do setor originários de 73 países. Seus membros representam cerca de 15 mil publicações. A AMJ tem sua sede em Paris e desenvolve ações voltadas à defesa da Liberdade de Expressão, à promoção da mídia jornal e ao uso de jornais na educação. 8 A Sociedade Interamericana de Imprensa é uma organização sem fins lucrativos, criada em 1926 e reorganizada em 1950, com sede em Miami ( EUA ). A entidade é constituída por empresas jornalísticas e seus executivos de todo o continente. Seus objetivos são de defender a Liberdade de Expressão, promover o desenvolvimento da imprensa nas Américas, lutar pela dignidade, os direitos e a responsabilidade da atividade jornalística e estimular o aprimoramento ético, editorial, técnico e gerencial dos meios impressos.
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ganhando fôlego a cada ano; com a realização de encontros internacionais e conferências, os diversos jornais que desenvolvem trabalho neste campo buscam aprimorar este tipo de interferência e discutir o futuro deste meio de comunicação - o jornal - que enfrenta um drástico aumento da concorrência em função do crescente aumento do uso de novas
tecnologias no campo da
comunicação. No Brasil, há 28 jornais desenvolvendo programas desse tipo em 13 Estados e no Distrito Federal. Anualmente são atingidos 2,2 milhões de alunos em 6.500 escolas de 1º [ ensino fundamental ] e 2º [ ensino médio ] graus das redes pública ( municipal e estadual ) e privada9. Jornal na Educação - Programas Brasileiros Estado
Nome do Jornal
Bahia Distrito Federal Espirito Santo Goiás Minas Gerais
A Tarde Correio Braziliense A Gazeta O Popular Correio Estado de Minas Tribuna de Minas Pará O Liberal Pernambuco Diário de Pernambuco Jornal do Comércio Piauí O Dia Paraná Folha de Londrina Rio de Janeiro Jornal de Hoje O Dia O Globo Rio Grande do Norte Diário de Natal Rio Grande do Sul A Razão Jornal NH Zero Hora São Paulo A Tribuna Correio Popular Diário da Região Diário de Suzano Diário do Povo Diário Popular Folha da Região Folha de S.Paulo Jornal de Jundiaí Regional Jornal de Piracicaba O Estado de S.Paulo 9
Nome do Programa A Tarde na Escola Identidade com o Futuro A Gazeta na Sala-de-aula Almanaque-Escola Correio Educação EM vai às Aulas Tribuna Escola O Liberal na Escola Leitor do Futuro JC nas Escolas O Dia na Escola Projeto Cidadania Hora de Recreio O Dia na Sala de aula Quem Lê Jornal Sabe Mais Projeto LER A Razão de Ler NH na Escola ZH na Sala de aula Jornal, Escola e Comunidade Correio Escola O Jornal na Educação DS/Escola Diário Educação O Jornal na Sala de aula Folha da Região na Sala de aula Folha Educação JJ na Educação JP na Escola Estadão na escola
Folha de S.Paulo, 11/09/96, Caderno São Paulo, p.3
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No Brasil, a ANJ comanda o apoio aos diversos jornais brasileiros que atuam com tais programas. Pedro Pinciroli, vice-presidente da ANJ, justifica assim este apoio: "A Associação Nacional de Jornais tem defendido vigorosamente o uso do jornal no ensino porque, além de estar - por motivos óbvios - sempre atualizado, de ser atraente por cobrir os mais diversos aspectos da realidade e de
ser
mais
barato
que
outros
recursos
pedagógicos,
desenvolvimento do senso crítico dos leitores. (...)
estimula
o
Ao contribuir para a
formação do hábito da leitura entre os jovens - e não apenas da leitura de jornais - , as empresas jornalísticas fazem mais do que estimular o futuro cidadão a consumir seu produto. Sem dúvida, é importantíssimo formar ( e não apenas instruir ) o cidadão do futuro. Mas a realidade de hoje, marcada pela integração internacional e pelo desenvolvimento acelerados, coloca o sistema de ensino sob tensão. Para o trabalhador, para o profissional, ou para o cidadão comum, seja escandinavo ou latino-americano, já não basta ler e escrever, ou ter aprendido algum ofício. De pouco serve ser uma enciclopédia ( inevitavelmente superada ) ambulante. Hoje, de acordo com o diagnóstico da American Library Association, 'para ser um alfabetizado em termos de informação, uma pessoa deve ser capaz de reconhecer quando a informação é necessária. Em última análise, as pessoas alfabetizadas em termos de informação são aquelas que aprenderam como aprender' . Ora, isso é quase uma descrição da rotina de uma redação competente e do jornal por ela produzido. Ao se aproximarem dos jovens com programas Jornal na Educação bem concebidos, o que as empresas jornalísticas estão fazendo é muito mais do que lhes oferecer uma opção de lazer e de informação ou lhes garantir a própria sobrevivência. Estão transferindo seu Know-how de processamento de informações10. Com a multiplicação das fontes de informação e entretenimento - das quais fazem parte os sistemas de TV a Cabo que, em breve, terão mais
10
Esta afirmação precisaria ser estudada para fins de confirmação. Uma transferência de Know-how é algo bastante profundo e que necessita, para ocorrer, de ações e processos bem mais profundos que os que propõem os programas Jornal na Educação ainda que se possa identificar nestes, elementos que certamente constariam de um processo de formação com tais objetivos.
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de cem canais, talvez 500 - , boa parte do tempo que as pessoas passam diante do televisor será consumido na escolha do que assistir. Saber localizar, compreender e utilizar as informações na era da Internet significa a diferença entre ser um navegador e ser um náufrago." 11 No texto de Pinciroli, dois pontos merecem destaque: os motivos que justificam sua defesa vigorosa do uso do jornal no ensino e a idéia da importância da informação nesta "era da Internet". Um material atraente, barato e atualizado certamente não se parece nada com o tradicional livro didático que é o recurso pedagógico mais utilizado e culturalmente reconhecido como válido e fundamental no Brasil, apesar das críticas que recebe. Mesmo quando um livro didático é considerado atualizado, os conteúdos pouco ou nada têm a ver com os aspectos da realidade cotidiana abordados pelos jornais; diferentemente disso, o livro didático traz conteúdos considerados como conhecimento sistematizado. A referência ao fato de o jornal ser mais barato que outros recursos pedagógicos nos leva a pensar sobre quais materiais pedagógicos o jornal poderia eventualmente substituir no Brasil onde o livro didático figura quase que como o único recurso pedagógico de que dispõe a maioria dos alunos. Quanto à questão do uso da informação na era da Internet12, ao considerar que a competência em localizá-la, compreendê-la e utilizá-la diferencia um navegador de um náufrago, Pinciroli está defendendo o jornal como de máxima importância para a escola apesar de tal material ser ainda, neste espaço, pouco utilizado e não ser culturalmente reconhecido como fundamental. Vale citar, para efeito de ilustração, comentários sobre o uso da Internet e dos computadores na escola, proferidos por participantes da 2ª Conferência
11
Texto de Apresentação de Material de Propaganda dos programas Jornal na Educação da ANJ, 1997. A questão da importância da informação na "era da Internet" merece estudo aprofundado. A estruturação de uma utilização adequada na escola dos recursos tecnológicos disponíveis atualmente não será possível sem que tenhamos uma reflexão profunda sobre o papel da informação cotidiana nos processos educativos e sem que tenhamos metodologias que nos possibilitem favorecer a que o aluno faça uma leitura crítica das informações disponíveis, pressuposto para um uso significativo destas. 12
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Internacional de Jornal na Educação13. Neste evento, expressou-se a crítica de que a Internet incentiva a preguiça intelectual; comentou-se muito sobre o fato de os universitários utilizarem a Internet como substituta da pesquisa tradicional cuja validade é inquestionável. Observou-se também que os universitários "colam" palavras dos outros, o que não contribui para um avanço da pesquisa e nem da formação dos mesmos. Já sobre os computadores, comentou-se sobre o mito que existe em torno de sua utilização na escola. Observou-se que os computadores não são a salvação para o campo da educação. A argumentação contrária mais contundente e ilustrativa de que tal idéia é um mito, referiu-se aos EUA onde há acesso facilitado para uso de computadores e que, apesar disso, os alunos só os utilizam como editores e para lazer ( jogos eletrônicos ). Foi dito ainda que gastou-se muito dinheiro para equipar escolas com microcomputadores e o resultado disso é que hoje a grande maioria destes estão velhos e ultrapassados. Em resumo, mostrou-se que este não foi um bom investimento e que é preciso ter muita clareza do que se deseja com os computadores nas escolas antes de se fazer investimentos movidos pelo mito da salvação. 14 Nas questões apontadas por Pinciroli notamos pontos de tensão que certamente estarão presentes em outros momentos da justificativa do uso do jornal na escola; tal tensão é, a nosso ver, inevitável já que a proposta de uso do jornal
penetra um campo de estruturas tradicionais e enraizadas com
sujeitos adequados a elas.
13
Conferência realizada em São Paulo nos dias 10 e 11 de setembro de 1997, no Memorial da América Latina. 14 Todos os comentários são fruto de interpretação deste autor, que tenta expor de maneira fiel alguns dos pontos interessantes discutidos na Conferência.
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No material de propaganda da ANJ, encontramos as considerações básicas para implantação de um programa Jornal na Educação.15 Aponta-se como objetivos: 1- Promover o gosto pela leitura do cotidiano por parte do aluno. 2- Promover a maior empatia do aluno e do professor com o jornal. 3- Levar o aluno a se familiarizar com o jornal, a conhecê-lo melhor, localizando as informações. 4- Promover a leitura entre os membros das famílias dos alunos, bem como entre os funcionários da escola. 5- Oferecer ao professor um recurso de fácil acesso e alto poder de motivação para o aluno. Propõe-se que o jornal seja oferecido aos alunos "como ele é": Se o objetivo fundamental do programa Jornal na Educação é familiarizar o aluno com o veículo jornalístico e criar o hábito de leitura, que deve perdurar por toda a vida, o estudante deve conhecer o jornal como ele é, da forma como será encontrado nas bancas quando não mais for recebido na escola. O aluno é que vai incorporar o universo jornalístico, visto que o jornal não vai se descaracterizar para atender o estilo escolar.16 Quanto ao público-alvo, a ANJ observa que a abrangência de um programa Jornal na Educação vai desde a pré-escola até a universidade e a pós-graduação. Observa ainda que, utilizado com classes de educação de adultos o jornal substitui com grande vantagem o livro didático tradicional. A implantação de um programa exige ainda que se defina se o jornal a ser
15
Material de Propaganda dos Programas Jornal na Educação da ANJ, 1997. A numeração dos objetivos não consta do material da ANJ. 16 ibidem. A idéia da existência de um "estilo escolar" não é clara. Se o material jornal pode ser pensado como material educativo e se tal material pode ser proposto para ocupar um lugar na escola, isso significa que, de alguma forma, tanto o material como a proposta, para estarem de acordo com a realidade da dinâmica do mundo da educação, devem estar sujeitos aos mesmos processos de avaliação dos materiais e propostas existentes nas escolas. É com base em tais avaliações, movidas por razões e fatores diversos, que ocorrem as reformas no ensino e na escola. Neste sentido, as empresas jornalísticas que desejam atuar com programas Jornal na Educação têm que estar abertas a mudanças e reformulações que eventualmente atinjam seus produtos e propostas.
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utilizado será encalhe17 ou assinatura; a freqüência de entrega dos jornais na escola; as cotas de jornal a serem distribuídas a cada escola e o tempo de permanência da escola no programa. Como resultados obtidos com tais programas a ANJ aponta: 1- Maior reconhecimento e valorização do jornal em termos de benefícios sociais pela comunidade. 2- Melhoria da qualidade de impressão do produto. 3- Melhoria da informação jornalística mediante leitura crítica de professores e alunos. 4- Aumento da circulação do jornal entre professores e pais de alunos (novos assinantes). 5- Fortalecimento da credibilidade do jornal na comunidade mediante atuação social positiva na Educação. 6- Reconhecimento das vantagens da presença do jornal na sala de aula como importante aliado do professor, para estimular o aluno à leitura, à compreensão e à valorização do significado de estudar para adquirir a necessária competência como leitor, num mundo cada vez mais centrado na importância da informação.18 As orientações gerais da ANJ nos oferecem um quadro das possíveis variações
que
podemos
encontrar
nos
programas
que estão
sendo
desenvolvidos por jornais brasileiros. Como não consideramos importante, neste trabalho, falar detalhadamente de cada um dos programas, julgamos necessário reproduzir o fundamental destas orientações. Há outra razão importante: o conhecimento das orientações nos possibilita fazer uma análise das opções de estruturação que dão o formato do Folha Educação - nosso objeto de estudo. Ao observar que, utilizado com classes de alfabetização de adultos o jornal substitui com grande vantagem o livro didático tradicional, a ANJ introduz
o
debate sobre se há ou não oposição entre os dois materiais.
Embora a ANJ não sustente com argumentos esta afirmação, podemos dizer que, de alguma forma, tal instituição considera que o jornal pode dar conta dos conteúdos necessários no processo educativo, pelo menos no campo da 17
Jornais que não foram vendidos na data da publicação. Texto de Material de Propaganda dos programas Jornal na Educação da ANJ, 1997. A numeração dos resultados não consta do material da ANJ. 18
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educação de adultos. A afirmação sugere que com o jornal pode-se trabalhar satisfatoriamente tanto conteúdos curriculares como conteúdos do noticiário, algo que necessitaria ser melhor aprofundado dada a enorme diferença existente entre uma coisa e outra. Sobre a necessidade de se definir qual jornal será trabalhado na escola se encalhe ou assinatura - e sobre a necessidade de se definir a freqüência de entrega dos jornais, devemos observar que as escolhas em questão, a nosso ver, são decisivas para o tipo de trabalho que se quer desenvolver. Ou seja, tais escolhas são, em alguma medida - se pensarmos no tipo de atividade que se deseja desenvolver - excludentes. Não seria possível, por exemplo, realizar o exercício de acompanhamento de um fato evidenciando, com finalidade educativa, a característica do jornal de trazer a informação atualizada caso se decidisse a trabalhar com o encalhe e com uma entrega semanal de jornal. A análise dos "objetivos" e do que é considerado como "resultados" dos Programas Jornal na Educação pela ANJ nos mostra que: no que se refere aos objetivos, os itens 2, 3 e 4 parecem favorecer diretamente a ampliação do número de leitores do jornal podendo então ser considerados como objetivos comerciais. O objetivo de promover o gosto pela leitura do cotidiano carece de aprofundamento se quisermos analisá-lo da perspectiva da educação; o gosto pela leitura do cotidiano corresponde necessariamente a objetivos e desejos educativos, políticos, filosóficos, culturais ou outros. "Ler" o cotidiano por que e (ou) para quê ? Esta seria a pergunta que, respondida, nos daria uma idéia clara do teor educativo deste objetivo. No que se refere ao que é considerado como "resultado" identificamos que, também os itens 1, 4 e 5 referem-se a resultados comerciais. Os itens 2 e 3 referem-se ao fator "qualidade do produto" que está também diretamente ligado ao fator comercial. No item 3 - vale observar ainda - encontramos novamente necessidade de aprofundamento para que possamos compreendêlo melhor. De que maneira a leitura crítica de professores e alunos pode servir como referência para a melhoria da informação jornalística ? A idéia de um jornal levar em consideração tais leituras críticas é bastante interessante não apenas do ponto de vista educativo; seria necessário, contudo, entender como a ANJ pensa a organização desta espécie de "diálogo" com o público leitor. Por fim, quanto ao item 6, sobre as vantagens da presença do jornal na sala de 13
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aula,
embora estas sejam dadas como existentes, pensamos que nosso
trabalho deverá apontar elementos que nos possibilitarão concordar ou discordar disso. Dos eventos realizados sobre o tema Jornal na Educação, assumem grande importância as Conferências Internacionais. Tais Conferências são realizadas a cada dois anos pela Associação Mundial de Jornais com o objetivo de discutir a utilização dos meios de comunicação, especialmente dos jornais, na educação. Cada edição da Conferência é realizada num país distinto e dedicada a temas diferentes. A Conferência de 1997, como já informamos, foi realizada em São Paulo, nos dias 10 e 11 de setembro e atraiu mais de 300 especialistas no assunto e editores de jornais de todo o mundo que discutiram as expectativas dos jovens em relação à mídia do século 21 e como as inovações tecnológicas na área da comunicação poderão contribuir para a educação das novas gerações.19 As Conferências sobre Jornal na Educação contam ainda com o apoio da UNESCO.20 Para a 2ª Conferência Internacional de Jornal na Educação - cujo tema central foi "a leitura na era eletrônica; o desafio dos jornais" - , foi realizada a pesquisa "o jovem, a sociedade e a mídia do próximo milênio", solicitada ao Instituto de Pesquisa Datafolha pela AMJ. Os questionários foram respondidos via Internet por pessoas de todo o mundo. Os dados foram tabulados no Brasil. Conhecer alguns dos resultados dessa pesquisa é importante para que possamos visualizar um pouco do universo daqueles que, em parte significativa, estão na faixa etária
do público alvo do Folha Educação.21
Vamos a eles:
19
Fonte: AMJ - 1997. A Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura ( UNESCO ) - é um organismo das Nações Unidas dedicado à educação, à ciência e à cultura. Entretanto, desde sua fundação, em 4 de novembro de 1946, dedica-se também à questões relacionadas à comunicação, em particular à Liberdade de Expressão. Sua sede é em Paris e conta atualmente com 185 países membros. AMJ - 1997. 21 A pesquisa foi realizada durante os meses de junho a agosto de 1997. Dos respondentes brasileiros, 42% têm entre 4 e 8 anos de escolaridade e 57% frequentam a escola a mais de 8 anos. Para a informação sobre anos de frequência à escola na pesquisa, foi solicitado aos respondentes que não considerassem os anos de Jardim ou Pré-escola. 20
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Alguns resultados da Pesquisa do DataFolha 22
Na pesquisa, 87% dos questionários foram respondidos por brasileiros. Destes, 51% são do sexo masculino e 49% do sexo feminino. Apenas 4% dos respondentes encontravam-se no local de estudo quando do preenchimento do questionário, mas 98% estão freqüentando a escola. Destes, 57% freqüentam a escola há mais de 8 anos, 42% entre 4 e 8 anos e 1% a menos de 4 anos. Dos respondentes, 98% têm computador em casa. Indagados sobre as atividades que mais gostam de fazer, apenas 30% responderam que gostam de "ler", para 36% que gostam de "assistir televisão" e 56% que gostam de "usar o computador23". No que se refere à mídia impressa, as respostas mostraram o seguinte: Lêem jornais diários pelo menos uma vez por semana 60% dos respondentes; destes, 24% lêem apenas as manchetes, 39% lêem os quadrinhos, 51% lêem o setor de esportes, 48% lêem notícias sobre o mundo, 39% lêem notícias sobre a cidade ou região onde moram, 43% lêem a programação da televisão, 26% lêem comentários e opiniões e apenas 8% lêem os editoriais24. Dos respondentes25, 53% concordam totalmente que o jornal é um meio de comunicação muito importante para ele próprio; 42% concordam em parte. Para 7%, o jornal é muito chato de ler e 51% concordam em parte com isso; 42% discordam. Dos respondentes, 64% concordam totalmente ou em parte com a afirmação: “o jornal traz poucas coisas interessantes para pessoas como eu”; 68% concordam totalmente ou em parte que o jornal traz notícias ruins em 22
Fonte: Universo Online - BBS da Folha de S.Paulo - http://www.uol.com.br Os respondentes podiam optar por até três atividades num grupo de dez opções. Isso explica o porque de a soma das porcentagens ultrapassar os 100%. 24 Os respondentes podiam optar por até 3 atividades num grupo de oito opções. 25 Dos 100% que lêem jornal pelo menos uma vez por semana. 23
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excesso; 34% concordam totalmente que as notícias no jornal são verdadeiras e 54% concordam em parte com esta afirmação; 47% dizem que vêem no jornal opiniões diferentes que os ajudam a pensar; 73% concordam totalmente ou em parte que no jornal os assuntos são tratados com mais profundidade do que em outros meios. Indagados sobre o que acham que vai acontecer com os jornais quando a maior parte das pessoas tiverem acesso à Internet, 41% assinalou que "a Internet não vai acabar com os jornais impressos em papel; ambos vão continuar existindo como hoje" e 23% assinalou que "a Internet será usada como fonte de informação para assuntos específicos; para notícias em geral, o jornal será mais utilizado." 26 Indagados sobre quais são os principais problemas do país, as respostas indicaram: pobreza - 80%, desemprego - 65% e corrupção - 63%. Já na questão que pergunta sobre qual a pior coisa que poderia acontecer com o respondente quando o mesmo se tornar adulto, 46% aponta o item "não conseguir emprego". Dos resultados desta pesquisa, importa aqui comentar que a grande maioria dos respondentes têm computador em casa, algo que nos permite supor que não se trata de pessoas das camadas mais pobres da população brasileira.27
Isso é algo bastante importante nesta análise já que, como
observa Gramsci, numa série de famílias, particularmente das camadas intelectuais, os jovens encontram na vida familiar uma preparação, um prolongamento e uma integração da vida escolar, absorvendo no "ar", como se diz, uma grande quantidade de noções e de aptidões que facilitam a carreira escolar propriamente dita (...).
28
materiais - como o computador -
Isso inclui, certamente, todo o conjunto de que facilitam o acesso ao conhecimento
organizado e o contato com a informação. Importa-nos observar que o gosto pela leitura é bastante baixo mesmo entre tais pessoas ( 30 % dos 100% que 26
Selecionamos apenas os dados que nos interessam apresentar. Por isso a soma não atinge os 100%. No Brasil apenas 1,3 % da população utiliza a Internet. Fonte: DataFolha - Julho/ 1998. 28 Gramsci, Antonio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. P. 122 27
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lêem jornal pelo
menos uma vez por semana ) e que para estes, os
setores de "esportes" ( 51% ) e de "notícias sobre o mundo" ( 48 % ) - que freqüentemente aparecem de forma menos comentada e aprofundada que as notícias da vida nacional identificadas como "assuntos políticos e econômicos" - são os de maior preferência. Estes assuntos - políticos e econômicos - no caso do Brasil, podemos dizer que se enquadram, na opinião dos respondentes, como "notícias ruins", algo que fica sugerido nas respostas sobre quais são os principais problemas do país, onde as opções pobreza ( 80% ), desemprego ( 65% ) e corrupção ( 63% ) concentram a maioria das opiniões. No que se refere a se o jornal traz opiniões diferentes que ajudam a pensar, o resultado é importante e a favor do jornal; 47% dos respondentes consideram que sim. Esse resultado se reforça visto que, 73% dos respondentes, concordam de alguma forma com a afirmação de que, no jornal, os assuntos são tratados com mais profundidade que em outros meios. Mesmo que os resultados não tenham correspondência com o uso efetivo que estas pessoas fazem do jornal, é importante perceber que as características próprias deste produto são notadas com satisfatória nitidez, algo que certamente é possível a tais pessoas na medida em que “comparam” o jornal a outros veículos de informação que utilizam. Por fim, o fato de 64% dos respondentes concordarem totalmente ou em parte com a afirmação "o jornal traz poucas coisas interessantes para pessoas como eu" supõe que, o fato de o jornal ajudar a pensar e de tratar os assuntos com maior profundidade não é o suficiente para que tais pessoas o considerem como fundamental para suas vidas. Nesta parte destinada a conhecer um pouco sobre os programas Jornal na Educação, pudemos perceber que ainda é bastante incipiente o acúmulo que as empresas jornalísticas têm no que se refere aos resultados pedagógicos de tais programas. Isso pode significar um problema, já que há países que os desenvolvem há muito tempo. Pensando nas palavras de Rene Gunter - no início do capítulo observamos que, no que se refere a objetivos educacionais e resultados educativos, não podemos exigir dos programas Jornal na Educação menos do
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que exigimos quando pensamos em objetivos de matérias e conteúdos curriculares já tradicionais. A estrutura dos programas Jornal na Educação - ao menos dos brasileiros - se pensarmos a partir das informações que obtivemos da ANJ, pode ser considerada como algo relativamente simples. Um programa pode ser desenvolvido sem grandes custos para o jornal, sem muito investimento na formação daqueles que deverão trabalhar com o jornal em sala de aula e sem um acompanhamento mais rigoroso dos resultados gerais das iniciativas. Os profissionais do jornal, aqueles que estão diretamente ligados à redação - nos vários setores - não participam ativamente dos Programas. 29 No Folha Educação, o trabalho é feito com encalhe; a entrega não é diária e não há um acompanhamento permanente - por parte do jornal - do trabalho que se desenvolvem nas escolas . Toda essa "simplicidade" nos obriga a indagar se estamos mesmo falando de educação e de uma interferência que pretende realmente ser significativa, que pretende mostrar sua importância e validade. A inexistência de material específico do programa que trate dos aspectos pedagógicos da proposta revela uma certa fragilidade deste e nos dá a impressão de que o mesmo está sendo realizado sem que haja tal reflexão. Não podemos imaginar de que maneira um programa poderá ser avaliado em seus resultados se não tiver como referências, para tal avaliação, os pressupostos educativos e comerciais bem definidos. Sendo os propósitos educativos os que mais nos interessam aqui, não podemos também imaginar como tal material e tal proposta podem ser analisados por aqueles que vão utilizá-los na escola sem que haja, no processo de elaboração do programa, discussões permanentes sobre o que está ocorrendo em sala de aula com o professor e com o aluno; o risco de que o uso do jornal seja feito de qualquer jeito e de que a introdução deste material na escola seja, ao invés de positiva, prejudicial, é grande.
29
As informações que obtivemos sobre outros programas Jornal na Educação nos mostrou que há em alguns deles uma maior participação dos profissionais jornalistas - e outros - nas atividades de treinamento desenvolvidas com os professores que coordenam os trabalhos com o uso do jornal na escola. Não há, contudo, informações que nos permitam relacionar tal envolvimento a algum processo sistemático com vistas a uma estruturação sólida dos programas. O que percebemos é que, em alguns programas, o valor dado à questão educativa, pedagógica, cultural é maior que em outros. Citamos como exemplo o programa Correio Escola, do Jornal Correio Popular.
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Assim como todos os materiais e práticas pedagógicas da escola são alvo de permanente avaliação, também o trabalho com jornal deve ser. O acompanhamento dos efeitos e resultados do uso deste material na escola é fundamental sobretudo neste momento inicial deste tipo de interferência; sem avaliação permanente, com metodologia adequada, não haverá formas sequer de fundamentar os processos de treinamento de professores na proposta devido à falta de conhecimento mais profundo sobre o assunto. Pensamos que a empresa jornalística, se ainda não tem acúmulos importantes nesta área, deve partir do pressuposto de que, na escola, há profissionais que acumularam experiências diversas no que se refere aos usos de recursos pedagógicos de diferentes tipos; o jornal, antes de ser proposto como válido, importante e adequado, deve ser proposto como simples objeto a ser usado e avaliado; como material de um programa que espera contar com a experiência do docente para se estruturar da melhor maneira. Para
finalizamos esta parte, queremos dizer ainda que o apoio
institucional neste campo dos programas Jornal na Educação é bastante grande. Se podemos identificar uma certa fragilidade de fundamentação da parte daqueles aqui citados, no que se refere aos aspectos mais diretamente ligados a educação, por outro lado, notamos que é grande o interesse por este tipo de iniciativa. O fato de tais programas existirem já há muito tempo em países estrangeiros - sobretudo nos EUA - sem que haja fundamentação mais consistente no que se refere a objetivos, procedimentos e resultados educativos, nos dá a impressão de que o interesse comercial reina neste campo. As experiências internacionais podem instrumentalizar os profissionais brasileiros que atuam nesta área para que os mesmos se atenham mais aos aspectos
educativos
que
envolvem
a
questão.
As
discussões
que
acompanhamos na 2ª Conferência Internacional de Jornal na Educação mostraram que os profissionais responsáveis pelos programas - não só os brasileiros - estão cada vez mais críticos em relação ao que hoje representa a atuação neste campo. Mesmo que de maneira pouco profunda, reflexões sobre objetivos educacionais estiveram o tempo todo presentes nas palavras de grande parte dos participantes que relatavam, com entusiasmo,
iniciativas
inquestionavelmente voltadas para o desenvolvimento do aluno/leitor. Há 19
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programas que contam, dentro de sua estrutura, com verdadeiras "redações" nas quais os "jornalistas" são as crianças e adolescentes que, orientados por profissionais, produzem textos e reportagens muitas vezes publicados em algum setor específico do jornal. Uma iniciativa desse tipo, a nosso ver, tem grande valor educativo. Ainda na 2ª Conferência de Jornal na Educação, falou-se muito sobre a necessidade e intenção, já para o ano de 1998, de se estruturar bibliotecas especializadas em jornal. Naquele momento - da Conferência - observou-se que já estão em elaboração propostas de investimento para o setor. Nos capítulos seguintes, vamos explorar muitas das questões e questionamentos que aqui apareceram e poderemos com isso aprofundar nosso conhecimento e reflexões sobre o tema.
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CAPÍTULO 2 O PROGRAMA FOLHA EDUCAÇÃO
O jornal Folha de S.Paulo desenvolve desde maio de 1993 um programa que consiste em levar o jornal para a sala de aula. Sob o título Folha Educação, tal iniciativa é dirigida aos alunos de 1o. grau das redes pública e privada de ensino. Uma vez inscritas no programa, as escolas passam a receber os jornais em seu endereço - na proporção de um exemplar para cada cinco alunos durante um semestre letivo - três vezes por semana e seus professores são recrutados para um workshop de treinamento na proposta. Elaborado pela Folha de S.Paulo, o programa contou com a contribuição de educadores. Nas palavras de Flávia Aidar
30
, podemos entender em linhas
gerais a proposta e sua operacionalização: “Da 1a. a 4a. série, cada professor receberá um caderno com sugestões de atividades nas áreas de Língua Portuguesa, Ciências, Matemática e Estudos Sociais. De 5a. a 8a. série, a disciplina Estudos Sociais dá lugar à História e Geografia. Um conjunto de atividades, por área de conhecimento, foi pensado para cada dupla de séries, com gradações no nível de habilidades e conceitos exigidos. Essa divisão não é apenas útil e prática, mas se sustenta na afinidade de conteúdos e procedimentos metodológicos adotados para 1a. e 2a. séries, 3a. e 4a., 5a. e 6a., 7a. e 8a. . Vale lembrar no entanto, que só o professor saberá ajustar cada atividade à realidade de seus alunos, ao seu ritmo e interesses." 31 Como material de apoio para professores nas escolas, o Folha Educação preparou cadernos que trazem sugestões de atividades para a utilização do jornal na sala de aula.
São dois cadernos: um destinado ao
trabalho com alunos de 1ª a 4ª série e outro destinado ao trabalho com alunos 30 31
Ex-coordenadora do Projeto Folha Educação - 1993 a 1997. Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação, p. 8
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
de 5ª a 8ª série. Nos cadernos há sugestões de como o professor pode utilizar o jornal na sala de aula; são propostas de atividades que, para serem realizadas, o professor deverá utilizar matérias jornalísticas dos diversos cadernos do jornal. As atividades sugeridas buscam ampliar a possibilidade de abordagem dos conteúdos curriculares das diversas disciplinas ou propor conteúdos novos. A escola recebe o jornal e os professores passam a desenvolver atividades utilizando-o como material pedagógico. As empresas jornalísticas que desenvolvem tais programas propõem que o jornal seja utilizado inteiro, ou seja, deve-se utilizar todos os cadernos da forma como são encontrados nas bancas de jornal. Mesmo assim, alguns jornais produzem cadernos específicos para o trabalho na escola; esse não é o caso do Folha Educação. Os dois cadernos de sugestões do Folha Educação têm em comum textos introdutórios que tratam do tema "jornal na educação". O primeiro texto é o prefácio do caderno, escrito pelo jornalista Gilberto Dimenstein; o segundo, é a apresentação do caderno, escrito pela educadora e ex-coordenadora do programa Flávia Aidar; o terceiro texto, que tem como título "por que jornal na escola ?", foi escrito pelo Prof. Dr. Nilson José Machado32. Os textos trazem elementos importantes para uma reflexão sobre o tema “jornal na educação”. Estes nos indicam que houve, por parte dos organizadores do programa Folha Educação, a intenção de problematizar a questão do uso do jornal na escola, apresentando-a
ao futuro usuário do Caderno como questão que deve
necessariamente ser aprofundada. Isso fica bastante claro sobretudo no texto de Nilson José Machado que, na medida em que faz a defesa do uso do jornal na escola, vai apresentando aspectos críticos da questão, ou seja, pontos onde há
conflitos
necessários
de
serem
discutidos
para
que
se
possa
verdadeiramente caminhar no sentido de descobrir as reais possibilidades e viabilidade ( ou não ) do uso do jornal como material educativo. Os textos, analisados em conjunto, nos dão uma idéia bastante ampla do âmbito da proposta de leitura de jornais do Folha Educação. As questões apontadas ou tratadas nestes, ultrapassam o debate puramente pedagógico e metodológico, avançando para uma dimensão política e cultural. Este fato nos 32
Prof. Dr. do Departamento. de Metodologia do Ensino e Educação Comparada da Faculdade de Educação da USP; Colaborador do Programa Folha Educação.
22
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
fez entender que as análises necessárias nos lançam ao campo mais amplo dos trabalhos com o jornal na educação, o que nos leva a tratar de questões que certamente não estão restritas à experiência desenvolvida no Folha Educação.
De qualquer maneira, será a partir da análise deste Programa
específico que extrairemos as questões que necessitam aprofundamento; será a partir do estudo teórico destas questões que buscaremos uma compreensão mais ampla dos trabalhos desenvolvidos no campo do jornal na educação.
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO FOLHA EDUCAÇÃO
Qualquer interferência ou proposta de interferência no campo da educação segue, naturalmente, pressupostos educacionais. Ao buscarmos entender tais pressupostos na concepção do Folha Educação nos deparamos com uma realidade específica. O Programa da Folha de S.Paulo foi coordenado por uma "educadora" - Flavia Aidar - contratada pelo Jornal e que contou com a colaboração de outros profissionais de educação para a elaboração dos materiais que são apresentados aos professores. Como observa Flavia Aidar, os programas, em quase todos os lugares do mundo acontecem na área de Marketing
33
o que nos revela algo do "perfil" destes
que, embora possam estar preocupados com a formação do leitor, têm grande interesse em desenvolvê-la para vender jornais. Questionada sobre os resultados educativos do Folha Educação, Aidar observa que tal atuação dos jornais, ainda não é um trabalho que a gente possa dizer que tenha acontecido visto que a escola se interessa, recebe o jornal mas não necessariamente trabalha. Isso revela que o Folha Educação ainda não dispõe de um registro mais profundo dos resultados do trabalho que desenvolve há cerca de cinco anos. Flavia Aidar considera, contudo, que o Programa da Folha traz contribuições importantes. Dentre elas está a de desmistificar o jornal. Segundo Flavia Aidar, grande parte das pessoas ainda tem em mente que ler jornal significa ler tudo o que ele traz. Por conta disso, essas pessoas justificam que não lêem jornal todos os dias porque não têm tempo. Falando de Jornal e Livro - didático ou não - Aidar observa que o livro para nós é sagrado e que o jornal é mais dessacralizado, o que faz com que, com o jornal, a pessoa seja mais crítica por mais que a palavra escrita impressione. O uso do jornal na escola é também importante, segundo Flavia
33
Aidar, Flavia. Entrevista concedida em 10/12/98 no Instituto Cultural Itaú - SP, onde a educadora exerce o cargo de Gerente de Projetos. O fato de os Programas serem desenvolvidos na área de Marketing talvez revele um pouco dos motivos da ausência de argumentos, por parte da ANJ, no que se refere aos aspectos pedagógicos dos Programas Jornal na Educação, já que nestes há pouco envolvimento de profissionais dos setores do jornal mais voltados para a redação das matérias jornalísticas que para a comercialização do produto. Na Folha de S.Paulo, o Programa ocorre no setor de Marketing Cultural.
24
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Aidar,
porque contribui
para
a
superação de condições de raciocínio
imaturas. Ela observa que com o uso do jornal a pessoa é solicitada a pensar sobre coisas e que isso é um desafio para o exercício do pensar. Segundo Flavia Aidar, teóricos e pesquisadores já demonstraram que a partir de desafios e proposições as pessoas evoluem e que isso ocorre quando o jornal é utilizado em sala de aula, já que o aluno é incentivado a comentar fatos, construir argumentações, problematizar etc. As palavras de Flavia Aidar não são exatamente uma mostra da concepção de educação do Folha Educação, mas expressam, em alguma medida, uma crítica da escola ou, pelo menos, da forma como esta vem desenvolvendo os trabalhos educativos atualmente. Ao tomarmos contato com o texto contido no Caderno de Sugestões de Atividades daquele que consideramos como o principal colaborador do Folha Educação - o Prof. Dr. Nilson José Machado - percebemos que, como Flávia Aidar, Machado imprime um certo ritmo ao Programa, naturalmente baseado na crítica da educação e na concepção de educação que tem. Esta nossa observação tem como propósito expressar que, embora o Folha Educação não tenha partido de algo mais que as orientações da ANJ e embora não se distinga da maioria dos programas Jornal na Educação sobre os quais colhemos informações, a equipe responsável por sua elaboração "empresta" ao Programa uma concepção de educação e imprime um ritmo ao Programa com base em experiências e reflexões que, principalmente estes dois membros da equipe, vieram acumulando durante suas vidas dedicadas ao trabalho com educação. Em outras palavras, consideramos que, nas opiniões de Flavia Aidar e principalmente nas de Nilson José Machado - as quais conheceremos detalhadamente neste mesmo capítulo -, podemos encontrar os pressupostos educacionais que desejamos conhecer. Vale dizer que, a Folha de S.Paulo, confiou a tais profissionais o trabalho de coordenar e elaborar os materiais a serem utilizados no programa e que colocou-se em concordância com os resultados do trabalho desenvolvido pela equipe.
Por esses motivos,
decidimos analisar detalhadamente a concepção de educação e as opiniões sobre o uso do jornal em sala de aula contidas principalmente no texto de Nilson José Machado, cujas informações
foram complementadas com uma
entrevista realizada na Universidade de São Paulo em dezembro de 1998. 25
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Neste sentido, vamos analisar e comentar conteúdos do texto de Machado e da entrevista realizada. A primeira questão que destacamos diz respeito a sintonia entre a escola e a realidade. Segundo argumenta Machado, as estruturas escolares modificam-se muito lentamente, enquanto que a realidade extra-escolar parece transformar-se cada vez mais rapidamente, o que facilmente conduz a uma impressão de distanciamento crescente entre a escola e a vida
34
. Machado
observa ainda que, tal distanciamento, encontra-se na raiz de costumeiras afirmações do tipo
"os alunos chegam à escola cada vez mais fracos";
afirmações que, segundo ele, expressam uma visão da escola que avalia o aluno que recebe segundo sua ótica, desconsiderando a maior parte das informações de que ele já dispõe. 35 Machado identifica na escola "estruturas" que, por não se modificarem na mesma velocidade da realidade extra-escolar, acabam por causar a impressão de distanciamento entre a escola e a realidade. Aprofundando o assunto, questionamos Machado procurando identificar o que, na visão dele, deveria mudar nas estruturas escolares. A esse respeito ele observa: "Eu acho que as pessoas têm projetos hoje diferentes dos projetos que tinham a 30, 40 anos ou há mais tempo ainda, mas as pessoas não são essencialmente diferentes como seres humanos. Então, eu acho que essa crítica à escola como algo parado no tempo, a crítica de que o mundo lá fora muda e a escola nunca muda, não é pertinente. (...) A escola é o lugar onde tem que haver equilíbrio entre projetos e valores; os projetos mudam e estão ligados a transformações, a mudanças; mas todos os projetos são sustentados por uma arquitetura de valores e, projetos estão para a transformação assim como os valores estão para a conservação. A escola tem uma dimensão
34
Machado, Nilson José. Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - p.1 op. cit. p.13. Isso demonstra um pouco da escola e do professor brasileiros. O professor analisa o aluno a partir da posse dos saberes escolares. A idéia de desenvolver trabalho educativo no qual os conteúdos e, consequentemente, a avaliação dos alunos, levem em consideração conteúdos e objetivos diferentes daqueles tradicionalmente trabalhados e desejados pela escola, exige certamente uma dose de reciclagem na formação deste professor e até mesmo uma reformulação dos objetivos da escola. 35
26
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
transformação e tem uma dimensão que é conservação; as duas são importantes e é preciso haver um equilíbrio. A escola não é para ficar mudando da água para o vinho, do dia para a noite acompanhando modas. Eu acho que a escola hoje está com uma forma de organização que precisa ser revista talvez um pouco mais rápido; estou falando exatamente dos conteúdos que estão sendo tratados.
A
escola
ainda
está muito tributária da forma de
organização do trabalho no período industrial: taylorismo, divisão de tarefas, encadeamento de tarefas, seriação, pré-requisito. Isso ainda é muito forte na escola e no mundo do trabalho isso já está caindo muito rapidamente. A forma de organização da escola precisa mudar, mas não quer dizer que a escola está totalmente fora do tempo." 36 A crítica de Machado, como podemos observar, incide sobre a escolha de conteúdos que a escola considera importantes e necessários hoje. Sobre as estruturas escolares, podemos identificar que, na visão de Machado, se estas têm que ser mudadas, isso deve ocorrer justamente no que se refere à escolha de conteúdos, o que está totalmente relacionado, a nosso ver, com a visão que hoje predomina na escola brasileira quanto ao que deve ou não ser ensinado ou trabalhado nos processos educativos que desenvolve. Tocar neste ponto da estrutura da escola - significaria promover uma reordenação dos objetivos educacionais, algo que não se reduziria, a nosso ver, a uma redefinição de conteúdos, mas que dependeria, necessariamente, de uma revisão dos pressupostos filosóficos, políticos e culturais que hoje orientam a escola brasileira.
36
Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98. Em seu texto intitulado "Sobre o ensino médio: máximas e mínimos" Machado observa que "internamente e no planejamento curricular, a forma de organização linear é amplamente predominante na organização do trabalho escolar, comprometendo-se muitas vezes desnecessariamente com uma fixação relativamente arbitrária de pré-requisitos e com uma seriação excessivamente rígida, que responde em grande parte pelos números inaceitáveis associados à repetência e à avasão escolar". Para a superação de tal problema, Machado propõe a substituição - tanto nas relações interdisciplinares quanto no interior das diversas disciplinas - de tais "cadeias lineares" pela "imagem alegórica de uma rede, de uma teia de significações". Conclui observando que "não se pode pretender conhecer A para, então, poder-se conhecer B ou C, ou X, ou Z, mas o conhecimento de A, a construção do significado de A faz-se a partir das relações que podem ser estabelecidas entre A e B, C, X, G, ... e o resto do mundo". Machado, Nilson José, Cidadania e Educação, Escrituras Editora . pp.140, 143.
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
A opinião de que a escola ainda está muito tributária da forma de organização do trabalho no período industrial - taylorismo etc. - sugere que a escola deve acompanhar ou atender as mudanças, ou exigências, do novo mundo do trabalho. Em momento adequado, aprofundaremos esta questão. Machado, no texto37, conclui sua argumentação fazendo a defesa do uso do jornal na escola, algo que, na sua opinião, pode servir como importante instrumento na superação deste problema: "O jornal, pela sua agilidade, pela permanente sintonia com a realidade imediata, pelas características da linguagem que utiliza, pode constituir-se em um instrumento fundamental para uma maior sintonia entre a escola e a realidade." 38 A idéia de que o jornal está em sintonia com a realidade imediata nos faz retornar a uma das observações que fizemos anteriormente neste mesmo trabalho. Uma realidade que pode nos interessar mais diretamente, como educadores desenvolvendo trabalho educativo na escola, é aquela que poderíamos chamar de "realidade do aluno". Esta, bem sabemos, embora possa ser pensada de maneira mais específica - para efeitos analíticos - faz parte de uma realidade mais ampla, ou seja, faz parte da realidade da cidade, do estado, do país, do mundo. Esta é, certamente, uma das dificuldades com a qual todo educador interessado em partir da realidade do aluno e em falar sobre a realidade na escola se depara. Partindo dessas considerações, buscamos entender do Prof. Machado, de que maneira o produto jornal e o trabalho com ele pode favorecer a esta maior sintonia entre escola e realidade. A esse respeito, Machado observa que:
37
A referência ao "texto" que aparece diversas vezes neste capítulo, deve-se a importância que atribuímos a que o leitor identifique quando uma citação foi extraída do Caderno do Folha Educação ( o texto ) e quando a citação foi extraída da entrevista ou de outra obra produzida por Machado. Tal identificação se justifica pela importância de percebermos o quanto Machado fundamenta, com suas próprias idéias e reflexões, o Folha Educação. 38 Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação, p. 13. Em seu texto intitulado "Sobre livros didáticos: quatro pontos", Machado observa que "os jornais , em diversos países, têm buscado sublinhar suas possibilidades como recurso pedagógico, elaborando programas de utilização em sala de aula cujas metas evidenciam certas limitações dos livros didáticos que não lhes são inteiramente intrínsecas, decorrendo, em grande parte, da idéia de conhecimento, que necessitaria ser seriamente repensada". Machado, Nilson José, Cidadania e Educação, Escrituras Editora . p. 121
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
"Essa é uma coisa cada vez mais importante porque você vive uma avalanche de dados desorganizados. Esses dados não conseguem nem se transformar em informação para a gente, pois uma informação é mais que um dado; é preciso haver alguém interessado em alguma coisa para um dado poder se transformar em informação; às vezes, há um amontoado de dados sem interessar a ninguém. Então, os jornais são veículos de informação especialmente importantes; (...) o jornal de ontem ninguém quer mais ler, mas, mesmo essa vida de um dia é muito maior do que da palavra falada da televisão [ onde ] o nível de organização [ da informação ] é mais baixo. (...) Mas não basta acumular informação para você ter conhecimento; precisa haver conexão, organização, compreensão
39
e o jornal analisa muito mais
do que a televisão. (...) O jornal é um instrumento importante nesse 'meio de campo' entre os dados e as informações mas principalmente nesse 'meio de campo' entre as informações e o conhecimento. É claro que o jornal não basta e é claro que falar de conhecimento é falar da escola. Mas o jornal ajuda nesse espaço entre a informação que circula, fragmentada e o conhecimento organizado que se elabora na escola." 40 Entendemos que, para Machado, a posse da informação é algo fundamental para o aluno e que a escola tem que se organizar de forma a satisfazer isso que podemos entender como uma necessidade. Machado fala da televisão não por acaso. Sabe que este é o meio de comunicação que atinge praticamente todos os lares do país e que tal meio assume o papel de um dos principais veiculadores de informação do momento. Machado observa que, embora aquilo que a televisão transmita seja informação, e não apenas dados, a organização desta informação é muito inferior à organização daquela feita pelos jornais. A vantagem de informar-se através do jornal impresso está, segundo Machado, no fato de tal material analisar os fatos muito mais do que a televisão, o que proporciona ao consumidor da informação uma maior quantidade de detalhes e, portanto, uma maior qualidade de informação, algo
39
Grifo nosso Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98. 40
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
que reverterá numa melhor compreensão daquilo com o que se está tomando contato. Machado entende que entre o conhecimento organizado que é trabalhado na escola - e podemos pensar em sua reflexão anterior sobre a necessidade de a escola reformular os conteúdos com os quais trabalha - e a informação que circula fragmentada, a utilização do jornal pode ajudar. Por tudo isso entendemos que, na visão de Machado, o aluno precisa de informação organizada, precisa ter acesso àquelas informações de que necessita ou pode necessitar para viver, para poder concretizar seus interesses, algo que a escola, com sua estrutura e conseqüente visão do que é necessário ensinar hoje, não oferece satisfatoriamente. A idéia da necessidade da informação para a formação da pessoa é algo bastante marcante nas palavras de Machado. Perguntado em que sentido exatamente a informação é tão imprescindível e ainda sobre como a escola pode trabalhar visando satisfazer essa suposta necessidade, Machado observa que: "A escola precisa se organizar tendo em vista as pessoas. (...) Os objetivos da escola não são os objetivos das matérias; os objetivos da escola tem que ter a ver com os objetivos das pessoas, e as matérias estão a serviço das pessoas. Se isso é verdade - o que conta são as pessoas - nada disso se sustenta sem dados e informações. Eu acho que se as pessoas querem 'coisas' elas vão buscar o conhecimento; se precisam de informação e se não há informação, produzem; se precisam de dados e se não há dados, fabricam; nada se sustenta sem dados, informações. Não há essa contraposição
formação/
informação. Agora, você pode ficar cego por excesso de luz. A informação é bagunçada, é fragmentada, desordenada. (...) Você precisa de critérios, de uma leitura crítica
41
. É preciso aprender a filtrar, a separar o que interessa. E
esses critérios são muito variados; por exemplo, você escolhe um jornal e não o outro em função dos "óculos" que você já tem42 e usa o jornal
41 42
Grifo nosso Grifo nosso
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
para ler o que está acontecendo na realidade e não para se identificar inteiramente." 43 Como observa Machado, as pessoas buscam o que querem, seja conhecimento, seja informação. Esta afirmação é bastante importante e nos remete à crítica de Flavia Aidar segundo a qual o ensino hoje é inócuo, não te habilita a nada.44 Esta é uma crítica bastante freqüente nos dias de hoje. Das mais diversas óticas e a partir dos mais diversos interesses, a escola brasileira é criticada por não oferecer "o que deveria" ao aluno ou o que ele de fato necessita. É claro que esta é uma questão muito mais profunda e que não caberia ser desenvolvida aqui. É importante observar, contudo, que as críticas feitas à escola hoje são motivadas pelas mais diferentes visões do que hoje pode ser considerado como necessidade do aluno; são visões que reivindicam desde uma formação humanista, calcada em valores que desenvolvam a noção de cidadania, até aquelas que reivindicam que o aluno desenvolva na escola as habilidades e comportamentos que são considerados como importantes para que o mesmo seja mais útil para a empresa com seus novos modelos de organização do trabalho e da produção, ou para que este se coloque em melhores condições no que se refere ao próprio grau do que se convencionou chamar de empregabilidade.45 Se é verdade que as pessoas buscam o que querem e aquilo de que necessitam - incluindo aqui a informação - , isso não parece tão certo quando nos remetemos aos resultados da pesquisa comentada no capítulo anterior. Se assim fosse, numa sociedade com alto grau de desemprego, pobreza e corrupção - fatores identificados pelos respondentes daquela pesquisa como os principais problemas do país - deveria nos causar estranhamento observar que os setores do jornal que mais interessam àquelas pessoas são os de esporte e programação de TV. 43
Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98. 44 Entrevista realizada em 10/12/98 no Instituto Cultural Itaú - SP 45 Segundo o discurso empresarial, "para se integrar no contexto da época atual e exercer eficazmente um papel na atividade econômica, o indivíduo tem que, no mínimo, saber ler, interpretar a realidade, expressar-se adequadamente, lidar com conceitos científicos e matemáticos abstratos, trabalhar em grupos na resolução de problemas relativamente complexos, entender e usufruir das potencialidades tecnológicas do mundo que nos cerca. E, principalmente, precisa aprender a aprender, condição indispensável para poder acompanhar as mudanças e avanços cada vez mais rápidos que caracterizam o ritmo da sociedade moderna. Novas Tecnologias, Trabalho e Educação, Um debate multidisciplinar. Vários Autores. Editora Vozes, 1994. Organizadores - Ferretti, Celso João ( e outros ), p.88
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Contudo, a questão que nos importa aprofundar é: todos os jornais servem
como
material educativo ? Analisando os diversos produtos
jornalísticos disponíveis no mercado, podemos observar que nem todos oferecem as informações organizadas
citadas por Machado como um dos
valores da forma de informar dos jornais. Para Flávia Aidar, todos servem já que embora uns jornais sejam mais respeitáveis que outros, você pode estar fazendo um exercício crítico em cima do pior.46
A esse respeito Machado
observa que: "(...) o pior livro é melhor do que nenhum livro. Há jornais que servem de exemplo; há jornais que servem de contra-exemplo e nesse sentido qualquer jornal serve. É claro que, quando você está pensando nessa mediação que o jornal faz da construção da realidade, nessa análise, nessa organização das informações, na construção de imagens, na construção de versões, nessa construção
da
realidade,
é
claro
que
as
caricaturas,
quanto
mais
extravagantes, menos são úteis. Se você pega jornais que são pura extravagância, isso serve de contra-exemplo, serve para mostrar caricaturas, mas (...) a gente está querendo muito mais ver a construção da realidade do que propriamente ficar dizendo que o jornal não presta. Qualquer um presta mas escolher é bom."47 As propostas editoriais dos diferentes jornais têm características muito particulares e as diferenças não se restringem à questões de linguagem ou do grau de seriedade na publicação dos fatos. Quando falamos de meios de comunicação estamos falando de veículos que expressam leituras do mundo, visões de mundo, versões que carregam consigo intenções, que dão destaques diferenciados aos fatos noticiados, que escolhem a informação que desejam publicar. Isso nos remete a uma questão: os meios de comunicação, claramente comprometidos com interesses de diversos tipos na sociedade, podem servir como material educativo uma vez que têm, como um de seus 46
Entrevista concedida em 10/12/98 no Instituto Cultural Itaú - SP Grifo nosso. Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98. 47
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
objetivos, o de formar opinião ? No capítulo quatro, faremos uma reflexão mais detida sobre este aspecto. Indagado sobre tal questão, Machado observa que: "Alguns jornais 'atiram' sempre numa determinada direção; você lê e é mais fácil ter uma idéia do que está acontecendo porque você dá um desvio e acaba percebendo melhor o que está acontecendo. Outros jornais, com a intenção de neutralidade, atiram para todas as direções e às vezes, esses são mais difíceis de se ler. Eu, às vezes prefiro [ o jornal ] com algum rótulo, mas que tenha uma certa coerência na leitura do mundo. Eu leio o jornal, dou os descontos necessários e tento interpretar48. E o que simula uma aleatoriedade 'atirando' em todo mundo, igualmente me desconcerta, eu fico mais perdido. Você recorre aos jornais e a revistas para tentar organizar essa avalanche de dados e de informações fragmentadas. Então os jornais e revistas são parceiros da gente nessa tentativa de ler o que está acontecendo, e até entender a diversidade de jornais, a diversidade de perspectivas." 49 Machado não vê a questão da orientação ideológica do jornal como problema; deixa claro, contudo, que uma leitura crítica do material jornal depende quase que inteiramente do leitor. Para desenvolvermos melhor esta questão vamos retomar algumas idéias expressas em sua entrevista. Quando fala da importância da informação, Machado observa que não basta
acumulá-la,
mas
que
é
preciso
haver
conexão,
organização,
compreensão da mesma. Ainda falando de informação, em outra parte, observa que o leitor precisa de critérios para fazer uma leitura crítica e, ao falar da variedade de critérios, observa que o leitor escolhe um jornal e não outro em função dos "óculos" que já tem. Falando sobre se todos os jornais servem como material educativo, observa que sim, mas que escolher é bom e, por fim, observa que prefere ler jornais com algum rótulo pois, lê o jornal, dá os descontos necessários e tenta interpretar a notícia.
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Grifo nosso. Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98. 49
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Nos conteúdos apresentados acima há algo em comum: todos demonstram que a formação do leitor é essencial para que o mesmo possa fazer uso adequado da informação. Como o leitor pode adquirir tal formação ou, como diz Machado, estes "óculos" ? Durante todo o processo de formação por que passa, incluindo aí aquilo que o mesmo desenvolve a partir da escola. Para ler criticamente, para escolher o jornal, para conseguir estabelecer conexões organizando a informação e chegando à compreensão da mesma, a formação aparece como
algo imprescindível nas palavras de Machado,
embora seus argumentos não sejam reforçados por uma reflexão sobre a importância de a escola trabalhar adequadamente os conteúdos do conhecimento sistematizado que representam a base para se atingir tal formação. Nas palavras de Flavia Aidar, sobre esta questão do uso da informação, também observamos uma referência à necessidade de formação daquele que a consome. Ela observa que: "O aprendizado reflexivo sobre o mundo e sobre a realidade que nos cerca exige muita informação, porém, mais do que isso, exige organização e a capacidade
de
reflexão
sobre
este
universo
de
acontecimentos,
instrumentalizando o jovem, de maneira ágil, de modo que dele se aproprie e seja capaz de responder aos desafios do presente." 50 Flávia Aidar faz a relação proposital entre aprendizado reflexivo e informação. Com
sutileza, argumenta apresentando a informação como
matéria-prima fundamental para um aprendizado reflexivo. Mais do que isso, fala em instrumentalizar o jovem de maneira ágil para que o mesmo seja capaz de responder aos desafios do presente. A referência à agilidade tem relação óbvia com a característica do jornal de trabalhar com a informação cotidiana51. Estar informado para atuar com consciência de cidadão diante das questões da sociedade; esta é a mensagem central que poderíamos assim resumir: sem a 50
Aidar, Flávia. Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação, p. 8 Esta é uma característica do jornal que necessariamente deve estar sendo aproveitada nas sugestões de atividades para uso do jornal em sala de aula. 51
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informação não se pode exercer a cidadania. Mas, vale dizer, nas palavras de Flavia Aidar está sugerido que, sem formação, não é possível utilizar-se da informação disponível. Este conjunto de opiniões nos levou à necessidade de saber de Machado o que ele pensa sobre este professor e este aluno a quem o jornal é oferecido na escola. Indagado sobre se professor e aluno estão preparados para utilizar o jornal, Machado observa que: "Eu acho que essa é uma perspectiva equivocada de formalizar a questão por parte da mídia, do governo, da secretaria etc. A vida é disparada numa pessoa a queima-roupa; você nasce. Não chega o momento em que você diz que está preparado para se casar, para ter um filho. As coisas não são assim; não há essa nitidez desse momento de estar preparado. Como diz Antonio Machado ‘o caminho se faz caminhando’. Eu acho que a gente não tem que achar professores ou alunos preparados ou despreparados; esses são os professores que a gente têm, esses são os alunos que a gente têm, esse é o país que a gente é, e se se está de acordo que o jornal é um instrumento fundamental, vamos usar da forma possível com o que tem aí." 52 A opinião de que o caminho se faz caminhando é bastante coerente sobretudo quando o tema é educação e não há como discordar totalmente dela. Não há, contudo, como negar que o professor e o aluno brasileiros carecem de uma formação de qualidade e que isso reflete inevitavelmente na 52
Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98. Machado, freqüentemente atribui os diversos problemas do desempenho do professor às precárias condições de trabalho que este enfrenta. No livro , Educação e Cidadania, contudo, mesmo não atribuindo qualquer culpa ao professor no que se refere à escolha do livro didático de má qualidade, observa que "a forma de utilização praticamente conduz à escolha de determinado livro, uma vez que parece muito mais fácil entrar em sintonia com um autor que trilha caminhos conhecidos, que não cria 'dificuldades', não aumenta a carga de trabalho do já sobrecarregado professor, oferecendo, pelo contrário, inúmeras facilitações de cunho supostamente pedagógico". Em outro texto também já citado aqui intitulado "Sobre o ensino médio: máximas e mínimos" , Machado, discorrendo sobre a questão da valorização da função docente, comenta que "a intenção tantas vezes afirmada [ pelo governo ] de melhorar a remuneração apenas dos [ professores ] mais competentes ignora o fato indiscutível de que professores competentes foram paulatinamente retirando-se da sala de aula, em processo contínuo que já dura muitos anos". Machado, Nilson José - Cidadania e Educação, pp.112, 159. Escrituras Editora. Machado parece optar sempre por tocar na questão das más condições de trabalho do professor brasileiro quando o assunto é a crítica do trabalho deste profissional; mesmo que evite criticar o professor diretamente, Machado aponta problemas que estão também diretamente ligados à formação deste.
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possibilidade que ambos têm de utilizar um material como o jornal. Flavia Aidar, fazendo considerações sobre a mesma questão, observa que o professor não está preparado nem para dar aulas e que o jornal desestabiliza o professor mal informado, pois é difícil para este trabalhar com o não-saber dele mesmo.53 Neste ponto, vale a pena citarmos novamente temas discutidos na 2ª Conferência de Jornal na Educação, que dizem respeito a como os professores têm recebido o jornal na escola. Um dos participantes observou que os professores são muito apegados aos conteúdos programáticos, o que dificulta a introdução dos programas Jornal na Educação. A questão não foi colocada em tom de crítica aos profissionais, mas como realidade que dificulta o desenvolvimento adequado das propostas. Observou-se que a questão central é a de "como romper com isso de uma maneira competente"54, ou seja, de como introduzir o jornal na escola sem criar problemas para o trabalho que os profissionais da educação já desenvolvem com os conteúdos curriculares tradicionais. Outra intervenção interessante diz respeito à questão que discutimos anteriormente sobre se o professor e o aluno necessitam ou não de formação para melhor utilizarem a informação. Um dos participantes sugeriu a criação de um aparelho eletrônico - do tipo controle remoto - para uso permanente do jovem do futuro nos momentos em que estiver de frente com uma informação qualquer: O aparelho teria mais ou menos os seguintes "botões":
TRUE
$
_____
FALSE
GOOD _____
?
BAD
53
Entrevista concedida em 10/12/98 no Instituto Cultural Itaú - SP Grifo nosso. Se há a intenção de romper de maneira competente com o apego dos professores aos conteúdos programáticos, o Jornal deve propor atividades reconhecidas por tais profissionais como verdadeiramente importantes e válidas. Para tanto, a participação dos mesmos na elaboração das atividades com jornal pode ser algo fundamental. 54
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
A sugestão é a de um aparelho que possa "testar" a informação com um simples toque num dos botões, dizendo se ela é verdadeira, falsa, boa, ruim; se tem por trás interesses econômicos ou de outro tipo. A "proposta" é uma brincadeira que teve por objetivo expressar que, para o bom uso da informação, deve haver boa formação, a única tecnologia capaz de dotar a pessoa dos meios para a interpretar e agir frente ao turbilhão de informações de que dispõe hoje. As propostas de trabalho com jornal contidas nos Cadernos de Sugestões de Atividades do Folha Educação - que serão analisadas mais adiante - servirão para que possamos visualizar algo sobre o nível de formação que o trabalho com jornal exige do aluno e principalmente do professor. Voltando aos conteúdos do texto de Machado, uma forte razão apontada por ele para fundamentar a importância da presença do jornal na sala de aula é a linguagem própria deste veículo de comunicação.
Segundo Machado,
trata-se de uma linguagem concisa, mista, integrando harmoniosamente símbolos alfabéticos e numéricos, simbioticamente textos e ilustrações, buscando a convergência das atenções, a expressão mais direta possível. 55 Nesta parte, Machado expõe sua visão sobre a forma como o jornal é apresentado ao leitor; uma forma que favorece a leitura e compreensão dos conteúdos, dada a característica da informação jornalística, que une, num mesmo espaço, diferentes tipos de texto ( manchetes, chamadas, resumos, descrições, etc. ) junto à imagens e dados quantitativos. Ao falar de “convergência das atenções”, Machado expressa a idéia de que o leitor pode,
55
Machado, Nilson José. Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - p.12. No livro Matemática e Língua Materna de Nilson José Machado - Cortez Editora, o autor observa que "para caracterizar a impregnação entre Matemática e a Língua Materna, referimo-nos inicialmente a um paralelismo nas funções que desempenham, enquanto sistemas de representação da realidade, a uma complementaridade nas metas que perseguem, o que faz com que a tarefa de cada uma das componentes seja irredutível à da outra, e a uma imbricação nas questões básicas relativa ao ensino de ambas, o que impede ou dificulta ações pedagógicas consistentes, quando se leva em consideração apenas uma das duas disciplinas". P. 91. Como em todo este capítulo, o pensamento, ou idéias, de Machado mostra-se plenamente presente na fundamentação que utiliza para justificar o uso do Jornal como material educativo na escola.
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no jornal, decifrar mais rapidamente uma mensagem, visto que esta é a ele apresentada a partir de mais de um recurso de comunicação. Ao tratar da questão da linguagem, Machado faz referência ao livro didático e ao texto literário. Ele observa que: "Globalmente, o conhecimento é apresentado nos textos didáticos como uma estante onde os livros estão bem 'arrumadinhos'. Essa característica torna os livros didáticos, ao mesmo tempo, fundamentais para o desenvolvimento de uma disciplina, tal como uma maquete pode sê-lo para a construção de uma casa, mas insuficientes para o desenvolvimento de um curso." 56 Indagado sobre se o jornal pode substituir o livro didático, Machado observa que: "O jornal não substitui o livro didático. São funções diferentes. O livro não pode virar caderno e nem jornal. O papel do livro é um, o papel do caderno é outro e o papel do jornal é outro; não dá para reduzir um ao outro. A escola tem dentro de si dois materiais didáticos muito importantes e irredutíveis um ao outro que são o livro e o caderno. O livro didático representa uma forma mais ou menos estável de registro dos conteúdos igual para todos os alunos e o caderno significa um registro absolutamente pessoal. O livro é igual para todos, o caderno, cada aluno tem o seu e cada professor organiza de uma forma. A importância do caderno decresceu muito; chegou-se até ao ponto de [ criarem ] aqueles livros57 em que os alunos tinham que escrever no livro o que é uma corrupção da idéia de caderno, porque o caderno é um lugar para o aluno escrever do seu modo pessoal e do modo característico do trabalho do professor que está ali na classe, não é para ser uma coisa padronizada,
56
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - p.15 A respeito da utilização do livro didático e do caderno, Machado observa que "a desconsideração de que os materiais apresentam uma complementaridade verdadeiramente essencial (...) já conduziu , em diferentes momentos , a desvios contraproducentes, como o que ocorreu com a emergência e a disseminação dos livros 'consumíveis' ". Machado, Nilson José. Cidadania e Educação, Escrituras Editora, p.111. 57
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
que todos tenham que escrever a mesma palavra no mesmo lugar. (...) O caderno é esse instrumento de conhecimento registrado e construído dessa forma pessoal, e é fundamental para a construção da autonomia do aluno. Mas ele pode acabar gerando algum tipo de dependência, ao contrário do que se quer, se não houver essa mediação de coisas externas à relação entre o professor e o aluno; então, acaba sendo uma dependência do aluno em relação à palavra do professor. O livro,
por
outro lado, já significa a
autonomia; se eu preciso de alguma coisa, eu vou buscar no livro, vou estudar lá sozinho. Entre essa individualidade do caderno e esse caráter geral do livro, é que entra e é importante entrar o jornal. Porque o jornal é um material que não tem o caráter de registro individual do caderno, mas ele não é para ser lido como um livro; é para ser lido, interpretado; você concorda, discorda; você não vai discordar do texto do livro porque aquilo ali é conhecimento organizado. No jornal eu concordo, não concordo, debato." 58 No texto de Machado encontramos uma valorização dos principais materiais didáticos presentes em quase todas as escolas. A referência ao "caderno" e à forma como este serve ou deve servir ao aluno no processo educativo sugere que Machado atribui grande importância àquilo que o aluno produz de forma pessoal. Pensando nisso, juntamente com os vários aspectos que até agora foram apontados na defesa do uso do jornal em sala de aula, podemos fazer relações importantes. A margem para a realização de produções pessoais por parte do aluno é, a nosso ver, bastante maior se este for sugestionado a produzir a partir de conteúdos mais próximos da sua realidade vivida, em sentido amplo. A produção solicitada em função dos conteúdos curriculares, do conhecimento organizado, pode representar, dependendo da forma como o professor administra o processo educativo, uma forma potente de inibir ou tolher, por exemplo, a criatividade e a 58
Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98. Embora Machado considere que o jornal não substitui o livro didático, observa que "o livro didático precisa ter seu papel redimensionado, diminuindo-se sua importância relativamente a outros instrumentos didáticos, como o caderno, seu par complementar, e outros materiais, de um amplo espectro que inclui textos paradidáticos, não-didáticos, jornais, revistas, redes informacionais etc.". Observa ainda que "a articulação de todos esses recursos, tendo em vista as metas projetadas para as circunstâncias concretas vivenciadas por seus alunos, é uma tarefa da qual o professor jamais poderá abdicar e sem a qual seu ofício perde muito de seu fascínio". Cidadania e Educação de Nilson José Machado, p.111. Escrituras Editora, p. 112.
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
espontaneidade do aluno justamente por se tratar de temas que, para serem percebidos como valiosos ou mesmo úteis para sua formação, dependeriam do nível e experiência do professor. Neste sentido, podemos considerar que o jornal e a revista podem ser de fato materiais importantes se bem utilizados e, mais do que isso, que tais materiais podem trazer para a escola conteúdos que não podem ser encontrados em outro lugar. Estas observações nos remetem à questão polêmica e complicada dos conteúdos e objetivos educacionais, mas só trataremos disso mais tarde. Na ótica de Machado, para que um curso possa ser desenvolvido de forma a corresponder às atuais exigências de formação, numa sociedade onde a realidade extra-escolar muda constantemente, deve necessariamente incorporar elementos impossíveis de constar do livro didático, visto que a organização deste material segue a lógica da exposição do conhecimento organizado. Em outras palavras, não cabe no livro didático o fato imediato do cotidiano e para a superação dessa necessidade Machado
sugere o texto
jornalístico como apoio: "Na sala de aula, o exercício de situações onde o conhecimento apresenta-se em construção, onde o valor maior encontra-se no processo de elaboração, na própria caminhada, não apenas no objetivo imediato a ser atingido, o texto didático necessita do apoio de outro, onde os andaimes sejam mais visíveis." 59 Machado, ainda falando sobre o texto didático, apresenta uma questão metodológica importante de ser evidenciada aqui. Vejamos o que ele diz ao comentar sobre o modelo de formulação de problemas característico do livro didático: “(...)nos livros didáticos existem certos estereótipos
na formulação de
problemas que podem obscurecer determinados aspectos do processo da resolução, e que, em geral, não são encontrados nos recortes dos jornais. Na formulação de um problema, freqüentemente, a etapa inicial, onde ocorre a
59
Caderno de Atividades do Folha Educação, p. 15
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
construção do problema, a problematização, é um dos momentos mais ricos. Nos livros, poucas vezes esta etapa encontra o destaque que merece. Além de os
problemas
já
surgirem
completamente
formulados,
o
estereótipo
‘dados/pedidos’ é francamente hegemônico. São fornecidos todos os dados necessários e suficientes para a determinação dos pedidos: basta encontrar quais as operações a serem realizadas sobre eles para obter-se as respostas desejadas. O desenvolvimento da competência em discernir a informação relevante para os fins que são perseguidos da que não o é resulta, pois, parcialmente prejudicado.
Tal habilidade pode ser naturalmente praticada a
partir de questões ou problemas envolvendo recortes de jornais. Neles, raramente encontrar-se-á apenas aquilo de que se necessita; as metas e o interesse do leitor encarregam-se de fazer a seleção." 60 A questão exposta acima nos dá uma idéia de outro campo de preocupação presente na visão de Machado. O uso da informação jornalística é desejável, também, pela forma como o jornal apresenta seus conteúdos e que pode ser aproveitada para explorar o campo da metodologia do ensino. Pensando nisso, deveremos olhar com atenção especial as indicações metodológicas sugeridas nas propostas de atividades que analisaremos no próximo capítulo. Machado parte para o comentário sobre o texto literário: "O recurso aos jornais para atividades escolares não pode constituir-se em alternativa para a utilização do texto literário". "Tanto a linguagem jornalística quanto a literária apresentam características desejáveis de assimilação durante a aprendizagem da língua corrente. Apresentá-las como alternativas exclusivas
60
Machado, Nilson José. Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - p. 16. Também a esse respeito, em seu livro Cidadania e Educação, Machado observa que, "em um livro didático, de modo geral, poucas vezes se consegue escapar da apresentação convencional, que distingue com nitidez o momento da teoria do momento dos exercícios de aplicação; estes, por sua vez, quase sempre limitam-se a problemas esteriotipados, onde também se distingue com nitidez os dados - sempre necessários e suficientes para a resolução - dos pedidos, a serem determinados com a utilização dos dados". pp. 121,122
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seria tão impróprio quanto sugerir-se a escolha entre um machado e um bisturi"61 Aprofunda a questão direcionando o foco para o jornal: "A afirmação de que o jornal limita-se à superficialidade da vida é insatisfatória, uma vez que as emoções e os sentimentos mais profundos podem estar se revelando justamente nas explosões superficiais que impregnam as páginas jornalísticas. Por outro lado, dependendo da intenção do olhar, muitos textos literários podem apresentar a leveza, a visibilidade, a atualidade de um verdadeiro texto jornalístico" 62. E conclui falando de jornalistas e literatos: "Não parece mero acaso o fato de existirem cada vez mais jornalistas construindo obras literárias e literatos escrevendo regularmente em jornais". Entendemos que, no centro de suas intenções, Machado quer deixar claro que o jornal não deverá ser um substituto do livro didático e do texto literário na escola, mas deverá necessariamente ser incorporado ao grupo dos materiais pedagógicos culturalmente reconhecidos como fundamentais. Indagado sobre se o jornal é um material a mais ou se é um material que deve necessariamente ser utilizado na escola Machado observa que: "Eu acho que há uma necessidade do jornal; a linguagem do jornal é diferente da do livro e da do caderno; os conteúdos, o caráter naturalmente transdisciplinar dos conteúdos que é diferente do livro e das aulas na escola; então há uma série de características do jornal, essa linguagem mista português e matemática - que torna o papel do jornal muito importante. Agora há pessoas que podem achar alternativas para suprir isso, podem trabalhar com essa linguagem mista, com essa transdisciplinaridade de outra forma, 61 62
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - p.14 ibidem.
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
utilizando outros instrumentos. Acho que há um espaço importante que o jornal preenche; se alguém não quiser utilizar o jornal, que o substitua; mas é preciso trazer para a escola isso que o jornal traz, com o jornal ou sem o jornal."63 Ainda sobre a questão da transdisciplinaridade da matéria jornalística e reforçando a defesa da necessidade do jornal na sala de aula, Machado observa que: "há 30 ou 40 anos, era muito mais simples o enquadramento do que ocorre fora da escola no âmbito de cada uma das disciplinas. Hoje, elas multiplicaram-se, subdividiram muitas vezes os seus objetos, conduzindo a uma aparência de fragmentação
tão
grande
no
conhecimento
sistematizado
que
tal
enquadramento parece cada vez mais difícil" (...). Conclui seu argumento observando que ao representar a realidade, o jornal o faz de uma maneira abrangente, sem recortá-la em segmentos com fronteiras bem nítidas, como a escola o faz através das disciplinas. 64 Indagado sobre se o livro didático deve incorporar algo do jornal, Nilson José Machado observa que: "Eu acho que a linguagem, a organização do texto, a questão da organização, talvez sim. Alguns livros já fazem isso. A meta fundamental do livro é diferente da meta do jornal. A questão da perenidade e da efemeridade; o livro não deveria ser uma coisa para ficar mudando todo ano, a cada dois, três anos. O livro é um dos manuais escolares que tinha que ter uma vida muito mais longa, justamente por isso ele não pode ser tão dependente ou tão comprometido de coisas que estão mudando todo dia. A função do livro é muito mais permanente, mais estável. A vida está aí acontecendo e está entrando na escola não trocando de livro, mas usando jornal, usando revista, usando a aula do professor e outras coisas." 65 63
Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98. 64 Caderno de Sugestões de Atividades, p. 13 65 Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98.
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Machado apresenta o jornal como um instrumento educativo cujo papel já está definido no campo da educação formal; trata-se do meio a partir do qual o aluno poderá apropriar-se melhor dos fatos da realidade que o cerca; trata-se do veículo capaz de estabelecer um elo permanente entre o conhecimento acumulado e o movimento que cria o novo conhecimento; trata-se do material cujas
características
e
linguagem
favorecem
ao
aprofundamento
e
desenvolvimento de conhecimentos e metodologias. A questão que se coloca aqui é a de como a escola deverá utilizar o jornal para atingir tais objetivos. Indagado sobre o que a escola deve oferecer ao aluno hoje, Machado observa que: "Os conteúdos têm que estar a serviço de metas maiores ligadas às pessoas. As pessoas têm que ser capazes de ler diferentes linguagens, se expressar em diferentes linguagens, as pessoas têm que ser capazes de articular coisas e compreender, as pessoas têm que ser capazes de argumentar, defender pontos de vista, de resolver problemas ( não de matemática ou de física ); as pessoas têm que ser capazes de elaborar propostas e projetos de intervenção na realidade. Essas são competências que se adquire através das disciplinas; através das matérias; os conteúdos têm que estar a serviço disso. É com essas competências que eu tenho que estar preocupado. O aluno tem que ser capaz de defender pontos de vista, argumentar. Confiar na possibilidade de se chegar a um acordo mas argumentando, com a palavra, esse é o instrumento. Se se perde a confiança nisso, o que é que você vai fazer na escola ? A escola tem que estar a serviço disso. Isso se aprende nas diversas disciplinas." 66 A idéia de que as pessoas "têm que ser capazes" de atingir algo nos remete à discussão polêmica sobre objetivos educacionais. Como sabemos, um dos grandes pontos de atrito no campo das concepções de educação encontra-se justamente nesta questão, a saber, se são os educadores que devem decidir - e de que forma - o que os educandos devem saber ou ser capazes de desenvolver ou se os educadores devem definir seus propósitos 66
Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98.
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educacionais com base em processos destinados a buscar uma formulação de objetivos
educacionais
que
leve
em
conta
interesses,
vontades
e
necessidades dos diversos grupos de alunos com os quais se relacionam. Como observa Paulo Freire, falando a respeito daquilo que ele considera como a visão "bancária" da educação, a esta não interessa propor aos educandos o desvelamento do mundo, mas, pelo contrário, perguntar-lhes se "Ada deu o dedo ao urubu" , para depois dizer-lhes enfaticamente, que não, que "Ada deu o dedo à arara".
67
As palavras de Paulo Freire ilustram bem o
que caracteriza uma concepção de educação que desconsidera, na elaboração do currículo escolar, qualquer interesse ou necessidade do aluno. Mesmo que possam parecer, para alguns, utópicas ou militantes ( no mal sentido ) concepções de educação que incluem o aluno desde o momento da definição dos conteúdos curriculares até a execução dos trabalhos educativos - por motivos diversos ou simplesmente pelo difícil grau de operacionalização que julgam apresentar as propostas de ação fundamentadas por tais concepções -, a nós parece bastante pertinente considerá-las visto que, dentre outros motivos, analisando concepções opostas como as que certamente
dão
sustentação,
por
exemplo,
aos
especialistas
que
68
desenvolveram a já antiga Taxionomia de Objetivos Educacionais , nos deparamos com planos de ação extremamente problemáticos que, a nosso ver, pouco podem contribuir para a elevação dos trabalhos em educação. Benjamin S. Bloom, junto a grande equipe de colaboradores, propôs uma taxionomia ( classificação, sistematização ) de objetivos educacionais com o propósito de padronizar os mecanismos que servem tanto para o planejamento de um trabalho educativo como para avaliar os resultados das atividades desenvolvidas com base em tal planejamento. Pensar em planejamento e avaliação na perspectiva de Bloom implica em considerar os objetivos educacionais plenamente passíveis de serem enquadrados em um arsenal de procedimentos pedagógicos e metodológicos a serem utilizados pelo professor.
67
Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido, p. 61 Bloom, Benjamin S., Taxionomia de Objetivos Educacionais. vol. 1 - Domínio Cognitivo. vol. 2 Domínio Afetivo. Editora Globo 1972. Traduzido do original norte-americano Taxionomy of Educational Objectives, 1956 por Flávia Maria Santana da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 68
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Para Bloom, seja no campo cognitivo ou naquele que ele chama de afetivo, os objetivos educacionais dependem, para serem atingidos, de procedimentos pedagógicos e metodológicos adequados; isso vale tanto para o objetivo de buscar, por exemplo, que o aluno decore todos os afluentes de um rio como para o objetivo de que ele desenvolva o prazer de conversar com muitos tipos diferentes de pessoas ou demonstre devoção a idéias ou ideais considerados como fundamentos da democracia. Em resumo, a taxionomia de Bloom
pretende
mostrar
que,
tanto
conteúdos
curriculares
como
comportamentos podem e devem ser alvo das classificações pelo professor que, para atingi-los, deverá apenas definir - classificar - com precisão seus objetivos. Na proposta de Bloom, além da total desconsideração do aluno como ser que sabe, que pensa e que quer há toda uma elaboração para que o professor exerça o papel de dominador do processo educativo, senhor pleno e inquestionável do espaço da sala de aula69. Vale dizer, ainda, as propostas de Bloom apontam para uma educação que privilegia o desenvolvimento de habilidades - definidas arbitrariamente e desejadas pelo professor - e não o desvelamento do mundo - como é entendido nas propostas de Paulo Freire. A idéia do educador que define os objetivos e conteúdos com base em necessidades que ele próprio ou grupo a que pertence ou com o qual concorda julgam ser as ideais, é extremamente oposta àquela que concebe o educador como um agente problematizador que, como nos diz Paulo Freire, re-faz, constantemente, seu ato cognoscente, na cognoscitividade dos educandos, sendo que, estes, [ os educandos ] em lugar de serem recipientes dóceis de depósitos, são agora investigadores críticos, em diálogo com o educador, investigador crítico, também. Na medida em que o educador apresenta aos educandos, como objeto de sua "ad-miração" , o conteúdo, qualquer que ele seja, do estudo a ser feito, "re-ad-mira" a "ad-miração" que antes fez, na "admiração" que fazem os educandos. 70
69
Na relação verdadeira entre educador-educando, deve haver duas pessoas que se encontram com suas experiências de vida, mantendo uma relação amorosa, dialogante, comunicadora. Wanderley, Luiz Eduardo W., O que é Universidade, Editora Brasiliense, 1984, p.53 70 Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido, p. 69
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
O debate neste campo deve ser aprofundado, a nosso ver, se queremos encontrar os caminhos mais adequados para atuarmos em educação. As palavras
de Machado, que originaram essa nossa discussão, demonstram,
num primeiro momento, uma proximidade ao tipo de processo de definição dos objetivos educacionais mais próximo da taxionomia de Benjamim S. Bloom, já que parecem indicar certa prioridade ao desenvolvimento de habilidades cognitivas, talvez em detrimento da aprendizagem de conteúdos. Mas isso analisaremos mais profundamente quando tivermos uma visão detalhada dos objetivos das atividades preparadas por Machado, e outros colaboradores, para o Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação. Voltando à entrevista com Machado, indagado a respeito de quais benefícios trazem tais "competências" por ele citadas, o mesmo observa que: "O trabalho é uma forma privilegiada de inserção social. (...) As pessoas se sentem cidadãos porque se sentem inseridas por meio do trabalho. Eu acho que o que conta mesmo é a formação das pessoas para a vida em geral, não só para o trabalho. O trabalho, do jeito que atualmente é compreendido (...) é uma atividade que tem se afunilado; o trabalho tem sido para menos gente, está aumentando o número de gente que não tem trabalho. Ainda assim, a educação tem que estar visando não essa formação para o trabalho - pelo menos o trabalho entendido assim - mas para o desenvolvimento das personalidades das pessoas, essa formação pessoal, essa é a função fundamental da educação. É claro que essa formação pessoal não se choca com a preparação para o trabalho. (...) Preparar para o trabalho não é preparar para uma ocupação; as ocupações são sempre historicamente situadas. Por exemplo, não falta o que fazer hoje, faltam pacotes de ocupações valorizados e remunerados adequadamente. Eu quero fazer um monte de coisas que não me pagam para isso. Mas eu gostaria muito de estar fazendo. Então acho que é preciso ser alargado esse espectro de coisas socialmente valorizadas que se chama trabalho e alargando pode-se até entrar num acordo que a educação tem que visar a essa formação para o trabalho; mas do jeito que o trabalho é
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
entendido acho que a educação tem que visar muito mais essa formação pessoal do sujeito do que a formação para o trabalho nesse sentido estrito." 71 Pensar na formação pessoal do sujeito é algo bastante amplo. Mesmo nestas palavras de Machado é bastante difícil precisar quais seriam os elementos centrais de uma tal formação. Tentando aprofundar o tema, perguntamos a Machado se a escola deve considerar as transformações do mundo do trabalho, pergunta para a qual a resposta foi a seguinte: "Não. Na escola o objeto fundamental são os valores. Os valores no mundo do trabalho, da economia, são uma fatia muito estreita; na escola a fatia é muito mais significativa. Agora, ela precisa prestar atenção nessa transformação nas formas de organização que está acontecendo no mundo do trabalho. Não acho que há o sagrado e o profano; o mundo do trabalho é o profano, o mundo da escola, o sagrado. Acho que, no que diz respeito aos valores, o mundo do trabalho tem muito pouco a nos dizer; mas isso não quer dizer que nós não temos nada a aprender lá; temos muito, principalmente nessa forma de organização; lá o cartesianismo está em plena decadência. Na maior parte das industrias há outras formas de produção - trabalho em equipe, células -; na escola as exceções são muito poucas; a maioria continua num esquema absolutamente taylorista. E isso nós não temos que ter vergonha nenhuma de aprender." 72 Machado finaliza seus comentários observando que: "Essa nova forma de organização do trabalho tende a se irradiar para a forma de organização da escola. Eu acho que isso é uma coisa positiva. A forma de organização do mundo do trabalho no período industrial foi irradiada do mundo do conhecimento para o mundo do trabalho; o taylorismo é a realização no mundo do trabalho das idéias cartesianas. (...) Houve um momento em que
71
Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98. 72 Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98.
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
isso foi injetado no mundo do trabalho. Agora, eu acho que a gente está num movimento mais ou menos em sentido contrário de se repensar a forma de organização interna da escola a partir dessa reorganização no mundo do trabalho. Mas na verdade as coisas estão muito misturadas hoje porque o conhecimento se transformou no principal fator de produção; isso não é retórica, é fato concreto." 73 As idéias e opiniões expressas neste capítulo podem, a nosso ver, mostrar de forma satisfatoriamente clara os pressupostos educacionais que fundamentam a proposta do Folha Educação. Nos Cadernos do Folha Educação, acreditamos, deveremos encontrar sugestões de atividades coerentes com o pensamento
de Machado. O texto principal do Folha
Educação, que acompanha os Cadernos, é também um texto de Machado e expressa muitas das idéias aqui contidas e que também podem ser encontradas em diversos textos e livros que publicou. Nilson José Machado, como pudemos ver, fundamenta o programa da Folha de S.Paulo com reflexões que, na realidade, constituem sua forma de pensar o mundo e a educação. É com base em todas as reflexões que faz, sobre os mais diversos aspectos do tema educação, que ele estruturou seu conjunto de opiniões sobre, inclusive, o uso do jornal em sala de aula. Por este motivo podemos afirmar que a Folha de S.Paulo empresta de Nilson José Machado uma reflexão que acaba por significar a estrutura pedagógica daquilo que propõe com o uso do jornal para as escolas. Com Machado, pudemos conhecer uma crítica da escola brasileira que incide mais profundamente sobre a questão dos conteúdos curriculares utilizados nos processos educativos que desenvolve. Mesmo considerando que a escola tem sua dimensão conservação e que deve ser um espaço preocupado com a formação de valores, Machado nos mostra que a dimensão preparação para o trabalho não pode ser desconsiderada por ela. Não se tratando de uma preparação para uma determinada função, a preparação para o trabalho deve ocorrer em simbiose à uma formação para a vida. 73
Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98.
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
A questão dos conteúdos curriculares assume, para Machado, lugar crucial na escola para o adequado desenvolvimento das ações educativas neste mundo marcado pela avalanche de dados e informações fragmentadas. A escola tem que favorecer a que os projetos individuais sejam entendidos por cada educando em sua dimensão coletiva de tal forma que os indivíduos possam ser sujeitos de construção de uma sociedade ao mesmo tempo produtiva, no sentido econômico, e humana. A realidade da existência de tanta informação disponível junto à do grau de profundidade que a humanidade já atingiu nos mais diversos campos do conhecimento, faz com que Machado proponha mudanças no que se refere à escolha e à forma de abordar conteúdos na escola. Os conteúdos devem servir tanto para a formação dos valores como para a formação de pessoas contemporâneas com as necessidades e possibilidades - em sentido amplo de seu tempo. A abordagem dos conteúdos deve ser interdisciplinar para que a escola possa ultrapassar a estrutura de organização característica do modelo taylorista e, neste mesmo sentido, a questão da utilização de novos materiais pedagógicos pela escola ganha importância. O jornal é visto por Machado como um material importante, necessário e adequado para o trabalho educativo na escola. Mais que o produto jornal, Machado vê, em sua forma transdisciplinar, um pouco daquilo que a escola necessita para que possa desenvolver um trabalho educativo que leve em conta
a realidade extra-escolar; afastando-se das idéias de pré-requisitos,
seriações etc. acredita que a escola pode, com o uso do jornal, desenvolver um trabalho calcado na construção de significados a partir de uma abordagem de conteúdos mais ampla e mais aberta que a atualmente predominante. As idéias de Machado expressas neste capítulo são de grande importância para a elucidação dos diversos aspectos da realidade escolar e extra-escolar presentes nesta questão do uso do jornal na educação. Suas reflexões e opiniões nos permitirão a todos analisar com olhos mais críticos as propostas de atividades que desenvolveu para o Folha Educação74. 74
No Programa Folha Educação, as sugestões de atividades foram desenvolvidas pelos seguintes colaboradores: Marice Ribenboim, Monique Deheinzelin e Regina Scarpa ( para 1ª a 4ª série ) e Nilson José Machado, Maria José Godoy Pereira e Márcia Vescovi Fortunato ( para 5ª a 8ª série ). Nilson José Machado nos informou que ele elaborou todas as atividades da disciplina Língua Portuguesa para 5ª a 8ª série, além das atividades de Matemática. Entrevista realizada na USP em 15/12/98.
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
CAPÍTULO 3 OS CADERNOS DE SUGESTÕES DE ATIVIDADES
Neste capítulo, iremos analisar o Caderno de Sugestões de Atividades elaborado para servir de apoio para o trabalho com 5ª e 6ª e 7ª e 8ª séries. É um material que traz quarenta75 sugestões de atividades direcionadas às disciplinas português, matemática, história/geografia e ciências. Escolhemos analisar este caderno pelo fato de o mesmo nos fornecer melhores possibilidades - em comparação ao outro, destinado ao trabalho com alunos da 1ª a 4ª série - de avaliar tanto aspectos pedagógicos e metodológicos como culturais e políticos das sugestões, dada a profundidade da elaboração das mesmas. Neste caderno, as atividades são destinadas a alunos com um grau de maturidade tal que já torna possível também considerar a possibilidade de os mesmos passarem a fazer uso do jornal de maneira mais profunda, atendendo aos objetivos amplos do programa. A opção pela análise do caderno de atividades parte da nossa suposição que, para buscar atingir seus objetivos, o Folha Educação propôs caminhos que, mesmo não significando “fórmulas” ou “modelos” a serem seguidos76, trazem uma indicação de como desenvolver um trabalho significativo nos termos da proposta. Pretendemos verificar como as sugestões de atividades contribuem para o uso educativo de conteúdos dos jornais, e como as atividades sugeridas contribuem para que se possa buscar os objetivos desejados
pelo programa.
Em outras palavras, procuraremos
entender como o caderno de sugestões contribui para a realização do trabalho e dos objetivos propostos pelo Folha Educação. Para tanto, definimos alguns pontos à luz dos quais analisaremos as sugestões do Caderno. São estes:
75
No caderno de Sugestões de Atividades há pouco mais de 40 sugestões de atividades, mas algumas delas se repetem. Assim sendo, as 40 atividades que analisamos representam 100 % das propostas. 76 Segundo Nilson José Machado, "os Cadernos [ de sugestões de atividades ] são simples exemplos de formas de utilização; exemplos de modos de exploração da matéria jornalística na sala de aula. Entrevista realizada no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade de São Paulo em 15/12/98.
51
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
1 - Tipo de Material Utilizado ( textos, imagens, gráficos, figuras ) Nosso objetivo aqui é o de verificar se os materiais propostos são materiais específicos dos jornais ( ou mais facilmente encontrados em jornais ) ou se podem ser encontrados em outras publicações. Nos textos introdutórios do Folha Educação não encontramos nenhuma referência a esta questão, mas consideramos importante obter essa informação. O fato de os jornais serem veiculadores de informação cotidiana os coloca, antes de qualquer análise, como portadores de conteúdos específicos - em relação aos livros didáticos - que podemos considerar como valiosos para o desenvolvimento de trabalho educativo. Pensar em tais conteúdos como parte daquilo que tradicionalmente é trabalhado em sala de aula pode ser considerado como algo positivo se puder ampliar, por exemplo, a possibilidade do professor de relacionar os fatos do presente com os fatos e processos históricos tratados a partir dos livros. Para tanto, contudo, concorrem outros fatores, dentre os quais assume grande importância a metodologia utilizada para o desenvolvimento da atividade proposta com o uso do jornal, que deverá prever, a nosso ver, um tratamento adequado do conteúdo curricular a que se refere. No caso de a atividade estar calcada nos propósitos de sensibilizar o estudante para a importância do jornal e de sua utilização - em sentido amplo -, deverá prever uma forma de utilização que favoreça ao desenvolvimento do aluno/leitor. Isso, para ocorrer, implica em que as atividades explorem profundamente os conteúdos do jornal enquanto informação e que ofereçam ao professor instrumentos para desenvolver trabalho significativo. 2- Vínculos da Atividade Proposta com Conteúdos Curriculares e ( ou ) do Jornal. Aqui buscaremos analisar se a atividade, quando desenvolvida, remete o aluno,
num
momento
seguinte,
à
continuidade
da
apreciação
e
aprofundamento do conteúdo curricular a que ela se refere, à alguma nova utilização do jornal ou à ambas as coisas.
52
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Se há nos programas de leitura de jornal a intenção de oferecer ao aluno um material novo considerado por seus propositores como rico em conteúdo e como necessário à formação destes, é natural que as atividades propostas apontem caminhos para o constante aprofundamento do uso do jornal. Por outro lado, é também natural que as atividades valorizem os conteúdos curriculares já que, como entendemos na proposta do Folha Educação, o jornal deve auxiliar no tratamento destes.
3- Importância do conteúdo das matérias sugeridas para as atividades Nesta parte, buscaremos analisar fundamentalmente se a atividade propõe, como núcleo fundamental para seu desenvolvimento, o conteúdo da matéria
jornalística
enquanto
informação,
se
utiliza
tal
conteúdo
desconsiderando a importância da informação que ele traz ou se a mesma desconsidera o conteúdo, nos sentidos aqui expostos, fazendo uso apenas da forma ou estrutura da matéria. Uma atividade pode ser proposta de tal forma que a apreensão da informação pelo aluno seja o mais importante. Se assim for, a atividade estará buscando levar ao conhecimento e para a análise do aluno/leitor o fato da realidade, o que corresponde diretamente ao objetivo de torná-lo melhor informado. Por outro lado, a atividade pode exigir do aluno, para ser realizada, que o mesmo leia o texto com atenção para poder compreendê-lo, mesmo que não se tenha objetivos calcados na importância da informação que ele traz. Neste caso, a atividade para ser desenvolvida, exige do aluno que ele trabalhe com os elementos da matéria jornalística não importando o significado da informação para sua vida. Mesmo assim, pode-se dizer que o exercício de ter que compreender o conteúdo do texto para desenvolver a atividade "obriga" o aluno a se inteirar minimamente do fato tratado e, mesmo que tal fato não seja explorado posteriormente, o aluno absorverá minimamente a informação que ele traz. Dessa forma, em alguma medida, o aluno poderá estar se beneficiando da informação, mesmo que não domine o assunto e que este não lhe interesse diretamente. Numa terceira situação, pode ocorrer que o aluno seja convidado a desenvolver atividade que tenha como centro a forma ou a 53
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
estrutura do material proposto. Neste caso, não importará nem o conteúdo da informação, nem a compreensão do conteúdo que a matéria traz; o aluno terá que se ater apenas aos dados de que necessitará para realizar o que a ele for pedido. As intenções educativas são muito diferentes em cada um dos casos.
4- Importância da atualidade das matérias sugeridas para as atividades Nesta parte buscaremos analisar se a atualidade da matéria jornalística utilizada é um requisito para a realização da mesma. A defesa do uso do jornal calcada na atualidade da matéria jornalística tem sua justificativa na suposta necessidade de os alunos estarem por dentro da realidade extra-escolar que os cerca; por outro lado, a característica do jornal de trabalhar com fatos cotidianos é um dos elementos que sustentam os argumentos a favor de sua necessidade e viabilidade para a escola - por ser material portador de determinados conteúdos que não podem ser encontrados em livros. Ao fazermos esta análise, então, queremos conhecer como as atividades se estruturam com o objetivo de explicitar e aproveitar esta característica do jornal, vinculada à questão do tempo da notícia e de sua divulgação,
e com o objetivo de sensibilizar o aluno para que o mesmo
entenda a importância deste atributo do material e o utilize.
5- Favorecimento da interação do aluno com a realidade social cotidiana Na proposta do Folha Educação há referências sobre a necessidade da informação para que o aluno/leitor se instrumentalize, não só para entender a realidade, mas para tomar atitudes que podem ser potencializadas se apoiadas no
domínio das informações. Este, pode ser obtido, dentre outras formas,
através da utilização do jornal e do trabalho que o aluno desenvolve na escola, a partir dos conteúdos curriculares. Nas fundamentações da importância do uso do jornal,
no Folha Educação, isso aparece mais declaradamente nas
palavras de Gilberto Dimenstein, que relacionam
informação e cidadania.
Segundo Dimenstein 1- O ensino na escola [ com o uso do jornal ] deixa de ser 54
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
algo abstrato, apenas trampolim para passar o vestibular ou estar habilitado a cursar a faculdade (...) 2- O estudante, enfim, está aprendendo na prática a cidadania. Está conhecendo o mundo que o rodeia e está sendo estimulado a opinar, optar, agir (...) 3- Educar é preparar para a liberdade. As pessoas são livres porque podem escolher. E só podem escolher quando conhecem alternativas. Sem informação não há alternativa - e, portanto, sem alternativa não há liberdade77. Para opinar, optar e agir em relação às questões da sociedade e da própria vida, o aluno deve estar constantemente se informando e refletindo sobre tais questões. Neste sentido, tratar
- nas atividades -
de questões
relacionadas à realidade social, econômica, cultural, política, filosófica, torna-se algo fundamental. Queremos então entender como isso se dá nas atividades propostas pelo Folha Educação.
6- Exigência de acompanhamento dos desdobramentos do assunto tratado na matéria jornalística. Neste ponto queremos identificar se a atividade sugerida visa garantir, de alguma forma, que o aluno proceda ao acompanhamento das questões tratadas nas matérias jornalísticas utilizadas como material. Se o programa entende que a leitura do jornal deve favorecer a que o aluno compreenda e acompanhe melhor os fatos do cotidiano, as atividades que
propõe
devem
proporcionar
esse
exercício
de
acompanhar
os
desdobramentos das notícias. Não há, a nosso ver, melhor maneira de demonstrar a importância da notícia atual e o benefício de obtê-la. Sensível a isso, o aluno tem maiores possibilidades de entender o valor do jornal para sua
77
Quanto à primeira frase de Dimenstein, vale dizer que o uso do jornal não impede que o ensino seja abstrato; assim como a ausência do jornal não implica, necessariamente, em ensino abstrato. Há certamente outros fatores que interferem nesta questão como, por exemplo, a formação do professor e sua consciência e habilidade ao tratar com os conteúdos curriculares. Na segunda frase devemos observar que para a prática da cidadania, além da posse da informação é preciso que a pessoa tenha consciência do que fazer com ela, algo que coloca a questão num plano mais profundo. Na terceira frase, vale observar que, a informação não garante a liberdade, mesmo que seja um elemento fundamental para a conquista desta. Caderno de Sugestões de Atividades, pp. 6,7,8.
55
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
vida, como instrumento que o possibilita saber o que está acontecendo e a agir com base nas informações que obtém.
7- Liberdade de escolha dos alunos quanto às matérias a serem utilizadas nas atividades e quanto à forma de utilização do jornal. Se pensarmos no objetivo de o aluno se tornar um leitor de jornal e se pensarmos que, para que isso ocorra, o mesmo terá que desenvolver uma "relação" autônoma com esse material, podemos esperar que as atividades favoreçam a isso. Entendemos que a possibilidade de utilizar o jornal com base nos próprios interesses e nas próprias vontades, favorece a que o aluno descubra o jornal e aprenda a buscar nele o que quer ou necessita. Para que o uso do jornal se torne um hábito, o leitor deve perceber a importância, prazer e vantagens que o material jornal pode trazer. Se pensarmos que cada leitor é um leitor e que cada leitor de jornal tem uma relação bastante particular com esse veículo de informação, podemos entender como desejável que, no conjunto das atividades desenvolvidas com o objetivo de incentivar o uso deste material, seja levado em consideração a necessidade de o leitor "descobrir" o jornal. Dito de outra forma, não seria positivo, a nosso ver - para se atingir o objetivo acima exposto -
que o leitor fosse submetido o tempo todo a
atividades que indiquem o "local" da notícia, a matéria a ser utilizada e a forma de utilização. Da mesma forma, não seria positivo que os objetivos fossem sempre dados. Queremos, então, perceber como esta questão é tratada nas atividades propostas.
8- Objetivo central da atividade desenvolvida Entendemos que os objetivos do programa situam-se tanto no campo pedagógico e metodológico, quanto no campo político e cultural; queremos identificar se nas sugestões de atividades há preocupações com os dois campos.
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
9- Contribuição da atividade para a apreensão estruturada dos conteúdos dos currículos escolares a que se referem. Aqui analisaremos a qualidade do material utilizado na atividade e a metodologia utilizada para o desenvolvimento desta; queremos refletir sobre se determinado material e metodologia contribuem para uma apreensão estruturada dos conteúdos dos currículos a que se referem. Nossa atenção estará voltada para o nível de elaboração e de profundidade da atividade em sua relação com o objetivo que se deseja atingir.
57
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Para o registro dos dados utilizaremos a seguinte tabela: Tabela para Coleta das Informações e Análise 1
2
Espec.
Não Espec.
Informação
C. Curricul.
3- Importância do Conteúdo da Matéria para a Atividade
Import.
Não import.
4- Importância da Atualidade da Matéria Utilizada
Import.
Indiferente
Favorece
Pode Favorecer
6- Exigência de Acompanhamento dos Desdobramentos do Assunto
Exige
Não Exige
7- Lib. de Escolha da Matéria Utilizada na Atividade
Existe
Não Existe
Pedagógico
Cultural
Contribui
Não Contribui
1- Tipo de Material Utilizado na Atividade 2- Vínculos com Conteúdos Curriculares ou do Jornal
5- Interação do Aluno com a Realidade Social Cotidiana
8- Objetivos da Atividade Desenvolvida 9- Contrib. Da Ativ. P/ Apreensão Estrut. dos Conteúdos dos Currículos
Em anexo -
exemplos de atividades do Caderno de Sugestões do Folha
Educação. Obs: Nas sínteses, procuramos destacar o que entendemos como núcleo fundamental das atividades propostas; no anexo, será possível ao leitor conhecer o conjunto de orientações que acompanha algumas destas atividades.
58
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Síntese das Atividades e Resultado das Análises Atividade 1: "Números Grandes x Números Pequenos" 78 Identificar nas páginas do jornal expressões numéricas que recorram a palavras para facilitar a comunicação. Ex: 3 mil, 7,5 milhões, 13 bi. Fazer também exercício oposto encontrando formas "mais comunicativas" de expressá-las. Ex: 13.494,40 ( cerca de 13,5 mil, ou pouco menos de 13,5 mil ). Objetivo: Facilitar a apreensão do significado de números muito grandes ou muito pequenos para possibilitar uma comunicação mais direta. Sugere-se o "recurso às palavras" como fundamental. Material proposto: Jornal completo de qualquer dia. Resultados da análise: 1 1
2 1
3 2
4 2
5 2
6 2
7 2
8 2
1
9 2
2
Atividade 2: "A Integração Matemática/Língua" 79 A) Ler cada uma das manchetes, das referências às páginas internas, observando as fotos, os gráficos, relacionando-os com as legendas correspondentes. Objetivo: Procurar apreender o significado da mensagem que procuram comunicar. B) Com um vidro de líquido corretor, recobrir cada um dos símbolos numéricos ou expressões matemáticas que comparecem na primeira página do jornal. Em 78 79
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.22 op. cit. p.23
59
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
seguida, tentar reler a primeira página sem os elementos matemáticos que foram eliminados. Objetivo: Fazer perceber que a separação dificulta ou inviabiliza a comunicação, ainda que se tente substituir tais elementos por expressões verbais. Material proposto: Primeira página do jornal ( de qualquer dia ) Resultados da análise: 1 1
2 1
3 1
4
5 2
6 2
7 2
8 2
1
9 2
2
Atividade 3: "Temperaturas e Operações com Números Relativos" 80 A) Observar coluna "Horário e Tempo no Mundo"
na seção Atmosfera do
Jornal Folha de S.Paulo e calcular, por exemplo, a diferença entre temperaturas máximas, em graus Celsius, entre diversos pares de cidades, escolhidas de tal forma que possibilitem diferenças entre números positivos e negativos ou entre um positivo e um negativo. Analogamente, calcular as diferenças entre as temperaturas em graus Fahrenheit, comparando as respostas entre as duas escalas termométricas. Explicar o modo como as duas escalas foram construídas, obtendo-se a "fórmula" para converter graus Celsius ( C ) em Fahrenheit ( F ). Objetivo: Introduzir o significado dos números negativos e das operações com eles. Material Proposto: Coluna Horário e Tempo no Mundo ( na seção Atmosfera do jornal Folha de S.Paulo ).
80
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.24
60
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Resultados da análise: 1
2
1
1
3 2
4 2
5 2
6 2
7 2
8 2
9
1
1
Atividade 4: "A Importância das Porcentagens" 81 Ler com atenção matéria jornalística sublinhando todas as "porcentagens" envolvidas. Imaginar formas alternativas para comunicar a mesma informação, em cada caso, sem recorrer a porcentagens. Objetivo: Sublinhar o significado das porcentagens como recurso para representar comparações, razões ou relações entre grandezas. Material Proposto: Texto "92% de esgoto brasileiro é jogado nos rios" ( Folha de S.Paulo, 3/2/93 )82. Resultados da análise: 1
2 2
3 2
4 2
5 2
6 2
7 2
8 2
1
9 2
1
Atividade 5: "O Esquema Dados / Pedidos" 83 Propõe-se leitura de texto jornalístico a partir do qual será feita a formulação de problemas matemáticos. Tais problemas deverão ser formulados previamente pelo professor e não exigirão, para serem solucionados, de todas as informações disponíveis no texto proposto.
81
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.26 Na atividade foi proposto este texto específico, mas pelas suas características, julgamos que poderia ser utilizado qualquer texto que envolva a representação com porcentagens. 83 op. cit. p.27 82
61
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Objetivo: Desenvolver a habilidade de discernir dados relevantes de outros que não o são, para responder à questões e vivenciar situações onde as informações disponíveis não são suficientes para a solução. Material Proposto: Texto "Miniprensa faz óleo vegetal na fazenda" ( Folha de S.Paulo, 16/2/93)84. Resultados da análise: 1
2 2
3 2
4
1
5 2
6 2
7 2
8 2
1
9 2
1
Atividade 6: "Áreas e Escalas" 85 Observar plantas de apartamentos ou casas, com ou sem especificação de medidas dos cômodos, mas com a área total representada. Tentar calcular a área a as dimensões de cada um dos cômodos podendo realizar o cálculo da área da planta em centímetros quadrados, medindo as dimensões diretamente no jornal ( auxiliado pelo professor ). Objetivo: Praticar cálculo de áreas de figuras planas e a utilização de escalas. Material Proposto: Plantas de apartamentos ou casas, com ou sem especificação de medidas dos cômodos, mas com a área total representada. Resultados da análise: 1
2 2
3 2
4 2
5 2
6 2
7 2
8 2
1
9 1
84
Na atividade foi proposto este texto específico, mas pelas suas características, julgamos que poderia ser utilizado qualquer texto com informações que possibilitem a formulação de problemas. 85 Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.28
62
O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Atividade 7: "Proporcionalidade e Representação Parlamentar" 86 A partir de matérias que tratam de representação parlamentar por Regiões e por Estados elaborar cálculos matemáticos com o objetivo de obter informações numéricas diversas sobre o tema. Objetivo: Estudar a noção de proporcionalidade. Material Proposto: Matérias publicadas no caderno Brasil ( Folha de S.Paulo ). Resultados da análise: 1 1
2 1
3 2
4
1
5 2
6 2
7 2
8 2
1
9 2
1
Atividade 8: "Compreendendo o Cálculo do Imposto de Renda" 87 Calcular o valor do imposto a pagar para os rendimentos ( a partir de tabela ) e construir gráfico ( com I no eixo vertical e R no eixo horizontal ). Objetivo: Refletir sobre a progressividade do Imposto de Renda à partir da interpretação de tabelas encontradas rotineiramente nos jornais, com as diferentes alíquotas ( porcentagens ) do valor das deduções em cada faixa de renda e exercitar a construção de gráficos para visualização que pode ser bastante esclarecedora. Material Proposto: Tabela "Confira seu Imposto de Renda" , do caderno Finanças ( Folha de S.Paulo ). Resultados da análise: 1 1
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Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.29 op. cit. p.31
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Atividade 9: "Gráficos não Mentem ?" 88 Observar gráficos contidos no jornal ( com informações diversas ) e tentar construí-los novamente invertendo as representações feitas em linhas verticais para representações feitas em linhas horizontais e vice-versa, comparando as representações. Objetivo: Desenvolver a capacidade de fazer leitura crítica de gráficos representados de formas diferentes ( que por vezes - não por ingenuidade sugerem estabilidade, tendência de alta etc. graças à escolha da escala em cada um dos eixos escolhida por quem o apresenta ) . Material Proposto: Recortes de gráficos representados no jornal sugerindo tendências de alta, de baixa ou de estabilidade. Resultados da análise: 1 1
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Atividade 10: "O Jornal como Ponte para o Livro" 89 Ler resenhas ou comentários sobre livros de interesse didático buscando compreender que tais textos não substituem a obra original pois podem omitir informações relevantes desta. Refletir sobre questões possíveis de serem elaboradas a partir do conteúdo do texto lido. Objetivo: Ampliar o conhecimento sobre autores e obras e incentivar a leitura. Material Proposto: textos do caderno Mais da Folha de S.Paulo.
88 89
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.32 op. cit. p.33
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Atividade 11: "Tabelas e Gráficos" 90 Representar dados numéricos expressos em tabela sob a forma de gráfico. Objetivo: Verificar as diferenças no que tange à visibilidade das informações proporcionada pelas duas formas de representação. Material Proposto: Matéria composta de texto e tabela. Resultados da análise: 1
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Atividade 12: "Contando Palavras" 91 Ler matéria jornalística, calcular seu custo com base nos valores praticados pelo jornal Folha de S.Paulo para anúncios classificados e reescrevê-la com menor número de palavras. Objetivo: Exercitar a criatividade e a imaginação na redação de textos com limitação de espaço. Material Proposto: Anúncio dos classificados por palavra do jornal Folha de S.Paulo e outro texto do jornal adequado para a execução do atividade proposta.
90 91
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.34 op. cit. p.41
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Atividade 13: "Descrição - O que é que Macau tem ?" 92 A partir de matéria do caderno Turismo relacionar o maior número de informações possíveis para exercitar a redação de textos descritivos. Objetivo: Exercitar a redação de textos descritivos. Material Proposto: Caderno Turismo do jornal Folha de S.Paulo. Resultados da análise: 1 1
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Atividade 14: "O Fato e a Interpretação" 93 Ler matéria jornalística buscando identificar se há ou não intenção do autor de dar conotação positiva ou negativa a aspectos tratados no texto. Objetivo: Exercitar a utilização da matéria jornalística ( interpretação ) levandose em conta que, mesmo nesta, não há neutralidade. Material Proposto: Texto do jornal.
92
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.42. Na proposta faz-se referência à característica deste tipo de matéria jornalística que, obrigada pelo leitor, é redigida com maior isenção do que a de uma agência de viagens. 93 op. cit. p.43. O Caderno observa que a não pretensão da neutralidade do texto jornalístico não significa falha técnica ou de caráter; observa que a intenção do autor por mais dissimulada que seja, sempre está presente no produto final.
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Atividade 15: "Debate - Vale a Pena Criar Cisnes ?" 94 Ler texto do jornal que argumente positiva ou negativamente sobre algo, relacionar os argumentos e redigir um novo texto explicitando com argumentos a conclusão a que chegou. Objetivo: Exercitar a articulação de idéias, informações e capacidade de convencimento num texto ( competência na argumentação ). Material Proposto: Texto jornalístico apropriado para a atividade. Resultados da análise: 1 1
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Atividade 16: "Análise de um Artigo" 95 Ler artigo do jornal e analisá-lo. Objetivo: Identificar o editorial como a seção do jornal onde se expressam opiniões e que está especialmente voltada para a formação de opinião; observar a forma como o jornal trata de temas sérios utilizando-se de uma linguagem o mais simples e direta possível. Material Proposto: Artigo de jornal ( assinado ou editorial )
94 95
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.44 op. cit. p.45
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Atividade 17: "Leitura Crítica" 96 Fazer leitura crítica de texto jornalístico buscando a significação profunda dos termos utilizados. Objetivo: Fazer análise atenta de termos que têm significados mais amplos que os que conhecemos com a aprendizagem da língua escrita97. Material Proposto: Matéria jornalística apropriada para a atividade. Resultados da análise: 1 1
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Atividade 18: "Redação - A Culpa do Boi" 98 Leitura de texto cujo conteúdo permite que se faça diferentes argumentações ( de acusação e defesa, a favor ou contra ) sobre o tema em questão. Objetivo: Colaborar para uma oxigenação nos esquemas argumentativos ( sobretudo escolares ) cuja aparência de consolidação confere-lhes ares de indiscutível. Material Proposto: Texto apropriado para a atividade.
96
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.46 O Caderno trabalha com texto que trata do termo "analfabeto" que, "tem sido transferido analogicamente, em tempos recentes, para áreas que não têm a ver de modo direto com o alfabeto ou com a aprendizagem da língua escrita ( fala-se de analfabetismo matemático )". 98 op. cit. p.47 97
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Atividade 19: "Dizer Não Dizendo ou Não Dizer Dizendo" 99 Escolher matéria de grande destaque na primeira página do jornal, reescrevê-la atenuando seu impacto e mudá-la de espaço mantendo na primeira pagina apenas uma chamada pouco expressiva. Comparar e avaliar os efeitos produzidos nos dois casos. Procurar e analisar no jornal títulos provocativos ou de impacto avaliando se são adequados para a informação à qual se referem. Objetivo: Desenvolver a capacidade de avaliar criticamente o que se lê num jornal. Material Proposto: Jornal completo de qualquer dia. Resultados da análise: 1 1
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Atividade 20: "Escrever Bonito pode Enfeiar o Texto" 100 Leitura e reflexão sobre textos do jornal escritos com linguagem rebuscada. Produção de texto com situação cotidiana substituindo palavras simples por sinônimos. Objetivo: Identificar como a linguagem rebuscada pode estar sobrecarregando um texto de ornamentos sem qualquer significado. Observar a característica do
99
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.48 op. cit. p.49
100
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
texto jornalístico que, segundo o Caderno "costuma funcionar como um verdadeiro antídoto para desvios desse tipo". Material Proposto: Texto jornalístico apropriado para a atividade. Resultados da análise: 1
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Atividade 21: "O Significado e as Relações Analógicas" 101 Selecionar em jornais completos ( de três ou quatro dias consecutivos ) entre os títulos das matérias, do primeiro ao ultimo caderno, alguns que estabeleçam relações analógicas para facilitar a comunicação. Objetivo: Observar como as relações analógicas ( algo bastante presente no texto jornalístico ) podem favorecer a comunicação através da transferência de significados de algo conhecido para algo novo. Material Proposto: Jornais completos ( Folha de S.Paulo ) de 3 ou 4 dias consecutivos. Resultados da análise: 1 1
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101
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.50- O Caderno traz como exemplo alguns títulos: " Cofap corta caciques e acaba com os prejuízos; Haddad quer 'âncora' na economia; Fifa autoriza no Japão teste da 'morte súbita'."
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Atividade 22: "Sobre a Ética" 102 Ler texto jornalístico que trate de temas complexos que sempre vêm a baila e travar discussões em grupo a partir de fragmentos significativos do mesmo visando a explorar o tema. Objetivo:
Servir-se
de
textos
jornalísticos
para
explorar
temas
reconhecidamente complexos ( ética, por exemplo ) já que este - pela sua forma - pode iluminar o tema proporcionando uma leitura diferente daquela contida em, por exemplo, tratados filosóficos. Material Proposto: Matéria jornalística apropriada para a atividade. Resultados da análise: 1 1
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2
Atividade 23: "Redação - A Privacidade" 103 Redigir texto a partir de observação de foto muito expressiva aproveitando o exercício para explorar o tema ao qual a foto se refere. Objetivo: Perceber que uma foto ( recurso de comunicação muito importante nos jornais ) "pode valer mais do que mil palavras, ainda que freqüentemente, imagens sejam utilizadas para amplificar o significado de uma só palavra" Material Proposto: Foto apropriada para a atividade. Resultados da análise: 1 1
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102
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.52 op. cit. p.53 . A foto utilizada como exemplo mostra uma mulher fotografada de biquíni tomando sol na sacada de seu apartamento; a partir desta, faz-se a reflexão sobre privacidade. 103
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Atividade 24: "Representação - Leitura e Interpretação de Mapas" 104 Introduzir o exercício de leitura de dados e representação de espaços geográficos ( sob a forma de desenho ) através da leitura e interpretação de mapas contidos no jornal. Objetivo: Exercitar a leitura e representação de mapas. Material Proposto: Mapas contidos na seção Atmosfera ( Folha de S.Paulo ). Resultados da análise: 1 1
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Atividade 25: "Medindo o Tempo - Fuso Horário" 105 Explorar conceitos ( no exemplo, hemisfério, latitude, longitude, continentes, oceanos, movimentos da Terra ) a partir de "material indireto".106 ( No caso, tabela Horário e Tempo no Mundo - Folha de S.Paulo, que possa remeter aos temas que se deseja explorar ). Objetivo: Utilizar a criatividade buscando fazer relações entre temas que aparentemente não estão relacionados entre si, mas que representam apenas diferentes aspectos de alguma questão mais ampla. Material Proposto: No exemplo, Tabelas Horário e Tempo e O Tempo no País ( Folha de S.Paulo ).
104
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.58 op. cit. p.59 106 Estamos chamando de material indireto aquele que pode servir como ilustração para introduzir ou aprofundar estudos e reflexões sobre um outro tema qualquer. 105
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
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Atividade 26: "Preservando a Memória - Revisando o Passado" 107 Montar murais referentes a "datas comemorativas" utilizando matérias que tratam dos temas para compor material que deverá servir para leitura e debate. Objetivo: Desenvolver atividade destinada a discutir sobre momentos históricos importantes para o país. Material Proposto: Matérias que tratam do assunto de cada uma das datas comemoradas. Resultados da análise: 1
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Atividade 27: "Organização do Homem no Espaço" 108 Selecionar reportagens sobre cidades bem diferentes quanto ao seu tamanho, localização, aspectos físicos e atividades culturais e econômicas. A partir dos dados obtidos com as pesquisas, exercitar a imaginação pensando nas possíveis características da vida na localidade com a qual se estiver trabalhando ( profissões, atividades de lazer, tipos de moradia, meios de transporte, vestuário, alimentos etc. ) para posterior exposição oral e análise dos colegas.
107 108
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.60 op. cit. p.61
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Objetivo: Identificar os diferentes modos de vida das diferentes regiões do país ou do planeta entendendo que, compreender as diferenças culturais significa compreender a relação que o homem estabelece com o espaço em que habita. Material Proposto: Caderno Turismo ( Folha de S.Paulo ). Resultados da análise: 1 1
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Atividade 28: "Vida Urbana - Relação de trabalho" 109 Como tarefa de casa, selecionar no jornal matérias que tratem de profissões novas e criativas, os chamados "bicos", como as que aparecem no Caderno Empregos. Organizar questionários e realizar entrevistas com a comunidade local colhendo informações sobre as profissões e sobre aqueles que eventualmente as exerçam. Criar e expor painéis sobre o perfil das pessoas que exercem as profissões explorando aspectos considerados interessantes e importantes para aprofundamento do tema. Objetivo: Observar como os homens se adaptam constantemente às adversidades do meio em que vivem, buscando soluções criativas e saídas alternativas para problemas sociais. Material Proposto: Caderno Empregos ( Folha de S.Paulo ). Resultados da análise: 1 1
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Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.62
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Atividade 29: "Análise e Interpretação de Dados" 110 Analisar indicadores econômicos utilizados internacionalmente buscando estabelecer relações comparativas entre países e a partir dos dados buscar interpretações para os fatos que se analisam através de questões extraídas da tabela dos Indicadores Econômicos Internacionais do caderno Mundo ( Folha de S.Paulo ). Objetivo: Exercitar o levantamento de hipóteses a partir da comparação de dados. Material Proposto: tabela dos Indicadores Econômicos Internacionais
do
caderno Mundo ( Folha de S.Paulo ). Resultados da análise: 1 1
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Atividade 30: "Síntese de Representação e Localização" 111 Selecionar matérias e anúncios publicitários sobre cidades turísticas e criar um roteiro para uma viagem turística internacional incluindo desenho de um mapa com o trajeto, cálculo da distância a ser percorrida, meios de transporte a ser utilizado, características físicas de cada cidade visitada etc. Compor com as informações obtidas
folhetos turísticos que deverão ser trocados entre os
grupos. Objetivo: Explorar informações contidas nos vários cadernos e seções do jornal a fim de compor conjunto de dados que ofereçam informações profundas sobre as cidades escolhidas. Fazer exercício de localização espacial.
110
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.63- O Caderno propõe que se explore, por exemplo, questões referentes à Renda per capita, PIB/PNB, Reservas internacionais etc. 111 op. cit. p.64
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Material Proposto: Anúncios publicitários sobre cidades turísticas - caderno Turismo - Folha de S.Paulo - e tabela de Horário e Tempo no Mundo da seção Atmosfera - Folha de S.Paulo. Resultados da análise: 1
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Atividade 31: "Uso da Terra - Agricultura" 112 Selecionar no jornal, em casa, matérias sobre agricultura, e estudá-las para desenvolvimento de atividades em sala de aula ( questões propostas pelo professor que deverá complementar a atividade com informações necessárias e aprofundar aspectos que desejar ). Produzir um painel a partir de recortes de jornal sobre fatos que façam referência aos aspectos estudados. Objetivo: Sensibilizar para a importância e conhecer a dinâmica do setor agrícola da economia. Criar esquema que ilustre a dinâmica da relação entre a agricultura e as outras atividades econômicas. Material Proposto: Caderno Agrofolha - Folha de S.Paulo Resultados da análise: 1 1
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Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.65
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Atividade 32: "Interpretação de Fatos da Atualidade" 113 Leitura de textos que documentem a realidade para comentário livre pela classe e reflexão dirigida a partir de questões propostas pelo professor. Apresentação de relatório final. Objetivo: Construir interpretação dos fatos historicamente construídos, dentro de um contexto mais amplo. Material Proposto: Matéria jornalística apropriada para a atividade e livros. Resultados da análise: 1 1
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Atividade 33: "Análise e Interpretação de Documentos" 114 Imaginando-se historiadores vivendo no futuro, os grupos de alunos devem utilizar uma página qualquer do jornal considerando-a como um documento de uma época passada. Devem posteriormente fazer considerações acerca da cultura da época baseando-se apenas nas informações contidas na pagina analisada. Objetivo: Sensibilizar para a possibilidade de utilização de jornais como documento histórico servindo-se de informações que possibilitem reconstituir fatos ou uma época. Material Proposto: Página qualquer do jornal. Resultados da análise: 1 1 113 114
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Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.66 op. cit. p.67
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Atividade 34: "Conservação de Ecossistemas" 115 Coletar matérias no jornal sobre poluição para montagem de mural na classe e posterior discussão. Objetivos: Chegar a uma classificação dos tipos de poluição existentes, identificar os agentes poluidores existentes e as medidas conhecidas para acabar com a poluição. Entender a dinâmica das relações que os seres vivos mantêm entre si e o meio ambiente. Material Proposto: Matérias do jornal adequadas para a realização da atividade. Resultados da análise: 1
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Atividade 35: "Busca de Informação e Registro" 116 Selecionar matérias que tratem da vida animal e vegetal em ambientes preservados
e matérias sobre expedições realizadas por pesquisadores
relatando seu contato com a natureza. Organizar as informações através de roteiro determinado segundo o conteúdo da matéria construído por professores e alunos. Objetivo: Exercitar a coleta, registro e classificação de informações visando a sistematização do conhecimento. Material Proposto: Matérias adequadas à realização das atividades, livros e revistas.
115 116
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.72 op. cit. p.73
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
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2
Atividade 36: "Analisando e Levantando Hipóteses" 117 Selecionar matéria sobre incêndio e estimular o levantamento de hipóteses problematizando a questão, evitando tirar conclusões que não respeitem as etapas do processo de raciocínio dos alunos ( como o fogo começou e quais as possibilidades que os alunos conhecem para se iniciar um incêndio ? Como se acaba
um
incêndio ?
Que
materiais
foram
queimados neste evento
noticiado ? ). Finalizar trabalhando o conceito de combustão. Objetivo: Analisar fenômenos com o objetivo de levantar hipóteses e construir conceitos. Material Proposto: Matéria jornalística apropriada para a atividade. Resultados da análise: 1 1
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Atividade 37: "Atualização Científica" 118 Criar página semanal de jornal, noticiando as últimas descobertas científicas a partir do recorte de matérias publicadas nos jornais da semana redigindo comentários sobre as mesmas. Objetivo: Ler e interpretar textos. Ampliar o repertório de informações e exercitar uma postura crítica diante da realidade.
117 118
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.75 op. cit. p.77
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Material Proposto: Matérias jornalísticas apropriadas para a atividade. Resultados da análise: 1
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2
Atividade 38: "Ilustrando Conceitos" 119 A partir da leitura de matéria sobre música ( no exemplo ), explorar conceitos sobre o tema 'som' . Objetivo: Sensibilizar os alunos para o estudo de conteúdos propostos, partindo do que eles já sabem, do que intuem, das vivências que têm acumuladas. Material Proposto: Matéria apropriada para o desenvolvimento da atividade. Resultados da análise: 1
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9
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2
Atividade 39: "Relacionando Forma e Função" 120 Selecionar matérias ( com fotos ) sobre diferentes tipos de esportes. Buscar descrever os principais movimentos corporais
realizados pelos atletas na
pratica de cada esporte citado. A partir daí, introduzir estudos sobre os músculos do corpo humano. Pode-se analisar ainda os efeitos dos exercícios físicos para o organismo e os efeitos dos remédios como anabolizantes. Objetivo: Entender a estrutura de funcionamento dos seres vivos. Material Proposto: Matéria jornalística apropriada para a atividade. 119 120
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.78 op. cit. p. 80
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
Resultados da análise: 1
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2
Atividade 40: "Resolvendo Problemas do Meio Ambiente" 121 Recolher matérias sobre desmatamento de florestas buscando explicar as conseqüências desta prática a partir de questões propostas pelo professor que exijam dos alunos a aplicação de conhecimentos que os mesmos já acumularam e que podem servir para explicar fenômenos e encontrar respostas. Objetivo: Aplicação do conhecimento adquirido. Material Proposto: Matéria apropriada para a atividade. Resultados da análise: 1
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1
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Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação - 5ª a 8ª série, p.81
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O uso do Jornal como material educativo – Antonio Alberto Trindade – Mestrado – PUC/SP – 1999.
ANÁLISE DAS SUGESTÕES DE ATIVIDADES ( Caderno Folha Educação - 5ª a 8ª série )
Tabela para Coleta das Informações e Análise 1
2
1- Tipo de Material Utilizado na Atividade
Espec. 29 = 72,5%
Não Espec. 11 = 27,5%
2- Vínculos com Conteúdos Curriculares ou do Jornal
Informação 26 = 65%
C. Curricul. 29 = 72,5%
3- Importância do Conteúdo da Matéria para a Atividade
Import. 32 = 80%
Não import. 8 = 20%
4- Importância da Atualidade da Matéria Utilizada
Import. 6 = 15%
Indiferente 34 = 85%
Favorece 9 = 22,5%
Pode Favorecer 31 = 77,5%
Exige 0
Não Exige 40 = 100%
Existe 7 = 17,5%
Não Existe 33 = 82,5%
Pedagógico 37 = 92,5%
Cultural 29 = 72,5%
Contribui 20 = 50%
Não Contribui 20 = 50%
5- Interação do Aluno com a Realidade Social Cotidiana 6- Exigência de Acompanhamento dos Desdobramentos do Assunto 7- Lib. de Escolha da Matéria Utilizada na Atividade 8- Objetivos da Atividade Desenvolvida 9- Contrib. Da Ativ. P/ Apreensão Estrut. dos Conteúdos dos Currículos
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No Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação desenvolveram-se atividades relacionadas a cinco disciplinas: matemática, língua portuguesa, ciências, história e geografia. Para a análise das propostas, optamos por considerar o conjunto das sugestões sem dividi-las por disciplinas já que, dentre os objetivos do programa, está o interesse de desenvolver trabalho interdisciplinar.
Nossa análise mostrou que: 1- No que se refere ao tipo de material utilizado nas atividades, observamos que 72,5% deste ou é específico de jornal ou é mais comumente encontrado em jornal ou, ainda, não aparece normalmente nos materiais utilizados pela escola ( livros didáticos e paradidáticos ). Apenas 27,5% do material utilizado poderia ser encontrado em outras publicações. Isso revela que, para o desenvolvimento das atividades, o Folha Educação prioriza o material do jornal; mesmo quando o material não é específico de jornal, pode ser encontrado nele. Podemos dizer que, de fato, os jornais oferecem material educativo novo, o que pode ampliar as possibilidades de explorar temas de interesse educativo nos processos formais de educação. Por outro lado, em apenas 25% das propostas122 há indicação para que o aluno faça uso também do livro didático, material que contém os conteúdos curriculares aos quais se referem a maioria das atividades. 2- No que se refere ao que chamamos de "vínculos" nesta análise, observamos que 65% das atividades propostas remetem o aluno, de alguma forma, a uma nova utilização do jornal. Isso quer dizer que as atividades, em sua maioria, buscam favorecer a que o aluno identifique o jornal como material importante - mas não indica, ainda, que o Programa favorece e a que o mesmo comece a perceber as possibilidades e vantagens de fazer uso permanente da informação. Por outro lado, 72,5% 122
Esta informação não está expressa na tabela que apresentamos, mas pode ser constatada mediante leitura do total das orientações contidas nos Cadernos para a realização das atividades.
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das atividades remetem o aluno à continuidade da apreciação dos conteúdos curriculares a que se referem123. Isso nos permite dizer que há, de fato, intenção das atividades em auxiliar no trabalho com os conteúdos curriculares, embora haja pouca indicação para a utilização do livro didático para aprofundá-los. 3- No que se refere à importância do conteúdo da matéria jornalística para o desenvolvimento das atividades, observamos que, para 80% destas, a atenção à informação contida na matéria ou a simples leitura atenta do conteúdo é exigida. Os 20% restantes das atividades podem ser realizadas fazendo-se "uso mecânico" do material proposto, ou seja, a não observância do conteúdo não impede a realização da atividade proposta. Tais informações nos revelam a ocorrência do "uso mecânico" do material, algo que se choca com diversos pontos dos objetivos desejados pelo Programa. Podemos ainda observar, embora não estejamos apresentando os dados em porcentagem, que poucas atividades prevêem o uso do conteúdo da matéria jornalística calcado no valor da informação124. 4- No que se refere à importância da atualidade da matéria jornalística utilizada, observamos que tal importância só existe em 15% das sugestões enquanto que, para 85% destas a atualidade ou não da matéria não interfere na realização da atividade e nem impede que se obtenha os resultados desejados.
Estas informações nos permitem dizer que as
atividades, para atenderem ao objetivo de fazer perceber a importância da informação atualizada para a vida e para o desempenho educativo do leitor/estudante, necessitam de nova elaboração. Da forma como estão elaboradas, negam uma das finalidades principais do Programa. Isso interfere também no objetivo de formar novos leitores. Por outro lado, observamos que, para o total das sugestões, poder-se-ia utilizar matéria 123
As porcentagens não somam os 100% porque os dados se sobrepõem na medida em que identificamos ambos os vínculos - com a informação e com os conteúdos curriculares - numa atividade. 124 Esta afirmação pode ser perfeitamente constatada se o leitor fizer, ele próprio, a leitura das atividades e submetê-las a esta categoria de análise. Por outro lado, nossa afirmação encontra sua confirmação nos resultados que obtivemos com as análises sobre a importância da atualidade da matéria utilizada nas atividades, sobre a interação do aluno com a realidade social cotidiana e sobre a exigência de acompanhamento dos desdobramentos do assunto.
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atualizada sendo isso algo que dependeria, em grande parte, do profissional que dirige o trabalho em sala de aula - de sua formação, grau de informação e interesse em trabalhar com o jornal. Se não há a necessidade de trabalhar com matéria atual - e não há indicações para que o professor faça isso em nenhum momento - torna-se frágil o argumento de que o Programa tem como objetivo favorecer ao uso da informação atual. Isso interfere diretamente no objetivo, também desejado pelo Programa, de instrumentalizar o aluno para que o mesmo sirva-se da informação para entender a realidade e opinar, optar e agir sobre ela. 5- No que se refere ao favorecimento da interação do aluno com a realidade social cotidiana, observamos que em apenas 22,5% das sugestões há um inevitável "encontro" entre o aluno e as questões de seu tempo e de seu espaço. Em 77,5% das sugestões, tal envolvimento com a realidade
depende,
para
ocorrer,
da
atitude
do
profissional
que
desempenha as atividades em sala de aula. Potencialmente, 100% das atividades poderiam favorecer a tal envolvimento, mas, para tanto, haveria a necessidade de se definir vínculos com outros conteúdos
numa
perspectiva Interdisciplinar. 6- No que se refere à exigência de acompanhamento dos desdobramentos do assunto utilizado como material, observamos que em nenhuma das atividades propostas há tal exigência. Em outras palavras, as atividades não desenvolvem a necessidade do uso e acompanhamento permanente da informação; não contribuem para que o aluno passe a perceber o jornal como instrumento a partir do qual se pode acompanhar/participar do movimento da sociedade nos seus vários aspectos. O aluno, a partir das atividades propostas, não poderá perceber que a informação segue um sentido histórico; este fará uso do material de forma sempre "completa" sem que necessite buscar novas informações para complementar ou dar seqüência à compreensão da informação com a qual estiver trabalhando.
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7- No que se refere à liberdade de escolha da matéria utilizada, observamos que, esta liberdade existe em apenas 17,5% das atividades propostas. Em 82,5% das propostas, não há liberdade de escolha do material que, para garantir a realização da atividade, deverá corresponder a características determinadas e, muitas vezes, a assuntos determinados ( desconsiderando a vontade ou interesse do leitor ). Estes fatores revelam que as propostas não favorecem à aquisição do hábito de uso autônomo do material jornal, ou seja, as atividades em sua maioria, não garantem ao leitor/estudante o manuseio livre - baseado no interesse individual - do material, algo que pesa desfavoravelmente para que se atinja o objetivo de fazer perceber o jornal como instrumento indispensável de informação e lazer. As atividades não favorecem à criação do hábito de ler jornal via "uso agradável" do material. 8- Quanto ao objetivo central pretendido com as atividades propostas, observamos que em 92,5% das sugestões há o objetivo pedagógico e em 72,5% há o objetivo cultural125. Pensando já com base em outros resultados, isso demonstra que há no Programa uma intenção educativa bastante forte, mas que precisa encontrar apoio em procedimentos mais condizentes com os objetivos que este deseja atingir. 9- Quanto à contribuição da atividade para a apreensão estruturada dos conteúdos dos currículos a que se referem, observamos que 50% das atividades contribuem e 50% não contribuem para isso. Como pudemos observar na análise exposta no item 8, em quase todas as atividades podese encontrar um vínculo com conteúdos curriculares; a metodologia ou o material propostos para a realização de grande parte das atividades, contudo, não garantem uma apreensão estruturada dos conteúdos a que se referem. Observamos que, em alguns casos, o material jornalístico utilizado é bastante inferior a outros que poderiam servir para o desenvolvimento do estudo sobre determinado assunto e que os procedimentos metodológicos propostos em grande parte das atividades 125
As porcentagens não somam os 100% porque os dados se sobrepõem na medida em que identificamos ambos os objetivos - pedagógico e cultural - numa atividade.
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necessitariam ser melhorados para poderem garantir uma abordagem adequada dos assuntos.
Comentários
A avaliação do conjunto das atividades propostas reforça nossa convicção de que o jornal tem grande validade enquanto material educativo. Temos que observar, contudo, que as propostas de atividades do Folha Educação necessitam ser reelaboradas e aprofundadas em muitos aspectos. A atenção especial quanto aos objetivos educacionais subjacentes às atividades nos permite dizer que as mesmas ultrapassam as intenções educativas que identificamos ao analisarmos os dois volumes da Taxionomia de Objetivos Educacionais de Benjamin S. Bloom, mais voltadas para o desenvolvimento de habilidades cognitivas e "afetivas"126, o que é algo bastante positivo. Por outro lado, entendemos que há nas atividades uma preocupação predominante com a elaboração de uma metodologia - que nem sempre atinge o êxito desejado para que o jornal possa efetivamente encontrar espaço na sala de aula. De nossa análise, queremos destacar os seguintes pontos: o Programa prioriza o material jornal para o desenvolvimento das atividades, o que pode estar ocorrendo em detrimento dos conteúdos curriculares; poucas atividades prevêem o uso do conteúdo da matéria jornalística enquanto informação, o que pode significar que o objetivo de favorecer a que o aluno entenda o mundo e utilize a informação em seu benefício, de seu grupo e da sociedade ( a prática da cidadania ) não é de fato importante no Programa; as atividades não contribuem para que o estudante passe a perceber o jornal como instrumento a 126
A Taxionomia de Bloom nos parece, em diversos aspectos, tão polêmica que temos que considerá-la como importante para ilustrar o oposto daquilo que defendemos em educação neste campo dos objetivos educacionais. Vale dizer ainda que, a importância da Taxionomia de Bloom está também no fato de ela estar servindo como referência a muitos de nossos educadores, o que revela a situação complicada em que se encontra a educação brasileira. Não caberia aprofundar as reflexões sobre o tema "Objetivos Educacionais" aqui, visto que não estamos nos propondo a analisar os resultados educativos do Folha Educação; a continuidade da pesquisa, contudo, necessitará de uma tal reflexão e, neste caso, conhecer profundamente a Taxionomia de Bloom é algo fundamental. Fica, contudo, a indicação bibliográfica e nossa observação de que para a elaboração de atividades de qualquer tipo na escola, a reflexão sobre os objetivos educacionais deve estar em primeiro plano.
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partir do qual se pode acompanhar/participar do movimento da sociedade nos seus vários aspectos e não favorecem à aquisição do hábito de uso autônomo do jornal, o que pode significar que a elaboração das atividades não favorece a que o aluno se aproprie do material jornal ( algo que se choca inclusive com os interesses comerciais do Programa ); a metodologia ou o material propostos para a realização de grande parte das atividades não garantem uma apreensão estruturada dos conteúdos curriculares a que se referem, o que pode significar que a contribuição para o processo educativo do aluno é baixa.
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CAPÍTULO 4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O USO DO JORNAL COMO MATERIAL EDUCATIVO
A análise das atividades apresentadas nos Cadernos do Folha Educação como sugestões de atividades a serem desenvolvidas em sala de aula, nos possibilita fazer algumas afirmações: o material jornal tem diversas características que o tornam interessante como material educativo. Por ser um veículo de informação, pode proporcionar ao leitor a cobertura de assuntos dos campos mais variados do conhecimento, o que justifica dizer que, no conteúdo, o jornal tem uma forma transdisciplinar. Esta característica do jornal ocorre sem que este veículo de informação busque corresponder a qualquer intenção educativa ou pedagógica; o fato é que sua forma mesma traz àquele que o utiliza uma gama de assuntos abordados com a utilização de diversos recursos de comunicação, com diversos complementos que servem como histórico do fato analisado ou como elemento de comparação; isso pode favorecer a uma abordagem interdisciplinar na escola. A forma de exposição dos temas, pela intenção de informar de maneira rápida, precisa e o mais completa possível - a linguagem jornalística - pode garantir lances de inovação na forma como a escola aborda o conhecimento sistematizado apoiando-se em livros didáticos e paradidáticos.
Este veículo de informação, além de publicar matéria de
investigação, veicula grande quantidade de informação que lhe chega, dado seu status de instituição, cujo papel na sociedade é o de levar os fatos ao conhecimento do público. Desta forma, divulgar o que quer que seja em jornal é uma atitude cultural; o efeito disso é que o jornal é reconhecido culturalmente como veículo de informação. O jornal, se utilizado de maneira adequada na escola, pode trazer para o universo do aluno a informação organizada e pode favorecer a que este passe a fazer uso desta informação como mais um instrumento para que defenda seus interesses na sociedade. Assim, pode-se considerar desejável que a escola passe a fazer uso do material, mas, para 89
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tanto, necessitará desenvolver maneiras de utilizá-lo, de forma que as informações que ele traz sejam uma extensão e uma possibilidade a mais de abordar os diversos conteúdos curriculares com os quais já trabalha. Para utilizar o jornal desta maneira, a escola necessita se envolver diretamente nas propostas que recebe das empresas jornalísticas para uso do jornal; de outra maneira, pode não encontrar ressonância entre seu grupo de profissionais para uma elaboração adequada do trabalho a ser realizado com o material que a ela é fornecido pelas empresas jornalísticas. Se a escola opta pelo uso do jornal em sala de aula - e consideramos importante que as escolas sejam melhor informadas para entenderem a viabilidade, importância e necessidade de fazer tal opção - deve também desenvolver com seu grupo de profissionais a reflexão atenta sobre a introdução do novo material e definir, utilizando-se também dos materiais e das sugestões propostas pelas empresas jornalísticas, qual a melhor maneira de desenvolver as atividades com o jornal. No jornal, o leitor/estudante pode encontrar materiais específicos que podem auxiliá-lo em seu processo educativo; pode encontrar informações que possibilitam exercitar com informação atual - o que pode ser estimulante muito daquilo que é trabalhado como conteúdo do currículo escolar. Trabalhar com o jornal pode favorecer a que o leitor/estudante sinta as possibilidades e vantagens de fazer uso permanente deste material que lhe possibilita informarse, acompanhar o percurso e desdobramento dos fatos e acompanhar as diversas leituras, intenções e ações que se desenvolvem sobre determinada questão. Na análise do Folha Educação - dos seus fundamentos e de sua proposta de interferência - pudemos vislumbrar caminhos fecundos para o aprofundamento das reflexões sobre as possibilidades de utilizar o jornal na escola. Feitas estas observações, que representam um pouco do que pudemos extrair da análise das sugestões de atividades expostas no capítulo anterior, devemos apresentar outras questões que se colocam como inevitáveis a esta altura da reflexão: visto que existem diversas empresas jornalísticas - muitas delas desenvolvendo programas em educação - e diversas propostas editoriais no
mercado,
como
poderemos - se poderemos - generalizar nossas
afirmações ? Não seria a questão da validade ou não do material jornal como material educativo uma questão vinculada à qualidade do produto jornalístico ? 90
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De fato, temos diversas empresas jornalísticas, cada uma com sua linha editorial e com seu produto; alguns destes são bastante semelhantes, num sentido geral, ao que nos tem servido como objeto de análise; mas a grande variedade de jornais disponíveis no mercado nos leva a indagar se todos servem como material educativo.
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OS DIVERSOS E DIFERENTES JORNAIS
Para refletirmos sobre este aspecto, escolhemos partir de uma constatação simples: cada jornal tem o seu leitor; tem um público ao qual é acessível cultural e ( ou ) economicamente e ao qual satisfaz em algum nível. Dos diversos aspectos que certamente explicam as preferências do público por este ou por aquele produto jornalístico, interessa-nos aquele que consideramos mais se aproximar da discussão sobre jornalismo e educação: o conteúdo das publicações. Gramsci, atento à questão dos leitores, observa que o elemento ideológico é um estímulo ao ato econômico da aquisição e da divulgação
127
de
uma publicação. Se por um lado, pode-se pensar na questão das preferências do público relacionando-as à orientação ideológica de uma publicação, pode-se também fazer o caminho inverso, pensando-se na empresa editorial que, segundo
Gramsci
deve
considerar
os
leitores
como
elementos
ideológicos, "transformáveis" filosoficamente, capazes, dúcteis, maleáveis à transformação. 128 Estamos considerando a questão do conteúdo das publicações como bastante
relevante nessa nossa discussão;
estamos, por conta disso,
apontando o fator "orientação ideológica" como importante, seja porque pode interessar ao público defender posições ( políticas, morais, religiosas, culturais, econômicas etc. ) na sociedade, seja porque pode interessar à empresa jornalística formar opinião sobre os mesmos temas.
Quando pensamos na
escola como um espaço onde ocorre o encontro entre visões políticas e concepções de mundo distintas, podemos imaginar a importância que assumiria, numa situação concreta, a escolha de um jornal para compor o conjunto dos materiais pedagógicos. No contexto da escola, acreditamos, a questão da ideologia, da visão de mundo, das opções políticas, morais, religiosas etc. , estaria no centro das discussões sobre a eventual escolha e utilização de um produto jornalístico.
127 128
Gramsci, Antonio. Os intelectuais e a Organização da Cultura, p. 163 ibidem
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Para aprofundarmos esta questão, vamos pensar na importância do espaço escola, a partir de reflexões de Gramsci sobre filosofia e história: "A filosofia de uma época não é a filosofia deste ou daquele filósofo, deste ou daquele grupo de intelectuais, desta ou daquela grande parcela das massas populares: é uma combinação de todos estes elementos, culminando em uma determinada direção, na qual, sua culminação torna-se norma de ação coletiva, isto é, torna-se 'história' concreta e completa ( integral )". "A filosofia de uma época histórica, portanto, não é senão a 'história' dessa mesma época, não é senão a massa de variações que o grupo dirigente conseguiu determinar na realidade precedente: neste sentido, história e filosofia são inseparáveis, formam um 'bloco' ." 129 As
diversas visões de mundo dos diversos grupos de interesses,
interferem, de alguma forma e em algum grau, na direção da sociedade e isso ocorre na medida em que estão presentes nos embates de todos os tipos e em todos os espaços onde eles ocorrem. A escola é um espaço de disputa por excelência; desde o início da vida escolar, a pessoa depara-se com concepções de mundo que influirão decisivamente na formação de uma visão de mundo própria e, por conseqüência, nas posturas que assumirá diante de sua realidade. Já na circunstância educativa da sala de aula, ocorre o confronto entre diversas visões de mundo; uma visão elaborada, por exemplo, pelas reflexões e conclusões do sujeito que assume o papel do educador frente a uma visão elaborada por aqueles que se incumbiram da educação do sujeito que assume o lugar do educando, até aquele primeiro momento de contato com a escola e sua forma específica de tratar o conhecimento. As formas como se estabelecem as relações na escola - em todos os planos e com todos os sujeitos deste espaço - refletem muito a visão que predomina em cada espaço. É esta visão predominante, e que não está descolada da realidade mais ampla no campo das disputas entre visões de mundo, que determina os objetivos desejados pela escola; as opções para a ação educativa, ademais, são modeladas por esta circunstância. É nesse sentido que a escolha de um
129
Gramsci, Antonio. Concepção Dialética da História, p. 32
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produto jornalístico para uso em sala de aula reveste-se de complexidade. Se o material jornal fosse já reconhecido como fundamental para a escola e se as escolas estivessem vivendo este momento da escolha do produto a ser utilizado, teríamos certamente momentos importantes de confronto entre interesses e visões de mundo. Esta questão das disputas no plano da cultura, parece nos colocar na seguinte situação: se há diferentes visões de mundo e interesses na sociedade e se também nos jornais tais diferenças estão representadas, a escolha de um jornal supostamente mais adequado poderia se dar pela afinidade entre um tal grupo e a visão de mundo que identificasse num tal jornal e considerasse representativa de sua forma de pensar. Uma escolha que representasse esta realidade, contudo, nos permitiria afirmar que o jornal, pensado de forma genérica como produto cultural, não serve como material educativo. Por outro lado, e de forma oposta, qualquer jornal poderia ser utilizado como material educativo, bastando para isso que algum grupo o julgasse como adequado e desejável pelas características que apresenta.
Nossa resposta à questão
central desta parte estaria dada se entrássemos neste campo dos grupos e de suas opções; nosso objeto de análise - o jornal -, desta forma, poderia ser interpretado como adequado ou não, dependendo das opções daqueles que os estariam analisando. Pensado desta forma, contudo, não estaríamos mais falando do jornal como produto cultural genérico, mas de determinados conjuntos de conteúdos editoriais, publicados por determinado grupo, num meio de comunicação cuja principal característica seria a de veicular informações, análises etc. comprometidas com uma determinada visão de mundo e com determinados objetivos culturais e políticos; o jornal aqui estaria sendo entendido como instrumento ideológico. Mesmo sabendo que todos os produtos jornalísticos seguem alguma orientação ideológica, não se pode dizer que o produto jornal é instrumento ideológico - ainda que se possa fazer uso ideológico deste material. Pode-se encontrar, em jornais, posições as mais diversas sobre os mais diversos temas; pode-se dizer também que os jornais são reconhecidos como veículos de informação onde ocorre, em algum nível, o debate de opiniões, de visões de mundo, onde se travam embates no campo da defesa de interesses.
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As reflexões de Gramsci sobre as disputas no campo da cultura, nos impedem de aderir à idéia de que há um domínio pleno de determinado grupo sobre os demais. A idéia de que a filosofia de uma época histórica não é senão a massa de variações que o grupo dirigente conseguiu determinar na realidade precedente nos permite, ao mesmo tempo, considerar que há hegemonia no campo da cultura e que, apesar disso, continuam as disputas por essa hegemonia.130 Se considerarmos que os jornais representam, de fato, visões de mundo e interesses diversos, poderemos estar de acordo com a realidade; não se pode negar, afinal, que grupos economicamente fortes e mais organizados na sociedade podem desenvolver - e desenvolvem - iniciativas econômicas e culturais amplas. Isso, contudo, não é o suficiente para concluirmos que há uma situação de domínio pleno no plano da cultura131. Se os diferentes jornais defendem posições na sociedade, isso se dá porque o produto jornal representa, ele próprio, uma das formas como tais disputas se expressam. No jornal, os mais diversos grupos de interesses buscam firmar idéias, conquistar posições e interesses etc. mesmo que isso não se dê em condições de igualdade; a importância de tornar públicas as idéias e defesas, as críticas e denúncias é entendida por todos os grupos sociais e, desta forma, todos buscam espaço nos jornais. Por outro lado, há a discussão da credibilidade do meio de informação, algo que assume dimensões cada vez mais amplas e profundas quanto mais uma sociedade busca aprimorar-se no tratamento das questões referentes às relações entre
130
Gruppi, Luciano. O Conceito de Hegemonia em Gramsci - tradução Carlos Nelson Coutinho, 2ª edição, p.1. O termo hegemonia deriva do grego eghestai, que significa "conduzir", "ser guia", "ser líder"; ou também do verbo eghemoneuo, que significa " ser guia", "preceder", conduzir, e do qual deriva " estar à frente", "comandar" , "ser o senhor". Por eghemonia, o antigo grego entendia a direção suprema do exército. Trata-se, portanto, de um termo militar. Hegemônico era o chefe militar, o guia e também o comandante do exército. Na época das guerras de Peloponeso, falou-se de cidade hegemônica para indicar a cidade que dirigia a aliança das cidades gregas em luta entre si. 131 Sobre esta questão devemos considerar que, mesmo quando um dado jornal abre espaço para as mais diferentes manifestações culturais, a freqüência, volume, setor do jornal, destaque etc. com que se apresentam revelam um pouco do domínio da visão de mundo do editor ou do grupo social ao qual pertence. Por outro lado, o valor da informação para o exercício crítico não depende apenas da ocorrência do aparecimento de visões opostas ou divergentes num jornal, sobretudo se pensarmos que, estar informado, gera a necessidade de se informar mais e melhor, o que freqüentemente leva aquele que passa a fazer uso crítico da informação a procurar novas fontes para melhor se inteirar dos temas de seu interesse ou sobre os quais a abordagem que encontrou em determinado produto jornalístico não lhe satisfez por algum motivo.
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indivíduos e instituições. A busca da imparcialidade no tratamento dos fatos figura como uma das discussões mais importantes nesta questão da credibilidade do meio de informação e a relevância da questão está expressa, por exemplo, nos informes publicitários destinados a divulgar os mais diferentes meios de comunicação; pode-se notar, por tudo isso, um esforço da imprensa em ser reconhecida em sua função de informar, de gerar o debate, de esclarecer.
Esta
possível
tendência dos
meios
de comunicação,
acreditamos, pode estar expressando um aprimoramento da idéia de democracia imposta pelas necessidades decorrentes da complexidade do mundo atual no campo das relações políticas e econômicas. Voltando à questão da inexistência de condições de igualdade no aspecto do acesso aos meios de comunicação, vale dizer que tal acesso corresponde à posição que este ou aquele grupo ocupa como resultado do embate pela hegemonia em qualquer que seja o campo. O poder de imprimir ritmos à realidade, contudo, ultrapassa a discussão sobre a posição do grupo na sociedade; a validade e força de uma proposição envolve outras questões. Vejamos o que nos diz Gramsci em sua reflexão sobre a validade histórica de uma filosofia: “É possível dizer que o valor histórico de uma filosofia pode ser ‘calculado’ a partir da eficácia ‘prática’ que ela conquistou (e ‘prática’ deve ser entendida em seu sentido lato). Se é verdade que toda filosofia é a expressão de uma sociedade, ela deveria reagir sobre a sociedade, determinar certos efeitos, positivos e negativos. A medida em que ela reage é justamente a medida de sua importância histórica, de não ser ela ‘elucubração’ individual, mas ‘fato histórico’.”132 O fato de as empresas jornalísticas representarem visões de mundo, o fato de atuarem como formadores de opinião, não descaracteriza o meio de comunicação "jornal" como produto cultural ( meio de comunicação e de expressão de informações e opiniões produzido e consumido pela sociedade ).
132
Gramsci, Antonio, Concepção Dialética da História, p. 34
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Na proposta do Folha Educação, figura como objetivo oferecer instrumentos para que o leitor/estudante compreenda sua realidade e assuma uma postura ativa como cidadão. Segundo a mesma, o jornal traz a matériaprima para se chegar à compreensão dos fatos - a informação - sem a qual não há liberdade e nem cidadania. Mesmo que a proposta da Folha de S.Paulo, da maneira como está formulada, tenha que modificar-se muito para atingir tal objetivo, a reflexão que introduziu nos permite vislumbrar em que sentido o jornal na sala de aula pode vir a ser muito importante. Como produto cultural utilizado de maneira crítica, professores e alunos podem encontrar maneiras bastante fecundas de desenvolverem processos educativos mais amplos, que tragam para a reflexão cotidiana da sala de aula, dos corredores, das ruas etc. os elementos da realidade que encontram pouco espaço na escola. Continuando nossa análise nesta ótica - tratando ainda da questão da existência ou não de domínio no campo da cultura e do jornal como veículo de informação comprometido com interesses na sociedade -, começamos a nos afastar do que Mauro Wolf apresenta como "teoria conspirativa dos massmedia."
133
A idéia de que os meios de comunicação conspiram contra a
sociedade - no sentido de conduzi-la com aquilo que publicam - começa também a perder sentido se consideramos como válidas nossas reflexões anteriores. Essa questão nos remete à da posição dos destinatários da notícia veiculada pelos meios de comunicação ou, mais precisamente, nos remete à discussão sobre se
e
em
que medida, tais destinatários são meros
receptores. No mesmo plano, entra a questão do poder dos meios de comunicação de atingirem o destinatário com aquilo que publicam ou emitem. Contra a versão da "teoria conspirativa dos mass-media", os cultural studies134
reafirmando a centralidade das criações culturais coletivas como
agentes de continuidade social, salientam o seu caráter complexo e flexível, dinâmico e ativo, não meramente residual ou mecânico. Realçando o fato de as 133
Wolf, Mauro - Teorias da Comunicação, Editorial Presença - Portugal - 1995. Esta teoria associa os conteúdos dos mass-media ao objetivo de controle social, perseguido pelas classes dominantes. Segundo tal teoria, a censura de certos temas, o empolamento de outros, a existência de mensagens evasivas, a nãolegitimação das opiniões marginais ou alternativas, são alguns dos elementos que fazem dos mass-media um instrumento, puro e simples, de hegemonia e de conspiração da elite no poder. pp 97, 98. 134 Outra teoria no campo da communication research cuja preocupação central está em identificar de que forma se articulam as relações entre o sistema dos mass-media e as outras estruturas e instituições sociais e em entender que reflexos dessa relação se produzem no funcionamento e nos confrontos dos massmedia. Wolf, Mauro. Teorias da Comunicação, p. 96.
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estruturas sociais exteriores ao sistema dos mass-media e as condições históricas específicas serem elementos essenciais para a compreensão das práticas dos mass-media, os cultural studies põem em destaque a contínua dialética entre sistema cultural, conflito e controle social.135 Ainda no campo das teorias comunicativas, o modelo semióticoinformacional de Fabbri e Eco136, vincula a linearidade da transmissão produzida pelos mass-media ao funcionamento dos fatores semânticos, introduzidos mediante o conceito de código. Isto é, passa-se da acepção de comunicação como transferência de informação para a de transformação de um sistema por outro.137 Nesta teoria, a noção de código é entendida como a correlação entre os elementos de sistemas diversos.138 Consequentemente, a questão da descodificação, isto é, do processo pelo qual os elementos do público constroem um sentido, a partir daquilo que recebem através da comunicação de massa, adquire relevo teórico e como objeto de pesquisa empírica.139 Discorrendo sobre tal teoria, diz Mauro Wolf: "Entre a mensagem entendida como forma significante que veicula um determinado significado e a mensagem recebida como significado, abre-se um espaço extremamente complexo e articulado. Nesse espaço entra em jogo - do ponto de vista semiótico - o grau em que o destinador e o destinatário partilham as competências relativas aos vários níveis, que criam a significação da mensagem; do ponto de vista sociológico, é nesse espaço que ganham forma as variáveis ligadas aos fatores de mediação entre indivíduo e comunicação de massa ( rede de pequenos grupos, fluxo a dois níveis, funções de liderança de opinião, hábitos e modelos de consumo dos mass-media, etc ). As correlações existentes entre as duas ordens de motivos, delimitam as possibilidades da chamada 'descodificação aberrante' ( Eco - Fabbri e outros, 1965 ), que se verifica quando os destinatários fazem uma interpretação das mensagens
135
op. cit. p. 98 op. cit. p. 110. Esta teoria salienta que, os efeitos e as funções sociais dos mass-media não podem prescindir do modo como se articula, dentro da relação comunicativa, o mecanismo de reconhecimento e de atribuição de sentido, que é parte essencial desta relação. 137 ibidem 138 ibidem 139 ibidem 136
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diferente das intenções do emissor e do modo como ele previa que a descodificação seria executada." 140 Um outro aspecto da questão, importante de ser abordado aqui e que, de alguma forma, representa um contraponto às questões desenvolvidas acima, diz respeito ao que é conhecido no campo das teorias da comunicação como a hipótese do agenda-setting. Retomando a questão sobre se os meios de comunicação conspiram ou não contra a sociedade no sentido de conduzi-la com
aquilo
que
publicam,
pode-se
argumentar
que
a
lógica
dos
acontecimentos não é algo que possa se distinguir da lógica de sua produção. Pensando nisso, pode-se indagar se a informação não produz, ela própria, acontecimentos.
A hipótese do agenda-setting expressa o seguinte a esse
respeito: "Em conseqüência da ação dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público sabe ou ignora, presta atenção ou descura, realça ou negligencia elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas têm a tendência para incluir ou excluir dos seus próprios conhecimentos aquilo que os mass-media incluem ou excluem do seu próprio conteúdo. Além disso, o público tende a atribuir àquilo que esse conteúdo inclui uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos mass-media aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas (Shaw, 1979,96)." 141 Esta formulação clássica da hipótese, segundo Shaw, não defende que os mass-media pretendam persuadir (...). Os mass-media, descrevendo e precisando a realidade exterior, apresentam ao público uma lista daquilo sobre que é necessário ter uma opinião e discutir (...). O pressuposto fundamental do agenda-setting é que a compreensão que as pessoas têm de grande parte da realidade social lhes é fornecida, por empréstimo, pelos mass-media. 142 A hipótese realça ainda ( e aqui retomamos um pouco o assunto da quantidade de informações disponíveis e da necessidade e uso que uma 140
Wolf, Mauro. Teorias da Comunicação, pp. 110, 111 op. cit. p. 130. 142 ibidem 141
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pessoa pode ter e fazer da informação ) a diversidade existente entre a quantidade de informações, conhecimentos e interpretações da realidade social, apreendidos através dos mass-media, e as experiências em "primeira mão", pessoal e diretamente vividas pelos indivíduos ( Wolf, 1995 ): "Nas sociedades industriais de capitalismo desenvolvido, em virtude da diferenciação e da complexidade sociais e, também, em virtude do papel central dos mass-media, foi aumentando a existência de fatias e de 'pacotes' de realidade que os indivíduos não vivem diretamente nem definem interativamente a nível da vida quotidiana, mas que 'v ivem', exclusivamente, em função de ou através da mediação simbólica dos meios de comunicação de massa (Grossi, 1983, 225 )." 143 Ainda a esse respeito, vale a pena conhecermos, já que nosso assunto é o uso do jornal, resultados de uma pesquisa - ainda no campo das teorias da comunicação - sobre o poder do efeito de agenda dos diversos suportes da mídia. A pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de detectar efeitos de agenda em níveis mais profundos que aquele até então observado e considerados nesta pesquisa como nível "a" de conhecimentos assimilados144. O
nível "a", que é o mais superficial, inclui simplesmente o título da área
temática - por exemplo, economia, poluição, burocracia, política etc. O nível "b" 143
op. cit. p. 132. A necessidade e importância de pensar o fator realidade cotidiana via mídia como elemento constitutivo da experiência de vida é bastante grande hoje, sobretudo para quem trabalha com educação. Necessitamos pensar o que a informação vivida - aquela que o homem de senso comum absorve como mais um dos elementos do seu cotidiano - representa para este homem do ponto de vista educativo. No caso do aprofundamento das reflexões neste campo do Jornal na Educação, pode-se analisar um possível processo educativo a partir da informação vivida ou no qual ela é também um elemento “simples” da realidade do homem de senso comum. Aqui estaríamos nos aproximando do trabalho de Paulo Freire, na medida em que estaríamos tratando de uma realidade ( a conexão homem/mundo via relação mídia/homem ) da qual poderíamos partir para, quem sabe, entender quais são os elementos concretos dos quais, como na proposta de Paulo Freire, extrairíamos possíveis “temas geradores”. Assim como no chamado Método Paulo Freire parte-se de procedimentos pedagógicos fundados na realidade vivida do educando, pode-se pensar neste mesmo procedimento a partir dos novos elementos de realidade vivida proporcionados pela mídia. Tal reflexão torna-se ainda mais importante na medida em que a proposta do projeto que estamos analisando pretende levar para a sala de aula uma realidade que representa para os educandos aquilo do que participam - vivem - indiretamente, por estarem inseridos numa realidade mais ampla que a do bairro ou da cidade onde moram, mas que, mesmo assim, os influencia e influencia suas vidas. 144 Grifo nosso.Wolf, Mauro. Teorias da Comunicação, p. 140,141. Os dados da pesquisa resultam de 111 entrevistas e de uma análise de conteúdo da cobertura informativa do tema "economia" nas três estações de televisão nacional [ EUA ], em dois jornais diários de Minneapolis e nos semanários Times e Newsweek, durante um período de três semanas.
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especifica conhecimentos mais articulados, por exemplo, os diversos aspectos de um problema,
as
suas causas, as soluções propostas ( desemprego,
inflação, preço elevado das matérias-primas etc. ). O nível "c" relaciona-se a informações ainda mais específicas, tais como os argumentos favoráveis ou contrários às soluções apresentadas, os grupos que apoiam as diferentes estratégias econômicas etc. O principal objetivo da pesquisa era o de verificar a hipotética função de agenda-setting dos mass-media nos níveis "b" e "c". Como resultados, obtevese o seguinte: "Os dados obtidos revelam um efeito de agenda também para o segundo [ nível "b" ] e terceiro [ nível "c" ] níveis de conhecimento, em particular para os consumidores da informação escrita, ao passo que, no caso dos telespectadores, o grau de correlação das agendas é baixo. (...) A televisão parece
desempenhar
um
papel
secundário,
pouco
significativo,
na
determinação da agenda aos níveis dois e três, que implicam um conhecimento mais aprofundado dos temas econômicos ( Benton - Frazier, 1976,270 )." A hipótese do agenda-setting foi aqui apresentada de forma bastante resumida, mas nos possibilita vislumbrar um pouco daquilo que outras áreas do conhecimento têm pesquisado sobre os meios de comunicação e seus efeitos. As pesquisas a esse respeito, no campo das teorias da comunicação, continuam e, embora estejamos falando de uma hipótese, é inegável - também aqui - o valor dos resultados que foram até este momento obtidos neste campo pelos estudiosos dos mass-media. Todos estes dados buscam mostrar que a hipótese de que o jornal produz, ele próprio, acontecimentos é tão forte quanto a possibilidade da existência da descodificação aberrante anteriormente abordada. Nosso interesse ao apresentarmos estas reflexões e pesquisas decorre do fato de julgarmos importante salientar que são muitos os desdobramentos a que nos leva nosso tema central; junto a isso, quisemos mostrar que a complexidade do tema nos faz entender que é ainda muito longa a estrada a percorrer para que possamos fazer afirmações categóricas sobre os vários
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aspectos que envolvem esta relação entre os meios de comunicação e a sociedade. Podemos finalizar esta parte dizendo que o jornal é um dado da realidade cultural, um meio que veicula informações, serviços, opiniões etc. O que é oferecido pelas diversas empresas editoriais pode ser conhecido, consumido e criticado, positiva ou negativamente, sendo que, para tanto, o consumidor deve dispor - e aqui entra a escola - de seu método de análise dos diversos materiais; é este método,145 que carrega sua visão de mundo e sua capacidade de compreensão e reflexão, o que lhe dá base para fazer sua crítica. Este exercício de apropriar-se dos diversos conteúdos expressos nos jornais fazendo a leitura crítica do material é perfeitamente desejável do ponto de vista educativo. Desta forma, podemos ampliar nossas afirmações dizendo que todos os jornais servem como material educativo, independentemente do que publicam. Isto não quer dizer que não se possa ou não se deva proceder a escolhas dentre os diversos produtos disponíveis no mercado. Mesmo assim, é importante considerar que, para que o jornal venha a contribuir de fato para a formação do educando, é necessário que a metodologia utilizada para uso de jornais propicie a este condições para que possa fazer dos "pedaços" da realidade que enxerga e daquela que aparece como matéria de jornal, uma compreensão do todo dentro do qual ele está inserido. Como observa Paulo Freire: "A questão fundamental (...) está em que, faltando aos homens uma compreensão crítica da totalidade em que estão, captando-a em pedaços nos quais não reconhecem a interação constituinte da mesma totalidade, não podem conhecê-la. E não o podem porque, para conhecê-la, seria necessário partir do ponto inverso. Isto é, lhes seria indispensável ter antes a visão totalizada do contexto para, em seguida, separarem ou isolarem os elementos ou as parcialidades do contexto, através de cuja cisão voltariam com mais
145
O método de que falamos não pode ser confundido com a capacidade de exercer determinadas habilidades genéricas. Implica a chamada "boa formação". Só a partir do domínio de conteúdos significativos em diferentes campos e da habilidade de trazê-los à tona, o educando poderá fazer um uso importante da informação que obtiver por meio de qualquer material.
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claridade à totalidade analisada. Este é um esforço que cabe realizar, não apenas na metodologia da investigação temática que advogamos, mas, também, na educação problematizadora que defendemos. O esforço de propor aos indivíduos dimensões significativas de sua realidade, cuja análise crítica lhes possibilite reconhecer a interação de suas partes146. Vale dizer ainda que, os programas Jornal na Educação, para aprofundarem o uso do jornal de maneira crítica, deveriam prever em suas propostas atividades em que o aluno pudesse realizar comparações entre o que é publicado nos diferentes jornais. A esse respeito, diz Paulo Freire: "Outro recurso didático, dentro de uma visão problematizadora da educação e 147 não 'bancária' , seria a leitura e a discussão de artigos de revistas, de
jornais, de capítulos de livros, começando-se por trechos (...).
Na linha do
emprego destes recursos, parece-nos indispensável a análise do conteúdo dos editoriais da imprensa, a propósito de um mesmo acontecimento. Por que razão os jornais se manifestam de forma diferente sobre o mesmo fato ? Que o povo então desenvolva seu espírito crítico para que, ao ler jornais ou ao ouvir o noticiário das emissoras de rádio, o faça não como mero paciente, como objeto dos 'comunicados' que lhes prescrevem, mas como uma consciência que precisa libertar-se148". 146
Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido, p. 96 op. cit. pp. 62,63. Segundo Paulo Freire, "a concepção 'bancária' (...) sugere uma dicotomia inexistente homens-mundo. Homens simplesmente no mundo e não com o mundo e com os outros. Homens espectadores e não recriadores do mundo. Concebe a sua consciência como algo espacializado neles e não aos homens como 'corpos conscientes'. A consciência como se fosse alguma seção 'dentro' dos homens, mecanicamente compartimentada, passivamente aberta ao mundo que a irá 'enchendo' de realidade. Uma consciência continente a receber permanentemente os depósitos que o mundo lhe faz, e que se vão transformando em seus conteúdos. Como se os homens fossem uma presa do mundo e este um eterno caçador daqueles, que tivesse por distração 'enchê-los' de pedaços seus". 148 Pedagogia do Oprimido, p. 118. Lima, Venício Artur , em sua tese de Doutorado - Comunicação e Cultura, As idéias de Paulo Freire - publicado pela editora Paz e Terra em 1981, aponta "áreas problema" contidas nas idéias de Paulo Freire sobre comunicação e cultura. Ele observa que: "uma crítica comum à tradição dialógica é de que esta 'parece encarar a comunicação oral face-a-face como requisito do diálogo', julgando que é improvável que ela possa ocorrer por escrito ou através dos 'mass-media' . Tal como Mournier, ele [ Paulo Freire ] foi acusado de não ser sociológico, focalizando as pessoas ao invés das instituições. Neste sentido, Freire, de certa maneira, compartilha tanto com a tradição dialógica como com Mournier o mesmo tipo de debilidade teórica" . (...) "Quanto ao tratamento teórico das instituições dos 'mass-media' e suas mensagens, não há indicações claras sobre o assunto nas idéias de Freire sobre comunicação e cultura". pp. 125,126. Uma análise mais profunda apenas das idéias de Freire aqui apresentadas nos sugere que as críticas acima expostas devem, no mínimo, ser revistas. 147
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O JORNAL MAIS ADEQUADO PARA USO EDUCATIVO
A análise dos Cadernos de Sugestões de Atividades do Folha Educação nos permitiu identificar diferentes possibilidades de se fazer uso do material jornal na escola. Nos dois extremos identificamos, por um lado, a possibilidade de se fazer "uso mecânico"149 da informação e, por outro, a possibilidade de se fazer uso da matéria atualizada como forma de proporcionar ao aluno uma maior conexão entre o espaço da escola e sua vida. Este último aspecto tem grande relação com a questão da maior ou menor adequabilidade de um jornal para uso educativo. Ao se pensar que o jornal deve auxiliar no trabalho que a escola já desenvolve a partir dos conteúdos curriculares que determina e deve contribuir para que a pessoa passe a fazer um acompanhamento mais atento de sua realidade - para que tenha mais elementos que a instrumentalizem para atuar de forma consciente na defesa de seus interesses na sociedade - a questão primeira a ser analisada para diferenciar um jornal do outro é a do conteúdo do que se estará propondo ao leitor/estudante. Aqui, contudo, queremos falar de conteúdo num sentido diferente daquele que orientou nossa reflexão anterior - o conteúdo ideológico. Nesta parte, deveremos pensar em conteúdo direcionando nosso olhar para o conjunto das matérias publicadas num jornal. Se o jornal caracteriza-se pela qualidade de veículo de informação, uma análise da qualidade deste produto pode e deve partir da análise da qualidade da cobertura que tal veículo é capaz de fazer sobre os fatos e questões da sociedade.
Mesmo assim,
estaremos falando de qualidade e, aqui, a qualidade do trabalho determina a qualidade da informação. Por qualidade do trabalho entendemos a capacidade organizativa do meio de dar cobertura aos acontecimentos para poder trazer a notícia ao leitor; por qualidade da informação entendemos a capacidade do meio de oferecer informação completa e que favoreça sua apreensão pelo leitor - o que pressupõe um trabalho realizado por profissionais competentes desde a coleta ou pesquisa da informação, passando pela estrutura do jornal e sua capacidade de estar conectado com os movimentos e centros 149
Uso para o qual o peso do conteúdo da matéria utilizada é nulo ou indiferente.
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intelectuais150, chegando até a metodologia ( forma de apresentação das matérias ) utilizada para favorecer a compreensão do leitor. Ao analisarmos diferentes jornais, podemos identificar diferenças importantes no que se refere à qualidade do produto pensada nestes termos. Mesmo que se possa fazer uso educativo de qualquer publicação jornalística independentemente do conteúdo desta nos dois sentidos aqui expostos, podese, sem dificuldades, identificar nos diversos produtos disponíveis, sua maior ou menor adequabilidade àquilo que se deseja desenvolver na escola. Pensando no Jornal Folha de S.Paulo - material do Folha Educação - e nos conteúdos diversos que servem para a execução do conjunto de sugestões de atividades que analisamos, pode-se ter um exemplo concreto do que estamos falando. A amplitude dos conteúdos ( tipos de texto, gráficos, figuras, fotos etc. ) unidos à forma de expressão levada ao leitor pelo jornal Folha de S.Paulo, dá a característica deste produto. Este aspecto de uma publicação pode ser o elemento indicador da maior ou menor possibilidade de um tal produto jornalístico ser utilizado num processo educativo. Uma escolha do material baseada nesta análise, estará indicando a potencialidade do produto de oferecer conteúdos desejáveis pela escola e, no entanto, não se estará exercendo qualquer crítica destinada a defender ou criticar um ou outro produto jornalístico. Pode-se identificar, a partir das propostas de atividades do Folha Educação, quais elementos figuram como importantes para o desenvolvimento daquele trabalho ( textos de vários tipos, fotos, artigos, reportagens, gráficos etc. ); devemos observar, contudo, que outras intenções educativas podem exigir outros elementos. Esta questão do conteúdo oferecido pelos jornais a seu público, ganhou destaque importante na obra de Gramsci. Em seu texto sobre "jornalismo", o autor nos mostra a grande importância que atribui ao jornal como instrumento pedagógico. Gramsci, ao construir seu texto, escreveu para o jornal e não para o leitor; desta forma, as reflexões que fez destinam-se a discutir os caminhos 150
Gramsci, Antonio. Os intelectuais e a Organização da Cultura, p. 164. Segundo Gramsci, "é dever da atividade jornalística ( em suas várias manifestações ) seguir e controlar todos os movimentos e centros intelectuais que existem e se formam num país (...) com a exclusão apenas dos que tem um caráter arbitrário e amalucado" Gramsci observa, contudo, que " mesmo estes [ últimos ] com o tom que merecem, devem pelo menos ser registrados".
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para uma prática jornalística bem estruturada. O texto, contudo, é uma busca do comprometimento deste meio de comunicação com a elevação da cultura, o que expressa a visão do autor quanto ao significado do produto jornal para a sociedade. A preocupação do autor quanto à elaboração do jornal remete à sua intenção de estruturá-lo para uso educativo. Neste sentido, diz Gramsci: " Uma revista, como um jornal, como um livro, como qualquer outro modo de expressão didática que seja planejado tendo em vista uma determinada média de leitores, de ouvintes, etc. de público, não pode contentar a todos na mesma medida, ser igualmente útil a todos; o importante é que seja um estímulo para todos." 151 A preocupação de que o produto jornalístico seja um estímulo para o leitor, demonstra a profunda visão de Gramsci quanto à necessidade de que os produtos que se destinam ao público sejam elaborados partindo-se da realidade cultural deste. Desta forma, o autor quer não apenas apontar caminhos que possam favorecer à publicação, no sentido de ganhar e ampliar seu público, mas deseja que esta seja acessível ao leitor para que ele possa dela fazer uso. Conhecer a realidade cultural do público implica em analisar as referências culturais deste; para tanto, torna-se imprescindível pesquisar a realidade de tal público do ponto de vista histórico. Sobre isso, nos diz Gramsci: "Evidentemente, é impossível uma “estatística” dos modos de pensar e das opiniões pessoais individuais ( com todas as combinações que daí resultam nos grupos e nos grupelhos ) que possa fornecer um quadro orgânico e sistemático da efetiva situação cultural e dos modos pelos quais se apresenta realmente o 'senso comum' ; só resta mesmo a revisão sistemática da literatura mais difundida e mais aceita pelo povo, combinada com o estudo e a crítica das correntes ideológicas do passado, cada uma das quais 'pode' ter deixado
151
Gramsci, Antonio, Os Intelectuais e a Organização da Cultura - p. 180
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um sedimento, combinando-se de várias maneiras com as correntes anteriores e posteriores." 152 O Jornal, para Gramsci, deve ter também consciência de outro aspecto da realidade cultural do público: o escolar. Para o autor, o jornal deve estar atento às necessidades existentes neste plano para que possa elaborar conteúdos que favoreçam à superação das mesmas. Para se obter um tal panorama, observa a necessidade de o jornal estar informado sobre os erros mais difundidos, o que pode ser feito reportando-se às próprias fontes dos erros, isto é, as publicações científicas baratas. 153 Um primeiro elemento importante a ser comentado é a intenção de Gramsci de que o jornal ofereça conteúdos destinados à educação do leitor. Esta proposta nos permite dizer que, para Gramsci, a união entre leitor e jornal pode ser pensada a partir desta relação que traz benefícios mútuos. Os leitores, que são para o jornal elementos econômicos, capazes de adquirir as publicações e de fazê-las adquirir por outros
154
, devem receber em troca
aquilo de que têm necessidade. O trabalho do jornal está em identificá-las e corresponder a elas; o resultado deste trabalho deverá ser a conquista e a ampliação do público do jornal.
Tal relação pode nos sugerir outras
implicações: de alguma forma e em alguma medida, o leitor passaria a determinar o que o jornal deve publicar o que o colocaria, na relação, como sujeito que utiliza o produto cultural jornal como meio de educação. Isso pode, no limite, significar mais uma forma de apropriação deste produto pela sociedade. Outro ponto importante é o que se refere às "fontes dos erros", apontadas como "as publicações científicas baratas".
Recentes estatísticas
referentes ao nível de qualidade do livro didático no Brasil nos permitem refletir melhor sobre esta questão. Vamos a elas:
152
Gramsci, Antonio - Os Intelectuais e a Organização da Cultura, p. 175 op. cit. p. 171 154 op. cit. p. 163 153
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Livro Didático no Brasil 155 Fonte: Folha de S.Paulo - Edição de 25 / 09 / 1997 - Caderno Cotidiano A avaliação do governo federal para Livros de 1ª a 4ª série: Ano: 1995 Livros inscritos: 466 Excluídos: 80 Recomendados com ressalvas: 42 Recomendados: 63 Não recomendados: 281 Ano: 1996 Livros inscritos: 454 Excluídos: 76 Recomendados com ressalvas: 101 Recomendados: 47 Não recomendados: 211 Os dados falam por si só156. Vale a pena, para efeito de ilustração, conhecermos um artigo de Ricardo Bonalume Neto, publicado na Folha de S.Paulo - Caderno MAIS - em 09 / 11 / 97, sob o título "A didática Conspiratória". “Um brasileiro de 20, um de 40 e outro de 60 anos, quase certamente têm opiniões bem diversas sobre a Guerra do Paraguai. O motivo é aquilo que foi ensinado a eles nas escolas. O de 60 anos se lembrará do sanguinário Solano López, e de que os brasileiros nada demais fizeram em responder a uma
155
Fonte: Secretaria de Ensino Fundamental Sobre as avaliações que o Governo faz dos livros didáticos, Nilson José Machado observa que "Consideramos medidas desta estirpe francamente inoportunas, estando destinadas apenas a aumentar ainda mais os problemas existentes no setor. Já existem instrumentos e foros adequados para a gestação nas transformações relativas à produção e à forma de utilização do livro didático". Educação e Cidadania, p.124 156
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agressão. Afinal, o primeiro ato da guerra, em novembro de 1864, for a tomada pelo Paraguai do navio a vapor brasileiro Marquês de Olinda em Assunção. O brasileiro de 60 anos poderá também ter opiniões variáveis sobre o Duque de Caxias. Apesar de apresentado a ele como herói, “caxias”, como diz o dicionário Aurélio, também é sinônimo de “pessoa extremamente escrupulosa no cumprimento de suas obrigações”. Já o brasileiro de 20 anos acha que “os ingleses instigaram o conflito” como se lê no livro didático “História do Brasil – 2º Grau”, de Antônio Pedro (Ed. FTD). Esse pós-adolescente aprendeu que “até crianças que lutavam contra os brasileiros foram exterminadas”, conforme Osvaldo Rodrigues de Souza, em “História do Brasil – Vol. 2”, da Ática (curiosamente, ninguém pára para pensar que quem mandou as crianças lutarem em primeiro lugar foi López, e que, como todo brasileiro sabe, uma arma de fogo nas mãos de um adolescente mata tanto quanto nas mãos de um adulto). Já o brasileiro de 40 anos pode ter qualquer dessas visões, ou híbrida, pois faz 20 anos que houve o maior impacto das teses revisionistas. E é essa a geração de historiadores que está agora revisando o revisionismo. “Uma professora chegou para mim com ar sincero, em Ribeirão Preto, e me disse que sentia vergonha de ser brasileira depois de ter lido o livro de Chiavenatto”, diz o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos. “Eu tive a mesma sensação 20 anos atrás”, diz ele. A última edição do livro de Julio José Chiavenatto alardeia na capa: “O livro que mudou a história oficial”. A idéia conspiratória da história que Chiavenatto professa se espalhou como um incêndio pelos livros didáticos. Mas já há sinais de mudança. O livro “Viagem Pela História do Brasil”, de Jorge Caldeira (Ed. Companhia das Letras), também um best seller, não engoliu a tese de que o Reino Unido era ‘o quarto aliado’.” 157 A equipe do Folha Educação não propõe a substituição do livro didático pelo jornal (embora, como pudemos observar - não enfatize a consulta aos livros), propõe o jornal como mais um material a figurar entre aqueles que
157
Sugerimos uma estatística semelhante relativamente às versões apresentadas por um determinado jornal, revista ou outro material qualquer, que seja ou possa ser utilizado na escola, sobre um determinado fenômeno, à luz da história ou da ciência. Isso nos possibilitaria verificar a existência ou não de outras possíveis "fontes dos erros".
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servem à escola. Quando analisamos, contudo, as estatísticas aqui apresentadas e vemos, no texto de Ricardo Bonalume Neto, um pouco dos efeitos da má qualidade dos materiais que servem aos estudantes brasileiros, somos obrigados a considerar que, neste campo da produção de materiais destinados ao trabalho pedagógico na escola, há necessidades de grandes mudanças e, por que não dizer, há a necessidade de que outros atores comecem a atuar.
A referência de Gramsci às fontes dos erros cabe
perfeitamente para analisarmos o possível papel que o jornal pode exercer enquanto veículo que une às suas intenções históricas de atuação, esta de participar de forma sistemática na captação das necessidades do público e fornecimento de materiais que possam satisfazê-las. Gramsci é bastante direto quando se trata dessa participação mais efetiva do jornal no campo da educação. Para o autor, o jornal não só pode como deve dedicar-se a publicar pensando no que deseja construir para elevar o nível cultural do público. Para além dos conteúdos, Gramsci propõe que o jornal publique materiais que devem servir como fontes permanentes de consulta e estudo. Este é o caso, por exemplo, do Dicionário Político-histórico-Filosófico, que, segundo o autor deveria seguir a seguinte orientação: "Em cada fascículo, deve-se publicar uma ou mais pequenas monografias de caráter enciclopédico sobre conceitos políticos, filosóficos e científicos que apareçam freqüentemente nos jornais e nas revistas, e que o leitor médio dificilmente compreende ou mesmo deforma.
Na realidade, toda corrente
cultural cria a sua linguagem, isto é, participa do desenvolvimento geral de uma determinada língua nacional, introduzindo termos novos, enriquecendo de conteúdo novo termos já em uso, criando metáforas, servindo-se de nomes históricos para facilitar a compreensão e o julgamento de determinadas situações atuais, etc., etc.
As exposições158 deveriam ser 'práticas' sto , i é,
deveriam corresponder a exigências realmente sentidas, e ser – no que toca à forma de exposição – adequada à média dos leitores." 159
158
Grifo nosso. Na citação seguinte, Gramsci se referirá a estas mesmas exposições, tratando do aspecto metodológico que deverá orientá-las. 159 Gramsci, Antonio - Os Intelectuais e a Organização da Cultura, pp. 170, 171
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Nesta parte, Gramsci aborda um pouco daquela defesa da importância da matéria atualizada que, nas propostas de atividades do Folha educação, não encontramos correspondência. Ao pensar na elaboração do dicionário citado acima, Gramsci propõe um procedimento metodológico que visa a oferecer ou a complementar a informação no momento adequado. Vejamos o que ele diz: "Estas exposições não deveriam se apresentar de modo orgânico ( por exemplo, em ordem alfabética ou de agrupamento por matéria ), nem de acordo com uma economia preestabelecida de espaço, como se já estivesse em vista uma obra de conjunto, mas deveriam ser estabelecidas, ao contrário, em relação imediata com os assuntos desenvolvidos ( ... ) a amplitude da exposição deveria ser fixada, em cada oportunidade, não de acordo com a importância intrínseca do tema, mas sim com o interesse jornalístico imediato ( tudo isto é dito de modo geral, devendo receber o costumeiro grão de sal ); em suma, a rubrica não deve se apresentar como um livro publicado em folhetins, mas como, em cada oportunidade, uma exposição de assuntos interessantes em si mesmos, dos quais poderá decorrer um livro, mas não necessariamente." 160 Podemos identificar em Gramsci uma justificativa bastante forte para a questão da importância de se trabalhar na escola com matéria jornalística atual - o jornal diário . A proposta de Gramsci neste aspecto, une-se àquilo que o mesmo defende quando sugere que o jornal leve em consideração as necessidades culturais do leitor para definir conteúdos a serem publicados. Mesmo propondo um material que poderá servir permanentemente ao leitor, o autor observa que o mesmo deve ser composto correspondendo ao momento quando poderá ser mais útil; temos aqui uma instrução metodológica bastante interessante e que parece vir de encontro à afirmação de Nilson José Machado, segundo a qual, no texto jornalístico, a impressão de falta de acabamento é largamente compensada pela eliminação da sensação de impotência tão freqüente diante da simples apreciação da obra já concluída.161 160 161
Gramsci, Antonio - Os Intelectuais e a Organização da Cultura, p. 171 Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação. p. 15
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De fato, a possibilidade de obter material de informação que explore conhecimentos aproveitando a ordem dos acontecimentos, da realidade vivida, pode ser, mais que útil, estimulante. Tudo o que apresentamos do pensamento de Gramsci nesta parte, pode nos dar a dimensão do quanto este pensador tem a contribuir para que sejam aprofundadas as ações dos Jornais na escola. Nossa reflexão teórica, contudo, para o momento, não ultrapassará este ponto. As questões centrais as quais nos propusemos enfrentar foram tratadas no limite de nossas possibilidades. Como vimos, são muitos os desdobramentos possíveis quando tratamos de um tema complexo como este e, cientes dessa realidade, consideramos nossas reflexões como uma das muitas contribuições que, esperamos, ainda virão. Por tudo o que apontamos aqui, consideramos poder afirmar que esta iniciativa dos Jornais no campo da educação é bastante positiva. Entendemos que o material jornal tem grande validade educativa e que deve passar a fazer parte dos materiais que hoje são utilizados na escola. Utilizando uma frase de Nilson José Machado, à escola, é pegar ou pegar 162, mas, vale dizer, se pegar, é necessário que a escola se dedique à apreciação detida do material e à elaboração conjunta - com a equipe da empresa jornalística - das maneiras de utilizá-lo com os alunos.
162
Caderno de Sugestões de Atividades do Folha Educação. p. 16
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O jornal serve como material educativo não havendo nada que possa desqualificá-lo em comparação com outros materiais educativos conhecidos e tradicionalmente utilizados na escola. É um material de características próprias que deve ser utilizado de uma maneira específica. Serve como o produto cultural que representa, como portador de conteúdos específicos desejáveis para o desenvolvimento de processo educativo e como material que pode ampliar as possibilidades de abordagem dos mais diversos conteúdos curriculares já trabalhados na escola. Não será possível às empresas jornalísticas, contudo, sensibilizarem professores e alunos para o uso adequado do jornal na sala de aula se a proposta não puder ser apresentada a estes - principalmente aos professores pela via da reflexão pedagógica e filosófica - o campo das concepções de educação. Mesmo que o professor aceite o desafio de trabalhar com o novo material sem desenvolver reflexões como estas, terá que fazê-las sozinho ou, se puder, com os colegas mais próximos e igualmente interessados, já que o uso do jornal interfere nas dinâmicas tradicionais de trabalho desenvolvidas na escola. Não há como fugir disso. Mesmo que fizer tais reflexões, não há como expô-las à avaliação de outros e sistematizá-las se não houver planejamento por parte da escola ou da empresa jornalística prevendo isso. Não há trabalho ou proposta nova que resista à falta de planejamento destinado a pensá-lo e reformulá-lo permanentemente com base nas necessidades. No caso dos programas Jornal na Educação, os mesmos podem vingar como iniciativa do jornal, mas podem pouco representar para o setor da educação se funcionarem sem fundamentos pedagógicos fortes capazes de sustentar sua validade educativa. O trabalho com jornal pode se tornar alvo fácil de críticas de todos os tipos se não houver justificativas fortes e profundas sobre sua validade; tal justificativa só existirá se houver um acompanhamento daquilo que o professor desenvolve em sala de aula. Um acompanhamento significativo e adequado só pode ocorrer, contudo, se houver incentivo ao professor para que além de trabalhar com o jornal, o mesmo faça um trabalho concomitante de pesquisa
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sobre tal uso. O professor, envolvido num processo deste tipo e sendo valorizado em sua participação, poderá ser o elemento central para a construção da fundamentação pedagógica no campo do uso do jornal na sala de aula. Por fim, queremos reiterar a necessidade de que os programas Jornal na Educação sejam elaborados mediante profunda reflexão, por parte dos organizadores/coordenadores do Jornal, sobre educação. Consideramos fundamental que os programas sejam assistidos por cada um dos responsáveis dos vários setores do jornal e não apenas por aqueles ligados ao setor de Marketing. Não há, a nosso ver, outra maneira de transferir para a atividade da sala de aula o conhecimento e possibilidades do uso do jornal vislumbrada por aqueles que, pela experiência que adquiriram em determinado setor do jornal, têm melhores condições de propor e avaliar atividades utilizando os vários conteúdos que um jornal traz. Entendemos também que, mais que desejável, é imprescindível que a escola reflita junto às empresas jornalísticas sobre as melhores maneiras de utilizar o produto em sala de aula. Os profissionais da escola devem ser melhor informados, sensibilizados e preparados para utilizar o material e isso só poderá ser feito, a nosso ver, se forem estruturados grupos envolvendo
professores,
pedagogos,
jornalistas
e
outros
profissionais
interessados com a finalidade de discutir as possibilidades e importância do uso do jornal na escola.
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