Textos de Daniel Comboni
Resposta decisiva Eu não tenho medo da vida nem das dificuldades das missões, nem de nada, mas o que se refere aos meus pais fazme tremer. E é por esta incerteza e consternação que me atormentam que decidi fazer uns exercícios espirituais para implorar a ajuda do céu. Se abandono a ideia de consagrarme às missões estrangeiras, ver-me-ei atormentado toda a vida por um desejo que nasceu no espírito há 14 anos e cresceu à medida que conheci a grandeza do apostolado (Carta ao pároco de Limone, padre Pedro Grana, Verona, 4/7/1857). Terminei finalmente os santos exercícios e, depois de me ter aconselhado com Deus e com os homens, cheguei à conclusão de que as missões são a minha verdadeira vocação. Além disso, o padre Marani, após ter tomado uma visão clara da minha vida e das circunstâncias passadas e presentes, assegura-me que a minha vocação para as missões é das mais claras e evidentes. E, apesar da situação dos meus pais, que eu lhe expus com toda a sinceridade, disseme: "Vá. Eu dou-lhe a minha bênção. Confie na Providência: o Senhor que lhe inspirou este projecto grandioso saberá cuidar dos seus pais e consolá-los". Por isso decidi definitivamente partir no próximo mês de Setembro (Ao mesmo, de Verona, 13/8/1857). Pela minha parte estou disposto a fazer todo e qualquer sacrifício e a sofrer o mais árduo cansaço e incómodo. Até leve e suave se me tornaria o sacrifício do sangue e da vida para fazer com que esta santa obra se realizasse... (Carta ao padre Mazza, Aden, 23/1/1861).
Dificuldades da missão Perante as dificuldades em terra de missão, a vocação robustece-se, como verificaremos numa carta escrita quando da morte do padre Oliboni (Março de 1858): Nós sentimos a imensa gravidade desta perda, porque nos ajudava muito na missão. Mas que o Senhor seja sempre bendito. Por isso nós, ao invés de perdermos a coragem, não recusaremos suor e cansaço para colaborar na conversão da África e para realizar o grande Plano do nosso superior, que é o mais adequado para salvar das trevas e das sombras da morte este povo bárbaro e selvagem... (Carta ao dr. Bento Patuzzi, Santa Cruz, 27 de Março de 1858). Não duvide, querido pai: tornei-me missionário para trabalhar pela glória de Deus e consumir a minha vida pelo bem das almas. E se vir cair todos os meus companheiros, enquanto a prudência e outras não me aconselharem o contrário, permanecerei firme no meu propósito e porei todo o esforço para levar a cabo o grande plano do superior (Carta ao pai, Santa Cruz, 29 de Março de 1858). Sofrimento da separação dos pais Oh, como me aflige o sacrifício destes pobrezinhos ao separarem-se de mim... A quanto sacrifício submeteu o Senhor esta vocação... Mas confirmaram-me que Deus me chamou e parto seguro. Adeus, querido pai, querida mãe, vocês estão sempre vivos no meu coração. Eu os amo e estimo muito porque souberam fazer uma obra heróica que os grandes do mundo e os seus heróis não fazem. Ainda que o mundo os julgue
maus e lhes diga que são uns imbecis, vocês obtiveram uma vitória que lhes assegura a felicidade eterna (Carta aos pais, Siut, 30 de Outubro de 1857). Os generosos sacrifícios que fizeram são para mim sempre motivo de meditação; acredito mesmo que haverá no mundo bem poucos pais mais venturosos do que vocês... Consagraram inteiramente a Deus este filho, que era o seu único património na terra, não reservando para si senão o perene sacrifício do seu afastamento, e também da sua perda por amor de Jesus Cristo... Sofrimento nas acusações contra Comboni A causa da minha prostração está no facto de aquele bom velho estar a SOFRER POR MIM, e a SOFRER SEM RAZÃO. Aprecio agora mais do que nunca a graça de ser católico. A fé é a única força que me encoraja a sofrer por amor de Cristo: sem o coração aquecido por Cristo, certamente que sucumbiria... O Superior nunca me poderá censurar coisas que mereçam a minha expulsão do Instituto (Carta ao mesmo, Lião, 5/1/1865). Declaro perante o céu e a terra que tudo aquilo de que sou acusado é falso... Se o Superior foi influenciado diversamente, faça-se a vontade de Deus; rezarei por ele aos SS. Corações Je Jesus e de Mãtia: nada mais posso fazer; eu amo-o; mas estou algo magoado pelo seu procedimento, que poderia prejudicar a minha obra (Carta ao mesmo, Paris, 15/1/1865). Nesta terrível incerteza da sorte dos meus planos e do meu futuro, encontro grande felicidade em ser católico e sacerdote, e experimento profundamente que Deus é infinitamente bom e que nunca abandona aqueles quen'Ele confiam. Abandono-me confiadamente nos braços da Providência, disposto a tudo, sempre impávido e confiante, suceda o que suceder; firme porém, na intenção de não me declarar separado do Instituto até que tudo se clarifique para mim, e não venha a convencer-me de que ESSA É A VONTADE DE DEUS...
Dificuldades da missão
A minha obra é por si mesma árdua e difíciï e só a omnipotência divina pode levá-la para a frente; por isso coloquei toda a minha esperança no Coração de Jesus e na intercessão de Maria e estou pronto a sofrer tudo pela salvação das nações que me foram confiadas, convencido de que a cruz é o sigilo das obras divinas, desde que não seja provocada pela nossa imprudência ou maldade, e confortado pelo oráculo divino: "Qui seminant in lacrimis in exultatione metent" (Carta ao card. Barnabó, Scellal, 7/3/1875). Vejo e compreendo que a cruz é tão minha amiga e está sempre tão perto de mim, que já há algum tempo a escolhi para minha esposa inseparável e eterna. E com a CRUZ POR ESPOSA dilecta e mestra sapientíssima de prudência e sagacidade, não temo, nem as tempestades de Roma, nem as do Egipto, nem as intrigas de Verona, nem as nuvens de Lião ou de Paris; e inabalavelmente a passo lento e seguro sobre os espinhos conseguirei iniciar e plantar a obra planeada da Regeneração da Nigrícia Central, que todos abandonaram, e que é a obra mais difícil e árdua do apostoJado católico (Carta ao cardeal Alexandre Barnabó, Paris, 25/9/1868).