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Célia Quico, gestora de projectos de TV digital e interactiva

O nascimento do semanário Sol e o renovado Expresso atingiram na primeira semana resultados bastante significativos. Conseguirão os dois coexistir no futuro? Espero que consigam e que o mercado tenha espaço para mais jornais concorrentes. Vai ser difícil para ambos manter os resultados do passado fim-de-semana: um beneficiou do factor novidade e o outro beneficiou do factor DVD. Vamos ver o que valem por si próprios. É gestora de projectos de televisão digital e interactiva. Em que consiste especificamente o seu trabalho? Está a meio caminho entre a produção de programas de televisão e a gestão de projectos de sites ou de outros produtos multimédia. Estive envolvida, por exemplo, na gestão de projecto do Multijogos Sport TV, um serviço que permite acompanhar em simultâneo quatro jogos da Liga dos Campeões. Sempre que possível lanço novos projectos: destaco o serviço MTV Europe Music Awards Lisboa 2005, que permitiu aceder a conteúdos extra relacionados com este, de forma semelhante ao que acontece num DVD. Outro projecto é o serviço de Áudio-Descrição em filmes portugueses, destinado a cegos e amblíopes. Consiste numa narração adicional à banda-sonora do filme, na qual são descritos os detalhes visuais mais importantes para a compreensão do plano ou da cena. A TV Cabo tornou-se, em 2001, um dos primeiros operadores no mundo a lançar um serviço de televisão digital e interactiva, tendo sido o primeiro a nível mundial a oferecer a funcionalidade de gravação de vídeo digital numa set-top box por cabo. Para quando um serviço de Televisão Digital Terrestre (TDT)? Gostaria que viesse a acontecer em breve. Acredito que a concorrência vai beneficiar as empresas do sector e os consumidores. Entre as vantagens da TV digital destaco a melhor qualidade de imagem e de som, a existência de mais opções, inclusive com a possibilidade de distribuição de canais de âmbito regional ou local. Podem ainda usufruir de serviços interactivos, como jogos, guias de pro-

gramação, aluguer de filmes ou de programas. Com base nas últimas informações publicadas, é provável que só em 2008 os portugueses possam ter acesso à TDT . Esta é uma estimativa optimista atendendo a todos os passos do processo: lançar concurso público, seleccionar melhor proposta, operacionalizar o projecto, etc. Trinta e cinco por cento dos lares são assinantes de TV paga via cabo ou via satélite, o que significa que em quantidade e qualidade, quase dois terços dos lares portugueses estão mal servidos de televisão. Depois de um primeiro concurso abortado para o “lançamento” da televisão digital terrestre, adiou-se o lançamento de novo concurso devido, primeiro, às mudanças dos governos e, depois, à oferta pública de aquisição (OPA) lançada pela Sonaecom sobre a PT. Estará Portugal a tempo de cumprir as metas de Bruxelas para o switch off (desligar o sistema analógico e ficar unicamente com o digital)? É provável que Portugal seja o País mais atrasado da União Europeia neste capítulo. Não será fácil recuperar o tempo perdido até 2012,

data proposta pela Comissão Europeia para descontinuar o serviço de TV analógica. Além de todos os passos processuais do concurso há ainda a ter em atenção que para receber o sinal digital vai ser necessário comprar novos televisores ou caixas descodificadoras. Esta reconversão não se faz da noite para o dia. “Depressa e bem, há pouco quem”. Excepção feita ao Obikwelu, como é evidente. Começou a sua carreira como jornalista. Deixou de exercer por alguma razão em especial? Sou muito curiosa e tenho horror à rotina. O jornalismo é uma boa profissão para pessoas que sofrem destes males. Tenho múltiplas paixões para além da escrita: a leitura, a pintura, o desenho, o design gráfico, a fotografia e o cinema. O multimédia agrega estas paixões e mais algumas, com a vantagem de ser interactivo e potencialmente participativo. Hoje consomem-se cada vez mais Media em simultâneo. Que desafios se apresentam à imprensa escrita para manter a fidelidade dos seus leitores? O problema é a diminuição subs-

O que deve ser um serviço público de televisão? “Educar, informar e entreter” é a máxima da BBC desde o seu início e é certeira como poucas. O presidente da BBC Worldwide Américas, Mark Young, afirmou que “uma TV Pública tem que ser do bom. Isto é, fazer com que o bom seja popular e o popular seja bom”. Como interpreta os fenómenos Floribella e Morangos com Açúcar? Prefiro interpretar as interpretações e os interpretes destes fenómenos. O problema de muitos deles é que baseiam os seus juízos em preconceitos, em vez de estudarem os fenómenos de forma séria e rigorosa. Assim, partem do princípio que as crianças e jovens são completamente permeáveis à influência dos conteúdos de TV em vez de investigar devidamente o assunto, sustentando a sua interpretação em investigação empírica. Prefiro prestar mais atenção ao facto de serem precisamente as faixas etárias dos 4 aos 14 e dos 15 aos 24 anos as que menos vêem Televisão. Ricardo Rosenheim Rodrigues

Torre de Belém online Em 1995, antes de terminar a licenciatura em Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa, já fazia jornalismo. Célia Quico passou pela imprensa nacional e regional, rádio e televisão. Natural da Nazaré, desde 2000 que tem por funções a gestão de projectos de serviços digitais e interactivos da TV Cabo Portugal. Em representação desta operadora leccionou em pós-

-graduações e num mestrado da Universidade Lusófona de Tecnologias e Humanidades, em Lisboa. Em Julho de 2003, iniciou estudos para um doutoramento em Audiovisual e Media Interactivos na Universidade Nova de Lisboa. Dos diversos projectos em que participou o destaque vai para a gestão dos web sites do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém.

JORNAL DE LEIRIA | 21 DE SETEMBRO DE 2006

tancial do número de leitores nas camadas jovens. A crescente utilização da Internet explica em grande parte esta diminuição. Mas julgo que é errado vê-la como uma ameaça. A Imprensa, pode e deve tirar partido da net como meio de publicação de conteúdos noticiosos e de publicidade, mas sobretudo como meio de interacção com o seu público.

DR

“Educar, informar e entreter” é o que deve ser um serviço público de televisão. Célia Quico desenvolve projectos em torno da televisão digital e interactiva. Porque, excepto Obikwelu, “depressa e bem há pouco quem”, uma rede terrestre de TV digital em Portugal “só é provável” em 2008. Natural da Nazaré, diz que é um erro pensar que a Internet é uma ameaça à imprensa escrita.

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Dois terços dos lares portugueses estão mal servidos de televisão

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