Seis Contos

  • October 2019
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  • Words: 689
  • Pages: 3
Seis contos das últimas letras Eis o que diz o vento: I Barco-(o) Ombro-(o) Orquídea-(a) Arame-(e) Elevador(r) Rumo (o) Ontem(m) Matiz(z) Zonzo (o) Oleosidade (e) Esterilização (o) Ovacionar (r) Raspagem (m) Mortal (l) Lâmina (a) Abluir (r) Rosnar Rabanada Aboletar Rasteiro Onde Envergadura Assadeira Açafrão Obituário Ojeriza Atavismo Oscilar Rasteiro.

Aquele tal barco(1) não valia muita coisa.Poderia ser vendido por um preço razoável se fosse consertado.O preço do conserto não era tão caro assim, mas o fato era que o tal barco não valia muita coisa. Ele não podia mais remar o tal barco, pois tinha um problema no ombro(2) esquerdo.Uma queda de cavalo na fazenda do amigo.Ele achou que podia abaixar um pouco mais para pegar a tal orquídea(3) para sua esposa que gostava de rosas.Ele talvez tenha abaixado em demasia numa velocidade considerável.Ele se lembra do fato de que chegou a tocar na tal flor quando foi projetado no ar.Ele também se lembra do fato de que deu com a cara na cerca de arame farpado antes de desmaiar completamente.Ele se lembra do fato de que ficou alguns dias no hospital, público por excelência, engessado da cintura para baixo.Ele se lembra da comida do hospital que tinha o gosto de nada.Lembra-se ainda do fato de que havia recobrado os sentidos dentro do elevador.Ele viu a tal enfermeira gorda que o olhava com descrença. Ele seguia seu rumo naquela maca que nada representava para ele agora.Ele e a impressão embaçada das coisas ao seu redor.Um feixe de cores frias com matizes delicados agora se abria em sua mente.Ele zonzo procurava se recordar do que havia feito antes do acontecido.Lembrou-se do tal barco e do fato de que costumava pescar sozinho na solidão daquele mar quase sempre tão calmo.Gostava de sentir assim como se estivesse vazio na imensidão das águas. A palavra vazio era para ele mais do que meramente uma palavra qualquer.Ela carregava o peso de sua angústia que agora sai daquela vastidão oceânica e se aloja naquele corpo estranhamente oleoso,repleto de uma combinação feliz de cremes para rejuvenescimento,aquele corpanzil agora invadido pelos instrumentos cirúrgicos esterilizados. Limpeza,assepsia,esterilização.Estas palavras penetravam em seu corpo com a precisão de um bisturi e ele agora era aquele tanto de carne invadida por um mero objeto.Os espectadores ao ovacionar aquele homem pela sua enorme contribuição para o estudo de línguas indoeuropéias.A descoberta inédita de um novo dialeto falado naquela sempre misteriosa região.Ele que se dirigia elegantemente em direção ao tal palco para receber o prêmio.Ele tropeça e cai como aquele barco furado que aos poucos vai afundando em sua mente que agora desemboca em algum lugar longe dali. Ele completamente zonzo a tatear a vida naquele instante no qual se lembra de sua falecida esposa a raspar os seu bigode e também aqueles tais pêlos pubianos quando da operação naquele local tão delicado.Ele

se lembra também daquele infarto fulminante que a matou a mesa do jantar.Aquele jantar fatídico,único, eles tão felizes com a possibilidade de morar no exterior.Aquele dia mortal marcado para sempre em sua alma.Aquela imensa cicatriz que lateja até hoje.Ele tentou se matar várias vezes e sempre sonha com uma lâmina afiada cortando o seu pescoço de uma só vez. Ele agora ajudado por muitas pessoas ao redor.Ele se dirige ao tal palco e vê que sua esposa o aguarda.Ele extasiado abraça o vento e ela o pede para que ele viva e produza intensamente.Ele agora mais recomposto e visto com certo desdém em função do tombo e da estranha gesticulação no tal palco.Ele agora toma o microfone nas mãos e fala sem saber o que está falando. Aquele barco que afunda lentamente naquele oceano vazio.Ele ainda tem tempo para terminar a sua cerveja.Ele agora nada de volta à praia.Ele sentado na areia branca com o espírito abluído na mais profunda temperança.Lembra-se do que disse naquele palco quando ouvia a voz de sua mulher.Ela falava através dele onde quer que fosse.Ele sentado na areia como um barco afundado que não poderia ser vendido jamais a pedido da mulher. Ela gostava de fazer rabanadas.Ele gostava de comer as referidas no dia seguinte.Ele gostava do Natal, mas não se lembrava de Jesus Cristo.

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