Rpg - Ebook - O Chamado (conto)

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  • Words: 1,876
  • Pages: 2
O Chamado Já era madrugada, Teriel estava fazendo um favor para uma amigo da Chama, buscando indícios de uma criatura misteriosa que algumas pessoas afirmaram ter visto na região, mas já fazia quase 3 horas que ele andava vigiando o bairro sem nenhum sinal aparente, Teriel olhou à sua volta, estava num bairro pobre alguns bêbados e prostitutas andavam pela noite e ele pensou se realmente valia a pena salvá-los, foi então que lhe ocorreu um pensamento estranho: Se eles soubessem da guerra que era travada todos os dias, em suas casas, uma guerra contra criaturas saídas de seus piores pesadelos, se eles soubessem da verdade será que continuariam a errar? Se soubessem o quão valiosa é sua alma.... sacudindo a cabeça Teriel acordou de seus devaneios rindo de si mesmo, parece que estava adquirindo a paranóia crescente, que tem boa parte dos membros da Chama, afinal é só alguém falar que viu uma sombra em algum lugar, e já começam a mandar agentes nessas buscas inúteis. Já se conformando com a noite perdida, ele se preparou para ir embora quando algo o fez parar....uma sensação que a muito tempo não sentia, como se algo estivesse lhe observando, Teriel sabia que a última vez que sentiu essa mesma sensação ele ainda era um captare, mas isso foi há muito tempo, olhou à sua volta e não viu nada demais, somente mortais, era engraçado como Teriel ainda se referia aos humanos em geral como “mortais”, talvez nunca se acostumasse totalmente com o fato de agora ser um deles. Foi quando ele olhou na direção de uma pequena rua deserta, a imagem que ele viu durou apenas um segundo antes de desaparecer, mas um segundo era mais do que suficiente para saber quem era o vulto: era Boris Uzher... Ainda atordoado pela visão, Teriel correu em direção ao beco, ele sabia que Boris só era achado quando queria e que não estava ali por acaso, Teriel se tornara a caça e não gostava disso. Ironicamente o beco para onde se dirigiu ficava perto de uma pequena capela, Teriel se espantou ao notar que era um lugar de fé pelo tênue brilho que exalava, um fato cada vez mais raro nos dias atuais. Teriel sabia que Boris era extremamente forte e que poderia usar a energia na pequena capela para chamar alguns anjos, anjos de verdade para lidar com ele, o que o bom senso fortemente recomendava, mas seu orgulho falou mais alto ele seguiu mesmo sabendo que poderia não retornar. Teriel sentiu o cheiro de corrupção do demônio assim que pisou no beco, Boris apareceu num canto do beco, suas roupas finas contrastando com a sujeira à sua volta, os olhos faiscando de ódio. - Ah Teriel, meu, valente Teriel, parece que você não perdeu seu faro canino não é? Mas devo confessar você demorou mais do que eu esperava para me perceber. - Tenho certeza que você não está aqui para falar de mim Boris, o que você quer?

O vampiro deu uma longa risada e olhou com desprezo: - Isso é forma de tratar um velho amigo? Com todo o trabalho que me deu achá-lo, não vai me dizer que ainda está aborrecido comigo por causa de Jiliel, está? Você ainda não esqueceu essa besteira?

Teriel se lembrava, jamais se esqueceria, Boris havia emboscado e matado Jiliel, o amigo mais fiel que Teriel já teve, o mais próximo que já teve de um irmão, não ele jamais esqueceria a visão das asas arrancadas dele deixadas ao lado de seu corpo como um desafio nunca respondido. Notando que havia conseguido seu intento, Boris sorriu. - Eu me lembro que ele não pode ser “resgatado” não é? Morrer daquela forma deve ter sido horrível , Boris fez uma careta imitando compaixão. - Mas se serve de consolo, saiba que você me causou um mal muito maior que esse... Teriel se assustou: - De que você está falando afinal? O rosto de Uzher se contorceu de ódio. - Seu pequeno bastardo, você não se lembra não é? Não... foi apenas mais uma caçada dos escolhidos , a destruição do mal não é? A sua maldita cruzada! Boris levantou os olhos como se buscasse algo em sua memória: - Tente se lembrar... uma caçada na Rússia, a cerca de cinco anos, uma mulher Katrina na região de.... antes que Boris terminasse Teriel se lembrou.. - A então é isso? Eu me lembro, uma demonologista, não é? Uma prostituta que se vendeu em troca de míseros dons infernais, uma caricatura de ser humano que fizemos o favor de exterminar. Na época Samantha viu um brasão em um documento na mansão que julgou pertencer a um demônio das altas castas, mas na época não demos atenção. - Não ouse dizer o nome dela, seu monte de lixo! Você é indigno de sequer lembrar do refúgio onde ela morava! Ao ver o descontrole de Boris, Teriel se sentiu mais confiante. - Boris não vamos perder tempo, ambos sabemos onde isso vai terminar, há muito tempo isso vem sendo adiado, não vamos perder tempo inventando desculpas. Reassumindo sua postura o demônio fez uma reverência e se afastou. Como se um sinal fosse dado, Boris saltou em direção a Teriel como um animal, ele mal teve tempo de se preparar para o choque inevitável. Valendo- se de sua velocidade e força Boris agarrou o caçador e o arremessou contra a parede do beco, o que se ouviu então foi o som de ossos se partindo, a coluna de Teriel para ser mais exato, que caiu como um peso morto, seu sangue escorrendo. Boris parecia surpreso com aquilo e depois de um momento abriu um largo sorriso. - Então os boatos são verdadeiros ao que parece, o ca-

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pitão mais renomado dos captare, a lenda dos campos de paradísia, se tornou um morta ?! Se tornou... gado!? Há! Que dia glorioso! - Olhe pra você Teriel, tsc... eu quase sinto pena.... ao dizer essas últimas palavras Boris explodiu numa risada que mais parecia o som de um animal ferido. - Não preciso de sua pena, resfolegou entre os dentes. - Tolo! Você abriu mão do poder divino, preferiu se tornar um mortal! Deveria pelo menos ter se unido a nós, agora é uma paria em dois mundos. Teriel sabia que precisava ganhar tempo enquanto seus dons o curavam; - Eu não reneguei a Deus só escolhi lutar em seu nome da minha forma e num lugar onde pudesse ser mais útil. - Palavras bonitas, nada mais, você não era nada pra mim antes Teriel, e muito menos agora que é um humano, olhe pra você, deitado num beco escuro, sangrando como um porco, tenha dó e morra como o reles mortal que agora é. Ele sabia que Boris tinha como fazer o que disse, afinal era mais forte, mesmo quando era um imortal, mal se comparava a ele. Precisava ser mais esperto, sabia que o ódio de Uzher seria uma arma poderosa, foi quando lhe ocorreu um detalhe, um ás na manga que Boris não sabia. Pensando nisso, Teriel cambaleando se pôs de pé. - Se acha que pode, venha me pegar. Boris pareceu se deliciar com a cena, suas palmas ecoaram como tambores no beco. - Bravo! Mesmo no último ato ele mantêm sua pose. Parece que nosso “anjo” ainda tem alguns truques, pois veja o que faço com seus truques! Boris se afastou , retornando sua forma demoníaca, aproveitando esses segundos de vantagem, Teriel investiu contra o demônio, sacando a espada curta que levavaem uma bainha presa às costas, golpeando levemente o ombro do vampiro, urrou de dor ao toque da lâmina, involuntariamente levando a mão ao local onde foi golpeado, aproveitando essa distração, Teriel aplicou uma segunda estocada, desta vez no lado do peito do demônio, puxando a lâmina em seguida com toda a força que lhe restava, mal teve tempo de ver as garras negras que lhe rasgaram as costas, o caçador recuou, abençoando pela centésima vez o ancião que lhe dera a espada no Cairo. Ofegante mas sem poder conter o sorriso, Teriel olhou para Boris e disse: - O que foi Uzher, o ombro ainda dói? Ele se referia ao ferimento que ele mesmo causou em Uzher anos atrás com sua lança celestial, Teriel sabia que esse ferimento jamais fecharia completamente. Ele conseguiu o que queria, Boris agora atacava como um animal furioso e sem direção. Teriel tinha que se aproveitar da situação e se posicionou na porta da pequena capela, pensando por um momento na dor que iria sentir em seguida. Mais uma investida do demônio contra Teriel dessa vez o empurrando através da frágil porta de madeira da capela, pedaços de madeira cortando suas costas. Ainda seguro pelo demônio, ele cravou fundo a espada onde deveria ser o coração da criatura, se é que ela possuía um, sendo arremessado contra os bancos da pequena igreja logo em seguida, ao cair Teriel percebeu que sua per-

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na estava quebrada, se seu plano desse errado, seria seu fim, num segundo ele pensou nas diversas possibilidades de falha que seu plano apresentava. Será que Boris não tinha guardado seu coração em algum lugar seguro através de um ritual como vários vampiros e demônios faziam? Será que havia acertado o golpe? Naquele momento quando a vitória parecia inevitável, Boris com um gesto recuperou sua pose, uma figura impressionante a despeito da espada que lhe atravessava o peito. - Que lugar irônico para terminarmos séculos de conflito, não é? Aproveite e faça as pazes com seu Deus, pois agora você vai morrer, e tenha certeza que seu tormento só está começan... Boris parou como se fosse atingido por uma força invisível, as palavras morreram em sua garganta, e ele segurava fortemente o ombro ferido, quando dele jorrou um fio de sangue negro. Ainda no chão Teriel se apoiou na parede. - O que foi Boris, algum problema? Você não me parece bem. Mas antes que pudesse responder, o demônio caiu de joelhos , agora seu peito sangrava enquanto ele inutilmente tentava conter o corte com as mãos,e em poucos instantes aquela substância pútrida saia de todas as partes de seu corpo, o que continuou até que nada mais restasse do demônio. Teriel ficou parado por alguns momentos respirando com dificuldade, ele mal acreditava que mesmo sem boa parte dos poderes que já tivera, a despeito de sua mortalidade havia vencido um demônio poderoso, ainda nervoso, começou a rir como um louco, o que diriam seus antigos amigos celestiais se o vissem agora? Talvez nem eles acreditassem. Em pouco tempo ele conseguiu se acalmar o bastante para conseguir se concentrar e regenerar a perna quebrada. Ele se levantou ainda sentindo a perna um pouco dormente e saiu o mais rápido que pode da capela, precisava pensar. A polícia logo estaria ali, mas esse era o menor de seus problemas; a morte de um demônio influente como Boris Uzher certamente não passaria despercebida, podem haver retaliações, era hora de reunir seu antigo grupo e decidir que rumo tomar, mas não havia tempo de pensar nisso agora, tinha ferimentos que precisavam de cuidados, e se Teriel bem se lembrava, perto desse bairro ficava uma fortificação da Chama, talvez lá alguém pudesse ajudá-lo...

Fernando Menezes

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