Xadrez – Jogo da Destruição Kabael estava andando, era final do século. Século XIX, uma época boa para qualquer ser ambicioso... Igreja... A igreja estava perdendo espaço, a tecnologia estava dominando tudo. As máquinas eram a maior descoberta do homem, as manufaturas destruíam qualquer tipo de trabalho artesanal existente, Kabael teria que se atualizar, e rápido. O mundo estava engolindo aqueles que não o acompanhavam. No começo não gostou da idéia, mas logo percebeu que junto a ela, o viu metal havia se tornado ainda mais valioso, o escambo se perdeu no passado, a ordem dos Illuminati estava dominando tudo o que era mundano. Kabael era um anjo recípere poderoso, tinha pouco mais de meio milênio de vida, ele era um amante do homem, ou melhor, ele se utilizava dos homens, ele era... Um mercador de almas... Andando por uma das centenas de avenidas de Londres, estava indo a direção ao seu negociante, um grupo de vampiros strigoi que queriam a destruição de dois magos que estavam ali na região. Eram dois membros da escola de Pyros, Kabael sabia que tinha de ser rápido, pois, ficou sabendo que um grupo de Captares estava para descer a Terra para julgar os magos, e possivelmente assim os vampiros teriam seu serviço de graça. Caminhando em frente a um prédio viu com o sol se pondo os vampiros preparando o pagamento, quilos e quilos de dinamite, tudo isso em um prédio de subúrbio de apenas seis andares, lá moravam diversas famílias, mas em especial uma pessoa, uma pessoa santa, uma alma, uma alma santa, altamente recomendada para seus rituais de purificação. Andou mais trinta minutos e viu o local onde os magos estavam, era uma mansão do século passado muito bem protegida por capangas e por magias. Analisou a mansão com alguns rituais e alguns artefatos que possuía, depois se distanciou ao ver que os captares haviam chegado, eles estavam em cinco, então o serviço possivelmente era mais difícil do que ele pensava. Kabael resolveu deixar os caçadores entrarem, e deixar eles fazerem parte do serviço. Os Captares entraram levitando sobre o portão, eram novatos Kabael pensou, pegaram um frasco, possivelmente uma poção, e lançaram sobre a parede direita da mansão, um buraco de pouco mais de um metro e meio se abriu na parede sem nenhum ruído. Os cinco passaram, o recípere se sentou em um banco na calçada e esperou pelo menor ruído, quando o mesmo ocorreu ele se levantou calmamente, limpou suas calças com tapas leves no tecido fino e rumou em direção ao buraco que se encontrava na parede. Entrou, era um corredor comum, com alguns castiçais com velas apagadas, o cheiro de amônia e enxofre eram de matar um humano sufocado, puxou do bolso um anel altamente ornamentado em forma de uma pequena chama de vela e continuou, a relíquia iria lhe dar imunidade sobre danos naturais por fogo, sabendo disso também conjurou sobre si mesmo um ritual de frio espiritual, ao qual sempre que uma magia de fogo ou terra fosse lançada sobre
ele ofensivamente, teria parte do efeito arremessado em Spiritum. Ouviu o som de pistolas e espada, gritos de dor e explosões vindas do porão logo abaixo de seus pés, abriu o sobretudo que vestia e retirou uma pequena cruz de argila de bolso interno, recitou alguns cânticos em devoção a Demiurgo, colocou a cruz no chão, entre os pedaços de pedra e fez o sinal da cruz. Ao fazer isso sacou um florete negro, do mais puro Hadjar, o metal negro da ordem Petra, apenas aquela singela arma havia lhe custado um século e meio de buscas, perseguições e fugas pelo continente árabe. Com a arma em punho, se concentrou em seus inimigos e conseguiu saber a posição de cada um, quando o pensamento tinha lhe acabado de lhe passar pela cabeça, a pequena cruz de argila se desfaz em pó, e Kabael atravessa o chão como se este mesmo deixasse de existir. Ao descer Kabael tem confirmação da posição dos anjos e dos magos, havia ainda quatro anjos em combate, e apenas um mago e um acolito, os anjos estavam de costas para ele, um deles exatamente a sua frente outro um pouco para a esquerda, outro junto ao mago lutando com uma maça e outro se preparando para atacar o acolito do outro lado da sala. Sem ao menos dar chance ao anjo à frente de se preparar, Kabael cruza o peito do mesmo como se a espada fosse uma estaca, ele a retira ao mesmo tempo em que se concentra em um de seus poderes. O anjo a sua frente com o susto, vira-se e tem sua garganta retalhada por dois golpes de precisão. Sentindo a mente fraca afetada pelo poder do recípere, o mago cai no chão, deixando-o a mercê do anjo, o anjo o golpeia na cabeça com uma única joelhada e o mago cai desmaiado. Vendo seu mestre cair, o acolito com a pistola atira ao mesmo tempo em que tem sua perna decepada por um golpe de machado do anjo que estava a espreita, o fogo da pistola faz com que parte do ar a sua volta entre em combustão dando o efeito de fumaça na trajetória da bala. O recípere estava se preparado para atacar novamente, agora só restava dois anjos de pé, mas um deles estava seriamente ferido por causa do tiro que o acolito lhe acertou, então Kabael concentra-se novamente e suga o pouco de vida que ainda restava no anjo ferido, este mesmo caindo inconsciente. Agora havia apenas o anjo armado com o machado, seria fácil já que sua arma era muito mais leve e precisa do que a do captare, o anjo atacou, ele era rápido, o recípere com sorte consegue aparar o golpe. Em contra ataque Kabael ataca em estocada o captare, mas este mesmo se esquiva com facilidade. O captare atacou novamente, só que desta vez mais rápido ainda, Kabael bloqueia, mas seu florete acaba se desprendendo de sua mão, e caindo no canto da sala, vendo-se com as mãos nuas e o anjo preparado para o golpe final, o recípere se concentra novamente e retira parte da força do anjo, a reduzindo em quase três vezes, e aumentando a sua em três vezes, vendo-se em situação de forças iguais Kabael da um salto para o lado e puxa uma mesa em direção ao anjo. Sentindo-se ofendido, o captare quebra a mesa ao meio enquanto Kabael se concentra novamente em retirar a força do captare, e novamente a força do anjo é retirada, desta vez, mais metade da força do caçador foi retirada, agora com vantagem corporal e com muitas vezes mais a sua verdadeira força, o 1
recípere apara o próximo golpe do captare segurando no alto do cabo do machado, com uma vantagem de força muito maior, Kabael faz um duelo de forças e faz o captare se ajoelhar, e em um ultimo esforço mental retira o pouco de força que o anjo ainda tinha, deixando-o desmaiado. Ao ver os oponentes caídos, imediatamente o recípere começa a preparar um circulo de aprisionamento de espíritos, com a ajuda de alguns itens mágicos e poções recém preparadas, em poucos segundos o local estava totalmente seguro contra a fuga dos espíritos dos corpos dos anjos e magos. Kabael primeiramente vai até o captare que se utilizava do machado, pegou a sua arma e decepou-lhe sua cabeça. Puxou dois ou três frascos alquímicos e recolhe o sangue rubro que se espalhava pelo aposento. Repetiu o procedimento com todos os corpos na sala. Pegou alguns diamantes totalmente banhados em prata e conjura com alguns provérbios babilônicos arcaicos, uma poeira fria que sobe levemente sobre o aposento, mostrando a Kabael os cordões de prata dos magos, e os cordões cristalinos dos anjos. Se utilizando de seu florete negro, Kabael embebe a lamina da arma com uma poção e começa a cortar cordão por cordão de cada um dos inimigos. Esta sena se repetiu dez vezes, e com os diamantes prateados nas mãos, dez para ser mais exato, ele começa a realizar rituais antigos e esquecidos para prender a alma de cada um dos seus inimigos nesses amuletos. Após algumas horas de rituais e outras mais de pilhagem à mansão dos magos, Kabael desfaz o circulo, pega uma tocha, e com um ritual que negociou com um anjo mulçumano do fogo há mais de dois séculos atrás enquanto fugia dos membros da Ordem Petra, carboniza toda a sala, deixando apenas os esqueletos ou suas cinzas como prova do ocorrido. Ao sair, ele se concentra no porão e tenta com seus poderes visualizar e sentir as emoções do que ocorreu ali, assim, limpando o local de qualquer rastro possível. Usando-se de seus poderes mentais, Kabael sai invisível pelo mesmo local que entrou, mas agora com mais dez almas para sua coleção, armas mágicas, poções, alguns pergaminhos... Kabael poderia dizer que o dia foi bom, mas ele sabia que iria melhorar. Chegando ao beco, um ponto de encontro com os vampiros, Kabael entrega o crânio dos dois magos ao grupo de vampiros e os rituais previamente combinados. Os vampiros dizem que está tudo pronto e que exatamente ao nascer do sol o prédio ruiria. Apenas com um consentimento com a cabeça o recípere se vira e entra no meio da multidão. Às cinco horas da manhã, o recípere sai de sua meditação e começa a se preparar para o que viria. Sabia que possivelmente o prédio estava totalmente protegido por anjos, por isso mesmo que Kabael achava aqueles vampiros estranhos de mais, ele não conseguia entender até agora como os vampiros colocaram as bombas na base do edifício... Mas pouco lhe importava, para ele a única coisa que lhe importava eram aquelas almas. Saiu de seu apartamento e foi em direção ao prédio que logo ruiria. Quando os primeiros sinais do sol entraram pelo horizonte, Kabael puxou seu florete e entrou no edifício, abriu suas asas um pouco e em um salto voou entre as escadas. Chegando próximo ao quarto viu dois anjos vestidos como pessoas comuns dentro da casa pela janela,
bateu com o cabo do florete levemente na porta, e quando ouviu que o anjo estava próximo à porta, o recípere atravessa o florete mágico pela porta acertando o anjo com precisão em sua garganta. Ouvindo o anjo cair no chão, o recípere pega o frasco com o sangue do captare morto recita alguns versos e o bebe, ao fazer isso, sua força se iguala a do que era a do caçador. Kabael derruba a porta com um encontrão e pega um anjo de surpresa, o recípere sem ao menos pensar decepa a cabeça da criatura alada, e parte em direção ao quarto do santo. Quando esta indo em direção ele levita com o poder de suas asas e o prédio começa a ruir, rapidamente ele sai pela janela quase sendo acertado pelo golpe de outros três anjos. Do lado de fora, com a poeira ainda torrencial cobrindo os olhos, Kabael usa seus poderes em Spiritum e vê a alma santa se desprendendo de seu corpo. Imediatamente o recípere alça vôo em meio ao nevoeiro marrom e crava uma rosa negra no “coração” do espírito. Sabendo que não tem muito tempo, Kabael puxa seu sabre e retalha o espírito em milhares de pedaços com a ajuda de um ritual. Vendo os pedaços suspensos nos planos espirituais o recípere faz uma curta oração a Deus e fecha os olhos, ao abri-los logo depois, vê a rosa negra ficando de ponta cabeça como um pendulo e os pedaços da alma irem até ela em uma vibração tão forte, que uma lagrima corre do rosto do negociante de almas... Enquanto a alma ainda era sugada, Kabael vê um portal se abrir em meio à poeira. Com a alma toda sugada dentro da singela rosa, Kabael se joga ao meio dos escombros e com seus poderes de metamagia, envia todos os seus itens para sua casa, ficando apenas com o machado mágico que havia conseguido horas antes. Projetou sua alma para longe do corpo, em simulação de desmaio e começou em Spiritum a fazer um ritual para amenizar as marcas dos pecados que cometera. Minutos depois, Kabael volta ao seu corpo, estava deitado em uma cama em um lugar que ele não conhecia, cercado por cerca de oito anjos de expressões serias. Mal abriu os olhos já lhe perguntaram: – O que aconteceu? Por que estava no prédio naquele momento? O recípere ainda tonto pela viagem pelos reinos espirituais praticamente ignorou o anjo e foi ao banheiro, lavou o rosto, e voltou ao quarto, sentou-se na cama e começou; – Estava passando pela rua, seguindo alguns vampiros de uma investigação que estava fazendo, um deles portava um machado, ao qual vocês já devem ter visto, seguindo o artefato angelical, vi eles atacando maciçamente as estruturas e os anjos lá dentro presentes. Alcei vôo para poder ajudá-los, mas incrivelmente fui surpreendido por alguns dos malditos e cai desacordado, o resto da historia vocês já sabem. – Deite e repouse – disse uma anjo, ela era muito bela, e tinha o pecado em seu olhar, Kabael não disse nada, apenas se deitou e descansou. -------------------------------------------------------------------------------Este conto é o primeiro que enriquecera o personagem Kabael, integrante do projeto BLT da cidade de Osasco/SP. “Para aqueles que acreditam em mim” 2