Revista .txt Maio De 2009

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conhecimento em construção

Maio de 2009 Ano II - Número 5

UFSM chega à Quarta Colônia

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sumário 4 entrevista

Paulo Burmann e Felipe Müller falam à .txt sobre suas propostas para a UFSM nos próximos quatro anos. Por: Luciana Rosa

geral 8

A Comissão Pró-canecas, que apoia a substituição dos copos descartáveis no Restaurante Universitário (RU), já obteve conquistas. No segundo semestre, as canecas já devem ser vistas no lugar dos copos descartáveis. Segundo a chefe do setor administrativo do RU, Dione Pittella Siqueira, 10 mil canecas foram encomendadas por licitação. Elas serão usadas na unidade do campus, na do centro e na que está sendo construída. Três máquinas de lavagem devem ter a licitação publicada até o final de maio. O Programa de Educação Tutorial (PET) e o Comitê Ambiental da Casa do Estudante Universitário (CEU II) compõem a comissão, que tem o apoio do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

Como funciona o setor de vigilância da Universidade e que mudanças o REUNI traz à área de segurança. Por: Milena Jaenisch e Saul Pranke

11 comIncidência

de dentro para fora 12

A polêmica da passagem estudantil e os benefícios aos alunos em Santa Maria e em Pelotas. Por: Larissa Drabeski

Pesquisas da UFSM auxiliam agricultores no aumento da produção de arroz com baixo custo. Por: Paula Pötter

13 de fora para dentro

Falta de funcionários e poucos doadores: a transferência das doações do Hospital Universitário para o Hemocentro e seus impasses. Por: Murilo Matias

19 categorias

As mudanças na eleição para reitor: o voto paritário como opção democrática. Por: Letícia De La Rue

CAPA 14

À margem esquerda do Rio Jacuí será inaugurada nova unidade de ensino superior da UFSM. Por: Gabrielli Dala Vechia e Juliana Frazzon

20 cultura

A arte dramática ultrapassa o arco da UFSM e leva os atores formados pela Instituição aos palcos do mundo. Por: Gabriela Loureiro

cultura 22

Muitas histórias para ver e contar na trajetória do Ciclo de Cinema Histórico. Por: Felipe Viero

24 perfil

Dos cálculos à madeira: conheça o cientista econômico “seu Darcy” que trocou os números pela marcenaria Por: Charles Almeida

expediente

Revista Laboratório do 5º semestre de Jornalismo UFSM Edição: Sarah Quines Sub-Edição: Luiz Henrique Coletto Diagramação: Maiara Alvarez, Paolla Wanglon, Rafael Salles e Andressa Quadro Revisão: João Pedro Amaral, Laura Gheller e Marcelo de Franceschi. Professor Responsável: Jorge Castegnaro - DRT/RS: 5458 Arte de Capa: Rafael Salles 2 .txt Maio de 2009

Poluição eleitoral A comunidade universitária já deve ter reparado que estamos em período eleitoral. O que tem saltado muito aos olhos são as estratégias de divulgação de cada chapa. Além dos tradicionais panfletos, folders e faixas, a eleição para a reitoria dos próximos quatro anos trouxe muitas bandeirolas (estilo àquelas de festas juninas) nos prédios, bandeiras nos canteiros (como se fossem flores) e banners gigantes. Se o objetivo é tornar os candidatos conhecidos, parece que funcionou. Toda essa poluição visual, entretanto, pode gerar efeito contrário: em tempos de “responsabilidade ecológica”, esse excesso de material não é mera poluição? Inclusive, quem vai limpar tudo depois do dia 16 de junho? Os cabos eleitorais ou os funcionários da Universidade – sob as ordens do ex-candidato e novo reitor? Foto: Marcelo de Franceschi

Voto à distância Os alunos que andam pelo campus da UFSM já se acostumaram às inúmeras propagandas das chapas concorrentes à reitoria. As eleições, que se aproximam, deixam uma dúvida: os alunos da educação à distância (EAD), que não veem toda essa propaganda diariamente, votarão? Os mais de 3.200 estudantes da EAD não receberam a devida atenção, segundo o membro da Comissão de Consulta à Comunidade e professor do Curso de Desenho Industrial, Luiz Antonio dos Santos Neto. Na editoria Categorias você confere uma matéria sobre o voto paritário na UFSM. De acordo com a coordenadora do EAD, professora Cleuza Maria Alonso, é necessário que sejam colocadas urnas nas cidades-pólos. Como estudantes da Instituição, os alunos do EAD também não teriam direito ao voto? O que os candidatos à reitoria pensam sobre isso?

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Endereço: Campus UFSM, prédio 21, sala 5234 Telefone: (55) 3220 8811 Impressão: Imprensa Universitária Endereço: Av. Roraima, 1000 Data de fechamento: 5 de novembro de 2008 Tiragem: 500 exemplares .txt Maio de 2009

[email protected]

carta ao leitor

Canecas à vista

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Universidade plural e democrática?

este ano, a UFSM tem mais diversidade. O sistema de cotas aplicado no último vestibular permitiu o acesso dos grupos excluídos ao ensino superior. As Ações Afirmativas e o REUNI estão dando um importante passo rumo à expansão da educação – esfera que vem tentando inverter seu quadro, num país onde cerca de 14 milhões de brasileiros são analfabetos. Se “o saber é poder” de Francis Bacon for considerado, a educação inserese como um pilar fundamental na construção da cidadania e, consequentemente, na luta pelos direitos de cada um. A expansão das universidades traz expectativas a uma parcela sem acesso à educação, e que agora está sendo incluída no campo do conhecimento. A informação leva também o desenvolvimento econômico a regiões mais pobres. A chegada de uma nova unidade da UFSM à sede da Quarta Colônia de imigração italiana traz mais chances de crescimento a uma comunidade essencialmente rural. No entanto, a escolha de uma cidade em vez de outra ainda não foi devidamente esclarecida por algumas fontes que se recusaram a falar à .txt ou que pediram para o gravador ser desligado – e não foram poucas. Enquanto o ensino superior é democratizado, é imprescindível destacar uma condição lastimável existente no país: a do analfabeto político. Já disse Bertold Bretch que o pior analfabeto é o analfabeto político. Quando o brasileiro estufa o peito e diz que odeia política ou não lembra em quem votou na última eleição, não está sendo cúmplice dos escândalos no Congresso? Não é preciso ir longe. O que você espera da Universidade nos próximos quatro anos? Pense bem, conheça os candidatos a reitor, analise suas propostas e participe. Exija do futuro reitor todas as promessas feitas durante a campanha. Depende de você, leitor e eleitor, exercer um direito democrático com consciência de seus atos. Sarah Quines

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entrevista

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HÁ VAGA PARA REITOR Texto: Luciana Rosa Imagens: Marcelo De Franceschi Paulo Burmann Mesmo com família natural de Santa Maria, foi na cidade de Catuípe, interior do estado, que nasceu Paulo Burmann. O candidato tem três filhos do casamento de 25 nos com Elaine Burmann. Nas horas de folga, o professor universitário gosta de viajar e praticar esportes. 4 .txt Maio de 2009

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o dia 16 de junho a Universidade vai às urnas para escolher seu novo reitor. São dois os candidatos a ocupar a vaga: Paulo Burmann, professor titular do departamento de Odontologia da UFSM e coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências Odontológicas; e Felipe Müller, atual vice-reitor, doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade de Campinas. Ambos conversaram com a equipe da .txt e contaram quais são seus planos para administrar a UFSM a partir de 2010 .txt: Explique a relação entre seu slogan de campanha e sua proposta de governo. Paulo Burmann: Nós temos uma visão muito clara de que precisamos de uma reforma profunda na administração da instituição. Existem funções dentro da UFSM que estão sendo ocupadas pelas mesmas pessoas há muito tempo, carregando os vícios de gestão. Constituindo um modelo ultrapassado para uma instituição que deve continuamente estar atualizada. Apostamos então, no Movimento por uma Nova UFSM, que se pretende um modelo democrático de gestão. Propõese um modelo de administração democrático em todos os níveis, em todas as instâncias do ensino superior que deve orientar as principais decisões ao longo do processo de gestão da Universidade. Felipe Müller: A Universidade de Ponta a Ponta é mais do que um slogan, é um tema de campanha. Nós queremos que a primeira parte desse tema de campanha seja uma universidade de ponta, que ela tenha excelência

em todos os níveis de ensino, pesquisa e extensão. Em alguns locais da universidade nós já temos essa excelência, mas temos que levar a outros locais da Instituição, por isso o complemento do lema da campanha é uma universidade de ponta a ponta. O tema da campanha é exatamente para que nós possamos cuidar dos alunos, dos estudantes, dos professores, dos técnicos administrativos que fazem toda essa engrenagem. Nós queremos implantar esse tema com muita coragem, muita experiência, aproveitando o trânsito que temos em todas as esferas ministeriais, pois muitas coisas se consegue através desse conhecimento da dinâmica da administração pública para que nós não cometamos erros, nem desacertos num processo de gestão. .txt: Como o senhor pretende reestruturar a boa imagem da UFSM perante a opinião pública diante dos arranhões sofridos em função do caso FATEC? PB: Isso é um grande desafio. Mas todas as ações da Universidade devem apontar para um compromisso para o resgate da credibilidade da Instituição. Não há dúvida de que a Instituição foi arranhada por esse episódio. Eu diria que a comunidade de Santa Maria sofreu o impacto desse processo, e olhe que não foi por falta de aviso. Nas eleições de 2005, muito antes disso, nós já vínhamos apontando que havia problemas na gestão e na relação da fundação com a Universidade, ou da Universidade com as fundações. Nós temos um compromisso agora de trabalhar no sentido de recuperar a credibilidade com ações que envolvam a responsabilidade, que envolvam o respeito às decisões coletivas,

para que a Universidade ouça a voz das minorias. FM: Bom, um dos pontos que nos levaram a composição com o professor Lima foi justamente essa situação que estava acontecendo na Universidade, de pessoas que estavam usando a fundação e a Universidade não para o bem da Instituição, mas em beneficio próprio. Claro que é muito ruim para qualquer Instituição ter o seu nome associado a este tipo de escândalo, mas eu acho que nós tivemos muita tranquilidade, sempre estivemos à disposição das pessoas, colocamos a nossa cara à tapa na mídia em diversos momentos. E isso é importante para mostrar para às pessoas que não devíamos nada para ninguém. Tivemos a oportunidade e o momento de ‘fazer a limpa’ e fizemos, não tivemos medo de enfrentar esse desafio e não tivemos medo de recuperar a imagem da Universidade. .txt: Quais medidas o senhor pretende adotar para que ocorra uma implantação qualitativa do REUNI na UFSM? PB: Nós temos um prazo de quatro anos agora para implantação do REUNI. O orçamento está garantido até 2011. Evidentemente que nós esperamos que o governo, a partir de 2011, continue enviando um volume de recursos suficientes para que se possa continuar atendendo àquilo que o REUNI propõe. O REUNI foi aprovado com pouca discussão, com pouquíssimo planejamento. E talvez esse seja um fator que comprometa o seu desempenho e a qualidade da sua implantação. Além de ampliar a oportunidade de acesso ao ensino superior público, gratuito e de qualidade, é preciso re-

forçar o compromisso com a qualidade, da forma como isso vai acontecer. FM: Todas essas medidas estão sendo tomadas. A primeira questão é com relação à infraestrutura física. Você está vendo que a Universidade está um canteiro de obras, nós estamos fazendo toda a preparação para receber esses estudantes que vão estar gradativamente chegando. Não chegam seis, sete mil de uma só vez, vão chegar ao longo de cinco anos. Todos os centros que têm essa expansão estão recebendo aporte de recursos, estão fazendo as adequações necessárias, sejam elas de laboratório, de sala de aula, de espaço para docentes, isso já está acontecendo. Foram 35 milhões de reais aplicados nessa estruturação, tanto de equipamentos quanto de obras. .txt: Como ficaria a situação da FATEC durante o seu mandato como reitor? PB: As fundações têm o tamanho que a Universidade quer que elas tenham. Então, nós temos que procurar desenvolver dentro da Universidade um processo de gestão em que os recursos do orçamento da instituição possam ser administrados de forma independente das fundações. Há situações, no entanto, em que não tem outra forma de se administrar, que não seja através da fundação, especialmente aquelas que envolvem a prestação de serviços. E aí vou entrar com um parênteses, prestação de serviço que a universidade tenha vocação para isso e onde fundamentalmente não haja concorrência com a iniciativa privada. Então, é nesse aspecto que é importante que a gente tenha a clareza de que o

Felipe Müller Nascido na cidade de Taquara, na região nordeste do Rio Grande do Sul, Felipe é casado há 15 anos com a professora do Centro de Artes e Letras, Gisela Reis Biancalana, com quem tem duas filhas pequenas. Quando não está atuando na administração da Universidade, Felipe gosta de ficar em casa cozinhando para sua família ou aventurando-se de jipe pelas trilhas da região. .txt Maio de 2009

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tamanho da fundação, quem define, somos nós. FM: A FATEC que tem que tomar essa decisão de se extinguir ou não. Ela é um meio que está credenciado junto à Universidade para funcionar como uma fundação de apoio, e, volto a ressaltar, que essa noção de apoio deve servir a Universidade e não se servir dela, isso é muito importante. Na medida em que as fundações deixarem de ser necessárias para a Universidade e nós possamos resolver as situações com o orçamento interno, com autonomia financeira e administrativa da universidade, elas serão descartadas, esse é o nosso ideal. .txt: O Programa de Ações Afirmativas deverá permanecer durante o seu mandato? E como o senhor pretende prover a permanência desses estudantes na Instituição? PB: O Programa de Ações Afirmativas, antes de ser uma política do governo, é uma convicção pessoal. Nós temos uma proposta de gestão que prevê a inclusão em todos os níveis. Logicamente, temos uma preocupação muito grande com a implantação das políticas de ações afirmativas. Há imperfeições no modelo, mas que com todas essas imperfeições ele traz consigo um avanço. O que nós precisamos fazer é tornar essas ações mais eficientes, através de um maior planejamento, seja com relação ao vestibular, seja quanto à estrutura física da Universidade. FM:O Programa de Ações Afirmativas é um programa dinâmico, ele é um processo previsto para dez anos. O Programa tem uma comissão de acompanhamento que vai permitir que seja aprimorado a cada rodada. Nós tivemos algumas situações judiciais esse ano, em relação ao ponto de corte, etc. Essas situações serão analisados agora, com as novas estatísticas, para que haja um aprimoramento continuo. Com relação à permanência dos alunos cotistas, a primeira coisa que a nossa administração fala é que no momento em que eles entraram na universidade, eles são alunos da UFSM. Não importa a forma pela qual entraram na Universidade. O que nós estamos preparando é uma reorganização da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis e da moradia estudantil para receber esses alunos, mas ao mesmo tempo, nós estamos trabalhando com uma série de ações de

> do eleitor Pergunta enviada pelo acadêmico do 8º semestre de Economia, Vinício Rossato, ao candidato Paulo Burmann: Quais as ações que o senhor pretende tomar para melhorar a relação entre a Reitoria e o Movimento Estudantil? PB: Esse tipo de ação não terá espaço na nossa gestão [Durante a votação do REUNI, houve uma ocupação do hall da reitoria por alunos do movimento estudantil contrários à assinatura do projeto]. Eu fui estudante, a professora Martha foi estudante, não faz muito tempo e a gente não esquece disso. Como é importante estabelecer um canal de ligação dos estudantes, que são o grande objetivo da Instituição, eles são a razão de ser 6 .txt Maio de 2009

longo prazo para atender à crescente demanda desses estudantes. .txt: Como o senhor pensa a ampliação infraestrutural da Universidade? PB: Toda a questão da infraestrutura demanda planejamento, nós estamos vivendo esse problema [grandes filas no Restaurante Universitário] porque isso não foi planejado. Então essa é uma das nossas críticas. Nós somos críticos do REUNI e não contrários a ele. A nossa crítica é justamente no sentido de que não houve um planejamento adequado para nós recebermos toda essa demanda que estamos recebendo. Por que as obras não estão andando no ritmo que deveriam estar? Porque não houve planejamento; Porque não há controle administrativo sobre o andamento dessas obras. FM: Sendo que nós fazemos parte de uma administração, não podemos negar isso, estamos incumbidos de dar continuidade a uma série de obras, a uma série de ações. A universidade melhorou, se nós olharmos todos os índices dos últimos três anos. A questão do Restaurante Universitário (RU) é bastante peculiar, porque nós entramos em 2005 e o RU servia, em média, 1.800 refeições por dia. Hoje nós estamos chegando a 5.000 refeições por dia, sem nenhum aumento no número de estudantes dentro da Universidade. Então, só isso já é reflexo da melhoria de qualidade do restaurante. Um novo Restaurante Universitário está sendo feito, a obra é prevista para terminar em julho. Os primeiros estudantes do REUNI vão chegar em agosto, quando o restaurante já deverá estar finalizado. Está tudo dentro do previsto para que esses estudantes que chegam já tenham uma estrutura que possa recebê-los de maneira adequada. .txt: Como o senhor vê a expansão da UFSM, com relação as suas unidades descentralizadas? Quais os riscos que a qualidade do ensino na UFSM corre tendo que gerenciar tantas outras unidades? PB: Corremos um risco sim, na medida em que a Universidade não proporciona a infraestrutura adequada para o desenvolvimento desse projeto. Além de você viabilizar, de você construir, essa construção tem que

da Universidade. Não se pode admitir que exista uma relação truncada, violenta com os estudantes. A democracia, o espaço e o diálogo vão ser uma constante. Pode ser até que a gente não concorde em algumas teses, mas que nós vamos poder sentar, discutir e conversar para chegar a uma conclusão que agrade a coletividade, eu não tenho dúvida disso. Pergunta enviada pela professora do curso de Comunicação Social, Rosane Rosa, ao candidato Felipe Müller: Por que a UFSM não tem um programa institucionalizado de ações dentro das comunidades carentes de Santa Maria? FM: Nós temos hoje na Universidade cerca de 700 projetos de extensão e em torno de 2.000 projetos de pesqui-

sa, e em muitos deles, existem ações de integração com a comunidade. Nós estamos com duas propostas dentro do nosso plano de gestão que é a criação de projetos de extensão em tecnologias sociais e um projeto do Núcleo de Cultura e Arte a partir da obtenção de um teatro qualificado [no centro de convenções que está sendo construído no bosque da Universidade]. Outra ideia diz respeito ao aproveitamento dos espaços que temos no centro da cidade, pretendemos criar um espaço de integração [nos prédios que serão desocupados pelos cursos, os quais serão transferidos para o campus em Camobi] da comunidade, onde ela possa participar de atividades artísticas e culturais, de mostras, oficinas, apresentações teatrais.

ter um reflexo pedagógico, ela tem que servir como um modelo. Então, logicamente, nós estamos muito preocupados com tudo isso que está acontecendo na infraestrutura do próprio campus da UFSM e na infraestrutura das unidades descentralizadas. Simplesmente foi contratado pessoal através de concursos públicos e colocado lá, mas essas pessoas precisam de um treinamento, de uma capacitação adequada ao desempenho de sua função. FM: Em primeiro lugar, eu acho que a qualidade não se perde, pois nós temos essas condições de recursos humanos e financeiros para fazer a expansão. O que nós podemos dizer é que a experiência já nos mostra como essas unidades vêm mudando a realidade da região em que foram implantadas. Os responsáveis pela implantação dessas unidades são pessoas altamente engajadas, que estão trabalhando completamente inseridas na comunidade, já se estruturando para organizar programas de pós-graduação. Então, essa experiência nos deixa muito tranquilos com relação à expansão, pois fazia quinze anos que a Universidade não tinha a oportunidade de sofrer uma expansão com essa garantia de recursos. .txt: Como o senhor encara a proposta de atrelar o processo seletivo da Universidade ao ENEM? PB: Isso tem que ser analisado com muita cautela. A Universidade tem um sistema de ingresso que foi construído ao longo dos anos. Desde a fundação da instituição, seu sistema de ingresso já passou por uma reformulação importante, no momento em que se instituiu o PEIES em 1995. Isso foi um avanço significativo, voltado para um processo mais justo, mais equilibrado, que não avalia o aluno apenas naquele momento da prova. E agora, com essa proposta do Ministério da Educação, nós precisamos estudar uma forma que não descarte o modelo vigente e que ao mesmo tempo possa ser incrementado, possa ser melhorado com aquilo que o governo está propondo, ou seja, a utilização das provas do ENEM associadas ao modelo vigente da Universidade. FM: A Universidade é pioneira em formas alternativas de acesso. Nosso Programa Especial de Ingresso ao Pergunta enviada pelo vigilante da Biblioteca Central, Laerte Luiz Fontoura, aos candidatos a reitor: Como o novo reitor manterá a credibilidade perante o corpo de funcionários técnico-administrativos depois de ter vários nomes da Administração Central da Universidade envolvidos no escândalo da FATEC? PB:O processo resultante da operação Rodin está nas mãos da Justiça e nós temos que confiar nos trâmites legais. Nós participamos das discussões e apresentamos à comunidade os problemas que poderiam advir da forma de como a gestão das fundações vinha sendo executada. Mas, a partir do momento em que o Ministério Público assumiu a situação, nós temos que esperar o resultado dessa investigação. A partir desses resultados, nós

Ensino Superior, o PEIES, tem mais de dez anos. Ele foi muito criticado no início e hoje tem uma aceitação bastante grande. Quanto ao ENEM, nós precisamos primeiro olhar como esse exame vai ser feito no novo formato, nós temos uma história de vestibular que nos permite aguardar um pouquinho. Então, nós temos que trabalhar talvez com uma mistura do ENEM com algumas características que vão selecionar os alunos da nossa Instituição. Mas é uma discussão que tem que ser levada a partir desse primeiro exame, para nós analisarmos os resultados dele e fazermos uma projeção de futuro com uma discussão ampla na comunidade. .txt: O senhor tem conhecimento sobre as condições financeiras da UFSM e se essas serão suficientes para cumprir suas propostas de campanha? PB: O governo já vem acenando com um aumento de investimento no ensino superior. Então nós temos claro que sempre vai faltar recurso, porque no momento em que nós resolvermos algumas demandas nós já vamos ter outras. E isso, como eu disse, deve estar atrelado a um planejamento em relação ao crescimento, em relação a como nós queremos crescer. O que nós devemos resolver com relação ao orçamento, num primeiro momento, é a questão local, é um problema interno da Instituição. O que não significa dizer que não devamos continuar lutando para aumentar as verbas da educação. FM: O pacto que foi feito para implantação do CESNORS, que é o nosso centro em Frederico Westphalen e Palmeira das Missões, e dos cinco campi na UNIPAMPA, nunca apresentou uma situação em que fosse diminuído o repasse de recursos pelo Governo Federal. Muito pelo contrário, muitas vezes o recurso chegava antes do que nós estávamos esperando. Então, eu não tenho nenhum receio de que esse programa, eu digo que é um programa de Estado, não é um programa de governo, não é porque partido A, B ou C está no governo, está dentro de um plano plurianual do governo. Então, todo o orçamento está dentro desse plano e nós não temos nenhuma situação de descrença quanto ao repasse desses recursos para que possamos fazer a expansão com tranquilidade. .txt

temos que fazer um resgate da credibilidade para que consigamos traduzir em nossa gestão o anseio de toda a população que é a transparência em todas as ações da gestão, inclusive orçamentárias. É fundamental que a comunidade saiba como o orçamento da Universidade vem sendo gerenciado, principalmente aquele proveniente de recursos próprios, que ainda tem uma ligação com a fundação. Mesmo com todo o episódio que resultou na operação Rodin, a gestão orçamentária ainda é pouco transparente, e esclarecer isso é fundamental para que haja um controle social sobre a Universidade. FM: Quando veio a tona o escândalo da FATEC, nós presidiamos o Conselho Superior da Fundação. E durante

a operação Rodin todas as nossas ações foram no sentido de esclarecer a situação. Nós tivemos a tristeza de estar lá nesse momento da Universidade, mas também a felicidade de fazer as ações que foram necessárias, como a demissão de alguns cargos, afastamento de alguns docentes. Esta foi a postura da administração atual. Com relação à eleição que se aproxima, ela tem uma situação bastante diferenciada e ninguém tem garantia em qualquer cargo da Instituição, até por que a eleição não está ganha. Por enquanto, não podemos definir como será essa relação Administração Central/Reitoria, pois os cargos só serão definidos em 2010.

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geral

Exigências do edital 56/09

Crescimento com segurança

O setor de vigilância faz uma investigação prévia das ocorrências e, depois, encaminha-as para os órgãos competentes: Polícia Civil ou Polícia Federal. A Civil é acionada em casos como brigas, assaltos ou furtos de objetos; já a Federal é chamada quando o ocorrido envolve o patrimônio da Instituição. Romeu, vigilante da UFSM há 17 anos, afirma que o número de furtos tem diminuído gradativamente e que a vigilância trabalha para chegar ao índice zero.

A expansão que ocorre na UFSM se reflete no sistema de Vigilância.

A Segurança Patrimonial e o serviço da COPSIA

Texto: Milena Jaenisch e Saul Pranke

Funcionamento do sistema de vigilância O sistema de segurança da UFSM é dividido entre a vigilância orgânica, que compreende os vigilantes, e a vigilância 8 .txt Maio de 2009

Foto: Marcelo de Franceschi

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sistema de vigilância da UFSM terá o seu quadro incrementado no segundo semestre deste ano. Devido ao Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), a estrutura da Universidade passará por uma adaptação para atender à nova demanda de alunos, com a contratação de mais vigilantes. O Pregão Eletrônico número 56/09 (veja o quadro na página 9) para a contratação de uma empresa prestadora do serviço nos campi da UFSM em Santa Maria, Frederico Westphalen e Palmeira das Missões seria realizado no dia 6 de maio de 2009. No entanto, ele foi revogado pela Pró-Reitoria de Administração (PRA) no dia 29 de abril, devido à nova regulamentação prevista. Uma portaria será lançada e abordará os novos valores limites para a contratação de serviços de vigilância, previstos pelo Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão. O diretor da Divisão de Serviços Gerais (DSG), Luis Sérgio Giacomini, afirma que a licitação visa a aumentar o número de postos de vigilância: serão criados nove diurnos e quinze noturnos, conforme o edital. A empresa vencedora da concorrência pública atuará com a Vigillare, atual empresa prestadora do serviço. Ela tem contrato com a UFSM desde 24 de junho de 2005, o qual já foi renovado por três vezes. Esse tipo de contrato tem a duração de um ano, com a possível prorrogação por mais quatro anos.

Em todos os casos em que ocorre furto ou dano grave ao patrimônio da Universidade, pode ocorrer uma sindicância e, se necessário, um inquérito para a averiguação das responsabilidades. Nesse ponto, atua a Comissão Permanente de Sindicância e Inquérito Administrativo - COPSIA, formada por sete servidores e vinculada diretamente à Reitoria. Ela é responsável pela realização de sindicâncias no âmbito da Reitoria e pelos Processos Administrativos Disciplinares (PAD’s) vindos dos Centros de Ensino e das Unidades Administrativas. O primeiro procedimento quando há um caso de dano ao patrimônio é comunicar à vigilância, que aciona a Polícia Federal para o registro da ocorrência. A Polícia Federal investiga o caso e tenta identificar os responsáveis. Segundo o chefe da COPSIA, João Hélvio Righi de Oliveira, o servidor ou o docente que responde pelo zelo do material também pode ser respon-

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• Observar a movimentação de indivíduos suspeitos nas imediações do Posto, adotando as medidas de segurança conforme orientação recebida da Administração, bem como as que entenderem oportunas; • Comunicar à área de segurança da Administração, todo acontecimento entendido como irregular e que possa vir a representar risco para o patrimônio da Administração; • Colaborar com as Polícias Civil e Militar nas ocorrências de ordem policial dentro das instalações da Administração, facilitando, o melhor possível, a atuação daquelas, inclusive na indicação de testemunhas presenciais de eventual acontecimento; • Proibir o ingresso de vendedores, ambulantes e assemelhados às instalações, sem que estes estejam devida e previamente autorizados pela Administração ou responsável pela instalação; • A arma deverá ser utilizada somente em legítima defesa, própria ou de terceiros, e na salvaguarda do patrimônio da Administração, após esgotados todos os outros meios para a solução de eventual problema. Fonte: edital revogado pela PRA. sabilizado, caso se comprove a falta de cuidado com a guarda do objeto da ação. A ação da Polícia Federal pode resultar em um processo na Justiça Federal. A sindicância desenvolvida pela COPSIA apura os responsáveis e pode encaminhar o caso para um PAD. Esse processo é realizado por três pessoas que investigam os possíveis culpados identificados pela sindicância e os apontam para uma possível sanção administrativa. As sindicâncias têm um prazo de trinta dias para sua execução, cuja prorrogação pode ocorrer pelo mesmo prazo. Já os PAD’s têm

um limite maior: sessenta dias, com a possibilidade de mais sessenta dias. Segundo João Hélvio Righi de Oliveira, doze sindicâncias ou inquéritos já foram iniciados em 2009. Uma média de 75% dos inquéritos anuais ocorrem em virtude de roubos patrimoniais. No último ano, chegaram vinte e quatro processos à COPSIA. Por haver apenas sete componentes na comissão, muitos processos ainda aguardam execução. O gráfico a seguir mostra a diferença entre número de processos instaurados e encerrados ano a ano desde 2006.

Controle dos acessos e identificação das pessoas são as principais funções da vigilância no HUSM. eletrônica, a qual engloba as câmeras de monitoramento e o sistema de alarmes. Embora utilizem uniformes diferenciados, tanto os vigilantes concursados, quanto os terceirizados, têm a mesma função. No total, existem 105 vigilantes, incluindo homens e mulheres, que trabalham na área do campus da UFSM, nos prédios da zona urbana da Instituição, e ainda no Museu Gama d’Eça. O chefe do setor de vigilância da UFSM, Romeu Lemes, afirma que o método de trabalho consiste em rondas assistemáticas (em horários e itinerários variados), vigia móvel – com viaturas – e

também fixa, além do monitoramento feito através de câmeras e do sistema de alarmes. Mesmo com essa estrutura, são registradas, em média, dez ocorrências mensais na PróReitoria de Infraestrutura. Os casos mais frequentes de denúncia são os de pessoas suspeitas dentro da Universidade. Já no Hospital Universitário, onde o público não é o estudantil, a organização da vigilância é diferenciada. Os vigilantes que atuam no HUSM não trabalham armados e precisam de habilitações mais específicas, como ensino médio completo, certificado de formação técnica específica e treinamento periódico em defesa pessoal. .txt Maio de 2009

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Foto: Marcelo de Franceschi

Alguns moradores da Casa do Estudante falaram à .txt sobre a situação de segurança no campus da UFSM: “A segurança é bem precária aqui na Casa do Estudante. Há muitos desconhecidos que passam por aqui, ocorrem muitos furtos. Nos varais só se pode colocar a roupa de dia. À noite não dá. Assim como as janelas têm que ser bem fechadas. Principalmente nos finais de semana e nos feriados, circulam mais pessoas e acabam causando transtornos para quem mora na Casa.” Evandro Tatim da Silva estudante do 1º semestre do Curso Técnico em Paisagismo.

“Há muita facilidade de entrar aqui, não tem algo que impeça. Acho que é média a vigilância do campus. Acho suficiente, mas a forma que a vigilância atua não é adequada. Teria que ter mais rondas. O que mais acontece é arrombamento de porta ou janela. Janela é mais fácil de abrir, principalmente no térreo. No apartamento número 11, aconteceu esses tempos: arrombaram a porta e levaram o computador.” Pedestres e motoristas podem ser acompanhados pelas câmeras de vigilância, caso demonstrem comportamento suspeito.

O Processo Administrativo Disciplinar (PAD) engloba a Sindicância e o Inquérito Administrativo. A Sindicância é um processo investigativo que não possui apresentação de defesa, pois não há uma formalização de acusação. Já o Inquértio Administrativo envolve a materialidade do fato, assim como o denunciante e o denunciado. As sanções administrativas previstas pelo Estatuto dos Servidores Públicos Civis da União – Lei Federal número 8.112/90 – são: advertência, notificação, suspensão e exoneração, entre outras.

Os telefones para acionar a vigilância são: 3220 8360, 3220 8183 e 9626 2727. .txt

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Alex Becker acadêmico do 3º semestre do Curso de Matemática.

“Furtos não são muito frequentes. Lembro de dois arrombamentos no início do ano. Durante à noite também acho tranquilo. A vigilância cumpre bem o seu trabalho, mas acho que tinha que ter mais controle do pessoal que vem de fora no final de semana que fica com música alta, fazendo baderna. Mas brigas ou assaltos, nunca presenciei.” Luciele Silva acadêmica do 3º semestre do Curso de Filosofia.

comIncidência

Passagem estudantil em Santa Maria e Pelotas

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Na prática, o benefício atinge de forma diferente os estudantes da UFSM e da UFPel. Texto: Larissa Drabeski

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séias dos Santos Oliveira e Paulo Moreira de Lima embarcam no mesmo ônibus no centro da cidade. O destino é o campus da UFSM. Os dois utilizam esse meio de transporte diariamente, enfrentam o mesmo tempo de viagem e as mesmas condições de trânsito. A diferença está quando passam na roleta. Oséias é estudante, faz doutorado em Educação, e paga meia passagem. Já Paulo, desloca-se até a universidade para trabalhar e não tem direito ao passe estudantil (recebe vale-transporte). O benefício da meia passagem, utilizado por Oséias, é regulamentado por uma lei municipal. Por não se tratar de uma legislação nacional, os benefícios concedidos aos estudantes variam de uma cidade para outra. Cidades como Santa Maria e Pelotas oferecem desconto de 50% aos estudantes, do ensino fundamental ao ensino superior. Paulo, embora não tenha direito à meia passagem, acredita que a existência do benefício é positiva. Oséias considera fundamental para a locomoção dos estudantes, uma vez que a maioria não está empregada. – É um auxílio financeiro e uma valorização também. O benefício concedido aos estudantes gera controvérsias. O presidente da Associação de Transportes Urbanos de Santa Maria (ATU), Luis Fernando Maffini, estima que de 21% a 22% de quem se desloca de ônibus na cidade paga metade da tarifa. Entretanto, ele defende que o benefício seja revisto, pois afirma que seria um dos responsáveis por onerar a passagem. A afirmação é baseada na forma de calcular o indicativo da tarifa, que serve de base para o prefeito decretar o seu valor. No método, os custos das transportadoras são divididos pelo número de passageiros. Nessa fórmula, é utilizado o sistema de passageiro equivalente, ou seja, se o estudante paga meia passagem, ele é considerado meio passageiro. Assim, cada passageiro

Foto: João Pedro Wizniewsky

com desconto ou gratuidade altera o valor final do cálculo. Ainda segundo Maffini, quem acaba pagando a diferença são os moradores da periferia. O fato é que nem todos os trabalhadores da cidade recebem o valetransporte. – Eu não sou contra a meia passagem. Eu acho que a meia passagem deve ser revista. Ele aponta duas alternativas: um subsídio para a passagem, talvez por parte da Universidade, ou um benefício baseado na análise socioeconômica, que seria concedido apenas às pessoas com renda familiar menor. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFSM é favorável ao desconto para estudante e defende que deveria ser adotado em todas as cidades. O coordenador de Formação Política e representante do DCE no Conselho Municipal de Transportes, Cleber Petró, acredita que as pessoas que pagam a passagem inteira também são beneficiadas: – A maior parte dos trabalhadores tem filhos que, ou estão na universidade, ou fazem ensino médio, e os secundaristas também são beneficiados pela meia passagem. O secretário municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade Urbana de Santa Maria, Sérgio Renato de Medeiros, concorda que o passe estudantil encarece o preço da tarifa, mas ainda assim defende o benefício: – Eu sou a favor que se dê o desconto ao aluno, porque é um investimento do poder público numa coisa muito séria, que é o ensino. Para os estudantes da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), o principal debate quando se trata do transporte coletivo é outro. Há uma lei municipal que garante a

meia passagem aos estudantes. Entretanto, a Universidade tem um campus situado numa cidade vizinha, Capão do Leão. Os estudantes que se deslocam do centro de Pelotas para esse campus reclamam da lotação nos ônibus e do valor da passagem. Marina Schneid Alves faz o trajeto Pelotas-Capão do Leão diariamente de ônibus. Ela reclama do preço da passagem, que é de R$1,75, o que significa para ela um custo médio mensal de 70 reais. Por ser classificada pela legislação estadual como linha metropolitana, o desconto concedido aos estudantes é de apenas 10%. O transporte dentro do município de Pelotas, que oferece 50% de desconto aos estudantes, é pouco utilizado pelos universitários. Marina também contesta a lotação dos ônibus que vão até o campus: – Chega a ser ridícula a quantidade de gente que colocam no ônibus. Pela legislação, é permitida a circulação dos ônibus com até 100% da capacidade de pessoas sentadas. Por exemplo, se o ônibus tem 50 assentos, ele pode trafegar com mais 50 pessoas em pé. No caso dos ônibus dessa linha, que têm em média 56 lugares, a lotação total seria de 112 pessoas. O responsável pela fiscalização da linha é o coordenador da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan), Danilo Rossi Landó. Ele afirma que as condições estão de acordo com a lei. – Aqui a gente só fiscaliza. Para mudar isso, teria que modificar a lei. Com o objetivo de modificar a lei, o DCE da UFPel encaminhou um documento ao Ministério Público Federal. Umas das solicitações é que a linha Pelotas-Capão do Leão seja tratada como um transporte peculiar, com lotação menor e desconto de 50% para os estudantes..txt .txt Maio de 2009 11

Informação a serviço do produtor de arroz

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Pesquisa da UFSM busca alternativas para melhorar o manejo na lavoura de arroz na região. Texto: Paula Pötter

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poca de plantio, clima, pragas, momento certo de irrigar e vários outros fatores influenciam na capacidade de produção da lavoura. O consumidor geralmente não tem ideia da quantidade de fatores necessários para que o arroz chegue à prateleira do supermercado. A quantidade produzida, por exemplo, influencia diretamente no preço do produto que chega ao consumidor. Professores do departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Rurais (CCR) da UFSM pesquisam para encontrar alternativas para essas variantes. As pesquisas concentram-se principalmente na produção de arroz visando a aumentar a produção e reduzir os custos. Aumentar a produção e manter o custo baixo é essencial para a sobrevivência dos produtores. O problema é que eles não estão organizados como outros setores que conseguem influenciar no preço de seu produto – por exemplo, o setor automobilístico – então quem acaba colocando o preço no arroz é o mercado. O valor, muitas vezes, “é bom para o consumidor porque é baixo, mas não é bom para o produtor”, esclarece Enio Marchezan, um dos professores responsáveis pela pesquisa. A época de semear é importantíssima para a relação de maior produção e melhor preço. As pesquisas já determinaram que semear cedo dentro da época recomendada é fundamental, porque semeando tarde expõe-se a lavoura a mais pragas e, consequentemente, o custo torna-se mais alto, devido ao dinheiro gasto para combater as pragas. Alguns produtores, entretanto, desconsideram a recomendação e continuam semeando tarde. O “arroz vermelho” é a erva daninha que mais prejudica a lavoura de arroz na nossa região. Descobriu-se recentemente que a soja pode ser uma grande aliada no combate a essa praga, ao revezar a plantação de arroz e de soja na mesma área – processo conhecido como rotação de cultura. Os pesquisadores da Universidade tentam determinar agora qual tipo de soja adaptase melhor a nossa região. Outra preocupação dos pesquisadores é com a sustentabilidade. As alterna-

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tivas para aumentar a produção e reduzir o seu custo não devem prejudicar o meio ambiente. Determinou-se que a água utilizada no cultivo do arroz só pode ser devolvida à natureza após 30 dias. Antes disso, ela ainda teria substâncias que contaminam o ambiente. A descoberta já é recomendada a todos os produtores de arroz do estado. Marchezan considera o diálogo com os produtores indispensável para a continuidade da pesquisa, que não deve terminar na publicação de um artigo. Na maioria das vezes, as pessoas que poderiam se beneficiar das descobertas não leem esse tipo de publicação. Segundo o professor, é preciso “decodificar esse artigo, transformá-lo de uma forma mais simples e mais compreensível”. Assim ele tenta passar as informações coletadas com as pesquisas para os agricultores através de encontros realizados a cada dois anos e de participações em feiras e em seminários sobre o tema. Na conversa com os produtores, não se transmite apenas informação, mas também, escutam-se as suas necessidades. Muitas vezes, o que o pesquisador considera importante, na prática não tem tanto impacto quanto outros problemas. Logo, a

contribuição dos produtores ajuda a manter a pesquisa junto às necessidades da lavoura. Um exemplo disso é o novo campo de pesquisa ao qual o grupo vem se dedicando, relacionado ao manejo póscolheita. Fica no local uma sobra de oito a dez mil quilos de palha após a colheita do arroz, e até a época de semear novamente, a palha não se decompõe. É preciso encontrar soluções para o que fazer com a sobra. Existem máquinas e técnicas que são usadas para resolver o problema. O que a pesquisa quer determinar, sobretudo, é qual dessas alternativas é a melhor e mais rentável para o produtor. O professor lembra que é muito importante que exista credibilidade na relação com o produtor, “se tu não tiveres crédito, por melhor que seja essa informação, ela vai custar a ser absorvida e a ser utilizada”. Ao conquistar a confiança dos agricultores, eles acabam testando essas descobertas. Geralmente o teste acontece em um pequeno trecho da lavoura, por segurança; se a informação estiver correta, ela passa a ser usada no ano seguinte, e o pesquisador ganha credibilidade. .txt Foto: João Pedro Wizniewsky

Colheita da soja faz parte das pesquisas para eliminar o “arroz vermelho”.

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de fora para dentro

Um ano com poucos motivos para se comemorar

Foto: João Pedro Wizniewsky

de dentro para fora

Resultado de uma parceria entre Estado, União e Prefeitura, o Hemocentro de Santa Maria sofre com poucos doadores e com promessas não cumpridas.

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queda nas doações já chega a 50% desde a transferência das doações de sangue do Hospital Universitário (HUSM) para o Hemocentro. O prédio que abriga o órgão é considerado de difícil localização e acesso – está situado na Alameda Buenos Aires – e apresenta uma sinalização deficiente. Além disso, o Hemocentro sofre com a falta de funcionários, o que inviabiliza a ideia inicial do projeto de atender a toda a região. A realidade era para ser bem diferente. Inaugurado em 5 de abril de 2008, o Hemocentro (Hemorgs – RS) de Santa Maria foi projetado para ser um pólo centralizador, que atenderia a mais de 50 cidades da região. Ainda era necessário transferir as doações de sangue do Hospital Universitário, onde não se contava com uma estrutura adequada, para um novo local. Apesar da deficiência quanto à localização e a questões de logística (transporte de insumos do HUSM para o Hemocentro, transporte do sangue coletado), a maior dificuldade pela qual passa o Hemocentro está vinculada ao quadro de funcionários. Atualmente a equipe conta com cerca de 30 pessoas, sendo cerca de 20 profissionais advindos do HUSM e o restante pertencente ao efetivo cedido pela prefeitura. O Estado, através da Fundação Estadual de Produção e Pesquisa em Saúde (FEPPS) deveria estar presente no Hemocentro com pelo menos 15 funcionários, mas até o momento não encaminhou nenhum profissional. O chefe do serviço hemoterápico do HUSM e diretor técnico do laboratório do Hemocentro, Zanoni Segala, reconhece os problemas atuais, mas defende a mudança: “É mais oneroso, mas se existe um prédio construído e que está há 10 anos parado por falta de estrutura, e nossas antigas locações careciam de espaço físico, a mudança se justifica . É claro que se fossemos construir hoje não faríamos desse tamanho, nem nessa posição, mas não fomos nós que construímos”.

Texto: Murilo Matias O fato de três esferas públicas estarem envolvidas no gerenciamento cria entraves que dificultam o desenvolvimento do Hemoentro. Zanoni comenta essa realidade: “O contrato que diz para o Hemocentro suprir muitas cidades exige a participação do estado pra tornar exequível o que se pretende. Esse contrato venceu em março e está em fase de renovação. Nós estamos acertando os detalhes do que falhou no primeiro ano para tentar corrigir”. A atual conjuntura faz com que o órgão atenda apenas ao HUSM, não chegando nem próximo à expectativa de prestar serviços a mais de 50 cidades da região. A reportagem entrou em contato com a FEPPS, mas até o fechamento da edição não houve resposta por parte da instituição quanto ao não envio dos funcionários previstos no contrato.

O sangue doado passa por um processo chamado fracionamento no qual é dividido em: Concentrado de Hemácias - duração de 35 dias Plasma - duração de 1 ano Plaquetas - duração de 5 dias Crioprecipitado - duração de 1 ano

Quadro das doações As perdas nas doações chegam a 50%. A enfermeira chefe do Hemocentro, Roseliane dos Reis, analisa a questão: “A facilidade que tinha o doador indo ao HUSM era decisiva. Aqui [no Hemocentro] tem que se ter passagem de ônibus, não é um lugar bem sinalizado, não é de fácil acesso. A própria identificação do Hemocentro é complicada. Esses fatores estão prejudicando bastante as doações”. A média de doações no HUSM era

de 40 a 45 doadores diários, enquanto que no Hemocentro trabalha-se com a metade do antigo número, ou seja, cerca de 20 a 25 doadores por dia. Uma queda de 50% nas doações causa a escassez de tipagens de sangue menos comuns, como as negativas. O principal problema está relacionado à falta de plaquetas, apesar de não faltar sangue para situações de cirurgia ou reposição em acidentados, por exemplo (entenda como o sangue é processado após a coleta na ilustração). Desde 5 de maio de 2008, data de abertura do Hemocentro, até o dia 27 de abril deste ano, os doadores em Santa Maria ficaram na casa de 3.966 pessoas. A fim de complementar as doações que são realizadas em Santa Maria, a equipe do Hemocentro realiza coletas em cidades vizinhas, destacando um efetivo para ir a esses locais em finais de semana. O resultado dessas ações tem sido muito importante na obtenção de um certo equilíbrio entre a “produção” e a demanda de sangue. Outro ponto que dificulta um maior número de doações é o horário de funcionamento do Hemocentro. O órgão permanece aberto aos doadores seis horas diárias, três pela manhã e três pela tarde, não abrindo aos finais de semana e feriados, o que impossibilita que um número significativo de potenciais doadores se dirijam ao local. O resultado do primeiro ano de funcionamento do Hemocentro traz mais problemas a serem resolvidos do que bons resultados. O órgão necessita de uma equipe de funcionários mais numerosa e de um planejamento que permita a superação do atual quadro. Por sua vez, a população precisa entender seu papel dentro desse contexto, aumentando o número de doações para que, dessa forma, incentive a melhoria dos serviços prestados pelo Hemocentro. .txt

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capa

A hora e a vez de Silveira Martins

A rotina bucólica de Silveira Martins está com os dias contados. Um dos principais municípios com imigração italiana da Quarta Colônia se prepara para receber a primeira unidade descentralizada de ensino da UFSM. Texto: Gabrielli Dala Vechia e Juliana Frazzon

O Centro Cultural Bom Conselho vai abrigar, provisoriamente, o campus da UFSM em Silveira Martins.

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A

exemplo do que aconteceu na segunda metade de 2005, quando ocorreu a implantação do Centro de Educação Superior Norte (CESNORS), a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) está em processo de fundação de uma nova unidade de ensino externa a sua cidade de origem. Enquanto os municípios de Frederico Westphalen e Palmeira das Missões se tornaram sede do nono centro da UFSM, o CESNORS, a cidade de Silveira Martins se prepara para receber a Unidade Descentralizada de Ensino Superior de Silveira Martins (UDESSM). Os procedimentos vêm desde o ano passado, quando o Ministério da Educação (MEC) sinalizou a possibilidade da criação de uma unidade de extensão da UFSM por meio do Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, o REUNI. A proposta de alocar tal unidade em cidades pertencentes à Quarta Colônia foi concebida devido à constatação de que a UFSM não afetava a região do seu entorno, que vem sofrendo uma recessão econômica constante nos últimos anos. A escolha dos municípios se baseou em critérios geográficos e históricos, chegando à solução de se criar uma unidade de ensino em cada margem do Rio Jacuí: “na margem direita, escolheu-se Agudo, por ser sede da colônia alemã de Santo Ângelo e reproduzir as dificuldades das cidades ao redor; e na margem esquerda, Silveira Martins, por ser sede da Quarta Colônia de imigração italiana e também condensar as características dos municípios ao redor”, explica o Pró-Reitor de Graduação da UFSM Jorge Cunha.

Foto: Juliana Frazzon

Mapa da região da Quarta Colônia

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A negociação entre a Universidade e o município de Agudo não foi adiante. Enquanto que Silveira Martins recebeu a extensão por ter apresentado uma melhor proposta do que a de Agudo. A proposta escolhida culminou com a assinatura de um acordo de cooperação entre as duas instâncias, ainda em dezembro do ano passado, que incluía a cessão de parte de um prédio para as salas de aula. O campus de Silveira Martins vai funcionar no Centro Cultural Bom Conselho, prédio de 1908 que já foi sede do único colégio de ensino médio da cidade, de mesmo nome. Atualmente, os 2.660 m² são ocupados pelo museu municipal, o sindicato dos trabalhadores rurais, a EMATER, o telecentro, a Secretaria de Turismo, Cultura e Eventos, a Secretaria de Saúde e Assistência Social e a Biblioteca Municipal. A partir do mês de agosto, mais 200 acadêmicos também vão dividir este espaço. Para recebê-los, a Prefeitura da cidade está concluindo uma série de reformas que destinam onze salas à UFSM. .txt Maio de 2009 15

Alguns meses antes do vestibular, adesivos já ‘propagandeavam’ a instalação do campus da UFSM em Silveira Martins.

Foto: Juliana Frazzon

Foto: Juliana Frazzon

O vice-prefeito de Silveira Martins, Dair Dellamea, afirma que, além das mudanças prediais de infraestrutura, avaliadas em cerca de R$ 200.000,00, os gastos com a manutenção posterior também ficam a cargo do município: “limpeza, água, esgoto, luz, tudo isso ficou com a Prefeitura”, afirma Dair. A cedência, no entanto, é temporária, já que a cidade doou um terreno para que a UFSM construa suas próprias instalações. Por ora, serão construídos dois prédios que somam 2.275 m², com custo previsto de R$ 2,5 milhões. Os prazos iniciais marcavam a abertura de licitação para o mês de março e o começo das obras para abril, mas ainda não foi iniciado o processo licitatório. Tiago Hoppe, engenheiro da Pró-reitoria de Infraestrutura da UFSM, credita o atraso ao acúmulo de projetos trazidos pelo REUNI. A perspectiva, agora, é de que a licitação seja aberta no mês de julho e a construção inicie no mês seguinte.

Vice-prefeito de Silveira Martins, Dair Dellamea, diante do prédio em obras.

Expectativas dos novos cursos na sede da Quarta Colônia

“Ver para crer”

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rotina trazida pela implantação de um campus federal de ensino superior (que há quase 50 anos mudou a lógica de Santa Maria) ainda não trouxe mudanças a Silveira Martins. Quem visita a cidade tem a impressão de que retrocedeu no tempo e se deslocou no espaço. É como se os imigrantes italianos tivessem trazido um pedaço da Europa do século XIX e incrustado na região central do estado. O Produto Interno Bruto (PIB) do município está entre os 15 piores do Rio Grande Sul, sendo que os 2.500 habitantes estão, quase na totalidade, ligados à agricultura. Não existem restaurantes diários, pensões, provedores de internet, tampouco imobiliárias. A vinda de um campus da UFSM para Silveira Martins, portanto, é encarada pelas autoridades, tanto locais quanto da Universidade, como um impulso ao desenvolvimento econômico da região. Dair Dellamea afirma que a prefeitura aposta nas melhorias que o campus pode trazer à cidade, devido ao aumento no fluxo de pessoas. Contudo, faz uma ressalva: “a comunidade vai adotar

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a ideia com o tempo; aqui é terra de gringo, as pessoas têm que ver para crer”. Com um discurso otimista semelhante, Jorge Cunha compara as trajetórias de Santa Maria e Cacequi para exemplificar os impactos positivos que a Universidade pode trazer: “na segunda metade dos anos 50, Cacequi era uma cidade de entroncamento férreo tão importante quanto Santa Maria, e para cá veio a UFSM. Desapareceu a via férrea. Agora, comparem essas duas cidades”. Já entre os moradores, a questão não é consensual. Milton Bunhoto, proprietário do ponto de táxi, acredita que a necessidade exigida pela demanda vai fazer com que Silveira Martins cresça economicamente: “alguém vai ter que se mexer e fazer”. A supervisora do Colégio Bom Conselho, Carmen Tondolo, além de ressaltar as expectativas dos alunos da única escola de ensino médio da cidade, também afirma que tem notado o aumento na procura por casas para alugar. As proprietárias da única pousada do município também creem na fórmula que relaciona o aumento do fluxo de pessoas na cidade com crescimento econômico. Carmen

Lorenci e Iara Pereira, contudo, também demonstram preocupação de que não serão os cidadãos locais os investidores nem mesmo os beneficiados desse processo de desenvolvimento. Para Iara, pelo fato de a população ser majoritariamente idosa, “não vão ser os moradores de Silveira Martins que vão investir na cidade; não se quer fazer e também não se quer que alguém faça”. Já Carmen destaca a inexistência de serviços básicos e de ônibus que liguem as cidades da Quarta Colônia: “quando organizamos caminhadas, não podemos passar por aqui no horário do almoço, porque os restaurantes só abrem aos finais de semana”.

O

projeto de um novo campus em Silveira Martins foi planejado para atender às demandas que se mostravam fundamentais, pois havia um empobrecimento visível dessa região, o que passou a ser chamado de ‘desvitalização territorial’. Isso porque os cérebros mais competentes buscavam riqueza e renda em outros lugares. Assim, a Universidade resolveu fixar esse pessoal na região e revitalizá-la. “Silveira Martins é, hoje, da forma como a gente pensou, uma universidade com um viés muito forte para a questão da revitalização do espaço rural”, segundo José Lannes de Mello, membro da Comissão Responsável pela Elaboração do Projeto, da Coordenação do Projeto e da Comissão de Implantação do novo campus em Silveira Martins. O empobrecimento decorreu, inclusive, da Revolução Verde, que ocorreu no Brasil na década de 60 e implicou a introdução de novas máquinas e sementes e novos inseticidas e adubos. As novas tecnologias aumentaram a escala de produção e ocasiona-

ram a evasão de muita gente, principalmente os pequenos proprietários, que não tiveram acesso ao novo padrão tecnológico. Com o tempo, o pacote tecnológico também prejudicou os produtores rurais. Foi preciso comprar insumos industriais e, à medida que crescem mais aceleradamente do que o preço do produto agrícola, a rentabilidade dos produtores vai sendo reduzida, o que gera a falência e provoca o processo de êxodo rural. O que sobrou no campo foi o grande empresário capitalista, que produz soja, arroz e outros produtos em grande quantidade; e uma parcela significativa de pequenos agricultores familiares tentando se defender dessa tecnologia. Também há um número considerável de aposentados que estão no campo, e por isso uma grande parte da renda agrícola hoje vem de aposentadoria. A tentativa dos cursos é a de potencializar o espaço rural dominado pela pequena propriedade familiar, que está hoje desvitalizada. Desse modo, as propriedades

conseguem agregar valor ao seu produto e podem vendê-lo para fora. A demanda dos cursos não superou a expectativa, já pessimista. Não houve mais de um candidato por vaga em geral. As vagas serão preenchidas através de outros processos de seleção, a fim de que cada curso complete sua capacidade de 50 alunos. Para que isso não volte a ocorrer, a ideia da Comissão de Implantação do novo campus é de que haja maior publicidade dos cursos a partir do segundo semestre deste ano. As estratégias previstas são: divulgar a nova unidade nos meios de comunicação e também visitar as escolas de ensino médio da Quarta Colônia. Sandro Souza, policial militar e vestibulando inscrito no tecnólogo de Gestão Ambiental, afirma que a UDESSM “tem uma boa aceitação por parte dos moradores e uma expectativa bem grande por parte da comunidade em geral e do comércio”. O policial escolheu o curso de Gestão Ambiental porque o considera interessante, além de estar ligado a sua área de atuação.

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categorias

Sem provas e com projetos U

Sala de aula em reformas

Os cursos da UDESSM Curso Superior de Tecnologia em Agronegócio O tecnólogo em Agronegócio é um profissional atento às novas tecnologias que colaborem com o desenvolvimento de negócios na agropecuária, preferencialmente em micro e pequenas propriedades, a partir do domínio de processos de gestão e de formação de redes produtivas no setor. Curso Superior de Tecnologia em Processos Gerenciais O tecnólogo em Processos Gerenciais elaborar e implementar métodos e técnicas de gestão na formação e organização empresarial, especificamente nos processos de comercialização, suprimento, armazenamento, movimentação de materiais e gerenciamento de recursos financeiros e humanos. Também são requisitos importantes na formação desse profissional

a habilidade nas relações interpessoais, na comunicação e no trabalho em equipe. Além disso, espírito de liderança e poder de argumentação, busca por informações e tomada de decisões em contextos socioeconômicos, políticos e culturais distintos. Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental O egresso do tecnólogo em Processos Ambientais deve ser um profissional que planeje, analise, interprete, controle, proponha, promova e gerencie intervenções nos processos ambientais, atuando no segmento junto com equipes multidisciplinares, com o objetivo de identificar, minimizar e prevenir o impacto ambiental. São requisitos à atuação desse tecnólogo o conhecimento da legislação ambiental e a aplicação das normas de segurança, de saúde e de qualidade.

ma inovação do projeto pedagógico que será implantado no campus de Silveira Martins é que ele não seguirá o método tradicional de ensino. O aluno não precisar provar o conhecimento adquirido através de uma prova. Ele entra em um projeto e define o problema a ser resolvido na área do conhecimento que escolheu. A partir disso, os conteúdos necessários são definidos de modo multidisciplinar. A metodologia de aprendizagem por projetos foi escolhida para regrar os quatro tecnólogos por possibilitar a formação de um egresso capaz de problematizar. Esse método é utilizado em poucas instituições de ensino superior do Brasil e tem formado profissionais bastante capacitados. Os tecnólogos formam um sujeito operacional, contrapondo-se ao perfil do estudante de um curso de bacharelado. .txt

Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Turismo O egresso do curso tecnólogo em Gestão de Turismo atua no planejamento e no desenvolvimento da atividade turística nos segmentos público e privado; também atua no gerenciamento de políticas públicas e de atividades de comercialização, e na promoção dos serviços relativos à atividade. A identificação dos potenciais turísticos regionais, considerando a diversidade cultural e os aspectos socioambientais para o desenvolvimento local e regional, constituem atividade relevante desse profissional. Carga horária: 2.430 horas Período de duração: três anos (seis semestres) Turno: diurno Número de vagas (por curso): 50

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Eleição paritária garante a democracia?

Texto: Letícia de la Rue

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mpossível não notar a quantidade de cartazes espalhados pelo campus. Banners e bandeirolas foram fixados na entrada de vários prédios. Nem os canteiros, cujas flores adornam o espaço, foram poupados. O motivo de toda essa propaganda tem nome. Nome e cargo. O cargo é de reitor, e o nome será definido no dia 16 de junho deste ano pela comunidade acadêmica da UFSM. A consulta paritária, novidade nessa eleição, é o meio pelo qual o futuro reitor será escolhido. No caso do voto paritário, cada um dos segmentos (alunos, docentes e servidores técnico-administrativos) tem peso de 1/3 na votação. Na última consulta, em 2005, o peso de cada categoria era de 30%, e os docentes e servidores aposentados tinham direito aos 10% restantes. Neste ano, os aposentados também estão aptos a votar, mas seus votos serão computados no percentual de sua categoria. Os alunos da Educação à Distância (EAD) podem votar apenas em uma urna localizada no prédio da reitoria da UFSM. Uma Comissão de Consulta à Comunidade Acadêmica foi criada para organizar e conduzir o processo eleitoral. A Comissão é formada por três representantes das três entidades representativas da UFSM: Associação dos Servidores da UFSM (ASSUFSM), Diretório Central dos Estudantes (DCE) e Seção Sindical dos Docentes da UFSM (SEDUFSM). O estudante de História Pedro Silveira, membro da Comissão de Consulta e do DCE, afirma que: “em todo o Brasil, o movimento estudantil, dos professores e dos funcionários vem pautando isso, para que a universidade seja mais democrática, para que o método de escolha dos dirigentes se dê por eleições justas”. Assim também é a opinião do servidor técnico-administrativo Eloiz Guimarães Cristiano, membro da Comissão Eleitoral e da ASSUFSM, que vê o voto paritário como um importante avanço para a Instituição. Como bandeira máxima, as duas categorias defendem o voto universal. Em contrapartida, a categoria dos docentes, segundo coloca o professor do Departamento de Geociências (membro da Comissão de Consulta e da SEDUFSM), Carlos Alberto Pires, defende que “em relação à democratização do processo de escolha nas universidades, nossa opinião é de que o voto deva ser paritário, não universal”.

Alternativa ao Estatuto da UFSM 18 .txt Maio de 2009

Reunião da Comissão de Consulta, formada por representantes dos três segmentos da UFSM.

Conforme o Estatuto, a porcentagem de 70% dos votos para

o corpo docente e os demais 30% para as outras categorias deve ser obedecida. O Colégio Eleitoral, formado pelos três conselhos superiores da Universidade (o Universitário; o de Ensino, Pesquisa e Extensão; e o de Curadores) faz a escolha dos candidatos. Ele também elabora, depois da consulta, uma lista tríplice com os nomes dos candidatos, respeitando as exigências do Estatuto. A ‘consulta informal’ foi instituída como opção ao modelo do Estatuto, pois a eleição paritária permite que todos os segmentos da instituição se manifestem de uma forma igualitária. Depois de computados os votos, a Comissão de Consulta envia o resultado para uma Comissão Eleitoral, formada por membros do Conselho Universitário, que por sua vez envia o resultado para o Colégio Eleitoral. Cabe, então, ao Colégio Eleitoral homologar o resultado, elaborar a lista tríplice com o nome dos candidatos e enviar o resultado à Brasília. A palavra final é dada pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. Sobre a alternativa ao modelo que consta no Estatuto da UFSM, o professor Carlos Alberto Pires afirma: “a consulta paritária é feita por um acordo de cavalheiros que ocorre no interior do Conselho Universitário, e que deverá ser homologada pelo Colégio Eleitoral”. Segundo o acordo, o Colégio Eleitoral referenda a decisão da maioria da comunidade universitária, e coloca o candidato mais votado em primeiro lugar na lista tríplice a ser enviada para Brasília. O Colégio Eleitoral deve, ainda, indicar um terceiro nome para completar a lista. Contudo, existe a possibilidade de o Colégio Eleitoral discordar do resultado da consulta, elaborando a lista tríplice de acordo com o seu entendimento. O professor Carlos Alberto Pires afirma que isso seria uma quebra do compromisso assumido, ou seja, do ‘acordo de cavalheiros’. O servidor Eloiz Cristiano acrescenta que “poderia ser elaborada a lista tríplice sem a consulta, mas ela é feita para que o processo se torne mais democrático e transparente. Se o Colégio fizesse isso, seria um retrocesso”. O coordenador do curso de Desenho Industrial e membro da Comissão Eleitoral, Luiz Antônio dos Santos Neto, relata que “vale o resultado do processo ocorrido no Colégio Eleitoral, por força de lei”. Numa eleição em que a divulgação das chapas tem sido intensa, resta saber se a “vontade popular” será respeitada pelo Colégio Eleitoral da Instituição. .txt .txt Maio de 2009 19

Foto: Marcelo de Franceschi

Foto: Juliana Frazzon

cultura

O grupo Vagabundos do Infinito já levou seus espetáculos para várias cidades do Rio Grande do Sul. Um deles é Vida acordada.

Do Caixa Preta aos palcos afora

ao Paraná para participar do 18º Festival de Curitiba, no qual participam artistas do Brasil inteiro com vários tipos de linguagem e conceitos de dramaturgia. O Teatro Camaleão também ministrará, a partir de agosto até dezembro deste ano, o Curso Livre de Teatro para interessados que sejam iniciados ou não nas Artes Cênicas. No curso, serão ensinados exercícios de aquecimento e conscientização corporal, jogos teatrais e improvisação para ampliar a capacidade perceptiva do corpo.

Alunos do curso de Artes Cênicas da UFSM tomam iniciativa de criar grupos de Teatro durante o curso para apresentações de espetáculos fora do campus.

Texto: Gabriela Loureiro

O espetáculo Uma Estória Abensonhada do Teatro Camaleão participou do 18º Festival de Curitiba

Grupo Platoon

Esse é o caso do grupo Platoon, criado em 2004 e coordenado pelo diretor de teatro Mário Ilha. Na época, alguns estudantes de Artes Cênicas interessados em arte circense se juntaram para trabalhar com acrobacias, malabarismo, malabares com fogo e clown (interpretação de palhaço). Para isso, os integrantes do grupo buscaram um treinamento fora da Universidade. Alguns deles, inclusive, fizeram um curso com o Grupo Tholl, a Trupe Circense de Pelotas. Inicialmente, o Platoon começou a montar esquetes (uma espécie de miniespetáculo), a participar de feiras e a animar aniversários infantis. Em 2006 , o grupo levou o espetáculo Evolution Circus para o VII Rosário Em Cena, um festival de Teatro em Rosário do Sul, e recebeu o prêmio do Júri Popular. Um ano depois, o grupo fez o projeto Malabariando, financiado por Lei de Incentivo à Cultura e idealizado para atender às crianças carentes. Através dele, o grupo leva o teatro a áreas com dificuldades de acesso à cultura. O espetáculo do projeto foi O circo do Maluquinho e era apresentado em escolas públicas da periferia, além de oferecer uma oficina de arte circense aos pequenos. Foto: Divulgação/ Francieli Rebelatto

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azer exercícios para respiração e entonação, interpretar textos para teatro, concentrar-se para unir corpo e mente na mesma atividade, construir personagens, improvisar... Não é fácil ser ator. Mais difícil ainda é ser estudante e ator ao mesmo tempo. Porém, a situação fica realmente exaustiva quando se produzem espetáculos além dos exigidos pelo curso. Alguns alunos de Artes Cênicas da UFSM fazem tudo isso ao mesmo tempo para ter mais experiência em dramaturgia ainda durante a faculdade. Eles se unem em grupos de Teatro e caem na estrada para levar seus espetáculos criados no Centro de Artes e Letras (CAL) pelo Rio Grande do Sul afora e para onde mais for possível. Como os alunos precisam produzir espetáculos durante sua formação acadêmica, eles acabam se unindo e colaborando nos espetáculos de outros colegas ao mesmo tempo. Assim, formam-se elencos mutáveis que vão se transformando ao longo dos anos. Na maioria das vezes, os grupos vão se dissipando, mas, em certos momentos, criam-se grupos formalizados de atores que vão trabalhar em determinados espetáculos juntos.

Uma das integrantes do Platoon, Aline Da Luz, é formada em Direção pelo curso de Artes Cênicas da UFSM e se sente realizada com seu trabalho no grupo: “Desde 2004, eu trabalho com clown. Eu particularmente gosto muito de trabalhar com criança, a pureza infantil é linda, você vê no olho dela se ela está gostando do espetáculo. O público infantil é o mais sincero.” O projeto Malabariando rodou por escolas de Santa Maria e região em 2007 e 2008 e já foi finalizado. O atual projeto chama-se Energias da Imaginação e, assim como o anterior, é financiado por Lei de Incentivo à Cultura. Dessa forma, o projeto foi patrocinado por uma única empresa através de benefícios fiscais. O Platoon, então, apresenta-se em cidades nas quais a empresa possui uma sede e reúne crianças de várias escolas da cidade em um único ginásio. Depois do espetáculo, que continua sendo O circo do maluquinho, são selecionadas algumas crianças para participarem da oficina de arte circense. O trabalho desenvolvido pelo grupo não somente anima crianças muitas vezes da zona rural, que não teriam acesso à arte circense senão pelo Platoon. Ele também ajuda na formação e desenvolvimento profissional de seus integrantes. “Aqui no CAL, você apresenta basicamente para o público acadêmico. Com a formação de grupos de teatro, você pode começar a sair da academia e apresentar seus espetáculos para o público que você realmente quer atingir, um público teatreiro, mas não um grupo com formação acadêmica em teatro”, justifica Aline.

Teatro Camaleão Outro grupo de teatro gerado no CAL é o Teatro Camaleão, formalizado em 2007 por três alunos agora formados em Interpretação no curso de Artes Cênicas. Enquanto os três produziam seus monólogos, eles foram percebendo uma certa sincronia entre si e chegaram à conclusão de que seria interessante continuarem apresentando espetáculos juntos. No caso do Teatro Camaleão, o professor

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Vagabundos do Infinito

Foto: Divulgação

Eduardo Okamoto, na época professor da UFSM , incentivou-os a formar o grupo e a apresentar seus espetáculos em outros lugares além do Teatro Caixa Preta. Para o professor Okamoto, essa experiência é fundamental para a aprendizagem do aluno: “Os atores nem sempre poderão contar com os professores. Assim, mais que repetir as soluções encontradas pelos seus mestres, eles devem estar aptos para encontrar soluções para os seus problemas, nas suas circunstâncias. Nesse sentido, o grupo de teatro é importante porque pessoas que partilham de experiências comuns podem buscar juntas soluções criativas para os problemas da criação; isso, claro, sem hierarquias”. Orientados pelo professor Okamoto, os integrantes do Teatro Camaleão utilizaram uma metodologia teatral chamada Mímesis Corpórea. O método busca observar as ações cotidianas das pessoas e codificá-las para imitação. “Nós entramos em contato com pessoas, filmamos, tiramos fotos, entrevistamos e, a partir do que as pessoas falam e a maneira como elas agem, nós vamos para a sala de ensaio e buscamos imitar essa qualidade de voz, de corpo, tendo como base do trabalho essas ações cotidianas que depois em outro momento podem ser teatralizadas e colocadas em cena”, explica Eduardo Colombo, um dos integrantes do grupo. Na Mímesis, o ator busca o universo da personagem que interpretará para observação, codificação e imitação. Uma das inte-

grantes do grupo, Luciana Oliveira, explica, “por exemplo, o meu monólogo, no qual eu interpreto um palestrante, o meu orientador indicou que eu fosse para um universo de oradores, professores e pastores.” A observação e imitação permanecem no repertório do ator para que ele possa utilizálas em outros espetáculos. “Diferentemente da visão convencional que as pessoas têm de um espetáculo, na qual a peça começa do zero, na Mímesis, pressupõe-se que o ator já tenha um repertório que possa ser utilizado. Então o espetáculo pode ser criado em menos tempo porque o ator já tem as ações orgânicas e o diretor pode só organizar essas ações e formar um novo espetáculo”. O Teatro Camaleão agora concentra suas energias para apresentar o espetáculo Uma Estória Abensonhada, criado pelos atores e baseado em um conto do escritor moçambicano Mia Couto e na Mímesis Corpórea. A intenção do espetáculo é mostrar a importância dos pequenos detalhes da vida que normalmente passam despercebidos. Com o trabalho desenvolvido no grupo, os integrantes evoluem como atores e seres humanos. “É incrível, nós começamos a apurar um pouco mais essa observação das pessoas, então, nós estamos conversando com alguém e de repente ela olha para o lado e nós percebemos que tudo aquilo que ela falou ou quis falar está naquele olhar, é comovente”, conta Eduardo. Atualmente, os atores do Teatro Camaleão buscam espetáculos para se apresentar em todo o país. Em março, eles viajaram

Outra aliança criada no CAL é o grupo de pesquisa em Teatro Vagabundos do Infinito, orientado pelo professor Paulo Márcio. O grupo foi criado em 2005 a partir de uma pesquisa realizada pelo professor e outros alunos em 2004, informalmente intitulada “Uma relação da preparação xamânica com a preparação do ator”. Há três anos, o grupo apresenta seis espetáculos (quatro monólogos e duas peças coletivas) em diversos eventos e festivais. Os vagabundos do infinito já rodaram por Porto Alegre, Dom Pedrito, Rosário do Sul, Varginha (MG) e já apresentaram e participaram de festivais nativos, como o Santa Cena. Ao menos um prêmio de melhor ator, dentre outros, foi ganho em todos os festivais nos quais o grupo compareceu. O grupo se baseia, sobretudo, nas obras do escritor e antropólogo Carlos Castaneda para seus estudos e espetáculos. Sua prática é basicamente um trabalho que envolve sonhos lúcidos e outras vertentes interligadas. “É todo um trabalho de descondicionamento e um trabalho energético sobre si mesmo, sobre as suas interações durante a vida, com a memória, que inclui visualização e um trabalho respiratório”, explica Paulo Márcio. Muitos egressos formados em Artes Cênicas pela UFSM montam grupos de teatro em várias regiões do Brasil, como o grupo Santa Víscera, que tem conquistado visibilidade em São Paulo, e também o grupo de pesquisa Cia Buffa de Teatro, em Salvador. É cada vez mais frequente a formação de grupos de Teatro dentro da UFSM que saem Santa Maria afora em busca de oportunidades, devido ao restrito mercado de trabalho da área. Com suas bagagens repletas de figurino e empenho, os atores do CAL também levam cultura por onde passam e deixam em seus rastros o nome da UFSM como referência de formação em Teatro. .txt .txt Maio de 2009 21

cultura

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A história do

Ciclo de Cinema D Texto: Felipe Viero

esde a sua criação, o cinema passou a se constituir como uma das mais expressivas manifestações da sociedade, criando representações, internacionalizando a cultura e produzindo grandes paixões. Mesmo com o acesso à sétima arte cada vez mais facilitado, pelo desenvolvimento de novas tecnologias, muitos filmes são deixados de lado por não serem o sucesso, ou blockbuster, do momento e tornam-se raros em locadoras de vídeo ou em salas de exibição comercial. Com o objetivo de popularizar as produções antigas ou contemporâneas, “hollywoodianas” ou não e analisá-las sob um ponto de vista histórico e social, foi criado o Ciclo de Cinema Histórico.

O cinema sob outras lentes Os Ciclos de Cinema Histórico fazem parte de um projeto de extensão do curso de História da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Eles foram idealizados pelo então acadêmico desse curso, Alexandre Maccari Ferreira, sob a orientação do professor do Departamento de História e do Mestrado em Integração Latino Americana (MILA), Diorge Alceno Konrad. O projeto consiste na exibição gratuita de filmes agrupados a partir de uma temática 22 .txt Maio de 2009

específica. Cada exibição é seguida por comentários feitos por um ou mais convidados que têm alguma relação com o assunto abordado pelo filme ou se interessam pelo cinema de um modo geral. Faz parte do projeto, também, a publicação de livros contendo artigos relacionados às exibições e aos comentários posteriores a elas. As primeiras edições do Ciclo de Cinema Histórico foram planejadas no final de 2004 e produzidas em 2005. O local escolhido para sediá-los foi o auditório do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), localizado no antigo prédio da Reitoria. Sobre essa escolha, Maccari afirma que ela não foi feita de modo aleatório, afinal “a ideia inicial foi justamente fazer o Ciclo no centro, ocupando o auditório, para proporcionar tanto aos acadêmicos quanto à comunidade santa-mariense a oportunidade de participar do Ciclo”. O professor Diorge também vê da mesma forma positiva essa proposta de popularizar o cinema, embora considere que o fato do projeto ser realizado na universidade “ainda murada” acabe “dando acesso mais à comunidade acadêmica do que à santamariense ou de integrantes de movimentos sociais e de outras instituições”. Tendo como parceiros iniciais o curso de História, o MILA e o CCSH, o primeiro Ciclo ocorreu em maio de 2005 e reuniu filmes sob o título Latinos em Lugar Qualquer. Ele foi seguido por mais dois, que também estavam planejados, Grandes Guerras e...

Filmes e Sangue no Calor; Lágrimas no Frio e por um quarto, Sessões Especiais de Política, que não estava previsto inicialmente. No ano de 2006, além de mais quatro Ciclos, foi lançado o primeiro livro, Uma história a cada filme, indo ao encontro do planejamento inicial. Mas os Ciclos não pararam por aí. (confira quais foram os Ciclos já exibidos no quadro que está logo abaixo). Sob a Coordenação Geral do Professor Konrad e a Organização Geral de Maccari e de Camila dos Santos, os Ciclos possuem ainda uma comissão. Essa equipe conta com a participação de alunos de diferentes cursos, com professores e inclusive com egressos da UFSM e é responsável pela escolha dos temas, pela seleção dos filmes e pela consolidação do projeto.

Muitas histórias além de cada filme

Em relação às temáticas, elas têm sido bem variadas. Houve Ciclos como Ao som da história, com importantes musicais que marcaram época e embalaram gerações; Umas épocas e certas revoluções, que trouxe obras que tinham como pano de fundo batalhas ou revoluções; e Para viver e ver um grande amor, em que os amores representados na grande tela eram o tema central. Filmes de importantes diretores, como Michelangelo Antonioni, Ingmar Bergman, Martin Scorsese e Woody Allen também já foram exibidos, além de atuações memoráveis, como a de Charles Chaplin, em Luzes O HISTÓRICO DO CICLO Além dos ciclos produzidos em 2006, também já estiveram no auditório do CCSH, por ordem de exibição: A História de caso com a máfia; Intolerância e resistência; Relíquias cinematográficas da antiguidade; Dos tomos às telas; Animados pela história; Nos tempos do Faroeste; Ao som da história; O Brasil em close-up; Mundos do trabalho... e do cinema; Umas épocas e certas revoluções; Lugares do Cinema, espaços da história; 40 anos de sonhos e de barricadas; Para viver e ver um grande amor; A biografia como ela é... Por caminhos incertos; Excluídos do ocidente; Mulheres à beira de uma sessão de cinema; Crenças, fé e obsessões religiosas;

da Cidade, de 1931, e a de Vivien Leigh, em E o vento levou, de 1939. Além disso, essa mesma comissão organizadora do Ciclo possui histórias que poderiam render outro livro. Em determinados dias de exibição foram preparadas apresentações, nas quais membros dessa equipe caracterizavam-se de acordo com o filme em questão. Desse modo, em Nos tempos do Faroeste houve um embate entre xerife e meliantes, em pleno auditório do CCSH, e em A biografia como ela é..., Bob Dylan foi interpretado por Maccari. (Veja o quadro abaixo). A exibição de filmes de épocas variadas, bem como de produções de Hollywood e de outras regiões constituem e essência do projeto. Mostrando diferentes faces da cinematografia, abrange um público mais vasto, atraído justamente por essa base sobre a qual ele se estrutura. O professor Diorge Konrad afirma que existe "uma opção preferencial pelo chamado cinema de arte ou autoral, mas [o Ciclo] não é excludente em relação aos blockbusters, até porque alguns daqueles filmes tornam-se também sucesso de público e são exibidos em salas comerciais”. Outro ponto que caracteriza os Ciclos é a presença constante de filmes nacionais. Em relação a isso, Maccari afirma que “nós sempre pensamos em valorizar o cinema nacional, tanto que produzimos um ciclo só de cinema brasileiro, voltado para a história do Brasil, mas a ideia é sempre, dependendo do

ciclo, exibir um ou dois filmes brasileiros”. Esse ano, por exemplo, já foram exibidos alguns filmes nacionais, como Dona Flor e seus dois maridos, de 1976, e O pagador de promessas, de 1962. Agora em 2009, quando o projeto chega ao seu quinto ano, uma pergunta que surge está relacionada ao seu futuro. O projeto possui uma previsão de ser concluído ou ele continuará fazendo parte da agenda da UFSM e da cidade de Santa Maria? Alexandre Maccari afirma que a proposta inicial era organizar ciclos durante o período de três anos, mas que, com o envolvimento de outros membros na equipe, a ideia passou à manutenção do Ciclo com novas pessoas na equipe organizadora, prolongando-o indefinidamente. O mesmo é dito pelo professor Diorge, o qual afirma esperar que o projeto “seja de vida longa”. Desse modo, estão planejados para esse ano o lançamento de mais dois livros, um relacionado às exibições de 2007, que não foi lançado no ano passado, e um relacionado às exibições de 2008. Além dos dois Ciclos que já ocorreram nesse semestre, Mulheres à Beira de uma Sessão de Cinema e Crenças, Fé e Obsessões Religiosas, outros são aguardados para os próximos meses (confira o quadro abaixo). Dando continuidade, assim, a um projeto que sempre se valeu do cinema para romper as barreiras do tempo e do espaço e para mostrar que a história não está apenas nos livros. .txt

O CICLO NA REDE Para quem não foi ao ciclo no dia em que Bob Maccari Dylan estava lá, ou perdeu um verdadeiro embate entre xerife e facínoras, no Youtube existe um documentário que foi apresentado e premiado no Salão de Extensão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2008 e que mostra imagens como essas. Basta acessar o Youtube (www. youtube.com) e buscar “Ciclo de Cinema Histórico”.

AS SESSÕES CONTINUAM EM 2009... Iniciou no dia 11 de maio, e terá continuidade até o mês de julho, o Ciclo Sessões D Segunda Guerra, que aborda filmes ligados à Segunda Guerra Mundial. Para o segundo semestre, são aguardados “Cronicamente Encarcerados”, tratando de assuntos como obsessões e solidão, e “O Futuro é História”, que se propõe a traçar um histórico da ficção científica. Outras informações podem ser obtidas no Departamento de História (3220-9226) ou na Assessoria de Comunicação do CCSH (3220-9218). MOTIVAÇÃO EXTRA Lembrando que os Ciclos de Cinema Histórico, mediante um limite de faltas, conferem ao participante um certificado. Ele possui uma carga horária determinada, a qual pode ser validada como Atividade Complementar de Graduação (ACG). .txt Maio de 2009 23

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perfil

Darcy, o marceneiro Foto: João Pedro Wizniewsky

Cientista econômico que optou pelo ofício da marcenaria tem feito a diferença no Desenho Industrial Texto: Charles Almeida

C

ada aluno que passa o cumprimenta, muitos interrompem o barulho da serra para pedir orientações, outros querem saber como estão os projetos. Assim se passa o dia a dia na marcenaria do prédio anexo ao Centro de Artes e Letras – prédio 40 do campus – onde o marceneiro Darcy Augusto Wiethan dedica-se a auxiliar os acadêmicos do curso de Desenho Industrial - Projeto de Produto. O envolvimento de “seu Darcy” é perceptível pelo modo atencioso como trata os alunos, apontando caminhos que viabilizam as proposições dos acadêmicos. Seu talento profissional e sua cordialidade geraram, recentemente, uma mobilização dos alunos do Desenho. O funcionário foi protagonista do movimento “Fica Darcy”, quando estava para retornar à marcenaria geral da Universidade e os acadêmicos lutaram por sua permanência no Curso. Do episódio, ele não quer fazer comentários, apenas admite ficar lisonjeado com o carinho demonstrado pelos alunos. Bruna Casali da Silva, aluna do 7º semestre de Desenho Industrial, reconhece o trabalho do funcionário. “O ‘seu Darcy’ dá dicas de construção, de projetação, de funcionamento. Antes a gente encaminhava os projetos para serem feitos fora e não podia acompanhar o desenvolvimento deles, fazer ajustes era difícil. Ele aumentou nosso poder de criação”. Casado com Pedrolina e pai da mestranda em fonoaudiologia, Fernanda, “seu Darcy” é natural de Santa Maria, crescido no Bairro Medianeira. Ele começou os trabalhos no ramo de marcenaria aos 14 anos, em uma empresa pertencente à sua família. As primeiras instruções sobre seu ofício teve com seu irmão mais velho. Mes24 .txt Maio de 2009

Darcy, 49 anos, atento na execução dos projetos dos acadêmicos de Desenho mo com a atividade profissional, “seu Darcy” não abandonou os estudos e devido às boas notas no ensino fundamental cursou o ensino médio no Colégio Marista Santa Maria, com bolsa de estudos. Em 1980, ingressou no curso de Ciências Econômicas da UFSM, graduando-se em 1985. Mesmo com o diploma de economista na mão, ele optou pela profissão de marceneiro e continuou trabalhando na empresa familiar. Em 1994, após aprovação em concurso público – o último para sua atividade profissional, como gosta de frisar – ingressou no quadro de funcionários da UFSM. “Seu Darcy” passou a trabalhar na confecção de móveis como mesas, armários e quadros-murais na marcenaria da antiga Prefeitura da Cidade Universitária – hoje Pró-Reitoria de Infraestrutura. Seu detalhismo na fabricação das peças de mobília chamou a atenção do professor Luiz Antônio dos Santos Neto, coordenador do curso de Desenho Industrial. Em fevereiro de 2008, o docente convidou o marceneiro para auxiliar os alunos de graduação nas tarefas que envolvessem protótipos de madeira. Foi então que ele se mudou para o CAL. Em suas atividades, “seu Darcy”

vai além da fabricação dos móveis, formas e modelos encaminhados pelos alunos: auxilia na formação dos graduandos, conciliando a teoria “bem trabalhada em sala de aula” – como ressalta – com a prática da montagem das peças. Aspectos como estrutura, peso, medidas, detalhes em cantos de mobílias são analisados a cada novo projeto. Para atender às necessidades dos alunos, muitas vezes ele tem que recorrer à internet. “Seu Darcy” conta sorridente que “as novidades no setor são pesquisadas no Google”. O funcionário não se sente à vontade para falar de algum projeto que o tenha marcado ou exigido mais empenho e pesquisa. Relutante, destaca o modelo de um sapato cujo salto era removível, trabalho de conclusão de curso de uma acadêmica, no ano passado. Dos projetos em andamento, apresenta a proposta encaminhada pelos professores com a temática “gavetas”. São móveis de variados formatos e proposições, idealizados pelos acadêmicos e executados pelo funcionário. A dedicação e a atenção às particularidades são aspectos que fazem de Darcy um autêntico artista, cuja riqueza da obra está na cordialidade com que transmite seus conhecimentos. .txt

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