UM RETRATO DAS GENTES DE CARÇÃO
beleza natural… tradições… cultura…
2008
Índice – Editorial................................................ 2 – Mensagem do Presidente da C.M. Vimioso........ 5 – Mensagem do Presidente da J.F. Carção........... 7 – Eu venho d´além, d´além… ........................ 8 – Alta vai a Lua Alta..................................... 9 – A Minha Alma… ........................................ 9 – Elidinha................................................. 10 - Água na Fonte ........................................ 10 – Helena ................................................. 11 – Maria Alice . ........................................... 11 – Angelina . .............................................. 12 – O Namoro............................................... 13 – Soldadinho............................................. 14 – Olha a Rolinha......................................... 14 – Canção da Talanqueira............................... 14 – Oração ao deitar ..................................... 17 – Oração ao deitar II ................................... 17 – Deus nos dê muitos bons dias ...................... 18 – Oração de Santo António ............................ 19 – Oração de São João .................................. 19 – Santa Bárbara – Trovoadas .......................... 19 – Santo António – Trovoadas .......................... 19 – Esta minha Terra ..................................... 20 – Ruas da minha Terra ................................. 20 – Sou de Carção ........................................ 21 – Terra minha............................................ 21 – Artesãos e profissões ................................. 22 – O Magusto ............................................. 23 – Coragem e Solidariedade ........................... 24 – O Emigrante ........................................... 25 – Eterno .................................................. 26 – A Festa do Peru ....................................... 27 – Carção ................................................. 30 – O Rei da Capoeira .................................... 31 – Real e Benemérita Associação Portuguesa de Beneficência. A magnífica História de uma entidade Lusitana no Brasil ......................... 33 – Carção - Análise sociológica de um século marcante .............................................. 37 – A Cruz Processional de Carção . .................... 41 - Carção, a capital do marranismo .................. 43 – Rectrospectiva 2007/2008........................... 50 – Momentos de Fé- Festas de N.ª Sr. das Graças... 54
Ficha Técnica Propriedade: Associação Cultural dos Almocreves de Carção Capa: Vitor Arruda Impressão e Paginação: Casa de Trabalho Dr. Oliveira Salazar Dep. Legal: 183993/02 Tiragem: 1000 Exemplares Ano: Agosto de 2008 Contactos para informações e colaboração: 966197194/ 966510938 Associação Cultural dos Almocreves de Carção Bairro Santo Estêvão, Rua A, s/n 5230–124 Carção – Vimioso E-mails:
[email protected] [email protected] www.almocreve.blogs.sapo.pt
Caro leitor, Apresentamo-vos mais uma revista que tem como principal propósito o de expressar um tributo a Carção e suas gentes. Apraz-me novamente dirigi-lo de forma entusiasta e com o mesmo objectivo inicial: à procura das nossas raízes para as perpetuar de modo a que as próximas gerações percebam e sintam orgulho nas suas tradições e estilo de vida. Se inicialmente a Associação Cultural dos Almocreves de Carção tinha apenas como finalidade a criação da revista, presentemente quisemos ir mais além e abraçamos outros projectos – II Feira de Artesanato, publicação de dois livros, manutenção e actualização dos blogues Amigos de Carção e Almocreve, site informativo acerca da povoação… – todos eles com o objectivo de ajudar a desenvolver um pouco mais a nossa Terra (alargando-lhes os horizontes) e combater a monotonia provocada em grande parte pelo isolamento a que estão sujeitos ao longo do ano. Julgo que se todos nós retribuirmos com um pouco da nossa disponibilidade/dedicação à povoação, podemos ajudar a desenvolvê-la em termos sócio-culturais um pouco mais e combater uma das piores épocas da história que a povoação está a conhecer – a desertificação, envelhecimento da população, descaracterização local e isolamento da região. Em relação ao principal projecto a que a Associação se propôs – a revista cultural Almocreve – considero que actualmente é um grande êxito a avaliar pelo aumento de leitores, colaboradores e apoios facultados. Quanto às publicações dos livros “Carção -a capital do marranismo” autoria de António Andrade/Fernanda Guimarães e “Carção, um pedacinho do Reino Maravilhoso” autoria de Sofia Jerónimo, em parceria com a associação CARAMIGO e também com o apoio da Junta de Freguesia de Carção e Câmara Municipal de Vimioso, julgamos que vão trazer factos extremamente importantes para a história e enriquecimento do património cultural da povoação, ajudando a colmatar o hiato que existia em relação à nossa história. Relativamente à realização da Feira de Artesanato, iniciada em 2007 em parceria com a Comissão de Festas de Nossa Senhora das Graças, reconhecemos que foi também um grande êxito, trazendo mais movimento à povoação e, do mesmo modo, incentivando os nossos populares a activarem e inovarem os seus ofícios nomeadamente a tecelagem, ainda hoje com muita fama na região. Em consequência desta actividade, para este ano e em parceria também com a Comissão de Festas 2008, a associação CARAMIGO e apoios da J.F. de Carção e C.M. de Vimioso, vamos continuar com o evento e se possível enaltecendo-a ainda mais.
Como futuros projectos, a Associação Cultural dos Almocreves de Carção mais uma vez em parceria com a associação CARAMIGO e Associação Casa do Povo (comprovando e incentivando à união de todos os populares, lutando pelo mesmo objectivo – ajudando a combater e se possível desenvolver um pouco mais a nossa povoação), ambicionamos a instituição de um museu etnográfico, lançando já o primeiro incentivo a todos os leitores para o oferecimento de objectos do quotidiano carçonense, para assim darmos início a este projecto. Para que a 6.ª publicação da revista Almocreve e outros eventos fosse possível, gostaríamos de agradecer a todos os colaboradores: Em primeiro lugar, a todas as pessoas que publicaram os seus artigos, dando-nos a conhecer e perpetuando mais um pedaço da nossa história; Outra gratidão é para todos os patrocinadores, nomeadamente gentes de estabelecimentos comerciais, que, de boa vontade, nos ajudaram a superar os custos da edição; Também queremos deixar o nosso agradecimento à Junta de Freguesia de Carção, dispensando uma quantia no sentido de atenuar os custos e depositaram em nós mais uma vez todo o alento e credibilidade; Igualmente, deixamos o nosso reconhecimento à Câmara Municipal de Vimioso, que também nos apoiou em tudo o que podiam; Outro especial agradecimento é para o Movimento Poético Nacional (Brasil) e Casa do Poeta de São Paulo (Brasil) apoiando/abraçando também este projecto. O maior agradecimento vai para si, amigo leitor. Ao adquirir este exemplar, temos consciência que o principal objectivo foi conseguido em pleno, comunicando e deixando-lhe uma mensagem de grande orgulho e estima pela cultura da nossa povoação. Agora só falta o estimado leitor comunicar com a nossa associação, participando activamente neste bonito projecto já para a edição de 2009 com: histórias passadas ou presentes, poemas, canções, orações, fotografias ou outras ideias que ajudem a melhorar ainda mais não só este como outros projectos. Por último, em nome de toda a Associação, gostaria de pedir desculpas a todos os leitores e em particular ao nosso conterrâneo Norberto Valente (que muito contribuiu para o enriquecimento das edições da Almocreve), pelos erros surgidos na edição anterior, em particular, na fotografia da página 59; Adivinhas Populares página 67; e no Crucigrama, página 68 (alterações dos respectivos quadrados).
Um abraço amigo, Paulo Lopes (Presidente da A.C.A.C.)
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Mensagem do Presidente da Câmara Municipal de Vimioso É com agrado e satisfação que acedo ao convite da Revista Almocreve, neste sexto número da sua edição, para dirigir algumas palavras a todos os munícipes deste concelho, em particular a todos os Carçonenses. À semelhança de anos anteriores, mais um tempo de férias, mais um número da Revista Almocreve e mais alegria e entusiasmo por terras de Vimioso. Neste contexto, gostaria de agradecer o empenho de todos aqueles que, de uma forma ou outra, intervieram na edição da Revista Almocreve, pois só com iniciativas deste tipo se pode demonstrar o dinamismo cultural das gentes de Carção que não desistem de defender e promover a sua terra, reforçada, ainda, com a edição de dois livros sobre Carção e as suas raízes. Permitam-me uma palavra acerca da actividade no nosso município. Apesar dos tempos de crise, muito se tem feito para que Vimioso e as suas gentes não sejam esquecidas, e se reforcem os investimentos num município do interior. Esperamos que o novo Quadro Comunitário (QREN), apesar de todos os atrasos, possa descriminar, pela positiva, os projectos lançados e candidatados para, assim, continuarmos a trabalhar, no sentido de criar mais e melhores condições de vida a quem cá vive e, simultaneamente, atrair todos aqueles que aqui queiram investir e fixar-se. São, de todos, conhecidos os incentivos disponíveis na Zona Industrial e no Loteamento de S. Vicente, com lotes a um cêntimo o m2. Estão a ser feitos investimentos turísticos com o objectivo único de potencializar os nossos recursos, criando postos de trabalho e fixando gente no concelho, nomeadamente os mais jovens. O desenvolvimento harmonioso e sustentável do nosso concelho é a nossa prioridade. Além do âmbito municipal, também, em termos da Freguesia de Carção, tudo temos feito e colaborado para que Carção seja uma freguesia de referência, não nos tendo poupado à realização de obras, em colaboração com a Junta de Freguesia, nomeadamente a requalificação da Casa do Povo, o embelezamento das rotundas e os caminhos agrícolas, entre outras. É com esta força de vontade e dinamismo, acreditando sempre num futuro melhor para as nossas terras que trabalhamos dia-a-dia, contribuindo para que o orgulho que temos pelo nosso concelho e pela nossa freguesia seja reforçado. Tudo isto só será conseguido com o empenho e vontade de todos. Por último uma palavra muito especial para todos que nos visitam e permanecem neste período de férias entre nós, que desfrutem o bom da vida na companhia dos familiares e amigos, e que num ambiente festivo e acolhedor procurem engrandecer as Festividades em honra da Senhora das Graças. À Associação Almocreve e aos seus responsáveis, deixo um especial agradecimento pela forma como continuam a manter as tradições e a valorizar a sua terra. Bem hajam. UM ABRAÇO AMIGO,
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Mensagem do Presidente da Junta de Freguesia de Carção Mais uma vez me é dada a oportunidade de me dirigir a todos os Carçonenses, através da Revista Almocreve, neste ano de 2008, que conta com a sua sexta edição. Faço-o com toda a satisfação e orgulho, por ser um de entre vós, sempre disponível para contribuir para que Carção possa ficar nos memoriais da história, freguesia que, com satisfação e alegria, dirijo na qualidade de Presidente da Junta. Antes de mais, deixo um agradecimento muito especial a todos aqueles que têm contribuído para engrandecer esta bela aldeia de Carção, que nunca baixaram os braços, mesmo com as dificuldades e os contratempos da vida. Nesta sexta edição da Revista Almocreve, recheada de artigos de uma riqueza ímpar, queria, também, elogiar as Associações Almocreve e Caramigo, pelo empenho tido para com a publicação dos dois livros sobre Carção: “Carção - a capital do marranismo” e “Carção, um pedacinho do Reino Maravilhoso “, a que a Junta de Freguesia quis, também, associar-se. De realçar, também, o trabalho que se tem vindo a desenvolver na preservação do nosso património e, ao mesmo tempo, na requalificação/embelezamento das entradas da freguesia, servindo como porta de acolhimento a quem nos procura e visita. Esta mensagem, a todos os leitores e a todos os Carçonenses, nada mais significa do que transmitir-vos, singelamente, o apreço que sinto por todos vós. Continuo a realçar aqueles que, com o seu esforço e dedicação, tem colocado Carção no mapa do desenvolvimento e atracção turística pelos diversos meios disponíveis. A terminar esta mensagem, deixo uma saudação muito especial a todos os (e)migrantes que se encontram entre nós, ao longo dos meses de férias e das Festividades de Nossa Sr.ª das Graças. BEM HAJAM, VOTOS DE BOAS FÉRIAS. COM UM ABRAÇO DE AMIZADE, O Presidente da Junta de Freguesia Marcolino Rodrigues Fernandes
Eu venho d’além, d’além… Eu venho d´além, d´além, De regar o meu nabal, Ainda trago uma folhinha, No laço do avental. No laço do avental, No laço do meu vestido, Ó prima, ó rica prima, Deixa-me dormir contigo. Deixa-me dormir contigo, Que uma noite não é nada, Eu entro pelo escuro, E saio pela madrugada. Não entras pelo escuro, Nem sais pela madrugada, Sou rapariga nova, Não quero ser desfamada. Não quero ser desfamada, Nem por ti, nem por ninguém, Não quero dar o desgosto, Ao meu pai e à minha mãe. Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Rosa Tonheca, 14 – 09 - 2007
Alta vai a lua alta Alta vai a lua alta, Mais que o sol ao meio-dia. Mais alta vai a Senhora, Quando p´ra Belém ia. Madalena vai atrás dela, Alcança-la não podia, Alcançaram-na em Belém, Onde ela estava parida. Era tanta a sua pobreza, Que nem um panal havia! Botou mãos à sua cabeça, A um véu qu´ela trazia. Partiram-no em três bocados, Onde Jesus envolvia. Um era para de manhã, Outro para o meio-dia, Outro para a meia-noite, Enquanto Jesus dormia. --------
Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Noémia Cordeiro, 14 – 09 - 2007
A Minha Alma… Vozes dava o marinheiro, Vozes dá que se afogava, Respondeu-lhe o Diabo, Das outras bandas da água. Quanto davas marinheiro, Que da água te tirar, Dava-te os meus navios, Carregados de oiro e prata. Teus navios não tos quero, Nem teu oiro e tua prata, Só que quer te morrendo, Nos deixes a tua alma. Minha alma é p´ra Deus, E p´rá Virgem Sagrada, O corpo deixo-o aos peixes, Que andam na água salgada. A cabeça às formigas, Que dela façam morada, As tripas aos guitarristas, Para cordas de guitarra. Vai-te embora ò Diabo, Que não te dou a minha alma… Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Rosa Tonheca, 14 – 09 - 2007
Elidinha Donde vens ó Elidinha, Com a cantarinha na mão, Vou à fonte buscar água, Distrair minha paixão. Os ganchos do meu cabelo, São de arame enferrujado, Os da minha irmã Arminda, São de prata e dourados. Diga lá senhor doutor, Se isto se é bem assim, Eu fiquei presa em casa, E minha irmã passear no jardim. Elidinha, Elidinha, Teu pai não se envergonhou, No dia do teu enterro, Nem a farmácia fechou. Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Noémia Cordeiro, 14 – 09 - 2007
Helena Porque não cantas Helena, Há sombra desta nogueira, Morreu meu pai há pouco, Meu marido está na guerra. Quanto davas aqui ó Helena, A quem aqui te trouxera, Três bancadas que eu tenha, A escolher uma teu bem. Tuas bancadas Helena, Dá-lhe a erva que comer, Quanto davas mais Helena, A quem to aqui trouxer. Três cabradas que eu tenha, A escolher eu te dera, Tuas cabradas Helena, Leva-as p´rá serra morena. Quanto davas mais Helena, A quem to aqui trouxera, Três filhas tenha, A escolheu numa te eu dera. Tuas filhas ó Helena, Não nasceram para mim, P´ra mim nasceste tu, Minha rosa, meu serafim. Meu anel de sete pedras, Que eu contigo reparti, Mostra-me a tua metade, Que a minha tenho-a aqui. Se tu eras meu marido, P´ra que me falavas assim, As mulheres são como o vidro, Partem como o marfim. Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Rosa Tonheca, 14 – 09 - 2007
Água na Fonte… Água na fonte e o meu burrinho, Água na fonte e o meu moinho. O meu burrinho leva a fornada, Leva a amassadeira e não pode levar mais nada. Cantai rapazes, cantai raparigas, Nós festejamos, nossas lindas cantigas. Ora viva o rancho e o festival, Ora viva a festa, viva o nosso Portugal. Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Rosa Tonheca, 14 – 09 - 2007
10
Maria Alice Onde vais Maria Alice, Tão triste a chorar, Vou chamar meu marido, Que está na taberna a jogar. Está na taberna a jogar, Está numa linda brincadeira, Se não queria casar comigo, Deixaras-me estar solteira. Deixaras-me estar solteira, Solteirinha estava bem, Sentadinha, regalada, À sombra de meu pai e mãe. Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Rosa Tonheca, 14 – 09 - 2007
Angelina No dia 4 de Maio, Um crime se praticou, Por causa de Leonardo, Angelina se matou. Já andava há quatro meses, Sem uma carta mandar, E a primeira que mandou, Foi logo para a deixar. Ela desde que leu a carta, Logo saltou a chorar, Minha mãe estou desgraçada, Se Leonardo me deixar. Se Leonardo te deixar, Ó filha que hei-de fazer, Guarda o segredo bem coberto, P´ra teu pai não saber. A mãe e as filhas, Foram p´ró rio lavar, Quando chegaram a casa, Angelina estava-se a matar. Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Noémia Cordeiro, 19 – 09 – 2007
11
O namoro… No meio da vila nova, Havia uma palmeira, Morreu lá uma menina, Da mocidade solteira. Era pequena e nova, Já sabia namorar, Foi-lhe pedir a seu pai, Licença para casar. O seu pai lhe respondeu, Oh filha que vais fazer, Estás na flor da idade, Vais-te deitar a perder. Ela desde que isto ouviu, Ao mundo deu que falar, Foi-lhe pedir ó namoro, Remédio para matar. O namoro correu logo, À farmácia da calçada, Buscando limão em cobre, P´ra fazer a garrafada. Logo à primeira gota, Deu-lhe uma grande agonia, Ela disse p´ró namoro, Que daquela morreria. Eram dez para as onze, Das onze para o meio-dia, Estava a dar a alma a Deus, E o corpo à terra fria. Ó pais que tendeis filhas, Não lhe tirei o casar, Porque eu tirei-lho à minha, Só disso tenho penar. Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Rosa Tonheca, 14 – 09 - 2007
12
Soldadinho Donde vens soldadinho, Que andas tão triste na guerra, Já te morreu pai e mãe, Ó gente da tua terra. Nem me morreu pai nem mãe, Nem gente da minha terra, São paixões da minha amada, Que a deixei e vim p´rá guerra. Se deixas-te a tua amada, Soldadinho vai a vê-la, Ao cabo de nove meses, Soldadinho voltou p´rá guerra. Donde via ó soldadinho, Donde via dagora daqui, Vou ver a minha amante, Que já há dias que não a vi. Tua amante está morta, Morta eu bem a vi, Dá-me os sinais que levava, P´ra eu me fintar em ti. Levava vestido branco, E seu cinto em marfim, Seu cabelo entraçado, ---------Se chegares a ter filhas, Traias sempre ó pé de ti, Que não se percam por homens, Como eu me perdi por ti. Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Noémia Cordeiro, 19 – 09 – 2007
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Olha a Rolinha
(cantiga do Jogo da Roda)
Olha a rolinha, andou, andou, Caiu no laço, logo lá ficou.
Dá-me um abraço, é coisa que eu faço, Olha a rolinha, que caiu no laço.
A rola se vai queixando, que lhe tiraram o ninho, Não fizeras tu ó rola, tanto ao pé do caminho. Tanto ao pé do caminho, tanto ao pé dos meus olhos, A rola se vai queixando, que lhe tiraram os ovos. A rola se vai queixando, lá para traz da igreja, Não há tiro que a mate, nem caçadores que a vejam. Caçador, atira, atira, que a rola bela lá vai, Como eu hei-de atirar, se o pombal é de meu pai. Atirei e não matei, o mal empregado tiro, Minha pólvora requeimada, meu chumbinho derretido. Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Rosa Tonheca, 14 – 09 - 2007
Canção da Talanqueira Larga o acompanhamento, Faz um arco nesta rua, Deixai-me chegar à noiva, Como o sol chegou à lua. Donde vens estrela brilhante, Da presença do Senhor, Fostes dar a tua mão, A quem era o teu amor. Viva lá, ó senhor …., Vou-lhe pedir um favor, Que me estime a minha amiga, Com carinho e amor. Toma lá este raminho, Com três folhas de oliveira, Queira Deus que não te lembre, A vidinha de solteira. Os padrinhos e as madrinhas, Venham cá p´rá dianteira, P´ra desempenhar o ramo E a fita da talanqueira. Um raminho, dois raminhos, Três raminhos a seu peito, Vivam os noivos, Que estas vão a seu respeito. Recolha: Paulo Lopes, Citada em Carção por: Noémia Cordeiro, 14 – 09 - 2007
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Oração ao deitar
Oração ao deitar
Quatro esquinas tem a casa, Quatro velas tem a arder, Quatro mil anjos me acompanhe, Se esta noite eu morrer. Nesta cama me deitei, P´ra dormir e descansar, Se a morte vier, E ma quiser levar, Agarro-me aos cravos, Seguro-me à cruz, Entrego a minha alma, Ao Menino Jesus.
Com Deus me deito, Com Deus me alevanto, Acho-me na graça, Do Divino Espírito Santo. O nome à morte, Deus me conforte, E me queira confortar, E me livre, E me queira livrar, Dos laços do Demónio, Que também num possa chegar, Nem de noite nem de dia, Nem à hora do meio-dia, Um Padre-Nosso e uma Avé-Maria.
Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Glória Dias, 14 – 09 – 2007
Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Noémia Cordeiro, 19 – 09 - 2007
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Deus nos dê muitos bons dias… Deus nos dê muitos bons dias, Nesta tão divina hora, Rainha do céu e da terra, Da Virgem Nossa Senhora. Esquecida estava eu, Esta noite, meus amigos, Agora já recordei, Já vos trago nos sentidos. Tanta firmeza devemos, Ao Deus que nos criou, Tantas gotinhas de sangue, Por nós Arramou. Por nós foi dar a Vida, Ao Monte Calvário, Ficou muito satisfeito, Depois de Crucificado. Depois de Crucificado, Donde chamamos o missal, Onde caberemos nós, Naquele tão pequeno vale. O vale de Josefás, Para nós foi terminado, Ali virá o Senhor, Dos anjos acompanhado. Ele nos irá dizendo, Nunca tão verdade fora, Bem tempo vos tenho dado, Não vos quero ouvir agora. Como ficaremos nós, Ouvindo aquela resposta, Olhando uns para os outros, Pedindo a Deus misericórdia. Testamento acabado, Para sempre seja louvado, No céu e na terra, -------------------Quem esta oração disser, Um ano continuamente, Achará o céu aberto, E a glória para sempre. Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Rosa Tonheca, 14 – 09 - 2007
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Oração de Santo António
São João
Santo António madrugou, As suas Santas mãos lavou, Ao paraíso entrou, Jesus Cristo procurou, Tu António, onde vais? Vou subir aos céus…
Indo eu por ai abaixo, A saber de São João, Encontrei Nossa Senhora, Com um raminho bento na mão. Eu pedi-lhe o seu raminho, Ela deu-me o seu cordão.
Ao céu subirás, E a terra ficarás, E o que for vivo guardarás, E o pedido arrecadarás, Arrecadai também hoje, E amanhã por todo o dia, Meu corpo não seja preso, Na minha alma perdida, À honra de Deus, Um Padre-nosso e uma Avé-Maria.
Milagroso Santo António, Aceitai este cordão, Que mo deu Nossa Senhora, À saída da resseição. ---------Onde está Jesus, Está pregado numa cruz, Seus braços abertos, Seus pés cravados, Arramando seu sangue, Por mor de nossos pecados, ---------------Já os galos pretos cantam, Já os anjos se alevantam, Já Nosso Senhor subiu à cruz, Pater-noster, Ámen, Jesus.
Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Laurinda Vaz, 14 – 09 – 2007
Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Rosa Tonheca, 14 – 09 – 2007
Santa Bárbara Bendita Santa Bárbara bendita, Que no céu está escrita, Com papel e agua benta Livrai-nos desta tormenta. Onde vais Bárbara Senhor, vou ao céu, A livrar-me das trovoadas, Que neles andam armados. Pois Bárbara, bota-as para bem longe Onde não haja sinos a tocar, Galos a cantar, E meninos a chorar, Mas haja uma serpente bem grande Que tenha 24 filhos E não tenha nada que lhes dar Só água de trovão E leite de maldição. José António, 16 – 08 – 2007
Santo António – Trovoadas Santo António madrugou, Se vestiu e se calçou, Ao caminho se botou, Suas santas mão lavou, Lá no meio do caminho, Com a Virgem se encontrou, - Onde vais ó António! Eu vou e quero ir, Derramar as trovoadas, Que no céu estão armadas, À honra de Deus, da Virgem Maria e Santo António, Um Padre-nosso e uma Avé-Maria. Recolha: Paulo Lopes, citada em Carção por: Rosa Tonheca, 14 – 09 – 2007
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Esta minha terra... Carção.
Ruas da minha terra
Que saudades eu tenho de vós: “Urretas” de Calhaus empedernidos Agigantados nas “Penas Altas”... Pensamentos esquecidos e tão sós Que por esse mundo fora, Por Carção são tão sentidos... E que saudade da luz bureal Que nas idas manhãs de Outono Me fustigavam de ternura “celestial” Como se eu fosse delas dono... Que saudades dos olmos que partiram Com os ninhos que guardavam, Dos pombais (quais pontos cardiais) Que nos mostravam o caminho Das cortinhas, outrora perfiladas... Vestidas a rigor, e agora em desalinho, Das hortas, dos campos de cereais, ...de tantas...tantas lides arredadas... E que saudades, meu Deus, Dos odores que tu me davas: Do cheiro da terra esboreada, Da planura dos batatais, Dos “termos” em restolhada, Das vinhas e olivais... Mas são ainda teus Esses odores que tu me davas: O cheiro inebriante da madressilva, Esta vastidão admirativa Da minha terra Carção; Esta Paz tão sentida Que me afaga o coração.
Ruas da minha terra Pelo sonho abençoadas Dói-me ver-vos assim, Nessa paz e nessa guerra Nesse abandono sem fim... Ruas tristes e mutiladas, Sofridas no meu coração Percorro todas as calçadas Com o ardor da solidão... E no vazio dos “sentalhos” Paira a dúvida e a razão: Será que a emigração Em vez de caminhos foi atalhos?... Nas “Soleiras” Sobram “uns” velhos Que aos poucos vão... partindo. Que tristeza para os olhos Vê-los assim... Sorrindo... Lembram, ou sonham, a sua labuta “Esses Velhos” de outro tempo, São hoje a nossa batuta A coragem e o exemplo... São o olhar empedrenido Sobre esta folha em branco, São o grito emudecido Da consciência colectiva Deste povo nobre e franco... São tudo que nos resta Para resgatar o passado E, ainda não será desta, Que este mundo Alucinado Nos roubará o orgulho...e a razão, De sermos gentes de Carção.
António Prada Jerónimo
20
António Prada Jerónimo
Terra Minha
Sou de Carção
Sou um poeta de Aldeia (Será que sou?) Da Aldeia que não anda, Que se cansou E, sem qualquer ideia Naqueles montes parou... Sou dessa Terra Pedregulha Com suas vidas violentadas, Sou desse destino que mergulha Por felicidades inventadas... Sou dessa terra derramada Que, como a muitos, me viu partir... Sou dessa terra amada Onde ainda hão-de ouvir Muitos que hão-de Voltar... Sou dessa terra abandonada Que da canseira já se Cansou, Sou dessa aldeia de Carção Onde o futuro há-de entrar... Sou dessa terra que me amou E onde tenho o coração...
António Prada Jerónimo
Ficas perdida no meio do nada Pareces abandonada, Mas não… Existe mais vida em ti, Que no resto do mundo! Tudo em ti É verdadeiro, É genuíno, É puro! Terra minha, Aquela em que o tempo parou, Terra minha No meio dos montes e dos rios. Tudo respira Tudo transpira. Sonho Paz Alegria… Terra dura e fria, Morte daqueles que trabalham nela! Voa, Rasteja, Cavalga, Anda… Mundo, Terra abençoada e castigada Terra que vê sol e tempestades Terra que ama e odeia Terra que dá e tira Terra de orgulho, A minha terra! (dedicada à terra que me viu nascer, Carção)
Sara Afonso
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Artesãos e Profissões Linda aldeia de Carção, Situada em Trás-os-Montes, Terra de Muito artesão, E também de belas fontes.
Além de tanto artesão, Outras profissões não esqueci, Ainda guardo no coração, O que em menina lá vivi.
Vou começar pelo sapateiro, Do meu pai a profissão, Que passava o dia inteiro, Com a sola e o martelo na mão.
A tremoceira e seus pregões, Que os tremoços curava, Com apenas cinco tostões, Um prato deles, ao domingo, comprava.
No bairro de Cima o ferreiro, Mais ao lado o alfaiate, Havia também o latoeiro, Com a lata, a solda e o alicate.
O barbeiro, de navalha e tesoura na mão, Os cabelos e as barbas aparava, Mais tarde, pelo pino do Verão, A sua bela máquina arrecadava.
Mais abaixo, na Praça, Vive ainda o ferrador, Que com bravura e raça, Tratava os animais com amor.
Não faltava o sardinheiro, Que saía para bem longe, Voltando com algum dinheiro, E outros géneros no alforge.
Ao lado do ferrador, O tio “Tai” fazia albardas, Para os animais, a rigor, Exibirem as suas “fardas”.
Os azeiteiros acordavam, Pela manhã bem cedinho, Com saudade abalavam, No cavalo, macho ou burrinho.
Também avia as artesãs, Já faladas noutras revistas, Eram as nossas mamãs, Umas verdadeiras artistas.
Ainda conheci os oveiros, Que pelas portas compravam, Os ovos sempre caseiros, E à cidade os levavam.
Minha mãe foi cesteira, Seguindo-se tecedeira, Além disso costureira, E, de seis filhos, cozinheira.
Em Carção, hoje, há doutores, Outros advogados e juízes são, Muitos, como eu, professores, Podia citar muita profissão. Mas, por aqui me vou ficar, Para a tantos recordar: Que por detrás de quase todos, Houve um tio, avô ou pai artesão.
Com ela eu aprendi, Muita coisa que hoje sei, Esse saberes aperfeiçoei, E a minha casa decorei. Não faltavam as padeiras, Que coziam o bom pão, Iam vendê-lo às aldeias, Com alegria no coração.
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Teresa Minga
O Magusto Alegres e vestidos a preceito, Com seu fato domingueiro lá ia a rapaziada. Apanhar as boas castanhas, Em terras suas, ou estranhas, Nos campos da Milharada. Para fazer a grande fogueira, Juntavam, pressurosos, sem canseira: Folhas, ramos, e silvas sequinhas. Tudo no largo era amontoado, E para o meio as castanhas deitavam, Enquanto chegavam as raparigas. Não faltava a água-pé, Mais o violão do Zé, E o Fernando com sua guitarra. Todos à volta da fogueira, Dançavam a roda em brincadeira, Que mocidade animada! Até os vetustos castanheiros, nesse dia, Ofereciam uma outra magia, Agitando seus ramos e ouriços. E as castanhas o sorriso aproveitavam, E, sopradas pelo vento, do seu seio voavam, Para participar no convívio. E, uma ou outra semi-queimada, Toda aquela gente assustava, Com seus estoirotes inusitados. Era uma algazarra esfusiante, Por vezes um pouco alarmante, Com o medo de ficarem queimados.
Uma ou outra, por vezes saltava, Já completamente bem assada, Para gáudio dos intervenientes. Como já vinha descascada, Num ápice, era saboreada, Abrindo o apetite aos restantes presentes. Jogos de roda e bailaricos, Promessas de pedidos de namoricos, Aqui tinham cabimento. Se alguns eram a brincar, Outros viriam a terminar, Em pedidos de casamento. Quase sempre o Sol aparecia. Para iluminar o santo dia, Espalhando seus encantos. E o ar puro se misturava Com o cheiro da castanha assada, Neste dia de Todos os Santos. Dobram os sinos tristemente, A convidar toda a gente, A juntar-se à procissão. E, após uma tarde bem passada, Lá vai toda aquela moçarada, Ao cemitério, rezar pelos que lá estão. Hoje é tudo bem diferente, Não há magusto certamente, Neste local de convívio e animação. Porque grande parte da mocidade, Vive no estrangeiro ou na cidade, E esporadicamente visita Carção.
Sofia Jerónimo
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Coragem e solidariedade Tlim, Tlão, Tlim, Tlão! Tocava o sino chamando a população, E todos entendiam aquele tocar a rebate. Água! Água! Água! – Gritava a gente aflita. Fosse de noite ou de dia, toda a gente aparecia, Para socorrer e enfrentar o terrível combate. Franqueavam os poços de água privados, Eram esquecidos divergências e agravos, Todos se muniam de cântaros e baldes na mão. Ferros, machados tudo o que pudesse ajudar E, ei-los escaldando paredes e telhados para o fogo apagar. E, numa corrida louca, num ápice, atacavam o clarão. Num ímpeto de coragem e bravura, Avançavam qualquer altura, Com perigo da própria vida, sem medo. Movimentavam-se sobre os velhíssimos telhados Carcomidos, frágeis, semi-queimados, E lançavam água sobre aquele terrível brasedo. Vítimas humanas, raro aconteciam, felizmente, Devido à coragem, à força desta gente, Ao espírito de entreajuda de solidariedade. Era uma força anímica indescritível, Que enfrentava este momento terrível, A fim de tentar evitar a desgraça, e que tudo se salve. Num certo domingo em que toda a gente assistia Na igreja, à Santa Eucaristia, Alguém viu, ao longe, uma casa a arder. Foi uma autêntica debandada, Enquanto o sacerdote a missa continuava, Estupefacto pelo que estava a acontecer. Deus nos perdoe, mas é preciso socorrer, Alguém que pode estar em perigo, prestes a morrer, Era ainda cedo, de manhãzinha. Não se enganaram realmente, Pois uma família dormia tranquilamente, Mesmo ao lado do sinistro, na casa vizinha. Saiam! Saiam! – Imploram eles, aos gritos. Desesperados, muito aflitos, Sobem as paredes, entram pela janela, Num ápice, sem hesitar, surpreendentemente Salvam aquela pobre gente, Duma grande e terrível tragédia. Dizia um popular e sábio provérbio, A necessidade aguça o engenho, Torna o homem audaz e corajoso. De facto a distância que separa a povoação, Sem qualquer meio de comunicar com a Corporação, Permitiria que todo o bairro fosse devorado pelo fogo.
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Sofia Jerónimo
O Emigrante - 11-10-1963 O Emigrante, longe da terra distante, pelas estradas fora, Lembra o nosso Portugal, ao Emigrante que foi embora. O Emigrante caminha cheio de tristeza e emoção, Para deixar pais e família, leva-os no coração. Partindo para outros países, sem uma palavra saber falar, Quantas vezes choram e se puseram a rezar. Emigrante que eu sou, nunca me esqueci, Da aldeia de Carção, terra onde nasci. Carção, antiga povoação. Tudo que tens, tem graça, A igreja, as capelas, o lar e os cafés na Praça. Sobre o monte, a capela de Santa Bárbara, longe como nós estamos, Pedimos a sua protecção para o povo de Carção.
Ana Maria Palhau
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Eterno Foste embora sem te puderes despedir de ninguém, De mim. Sinto-me culpada por isso, Pensei que ficasses sempre junto de nós. Que ias estar sempre presente na minha vida, Que me irias continuar a ver crescer. Desapareceste, Sem eu nunca te ter dito O quanto te amo O quanto te admiro, O quanto és importante para mim. Não consegui ficar triste quando partiste, Fiquei revoltada, perdida. Pensei que talvez Deus me quisesse castigar Pensei que talvez tu estavas desiludido com a vida, E por isso, egoísta, Partiste! Agora a raiva já passou, A tristeza impera. Nunca pensei que ias aparecer tantas vezes nos meus sonhos, Sorrindo, cantando, dizendo anedotas… E agora percebi; Tu nunca partiste. Tu nunca desapareceste. No meu coração, Tu és eterno! (dedicada a ti, meu avô que já não estás entre nós, mas que nunca sais do meu coração!)
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Sara Afonso
A Festa do Peru Antigamente, em Carção, havia muitas tradições. Umas continuam e outras vão-se esquecendo pouco a pouco. A que eu recordo, com mais nostalgia é a do peru. Na altura do Carnaval todas as classes (1º, 2º, 3º, 4º,5º e 6º) ofereciam um peru ao professor. Fazia-se uma caixa de madeira que mais parecia um andor e que enfeitava-mos com edras (planta trepadeira que se encontra nas bordas dos caminhos) e fitas, isto era ao desafio para ver qual deles era o mais bonito no nosso tempo dizia-se o mais pimpão. Este caixão era bem guardado até ao dia da saída. Juntava-se o dinheiro entre os alunos que evidentemente pedíamos aos nossos pais e depois íamos comprar o peru. Recordo-me quando andava na 4º classe, fomos comprar o peru a Santulhão. A senhora que nos vendeu o peru quis ser bondosa e deu-nos bolachas e um copo de jeropiga a cada um. Ficamos todos mais alegres e alguns chegaram mesmo a embriagar-se. Mas continuando. Chegava o dia em que metíamos o peru dentro do caixão e fazíamos uma procissão com todos os perus, durante a procissão cada classe cantava os seus versos dedicados ao professor e ao peru. Depois da procissão cada turma levava o seu peru para a eira do São Roque para que lutassem entre eles, para ver qual era o mais forte. Era sempre uma alegria. Tudo acabava em festa.
Ó peru, ó peru Que sorte será a tua Os meninos da escola, Já te trazem pela rua.
Viva o peru, viva o galo, Vivam todos os que aqui estão, Viva lá a nossa professora, Que e a melhor de Carção.
O peru do senhor Albino, Esta doente do coração, Temos que o levar ao médico, Para lhe dar uma injecção.
Ó peru, ó peru Que foste criado em Santulhão, Para dar à nossa professora Que nos ensina de coração.
O peru da Dona Céu, É valente e tem chapéu, Para bater no do senhor Pires, Que mora à porta do Pompeu.
Andreia Cathy
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Promotoras: EMICLAU II Construções Sucesso Bragança
Vendas: Tlm: Emílio - 966344279 Cláudio - 966344280 28
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- Soc. Construções, Lda.
Carção A aldeia é uma entre tantas outras, num ponto remoto de Trás-os-Montes, plantada pelo acaso nos ombros anosos das montanhas, longe de tudo, à distância quase do pensamento. É talvez impossível compreender as razões da fixação de um povoado naquele local exacto. Não se trata de uma área particularmente fértil mas conhecendo a região é impossível encontrar uma outra muito diferente. A aridez do solo e a rudeza do clima são acentuadas pela ausência de um curso de água nas proximidades e pela inexistência de floresta. O rio Maçãs, afluente do Sabor, serpenteia impávido por entre os montes a vários quilómetros da aldeia. Uma colina no centro sustenta a igreja e a partir daí, espalham-se em todas as direcções, especialmente no sentido do poente, as casas de cerca de oito centenas de habitantes. Na altura em que nasci a maioria das habitações apresentava as características da construção tradicional, feitas de pedra e de madeira, cimentadas com uma mistura de argila, palha e pêlos de animais e cobertas com telhados de xisto. Normalmente eram constituídas por um rés-do-chão onde se situava o alojamento dos animais, a adega e um local para arrecadar a produção agrícola. Por cima, para aproveitar o calor gerado pelos animais e pela fermentação do estrume por eles produzido, localizavam-se a área habitacional. Uma cozinha, sempre com a incontornável lareira, muitas vezes sem mesmo uma chaminé, para facilitar a cura do fumeiro, constituía na maior parte dos casos a primeira divisão. Daí, um corredor levava ao reduzido número de quartos que albergava a sempre numerosa família. O interior das habitações era sempre muito escuro, as divisões possuíam janelas muito pequenas para conservar o calor gerado pela lareira no Inverno e para impedir que a ardência do Verão nelas entrasse. Movimentando-nos para a periferia, começavam a aparecer casas modernas, pintadas de cores garridas, a anunciar um novo status, quem sabe uma barreira mental para expugnar as lembranças de um passado de miséria. Lenta mas insidiosamente, muitas das casas originais foram demolidas e substituídas por edifícios pretensiosamente disformes, anfractos, incaracterísticos. Do cimo da torre da igreja, o sino chamava às Avé Marias, à Missa de Domingo, anunciava as desgraças, os casamentos, os baptizados e os funerais com uma melodia específica para cada acontecimento. Um relógio de ponteiros robustos, dividia pacientemente o tempo e sacudia os sinos de meia em meia hora com um vigor arrebatado. Não creio, no entanto, que essa divisão artificial tenha tido algum dia um significado infenso. A vida e o ritmo das pessoas eram determinados pela vontade imperiosa da terra, pelas estações, pelo sol e pela amplitude dos dias. As horas tinham muito pouco significado, mas os sinos ouviam-se do termo (nome geral dado aos montes adjacentes onde se situavam as terras de cultivo, os pastos, as oliveiras), serviam de elo imaginário com o aconchego do lar e contribuíam para salientar a altura do sol e justificar a fome se as badaladas se aproximavam das doze.
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Rosário Andrade
Caros conterrâneos, saúdo e louvo por esta importante ini O director da revista Almocreve, o qual e costumes carçonenses, pediu-me para ciativa em aproximar e divulgar as gentes todo o prazer e orgulho que o faço, pois colaborar novamente nesta edição. E é com tradição bem viva. só assim, podemos conseguir manter a nossa passada na minha juventude e aqueles Desta forma, vou contar mais uma história . que a viveram vão certamente lembrar-se dela ou-se em Dezembro de 1983, no dia Esta narrativa, mais uma vez verídica, pass posteriormente se fazer uma patuscada. em que era costume ir roubar galinhas para a vez estávamos reunidos no café do Tal como na história da edição passada, dest a. Patudo, um dos dois mais frequentados na époc
O REI DA CAPOEIRA Numa noite, daquelas que os transmontanos tão bem guardam na memória, gélida e escura como breu, estávamos reunidos no dito café a passar o tempo. Lá estávamos nós, folgazões e ávidos de emoção, a jogar uma cartada, como de costume. É que assim sempre havia uma asneirada para botar ou uma discussãozita acesa para nos animar. Às tantas, eis que um de nós se lembrou de fazer cumprir a tradição da época e ir roubar galinhas à aldeia vizinha. As tradições da aldeia eram para nós importantes marcos na quebra da rotina pasma e indolente dos dias. Precisávamos de emoção para justificar a nossa juventude. Assim, argumentava aquele que, andando lá a trabalhar, conhecia um galinheiro bem recheado dos ditos galináceos. Se mais depressa surgiu a ideia, mais depressa se pôs em prática. Era só do que precisávamos, adrenalina da mais pura! Combinámos entre nós o que deveríamos fazer para executarmos o plano o mais rápido possível, sem sermos apanhados. O transporte era um dos poucos que havia naquela altura e que estava sempre disponível, quer para pequenas aventuras, quer para as nossas viagens desportivas, nas quais procurávamos dignificar o nosso clube de futebol, o mais famoso do distrito (imparcialmente referido por todos). Em suma, era um dos nossos. Pusemo-nos a caminho, expectantes e desenfreados, com a táctica bem estudada. A viagem era pequena mas excitante. Chegados ao local, parámos a carrinha apontada para Carção, com o condutor a postos para uma fuga rápida. Nós, cada um com seu saco na mão, saltámos a cerca e entrámos no barracão. Aí travámos uma luta com os galináceos que, ficando de tal forma assustados, se tornou para nós uma tarefa titânica apanhá-los. Eu fui um dos que não conseguiu apanhar nada, não sei se por medo, se por eles serem mais rápidos
do que eu, se por ter ficado cego com tanta pena esvoaçante. Regressámos à carrinha muito rápido, mas faltava um de nós. Era o que conhecia o galinheiro e, estando ainda lá dentro, travava uma luta para apanhar o rei da capoeira. Nem podia ser de outra forma, claro. Quando o conseguiu, arrancámos a toda a velocidade em direcção à nossa aldeia. Fomos deixar a mercadoria onde tínhamos combinado, para no dia seguinte fazermos um churrasco no moinho do Cabeça Torta, tal como havia sido combinado. Voltando ao café, e já a altas horas da noite, reunidos a conversar sobre a aventura, apareceu a GNR a inquirir-nos sobre o que tínhamos feito nessa noite. Já os velhos diziam que a juventude é insana, mas não fôramos nós e outros como nós a dar alguma luta aos defensores da ordem e da justiça, o que fariam estes? Cartas, não, essas eram do nosso pelouro. Como é óbvio, a união era o nosso lema, e estes nada conseguiram de nós, que tivemos a preciosa ajuda da Dona Berta. E corroborou a nossa versão, dizendo-lhes que ali estivéramos toda a noite. A notícia tomou tal repercussão que ninguém se aventurou a fazer o churrasco nos dias seguintes. Mas alguém beneficiou com o assalto ao galinheiro. O tal que só queria o rei da capoeira tinha o seu motivo. Como o medo nos dominou, receando sermos descobertos, ele andou a semana toda a empanturrar-se de pernas de frango no trabalho, rindo de soslaio sempre que nos via. Ficou ele com a sorte grande e nós com a aproximação. Esta foi mais uma história como tantas outras que se passaram naquele tempo, em que o pouco que fazer e o convívio nos convidava à aventura, alternando com os infindáveis jogos de sueca ou chincalhão, sempre muito animados. José Cavaleiro
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- O Movimento Poético Nacional, fundado em 20/10/1976, portanto, estamos chegando no seu 32.º ano de existência, foi fundado por um grupo de idealistas e tendo como patrono “MENITTI del PICCHIA” quinto príncipe dos poetas brasileiros, e por SILVA BARRETO, emérito poeta e presidente honorário fundador. O Movimento Poético Nacional, tem sua sede própria na rua dos Bogaris, 183, bairro Mirandópolis/Vila Mariana, na cidade de São Paulo – SP.CEP-04047-020 – Brasil e congrega associados além da capital de São Paulo, no próprio estado de São Paulo, nos estados da união, bem como, internacionalmente, Portugal, U.S.A. e Canadá. Além das Tardes Litero-Musicais a cada 15 dias em nossa sede e auditório, aos sábados à tarde, apresenta-se em inúmeros locais durante o ano, como exemplo: o Salão Verde do Circulo Militar de São Paulo, com a nossa data máxima em 20 de Outubro, a festa da Primavera em Setembro, na Universidade de Assunção UNIFAI, no Conselho Regional de Contabilidade, no Clube HOMS, na Associação Portuguesa de Desportos, no teatro São Pedro e em outras inúmeras associações e entidades de cultura. Na capital de São Paulo, temos 200 associados e espalhados pelo Brasil e estrangeiro contamos com mais de 800 associados, alguns como delegados. Os nossos renomados artistas, cantores líricos e alguns emanados do Teatro Municipal de São Paulo, tais como: TOMASINO CASTELLI, ARLINDO GUARIGLIA, e ainda CELESTE MANZINI, ANTONIO FAILDE e poetas do maior gabarito nacional. A direcção artística está a cargo da cantora lírica: CELESTE MANZINI (CELESTE da CONCEIÇÃO OLIVEIRA MANZINI), portuguesa, de VILA REAL ( TRÁS-OS-MONTES). O Movimento Poético Nacional, congrega no seu seio, um grande número de Luso-Descendentes, e a sua diretoria tem a seguinte composição: PRESIDENTE: WALTER ARGENTO; 1.º VICE-PRESIDENTE: CARLOS MOREIRA da SILVA; 2.º VICE-PRESIDENTE: ADRIANO AUGUSTO da COSTA FILHO; 1.º SECRETÁRIA: FRANCES de AZEVEDO; 2.º SECRETÁRIO: GILBERTO AMADO APRÁ; 1.º TESOUREIRO: ANTONIO FAILDE; 2.º TESOUREIRO: THIERS del CARLO; 1.º RELAÇÕES PÚBLICAS: DOMINGO LAGE; 2.º RELAÇÕES PÚBLICAS: ADÉLIO LOURENÇO FERREIRA; DIRETORA ARTISTICA: CELESTE MANZINI; DIRETOR DE CERIMÓNIAS: REMO MENEZES; DIRETOR DE ORATÓRIA: CARLOS MOREIRA da SILVA; DIRETORA DE PATRIMÓNIO: CREUSA BRITO BARRETO; PRESIDENTE DO CONSELHO CONSULTIVO E FISCAL: SILVA BARRETO. Os Luso-Descendentes, ADRIANO AUGUSTO da COSTA FILHO e CARLOS MOREIRA da SILVA, fazem parte da 1.ª Antologia dos Poetas Lusófonos e da Associação Portuguesa de Poetas – Lisboa – Portugal. O nosso ideal é transmitir a Cultura, o Poema, a Poesia, a Arte Litero - Musical. O Movimento Poético Nacional, edita o Jornal “A Voz da Poesia” a cada trimestre bem como, uma revista “A Voz da Poesia” quando em uma data relevância.
A Casa do Poeta de São Paulo (casa do Poeta “Lampião de Gás” de São Paulo) foi fundada pela poetisa colombiana, em Novembro de 1948, portanto, irá completar 60 anos de fundação e tem um jornal “FANAL” editado há 54 anos sem interrupção, onde os poetas colocam as suas mais variadas poesias. A Casa do Poeta, tem sua sede no auditório da Associação Paulista de Imprensa no contro da capital Paulista, a rua Alvares Machado 22, 1.º andar, CEP.01501-030. é uma entidade renomada Litero-Musical, com sessões às 1.as e 3.as Terças-Feiras do mês, ds 18 às 20 horas. A sua diretoria é composta dos seguintes poetas: PRESIDENTE: WILSON de OLIVEIRA JASA; VICE-PRESIDENTE: ANALICE FEITOZA de LIMA; 1.ª SECRETÁRIA: MARIA JOSÉ QUEIROZ RIBEIRO; 2.ª SACRETÁRIA: ANDRELINA MOREIRA; 1.º TESOUREIRO: WALTER ARGENTO; 2.º TESOUREIRO; JOSÉ ANACLETO VIEIRA; DIRETORA SOCIAL: LEONIDE VIETTO BECCACCIA; RELAÇÕES PÚBLICAS: ANTONIO FERNANDES MICHELASSI; CONSELHO FISCAL: ADÉLIA VICTORIA FERREIRA, ARISTÓTELES de LACERDA JUNIOR e ADRIANO AUGUSTO da COSTA FILHO. O presidente WILSON de OLIVEIRA JASA e Luso-Descendente e faz parte da 1.ª Antologia dos Poetas Lusófonos e é membro da Associação Portuguesa de Poetas-Lisboa-Portugal bem como, o conselheiro ADRIANO AUGUSTO da COSTA FILHO. Tem suas fileiras um grande número de Luso-Descendentes e a sua secretária MARIA JOSÉ QUEIROZ RIBEIRO, é Portuguesa. Além das sessões litero-Musicais em sua sede e realizadas no Auditoria, ela exibe-se em outros locais, tais como: Parque do Piqueri, no bairro do Tatuapé aos Domingos pela manhã, na praça da Sé no dia da Fundação de São Paulo, 25 de Janeiro, bem como, no mesmo dia no Pateo do Colégio Local da primeira missa em São Paulo e tudo em homenagem a JOSÉ de ACHIETA e MANOEL da NÓBREGA, fundadores da cidade de São Paulo na câmara Municipal de São Paulo, em eventos comemorativos. A Casa do Poeta tem espalhadas pelo Brasil o número de 600 associados, boa parte na capital Paulista bem como, cantores líricos, seresteiros e músicos. No mês de Novembro irá comemorar 60 anos de fundação e haverá uma grandiosa festa no auditório da Câmara Municipal de São Paulo. A casa do poeta é uma entidade Litero-Musical que, espalha pelo mundo literário, cultural e poético as suas próprias raízes: A Essência da Poesia.
Casa do Poeta “Lampião de Gás” de São Paulo
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REAL E BENEMÉRITA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE BENEFICÊNCIA. - A MAGNIFICA HISTÓRIA DE UMA ENTIDADE LUSITANA NO BRASIL- GRANDE NÚMERO DE CARÇONENSES FAZEM PARTE DELA Ela foi fundada no ano de 1859,portanto, brevemente terá 150 anos de existência, por um punhado de portugueses vindos de todas as regiões de Portugal, e naturalmente em seu meio haviam muitos “trásmontanos”, pessoas que tinham em mente ajudar os seus queridos irmãos lusitanos que fluiam de todas partes e o seu cunho era o bem estar social, e já no ano de 1874 erigiram um hospital, contendo 13 leitos, evidentemente modesto para os padrões atuais,mas uma grande iniciativa e de grande repercussão para aquela época. Mais uma organização de cunho lusitano, a ‘BENEFICÊNCIA PORTUGUESA’ como é conhecida do publico brasileiro e português, recentemente mudou de nome em razão de actos jurídicos, porquanto, a Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência, retirou a palavra Sociedade e trocou-a por Associação. Por muitos anos o Hospital da Beneficência Portuguesa, foi no centro de São Paulo, mais propriamente perto da Av. Ipiranga, ou seja na rua que continha o seu nome,ou seja, Rua Beneficência Portuguesa, mas que, foi ficando pequena pela sua expansão continua, uma vez que, a imigração portuguesa acentuou-se e os portugueses necessi-
tavam de assistência médica, embora existissem outras associações, como o Centro Trasmontano de São Paulo, a Nossa Senhora das Graças e outras entidades menores. Com essa expansão, deliberou a sua Diretoria criar algumas categorias de associados, ou sócios como eram chamados, e então surgiu o seguinte: 1) Sócios Grandes Beneméritos, os que tinham direito, quando internados, a um apartamento duplo com sala de espera.2) Sócios Beneméritos, os que tinham direito a um apartamento com um quarto e sala de espera.3) Sócios Benfeitores, com direito a apartamento e um acompanhante, e 4) Sócio Efetivo, com direito a “enfermaria apartamento”, com outro sócio, porém, todos tinham os mesmos direitos de serem atendidos por qualquer médico e usufruírem de todos aparelhos existentes no hospital, a única diferença estava na acomodação nos apartamentos. Todos os associados que adquirissem o titulo, eram vitalícios, não precisavam mais pagar mensalmente, como sucede até hoje, mas agora quem quiser entrar como associado, só está em aberto a categoria de associado Efetivo. Houve uma época que os sócios tinham até direito a medicamentos, mas, como os custos fica-
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ram imensamente grandes, a Beneficência foi obrigada a cobrar valores, porém, os remédios eram adquiridos nos Laboratórios e cobrados a preços de custo, em uma Farmácia própria criada dentro do Hospital, que continua até hoje e mais modernizada. Após ficar praticamente por um século nesse local, e em razão da Beneficência possuir um terreno nas imediações do bairro do Paraíso, e ao lado na que é hoje a Avenida 23 de Maio, um dos maiores corredores de transito da cidade, resolveu a Beneficência construir ali um hospital, e esse terreno que havia a muito tempo atrás ter sido cedido ao Hospital por um português de nomeada, o ilustre cidadão Maestro Cardim, que cedeu uma parte de sua chácara para a entidade e como doação, a entidade ali começou a construir o que é hoje um dos maiores complexos hospitalares da América Latina e quiçá do mundo, e só sendo ultrapassado pelo Hospital das Clinicas, que é órgão do governo do Estado de São Paulo. Actualmente o Hospital conta com 1.734 leitos, distribuídos em cinco prédios, que estão localizados à Rua Maestro Cardim – 769, no bairro do Paraíso em São Paulo,uma cidade já considerada a 3ª. do mundo em população com 12 milhões de habitantes, sendo que, com as cidades a ela agregadas chega a ter mais de 20 milhões de pessoas nessa “Grande São Paulo”e conta pois, com várias clínicas especializadas em prédios comuns nas proximidades do centro principal. A equipe médica é composta de 1.450 médicos e paramédicos, com 5.000 funcionários, um verdadeiro exercito para ajudar na medicina aos associados da Entidade e das Entidades conveniadas. A Beneficência atende em média mais de 1.5 milhão de pacientes por ano, realizando mais de 50.000 internações e cerca de 25.000 cirurgias.
Todas as especialidades médicas que existem na humanidade são tratadas na Beneficência Portuguesa, além de existir toda essa gama de especialidades, existem centros cirúrgicos, centros de ultrasonografia, de raiosX, litotripsia, mamografia, mastologia, Laboratório não Invasivo de fluxo vascular, de neuro fisiologia clinica, hemodiálise, infectologia, geriatria, Medicina nuclear, neurocirurgia, oftalmologia, pediatria,patologia, radioterapia, quimioterapia e enfim todas as possibilidades necessárias para uma possível cura do paciente. A Beneficência Portuguesa de São Paulo, como é conhecida, é um dos maiores hospitais da América Latina e reúne os melhores recursos humanos e materiais possíveis. Eu particularmente sou sócio da Beneficência Portuguesa desde a década de 60 e sinto um orgulho imenso por fazer parte dela, inclusive os membros de minha família são também associados, o meu registro como sócio é número 5.389 e a matricula 9.755,e como sócio Efetivo, agora associado Efetivo. Milhares de portugueses e brasileiros são seus associados, e no meio deles grande número de “carçonenses” e seus familiares são também associados e por essa razão todos têm esse imenso orgulho e glória da nossa Beneficência, somos integrantes de uma entidade maior no concerto médico mundial para honra e glória do nosso “Querido e Eterno PORTUGAL.” ADRIANO AUGUSTO DA COSTA FILHO. Membro da Casa do Poeta de São Paulo-Brasil Membro do Movimento Poético Nacional do Brasil. Membro da Ordem Nacional dos Escritores do Brasil. Brasileiro luso-descendente de CARÇÃO/VIMIOSO.. Brasileiro pelo Sol e Português pelo Sangue.
João Américo Gonçalves Andrade Informação
Foi atribuída ao Notário, Dr. João Américo Gonçalves Andrade, licença para instalação de Cartório Notarial, exercendo a actividade na Avenida Sá carneiro, 11 (antiga sede da Caixa de Crédito Agrícola), em Bragança, ficando a seu cargo o acervo do extinto cartório Notarial.
CARTÓRIO NOTARIAL DE BRAGANÇA Av. Dr. Francisco Sá Carneiro, N.º 11 • 5300-252 BRAGANÇA Tel. 273 302 880/5 – Fax 273 302 889 Email:
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Construção Civil, S.A. Praça Berbardo Santareno, n.º 6 A/B 1900-098 Lisboa Tel. 218 429 000 • Fax 218 429 009
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C/ Esteban Collantes, 50 28017 M A D R I D Telés. 91 367 89 14 / 61 595 22 96
de António dos Santos e Lurdes Ramos
– Menus Caseros – Amplia Carta, Raciones Variadas – Comuniones, Bautizos – Comidas de Empresa – Terraza de Verano
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Carção – Análise sociológica de um século marcante Sem qualquer pretensão de fazer um estudo exaustivo do que foi a evolução do povo de Carção no passado Século XX, pretende-se apenas com este trabalho reflectir um pouco sobre o que foi o seu trajecto num século marcante na evolução dos povos. Daríamos por bem empregue o espaço ocupado e o tempo investido se, como pretendemos, conseguirmos que este tema seja abordado de novo, motivando o aparecimento de estudos estruturados, técnica e cientificamente bem sustentados. Não é fácil, com a enorme escassez de dados com que nos debatemos, traçar com rigor o perfil de gente que, abordando a revolução industrial, foi depois relegado para um isolamento asfixiante que o obrigou a atravessar boa parte do século entalada entre o Sabor e o Maçãs. A estrada para Vimioso estva encravada do lado de lá do rio e os transportes para o exterior só ao alcance de heróis e aventureiros, a caminho de Bragança, de Macedo, de Mogadouro, de Vila Real e até do Porto e de Espanha. É precisamente este enquadramento dum povo espartilhado e inconformado, dum povo que nunca se conformou, nunca se deu por vencido nem desistiu de lutar, que iremos analisar nos seus principais vectores, deixando via aberta para ser abordado em tantos outros aspectos, igualmente importantes e igualmente também aliciantes. Por não se enquadrar no âmbito do trabalho que me propus a desenvolver, por agora, irei apenas debruçar-me quase exclusivamente, sobre aqueles que escolheram ficar na sua terra, deixando para tratamento oportuno o fenómeno épico das diferentes correntes migratórias, tanto internas como externa, seja para o Brasil, para a Europa ou América. Além de outros, três vectores chave formataram verticalmente o nosso povo durante o século em apreço, a saber: TRABALHO, INTELIGÊNCIA E FÉ Abordando, quase de passagem, os dois primeiros temas (Trabalho e Inteligência), penso deixar abertos dois desafios bem aliciantes para os especialistas destas áreas, debruçar-me-ei especialmente sobre o terceiro. TRABALHO, MUITO TRABALHO. Limitadas pela falta de vias de comunicação e pressionadas pela manifesta pobreza dos solos em que a terra se enquadra, modesta tanto para a agricultura como para a pastorícia e indústria, cedo reconheceram as nossas gentes que, para ultrapassar as limitações impostas pela natureza,
Por F. Costa Andrade
tinham de reagir e, fosse o que fosse, era preciso fazer alguma coisa, puxar pela cabeça e trabalhar, trabalhar, trabalhar muito. Muito marcantes ainda até aos anos sessenta/ setenta as diferenças de mentalidades entre quem se dedicava mais à terra e quem se dedicava sobretudo aos negócios, houve um aspecto em que sempre todos se identificaram: O apego ao trabalho. Uns e outros, heróis anónimos, bem mereciam a grandeza da Odisseia ou dos Lusíadas para cantar seus feitos e perpetuar o que foi a gesta épica das suas vidas. Quanta coragem e esforço, quanta valentia, quanto sacrifício, sofrimento e privações se viveram na nossa terra para, em dias sem fim, semanas sem noite nem dia, arrancar o centeio às fragas da Fireira a golpes de guinchas e arados, com a terra regada pelo suor de rostos queimados pelo sol e, tantas vezes, debilitados pela fome e pela sede. Quantos dias “à jeira”, vergados sobre umas guinchas, para ganhar uns míseros tostões, para comprar um pão para os filhos, ou um quartilho de azeite para untar batatas cozidas com nabiças para enganar a barriga à espera de melhores dias, dias esses que, para muitos, nunca acabariam por chegar. Quantas terras feitas “ao meio”, azeitona apanhada e pão “cegado” para os outros, quantas metades da “estela de bacalhau” poupadas para trazer à noite para casa, quantas cargas de estevas “roubadas” nas ladeiras do Sabor ou do Maçãs, depois vendidas de porta em porta para que outros se aquecessem, deixando vezes sem conta os filhos em casa a tiritar de frio. Quantos filhos desmamados à pressa e entregues semanas sem fim aos irmãos mais velhinhos, enquanto os pais “formavam camaradas” para as ceifas da Terra Quente, sempre na esperança ilusória de ganhar para pagar o “soto”, o sapateiro, a padeira e sei lá mais o quê e trazer as sobras das merendas para, então sim, encher a casa por alguns dias. Quantas viagens atrás de uma “besta”, calcorreando caminhos sem fim na ilusão dum bom negócio, quantos rios passados a vau, molhadelas enxutas no corpo, frios e calores suportados no clima agreste de Trás-os-Montes, quantas noites sofridas e sustos de morte num contrabando de tostões, quantas feiras dos Chãos, de Bragança, de Mogadouro, de Izeda, de Macedo ou da Torre, para ganhar uma côdea que se repartia em casa para enganar a fome da família. Quantas fogaças compradas envergonhadamente a fiado, desde à muito tempo à “Tia Cobrica”, depois à “Estimada” ou à “Maria Cavala”, que muitas vezes só eram pagas com os dinheiros ganhos
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à ceifa na Terra Quente ou em terras de Miranda e Castela. Quantas filhas mandadas a “servir” sabe Deus para onde e filhos mandados para Lisboa ou para o Porto, quantas vezes sem destino à vista nem futuro a prazo. Foi por tudo isto que aquela gente foi tudo e fez de tudo para sobreviver. Os menos dedicados ao campo, em tudo o que pudesse “dar alguma coisa”, estavam lá, rapidamente adaptados, dominando com mestria todas as actividades em que se aventuravam, foram carteiros, ferradores, latoeiros, albardeiros ou construtores, mas sempre a SONHAR, LUTAR E TER FÉ NO FUTURO. Foi este inconformismo genético que ajudou a vencer as dificuldades e empurrou para uma evolução ímpar no contexto regional do Nordeste, apostando, à muitas décadas atrás, com raro sentido prático de premonição, na formação, a valorização e qualificação pessoal, sobretudo os filhos. Frases como:
tantes de forma que, enquanto na maior parte de outras terras raras eram as pessoas que sabiam ler e/ou escrever, já Carção se orgulhava dos seus Estudantes, Governantes, Doutores, Oficiais, Padres, Empresários, Professores, Engenheiros, Farmacêuticos ou Comerciantes. Sem pretender ser demasiado longo, duma maneira simples e despretensiosa, abordarei de seguida este tema com um pouco mais de atenção, referindo os factores que o potenciaram, os seus principais agentes e as consequências mais significativas para a promoção e desenvolvimento social da freguesia. Aceite-se ou não como historicamente provado, é iniludível que o sangue judeu que, mesclado ou puro, nos corre nas veias, para não dizer que nos transformou num povo superior, podemos dizer,
- “Meu filho, vê se estudas para seres alguém” ou, mais incisivas ainda como - “Estuda, rapaz, para fugires à enxada”, - “Se estudares ainda poderás ser um guarda, um Sargento na tropa, um empregado da Câmara ou das Finanças”, - “Agarra-te aos li- “Nos longíncuos anos 30, alunos de Carção com, o grande Mestre Prof. Madureira” vros que ainda poderás ser alguém”, com toda a razão, nos dotou dum perfil genético - “Vê se aprendes uma arte para não teres que te superior, único, incomparável e muito especial. agarrar à enxada” Um povo de convicções e de fé foram um factor importante para a motivação de gerações de jovens, alguns dos quais, sem grandes Abrindo as gavetas da história da nossa terra, meios, singraram na vida, em áreas importantes não obstante ser fácil encontrar médicos, engedo ter, do saber e do poder. nheiros ou professores, contudo, é inquestionável Ainda na época de quase total analfabetismo reconhecer que foi a acção da Igreja que mais do País, já Carção tinha um nível de escolaridacontribuiu para o enriquecimento humano e social de a anos luz da maior parte das aldeias vizinhas, das comunidades donde era proveniente o grande traduzido numa alavanca de desenvolvimento, vanúmero de jovens que passaram pelos Seminários, lorização pessoal e evolução social muito imporimpelidos uns pela forte religiosidade das famílias,
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e outros pela modéstia dos custos meramente simbólicos cobrados nos Seminários das Missões. Em 1954, pela alimentação, estadia e formação, os alunos pobres não pagavam nada e os remediados pagavam, por mês, o equivalente aos actuais 10 cêntimos – então vinte escudos. Na verdade, quem contribuiu tanto para o desenvolvimento cultural, social e humano de Carção como a Igreja Católica, através do grande número de jovens que, nos Seminários, moldaram o seu carácter, adquiriram uma sólida formação moral, humana e cívica e, depois, triunfaram nas mais diversas actividades? Se alguém tem dúvidas, atente um pouco no que muitos de nós fomos e no que somos, antes e depois da vaga de jovens que por lá passaram, onde alguns concluíram a sua formação, e muitos outros ali receberam as bases duma sólida formação moral, intelectual e cívica, primeiro como homens e depois como cristãos e cidadãos. Pesquisando os arquivos de alguns Seminários, necessariamente muito incompletos, cheguei a números muito interessantes, desde já pedindo desculpa por qualquer omissão, referindo os nomes abreviados para não alongar muito o trabalho. Relação dos jovens de Carção que, entre finais do Século XIX e o Século XX, passaram pelos Seminários: P.e Manuel Jerónimo (1874/1954) Fui dos muitos que tive a felicidade de privar com o saudoso “P.e Bicho”, como era carinhosamente conhecido por todos, figura marcante de Carção na primeira metade do século XX. Homem muito culto (onde parará a sua biblioteca?), foi Secretário do Bispo de Bragança, era dotado duma afabilidade enorme e dum humorismo cativante. Era única a sua maneira de benzer o povo antes da missa do Domingo e foi admirável o esforço que, já velhinho e doente, nunca regateou para exercer as suas funções. P.e Amândio Lopes (1914/1985) Para mim, o P.e Amândio Lopes, foi a figura mais marcante do distrito de Bragança no Século XX e, para falar dele, seria necessário um livro com muitas e muitas páginas, e quero dizer aqui e agora, com toda a frontalidade, que todos, mas todos, os verdadeiros carçonenses, lhe devem ainda uma verdadeira e grandiosa homenagem. Formado na Sociedade Missionária, transferiuse depois para o clero da diocese de Bragança, onde desenvolveu uma actividade impressionante, primeiro como professor nos seminário de Vinhais, Bragança e Chacim, depois como pároco em várias paróquias da diocese, terminando a sua actividade na terra que o vira nascer. Homem dum desprendimento evangélico, de grande fé e piedade, foi sobretudo na área social
que mais se realizou, sempre preocupado com os pobres, os doentes e as crianças. A ele deve Carção a Creche, o Lar dos velhinhos, a Casa de N.ª Sr.ª das Graças, a reparação dos Templos e a formação que proporcionou a muitas dezenas de rapazes que encaminhou para os Seminários, sobretudo para o das Missões. O método de abordar os pais era sempre o mesmo. “Sr. ……… o seu menino é muito esperto. Tem todas as condições para ir para o Seminário das Missões. Vou dar à sua senhora a listinha para começar a tratar do enxoval e não se preocupe com as despesas que eu trato de tudo”. A convicção e a sinceridade que punha nas palavras era impossível dizer não! P.e Manuel Marrão (1918/1999) Formou-se nos seminários de Vinhais e Bragança, Diocese onde exerceu uma longa e meritória actividade pastoral, passando em Carção os últimos anos da sua vida colaborando activamente com o pároco da freguesia. P.e Aníbal Liberal (?) Ao contrário de muitos dos seus familiares, que foram médicos, engenheiros ou juízes, o P.e Liberal ordenou-se na diocese de Bragança, onde paroquiou várias paróquias, distinguindo-se sobretudo como professor e ecónomo no Seminário de Bragança. P.e Policarpo Afonso Lopes (1940/2007) Era sobrinho do P.e Amândio e, como ele, formou-se nos Seminários das Missões. Depois duma breve passagem pelas missões em Africa, regressou ao Continente para se dedicar à pastoral da emigração. Radicando-se depois em Lisboa, para além de professor universitário e da pastoral suburbana, dedicou-se também à investigação, sobretudo na área da sociologia. A morte prematura interrompeu a sua brilhante carreira de sacerdote, investigador e escritor. P.e Teófilo R. Minga Começou também a sua formação nos Seminários das Missões, para os concluir e depois ordenarse sacerdote na Congregação dos padres Maristas. Homem ecuménico por excelência, o seu campo de actividades não tem limites. Autor de diversas obras sobre variados temas, tem desempenhado os mais altos cargos na sua Congregação, o que tem levado a sua actividade aos quatro contos do mundo. Para além destes, que concluíram a sua formação nos seminários e depois dedicaram as suas vidas ao serviço da formação religiosa e da promoção sócio-cultural das suas gentes, do incontável número dos muitos que por lá passaram, consegui
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referenciar muitos outros, passando a elencá-los pelo ano de entrada e pelo nome abreviado. Seminários da Missões de Tomar, Cernache e Cucujães
1925 1926 1927 1927 1936 1939 1947 1947 1948 1949 1950 1952 1953 1954 1955 1956 1956 1956 1956 1957 1957 1957 1957 1966 1967 1979 1979 1979 1979 1980 1980 1980 1980 1982
– Abílio Martins – Francisco Rodrigues – P.e Amândio Lopes – António Liberal – António Rodrigues – Manuel Jerónimo – Manuel Rodrigues – Alcino Calado – Cesário Rodrigues – Francisco Afonso – Vidal Minga – P.e Policarpo Lopes – Francisco Lopes – Francisco Andrade – António Gonçalves – Amadeu Vaz – Aníbal Jerónimo – José Marrão – Manuel Andrade – António Borges – Artur Mós – Eliseu Cidre – Teófilo Minga – Leonel Salazar – Belmiro Andrade - João Andrade - Hermínio Afonso - Francisco Isidro - Manuel Galhardo - Domingos Afonso - José João - Francisco Pinto - Paulo Isidro – Norberto Prada
Seminários Diocesanos de Vinhais e Bragança Além dos já citados padres Manuel Jerónimo, Manuel Marrão e Aníbal Liberal, começaram a sua formação nos seminários diocesanos de Bragança:
1952 1987 1988 1988 1988 1989 1989 2007
– – – – – – – –
Luís Mina Nelson Abreu Paulo Lopes Leonel Vaqueiro Eduardo Gonçalves David Pascoal Jorge Tomé Sérgio Bento
Seminários Salesianos 1996 – João Lopes Seminários dos Jesuítas Por volta dos anos 20 – Manuel Costa “ “ “ “ 35 – Gabriel Costa Do que foi a passagem destes jovens por estas casas de formação, com verdade, só cada um deles o poderá avaliar em todas as suas dimensões. Contudo, para o bem e para o mal, anticlericalismos saloios à parte, muito do que são ou do que foram, ainda que com o apoio das famílias e dos amigos, é a elas que indubitavelmente o devem. Olhando atentamente para a sociedade hodierna, fácil se torna perceber que, não tendo valores de referência, dificilmente encontrará o seu rumo. A esta distância, refulgem que nem o sol os princípios do respeito, responsabilidade, solidariedade, disciplina, organização e trabalho que, em conjunto com outra sólida formação religiosa, moral e cívica, informavam a formação ministrada naquelas casas a todos os aos alunos, logo desde os mais tenros anos. Sem procuração de ninguém para defender ou questionar seja quem for, termino este modesto apontamento com um desafio. Neste País que nós somos, quando tanta gente se entretém a falar sobre os custos da interioridade, sobre as causas, quem de direito, faça um estudo profundo sobre a acção da Igreja na promoção das gentes do nosso povo, reconhecendolhe os seus méritos e valorizando os seus métodos, numas palavras, seguindo-lhe o exemplo.
Serviço de: C A S A M E N TO S BAPTIZADOS COMUNHÕES F E S TA S D I V E R S A S
Quinta das carvas 5300 Bragança Tel. 273 381 211
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A CRUZ PROCESSIONAL DE CARÇÃO Conservam-se na diocese de Bragança - Miranda, cruzes de prata de especial qualidade artística sendo as mais antigas, e ainda em uso, as datáveis do século XVI. Para além destas persistem algumas, embora raras do século XVII, mas mais abundantes percentualmente são as dos séculos XVIII e XIX. Esta cruz, a de Carção, integra-se no grupo das cruzes processionais do século XVIII pelo que tentamos apresentar um estudo que vise enquadrar a peça nos modelos artísticos da época em que foi feita. O século XVIII foi um muito rico na variedade e qualidade artística, durante a centúria desenvolveram-se três grandes movimentos artísticos: O Barroco, o Rococó e o no fim do século ainda há espaço para o Neoclássico. O estilo Barroco com antecedentes no século XVII, aí por meados do século XVIII foi substituído pelo Rococó, ou pelo barroco tardio como também já foi considerado, mas o que os diferencia é um novo tipo de ornamentação baseada em motivos da natureza (flores, ambientes místicos...) e essencialmente o exacerbamento decorativo, uma das suas principais características. Por volta de meados do século, introduziuse o Rococó em Portugal. O termo é de origem francesa, Rocaille pretendendo significar um ambiente onde entram rochas juntamente com conchas e foi usado para designar a arte do tempo de Luís XV, em reacção contra a arte cortesã de Luís XIV. Em Portugal, já vários autores se pronunciaram a favor de uma terminologia mais nacionalista, o conchedo,1 em substituição do termo francês, rocaille. O Rococó desenvolveu-se ficou relacionado com o reinado de D. José, mas os primeiros contactos dão-se ainda durante o reinado de D. João V e o por intermédio do pintor Pedro António Quillard2 e através dos gravadores franceses Rochefort, Debrie, e Le Bouteux que estiveram em Portugal. Durante o reinado de D. João V assistimos ao aparecimento e definição de uma corrente estética profundamente marcada pelo barroco romano por influencia de gravuras e de trados assim como a vinda de artistas italianos para Portugal de pintores, escultores ourives... de formação italiana e a importação de obras de arte que irão contribuir para a formação de uma
nova orientação artística. A Itália é o principal país fornecedor de artistas e de peças, consideramos no entanto que tal se deve aceitar penas para os grandes centros populacionais não se tendo encaminhado para a província nem os artistas nem as obras. A diocese continua a funcionar como um local de encontro de culturas, possibilitando o contacto com as formas e gostos de trabalhar de artistas nacionais das principais cidades produtoras, como das cidades espanholas situadas nas proximidades da fronteira já que continuaram a chegar algumas peças oriundas das cidades espanholas mais próximas, as únicas que nos permitem estabelecer contactos com o exterior. Outro facto verificável são os efeitos do cumprimento da legislação referente aos trabalhos em prata tendo-nos surgido, agora um bom número de peças punçonadas. O século XVIII foi o século da talha dourada e do azulejo por todo o país, e neste campo a diocese sentiu a mesma linha orientadora, mas este investimento em obras fortemente influenciadoras do estado de espírito dos crentes, esteve na origem de desinvestimento em peças de ourivesaria religiosa, continuando a adquirir-se peças feitas em metal não nobre, caso dos cálices que por vezes levam apenas a copa em prata. São frequentes os registos do tesoureiro do Cabido em que referem peças que se mandaram dourar, concertar, o custo do carreto das mesmas, sinal evidente de que se mandarem vir peças de fora da diocese, “De três pares de galhetas à romana a 750 o par e 50 de carreto dous mil e trezentos reis”.3 Pelas investigações que temos vindo a fazer não contactámos com qualquer marca registada nesta Diocese, embora haja algumas referências a ourives prateiros e a obras dos mesmos. Durante o século XVIII, ainda continua a haver responsabilidade na aquisição e preservação das peças, por parte dos normais intervenientes: comendas, fregueses, abade… “Da ametade da reforma de um cálix para palácios por pertencer a outra metade à comenda cinco mil cento e cinquenta= 5$150”4. A cruz e a custódia são normalmente compradas pelo povo ou fruto de alguma oferta, as cálices e píxides são geralmente pertença do cabido ou na
Fig.1 Cruz Processional de Carção 1.º metade do século XVIII
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elgueiras udou nos Braga e sidade do e Turismo cional de
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sua totalidade ou em parte, e quando se trata de compras feitas pelo tesoureiro do cabido, então geralmente entrega-se antiga e desconta-se no pagamento, conforme se registou “De dous cálices hum para Rio frio outro para Outeiro com suas patenas tudo de novo abatido o pezo dos cálices velhos que se mandarão dezoito mil reis = 18$000”5. De levar e trazer os mesmo cálices do Porto trezentos e sessenta reis = $360. Durante este século as peças que servem no culto são antecipadamente consagradas pelo que se pagava na ordem de um terço do valor da compra, “ pela sagração dos mesmos (os três cálices) seiscentos reis $600”. Pela amostragem das cruzes provenientes da produção nacional diremos que as peças do sé-
inzenário
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Fig.2 Cabeça de Serafim
culo XVIII apresentam duas características bem distintas. Na primeira parte da centúria, a época correspondente ao joanino, o período barroco por excelência, as peças revelam uma grande uniformidade, já as peças da segunda metade são caracterizadas pelos feitios complicados, relacionados com a movimentação rococó utilizando uma decoração profusa, socorrendo-se de elementos decorativos de carácter essencialmente naturalista e, raramente, de elementos de iconografia religiosa. A primeira metade do século corresponde ao período da chegada do ouro e dos diamantes brasileiros é o período das grandes edificações nacionais, mas que se revelou nesta diocese e na ourivesaria religiosa, com enorme pobreza preservando-se, por isso, cruzes de secção cilíndrica, na sua maioria desprovidas de trabalho na chapa de ALMOCREVE prata, a evidenciar pobreza nas encomendas e um seguidismo de modelos de execução fácil, que nos levam a pensar nalguma incapacidade dos ourives para inovar (lembremos que as grandes obras régias foram da autoria de artistas estrangeiros). Das dezoito cruzes de secção cilíndrica, que tivemos oportunidade de manusear, apenas três são completamente preenchidas por decoração à base de elementos curvos. As restantes são isentas de
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decoração à excepção das terminações dos braços, que são terminados em capitel de ordem coríntia decorados a cinzel, no remate levam elementos balaustrais. Caracteristicamente, o nó é circular achatado e encaixado entre dois elementos arredondados formados por linhas côncavas e convexas, um formulário muito utilizado na ourivesaria barroca. No elemento central, podem levar, querubins como principal elemento decorativo saliente. Os braços, circulares não levam mais qualquer decoração que os já referidos e estão reforçados por uma alma em madeira, a mesma que percorre toda a peça, proporcionando maior robustez e maior peso. Tecnicamente, utilizam de preferência o cinzelado, mas no nó vão surgindo alguns volumes obtidos pela técnica do repuxado. O estado de conservação é razoável, fruto do formato circular das partes constituintes e da madeira que levam no interior. Este modelo de cruzes de secção cilíndrica perdurou para além de meados do século, como pudemos averiguar (Algoso, por exemplo) que seguindo a mesma tipologia introduzem nas terminações dos braços os Cs, esquema também utilizado pelas cruzes graníticas, sem radiado atrás da cabeça do Crucificado preferindo-se a concha, (não o concheado) o que denota estarmos já muito perto da segunda metade do século XVIII, em que este elemento terá maior desenvolvimento. Deste primeiro grupo persiste um conjunto razoável composto por umas vinte cruzes (Especiosa, S. Joanico e Vila Verde, Salselas, Algoso, Pombal, Carção, Junqueira, São Joanico, Vale das Fontes, Teixeira, Pinelo, Tó...) Pelos exemplares referidos, diremos em jeito de resumo que as cruzes barrocas do século XVIII, são de estrutura muito simplificada utilizando uma decoração baseada em elementos clássicos (capitéis), cabeças de querubim e alguns enrolados e nula iconografia religiosa. O joanino, tipicamente tão ornamentado, notoriamente que não se reflectiu no nordeste através das cruzes processionais. Fernando Pereira
1 Manifestaram-se já a favor desta nomenclatura, Reynaldo dos Santos e Nelson Correia Borges. 2 Nelson Correia Borges, História da arte em Portugal, Alfa, p., 92. 3 Ver Livro das fábricas das igrejas, relativo aos anos de entre 17651768, Cx.04 Lv. 21 CAB, A.D.B 4 idem 5 idem
Carção – A Capital do Marranismo António Júlio Andrade
Conservam-se na Torre do Tombo cerca de 250 As origens da comaunidade processos Maria instauradosFernanda pelo tribunal daGuimarães Inquisição a É sabido que, ainda antes de Portugal existir, já cristãos-novos de Carção. Não os lemos todos, mas nesta terra havia comunidades cristãs e judaicas fizemos uma boa triagem deles e podemos, com partilhando o espaço de cidades e vilas, cada uma muito rigor, dar testemunho do que foi a vivência regendo-se por suas próprias leis. A par da igreja da comunidade marrana de Carção durante aquele dos cristãos, existia a sinagoga dos judeus e cada século a que os processos respeitam ( 1638-1742). qual rezava ao seu Deus e todos viviam em paz. Este artigo é baseado em um trabalho muito E depois da fundação durante mais de 350 anos, mais vasto que sobre o assunto elaborámos e contaa situação manteve-se, com os judeus ocupando mos seja publicado muito em breve. uma determinada zona da povoação, a que chama-
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vam judiaria. E se as comunidades locais cristãs tinham o seu concelho, com a sua câmara municipal, os seus vereadores e as suas justiças … também as comunidades hebreias tinham a sua comuna, com o seu rabi, o seu concelho de anciãos, a sua administração e o seu governo. E se em Trás-os-Montes havia um corregedor que representava o rei e tinha o poder por ele delegado sobre as comunidades cristãs, também havia um rabi que representava o mesmo rei e tinha poder semelhante na administração e governo das comunas judaicas. E os rabis que superintendiam sobre cada uma das 7 comarcas em que o Reino estava dividido respondiam na Corte perante o Rabi Mor e este perante o Rei. Carinhosamente, os reis de Portugal tratavam até esta gente como “ os meus judeus” Não consta que em Carção existisse qualquer judiaria e nenhuma indicação existe sobre a existência de judeus na terra durante esse período. Nem tão pouco nas terras em redor, incluindo as sedes de concelho como Outeiro e Vimioso. As origens da comunidade hebreia de Carção remontam provavelmente a 1492 quando os judeus foram expulsos de Espanha e receberam vistos de entrada e estadia em Portugal, a troco de pagamento do imposto, E para o controlo da entrada e pagamento do imposto, em cada comarca foi estabelecido um campo de refugiados, ou de acolhimento. Na comarca de Miranda esse acampamento seria no chamado Prado das Cabanas, um sítio entre as povoações de Pinelo, Vimioso e Carção. Deste campo terão depois irradiado para outras partes, dizendo-se que por Carção ficaram os mais pobres, o que vinham descalços, enquanto os mais ricos, os que vinham calçados e tinham bestas demandaram terras de Bragança, Mogadouro, Miranda… A verdade é que, da leitura dos processos, ressaltam duas notas que, de certo modo, confirmam isso mesmo. Em primeiro lugar e, muito embora fossem nascidos em Carção, eles aparecem nas listas dos autos-de-fé geralmente referidos como originários de Castela. E frequentes vezes são dados como “moradores em Carção e assistindo em Castela” e vice-versa. Aliás, é impressionante a mobilidade desta gente, em continua passagem de um lado para o outro da fronteira. Em segundo lugar, referia-se que as comunidades de Argozelo, Carção e Vimioso estão umbilicalmente ligadas, todos sendo familiares uns dos outros, o que não invalida a existência de laços familiares de alguns com gente de outras terras, sobretudo do planalto mirandês e das terras de Lampaças (Macedo de Cavaleiros). Os primeiros processos Foi em Abril de 1638 que em Carção se executou a primeira prisão em nome do Santo Ofício. Chamava-se Jorge Lopes Henriques o prisioneiro e era originário de Miranda do Douro. Foi acusado de ter
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interceptado uma ordem da Inquisição para o comissário de Bragança proceder à prisão de 19 cristãos-novos de Quintela de Lampaças e os ter avisado que fugissem. Apesar de haver boas testemunhas e não obstante seus pais terem já sido processados pela Inquisição Jorge Henriques conseguiu defender-se, iludindo os inquisidores que o consideraram inocente e o libertaram. Posto em liberdade alguns anos mais tarde foi residir para Castela e posteriormente para Livorno onde certamente se fez judeu. A segunda pessoa ligada a Carção apanhada nas redes do Santo Ofício era originária de Mogadouro. Chamava-se Maria Lopes e tinha 16 anos, sendo casada com Francisco Lopes Carção. Este e o sogro andavam por Espanha (em fuga? Em negócios?) e Maria foi presa pelas justiças de Vimioso exactamente quando ia para junto de seus pais e marido, acompanhada por uma irmã de 12 anos e um irmão de 10 que com ela viviam. A prisão teve lugar em Abril de 1651 e a reconciliação da jovem mãe aconteceu uma ano depois, no auto-de-fé de 14 de Abril de 1652. Imagine-se o sofrimento daquela mulher quando lhe tiraram o filho de 11 meses que levava ao colo, pois era um empecilho na jornada para Coimbra e mais uma boca para alimentar na cadeia! Também não era propriamente de Carção o terceiro marrano cujo processo estudámos e que foi preso em Junho de 1658. Chamava-se Francisco da Costa Henriques e tinha nascido em Vimioso. Vivia no Porto e tinha uma boa casa comercial em conjunto com o sogro. De seus negócios sobressai a compra de açúcar e tabaco no Brasil cuja maior parte vendia para o Norte da Europa, dali recebendo sobretudo tecidos e ferramentas. Fernando Baeça e António de Mesquita, eram seus parceiros comerciais em Amesterdão e Hamburgo, respectivamente, enquanto no Brasil tinha dois irmãos, solteiros, um do qual morreria na viagem de regresso ao Reino. Como a mãe dos Macabeus Ao mesmo tempo que Francisco da Costa Henriques deixava a cadeia da Inquisição de Coimbra, em Junho de 1660, na mesma era metida a sua mãe, Brites Lopes, e o seu irmão António da Costa. E três semanas depois, foram também encarceradas as 3 filhas da mesma Brites, todas elas já casadas. Esta foi a primeira grande investida do Santo Ofício em Carção e a família Costa foi a primeira a ser apanhada toda ela nas malhas do mesmo tribunal. E se a comparamos à mãe dos Macabeus é porque Brites foi realmente uma heroína. Ao longo de quase 2 anos, ela manteve-se firme, não denunciou ninguém, a não ser aqueles que sabia terem já sido presos, como era o caso dos filhos Francisco e António e do primo Jorge Henriques, o tal que, há quase 20 anos tinha fugido para Livorno. Nem mesmo depois de lhe dizerem que ia ser queimada
na fogueira, ela recuou nas suas posições, dizendo, pela enésima vez, que não tinha culpas a confessar. Apenas dois dias antes do auto-de-fé, quando soube que suas 3 filhas também estavam presas, ela começou a admitir mais culpas e a fazer mais denúncias. A sentença acabou por ser alterada e ela saiu condenada a hábito penitencial perpétuo, com insígnias de fogo e degredo de 7 anos para o Brasil, no auto-de-fé de 9 de Julho de 1662. Não sabemos se por ingenuidade, ou tentativa de fazer confundir os inquisidores, ou se isso era típico do marranismo, Brites dizia que era seguidora da lei de Cristo e a da lei de Moisés, em simultâneo, que ia ouvir missa à igreja cristã para salvação da sua alma e que, ao mesmo tempo, fazia jejuns e cerimónias judaicas. Os inquisidores avisam-na que isso era um absurdo, uma contradição e escreviam no processo a seguinte nota: - Ela tem 60 anos e é muito bem entendida. E escreveram belas orações que ela ditou. Como a que se segue: Vossos amores, Senhor, Me trazem mui descuidada, Que não quero outro cuidado Senão servir-vos Senhor. Se Tu a mim servires, Eu a ti te guardarei, E quando me demandares, Senhor, sei que tudo Te darei. De meus filhos e marido, Eu terei grande cuidado, E saberão as nações Que sou de Ti advogado. Serás bendito no campo E das ruas da cidade Limparás Tu a maldade E estarei em povo santo. O medo apoderar-se das mentes de todos O marido de Brites não foi preso porque era falecido. Mas foram presas duas irmãs suas e vários sobrinhos. Bem como as noras e genros de Brites. E naturalmente que cada um dos prisioneiros entrou a denunciar outras pessoas que com eles se tinham declarado seguidores da lei mosaica. E sempre que alguém era preso, acrescentavam-se as denúncias e novos processos se abriam e outras prisões se seguiam, que todos tinham cometido o mesmo crime. Alguém podia então sentir-se descansado? Impossível! E o medo apoderou-se de todas as mentes dos cristãos-novos da aldeia. Neste ambiente de medo e suspeição, as reacções foram várias. Alguns optaram por abandonar a terra e seguir os caminhos da emigração. E outros, em vez de ficarem à es-
pera que viessem prendê-los, decidiram eles próprios dirigir-se a Coimbra apresentar-se no tribunal, confessar que tiveram práticas judaicas mas que estavam arrependidos e pediam perdão. Certamente que tal comportamento de humildade seria levado em conta e a pena sempre seria mais leve. E assim se formaram verdadeiras romarias de marranos de Carção para Coimbra. Este movimento de prisões/apresentações foi particularmente intenso em 1664. Com efeito, no seguimento do auto-de-fé de 26 de Outubro desse ano em que saíram penitenciadas 7 pessoas de Carção ( da família da Brites, quase todos), registou-se em 4 de Novembro a prisão de outras 9 e a apresentação voluntária de 20! Francisco Lopes de Leão foi um desses 20. Apresentando-se, confessou suas culpas e, depois de admoestado, mandaram-no embora. Ficou seu processo em aberto, no qual foram sendo registadas novas denúncias, feitas por outros prisioneiros. E com base nestas denúncias em 2.10.1665, os inquisidores decretaram a sua prisão. Assombroso o seu comportamento na prisão, assumindo-se como verdadeiro judeu e professor da Lei! Começou até por contar aos inquisidores que, quando veio a Coimbra a apresentar-se, não o fez com recta intenção mas veio sobretudo para encorajar os outros “ animando-os publicamente a que perseverassem na dita crença”. Confessou que a própria viagem foi para ele uma verdadeira peregrinação, uma jornada de fé, pois que em todos os dias, excepto ao sábado, ele fez jejuns judaicos e disso dava conta aos outros que com ele seguiam. E contou que depois, na própria cadeia, fez muitos jejuns e que nunca deixou de rezar ao Deus em que “ele confitente cria e se prezava muito de ser judeu”. Confessaria também que se, por acaso tivesse no seu corpo uma gota de sangue cristão e soubesse em que parte do corpo ela se encontrava, cortaria essa parte, como se fosse um pedaço de carne gangrenada. Claro que o curso dos dias parados nas masmorras do Santo Ofício e os tormentos físicos e psicológicos a que era submetido fizeram abalar as certezas do “mestre” que seria assaltado pela dúvida. Evidente que um drama profundo se desenrolava dentro dele, o drama do homem que desespera em busca da verdade, com a alma dividida e o coração despedaçado. É dele esta confissão que nos parece absolutamente sincera e reveladora desse drama interior de uma pessoa que se vê obrigada a aceitar uma nova ideia religiosa, sob pena da própria morte: - Querendo por diversas vezes encomendar-se a Cristo Nosso Senhor, pedindo-lhe que lhe alumiasse os olhos da alma para receber a sua fé santíssima, a mesma inclinação perversa de seu sangue o apar-
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tava disso, persuadindo-o a não se encomendar ao mesmo Cristo senão ao Padre Eterno, induzindo-o assim o demónio a não se persuadir que um homem que morreu numa cruz pudesse ser Deus. Os próprios inquisidores, quando ditaram a sentença, escreveram no processo esta lapidar constatação: - Era tão poderoso a afeição que tinha à lei de Moisés que não podia acabar consigo e apartar-se dela! Naturalmente que, na lógia dos inquisidores, para trazer esta alma ao seio da igreja em que foi baptizado, apenas havia um caminho: despojá-la do corpo! E assim foi condenado a arder nas fogueiras acesas no célebre auto que durou três dias (12-14 de Fevereiro de 1667), no qual foram penitenciadas 264 pessoas, contando-se entre elas o grande pregador jesuíta e insigne escritor, padre António Vieira. De Carção, saíram ainda mais 19 pessoas, condenadas em diversas penas. E se Francisco Lopes de Leão foi o primeiro cristão-novo de Carção a ser queimado nas fogueiras do Santo Ofício, cumpre dizer que, anos depois, o mesmo castigo cairia sobre 2 de seus filhos e sobre outros de sua geração. Cheiro a carne queimada e os fantasmas dos sambenitos O cheiro a carne queimada pairava no ar de aldeia a partir de então. E na paisagem da terra novos fantasmas começaram a assomar nas esquinas das casas e a percorrer as ruas, enchendo-as de novas e terríveis premonições e ameaças. É que, os reconciliados eram condenados a regressar vestindo por cima das roupas uma espécie de saco, feito de pano grosseiro de lã, de cor amarela, a que chamavam sambenito. Era a prova visível e recordação constante de que tinham sido presos pelo Santo Ofício, situação deveras humilhante e de público escárnio. Imaginem-se aqueles homens e mulheres passando na rua e a garotada gritando: Judeu! Judeu dos pregos!...Ou um padre fanatizado a pregar a missa de domingo contra os judeus que mataram Cristo e apontando para eles o dedo! E quando alguém era relaxado, fazia-se um sambenito no qual pintavam a sua cara a arder no meio das chamas do inferno, rodeado de diabos. Esse sambenito era depois mandado para terra e era obrigatoriamente pendurado na parede interior da igreja, ali ficando para que a memória do seu crime não desaparecesse. Imagine-se a vergonha que os familiares de Francisco de Leão não passariam quando o seu retrato ali foi pendurado e depois, sempre que entravam na igreja! E se o seu retrato foi o primeiro, muitos outros iriam depois fazer-lhe companhia, decorando as paredes do templo, para gáudio dos cristãos-velhos e vergonha dos marranos.
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O Kipur de 1689 Não obstante os medos e os fantasmas, a normalidade foi regressando ao quotidiano dos cristãosnovos de Carção e nos anos 20 que se seguiram à morte de Francisco Lopes de Leão nenhum acontecimento de especial relevância a assinalar. E tal normalidade fez com que uns começassem a fazer algumas práticas judaicas de modo menos recatado. Começaram a ser notados e falados em público os jejuns e as cerimónias judaicas quando algum deles falecia e dava nas vistas a forma como todos respeitavam o sábado e não o domingo como dia santo, vestindo fatos lavados e não trabalhando. E falava-se abertamente que na comunidade havia 3 livros judaicos. Particularmente notório e escandaloso se tornou o modo como celebravam o dia grande de Setembro (Kipur) vestindo-se de festa e indo para as vinhas, em romaria, em grupos separados de homens e mulheres e por lá ficavam o dia inteiro, jejuando e rezando ao Deus de Abraão e de Moisés. Chegou-se assim o ano de 1689, à festa do Kipur e muitos padres e o juiz da aldeia e os homens do regimento e todas as beatas se mobilizaram a espreitar o que cada um fazia. Depois … foram as notícias chegando a Coimbra, enviadas por comissários e familiares do Santo Ofício e recomeçaram as investidas da Inquisição sobre a comunidade marrana de Carção, com uma violência jamais vista, em novas e terríveis vaga de prisões. Um verdadeiro holocausto Pelos anos de 1700, a freguesia de Carção contava menos de 150 vizinhos (fogos), significando que teria à volta de 500 habitantes, somado os cristãosvelhos e os cristãos-novos. Repare agora leitor que, só nos anos que vão de 1691 a 1701, a Inquisição ali ordenou de prender umas 130 pessoas, acusados de judaísmo! Tenha-se em conta que estes presos eram sobretudo gente de trabalho, das classes da população activa. E tenha-se em conta que as prisões implicavam geralmente o sequestro de bens e consequente ruína das casas, o desbaratar de fazendas, o fim dos laços e redes comerciais que, muitas vezes, levavam gerações a construir. Acresce que muitos, receando ser presos, fugiam. Tal como os que saíam das cadeias, sentindo-se constantemente enxovalhados e humilhados, procuraram também os caminhos da fuga. O pior, as verdadeiras tragédias aconteciam nas masmorras da Inquisição. Muitos eram os que ali endoideciam, bastantes os que ficavam estropiados e nada raros morriam lá dentro. E todos, mas mesmo todos, eram abalados física e psicologicamente. Temos o caso de um homem de 20 e tal anos, cheio de vida, que chegou a tal extremo que comia os seus próprios dejectos! E o auge da tragédia era atingido com a morte na fogueira.
De tudo isto temos exemplos clamorosos em Carção: gente que ficou aleijada, gente que ali endoideceu, gente que ali morreu, gente que preferiu suicidar-se e…houve pelos menos 18 que foram condenados a morrer na fogueira. Até parece que durante aqueles 10 anos todas as forças do inferno se conjugaram contra a comunidade cristã-nova de Carção, a qual sofreu um autêntico massacre, imolada em verdadeiro holocausto. O renascer constante da Fénix O mais espantoso é ver como, apesar das fugas e do holocausto, a comunidade sobreviveu, a fé mosaica resistiu e como, 40 anos depois, a geração que se seguiu, os filhos e os netos daqueles processados e queimados souberam manter viva a chama do marranismo e dar provas inequívocas de resistência aos métodos do Santo Ofício. E houve casos de resistência interior persistente, uma resistência colectiva que corporiza exemplarmente a maneira de viver dos marranos de Carção. Com efeito, estando legalmente impedidos de entrar nas confrarias e desempenhar cargos na esfera da igreja, eles promoveram as mais diversas diligências para alterar a situação. E depois de muitos anos de requerimentos e contactos com as autoridades religiosas de Lamego e Braga, alcançaram para isso autorização do bispo da diocese de Miranda. E parece que foram eles que construiriam a capela de Santo Estêvão e ficaram desde logo com as chaves da mesma e a promover nela o culto cristão. Mas, se, no dia do patrono, ali rezava o padre a missa e pregava sermão se fazia uma festa cristã, parece que em outras ocasiões, o “rabi” nela celebrava “missa judaica”. Importante mesmo para eles foi a entrada na confraria do Santíssimo Sacramento cuja direcção ficou anualmente partilhada entre eles e os cristãos-velhos, a partir de 1721. E isso era importante pois lhes dava acesso à chave da igreja matriz e a responsabilidade da sua manutenção e de todas as alfaias e paramentos. E foi um deslumbramento a festa do Copo de Deus organizada no ano de 1722 quando um deles, pela primeira vez, ocupou o cargo de mordomo principal. Nunca se tinha visto coisa assim: a igreja toda caiada de novo, toda engalanada, com as paredes ornadas de finos tecidos de seda e cetim e papeis coloridos e flores e toalhas novas nos altares e novas bandeiras e pendões e alfaias bem polidas e paramentos bem lavados – tudo para o engrandecimento do culto. Ficaram os cristãos-velhos de boca aberta e, pela primeira vez, aquela geração de cristãos-novos entraram na igreja e não viram pendurados os execrados sambenitos de seus familiares e amigos que haviam sido queimados nas fogueiras do Santo Ofício, tapados que estavam pelos ornamentos preparados para a festa.
E ao fim da festa, desmontada a ornamentação, ninguém terá dado importância ao facto de alguns daqueles “sacos de estopa” pintados com as chamas do inferno e as caras dos relaxados terem desaparecido. E depois, em cada 2 anos, cada mordomo caprichava na ornamentação da igreja e, no fim, sempre desapareciam alguns sambenitos. Certamente que também haveria nisso alguma cumplicidade dos padres, a quem os cristãos-novos muitas prebendas chegariam e muitas veniagas renderiam. Uma derradeira vaga de prisões Chegou-se ao ano de 1736. E então, no dia de S. António, como era costume, realizaram-se uns festejos populares no largo da aldeia, onde também ficava a casa do pároco. Nesses festejos havia uma espécie de auto em que entravam os boieiros e os pastores da terra, lançando-se trovas alusivas ao viver colectivo. E então os pastores atiravam esta trova: Graças a Deus para sempre Agora fará um ano Que na nossa igreja posta Naquela parede toda Ainda se via estopa. E agora por desgraça Nem uma que ali se topa Levantou-se de imediato um enorme burburinho entre os assistentes cristãos-novos e só não houve tumulto porque o padre se impôs. A verdade, porém, é que este não podia abafar o escândalo. A cena foi comentada e a notícia acabou por chegar a Coimbra. Seguiram-se devassas e… foram presos 6 membros da comunidade, acusados de terem roubado os sambenitos “ afim de riscar da memória” colectiva os nomes dos seus ascendentes que foram relaxados. Efectivamente, todos eles eram filhos e/ ou netos daqueles que haviam sido queimados nas fogueiras da Inquisição. Decorreram os processos e todos eles foram condenados a degredo, pena que parecerá bastante ligeira, em relação à gravidade do crime mas é preciso recordar que os tempos eram outros, que as ideias do iluminismo se espalhavam e a Inquisição entrava em agonia. E se, não temos conhecimento de nenhuma terra que tenha sido tão massacrada como Carção, também estamos convencidos de que, em nenhuma outra parte do Reino houve tanta resistência ao ofício que se dizia santo de massacrar corpos para salvar almas. Do exposto e que é um breve resumo e simples amostra da actuação daquele tribunal, bem pode a aldeia de Carção ser candidata ao titulo de capital do marranismo.
M.ª Fernanda Guimarães António J. Andrade
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Dia 24 de Agosto – Domingo • Arruada Popular com o Grupo de Bombos Zés Pereiras de Bustelo Amarante • FESTIVAL DE MÚSICA (Dj’s)
Dia 25 de Agosto – Segunda-feira • Jogos tradicionais (vitela ou cabrito aos quadrados) • Torneio de Sueca (1.º prémio - Vitela)
Dia 26 de Agosto – Terça-feira • Jogos tradicionais • Concurso de Dança • Torneio de Chincalhão (Vitela em jogo)
Dia 27 de Agosto – Quarta-feira • • • •
Salva de Morteiros Jogos Tradicionais Música Tradicional e Popular (Pauliteiros e Gaiteiros) Concerto da Banda de Música dos B. V. de Vimioso
Dia 28 de Agosto – Quinta-feira • Salva de Morteiros • Jogos Tradicionais • Grupo Musical MELODIA
Dia 29 de Agosto – Sexta-feira • • • • •
Salva de Morteiros Jogos Tradicionais Abertura da II Feira do Artesanato Grupo Musical MELODIA JOSÉ MALHOA
Dia 30 de Agosto - Sábado • • • • •
Salva de Morteiros II Feira do Artesanato Grupo Musical NÚCLEO JORGE FERREIRA ESPECTÁCULO PIRO-MUSICAL
Dia 31 de Agosto - Domingo • • • •
Alvorada com salva de morteiros Arruada com a Banda de Música dos B. V. de Vimioso Grupo Musical NÚCLEO Entrega da Festa
PROGRAMA RELIGIOSO Dias 22 a 29 de Agosto
Novena Religiosa na Igreja de St.ª Cruz
Dia 30 de Agosto - Sábado
14.00 horas – Missa com Sermão em Honra de St.ª Teresinha, seguida de Procissão. 21.00 horas – Momento Alto de Veneração da Srª das Graças; Procissão de Velas; Missa Campal na Capela de St.ª Marinha com Sermão.
Dia 31 de Agosto – Domingo 14.30 horas – Missa Solene dos Devotos à Padroeira com Sermão, seguida de Procissão. “Adeus à Virgem”. “Momentos de Reflexão”.
22 a 31 de Agosto • 2008