Quadros Alternados De Eduard Teodor Bosche - Guia E Resumo Por Pozogps

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õ ã SUMÁRIO Capitulo I

pp.1-4

Capitulo II

VIAGEM DE HANOVER A HAMBURGO

Capitulo III Capitulo IV

pp.4-6 pp.6-7

CHEGADA A BORDO DO NAVIO “WILHELMINE”

Capitulo V

pp.7-9 pp.9-10

Capitulo VI

O CORPO DE OFFICIAES E OS SOLDADOS

pp.10-3

Capitulo VII

SCHÄFFER, ORADOR E LEGISLADOR

pp.13-4

Capitulo VIII

ANTEGOSO DA VIDA MARITIMA

pp.14-6

Capitulo IX

VIAGEM DE MAR

pp.16-9

Capitulo X

CHEGADA AO RIO DE JANEIRO

pp.19-20

Capitulo XI

O CASAL DOS IMPERANTES BRASILEIROS

pp.20-2

Capitulo XII

O CORPO ALLEMÃO NO BRASIL

pp.22-8

Capitulo XIII

EWALD COMMANDANTE DO BATALHÃO

pp.28-9

Capitulo XIV

A FORTALEZA DA PRAIA VERMELHA

pp.29-34

Capitulo XV

O JURAMENTO DE BANDEIRA

pp.34-5

Capitulo XVI

O ANNIVERSARIO DE DOM PEDRO

pp.35-8

Capitulo XVII

S. CHRISTOVAM

pp.38-41

Capitulo XVIII

VOLTA AO BATALHÃO

pp.41-3

Capitulo XIX

O ASSALTO CONTRA O POSTO DA CARIOCA

pp.43-5

Capitulo XX

GUILHERME COTTER COMMANDANTE DO BATALHÃO

pp.45-7

Capitulo XI

FESTAS DE EGREJA E PROCISSÕES

pp.47-9

Capitulo XXII

A PRISÃO

pp.49-51

Capitulo XXIII Capitulo XXIV

pp.51-4 MORTE DA PRIMEIRA IMPERATRIZ DO BRASIL CAROLINA LEOPOLDINA, ARCHIDUQUEZA DA AUSTRIA

pp.54-6

Capitulo XXV

OS IRLANDESES

pp.56-8

Capitulo XXVI

A REVOLTA

pp.58-76

Capitulo XXVI

O BOM PASTOR

pp.76-8

Capitulo XXVII

A EXECUÇÃO

pp.78-81

Capitulo XXVIII

EFFEITOS SALUTARES DA REVOLTA

pp.81-2

Capitulo XXIX

A DESPEDIDA

pp.82-3

Capitulo XXX

ACONTECIMENTOS POLITICOS. ABDICAÇÃO DE D. PEDRO I IMPERADOR DO BRASIL

pp.83-105

O RIO DE JANEIRO

pp.107-25

DESTINO FINAL DOS MILITARES ALLEMÃES

pp.127-33

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Bösche, Eduardo Theodoro. Quadros Alternados – Guia e Resumo feito por POZO, G. P. S.

OBSERVAÇÕES e CITAÇÕES DO TEXTO ORIGINAL – -------------- Prefá. -------------Engajado para o exército brasileiro em 1824 – narrativa abrange o período de 1825 a 1829, e não a 1834, como se interfere do título. ----------------------------------Quadros Alternados de: VIAGENS TERRESTRES E MARITIMAS, AVENTURAS ACONTECIMENTOS POLITICOS, DESCRIPÇÃO DE USOS E COSTUMES DE POVOS DURANTE UMA VIAGEM AO BRASIL E UMA PERMANENCIA DE DEZ ANNOS NESTE PAIZ DOS ANNOS DE 1825 A 1834 CONTENDO EGUALMENTE INFORMAÇÕES SOBRE A SORTE DOS ALLEMÃES PARA ALLI EMIGRADOS, POR EDUARDO THEODORO BÖSCHE. Hamburgo, 1836. – Hoffmann e Lampe, editores. -------------- Cap. I -------------Brasil independente / necessidade de homens para cultivar a terra / Alemanha e Suíça como deposito de soldados para o mundo / agentes responsáveis pelo aliciamento alterando a verdade e fornecendo as informações mais exageradamente – G. A. Schäffer / homens na Alemanha a emigrar / condições sociais favorecem a emigração / eldorado americano / “bravura ociosa á disposição do Governo brasileiro”. -------------- Cap. II -------------Com 17 anos em dezembro de 1824 partiu para Hamburgo, acompanhado de um amigo, para imigrar ao Brasil. Carta do Brasil escrita por outro alemão informando as péssimas condições de vida no lugar. -------------- Cap. III -------------Encontro com Schäffer em Hamburgo para tratar da viagem. Soldo no exército brasileiro era duas vezes superior ao do inglês. Ele e colega de viagem foram alistados como cadetes de cavalaria. Serviço de três anos. -------------- Cap. IV -------------Na embarcação com mais 100 homens. “corja, cujo trapos não escondiam sufficientemente a nudez, dente de modos grosseiros e de uma brutalidade animal” (7). “O conhecimento de tal corja me estava reservado. Era composta de criminosos (...) que Schäffer escolhera para cidadãos de sua nova pátria (...) é impossível descrever o sentimento que de mim se apossou, quando me encontrei no meio de taes bandos” (8). -------------- Cap. V -------------Cotidiano na embarcação. Navio Wilhelmine. -------------- Cap. VI -------------Oficiais na embarcação. Destaca-se o “major e cavalleiro Von Ewald, commandante” (10). Descrição analítica dos oficiais superiores. “o restante compunham-se dos elementos mais heterogêneos da população alleman. Eram cerca de cincoenta famílias de colonos, na maior parte do Hesse-Darmstadt, seiscentos e cincoenta soldados e cento e sessenta criminosos de Mecklemburgo” (13). -------------- Cap. VII -------------Presença de Schäffer na viagem. Seus discursos sobre “mentiras e de invencionices, de dom Pedro, que elle cognominava o Grande, do Brasil, terra da liberdade e da felicidade, onde o leite e o mel corriam em abundancia, das minas de ouro e de diamantes..” (14).

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-------------- Cap. VIII -------------Preparação para viagem marítima. “O inverno durante o anno de 1825 não foi propriamente rigoroso, Houve navegação pelo Elba durante todo o mez de Fevereiro. Foram todavia freqüentes as tempestades de chuva e de neve..” (15). -------------- Cap. IX -------------Viagem marítima. “em começo de Fevereiro, suspendeu-se ancora (...) O tempo ruim que tinhamos tido acompanhou-se no mar hespanhol, onde a tempestade durou oito dias (...) Exerce uma influencia deprimente sobre o moral assistir a uma tormenta perigosa em companhia de muitos homens, e sobretudo de mulheres. As lamentações e gritos da maior parte, que enxergam perigos reaes ou imaginários, provocam um profundo abatimento de espírito” (16). Festa chamada Neptuno na ilha da Madeira. Comportamento dos outros passageiros, levando “excessos”. Festa acabou em “grossa pancadaria, como soe acontecer em quase todas as festas populares allemans” (17). Relato sobre os excessos no navio Germania, onde “houve (...) um verdadeiro assassinato comettido pelas auctoridades de bordo, as quaes fuzilaram oito pessoas, tendo sómente condemnado á morte sete innocentes” (18). -------------- Cap. X -------------Rio de Janeiro. “14 de abril de 1825 desenharam-se ao longe os contornos das costas brasileiras (...) no dia 22 de Abril antes de levantar do sol entramos no porto do Rio de Janeiro (...) A´direita, ao longo do mar, em frente ao Rio, estende-se a pequena cidade de Praia Grande, com suas pitorescas casas (19) Ancorámos ás oito horas da manhã, em frente ao Arsenal marítimo, perto da Ilha das Cobras (...) Foram immediatamente assediados de perguntas por cem curiosos, que indagavam acerca da vida no Brasil. Estas perguntas podiam ser dispensadas: o seu aspecto doentio e miseravel, os seus olhares sombrios e vacillantes diziam a tristeza e o desespero e provavam de modo cabal que a sua sorte não era invejável” (20). -------------- Cap. XI -------------Monsenhor Miranda. “Era considerado por todos como o amigo e o protector dos emigrados allmeães. Verificou-se mais tarde que á sua conducta dectavam moveis inconfessaveis, e que aduladores indignos lhe haviam dado uma aureola, que não merecia absolutamente (...) Dom Pedro e sua esposa (...) vieram logo a bordo” (20). “O estado sanitario do navio fôra dos melhores durante a viagem; a alimentação abundante e boa. Tinham pois todos os homens uma apparencia de saúde e fôrça. Poucos somente haviam morrido durante a travessia. Duas crianças nasceram no mar e não podiam pois pretender a nenhuma pátria” (21). -------------- Cap. XII -------------Cotidiano no batalhão – Escolha dos soldados e dos colonos, os primeiro foram enviados ao mosteiro dos Beneditinos – quartel do segundo Batalhão de granadeiros alemães – enquanto que os segundo forma para a Armação, esperar o envio para a colônia de S. Leopoldo (22-23). “Existiam para os estrangeiros, em geral, unicamente duas armas em que podiam colher louros, granadeiros e caçadores (...) e não obstante ao meus solennes protestos, feitos em francez junto a monsenhor Miranda e perante o Ministro da Guerra e nos quaes reclamava com toda energia contra estas violências, fui incorporado como cabo entre os granadeiros” (23). Indisciplina e falta de hierarquia nas tropas, “Bebiam soldados e officiaes na mesma garrafa” (23). “Quando um soldado raso espancava um official e o obrigava a uma retirada vergonhosa, esta sabia logo encontrar occasião para vingar-se daquelle; infligia-se, a propósito de uma falta qualquer, verdadeira ou inventada, o bárbaro castigo de cem vergastadas (...) Existia então um systema de revoltantes castigos corporaes, de cuja atrocidade é difficil formar Idea. Sem abrir inquérito somente com a denuncia odienta de um superior, o infeliz soldado era sujeito pelos seus algozes ao castigo bárbaro de cem vergastadas, ao qual muitas vezes succumbia. Muitos de boas famílias, que tinham sentimentos de honra, depois de tratos tão deshumanos, desciam de degrau em degrau, entregando-se ao uso de bebidas alcoólicas, apresando assim o seu fim. Outros suicidavamse” (24). § “(...) Outra coisa não se podia naturalmente espera de um corpo, cujos officiaes provinham da ralé euorpéa com poucas excepções, de alguns barões dissolutos, de vagabundos, e jogadores (...) Um Saboiano, actualmente coronel, era o digno chefe deste batalhão (...) Era um tyrano para com os seus soldados; em compensação adulava vilmente os seus superiores. Era, alias, geralmente considerado um louco (...) quando fallava, palavras de todas as línguas da Europa, sendo difficil comprehender o sentido do seu discurso” (24). “Os soldados e officiaes juntamente faziam então verdadeiras orgias e bacchanaes, seguidas de excessos que muitos pagavam com a vida. A´noite começava a vida barulhenta destas hordas selvagens”. Haviam outros separados que “viam-se bons indivíduos (...) de que a sorte no berço não os tinha destinado á posição miserável de soldados brasileiros” (25). § Relato de uma ocasião em que um padre se

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encontrou com um grupo de alemães alcoolizados: “O bando cercou-o, porém, e o pasre angustiado presenciou scenas e espetáculos deploraveis. A vergonha todavia arranca a penna ao auctor, impedindo-o de completar a descripção destes quadros” (26). § “Tornaria esta situação ainda peor o modo miserável da vida dos soldados” (27). Descrição da péssima alimentação dos soldados. “O soldo era miserável, sobretudo numa cidade onde tudo custa um preço disparado” (28). -------------- Cap. XIII -------------Formação do 27º batalhão de caçadores do 3º de granadeiros com a tripulação dos navios Ikranich, Triton, Cardine e Wilhelmine. “Sendo nomeado commandante do ultimo o senhor Von Ewald, que servia no exército brasileiro como major. Fora anteriormente capitão de cavallaria honorário ao serviço da Dinamarca e era cavalleiro da ordem do Danebrog. Em Maio os soldados destinados a este batalhão foram embarcados para a fortaleza da Praia Vermelha, á uma hora do Rio de Janeiro e na entrada do porto. (...) preferia servir num corpo brasileiro, ou em outro qualquer, a estar sob as ordens de um commandante tão fraco e tão inepto como o chefe do terceiro batalhão de granadeiros. (...) Um chefe brasileiro é um verdadeiro déspota com o seu batalhão, podendo ser um verdadeiro tyranno, sem receio de ser chamado á responsabilidade (28-29). Pode mandar os officiaes presos para a fortaleza sem conselho de guerra, e lá deixa-los penar durante mezes (...) Os commandante brasileiros contudo fazem raramente uso destes poderes (...) [pois] sabem que estes no silencio da noite vingarão a punhaladas as affrontas recebidas. (...) O senhor Ewald conhecia porem a índole paciente dos seus patrícios do Norte (...) abusou pois destes poderes durante certo espaço de tempo de sua carreira militar no Brasil. O systema de castigos corporaes já profundamente enraizado desenvolveu-se de tal modo sob seu commando, que impunha até respeito ao seu collega saboiano, o qual adquiria certa notoriedade sob este ponto de vista. (....) O terceiro batalhão foi todavia o mais triste e miserável durante todo o tempo que elle o commandou” (29). -------------- Cap. XIV -------------Cotidiano na Fortaleza da Praia Vermelha. “A vida no Rio de Janeiro já era bastante triste para o soldado; aqui porém quase insupportavel. Tudo se reunia aqui para augmentar as misérias da vida dos soldados. (...) mosquitos (...) bichos de pé (...) escorpiões e escolopendras, as doenças, a fome, os tratos deshumanos dos chefes (...) Muitos suicidavam-se (...) O mau estado do telhado não os abrigava da chuva e dos ventos tempestuosos, que penetravam no edifício por todos os lados, afastando qualquer idéia de repouso e produzindo entre os soldados verdadeiros accessos de desespero (...) Assim seguiam-se os dias. Passei noites inteiras ao ar livre, deante da fortaleza, impellido pelo frio e pelo desespero. § Numa desta noites terríveis jurei solenemente a mim mesmo preferir a morte a ter de sujeitar-me áquelles castigos aviltantes (que ocorriam sem se saber como, nem porque)” (30). Pela manhan um padre brasileiro dizia a missa, e os batalhões allemães compostos quasi exclusivamente de protestantes eram obrigados a tomar parte neta ceremonia do culto catholico. § Revoltava tal abuso (...) Em loger de protestar contra taes violencias feitas á consciência, o commandante, com um servilismo abjecto, não se pejava de prestar homenagem a um culto extranho. (...) Tinha ligação amorosa com certa marafona que era sustentada por alguns negociantes. Costumava todas as tardes de domingo fazer desfilar o batalhão dentre das janellas da casa desta mulher, que morava na praia de Botafogo (...) Tornouse isto tão estranho, que mesmo os officiaes brasileiros não se continham e faziam-n´o alvo dos seus ditos picantes e irônicos” (31). § “F pois evidente que a situação dos soldados era desesperadora. Lançavam mão de todos os meios para quebrar os grilhões da escravidão. § Davão-se deserções de dez homens juntos. § Infelizmente, porém, ignoravam todos os costumes e a língua do paiz, sendo logo presos e levados para o quartel, onde lhes inflingiam terríveis castigos corporaes (...) § A maior parte delles, porém, era morta em combate, depois de uma resistência encarniçada, contra as milícias numericamente muito superiores, ou então a miséria, as doenças ou a fome davam logo cabo delles nos desertos inhospitos do Brasil. Acrescia a todos estes males a circunstância dos soldados não saberem quanto tempo duraria seu serviço..” (32). § Corpo alemão composto de quatro batalhões: O segundo batalhão de granadeiros, no quartel de São Bento (antigo mosteiro próximo a Carioca); O terceiro batalhão de granadeiros, no quartel da Praia Vermelha; o vigésimo sétimo batalhão de caçadores, também na Praia Vermelha; e o vigésimo oitavo de caçadores, que naquele momento encontrava-se em Pernambuco, chamado de “o batalhão do diabo”. Visita de D. Pedro, observação sobre sua habilidade com as armas, e sua falta de “modos” ao fazer suas “necessidades” em público, enquanto via o desfilar do batalhão (33). “cenas escandalosas, resultantes dos eu espírito inculto e grosseiro, e a repetir os boatos indecentes, que corriam a seu respeito no Rio de Janeiro (34)”. -------------- Cap. XV -------------Cerimônia militar em homenagem ao Imperador. Juramento de bandeira do terceiro batalhão. “(...) prestavam os soldados contra a vontade o seu juramento. (...) Eu prestei este juramento com a seguinte modificação: “Juro, na primeira occasião opportuna abandonar para sempre a bandeira brasileira”. E´certo que a maior parte dos meus companheiros fez o mesmo murmúrio incomprehensivel (35)”.

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-------------- Cap. XVI -------------Dia 12 de outubro, aniversário do Imperador. Grande vergonha de Ewald no momento da entrada da bandeira no Campo de Santanna – Campo d´Acclamação. (36-37) Descrição da parada em homenagem a D. Pedro (36-38). -------------- Cap. XVII -------------Bösche foi indicado por Lilienhock, capitão engenheiro militar, para ajudá-lo a levantar a planta de S. Christivam. “Sabendo _ que eu tinha alguns conhecimentos de Mathematica, pediu ao imperador que eu o auxiliasse durante o tempo do seu trabalho, o que lhe foi concedido. Recebi ordem então de seguir para __. Nunca houve ordem executada com tanta alegria. A vida miserável da Praia Vermelha tinha me feito adoecer, não obstante a minha forte constituição, e estava eu começando a convalescer quando chegou a notícia. Passei seis felizes semanas com aquele honrado sueco, livre do tormento daquela vida de escravo. Tinhamos, na verdade, pouco dinheiro, havendo somente na nossa casinha, além de dous colchões velhos para dormir, uma mesa e duas cadeiras” (38-39). Descrição da noite e da natureza de modo platônico. Observação sobre a Quinta da Boa Vista e proximidades – critica sobre a má arquitetura e qualidade das construções. “Tudo que a Natureza criou é bonito e admirável; tudo que o homem fez não vale nada” (40). Cotidiano enquanto morou com Lilienhock. -------------- Cap. XVIII -------------Retorno ao Batalhão. Lilienhock foi nomeado capitão da artilharia, mas “não gosou entretanto por muito tempo desta pouca invejável felicidade; pois veio a fallecer no anno seguinte”. “O mesmo espírito de descontentamento continuava a reinar entre elles, procurando os homens o álcool o esquecimento da triste situação. Rareavam as fileiras, e si o batalhão não recebesse constantemente novos contingentes de recrutas, vindos de Hamburgo, já estariam inteiramente desfalcados. Só se tornou completo mais tarde com a vinda dos irlandeses.” § “em fina do anno de 1825 foi nosso batalhão transferido para a Guarda Velha, no Rio de Janeiro. Este edifício achava-se em frente do convento de Santo Antonio, e sua apparencia miseravel não despertava absolutamente a vontade de nelle morar § (...) não existiam camas, dormindo as praças no chão sobre uma miserável esteira. Os padres bem nutridos do convento vizinho, (41-42) que matavam porcos e bois todos os dias e que para se destrahirem caçavam a tiros os ratos do jardim, eram o objecto contante da inveja dos soldados. (...) os soldados se julgaram felizes por terem deixado a Praia Vermelha, pouco se importando com as péssimas installações (...) Fui logo depois nomeado cabo, e tive um quarto para mim só; era inconstestavelmente esta a maior vantagem trazida pela minha nova dignidade. § Couberam aos soldados porém dias melhores, e, como quase todos eram artífices, tinham frequentemente ocasião de ganhar dinheiro nas suas horas vagas. Em nenhuma parte do mundo, talvez, se paga tanto ao operário como no Brasil. (...) O commandante passava todo o tempo com sua amante, e muitas vezes não era visto durante toda semana. Os officiaes faziam o que entendiam, havendo constantemente excessos de toda a espécie e desordens continuas. Era raro o dia em que não se dessem chicotadas, ou não manifestassem os seus sentimentos recíprocos por meio de violento bombardeio de murros” (42). -------------- Cap. XIX -------------Rixas entre as tropas brasileiras e alemãs – assalto a guarda carioca. “os Brasileiros levavam sempre desvantagem. Sabiam, porém tirar a desforra durante a escuridão da noite, e muitos dos nossos foram assim traiçoeiramente assassinados”. § Um domingo á tarde espalhou-se repentinamente o boato no terceiro batalhão de granadeiros, de que dous allemães tinham sido mortos por soldados do décimo terceiro batalhão de caçadores brasileiros. Estavam prostados banhados em sangue perto do posto do Carioca, o qual era guarnecido por forças do supra-dicto batalhão. § Reuniram-se immediatamente alguns allemães com o fim de verificar, si o boato era verdadeiro. Este infelizmente confirmou-se. Informou alguém que os soldados do posto Carioca tinham trucidado os dous allemães. § A vista dos corpos sangrentos, então trazidos para o quartel, exaltou os ânimos, despertando a sede de vingança. § Estava o comandante como de costume, juncto da sua Dulcinéa, e o official de dia, tenente Prahl embriagado. § Já bastante excitado, ainda o ficou mais depois da chegada dos cadáveres dos allemães, resolvendo nessa occasião dar a primeira prova dos seus talentos de general. Ordenou que tocassem a reunir, acudindo sob as armas rapidamente todos os soldados. § O tenente Prahl, á testa de um troço de voluntários, dirigiu-se ao posto da Carioca, começando o ataque depois de um hurrah (43-44) terrível. Todo o posto, composto de 12 homens e de um official inferior, foi trucidado a golpes de baionetas pelos allemães enfurecidos e sedentos de vingança. § Enquanto o tenente Prahl realizava esta façanha, o resto do batalhão avançava commandado por subalternos (os officiaes estavam bebendo como de costume), resolvendo-se então tomar de assalto o quartel e exterminar o décimo terceiro batalhão de caçadores. § Este projecto allucinado não se realizou, devido á intervenção de alguns officiaes mais calmos. O tenente Prahl foi no mesmo dia enviado para a ilha das Cobras, como recompensa pelo seu feito d´armas, ordenando o imperador, para dar um exemplo, que a guarnição se reunisse no Campo da Acclamação. § A justiça brasileira e a turca teem muito pontos

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de contacto. Prova-o o seguinte facto. D. Pedro fez saber aos tres batalhões allemães reunidos que tencionava abrir um inquérito a propósito do assalto contra o posto da Carioca, ordenando ao mesmo tempo que saíssem das fileiras aquelles que o haviam presenciado. § Alguns nescios apresentaram-se, julgando que cumpriam o seu dever ou para das informações como testemunhas de vista sobre o modo por que se desenrolara o acontecimento. § O inquérito limitou-se a isto; somente todos os que se apresentaram foram declarados culpados e castigados com 100 pranchadas, as quaes foram immediatamente applicadas pelos tambores do décimo terceiro batalhão. § A dôr porem não foi grande, a pancadaria foi mais sobre o uniforme, do que sobre o corpo. Quanto ao amor próprio humilhado podiam se consolar com o seu commandante, o qual travou conhecimento nesta occasião com o chicote do imperador, conhecimento este pouco invejável e que o príncipe a muitos já concedera. Foi um golpe de morte na vaidade do cavalleiro. Quando o nosso batalhão voltou para o quartel, em signal de indignação espatifou as janellas das casas das ruas por onde passava. Apresentavam estas um aspecto verdadeiramente desolador” (44). -------------- Cap. XX -------------Batalhão e Cotter. “O batalhão entretanto caminhava sempre mais rapidamente para a ruína. (...) Applicava o dinheiro do batalhão em fins, para os quaes não era destinado, sendo egualmente esbanjadas de modo inaudito, as quantias retiradas aos soldados sob a rubrica – Massa –. Reclamava em vão as praças a sua propriedade, da qual tinham sido despojadas de modo indigno. (...) O boato da nomeação do coronel Cotter (...) não podia deixar de provocar grande alegria (...)§ Vimos logo como a energia e a vontade de um commandante podiam melhorar a miserável situação dos soldados (...) Desde este tempo melhorou o espírito e o moral do terceiro batalhão de granadeiros. O novo coronel mostrou sua energia desde no começo, esforçando-se por corrigir os officiaes, cuja conducta era verdadeiramente indecorosa, enviando alguns para a fortaleza e expulsando outros. (...) (45) A severidade inexorável e o zelo infatigável do novo comandante conseguiram melhorar a ordem das cousas. § O systema de pancadas foi abolido, dominando a lei, em logar da arbitrariedade prepotente. Entregaram aos soldados os uniformes, o que nunca tinham pensado fazer durante a administração de Ewald. Receberam os soldados regularmente o soldo, cessando os innumeros vexames e aborrecimentos, que até então tinham soffrido. Existia, pelo contrario, todavia severa disciplina, sendo toda a insubordinação ou falta no serviço punida com extrema severidade. Havia uma justiça severa sem distincção de pessoas. Foram logo demittidos seis ou oito allemães capazes, os quaes, com grande escândalo dos batalhões allemães, vagavam pelas ruas do Rio de Janeiro com os seus uniformes andrajosos, que eram contudo a única roupa que possuíam. § Eram acompanhados no seu cortejo triumphal por bandos de negros folgasões, e as criticas e apreciações destes juízes pretos e de pés no chão acerca dos filhos degenerados e desprotegidos da velha Germania eram bastante cômicos. Quando estes homens dignos de lastima tinham commettido anteriormente durante sua carreira militar abusos e violências, eram certas as represálias na primeira occasião, na situação desprotegida em que se achavam, por parte dos seus antigos subordinados. Muitos morreram na Misericordia, o hospital do Rio de Janeiro. § (...) soubemos com muito pesar que o coronel Cotter fora encarregado de alistar tropas na Irlanda por conta do Brasil. (...) O novo commandante Antonio de Moura e Brito era portuguez. (...) Era entretanto melhor, como commandante, do que Ewald. (46) O segundo batalhão de granadeiros recebêra egualmente um novo commandante, (...) Destacava-se então este batalhão pelo seu excellente comportamento. (...) O décimo sétimo batalhão de caçadores allemães fez a camapnha de Buenos-Aires, tendo-se destacado pela bravura. (47) -------------- Cap. XXI -------------Festas Religiosas. Cortejo dos santos e dos religiosos. Constantemente afirma o problema de “fanatismo e superstição” (48). Todo posto, deante do qual passava a procissão, devia apresentar as armas, tirar o bonnet e ajoelhar-se. Exigiam também que as tropas allemans cumprissem estas formalidades, não obstante serem quase todas protestantes. A omissão deste ceremonial custou-me dous mezes de prisão. Contarei este facto no capitulo seguinte” (49). -------------- Cap. XXII -------------Tempo em que ficou preso. “Fora todavia no anno de 1827 nomeado commandante do posto da Carioca, e justamente neste dia passou pelo mesmo uma destas procissões tão freqüentes. (...) todavia recusamo-nos absolutamente a ajoelhar. (...) Ordenou-me em vão o major de ronda (49-50) que observasse o ceremonial prescripto, como era de uso no exercito brasileiro. Respondi-lhe que não somente a religião, na qual fora educado, como meus princípios se oppunham egualmente a que obedecesse ás suas ordens, accrescentando que em hypothese alguma me sujeitaria a esta imposição. § Retiraram-me imediatamente o commando do posto, sendo também preso. Devia ser castigado por este crime de lesa magestade, para o qual muitos já viam brilhar as chammas da fogueira. Passei agradavelmente o tempo na cadeia, occupando-me em ler e estudar (...)” (50). Observações sobre a liberdade da natureza brasileira e a sociedade atrasada que transforma todos em escravos, expandindo sua opinião ao catolicismo em geral. “Fora eu encarcerado, contra as leis militares, numa prisão de soldados; eu, porem, não tinha absolutamente vontade de continuar em tal sociedade (50-51) (...) dirigi-me pois ao governador militar

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do Rio de Janeiro, ao general Moraes. (...) Protestei formalmente contra a ilegalidade de minha prisão, accusei o major de ronda de ter procedido illegalmente, encarcerando-me numa prisão de soldados, qualifiquei este modo de agir digno da justiça turca (...)§ troquei no mesmo dia a minha muito habitada prisão por uma mais suportável, onde, além dos numerosos vermes e outras immundicies, não existia mais nenhum ser vivo. O major da ronda foi preso oito dias no seu quarto” (51). -------------- Cap. XXIII -------------“Tinham já decorrido dous mezes esperando eu todos os dias que o Conselho de guerra decidisse sobre a minha sorte. (...) resolvi dizer ao menos a minha opinião, sem rebuços, a d. Pedro si devia ser victima de um processo, (...) § [Cópia da carta escrita a D. Pedro (51-52)]”. Aponta ao Imperador as condições de seu alistamento em 16 de dezembro de 1824 como cadete na cavallaria brasileira, e que, depois de três anos servindo, dependeria de sua vontade escolher se iria se manter no serviço militar, ou estabelecer-se em uma das colônias que escolhesse. Explicando que o governo brasileiro não havia cumprido nenhuma das exigências. Aponta todos os problemas e promessas falsas do governo brasileiro. Critica o “paragrapho 5º, tit. I da Constituição concede o livre exercício da religião” (53). “A liberdade de pensamento e a convicção intima não reconhecem leis nem tão pouco ordens humanas (...) § pois há dous mezes se acha na cadeia, sem nem mesmo ter sido sujeito a um interrogatório (53)... D. Pedro conhecia a vida dos Allemães e não o levou a mal. Escreveu unicamente nas costas do documento: “Soltem-no – O Imperador” (...) somente logo depois deste incidente o ministro inglez protestante no Rio de Janeiro recebeu ordem para pregar aos soldados allemães, o que fazia em inglez (...) (54). -------------- Cap. XXIV -------------Morte de Leopoldina. Suposta ação do Imperador contra a Imperatriz teria a feito sofrer o acidente. Solenidades diante de sua morte em vários locais. Alemães tristes diante disso. D. Pedro retorna ao saber da morte. -------------- Cap. XXV -------------Irlandeses – “Estes homens vieram cobertos com os mesmos trapos que usavam na Irlanda, os quaes não lhes escondiam sufficientemente a nudez. Traziam consigo grande número de mulheres e prostitutas. (...)§ Roubavam e assassinavam frequentemente, espalhando o terror e a consternação entre os habitantes. O soldo deste corja era mais elevado; era ella mais bem tractada e tinha uma alimentação melhor que as tropas allemans. § (...) Pagaram-lhes exactamente o soldo atrazado, desde que tinham sido alistados na Irlanda. Estas vantagens tinham então sido recusadas ás tropas allemans, continuando os Luso-brasileiro a não querer concede-las. Para ainda mais acentuar taes desegualdades collocaram 500 Irlandezes no décimo terceiro batalhão de granadeiros allemães, que se achava no quartel d´Acclamação, e mais ou menos o mesmo numero no vigésimo oitavo batalhão de caçadores allemaes, que se achava no quartel Pernambuco e se aquartelara na fortaleza da Praia Vermelha. (...) o tracto surprehendentemente melhor de que gosavam e outras vantagens deviam naturalmente despertar a indignação dos Allemães, que viam as suas reclamações desattendidas e os seus direitos postergados. Este modo de proceder tão injusto devia naturalmente acarretar conseqüências desastrosas. (...)§ Chegaram pouco a pouco ao Rio dous mil Irlandezes, que vieram como soldados, sem contar as famílias de colonos. E´dificil formar idea da grosseria e da rudeza desta nação. § (...) A maior parte delles achava-se quasi sempre embriagada. Quando morria um Irlandez rodeavam o morto cinco ou seis mulheres velhas, e taes eram as suas horríveis contorsões e gritos lancinantes, que davam a impressão de uma reunião de fúrias. § A garrafa de aguardente passava de mão em mão exaltando até o delirio as horríveis manifestações destas candidatas ao monte de Blockberg (N.T. Nome de vários montes e alturas no Mecklemburgo onde segundo legenda e tradição se reuniam feiticeiras nas vésperas de Santa Walpurgis). Estas extravagâncias eram levadas a ponto de provocar convulções hystericas e as velhas ficavam tão embriagadas, que tomavam o ceu por uma viola. Muitas vezes porém esta gritaria tinha um trágico desfecho, quando a velha que mais berrava e fazia mais esgares, despertava com estas suas manifestações artísticas o ciúme e a inveja das outras actrizes. § Cahiam todas então em cima da invejada para antecipadamente arrancar-lhe com os dez dedos a coroa de louro do craneo, sendo este o signal de conflicto geral. Intervinham outras mulheres a favor da artista opprimida; facilmente envolviam-se também os homens nas brigas de suas caras metades. Não era (57-58) raro acontecer que alguns fossem victimas destas pancadarias, fazendo companhias deste modo ao morto, em honra do qual tinham acorrido taes solennidades. Chamavam isto celebrar dignamente as exéquias de um Irlandez. As mulheres irlandezaz, nestas pelejas representavam em geral o papel mais importante. As dos antigos Germanos davam animo aos seus maridos; estas porém não se limitavam a isto, tomavam mesmo parte real nos combates, e, como quase todod os ataques eram feitos com pedras, traziam-nas nos seus aventaes aos maridos. § O perigo inminente não as afastava do campo de batalha, e eu vi Irlandezas receberem vários tiros sem deixar o lado de seus marios, animando-os mesmo pelo seu supremo desdém do perigo” (58).

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-------------- Cap. XXVI -------------Revolta dos Mercenários. Sobre os irlandeses – “Raro o dia, em que taes ilheos não commettessem os maiores desmandos, e, côo as tropas brasileiras nada podiam fazer contra elles, tinham de intervir os Allemães e de chama-los á ordem. (58) § (59) Eram os suicídios d´ahi provindos freqüentes nos corpos extrangeiros, entregando-se egualmente mitos jovens sérios e bem comportados, devido a estes maus tractos, ao vicio da embriaguez. § O ódio e a indignação, resultados desastrosos destes maus tractos, contidos por muito tempo, não podiam deixar de explodir. Havia uma grnade fermentação de ânimos, sendo sufficiente apenas um leve sopro de ventos para transformar numa grande labareda a chamma incipiente. § [citação do oficial] “senhor major, servi dedicadamente ao imperador tres annus e seis mezes e nunca durante este tempo soffri castigo algum; creio aliás que este crime (si isto realmente pode ser considerado um crime) não é daquelles que justifiquem uma punição tão barbara. Desejo que um conselho de guerra imparcial julgue o meu caso. E´esta a minha declaração, e nunca sujeitarei meu corpo voluntariamente a um castigo tão cruel” (59). § “O pobre miserável já soffrera duzentas e trinta pancadas cruéis, e como o carrasco desse ordem para continuar, deu-se uma formidável explosão de cholera. Ouviram-se um retumbante hurrah! e gritos de “abaixo o tyranno!, morra! morra! § O covarde conseguiu porém escapar e fugir para a casa, devido á velocidade do seu cavallo. Os soldados enfurecidos todavia perseguiram-no, assaltaram a sua morada, e elle somente logrou escapar á sanha vingadora, fugindo por uma janella dos fundos. Disfarçou-se então em operário, podo-se assim a salvo. § Irritados por não terem conseguido attingir o objecto do seu ódio, voltaram os Teutões a sua fúria contra as cousas inanimadas. Quebraram as janellas, as portas, as mesas e cadeiras, derrubaram egualmente as paredes da casa. Rasgaram os bellos unifirmes e a roupa, atirando ao mar os relógio, dragonas e esporas de prata. § Ficou a casa, situada fora da cidade (o commandante morava felizmente sosinho, habitando sua família na cidade), inteiramente destruída, assignalando unicamente um montão fumegante de ruínas o logar onde existia. Estava desencadeada a revolução, rotos todos os liames da obediência, e o edifício militar abalado nos seus alicerces. Os soldados, dirigiram-se então para o palácio do imperador, com o fim de lhe exporem os motivos de suas queixas, pedindo-lhe outrosim que attendesse a ellas, e caso não o fizesse combateriam até á morte para sustentar seus direitos. § (...) Nunca fora o imperador informado das injustiças e dos soffrimentos do soldado allemão; em alguns casos porém em que o havia sido, manifestava a sua boa vontade para com elle. Eram as seguintes as reclamações do segundo batalhão de granadeiros: 1º, um contracto em condições justas pelo espaço de quatro annos. (Não se havia tractado de tal até agora, e o soldado nada tinha de escripto nas mãos a este respeito); 2º, tractamento melhor e mais digno do que o anterior; 3º, exigiam o soldo atrazado, chamado “massa”, e a entrega ponctual dos respectivos uniformes; 4º, a entrega do major ou castigo do mesmo; 5º, a demissão do batalhão de alguns officiaes malquistos. § D. Pedro prometteu examinar cuidadosamente os motivos da queixa, devendo decidir dentro de oito dias o que fosse justo attender. Deviam por enquanto retirar-se a manter a ordem. § Após esta imperial declaração os soldados voltaram ao quartel, perseguindo e maltratando entretanto alguns officiaes. Destruiram-lhes egualmente os objectos do seu uso particular. Restabeleceram-se porém a ordem, e a tranqüilidade. O quartel (61-62) do segundo batalhão de granadeiros, que se achava nas vizinhanças do Palacio Imperial e que fora anteriormente um mosteiro, parecia então um acampamento em frente ao inimigo. § Os soldados tinham escolhido entre si os seus chefes, collocando postos avançados e enviando patrulhas. As espingardas foram ensarilhadas para estarem á mão em caso de necessidade. Apresentava tudo um aspecto belicoso. Tinham já fugido quase todos os officiaes. Passaram-se assim dous dias, e as cousas pareciam encaminhadas para um feliz desenlace. Apparecera varias vezes o general Valente, governador militar, o qual recommendára unicamente que mantivessem a ordem e não commettessem excessos. Deram-se, não obstante estas admoestações, conflitos gravíssimos entre as tropas allemans e as brasileiras. O 11 de Junho foi verdadeiramente o dia sengrento desta batalha de povos. Pode-se chamar a estas scenas batalha de povos, embora em miniatura. § (...) Dirigiam-se ás onze horas da manhã uns quatorze homens do segundo batalhão de granadeiros para a cidade com o fim de prender o seu commandante. Conseguiram econtra-lo, e este para escapar-lhes refugiou-se num posto policial. Assaltaram immediatamente o posto da Policia, devendo unicamente o commandante a sua salvação á velociadade do animal e ao seu disfarce em soldado raso. Estes furiosos ter-lhes-iam quebrado o bastão de commando nas costas, caso o apanhassem. Despeitados, dirigiam-se então á casa do major para lá tudo destruir, conseguindo a sua família escapar unicamente pela fuga. O imperador, com o fim de applacar-lhes a ira, ordenou que prendessem immediatamente o major e o levassem para a fortaleza. Setenta ou oitenta irlandezes juntaramse a estes quatorze homens; para estes ilhéus, scenas similhantes eram como pão nosso de casa dia. Voltar para S. Christovam, tomar de assalto todas as vendas, embriagar-se com vinho e outras bebidas alcoolicas até (62-63) perder a razão, foi obra de alguns minutos. Corria o vinho a rodo, e o engodo era tão forte para elles, que a maior parte não podia resistir á sua attracção seductora. Vi um Irlandez collocar-se em baixo de uma torneira aberta de uma pipa de vinho e assim morrer de tanto beber. Os seus nobre patrícios, enquanto isto se dava, cercavam o mesmo, não procurando nenhum delles salvar o miserável, applaudiam-no pelo contrario, e davam gritos de alegria. O pobre desvairado deu assim o ultimo suspiro. É impossível descrever as orgias grosseiras, a que se entrega esta nação. § Manifestaram-se logo os effeitos da embriaguez. § Em primeiro logar foi arrombado o paiol, munindo-se cada homem com cem cartuchos. § O ódio estava profundamente enraizado entre os soldados; não podiam pois deixar passar a occasião de exercer represálias. § Apoderaram-se de alguns officiaes, maltratando-os horrivelmente; outros só puderam salvar-se, fugindo rapidamente. Os soldados enfurecidos não se deram porem

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por satisfeitos, commettendo ainda os peiores desmandos. Derrubaram mais de cincoenta casas, destruindo os objectos nellas existentes. Reuniram-se então alguns Brasileiros com os seus negros; algumas salvas de mosquetes porém dadas pelos granadeiros mataram muitos delles e dispersaram o resto. Infeliz porém do soldado isolado, o qual talvez não tomara parte no movimento, que caísse nas mãos dos filhos do paiz ou dos negros. A sentença condemnatoria era rápida, podendo elle se julgar feliz, si a sua morte fosse rápida. § Perpetraram-se então actos de crueldade revoltante. O governador do Rio fora nessa occasião diversas vezes ao quartel do segundo batalhão de granandeiros, assegurando-lhes que as suas reclamações seriam attendidas, concedendo-lhes outrosim uma amnistia geral. § Elle pregava porém a surdos, sendo-lhes respondido desdenhosamente que elle e d. Pedro já os tinham ludibriado tantas vezes, não merecendo mais as suas palavras nenhum credito. Chamaram então a artilharia montada, composta de Brasileiros; (63-64) esta não se atreveu porém a atacar o leão no seu antro, havendo unicamente ligeiras escaramuças, que correram quase sempre desvaforaveis á artilharia. § Merece menção o facto dos granandeiros allemães terem feito, durante todo o tempo que durou o movimento sedioso, o seu serviço com a maior pontualidade. A guarda do palácio do imperador cumpriu fielmente o seu dever até o ultimo momento. Quando os seus camaradas rebeldes atiravam contra o palácio imperial, formavam os granadeiros a guarda de corpo do imperador, mesmo no dia em que o movimento sediosos foi mais forte, promptos a derramar o seu sangue em defesa do seu imperial senhor. É isto uma prova de confiança, que nelles depositava d. Pedro. § Descrever todos os desmandos e excessos levar-nos-ia muito longe. § Bata mencionar que os soldados trucidavam sem misericórdia todos os que lhes cahiam ás mãos. § O saque e o roubo eram o seu grito de guerra. A loucura chegara ao cumulo, e contarei o seguinte facto, affrontando o perigo de passar por pouco verdadeiro. § Alguns soldados atiram numa distancia de cincoenta passos diversas vezes sobre os seus patrícios ou camaradas, que nunca os tinham insultado, unicamente para ver si eram capazes de atingir o alvo. A revolta limitára-se até então ao segundo batalhão de granadeiros; contaminou porém insensivelmente os ânimos do terceiro batalhão de granadeiros. § Fermentara-se nesse corpo e desde a chegada dos Irlandezes o espírito de insubordinação, o qual tanto prejudicou egualmente aos restantes corpos allemães. Os combustíveis accumulados para a revolta deviam também explodir nessa occasião. § Reuniram-se no dia 11 de Junho cerca de cincoenta Irlandezes, para lembras suas promessas ao Coronel Cotter, o qual fora encarregado do seu alistamento na Irlanda. Fizeram-no de um modo violento; foi o coronel maltractado, livrando-o unicamente a intervenção de alguns allemães de maiores offensas. (64-65) Fugiram logo, imitando o seu exemplo o major e commandante deste batalhão (um Portuguez egualmente) e a maior parte dos officiaes. § O quartel do terceiro batalhão de granadeiros, chamado Quartel d´Acclamação, forma um grande quadrado, em cuja parte exterior se acham os alojamentos dos soldados; na parte interior um grande area, propria para os exercicios. Perto deste quartel acha-se um posto policial. § Os Irlandezes já tinham tido differentes rixas com este posto. Deram pois inicio ao seu movimento sedioso, procurando assalta-lo. § Conseguiram o seu intento; mataram seis Brasileiros, ponto o resto em fuga. § Destruiram o posto e todas as armas nelle existentes; apanharam em seguida uma patrulha de soldados de cavallaria, trucidando a maior parte delles. § A cidade do Rio de Janeiro parecia morta; todas as casas e lojas hermeticamente fechadas. Ninguem se atrevia a sair ás ruas desertas, afastando dellas o terror e sinistros presentimentos, a vida e a animação. § Acudiam cada vez mais numerosos os adherentes á causa da revolta: Irlandezes e Allemães na embriaguez da sua curta liberdade commettiam toda a sorte de tropelias e desordens. Foram arrombadas e saqueadas todas as casas da vizinhança; o vinho correndo a rodo nas vendas tomadas de assalto accendia o fogo das paixões selvagens occultas nas mais recônditas partes do coração. A satisfacção destas paixões manifesta a natureza humana em toda sua negregada degradação infernal, causando asco e repugnância este espetáculo aos corações bem formados. Estes bandos selvagens não respeitavam o sexo nem tão pouco a edade, sendo por elles fria e infamemente assassinados velhos e crianças. Os Irlandezes tomando parte neste movimento construíram para si mesmo um monumento de vergonha eterna. Não há razão alguma que possa justificar a sua conducta. Fizera o Governo com elles, logo após a sua chegada, um contracto equitativo, o qual fora impresso, e estipulava o prazo de quatro annos para os seus serviços. Eram tractados com uma brandura incomprehensivel, mesmo quando commettiam delictos, que uma justiça militar severa pune de morte. O seu soldo era mais elevado que o das tropas allemans, e enquanto os Teutões mourejavam dia e noite, viviam os Ilheos na ociosidade. Haviam elles feito exercícios durante nove mezes e conheciam apenas os rudimentos de Arte militar. § A situação era completamente outra em relação ao segundo batalhão de granadeiros allemães. § A sua attitude, si se tivesse mantido moderada e não degenerasse em desmandos e violências, era plenamente justificável e mostraria, que a morte livre é mais honrosa que a vida debaixo do jugo ferrenho de uma escravidão vil e ignominiosa. § As tropas allemãs no Brasil tinham sido até então tratadas de modo tyrannico e injusto. § Soffreram crueldades e injustiças, que chamavam reparação e vingança aos ceos. Posso narrar vários casos, em que a dignidade e os direitos mais sagrados do homem foram litteralmente calçados aos pés. § Tomo a liberdade de expor um entre muitos” (66). -------- Sobre o eventos especifico -------- [“O major e commandante interino Antonio de Moura e Brito tomara para creada de seus filhos e outros serviços domésticos a mulher de um soldado alemão (...) (66-66)”] Descrição de outro caso: “Permittira eu a um official inferior, bem educado e de boa família, que morasse no meu quarto. Conhecera-o até então unicamente sob os seus aspectos favoráveis; quando todavia maltractaram aquelle pobre soldado, em logar de compadecer-se da sua sorte e de sentir ódio contra os seus carrascos, foi elle que lembrou o supplicio, chamado do bode espanhol, idéia que foi acceita e executada com seu auxilio. Possuido de indignação pela conducta indigna do miserável,

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que manifestara por esta occasião tanta baixeza de sentimento, ordenei á minha ordenança que puzesse os seus cacarecos fora do meu aposento. § Extranhou este o meu procedimento, exigindo explicações, Declarei-lhe então que não queria absolutamente ter relações com ajudantes de carrascos; que se retirasse immediatamente, prevenindo-o de que usaria dos meus direitos de proprietário em caso de recusa. Respondeu-me com palavras insultantes, esquecendo-se ao ponto de pegar da espada. Dei então expansão no furor que me possuía, desembainhei a minha arma e após ligeiro combate feri-o no roso. § O cirurgião tractou-o por este ferimento durante cinco meses. § Recebi eu mesmo um golpe ligeiro no braço. Custou-me egualmente este incidente quatro semanas de prisão no meu apartamento. Era este o maior prazer que me podiam fazer; estava occupado em algumas traducções de inglez para o portuguez, e estar socegado era o meu maior desejo. § (68-69) -------- Retorno a revolta -------- “As desordens, as violências augmentavam constantemente, contribuindo para este estado de cousas e bebedeira geral dos revoltosos. Tornou-se necessária a adopção de medidas enérgicas e urgentes para prevenir catastrophes e males incalculáveis. § A artilharia a pé, dous batalhões de caçadores, dous esquadrões de cavallaria e duzentos soldados de Polícia avançaram para o quartel, em que eu também me achava, começando immediatamente o cerco do mesmo. Houve tiros de canhão, de obuseiros e espingardas, estes últimos de ambos os lados, até altas horas da noite. As perdas dos nossos adversários teriam sido muito mais importantes, si os sitiados dispuzessem de munições de guerra sufficientes, especialmente de cartuchos (de balas), e si houvesse mais harmonia e ordem entre elles. Morreram em combate setenta e tres homens do nosso batalhão, entre os quaes dezenove Allemães, sem contar os feridos, dos quaes muitos vieram a fallecer posteriormente. § Os Brasileiros perderam noventa e sete infantes e vinte e tres soldados de cavallaria, sem contar os feridos. O numero dos civis e dos negros mortos foi ainda maior. Visitei já depois de meia noite a camara ardente. Brilhava a lâmpada solitária, derramando a sua luz tranquilla sobre aquelles que a morte violentamente ceifara. § Apresentou-se então aos meus olhos um horrível espectaculo. Alli estavam reunidas no mesmo logar as victimas da peleja, entre as quaes algumas inteiramente innocentes, dormindo juntos em paz aquelles que em vida tanto se tinham hostilizado. § Eram Brasileiros, Irlandezes, Allemães e dous soldados da cavallaria, cujos cavalos dispararam e foram parar no pateo do quartel, onde os haviam morto como cães danmados. As mãos fechadas convulsivamente de muitos, os seus olhos e boccas abertos, e os dentes deste modo visíveis. O sangue, que ainda corria das feridas recentes, dava a esta scena um aspecto verdadeiramente tétrico. § Augmentavam ainda o horror de tal espectaculo os grupos de Irlandezes que entravam incessantemente, os quaes beijavam os (69-70) Irlandezes e Allemães, maltratando ainda os cadáveres dos Brasileiros mortos. Nunca me esquecerei dessa noite. Ponhamos ponto final á descripção destes horrores. § Raio a manhã do dia 12 de Junho. A população toda do Rio e a guarnição achavam-se no Campo d´Aclamação, praça enorme situada no centro da cidade, deante do quartel do terceiro batalhão de granadeiros. O general commandante intimidou então os revoltosos a se renderem, declarando, em caso de recusa, arrasaria o quartel, passando todos os soldados a fio da espada. Alguns exaltados não queriam ouvir fallar em rendição; a maioria porém estava mais calma, tendo recobrado a razão. Redeu-se o nosso batalhão e foi para o navio pontão Affonso, com excepção todavia de alguns officiaes e subalternos, entre os quaes eu me achava, que deviam ficar presos. Pode-se facilmente imaginar a sensação produzida pelo cortejo, atravessando a cidade, accompanhado pelos Brasileiros, negros e mulatos insultando os soldados como os seus impropérios predilectos. A situação parecia mais difícil com relação ao batalhão de granadeiros, composto exclusivamente de Allemães. Requisitaram então um batalhão de Inglezes e Francezes dos navios, que estacionavam no porto do Rio. O quartel no dia seguinte foi cercado por terra e por mar, rendendo-se então o segundo batalhão, que foi egualmente conduzido preso para um navio de guerra. § Este batalhão perdeu cerca de oitenta homens; os Brasileiros, porém tiveram perdas quatro vezes maiores. § O vigésimo oitavo batalhão de caçadores allemão não tomou parte no movimento sedicioso, a não ser que os soldados aproveitaram a occasião para matar a coronhadas o seu major, certo Thida, um italiano, ex cozinheiro numa casa do pasto do Rio de Janeiro. Deu-se o facto no quartel do supracitado batalhão, na fortaleza da Praia Vermelha. Este homem era mau e enganara os soldados. A sentença de Nemesis, a seu respeito, foi portanto terrível. § O commandante do terceiro batalhão de granadeiros, Antonio de Moura e Brito, e alguns officiaes entre os quaes o antigo major (70-71) commandante não teriam tido melhor sorte, si tivessem cahido na garras dos soldados enfurecidos. Sua má consciência, todavia, mostroulhes na fuga a única salvação. § O banho de sangue teria sido talvez maior, si o segundo e o terceiro de granadeiros e o vigésimo oitavo de caçadores se tivessem unido aos bandos irlandezes de dous mil e quinhentos homens, e si houvesse ordem e disciplina entre os revoltosos. O Rio de Janeiro teria tremido, caso esta união se tivesse effectuado, pois o nome de extrangeiros, com que se designam os soldados de outras nações ao serviço do Brasil, incutia terror. Os habitantes da muito fiel e heróica cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro, como é chamada em estylo official, percebiam-no perfeitamente, tanto que a revolta dos mercenário fez época nos seus annaes. § O álcool, que excitára os ânimos, abatera-os logo em seguida, salvando assim a vida de muita gente. § Reduziu-se todavia ás promoções de uma batalha de camponezes. Todos os Irlandezes foram mandados para a América do Norte ingleza (o Canadá, cremos) á custa do Governo brasileiro, escapando deste modo ao castigo que mereciam côo sendo os fautores do movimento. A maioria destes ilhéos provavelmente foi tractada como merecia, pois a justiça ingleza é sumaria e generesa, quando ao uso do canhamo. Felicito-a por este modo de agir. Serviram muitos com certeza de ornamento ás forcas. § Após a repressão da revolta, achavam-se os soldados do segundo e do terceiro batalhão de granadeiros e a maior parte dos officiaes subalternos presos em navios de guerra. Installou-se então um conselhode guerra. Os cabeças

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deviam ser castigados e os batalhões novamente organizados. Embarcou-se logo depois o vigésimo oitavo batalhão para a ilha de Santa Catharina. § Terminou assim esta revolta, causada pela conducta pouco escrupulosa de um governo perjuro, que faltou indecorosamente a todas as suas promessas, além do seu modo bárbaro de tractar (71-72) os soldados. As conseqüências desse levante seriam incalculáveis (...) Scenas isoladas de horror não faltaram contudo, pois todos os escravos tinham o direito perigoso de matar os soldados estrangeiros, direito de que usavam com inaudita crueldade. (...) Minha vida durante esta sedição esteve dez vezes suspensa de um fio. Quando rebentou a revolta, achava-me eu com tres camaradas no Corcovado, alta montanha ornamentada com um aqueducto, da qual a vista do Rio e dos seus românticos arredores é magnífica e pittoresca. § Estava occupado no calculo de uma linhas trigonométricas. Podiamos ver desta montanha os ataques dos Allemães e dos Irlandezes, e como não sabíamos a sua causa voltamos para a cidade, que encontramos em estado alarmante. Um negociante francez, meu conhecido, gritou-nos que tivéssemos cautela não atravessássemos a cidade, e offereceu-nos asylo em sua chácara, pois matavam todos os soldados estrangeiros que encontravam nas ruas. Tinhamos porém o dever de ir para os nossos postos. § (72-73) Resolvemos pois, calculando coma covardia dos Brasileiros vêr si conseguíamos chegar até o quartel. Deparou-se-nos logo infelizmente, ao entrar na primeira rua, horrível espetáculo. §Vimos um mulato gigantesco assassinar, com um aríete de ferro, um soldado allemão desarmado, de uma maneira horrenda. § A corja dos negros mantinha-o no chão, e o mulato com o ferro pontudo transpassou-lhe o corpo varias vezes, martyrisando-o assim lentamente, até que morresse, com uma alegria satânica de carrasco. Esperava a mesma sorte um outro soldado allemão, que já tinham amarrado; approximámo-nos quatro porém neste momento, desembainhando as espadas. Um dos meus companheiros, um verdadeiro athleta, vibrou um golpe terrível na cabeça do mulato gigantesco, que já estava na posição de defesa. Os outros fugiram, conseguindo nós salvar a vida do pobre Allemão. Dispersámos toda a corja que por ahi se achava. § Alguns tiros partidos das casas fechadas mataram todavia um dos meus companheiros e feriram outro no hombro esquerdo. Agora não havia tempo a perder; era a retirada tão perigosa como o avanço; resolvemos pois proseguir incontinente. Estavamos felizmente nas vizinhanças do quartel. Nisto um bando de setenta negros, ao menos, nos atacou a nós quatro, que tínhamos sómente nossas espadas como armas. § Estavamos na verdade com a retaguarda garantida e decidimos a vender caro a vida. § Era a nossa inferioridade porém manifesta, e tanto mais, quando estávamos todos feridos e cansados. Os Irlandezes e Allemães fizerama todavia neste momento uma sortida furiosa, sendo as tropas brasileiras rechassadas, e na sua fuga arrastado o bando que nos cercava. Fomos assim salvos do perigo imminente. Chegámos então ao quartel, onde infelizmente falleceu, no dia seguinte, no meu quarto, um dos companheiros que recebera um tiro no lado. § (73-74) Outra vez um Irlandez exigiu de mim cartuchos embalados e como respondesse que não os tinha, bastou isso para que me disparasse um tiro em direcção á cabeça, acompanhando-o com a praga favorita dos Inglezes, God dam, GO to hell, “Amaldiçoe-te Deus e vai-te para o inferno”. Estava felizmente bêbedo; sibilou a bala aos meus ouvidos, indo cravar-se na parede. § No dia 11 de Junho, ás sete horas, deitara-me para reflectir sobre os acontecimentos desse dia. § Preveniram-me alguns companheiros do perigo de ir para meu quarto, por este se achar perto do alojamento dos Irlandezes. § Estes bandos insubordinados, rotos agora todos os liames da disciplina, podiam causar-me sérios incommodos. Não dei a este aviso a devida importância, caro pagando a minha imprevidência. § Despira-me e estava deitado apenas havia meia hora, quando fui despertado por coronhadas na porta e pela resultante quebra de chicaras de café e de alguns copos. Prendera eu varias vezes um soldado allemão, o maior bêbado do seu tempo, para tentar corrigi-lo. Appareceu-me agora este individuo á testa de quatro Irlandezes, para, como elle se exprimia, julgar minha conducta por sua vez. Saltara da cama, conservando porém toda a minha calma. Collocára-me todavia de modo a poder pegar da espada, caso fosse necessário. Olhava tranquilamente para os ébrios que estragavam e destruíam objectos meus; perdi porem todo o sangue frio e calma, quando o supra-citado soldado lançou-me contro o peito um golpe, que rebati com tanta felicidade que somente recebi um arranhão. § “Ah, é assim, corja de covardes!” trovejei, dirigindo-me aos bêbedos e dando com estas palavras um golpe de espada no rosto do meu adversário, que esteve prestes a cair; agarrei-o porém, lançando-o com força decuplicada pela cólera e pela imminencia do perigo contra dous Irlandezesm, os quaes se achavam occupados em esvaziar conscienciosamente o conteudo de uma garrafa de Genebra, que tinham encontrado. O choque foi tal, que os tres voaram pela porta escancarada do meu quarto. § (74-75) Havia ainda outros dous a vencer, e sem perda de tempo, Já levantara a espada contra a baioneta abaixada do meu adversário, gigantesco Irlandez, quando este gigante de repente se transmudou em meu protector. Prestara-lhe eu, havia algum tempo, um serviço importante, que me dava o direito de contar com a sua gratidão, e elle reconheceu-me justamente neste momento. “Goos dam, by the holy ghost”, “ Por Deus, pelo Espirito Sancto”, disse elle, extendendo-me a mão em signal de paz. “I beg your pardon, Sir”, “Peço-lhe desculpas, senhor”, e pronunciando estas palavras, agarrou pela nuca, com seu braço musculoso, o outro Irlandez, que ainda assumia attitude hostil, e como outrora na guerra para o domínio do mundo os gigantes lançavam pedras contra o céu, atirou este seu moderno descendente, o ilheo recalcitrante, pela porta afora com tal violência, que este perdeu totalmente a vontade de travas nova lucta. É claro que não precisou desculpar-se junto a mim por este seu modo de agir. § Os excommungados tentaram ainda algumas vezes penetrar no meu quarto; a apparencia formidável porem do meu novo companheiro impediu-os de levar este plano a effeito. § Collocara-se de baioneta em punho deante da porta, impedindo a entrada a amigos ou inimigos. “Não se assuste”, disse, virando-se para mim o vencedor, cujos méritos neste momento me pareciam maiores que os do heroe de Marathona, “durma socegado, só conseguirão aggredi-lo passando sobre o meu cadáver”. Durante muitas noites não

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fechára os olhos; segui pois o seu conselho. Acordei após algumas horas, encontrando ainda deante de minha cama o fiel companheiro bem disposto, e sem signaes de fadiga; eu porêm extendi-lhe a mão cheio de gratidão, ordenando-lhe que fosse dormir, pois o dever me chamava também ao meu posto. § Poderia ainda contar muitos casos sobre os perigos que passei, e dos quaes escapei felizmente. Falta-me porêm aqui espaço para a narração detalhada de todas estas scenas. § A noite já extendera deste muito as suas azas de corvo sobre a terra; já eram dez horas, continuando sempre o fogo. Terminou (76-77) simente o morticínio á meia noite. Entrei a estas horas no hospital do quartel, que estava cheio de feridos. A primeira pessoa que vi foi o citado Irlandez. Estava o fiel companheiro nos estertores da agonia; uma bala penetrara naquelle peito leal, e alguns momentos depois não existia mais. Paz ás suas cinzas. -------------- Cap. XXVI -------------Quatro semanas depois chega ao Brasil o navio Fortuna – presença de Schäffer escondido no Rio de Janeiro. “Disse-lhe entre outras coisas nesta occasião que elle era um perjuro. (...) viera ao Rio por muitos motivos. Em primeiro lugar fora procurado pela Policia alleman por causa da venda de almas; em segundo logar algumas victimas de regresso á Europa queriam delle vingar-se; em terceiro logar, para receber do dictador brasileiro a recompensa dos seus nobres serviços” (77). Conversa de Schäffer e D. Pedro. -------------- Cap. XXVII -------------Execução do soldado alemão. “viu-se pois o Governo brasileiro na contingência de punir os cabeças do movimento. Era todavia por demais indolente para dar-se ao trabalho de um rigoroso inquérito. (...) § Tinham caído ás mãos da nobre Justiça cerca de trinta indivíduos victimas do acaso cego, da cabala miserável ou da maldade requintada. Um ao menos precisava ser fusilado, e os restantes condemnados a galés. O julgamento do segundo batalhão de granadeiros pelo chamado Conselho de guerra durou até 10 de Dezembro de 1828. Proferiu neste dia a sentença definitiva final. § (78-79) O granadeiro Augusto St... foi condemnado á morte, cinco granadeiros a prisão perpétua, nove e dez annos, nove e cinco annos, e oito a tres annos de galés com ferros. Esta sentença foi executada após cinco dias, isto é, no dia 16 de Dezembro de 1828, em São Christivam, num logar perto do Palacio Imperial (provavelmente d. Pedro, segundo o costume do seu digno irmão, queria deliciar-se com a vista da sua victima) na presença de toda a guarnição e de um destacamento de 50 Allemães, aos quaes se julgou de bom aviso retirar as armas. (...) Os Europeus residentes no Rio, especialmente os Inglezes e Norte-americanos, deram provas manifestas do seu enthusiasmo e sympathia pelo executado. Após a execução desfilaram deante do cadáver os soldados, sendo o corpo recolhido pelos Inglezes e Norte-americanos, e enterrado no cemitérios inglês protestante. § Os restantes condemnados a galé tumultuosamente e com gritos manifestaram o seu desejo de serem também fusilados. § Elles não foram attendidos, promovendo então grande desordem. O imperador e o general presente foram vilmente injuriados; um dos desordeiros arremessou uma pedra, que (79-80) teria talvez custado a vida a este ultimo, si por acaso não tivesse elle virado a cabeça e evitando deste modo o perigo. § (...) Devo fazer algumas observações (...) Accusavam-no de ter maltractado o ajudante I., húngaro, uma das creaturas mais estúpidas e vis do corpo allemão no Brasil, e isto é muito exacto. St. E este miserável tinham sido ambos anteriormente oddiciaes subalternos. Este calumniou vil e infamemente o seu camarada, que lhe era muito superior, conseguindo ainda por meio de intrigas que fosse degredado de um modo injusto e inaudito. Edificou a sua fortuna sobre os escombros da felicidade do seu companheiro logrando galgar o posto de ajudante á custa das maiores infâmias. O despreso de St. Por esta miserável creatura era tão profundo que não pensava siquer em se vingar. § Tendo este miserável cahido por occasião da revolta nas mãos dos soldados que pretendiam vingar-se das suas perversidades matando-o como um cão damnado, tirou-o St. Das sua mãos, salvando-lhe assim a vida. St. Depois de te-lo livrado deste perigo, Fe-lo escapar ás occultas, dizendo-lhe ao despedir-se: “Escuta miserável. Perseguiste-me de todas as maneiras, offendeste-me o mais gravemente possível, e si fosses um homem com algum sentimento, vingar-me-hia derramando o teu sangue. O meu desprezo por ti é porém completo. Segue este caminho, vil canalha, e assim salvarás a vida indigna”; e com um ponta pé na (80-81) extremidades das costas o mandou embora. (...) É que os cabeças tinham roubado dinheiro durante a revolta, podendo-se quando delle se dispõe, practicar no Brasil os maiores crimes, sem recear os castigos remporaes...” (81). -------------- Cap. XXVIII -------------Consequências da Revolta. “Troços de soldados foram aos poucos retirados dos navios e novamente organizados. Os soldados tiveram um contracto pelo espaço de quatro annos. (...) § Tornou-se melhor a alimentação, e si não aboliram completamente o systema bárbaro de castigos corporaes, restringiram todavia grandemente a sua applicação. (...) Onze officiaes incapazes, cujos nomes não me convem declinar aqui, foram retirados da fortaleza de Santa Cruz e embarcados para a Allemanha no primeiro navio hamburguez. § (...) (81-82) O senhor v. E. . . foi reintegrado no exercito e nomeado commandante do terceiro batalhão de granadeiros, depois de tres annos de lamentações incessantes e de petições continuas endereçadas ao imperador e ao ministro da Guerra. Os fuzileiros são agora tirados deste batalhão (...) §

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Percorria vaidosamente as ruas do Rio de Janeiro com um grande chapéo de plumas, namorando a própria sombra e consertando constantemente o collarinho [mais observações sobre o que aconteceu com Ewald] (...) O seu papel como official de Estado-maior devia infelizmente ainda desta vez ser de pouca duração, pois o corpo allemão foi dissolvido inteiramente dous annos depois. Aos officaes e soldados sem exxcepção, despedidos sem maior cerimônia, concederam que se fossem para onde quizassem e ganhassem a vida como entendessem. O senhor v. E. . . ., viveu deste este tempo em condições precárias e teve, com sua vaidade de peru, de se sujeitar a muitos vexames e humilhações” (82). -------------- Cap. XXIX -------------Despedida, retorno a Alemanha. “22 de Abril de 1829 a hora da liberdade para mim. Ocupara nos últimos annos o logar de secretario e de (82-83) auditor, e como conhecesse regularmente o portuguez tornára-me, por assim dizer, indispensável. § Fizeram-me então a proposta de continuar ao serviço do Brasil, como secretario effectivo, o qual tem as honras e o soldo de primeiro tenente, além de outro ordenado. Tinha já porém há tempos nojo e horror da profissão militar no Brasil; recusei pois formalmente a proposta. Fôra, havia tres annos e meio, junctamente com outros tres moços, proposto para official; o imperador porém recusava a sua assignatura, e agora, que o podia ser, não sentia nenhuma inclinação; tanto mais quanto no Brasil, com amor e trabalho e conhecimento de língua, se ganha a vida mais largamente e de um modo mais digno que seguindo a carreira militar. Após muitos pedidos recebi finalmente a demissão” (83). -------------- Cap. XXX -------------Observações sobre D. Pedro, sua formação e notícias em 1830. Caso de irresponsabilidade e arrogância (84). Falta de pudor e popularidade do Imperador. Com o fim dos batalhões estrangeiros em 10 de Dezembro de 1830 “Ficou pois D. Pedro com a dissolução dos mercenários, privado do seu ultimo arrimo, parecendo ao mesmo tempo destituído daquella energia de que dera prova em muitas occasiões anteriores e continuando a viver despreocupado e indifferente” (85). Rivalidade no Rio de Janeiro entre “Brazileiros e Lusos”. Viagem de D. Pedro a Minas Gerais e seu discurso (86-87). Ataques da “oposição” contra o Imperador. Regresso de Minas e recepção pelos portugueses nos dias 11, 12 e 13. (87) Notícia da Aurora Fluminense sobre o ocorrido. (88-92) Situação tensa entre portugueses e brasileiros, mortes e conflitos. (92-93) Periódico Republica sobre acontecimentos. (93-94) Queda do Ministério... “Os assassinatos tornavam-se cada vez mais freqüentes, indicando tudo a imminencia da catastrophe. Os Portuguezes não se atreviam mais a sahir á rua” (94). Crise cada vez mais iminente. Abdicação em Abril de 1831. (96) Acontecimentos posteriores a abdicação. (97-105) -------------- RIO DE JANEIRO -------------Descrição do Rio de Janeiro. (107-125) “Residir por muito tempo no Rio de Janeiro, não obstante os seus encantadores arrabaldes, não é nada agradável. O calor suffocante, sobretudo nas partes da cidade afastadas do porto, não refrescadas pelo sopro das brisas marítimas, o fétido na maior parte das ruas estreitas, onde se putrefazem impertubavelmente cadáveres de animaes, o lixo e toda sorte de immundicies em recipientes que não são hermeticamente fechados, affectam desagradavelmente os sentidos da vista e do olfacto, e despertam o nojo. § Encontra egualmente o Europeu por toda parte physionomias repugnantes de todas as cores, desfiguradas por moléstias asquerosas e paixões selvagens. § Imploram a caridade dos seus similhantes ao redor das egrejas e na praças publicas seres esqueléticos affligidos de moléstias vergonhosas, verdadeiras larvas humanas despertando o horror e o asco. Os soffrimentos dos negros, cuja nudez (109-110) não se acha de todo coberta, a carestia das casas e a má qualidade dos viveres; estes elementos todos e ainda innumeras circunstancias reunidas despertam logo o desejo de abandonar tal covil o mais depressa possível. § Este desejo torna-se ainda mais vivaz, quando se tem occasião de conhecer os Fluminenses (assim se chamam os habitantes do Rio) sob seu aspecto moral” (110). Defeitos dos brasileiros... (111) “Há poucos annos tem sido commettidos, somente na província do Rio de Janeiro, muitos milhares de mortos sem que nenhum dos criminosos haja expiado no patíbulo o crime” (111). Qualidades dos brasileiros.... (111-112) Mulheres no Brasil... (112-113) Mulatos e Negros.... (113114) Tratamento desumano com os escravos, relato do caso de José Thomaz de Mattos, “rico fazendeiros, da região de Villa Rica”... (114116) Mais observações sobre os negros, suas características, vícios e qualidades (116-117) Mulheres negras (117) “Muitos soldados allemães tinham amasias pretas, as quaes lhe eram fieis em regra, muito se orgulhando junto ás amigas pelo facto de possuírem amante branco...” (117) Lugares no Rio de Janeiro... (117-121) [Cemitério dos pobres e negros atrás do Hospital da Misericórdia: “A superfície é de oitenta metros quadrados, e num espaço tão limitado enterram-se milhares de pessoas annualmente. Os defunctos não vem em caixões, porém na maior parte nus, como quando viram a luz do dia, sendo em seguida lançados numa grande cova. Este tumulo sem ornamento permanece aberto até que uns trinta cadáveres o encham (gosta-se de sociedade), cobrindo-se então de terra. § Esta operação, porém, é feita com tamanha negligencia, que ficam muitas vezes a descoberto um pé, um braço ou a cabeça, como si os mortos tivessem ainda alguma cousa a fazer na terra e deste modo se esforçassem por voltar” (121).] Arredores do Rio de Janeiro... (122-125)

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-------------- ALEMÃAES -------------Destino dos militares alemães. (127-133) Descrição dos acontecimentos no período no Brasil... (132-133) “Em Outubro de 1830 voltando da colônia de S. Leopoldo, como já contei, fui testemunha ocular dos acontecimentos que occasionaram a abdicação de D. Pedro I. § Logo após minha chegada ao Rio encontrei collocação; empreguei-me no estabelecimento commercial do colsul geral, onde fiquei um anno. § Esta casa todavia fechou-se após a queda de d. Pedro. § Ganhei então a vida com o collecionar objectos de Historia natural e mais tarde dando lições de línguas no Rio de Janeiro e arrabaldes, as quaes eram muito bem pagas. Trabalhei também para uma casa franceza, occupando-me da correspondência em portuguez. § Fiz em 1832 um viagem a Pernambuco e á Bahia, onde as transformações e acontecimentos políticos então havidos repercutiram de modo prejudicial em todos os ramos de actividade. § Voltei ao Rio depois de uma ausência de tres meses. § No fim do anno de 1833 acommetteu-me uma febre violenta, escapando á morte sómente graças á força da mocidade e da minha constituição de ferro. Restabeleci-me após alguns mezes, depois de ter estado á beira do tumulo. Durante esta pérfida moléstia apertaram mais do que nunca as saudades da pátria. Aspirei rever com todas as forças de minha alma aquelles campos que tinham assistido aos folguedos da meninice e aos primeiros sonhos do adolescente e que o coração tanto estremecia. Conhece somente esta saudade indescriptivel, esta attracção irresistível exercida pela pátria, aquelle que viveu longos annos em regiões afastadas entre homens extranhos, sem amigos, vivendo num mundo indiferente aos sentimentos do seu coração. No dia 1º de Março de 1834 embarquei-me no Rio de Janeiro para Hamburgo, no navio hamburguez Maria e Hermenn. Vi sem melancolia desapparecerem no horizonte as costas brasileiras. § Tivera na verdade horas felizes neste paiz; todavia experimentára igualmente amargos soffrimentos. Há nove annos com que sentimentos não contemplára eu pela primeira vez estas costas imponentes! § (132-133) Planos grandiosos, ousadas esperanças enchiam-me o espírito juvenil. Nada subsistira deste bello mundo de phantasias, a não ser sinão como a lembraça de um sonho enganador e cheio de ilusões. § Ventos desfavoráveis atrazaram a nossa viagem; tivemos tempestades, tendo mesmo numa noite o nosso navio perdido o matro de ré. As tempestades no mar, abaixo da linha sobretudo, constituem um espetáculo magnífico e perigoso. § Outro espetáculo imponente é o levante e por do sol no Oceano Atlantico. § (...) Finalmente no mez de Junho surguram nas águas verdes do Mar do Norte as costas chatas da Allemanha. § Ninguem poderia descrever os meus sentimentos ao saudar a pátria querida. § No dia 14 de junho entramos no porto de Hamburgo após uma viagem, que durara 150 dias. § Embarcára doente e abatido, pisei todavia vendendo saúde o solo da Allemanha. § (...) No mez de junho voltei a minha pátria, o Hannover, e ao convívio dos homens de bem. A minha situação não é nada brilhante; tenho todavia novamente confiança em mim e na humanidade, o que vale mais do que me reserva a sorte depois de ter soffrido tantas tempestades; talvez sorria-me o futuro na minha pátria; talvez seja novamente obrigado a partir e a levar uma vida agitada e incerta entre povos extranhos. § Estou preparado para a tempestade e para o bom tempo, afivelando-se depressa o meu sacco pouco cheio.

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