CURRICULAR
DO ESTADO DE SÃO PAULO
FILOSOFIA
PROPOSTA
ENSINO MÉDIO
PROPOSTA CURRICULAR PARA O ENSINO DE
FILOSOFIA
Filosofia
Proposta Curricular do Estado de São Paulo
Proposta Curricular para a disciplina de Filosofia Filosofia e Ensino Médio: Filosofia e Cultura
e, ao mesmo tempo, inserir o educando no universo subjetivo das representações simbólicas, elevando a Educação a um nível político-
No senso comum, filosofar é tirar os pés
existencial, capaz de superar a mera transmis-
do chão e ficar em devaneios em cima das nu-
são e aquisição de conteúdos, feitas de modo
vens. Essa imagem do pensador com olhar e
mecânico e inconsciente.
mente distantes, flutuando sobre os mortais,
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foi criada com a ajuda dos próprios filósofos
Quem pode discordar, por exemplo,
e professores de Filosofia, durante anos espe-
de que já está mais do que na hora de levar
cializados numa espécie de trava-línguas do
os debates sobre ética para fora das aulas e
pensamento e alheios às demais manifesta-
seminários especializados, escondidos nas
ções e dimensões da Cultura. Por isso, con-
universidades e produzidos para meia dúzia
siderando que o ensino de Filosofia no nível
de especialistas de fala incompreensível? Do
médio foi restabelecido de forma legal, pare-
mesmo modo, por maior que seja a capaci-
ce interessante perguntar como o professor
dade que os meios de comunicação têm de
da Filosofia vê sua presença no universo esco-
influenciar a opinião pública, exercitando po-
lar. Qual o papel, ou papéis, que ele pode e
sitivamente seu direito de denúncia social,
deve desempenhar? Qual a função do ensino
nenhum educador imagina transferir à mídia
de Filosofia nos atuais formatos curriculares,
a responsabilidade pelo estabelecimento de
assentados especialmente no desenvolvimen-
valores éticos para formação de crianças e
to de competências e habilidades?
adolescentes.
Em primeiro lugar, o retorno da Filoso-
A questão se torna ainda mais difícil
fia ao Ensino Médio deve ser entendido como
quando se atribui à escola a função de for-
o reconhecimento da importância desta disci-
mar cidadãos capazes de interferir, de ma-
plina para ampliar o significado e os objetivos
neira consciente, no contexto social de que
sociais e culturais da Educação. Para tanto, é
fazem parte. A condição de cidadania não se
imprescindível a presença, nos programas es-
materializa com o uso de símbolos exterio-
colares, de disciplinas que – como a Filoso-
res, aplicados após a memorização de umas
fia – propõem reflexões que permitem com-
poucas sentenças, mais decoradas do que
preender melhor as relações histórico-sociais
compreendidas, como se fosse um crachá de
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Filosofia
identificação que diferenciasse seu portador
Educação, em geral, e os da Filosofia, em
das demais pessoas que compõem a socie-
particular, manifestam preocupação quanto
dade. Além disso, é importante lembrar que,
a algumas questões fundamentais: “Como
para a aquisição dos valores da cidadania,
ensinar Filosofia?” ou: “Como formar pro-
são decisivas as influências que o aluno ar-
fessores para o ensino de Filosofia no ensi-
mazena dos ambientes sociais que freqüen-
no médio?”; “Será que os cursos superiores
ta, em especial a família. É claro que o pro-
preparam, adequadamente, esses profes-
fessor de Filosofia, assim como os demais,
sores?”; “Qual a qualidade do material di-
deve participar ativamente do processo de
dático disponível?”; “Como despertar o in-
percepção e formação desses valores, mas
teresse dos alunos e incentivá-los a pensar
isso não significa que ele deva abdicar das
filosoficamente?”...
funções de docência, deixando de produzir conhecimento sobre sua disciplina.
Como é do conhecimento de todos, nenhum desses problemas constitui duvi-
Essa produção de conhecimento pode
doso privilégio da Filosofia, podendo ser
ser fortemente dinamizada, se o professor
relacionados às demais disciplinas que com-
de Filosofia promover o debate interdisci-
põem os programas de ensino no Brasil.
plinar. Assim, por exemplo, de um lado dis-
Uma coisa parece, no entanto, certa: não
cussões escolares sobre violência urbana ou
irá muito longe o professor que encerrar um
racismo poderiam ser melhor desenvolvidas
pensador numa espécie de caixa preta, ten-
pelos professores de Sociologia ou História,
tando isolar seu pensamento, imaginando
a partir de um diálogo com o professor de
que a arquitetura do texto, por si só, poderá
Filosofia. De outro lado, a intermediação
levar a qualquer forma de compreensão ou
da Filosofia poderia ampliar a compreensão
reflexão. Não podemos considerar a hipó-
de questões como desmatamento ou enge-
tese de que o educando terá uma boa for-
nharia genética, trabalhadas nas aulas de
mação apenas por conseguir compreender
Geografia e Biologia, e assim por diante. As
as estruturas do pensamento de um filóso-
combinações são ilimitadas, permitindo um
fo, isolado em um planeta imaginário onde
saudável intercâmbio de idéias, com benefí-
tempo e história não coabitem. Isso porque
cios para alunos e professores.
o uso de ou o recurso a um pensador, sem a preocupação de fazer pensar o seu leitor
Entretanto, embora ainda sejam pou-
contemporâneo, é um exercício inútil. É
cas as vozes questionadoras da importância
como deixar de viver e evitar todos os riscos
do ensino da Filosofia, os profissionais da
que a vida implica, para durar mais...
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Filosofia
Proposta Curricular do Estado de São Paulo
Além disso – considerando que as mani-
embates políticos que levaram à superação do
festações do pensamento devem ser analisadas
regime autoritário instalado no país. As vozes
em sua historicidade –, a própria análise de um
dos filósofos, além de serem ouvidas, puderam,
texto filosófico precisa ser historicizada e posta
enfim, ser entendidas e, junto com as falas de
em relação com outras disciplinas. Desse modo,
outros representantes do universo cultural e
como já foi lembrado, a Filosofia pode assumir
político brasileiro, mostravam-se mais preocu-
uma de suas principais funções, a de ser uma
pados com o restabelecimento da democracia
ferramenta conceitual produtora de síntese,
no Brasil, do que com o sentido filosófico da
com o que animaria o debate multidisciplinar,
cidadania clássica da Grécia antiga. Desde essa
elevando os padrões do Ensino Médio.
época, a solidão contemplativa a que se restringia o estereótipo do filósofo foi recolhida
Aqui, é importante considerar a trajetória percorrida pela Filosofia na história da edu-
para o espaço da anedota e ele deixou a caverna para ganhar o espaço da Cidade.
cação brasileira. Os jovens que freqüentam hoje os cursos superiores de Filosofia talvez
Essas considerações não devem ser en-
não saibam que, durante décadas – desde sua
tendidas como uma avaliação depreciativa
aparição em nosso mundo escolar, há cerca de
da História da Filosofia, pois ela foi, é e será
oitenta anos –, seus conteúdos espremiam-se,
sempre fundamental para o estudo da Filoso-
maltratados ora pelo discurso teológico, ora
fia. Aqui, o que se considera é que, a despeito
pela verborragia intraduzível que saía dos
de sua importância, a História da Filosofia não
moinhos de palavras de alguns especialistas.
deve constituir a principal orientação para o en-
Estes conteúdos mais pareciam raciocínios
sino da disciplina na escola pública, pois é com
emanados de seres supremos, cujos códigos
o olhar voltado para o mundo que se aprende
de acesso poderiam ser decifrados graças à
a pensar filosoficamente – muitas vezes, reco-
mecânica das palavras, dispensando maiores
lhendo material nas ruas que o aluno percorre
complicações de pensamento.
para chegar à escola. Um jornalista, por exemplo, realiza entrevistas com crianças que vivem
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Recentemente, entretanto, após a ins-
no tráfico ou na prostituição e encerra aí o seu
talação dos cursos de pós-graduação (final da
trabalho; mas certamente a compreensão da
década de 1960 e início da seguinte), a Filoso-
questão poderá ser mais bem sintetizada, a
fia consolidou-se nos ambientes universitários,
partir de seus fundamentos, pelo professor de
aumentando sua visibilidade pública, tanto
Filosofia. Caberá a ele valer-se de sua formação
pelos espaços culturais ocupados pelos pro-
para orientar debates em sala de aula, usando
fissionais da área como por sua presença nos
aí os elementos que conformam sua erudição.
Proposta Curricular do Estado de São Paulo
Filosofia
Finalmente, também quanto à forma-
das nestes cadernos. Contudo, deve ser dito
ção oferecida pelas universidades , a Filosofia
que, seja qual for o percurso adotado pelo
se aproxima de suas parceiras curriculares,
docente, os resultados dependerão, sempre,
já que as questões relativas ao ensino têm
da prática cotidiana da leitura. Muitas ve-
pouco espaço no universo acadêmico. Além
zes, o docente desanima, ao constatar que
disso, é preciso considerar que a formação
“os alunos não lêem”. Entretanto, como
oferecida nos cursos superiores de Filosofia,
responderiam os próprios professores sobre
públicos ou privados, é orientada, em geral
seus hábitos de leitura e quais procedimen-
, para especializações rigorosas, pouco ou
tos adotam para incentivar os estudantes a
nada voltadas para o ensino. A solução para
lerem? Para entender a importância deste
superar as conseqüências desse perfil de for-
problema, compete ao docente avaliar, sem-
mação consiste na adoção, pelo docente, de
pre, o significado que os hábitos de leitura
um compromisso com a pesquisa constante.
tiveram – e devem continuar tendo –em sua
Cabe a ele, principalmente, a responsabili-
formação, já que é daí que vem o principal
dade de procurar seus próprios caminhos,
recurso para transformar em Cultura qual-
aplicando a seu modo as sugestões conti-
quer proposta curricular.
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Filosofia
Proposta Curricular do Estado de São Paulo
Proposta Curricular do Estado de São Paulo para Filosofia – Ensino Médio 1ª série
1º Bimestre • Por que estudar Filosofia?
• A Filosofia e suas origens gregas
• Ensinar Filosofia ou ensinar a filosofar?
• A Filosofia e outras formas de conhecimento (mito, senso comum, ideologia, religião, arte, ciência)
• A importância de questionar o natural e o óbvio
3º Bimestre
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2º Bimestre
4º Bimestre
• As relações entre Filosofia e Ciência
• As relações entre Filosofia e Arte
• Características do conhecimento científico
• As definições histórico-filosóficas do Belo e da Estética
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Filosofia
2ª série 1º Bimestre
2º Bimestre
• O que é Política?
• A política socialista na modernidade: Karl Marx e o Anarquismo
• Formas de poder
• O que é ideologia?
• Política e poder • Origens e funções do Estado 3º Bimestre
4º Bimestre
• Filosofia da Educação
• Reflexões sobre os poderes no século XX: Michel Foucault e a fragmentação política; Hanna Arendt e o totalitarismo
• Filosofia e exclusão social: respeito à diversidade • Caso o terceiro ano de filosofia seja facultativo utilizar neste bimestre os temas do primeiro bimestre do terceiro ano.
• A ação moral e a sua historicidade: Nietzsche
3ª série 1º Bimestre • O que é ética? • As relações entre ética e cidadania • Ética e política 3º Bimestre
2º Bimestre • Desafios éticos contemporâneos: a ciência e a condição humana • Filosofia e bioética
4º Bimestre
• As transformações tecnológicas e os critérios de escolha humana
• O problema filosófico da escolha moral e suas implicações
• A crítica e o debate sobre os limites da tecnologia
• A Filosofia e o futuro do aluno – debate vocacional
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