Podcast Imediato-um Estudo Sobre A Podosfera Brasileira

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Déborah Salves

Podcast imediato um estudo sobre a podosfera brasileira

Florianópolis 2009

Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo no Departamento de Jornalismo do Centro de Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina. Orientadora: Profª. Drª. Raquel Ritter Longhi

Resumo Neste trabalho, relata-se a preparação, a estruturação e a execução do Podcast Imediato, programa criado para o estudo da podosfera brasileira. A partir de entrevistas com podcasters premiados pelo Prêmio Podcast 2008, investiga-se o processo produtivo desta micromídia. A intenção foi levantar pontos que, conectados, delineassem um panorama do podcast no Brasil, e a partir dos quais se pudesse aprofundar o estudo. Observou-se que a linguagem do novo meio ainda é experimental, assim como o formato dos programas, os modelos de negócios, dentre outros aspectos. Também se concluiu que, no entendimento dos produtores entrevistados, a podosfera brasileira vem se ampliando e amadurecendo, e deve apresentar crescimento quantitativo e qualitativo nos próximos anos. Palavras-chave: Podcast. Micromídia. Interatividade. Portabilidade. Jornalismo.

Abstract This paper reports the steps of planning, structuring and execution of Podcast Imediato, show created for the study of Brazilian podosphere. The investigation on the productive process of this micro-media is based upon interviews with winners of Podcast Award 2008. The research aimed to reveal aspects that put together could outline the state of podcast in Brazil, and from which the study could go further. It was observed that the language of the new medium is still experimental, as well as programs’ format, business models, among other aspects. Also, it was concluded that the interviewed producers understand Brazilian podosphere as a spreading community, in numbers and maturity, and it will continue to grow, in quantity and quality, over the next few years. Key-words: Podcast. Micro-media. Intereactivity. Portability. Journalism.

SUMÁRIO SUMÁRIO Agradecimentos

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Dedicatória

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1 Introdução

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1.1 A ideia

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1.2 O que é podcast

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1.3 Alguns meandros técnicos

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2 Desenvolvimento

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2.1 Referencial teórico

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2.2 Podcast Imediato

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2.2.2 Podcasts tutoriais

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2.2.2 PodPesquisas e Prêmio Podcast

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2.3 Projeto Editorial

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2.4 Pré-roteiro

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2.5 Podcast e processo produtivo do jornalismo

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2.6 Fontes, entrevistados e pré-apuração

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2.7 Podcasts de...

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3 Dificuldades, superações e aprendizados

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3.1 Aprendizados

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3.2 Filipe Speck e Nanni Rios

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4 Conclusões

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4.1 Partindo do zero

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4.2 Formato do programa

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4.3 Crossover e Twitter

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4.4 (Outras) redes sociais, divulgação e site

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4.5 Periodicidade, publicidade e perspectivas

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4.6 É isso aí, a gente se vê na semana que vem

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5 Bibliografia comentada

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Bibliografia completa

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Anexos

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I. Estatísticas de acesso de cada episódio II. Estatística comparada dos três episódios mais baixados

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Agradecimentos Agradeço aos professores que me orientaram nas fase de projeto e execução deste Trabalho de Conclusão de Curso. Ao professor Eduardo Meditsch por despertar meu interesse pelo rádio e sugerir o tema da portabilidade, que posteriormente foi focado no podcast. À professora Raquel Ritter Longhi por assumir a orientação e aceitar o desafio de entender melhor a podosfera brasileira. Agradeço aos podcasters que aceitaram participar do programa, disponibilizando-se a gravar em horários inimagináveis e oferecendo simpatia, paciência e didatismo. Aos produtores que não participaram dos episódios mas apoiaram o projeto. E aos ouvintes, por prestigiarem o trabalho, ajudando a construir um programa melhor e ampliando a experiência desde TCC. Agradeço especialmente a Eduardo Sales e Diego Moreau, dois professores e podcasters que estavam sempre online e dispostos a tirar dúvidas, debater conceitos, ou simplesmente avisar que tinham baixado ou ouvido o programa. Agradeço aos colegas do curso de Jornalismo da UFSC, por fazerem a minha experiência na universidade memorável. Um muito obrigada especial àqueles que trabalharam comigo no Unaberta e na Rádio Ponto UFSC, nas coberturas de vestibular e de greve de ônibus; e aos que trabalharam comigo no Centro de Artes da UDESC.

Agradeço aos colegas de profissão, com quem aprendi a maior parte de tudo o que sei sobre jornalismo e comunicação hoje. Gisiela Klein, Fabiana de Liz e Natália Viana, minhas primeiras editoras. Célia Penteado, simplesmente a melhor chefe e a melhor professora que tive desde que escolhi seguir esta carreira, pessoa e profissional que admiro e em quem me espelho. Agradeço aos amigos do fundo do peito, aqueles que chegaram há 9 anos ou há 19 meses, mas que vieram para ficar. Aos que me atenderam no meio da noite, riram e choraram comigo, me elogiaram e me xingaram, chegaram em casa comigo ao nascer do sol. A esses, que estiveram do meu lado, um muito obrigada do tamanho do nosso amor. Agradeço aos colegas de curso, de profissão e amigos do fundo do peito Filipe Speck e Nanni Rios, pelo apoio, pela dedicação e pela parceria, em especial nesta etapa. A participação dis dius tornou esta experiência mais rica, prazerosa, memorável e frutífera. Agradeço, por fim, àqueles sem os quais absolutamente nada disso teria sido possível, que estiveram comigo em absolutamente todos os momentos, que sempre me apoiaram e sempre me fizeram ver a força que existia dentro de mim. O mais importante e o incomensurável obrigada aos meus pais, por serem as melhores pessoas do mundo, meus eternos heróis, minhas estrelas-guia, meus exemplos de amor, respeito, compreensão e persistência.

Aos meus pais, por tudo, sempre e infinitamente.

1 Introdução O Trabalho de Conclusão de Curso aqui relatado trata sobre podcasts brasileiros. Há duas abordagens: de um lado, a investigação sobre como vêm sendo produzidos os programas no país; de outro, a experimentação com a mídia, a partir dos conceitos estudados e constatados na pesquisa. O tema podcast surgiu a partir do interesse de pesquisar a portabilidade do rádio, mas distanciou-se desta mídia na primeira etapa da revisão bibliográfica, em que se constatou que podcast não é rádio. Considerando as potencialidades da micromídia1, seu nascimento recente e sua utilização crescente, e somando-se isso a total falta de experiência com o produto, optou-se por realizar o TCC nas duas frentes, pesquisa e prática. Objetivou-se levantar o cenário atual da podosfera brasileira - a explicação de certos termos segue no próximo item -, traçando o contorno da produção do país. O início da utilização do podcast no Brasil, pioneiros da mídia, crescimento e desenvolvimento foram investigados, buscando conhecer o entorno da condição atual. Para entender as características do podcast brasileiro nos dias de hoje, escolheu-se entrevistar um grupo de referência na comunidade. Do universo de mais de Primo (2005:3) usa o conceito de Thornton de micromídia, a saber, “um conjunto de meios de baixa circulação e que visam pequenos públicos, que vão desde impressos rudimentares até ferramentas digitais”. O autor brasileiro faz uma ressalva ao sistema produtivo da micromídia, destacando que o podcast pode ser explorado também como mídia de nicho por empresas de comunicação estruturadas.

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oito mil programas listados no PodcastOne - maior diretório do país -, selecionou-se como critério a presença no pódio do Prêmio Podcast 2008. Assim, os entrevistados eram os produtores premiados ou pelo juri popular, ou pelo juri técnico do concurso, entendendo-se que tais podcasters teriam seu trabalho avalizado pelos ouvintes brasileiros. A partir de indagações jornalísticas, e mantendo sempre em mente o potencial informativo da micromídia aqui tratada, buscou-se entender quais os aspectos comuns à maioria dos programas, de modo que se pudesse sugerir um ponto de partida a quem inicia a atividade na podosfera, também tentando sistematizar os dados visando o ensino em cursos de Comunicação Social e a produção por empresas jornalísticas. O segundo objetivo deste TCC era a experimentação prática. Durante a graduação em Jornalismo na UFSC, o podcast foi apenas apresentado, e sem muitos detalhes, tanto em aulas de radiojornalismo quando de jornalismo online, até o início da preparação do projeto deste Trabalho.2 Embora não existam parâmetros estabelecidos, como no caso do rádio e do impresso, por exemplo, a experimentação com o podcast é prática válida e construtiva, além de tornar palpável a teoria que se investiga, e aumentar o conhecimento sobre a mídia, ampliando o repertório para a investigação. O ciclo foi estruturado, assim, desta forma: pesquisa de literatura específica da área, embasando a investigação junto aos produtores, que se ampliava à medida que a produção do TCC continuava, com o objetivo - terceiro - de tornar-se referência bibliográfica. Após a elaboração deste relatório, foi apurado que no semestre de 2009.1 o podcast foi tema da disciplina optativa Jornalismo Dinâmico, ministrada à época pelo professor Fábio Mayer, que em conjunto com a professora Giovana Rutkoski, da área de Radiojornalismo. Os docentes não somente abordaram o conceito de podcast em sala, como produziram episódios com os alunos material disponível em www.radio.ufsc.br

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Nesta breve introdução encontram-se os elementos chave que serão tratados adiante. Os termos que aqui não estão devidamente explicados, a seguir o serão. Finalmente, daqui em diante passa-se a relatar a experiência em primeira pessoa.

1.1 A ideia A ideia deste TCC surgiu em agosto de 2004, durante a primeira fase do curso de Jornalismo da UFSC, e a partir do meu interesse pelo rádio. Na disciplina Redação para Rádio I, ministrada então pelo professor Eduardo Meditsch, comecei a conhecer o meio, e o interesse que suas características despertaram em mim só fez crescer desde então. Foquei minha formação ao longo do curso nesta área, cursei cinco disciplinas optativas, participei de atividades de extensão, coberturas especiais, ações voluntárias, procurei aproveitar todas as oportunidades de aprendizado que surgiam. No início de 2009, quando começou a elaboração do projeto para o TCC, manifestei ao professor Meditsch a vontade de trabalhar com conceitos do radiojornalismo, porém formatando o resultado dos estudos como programa, em vez de como monografia. O tema que me sugeriu foi portabilidade, característica surgida da evolução tecnológica, e a partir daí começamos revisão da literatura básica. Neste etapa, em trabalhos como os de Kischinhevsky (2009) e Vaisbih (2006), encontramos referências ao podcast, enquanto mídia portátil e cujo potencial interativo chama a atenção. Decidimos fechar aí o tema do TCC. A ideia, então, foi comparar as características do rádio tradicional e do podcast. No entanto, esbarramos na dificuldade de determinar as características da micromídia, surgida em 2004 e que, diferente do rádio, (ainda) não tem conceitos estruturados para se contrastar com o da mídia de massa. Partimos, pois, para uma investigação anterior: buscar identificar as características do podcast brasileiro.

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A pesquisa é relevante ao se considerar que 1) o podcast é pouco explorado pela grande mídia nacional, em contraposição aos conglomerados internacionais - como BBC e NBC; 2) há parca bibliografia sobre o tema, principalmente em português; 3) os autores que tratam do podcast destacam o potencial informativo que o produto tem, e informação é a matéria prima do jornalismo; 4) a liberação do polo emissor3 observada no podcast transforma-o em ferramenta no processo de democratização da comunicação; 5) a portabilidade da micromídia insere-a no contexto atual de desenvolvimento tecnológico, onde a portabilidade está cada vez mais presente e dominante; 6) a rede criada por produtores e consumidores de podcast amplia o espaço público de debate; dentre outros4.

1.2 O que é podcast Podcast é uma mídia digital distribuída periodicamente na rede através de RSS (Really Simple Syndication - divulgação realmente simples, em tradução literal). Seria simples assim? Na medida em que ampliamos a leitura acerca do produto, diferentes definições surgem. Em 140 caracteres, podcast é como se fosse um programa de rádio, só que na internet. Nem se chega a 140 caracteres. Mas já se pode observar dois questionamentos de teóricos e práticos do assunto. Primeiro, a comparação com o rádio pressupõe que o podcast seja um arquivo de áudio, quando na realidade podemos encontrar também arquivos de vídeo (chamados de videocast, Lemos (2005) resume a liberação do polo emissor, no caso do podcast, como “ouvinte produtor”, em um contexto de modificações propulsionadas pela tecnologia. “Chegamos aqui ao cerne de uma das leis da cibercultura: a lógica da reconfiguração”, diz, e especificamente sobre a produção descentralizada de conteúdo, acrescenta que “o suposto excesso de informação nada mais é do que a emergência de diversas vozes, exprimindo-se sobre diversos assuntos, e sob diversos formatos, distribuídos ao redor do mundo”.

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Ver Bibliografia comentada para referências das justificativas apresentadas.

vidcast ou video podcast) ou mesmo de imagens (fotocast ou foto podcast), texto, enfim, qualquer mídia digital. O segundo aspecto de que discordam a maioria dos teóricos na comparação com o rádio diz respeito às características de cada mídia: Medeiros (2007) e Meneses (2008), dentre outros, afirmam que podcast não é rádio. O termo podcast surgiu em fevereiro de 2004, em artigo do jornal inglês The Guardian, embora o primeiro registro desta mídia como se costuma entendê-la hoje date de outubro do mesmo ano. O então VJ da MTV Adam Curry criou uma forma de difundir seus próprios sets de música, sem pressões de uma emissora, e assim nasceu o podcast. Há duas versões sobre a origem do nome: em uma delas, pod viria do tocador de áudio da Apple, o iPod, mais popular aparelho do gênero à época; na outra, pod seria a sigla de personal on demand, ou pessoal por demanda. O sufixo cast vem de casting, transmissão. Ainda que talvez a primeira hipótese esteja correta, não é necessário ter um iPod para ouvir um podcast. Depois de criar o arquivo, Curry percebeu que não bastava apenas produzir o conteúdo, era necessário distribui-lo, e a forma encontrada pelo estadunidense foi o RSS, mecanismo que à época já era utilizado pela grande mídia para informar sobre novas notícias. O RSS feed (alimentador RSS), é um arquivo em linguagem XML no qual estão informações sobre determinada página na internet, ou, no caso do podcast, sobre determinado programa. Quando inserido (assinado) em um agregador, programa que lê arquivos de feed, o RSS funciona como recolhedor de informações: no caso de sites de notícias, por exemplo, busca as atualizações do conteúdo escolhido e as mostra para o usuário, que pode visualizar o material sem precisar visitar a página para checar se há novidades. No caso do podcast, o feed informa ao software se há ou não novos episódios5, e em caso positivo Episódio é o nome comumente usado para se referir a um arquivo específico do conjunto do programa. A periodicidade do podcast, então, corresponde à frequência de publicação dos episódios.

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o agregador faz o download automaticamente. Uma vez no disco rígido de seu computador, o ouvinte - como vamos convencionar chamá-lo, doravante, por se tratar este TCC de um programa em áudio - pode reproduzi-lo localmente ou transferi-lo a um tocador portátil de MP3 e escutá-lo onde e quando lhe aprouver. Além disso, pode-se parar e recomeçar, avançar e retroceder no programa, uma vez que se dispõe de sua integralidade - ao contrário da rádio, cuja emissão e recepção acontece simultaneamente (PRIMO, 2005). O arquivo de áudio na rede pode estar em servidor próprio do produtor, em site de armazenamento online, em site específico para hospedagem de podcasts, dentre outros. Para que se assine o feed, basta apenas saber o endereço do mesmo (por exemplo, feedburner.com/podcastimediato ou podcastimediato.com.br/ feed.xml). Para facilitar a busca por programas foram criados os diretórios, páginas que listam e categorizam podcasts, congregando nomes, descrições, imagens, endereços de RSS, dentre outras informações, e permitindo a pesquisa por tema, país de origem, palavras-chave, etc, a depender do diretório. Para descobrir um podcast, também se pode utilizar um mecanismo de busca – como o Google –, uma vez que, de modo geral, os programas possuem um site próprio, um blog, ou um perfil no site em que hospedam os arquivos para download. Esta interface de contato com o público fora do arquivo de áudio, além de ampliar a interatividade com a equipe de produtores e entre os ouvintes através das janelas de comentários, também desobriga os podcasts de ter um endereço de feed para ser assinado, já que existem outras formas de ouvir o programa (ib. idem).

1.3 Alguns meandros técnicos Observa-se aí uma das adaptações que a micromídia sofreu: inicialmente, o que diferenciava o podcast de um arquivo de áudio qualquer disponível na rede era a possibilidade de ser assinado em um agregador. No entanto, como atualmente é

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possível tocar o episódio sem necessariamente baixá-lo, o feed não é mais necessário (embora alguns teóricos e podcasters considerem-no a principal característica da mídia podcast, e portanto essencial). Em um meio termo entre ter apenas um feed e ter servidor próprio, nasceram os sites de hospedagem - como Mevio, PodOmatic e PodcastOne, por exemplo - que além de funcionarem como diretórios, disponibilizam hotsite ou perfil em que o usuário dispõe do player. Outra evolução do podcast diz respeito ao formato. Adam Curry era video-jockey, mas criou programa em áudio, e por isso este é o formato comumente associado ao podcast. Mas ainda que fôssemos considerar a micromídia como exclusivamente áudio, é também limitador nos referirmos a ela como arquivo de MP3. Primeiro, obviamente, porque existem outros formatos. Mas dentre estes interessa destacar o AAC (Advanced Audio Coding, codificação de áudio avançada, em tradução literal), também conhecido como enhanced audio (áudio melhorado). Além de terem qualidade superior ao MP3 a uma mesma bit rate (ou seja, com o mesmo tamanho em bites), estes arquivos de som comportam divisão em capítulos e inclusão de diferentes imagens (artworks) - possibilitando, assim, os fotocasts, por exemplo, que apresentam uma sequência de ilustrações acerca do tema tratado. Vale ressaltar, também, a existência de formatos que dispõem de outras facilidades - por exemplo, o WAV, mais pesado porém com maior qualidade, ou o ZIP, que embora não seja o formato final do programa, é a extensão do arquivo disponibilizado para download. Por último, note-se que mesmo falando de “arquivos MP3” pode existir diferença entre eles - tanto que, para atender a ouvintes com diferentes larguras de banda, é comum disponibilizar arquivos em lo-fi, com qualidade de som um pouco menor, porém mais leves (e rápidos) para baixar. Outros aspectos se mostrarão divergentes ou multifacetados no tocante aos podcasts, e aparecerão em outros momentos do presente relatório. O que foi exposto aqui serve, neste momento, para ilustrar a dificuldade de definição do podcast e de

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detalhamento de características específicas que possam ser comparadas às do rádio - meio que, apesar de seu incompleto século de vida, já tem parâmetros estabelecidos. Em rápida revisão dos termos e conceitos aqui apresentados, nota-se que o podcast insere-se mais propriamente no estudo das mídias digitais do que na esfera do rádio. Por isso, após a elaboração do projeto sob tutoria do professor Eduardo Meditsch, decidimos transferir a orientação para a professora Raquel Ritter Longhi, que acompanhou a execução do trabalho.

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2 Desenvolvimento O trabalho nas duas frentes citadas na introdução deste relatório - teoria e prática - foi desenvolvido paralelamente. A revisão bibliográfica ateve-se primeiramente à literatura específica da área - primeiro semestre de 2009 - e, num segundo momento, aos áudios de podcasts disponíveis na rede. A escuta permitiu observar empírica e panoramicamente algumas características comuns aos programas, aspectos estes usados na estruturação do Podcast Imediato e na elaboração da pauta das entrevistas. Os aspectos pontuais, ou necessariamente não uniformes, criaram repertório para questionamentos e para solução de problemas surgidos na etapa prática do trabalho. Ainda antes de iniciar as gravações, o contato com podcasters teve papel relevante na execução do programa, tanto no sentido do aprendizado compartilhado, quanto no lado social, de inclusão na podosfera e entendimento dos aspectos fora da técnica que constroem esta comunidade. Finalmente, foi essencial a participação do jornalista Filipe Speck no programa, desde a revisão bibliográfica, passando pela elaboração do projeto editorial e participação nas gravações, até o apoio emocional durante o processo.

2.1 Referencial teórico Na revisão da literatura, alguns conceitos formaram o repertório teórico que embasa as escolhas deste TCC. Primeiramente, Medeiros (2007) e Meneses (2008) expuseram os motivos pelos quais podcast não é considerado rádio. Em sua tese, o autor

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português apresenta definição do que é rádio, e salienta que a ausência de algum dos aspectos já desqualifica o podcast enquanto transmissão radiofônica: “conteúdo sonoro [palavra e/ou música] predeterminado por ‘gatekeeper’... para ser ouvido [através de difusão hertziana, terrestre ou outra, como o cabo, o satélite ou mesmo a internet] por muitos... ao mesmo tempo em que é transmitido [a transmissão é sincrónica, linear ou directa] e passivamente [esse fluxo não é manipulável]... [Transmissão sonora] Quando passa a ser assincrónico, o seu conteúdo é manipulável e perde-se uma das características essenciais” (MENESES, 2008:135)

Vaisbih (2006) aponta mudanças de demanda do público, que influenciam na produção do conteúdo. A internet permite o aumento da quantidade de - e do acesso a - informação, o que gera mais concorrência. Para atingir o público, neste contexto, o podcast deveria aprofundar o conteúdo, ou apresentar viés analítico e/ou opinativo. Rodero Antón (2002) acrescenta a isso o cuidado e a aprimoração na edição, que passam a fazer parte das exigências da audiência a partir do momento em que a transmissão deixa de ser ao vivo, sendo, portanto, passível de lapidação. Em consonância, Cebrián Herreros (2003) ressalta que os profissionais da Comunicação precisam também se adaptar, descobrir novas abordagens para ter o diferencial competitivo. Segundo o autor, o fim da linearidade no consumo da informação é o principal fator de reconfiguração da área. Kischinhevsky (2009) também menciona a não-linearidade, proporcionada pelo avanço tecnológico, e influenciada pela popularização dos tocadores de áudio e de outros dispositivos portáteis - e mesmo da internet. Também ressalta a demanda crescente por possibilidades de participação e interatividade. Faus Belau (2001) observa uma falta de vontade dos grandes grupos

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de comunicação de se adaptarem, e comenta que de fato a mídia massiva não vem refletindo as tendências surgidas após a internet. Mais que isso, o autor acredita que as mudanças são irreversíveis e afetam a estrutura tradicional das empresas, apontando como única saída a incorporação das novas formas de produção. Nesse sentido, Lemos (2005) contribui com a ideia da liberação do polo emissor, a voz dada a qualquer internauta conectado à rede, a informação saída direta da fonte, sem necessidade de passar pelo crivo e pela ressignificação de um meio massivo. Primo (2005) acrescenta o conceito de micromídia, em oposição a mídia de massa (broadcast) e mídia de nicho (narrowcast), enquanto Speck (2009) traz a questão das redes sociais e da interatividade na rede ao restante do escopo teórico aqui sumarizado. Em bom português, entendemos que podcast, apesar de usar o suporte áudio6, difere-se da rádio por uma série de aspectos. Destaca-se, dentre eles, o fato de que no rádio emissão e recepção são atos simultâneos, enquanto no podcast o produto é entregue completo ao ouvinte, o que possibilita maior controle sobre a forma de consumo. Tal controle é um dos fatores que faz com que o público tenha cada vez mais demandas. A facilidade de produção do podcast permite que pessoas fora das grandes corporações de mídia massiva tornem-se produtoras de conteúdo, aumentando a concorrência e colaborando, mais uma vez, ao aprofundamento das exigências dos ouvintes. Na disputa pela atenção da audiência, a grande mídia perde por focar em uma pessoa-padrão, enquanto o podcast pode especificar muito o seu público-alvo, além de ter liberdade editorial para atender às demandas apresentadas. Por último, a interação entre podcasters e ouvintes, e entre os indivíduos que compõem a audiência, quebram a hierarquia vertical de emissor/receptor, horizontalizando as relações e permitindo a criação de redes. 6 Embora, como já mencionamos, não necessariamente em áudio, sendo esta abordagem apenas restrita ao formato que aqui estudamos e usamos.

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2.2 Podcast Imediato A partir dos preceitos teóricos adotados, estruturamos a etapa prática do TCC: a produção do Podcast Imediato. O programa foi concebido para ser, ao mesmo tempo, a pesquisa e a externação dos resultados obtidos nela. Experimentação processual. Entendemos que o podcast não nasceu na academia, e o entendimento que esta obtiver a respeito dele deve ser retornado aos que dele se beneficiam, produtores e/ou consumidores. O conhecimento do processo Imediato foi construído a partir da podosfera brasileira, com dados dela e para ela. O nome Imediato foi escolhido por representar conceitos referentes ao jornalismo - principalmente factualidade - e se relacionar às características do podcast, enquanto mídia que se desenvolve no presente, e que apesar de ser entregue como pacote fechado, está à disposição no momento desejado de cada ouvinte. Menos relevante, porém não menos interessante, a palavra pode ser partida, em inglês, como I-media-to, abordagem que traria os conceitos da micromídia (I, eu), do jornalismo e da informação (media, mídia) e da orientação da programação (to, para) para o ouvinte, e não para o lucro. A sugestão foi de Filipe Speck. Para a elaboração do projeto editorial, levamos em conta 1) as características observadas nos diversos programas escutados; 2) as dicas e “lições” de podcasts que ensinam a produzir podcasts; 3) os dados apurados pelas PodPesquisa 2008 e 2009; e 4) o ranking do Prêmio Podcast 20087. Buscando termos como “podcast”, “podcast about podcasting”, “podcasting lessons” e afins, encontramos no Google uma série de programas, cuja sessão de links nos levou a ouO Prêmio Podcast 2009 estava com inscrições abertas, ou seja, ainda não estava concluído, por isso não foi usado como referência.

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tras tantas produções e assim fomos construindo as referências iniciais. É interessante observar que na busca por podcasts brasileiros, chegou-se a uma lista frequente de indicados, muitos dos quais constavam também no pódio do Prêmio Podcast 2008 (PP08). As observações usaram a rádio como parâmetro: elementos comuns e divergentes. Assim, notamos como era a abertura dos programas; as trilhas sonoras; presença, forma de uso ou ausência de música de fundo; tom e estilo de locução; número de participantes; uso, ou não, de efeitos sonoros; presença de entrevistas e/ou sonoras; tipo e licença de música executada; dentre outros. Também nos detivemos em questões bem pontuais, como por exemplo a referência ao convidado: na rádio, costuma-se usar expressões como “para você que ligou o rádio agora, estamos conversando com Déborah Salves, do Podcast Imediato”, para situar o ouvinte que sintonizou a estação após a apresentação do entrevistado; tal movimento é desnecessário no podcast. Ressaltamos que o rádio é usado como metáfora, enquanto objeto conhecido - e estudado, já que o podcast nunca entrou em sala. Mas a associação serve, também, de antireferência, à medida que observamos elementos novos, analisamo-los e construímos novas referências a partir deles. Bom exemplo disso são os links nos posts: o som não permite que se faça hiperlinks, mas estes são deslocados, então, para o site/post ou ID3tag8 do programa, de modo que o ouvinte possa consultar depois a fonte da informação dada. No rádio, à exceção do programas/comentários que têm sessão na página da emissora, a referência é feita no ar, mas o ouvinte não pode voltar para ouvi-la novamente, posteriormente ou vagarosamente, etc. 8 ID3tag é um arquivo incluído em outro arquivo - mais comumente, de áudio -, contendo informações a respeito do hospedeiro. No caso de um áudio em MP3, a ID3tag pode trazer dados como nome do artista ou do podcast, do álbum ou da temporada, da faixa ou do episódio, dos autores, comentários onde estariam, então, os links - e até a imagem de capa (artwork).

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2.2.1 Podcasts tutoriais Foram consultados três programas em estilo tutorial sobre como fazer um podcast: 1) Podcasting For Dummies, distribuído gratuitamente porém produzido como material de apoio aos livros Podcasting for Dummies e Expert Podcasting Practice for Dummies, de Evo Terra e Tee Morris; 2) School of Podcasting, também gratuito, embora integre o portal homônimo, onde se pode comprar aulas de podcast. O professor-apresentador é David Jackson, que colaborou também via Gtalk na fase de estruturação do projeto editorial; 3) Metacast, programa brasileiro produzido por Eduardo Sales, do Papo de Gordo, e Pablo de Assis, do NerdExpress. Apresenta conceitos, experiências e soluções, além de ter episódios dedicados exclusivamente às dúvidas dos ouvintes e indicar outros podcasts de referência. Foi o principal guia na fase de elaboração do Podcast Imediato - e Dudu Sales foi quase consultor durante a execução do trabalho, comentando erros e acertos que observava nos episódios, dando sugestões, tirando dúvidas e até debatendo conceitos da podosfera. 2.2.2 PodPesquisas e Prêmio Podcast As PodPesquisas de 2008 e 2009 também foram referência na elaboração do projeto editorial. A opinião dos ouvintes sobre hábitos de consumo de podcast e opiniões sobre formas ideais de produção e distribuição foram fatores considerados. Dentre os aspectos mais relevantes estão a indicação do tempo ideal - que, em 2009, ficou entre 30 minutos e uma hora e meia, duração associada ao tempo de deslocamento (entre casa e trabalho, por exemplo). A indicação de que a frequência de publicação desejada é semanal fez com que o Podcast Imediato adotasse tal perio28

dicidade. A atenção dispensada ao podcast, com mais de 80% dos entrevistados deste ano atestando alto grau ou atenção dividida com atividades que não necessitam concentração também pesaram na estruturação. As questões que identificaram os temas mais ouvidos e os considerados mais números na podosfera serviu de base na escolha das categorias abordadas pelo Podcast Imediato. Para esta escolha também utilizamos os temas premiados no PP08, já que o regulamento do concurso estipulava, à época da inscrição, que aqueles assuntos com poucos inscritos seriam desfeitos, e os podcasts a eles associados, redistribuídos. O Prêmio também foi utilizado, como explicamos na Introdução deste relatório, na seleção das fontes entrevistadas, como parâmetro dos podcasts mais bem aceitos pela podosfera brasileira.

2.3 Projeto editorial O Podcast Imediato, de caráter essencialmente experimental, foi concebido a partir destas observações iniciais, e com a premissa de adaptar-se ao contexto que fôssemos percebendo. É importante relembrar, antes de detalhar a estruturação do programa, que a formação recebida durante a graduação na UFSC em nenhum momento tratou da mídia podcast. Portanto, a elaboração deste trabalho partiu do zero: partiu justamente desta observação - empírica e despojada de preciosismos acadêmicos - dos programas disponíveis na rede. Cabe, ainda, ressaltar que os conhecimentos gerais adquiridos durantes as aulas serviram de parâmetros para a experimentação realizada. Mais que isso, os preceitos jornalísticos incorporados durante a graduação foram a linha-guia de todo o processo. O projeto editorial do Podcast Imediato estabeleceu, assim: 1) Abertura: trilha sonora composta por música específica Red Hot Boogie, de Mofessor, disponível para download no site Podsafe Audio e de livre utilização - com locução do nome do

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programa. A locução começa com “Alô, alô, ouvintes, está no ar o episódio número tal do Podcast Imediato”, seguida da introdução do(s) locutor(es) e do tema da semana. Segue-se a isso o anúncio dos entrevistados da vez. 2) Sessão de emails: roda entre a apresentação e a entrevista, com vinheta apenas na abertura e sem diferenciação na música de fundo. São lidos emails enviados ao programa ou aos apresentadores, comentários deixados no site do Imediato e, eventualmente, tweets e observações feitas em conversas instantâneas de texto com os locutores. 3) Entrevista: o entrevistado é introduzido pelo nome, podcast que produz e colocação no Prêmio Podcast 2008. A apresentação, no entanto, é o próprio podcaster quem faz, de modo que fique a seu critério selecionar as informações sobre si e seu programa que julgar relevantes. A conversa é pré-pautada, mas tem a liberdade de desviar-se, se os assuntos diversos abordados revelarem aspectos da produção do podcast, ou contexto que nela influencie. Os programas foram divididos por categoria - tecnologia, música, religião, etc - e o número de entrevistados pode variou de acordo com a disponibilidade destes. 4) Encerramento: a trilha sonora de abertura marca também o encerramento do programa, indo ao fundo enquanto são dadas as formas de contato com a equipe e incentiva-se o ouvinte a participar, opinar, sugerir e contribuir com o programa. Também é anunciado o tema do episódio seguinte, para que o debate possa ser construído anteriormente e com a participação da audiência - em vez de limitá-la a comentar o assunto, depois que o programa vai ao ar. Como canais de divulgação e contato com os ouvintes, foram criados o site e a conta no Twitter. Com identidade visual relacionada, as páginas informavam sobre novos episódios e avanços na produção do TCC, além de ampliar o debate sobre os

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temas de cada episódio e o discutir aspectos conceituais sobre o podcast enquanto micromídia.

2.4 Pré-roteiro Na estruturação do projeto editorial, detalhamos também o pré-roteiro do programa. O material funcionou como pauta, já que continha os motes da investigação. As perguntas, elaboradas de modo a interessarem podcasters, ouvintes em geral e profissionais da comunicação, foram construídas a partir de conceitos jornalísticos e/ou buscando investigar os aspectos que seriam relevantes na criação de um programa jornalístico deste gênero. Além de identificar as características comuns e divergentes entre podcasts de diferentes categorias, o questionário também buscou criar um banco de dados de problemas vivenciados e soluções encontradas pelos entrevistados, de modo a não apenas compartilhar a experiência, mas também sugerir soluções e apontar deficiências. Ainda, algumas perguntas relacionavam a produção do podcast com outros elementos da cibercultura, como redes sociais e interações presenciais, além da critica e das perspectivas de cada podcaster para a podosfera brasileira. Por um lado, a pauta era única: o pré-roteiro construído buscava avaliar os mesmos aspectos junto a diferentes produtores, de modo que se pudesse observar as congruências e divergências entre as diversas categorias do podcast, e as características comuns a todos - ou à maioria - dos programas. No entanto, na pauta, também, permitiu-se adaptações, de modo que a preparação para cada entrevista levantou aspectos que pareciam específico dos programas sobre o assunto da semana - como, por exemplo, o podcaster enquanto torcedor em um programa de esportes. Apesar das “divagações” fora do roteiro, as questões seguiam a mesma trilha, de investigação de aspectos predeterminados da produção de podcasts. É juntamente na delimitação destes aspectos e na elaboração das perguntas para pesquisa deles, que se aplicou o conhecimento jornalístico.

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Foi elaborado o seguinte pré-roteiro: 1) Qual é o seu podcast e como ele é? (apresentação) 2) Como surgiu a ideia de fazer podcast? Por que escolheu esse tema? Qual era o objetivo? 3) Quem participa? Como se encontraram? (são todos da mesma cidade? gravam pessoalmente ou por Skype?9 quais outros softwares usam?) 4) Desde quando o programa começou, o que deu certo? 5) E o que tentaram e não deu certo? Como é feito agora? (dificuldades e superações) 6) Qual a diferença entre o conteúdo do seu podcast sobre o tema e o que a grande mídia divulga sobre o mesmo assunto? 7) Qual a diferença entre o conteúdo de podcasts independentes e o conteúdo de podcasts produzidos pela grande mídia acerca do mesmo assunto? 8) Como divulgam o podcast? 9) Como é a receptividade do público? Atingiram as pessoas que esperavam atingir? O público tem crescido ou diversificado desde o inicio da produção? Como é o feedback? 10) Participam de redes sociais? Quais? Por quê? Qual a importância delas? 11) Têm interações na vida real? entre os membros da equipe, com o publico, com outros podcasters... 9

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Marca registrada. Produto desenvolvido por Skype Tecnologies S.A.

12) Como veem o cenário do podcast brasileiro? 13) O que o Prêmio Podcast 2008 representou? 14) Opinião sobre a PodPesquisa: divulgou? participou? 15) Desde quando ouve podcasts? quantos ouve? 16) Indicação de dois podcasts: um da mesma categoria e outro de qualquer categoria 17) Muita gente critica o podcast, por exemplo, pelo fato de não ser (necessariamente) feito por comunicadores. Como você recebe essas críticas?

2.5 Podcast e processo produtivo do jornalismo Dentre os diversos aspectos que envolvem a produção de um podcast, desde idealização até publicação e divulgação, escolhemos os que pareciam ser coincidentes aos do processo produtivo do jornalismo. Assim, investigamos as características necessárias de se conhecer para a elaboração de um podcast jornalístico. Inicialmente, o usuário precisa criar o podcast, definindo tema, forma de tratamento do mesmo, duração, formato, dentre outros. Estes fatores dependerão do objetivo do podcaster com seu programa. Traçando o paralelo com o jornalismo, pode-se entender que nele as definições seriam sobre a área geográfica de alcance da publicação, a classe social do público alvo, as editorias do produto, etc - ou seja, o projeto editorial. De posse deste contorno, passa-se ao preenchimento dos espaços definidos, tarefa que pode ser executada por um ou mais profissionais/podcasters, em prazo determinado, seguindo rotina convencionada. No podcast, as diferenças na produção começam na divisão de tarefas, horizontalizada, uma vez que 33

- de modo geral - a equipe não é composta de profissionais específicos de nenhuma área. Também a pressão do deadline e da rotina operam de forma diferenciada. As entrevistas realizadas ao longo do trabalho, e publicadas nos episódios do Imediato, buscavam na experiência dos podcasters, e em suas considerações, os traços que delineariam o cenário da podosfera brasileira. No desenho, encontramos riscos trêmulos e fora de lugar, que com paciência e prática são realinhados para compor a imagem desejada. As dificuldades e os erros, as tentativas frustradas e bem sucedidas de superar os obstáculos, como outros detalhes da história, servem de exemplo do que deve ser evitado e o que pode ser reproduzido. Ressaltamos: a criatividade e a originalidade continuam sendo diferencias para qualquer produto - jornalístico ou não -, não sugerimos aqui a cópia de modelos, mas a observação dos contextos que embasam escolhas, de modo a fazer outras próprias e adaptáveis/adaptadas. Os meandros deste desenvolvimento, questionados espontaneamente de acordo com a pré-apuração sobre cada tema e com o desenrolar da conversa no momento da entrevista, deixam em relevo as especificidades e os traços comuns entre os podcasts de diferentes categorias. Há outro aspecto relevante sobre o podcast, no que diz respeito ao seu contexto: produto da cibercultura, a micromídia estudada se cruza com outras produtos hipermídia, como as redes sociais e os blogs, por exemplo. Mais que isso, o podcast incorpora essas tecnologias e as re-significa. Por isso, atentamos muito a estas relações: as corporações de mídia de massa ainda engatinham na utilização das tecnologias disseminadas entre o público da internet, e no Brasil parecem sempre um passo atrás, aderindo apenas ao que se já se provou popular. Assim, entendemos que os podcasters, integrantes dessa massa de internautas já acostumada às mudanças de paisagem, tenham muito a ensinar aos grandes conglomerados, especificamente no que diz respeito ao podcast. Mais que isso, sendo o podcast também

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parte das evoluções facilitadas pela rede, ele se desenvolve com ela, se reinventa a partir dela, abre espaço à criatividade e à atividade das “pessoas comuns”, de modo que qualquer podcaster tenha muito a agregar - dando ou recebendo - no tocante a essas inter-relações. Destacamos aqui o interesse pelo ponto de vista dos produtores sobre a cobertura dos produtos massivos acerca dos temas trabalhados por eles em seus podcasts. O que diferencia um do outro? No princípio da internet, os textos das mídias impressas eram transpostos para a rede, até que percebeu a diferença de linguagem, público, utilização, etc do novo suporte. Da mesma forma, o podcast também tem especificidades que atraem o público, e é interessante conhecer estar particularidades na hora de lançar um novo programa no ar. Além disso, notamos que a podosfera, enquanto rede social, é um ambiente altamente colaborativo, embora muitas vezes também altamente seccionado, e levar em conta as opiniões dos podcasters já atuantes é importante para estabelecer com eles uma boa relação - tanto no caso de interesses unilaterais, quanto quando o objetivo é de fato a troca mútua. Cabe explicarmos, ainda, por que questionamos os entrevistados sobre o que pensavam acerca da PodPesquisa e do Prêmio Podcast. O motivo principal desta pergunta está na (auto) avaliação dos parâmetros adotados pelo Imediato para começar a entender a podosfera, antes de estar de fato dentro dela. Embora, por exemplo, a PodPesquisa 2009 tenha apresentado crescimento de aproximadamente 570% em relação ao censo do ano anterior - saltando de 436 para 2.487 participantes -, talvez a amostragem não fosse considerada numerosa o bastante, ou talvez as perguntas não refletissem as reais preocupações dos produtores de conteúdo da podosfera, ou ainda, quem sabe, as expectativas tivessem sido superadas, talvez o resultado tivesse alterado a forma de produção, e assim por diante. Além disso, conhecer a opinião sobre as ações já realizadas para investigar

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o podcast também serve de referência para pesquisas futuras - como a descrita neste relatório -, por mais que os interesses sejam distintos. Finalmente, pedimos aos entrevistados que indicassem outros programas. Considerando a quantidade de podcasters com quem conversaríamos ao longo da pesquisa, cerca de no máximo 30 pessoas -, entendemos que o estudo tinha caráter amostral, e que agregar outras referências seria válido. Escolhemos conversar com os produtores que a podosfera já teria atestado como bem sucedidos (concedendo-lhes prêmio), assumindo que a opinião destes podcasters era, também, gabaritada para indicar podcasts interessantes. As indicações servem, portanto, aos ouvintes, que podem conhecer outros programas “bons”, aos podcasters iniciantes, que ampliam suas referências, e de forma retro-alimentada a esta mesma pesquisa, que amplia o escopo de referências para as entrevistas subsequentes.

2.6 Fontes, entrevistados e pré-apuração Descrevemos, anteriormente, quais aspectos e dados foram usados para definir o projeto editorial do Podcast Imediato, estruturado, então, como programa de entrevistas. Definimos que os entrevistados seriam os produtores que chegaram ao pódio do Prêmio Podcast 2008. Mas isso não os tornava a única fonte de informação da entrevista. De acordo com o estudado ao longo da graduação em Jornalismo, é necessário coletar dados, repertório para desviar a entrevista de seu foco inicial caso oportuno, aprofundar um aspecto quando necessário, identificar os tópicos menos e mais relevantes para a seleção do que será posteriormente publicado. Para garantir tempo hábil de preparação das entrevistas, definimos os temas abordados e a ordem dos programas. Escolhemos: tecnologia, entretenimento, esportes, negócios, música, religião, cinema e notícias. Tecnologia por ser o terceiro conte-

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údo mais escutado (51,03%) e mais proeminente na podosfera (85,45%), segundo dados da PodPesquisa 2009, além de ter relação direta com o contexto em que nasceu o podcast. Entretenimento por considerarmos a categoria bastante abrangente - cinema e música poderiam ser aí incluídos, por exemplo - e pelo entendimento dos que desconhecem a mídia de que qualquer programa teria esse fim, já que não é desenvolvido por profissionais da comunicação. Esportes, como religião, são temas que naturalmente seccionam o público, embora tenhamos percebido que os ouvintes de podcast são naturalmente direcionados a nichos (mesmo pela especificidade que a micromídia permite). Música e cinema vêm sofrendo mudanças, no cenário econômico, com o advento da internet e a possibilidade de compartilhamento de arquivos, que inclui pirataria e venda online; também, do ponto de vista da cultura, são manifestações que influenciam e são influenciadas fortemente por outras formas de artes da, na e para a rede. A categoria de negócios, nona mais escutada (14,23%) e considerada pouco explorada na podosfera (81,44%), foi selecionada pela sua relação com a economia e, do ponto de vista da utilização do podcast pelos meios de massa, por representar a possibilidade de gerar capital com o produto. Os programas de notícias entraram na lista, além do interesse jornalístico óbvio, por contrapôr o argumento frequente de que podcasts de notícia não funcionam por serem datados, e que o tema seria então inapropriado, uma vez que os episódios ficam disponíveis na rede para serem escutados muito tempo depois de sua publicação. Somando-se aos fatores explicados acima, identificamos nos temas escolhidos assuntos frequentemente divididos em editorias nos produtos jornalísticos tradicionais: cultura, informática, esportes, economia. A ordenação dos assuntos se deu, principalmente, de forma a alternar estes “cadernos” percebidos, e também alternar os programas que lidavam com hardnews e com fait divers.

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Com o cronograma em mãos, houve tempo para pré-apuração das entrevistas. O processo começava com a revisão dos fichamentos da literatura específica, consultada no início de 2009. Procedíamos, também, à consulta aos principais diretórios de podcast - já citados -, em busca de dados sobre quantos programas da categoria em questão existiam e, eventualmente, quais as subcategorias apresentadas. Nos diretórios, e nas listas de indicados dos sites dos entrevistados, encontrávamos outros programas sobre o tema, consultados para observar aspectos e tentar identificar, bem empírica e superficialmente, possíveis tendências da categoria, ou possíveis inovações passíveis de investigação. Vale lembrar, mais uma vez, que a pesquisa desenvolvida tinha caráter amostral, uma vez que a gama de possibilidades abertas e exploradas - e por explorar - do podcast enquanto mídia e enquanto linguagem não caberiam em nenhum trabalho acadêmico único; ainda assim, buscamos levantar pontos que possam ser futuramente estudados, ainda que cada um isoladamente em diferentes investigações. Além da bibliografia e de programas “aleatórios” incluídos na categoria de cada programa, procedemos à escuta dos programas participantes na data. Além dos dois episódios mais recentes, ouvíamos também os dois primeiros, em busca da evolução e de possíveis mudanças na estrutura - a experiência leva a adaptações, e não percamos de vista que o Imediato também é um podcast, enquanto “estrutura” passível de alterações e incorporações de boas ideias. Olhando os arquivos, também verificávamos, no caso de programas com site/blog, como era a publicação dos episódios, que descrições eram (se eram) dadas, tipo de linguagem, interações com ouvintes, dentre outros. Também buscando entender melhor a abordagem do programa, acompanhávamos os twitters dos entrevistados e, quando existiam, dos programas. Nesta parte, como detalharemos adiante, obtivemos muitas informações sobre o contexto de produção, a

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tendência de linguagem e de temas, o grau e o tipo de interatividade com ouvintes e outros membros da podosfera, o tipo de divulgação, a influência da atividade profissional, etc. Por último, consultávamos veículos de comunicação de massa e o que publicavam sobre o tema da entrevista, procurando observar diferenças e semelhanças de abordagem, linguagem, seleção de assuntos, frequência, dentre outros. Também observávamos eventuais novidades sobre a questão, sempre com vistas a direcionar o pré-roteiro para as especificidades dos programas em pauta, de modo a identificar mais e melhor os aspectos investigados. Cabe destacar que as entrevistas, ou trechos delas, muitas vezes se desviaram do programado no pré-roteiro ou com a préapuração.

2.7 Podcasts de... Titulamos cada episódio do podcast com o tema abordado, seguindo o padrão “Podcasts de [nome da categoria]”. Acreditamos que desta forma esclarecemos, de imediato, o assunto da semana, e reforçamos que o programa não era sobre o tema da categoria, e sim sobre a produção de podcasts sobre o tema da categoria. Ainda assim, na conversa sobre programas de religião, achamos pertinente explicitar este aspecto, colocando na locução e no post do episódio a observação de que o assunto não era religião e sim podcasts de religião. Sabíamos, de antemão, quem seriam os entrevistados. Nos sites - ou, às vezes, ouvindo os programas -, conseguíamos os contatos da equipe. Em alguns momentos, tivemos o email do podcast, em outros, do portal em que estava hospedado; em alguns casos, usamos os formulários de contato das páginas; por vezes, tínhamos o(s) endereço(s) eletrônico(s) do(s) produtor(es), mas em alguns casos foi preciso tuitar para ele(s) ou para o progra-

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ma para fazer o convite à entrevista. Os emails, para não serem confundidos com spam, foram enviados do endereço pessoal, em vez de pela conta [email protected]. O texto tinha um padrão, adaptado a cada entrevistado, ou grupo de entrevistados. Experimentamos escrever separadamente para cada programa, e conjuntamente aos três ou quatro convidados da semana. Na mensagem, identificávamos o objetivo do Podcast Imediato, sua ligação com o Trabalho de Conclusão de Curso e a faculdade a que este último estava vinculado, e a data prevista para a publicação do programa já editado, bem como os horários de indisponibilidade de nossa equipe para gravação10. Quando a primeira resposta com possibilidade de agenda de um convidado chegava, repassávamos a informação para os demais convidados, já buscando um momento comum ao maior número possível de podcasters. No entanto, destacávamos que a impossibilidade de fazer a gravação no mesmo momento não inviabilizava a realização da entrevista, que poderia ser montada com a(s) outra(s), ou tocada separadamente. Marcados data(s) e o horário(s), enviávamos email confirmando e repassávamos os nome de usuário no Skype - dos dois apresentadores e do Podcast Imediato.

10 No primeiro contato, tentou-se marcar as conversas para horários em que ambos os apresentadores pudessem estar presentes. No entando, devido às agendas de cada e também dos entrevistados, algumas isso não foi possível.

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3. Dificuldades, superações e aprendizados Até o momento da execução do primeiro podcast, os aspectos técnicos da atividade haviam sido razoavelmente deixados de lado, uma vez que, genericamente falando, “edição de áudio” é sempre edição de áudio, independente de ser rádio, podcast ou outra mídia. Durante a graduação, nas disciplinas relacionadas ao radiojornalismo, a edição de áudio era prática frequente e dominada. Portanto, a atenção do trabalho até esse ponto voltou-se inteiramente para outros aspectos - embora não tenhamos desprezado as dicas do Metacast ou do Podcasting For Dummies sobre o assunto. Mas foi justamente na parte técnica que encontramos barreiras. Muitas facilmente resolvidas, como realizar conversa com mais de um interlocutor no Skype. Para as gravações, decidimos utilizar o programa Tapur, disponível nas versões inglês e japonês, que grava até 60 minutos de conversa e tem licença livre. O software tem opção de gravar áudio de entrada e saída, só entrada, ou só saída. Optamos por gravar, no computador host (que convida as pessoas à conversa), a entrada e a saída, e no computador backup, apenas a entrada, de modo que possíveis problemas na fala dos apresentadores não prejudicasse as respostas dos entrevistados, afinal os locutores poderiam regravar seu áudio, enquanto os convidados não poderiam repetir suas posições - ao menos, não da forma espontânea como o fizeram da primeira vez. Para equalização do áudio usamos o Audacity, programa de edição também gratuito e indicado pela maioria dos podcasters para tal finalidade. Com o arquivo balanceado, passávamos à

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edição em outro programa - que preferimos não revelar por se tratar de cópia pirata. Cabe destacar, aqui, que além de ser ilegal fazer uso de cópia não registrada de um programa com direitos de propriedade, pode-se considerar ideologicamente incoerente fazê-lo para a edição de um podcast, mídia que, como veremos nas conclusões deste relatório, carrega em si um conceito implícito de anarquia e libertação das grandes corporações. No entanto, foi no programa em questão que aprendemos a editar durante o curso de Jornalismo da UFSC, e não havia tempo hábil para reaprendermos todos os recursos de que necessitávamos em um novo programa - no caso, o Audacity. De fato, até o quarto episódio, não conseguimos separar no Audacity as duas faixas do áudio stereo gravado no Tapur. Além de atrasar a edição - o mesmo arquivo era editado uma vez para as perguntas e outra para as respostas, separadamente -, isso prejudicava a qualidade do áudio, uma vez que não tínhamos como remover os ruídos em nossa faixa, para deixar a do entrevistado mais clara. Quem ajudou a resolver essa questão foi Marco Amaral, do QGNet Podcast, ao ensinar como desvincular as duas faixas. A partir daí, pudemos “limpar” as falas dos convidados, e editar os dois áudios distintamente. Outra dificuldade, anterior, que prejudicou muito a qualidade da edição nos primeiros programas, foi a gravação em si. Ou melhor, a não gravação. O Tapur mostrava o marcador de tempo avançando junto com o a entrevista, mas no momento em que desligávamos com o entrevistado, o áudio sumia. Na primeira vez em que isso aconteceu, durante a conversa para o episódio sobre podcasts de entretenimento, tivemos a sorte de ter o backup do mesmo Marco Amaral que nos ajudou mais tarde. Foi ele quem se ofereceu para gravar outra cópia da conversa, por garantia, e que nos enviou o áudio para podermos colocar o programa no ar. A partir desta experiência, passamos a pedir, sempre que possível, que o entrevistado também mantivesse cópia do arquivo. Em duas outras ocasiões foi esta terceira cópia que

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usamos na edição do programa, porque as nossas duas estavam com problemas ou simplesmente não estavam gravadas. Em um meio de caminho entre gravação e edição, ficamos desconfortáveis em relação à abertura e ao encerramento do programa, que nos primeiros episódios eram gravados apenas na hora da edição, em vez de na hora da entrevista. A princípio, acabamos deixando apenas uma voz para a abertura, mas notamos que ficava pouco dinâmico. Passamos então a gravar as vozes dos dois locutores, mas no momento da edição, quando às vezes já havia passado algum tempo da entrevista, e o texto soava ligeiramente desconexo da conversa que o seguia. Do quarto episódio em diante passamos a gravar a abertura logo após a entrevista, de modo que ainda conseguíamos imprimir continuidade entre o que falávamos no início do programa e o áudio que entrava na sequência. Sobre a fala dos locutores, precisamos adaptar a forma de gravação. No episódio de estreia, o texto foi feito de improviso, e a locução ficou muito rápida. No programa seguinte, a conselho da professora Raquel Longhi, experimentamos escrever o roteiro, como é comum em programas de rádio gravados. O resultado apresentou melhora expressiva, porém mais no que diz respeito à coerência - e coesão - das ideias que em relação à velocidade da fala em si. Também notamos certa rapidez na perguntas e comentários feitos durante as entrevistas, e procuramos controlar o fato, apesar de esta parte do programa não ser roteirizada. Tivemos melhoras, mas ainda haveria um caminho a percorrer, nesse sentido. Por causa da edição, processo que demorou entre 12 e 18 horas, alguns programas gravados na véspera do lançamento acabaram saindo atrasados. Buscamos resolver isso convidando os entrevistados com mais antecedência, mas nem sempre a agenda deles permitia que a gravação fosse feita antes de sexta ou sábado, para publicação do programa no domingo.

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Gravar e editar o áudio não foi o único problema técnico que enfrentamos. Dominar as tecnologias que fazem parte do podcast foi uma dificuldade superada aos poucos, primeiro aprendendo a utilizar o iTunes para alterar as informações da ID3tag; depois o Mevio, para disponibilizar os arquivos na rede e criar o link para o feed; o feed em si; o player no final do post. Estas, dentre outras ferramentas, foram sendo conhecidas ao longo do processo, e entendidas, muitas vezes, com a ajuda de outros podcasters, fossem entrevistados ou não. Cabe destacar que, da mesma forma que o Imediato era uma maneira de externar e experimentar o conhecimento adquirido durante a pesquisa, achamos válido comentar as dificuldades e superações no blog, dividindo o aprendizado com os ouvintes. Assim, criamos um tópico “Dê sua opinião”, no post de apoio do programa, em que brevemente comentávamos o que tinha dado certo e o que tinha dado errado na semana de gravação do episódio em questão. Também fizemos alguns posts informando sobre superações, como o de quando criamos o feed e quando cadastramos o programa em um diretório. Também avisamos sobre a mudança da data de lançamento dos episódio, de sexta-feira, ideia inicial, para domingo, devido ao tempo disponível para edição.

3.1 Aprendizados Talvez fosse possível dividir os aprendizados do TCC aqui relatado em dois grupos: aprendizado de jornalismo tradicional, e aprendizado de novas mídias. Isso porque um dos pontos mais interessantes sobre o trabalho foi a oportunidade de usar os conhecimentos adquiridos enquanto conhecimento, passível de adaptar-se a novas circunstâncias, ampliar-se e reconfigurar-se; e não apenas como conjunto de fórmulas ultrapassadas, específicas e pouco interativas para exercer determinada atividade. Antes de mais nada, o Podcast Imediato foi uma desconstrução de hábitos, ideias e formatos. Desconstrução do que pare-

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cia ser a única forma de fazer jornalismo, desconstrução do que parecia ser a interatividade no jornalismo, desconstrução até do conceito de jornalismo. Na Wikipédia, o verbete Jornalismo é definido como “a atividade profissional que consiste em lidar com notícias, dados factuais e divulgação de informações. Também define-se o Jornalismo como a prática de coletar, redigir, editar e publicar informações sobre eventos atuais. Jornalismo é uma atividade de Comunicação.”11 Aí percebe-se a primeira desconstrução e o primeiro aprendizado deste TCC: a comunicação não é privilégio exclusivo dos profissionais da mídia, e não pressupõe os conhecimentos destes para ser bem feita e ética. Disso, partimos para a o processo produtivo. Note-se que não desconsideramos, aqui, a formação recebida. Ela foi útil e, de fato, basilar na execução desde Trabalho. Mas se mostrou um instrumento a mais para ao exercício profissional, uma facilidade na hora de lidar com determinadas situações. Assim, por exemplo, a pré-apuração foi um processo com o qual não tivemos problemas, pois faz parte da rotina profissional que aprendemos e que vivemos há pelo menos cinco anos. A preparação da pauta também não apresentou grandes dificuldades, uma vez que sabíamos de antemão quais aspectos gostaríamos de abordar. Mas mesmo nestas duas etapas que citamos existem diferenças entre o que aprendemos dentro na universidade, voltados para o mercado de mídia massiva, e a prática realizada. Podemos começar falando sobre as fontes de informação, que não estavam, majoritariamente, nas páginas do jornais, nem estavam nos últimos acontecimentos divulgados pela grande mídia. Na pré-apuração, nossa principal fonte de consulta foram outros podcasts, foram episódios - antigos e que nada têm de Disponível online em http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornalismo Acesso em 22/11/2009.

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factual - dos programas em pauta. O formato da informação, em decorrência disso, também foi diferente, uma vez que estamos habituados a encontrar dados em veículos de mídia escrita, ou no máximo televisa, mas raramente em áudio - talvez porque a rádio é o principal meio que utiliza este suporte, e ela não costuma guardar arquivos, ou não de forma consultável. O contato com as fontes representou, também, uma desconstrução, pois ao contrário do formalismo tradicional das mídias de massa, no podcast a proximidade é o que marca as relações, tanto com os ouvintes como com os convidados. Além dos emails, que permitiam explicações em linguagem mais coloquial, a presença do Twitter se fez relevante e extremamente útil, como mencionaremos mais adiante. Vale comentar, ainda, que a proximidade com a fonte vai além de simplesmente usar o pronome de tratamento “você”, já que a pré-apuração - ou, no caso do mero ouvinte, a escuta regular - mostra um pouco sobre a personalidade dos podcasters, deixa ver aspectos de suas vidas pessoais e profissionais. Juntando-se a isso o humor presente na maioria dos programas, a proximidade - sem que represente intimidade ou invasão - permite brincadeiras, referências externas ao assunto em pauta, desvios e voltas, dentre outros. Ainda no que diz respeito às relações interpessoais, a interação com os ouvintes representou grande crescimento. Primeiro, porque durante a graduação não nos ensinam como lidar com o público, como trabalhar com o material oferecido ou avaliar o feedback - talvez por se considerar que isso não se aprende em sala de aula. Na prática, tivemos a oportunidade de conviver um pouco com essas questões, email de sugestão de pauta, eventualmente um elogio, etc. Mas jamais de uma forma tão “massiva” como durante a execução deste TCC. Até mesmo a questão de dar atenção aos retornos do público. Com o Imediato, pelo menos três vezes por dia tínhamos a preocupação de visitar a área de comentários do site para ver se havia mensagens para serem liberadas. Procurávamos dar voz a todas as pessoas que entravam contato,

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mesmo as que faziam comentários em nossos twitters pessoais ou em janelas de bate-papo instantâneo. Tomamos o cuidado de responder todos os emails recebidos, agradecendo os elogios, explicando os problemas, e elucidando eventuais dúvidas. Também observamos alguns comentários para identificar tendências de interesse que pudessem ampliar a pré-pauta, ou mesmo diversificar a conversa em relação a pontos específicos identificados. Sobre o público, notamos que no podcast ele parece ter um papel diferente. É como se cada ouvinte pudesse ser isolado e percebido como um, diferente da grande mídia em que a audiência é uma massa amorfa. No rádio, como na televisão, no impresso, o trabalho é feito independente do público alvo, pressupondo que existe uma audiência receptora. Já no podcast é preciso conquistar os ouvintes, e a partir daí, dos comentários, das estatísticas de acesso e download, é necessário ver esse público, tanto para que haja estímulo na continuação do trabalho, quanto para balizar a qualidade deste. Finalmente, a intervenção do ouvinte ajuda a desenvolver um produto que realmente atinja seu objetivo, repassando as informações mais relevantes ao público a que se destinam, e gerando a partir disso uma reação, seja de que tipo for. O processo comunicativo se desenrola de forma mais natural, eficiente e democrática do que no jornalismo tradicional. Não podíamos deixar de mencionar a questão da ética profissional. Uma das principais questões levantadas sobre o podcast é a possível falta de ética advinda da falta de conhecimento do código da profissão, e também da falta de regulamentação do produto, passível de ser desenvolvido por qualquer pessoa com um microfone e uma conexão à internet. De fato, a ética jornalística parece ser uma das bandeiras dos defensores da obrigatoriedade do diploma em Jornalismo. No entanto, aprendemos ao longo deste TCC que a ética profissional do jornalista em muito se aproxima à ética das outras profissões, uma vez que os entrevistados - fossem eles analista de sistemas, dentista, farmacêuti-

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ca, publicitário ou engenheiro, dentre outros - manifestavam as mesmas posições em relação a questões éticas que se esperaria de um profissional da comunicação social. Mais que isso, embora a afirmação a seguir seja uma opinião, nota-se uma preocupação maior com a qualidade do conteúdo apresentado, da veracidade e, acima de tudo, da transparência. Característica atribuída por alguns convidados à liberdade editorial do podcast, a sinceridade parece ser, justamente, o que confere credibilidade a este produto. Uma exemplo desta observação na prática são os episódios #03 e #08, em que entrevistas feitas em momentos separados foram mixadas de forma cruzada, dando a impressão de terem sido feitas no mesmo instante. No jornalismo tradicional, a união das sonoras desta forma seria considerada antiética, por deformar as condições originais de captação do áudio. No entanto, resolvemos o problema explicando, na abertura do programa, que as conversas não haviam sido simultâneas, mas montadas para que houvesse coerência entre os assuntos. Dessa forma, o ouvinte não se sente lesado, e o conteúdo continua sendo passado adiante.

3.2 Filipe Speck e Nanni Rios No processo de elaboração do projeto e de estruturação e execução deste TCC duas pessoas tiveram participação essencial: os jornalistas Nanni Rios e Filipe Speck. Nanni Rios construiu o site do Podcast Imediato, ofereceu seu servidor para hospedá-lo, cuidou de sua atualização, resolveu os problemas surgidos com o provedor. Foi ela quem levantou a questão da licença Creative Commons12 do site e Segundo a Wikipédia, “Creative Commons (tradução literal:criação comum também conhecido pela sigla CC) pode denominar tanto um conjunto de licenças padronizadas para gestão aberta, livre e compartilhada de conteúdos e informação (copyleft), quanto a homônima organização sem fins lucrativos norte-americana que os redigiu e mantém a atualização e discussão a respeito delas.” Disponível online em http://pt.wikipedia.org/wiki/Creative_commons Acesso em 22/11/2009. 12

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preparou o material para padronizar a identidade visual na página e no Twitter, além de ajudar a checar o site para liberação de comentários. Também colaborou com referências bibliográficas e ofereceu outros pontos de vista para pensarmos algumas questões sobre o programa. Filipe Speck foi ainda mais presente durante o processo. No primeiro semestre de 2009, enquanto realizava o seu TCC - uma das referências do presente trabalho -, dividiu ideias, sugeriu bibliografias, questionou posições teóricas. Algumas questões aqui levantadas, como o podcast enquanto rede social, e a opinião dos entrevistados sobre as críticas ao podcast, foram ideias dele. Sua experiência com pesquisa balanceou o foco na prática, enquanto o projeto era desenvolvido, e durante a execução do trabalho deixou sempre à vista os conceitos e questionamentos. Na estruturação do Podcast Imediato, além de sugerir o nome, Filipe Speck ajudou a pensar a organização - uma categoria por episódio - e o formato do programa. Neste ponto, quando o volume de informações abria tantas possibilidades que ficava difícil estruturá-las de forma coerente, a visão de fora, de alguém que não está soterrado no tema e consegue ainda distinguir as linhas guia do assunto, foi crucial para identificar os principais pontos deste projeto e conectá-los. Como co-apresentador, Filipe Speck contribuiu para o dinamismo do programa, e ajudou a imprimir o ritmo do podcast. Além de aprender junto e discutir avanços, falhas e possibilidades de cada episódio, esteve à disposição nos horários e dias mais esdrúxulos para alguém que já terminou a graduação. Durante as entrevistas, desempenhou papel essencial, fazendo perguntas bem sacadas e que ampliavam o alcance da conversa. O background de sua formação trouxe outra luz para o programa, que em muitos casos talvez tivesse ficado preso ao pré-roteiro.

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Além do jornalista Speck, o amigo Filipe se fez muito presente, contribuindo, em última instância, com apoio emocional. A amiga Nanni também foi essencial nesta parte. O Podcast Imediato existiria sem os dois? Com certeza. Mas com certeza seria completamente diferente do que é. E, particularmente, estou muito satisfeita com o que o programa é, com o retorno e o reconhecimento que tivemos, com o trabalho desenvolvido e tudo o que aprendemos. E com a perspectiva de tudo que ainda vamos aprender.

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4 Conclusões Primo (2005:6) destaca que o podcast, assim como o blog, preenche uma parcela da expectativa de democratização da comunicação que se tem da rede. De fato, a possibilidade de dar vez e voz a membros da sociedade e temas que não costumam figurar nas produções da mídia tradicional foi um dos atrativos do podcast na escolha do assunto deste TCC. A interatividade entre ouvinte e podcaster, e entre os ouvintes, proporciona também a inclusão da audiência tradicionalmente alijada do processo de construção das mídias que consome. Além disso, a portabilidade do podcast demonstrou seu potencial como nova mídia, em um fim de década marcado pelos avanços tecnológicos dos equipamentos sem fio - tocadores de arquivos digitais, celulares, PDAs. Ainda, a forte relação com redes sociais, e a percepção da podosfera enquanto, ela mesma, uma rede social, foram fatores que colocaram o podcast como tema vasto para investigação acadêmica. Finalmente, o potencial informativo da micromídia completou o interesse na exploração jornalística do tema. Ao longo dos oito meses decorridos desde a revisão bibliográfica, uma série de perguntas surgiu. A maioria, no entanto, não teve respostas fechadas ou coincidentes. Ainda assim, da leitura, observação, entrevista e prática, pudemos levantar uma série de aspectos sobre a podosfera brasileira e o processo produtivo do podcast no país. O que citaremos a seguir deve ser entendido como um conjunto de dados de caráter amostral, que não fecha a discussão aqui. São apenas

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a ponta do iceberg, e merecem estudo quantitativo e aprofundado. Nosso objetivo era traçar o contorno da podosfera brasileira a partir destes pontos. Preencher a imagem que delineamos é um passo seguinte. As conclusões apresentadas neste trabalho não aparecem em números ou porcentagens, justamente pelo fato de termos conversado com apenas 17 podcasters, representantes de 14 programas diferentes. Ressaltamos que as entrevistas foram um debate, onde o “sim” vinha seguido do “mas”, o “não” acompanhava uma ponderação e o “depende” abria a discussão.

4.1 Partindo do zero Todos os entrevistados afirmaram ter tido a ideia de fazer podcast após ouvir um programa que consideraram interessante. Entre os que mal conheciam as possibilidades da mídia, os que passaram a apreciar após um certo tempo, os que foram ouvintes muito antes de serem locutores, a vontade de falar sobre tema que gostavam e/ou que entendiam, e o descompromisso com retorno financeiro ou fama foram os primeiros fatores a emergir. A necessidade de comunicar, através de processo divertido para ambas as partes, foi a força motriz do primeiro passo destes podcasters. O caráter experimental da mídia é a segunda característica que surge, já que todos comentaram sobre as diferenças entre o primeiro programa - se em fins de 2004 ou meio de 2008 - e os episódios atuais. A experiência, destacam, faz toda a diferença, aprende-se a editar, cria-se repertório de possibilidades. Mas o formato do podcast é maleável, permite inclusão e exclusão de quadros, permite edições especiais que em nada se parecem com os programas habituais. Os convidados usaram, mais de uma vez, frases como “vamos ver como fica”, ou “vamos ver no que vai dar”, quando descrevendo a sensação de fazer o primeiro programa.

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Apesar de despretensão inicial, os podcasters tinham objetivos, ainda que talvez não muito claros. Entre se divertir ou divertir o outro, ampliar o debate, aumentar a circulação de determinado tipo de informações, experimentar a produção de algo que é bom consumir, as intenções variavam. A função do podcast não é fixa, nem é exclusiva, não precisa ser necessariamente informativa, nem humorística, e nada impede que seja as duas, transmitindo conhecimento de forma divertida. O importante, destacam, é criar a identidade do programa.

4.2 Formato do programa No episódio especial #1, Eddie Silva, uma dos pioneiros no podcast brasileiro, comenta que se pode dividir a história da podosfera verde-amarela em dois momentos: pré e pós-Nerdcast. Nerdcast é o podcast produzido por Alexandre Ottoni e Deive Pazos, como parte do conteúdo do Jovem Nerd - vencedor do prêmio VMB 2009 da MTV como Melhor Blog do ano. Não houve um único entrevistado que não mencionasse o programa durante a entrevista, como inspiração, como modelo, como antimodelo para se fazer diferente, como sucesso empresarial, enfim. Independente de concordar ou não com a opinião de Eddie Silva, os convidados mencionam que o Nerdcast é o principal exemplo utilizado pelos iniciantes, que reproduzem o estilo do programa e, muitas vezes, identificam o podcast de Ottoni e Pazos como modelo único do produto, depreciando podcasts diferentes ou apenas inibindo a própria criatividade para variar o exemplo. Apesar do papel que desempenha na podosfera, no entanto, o Nerdcast não representa um formato fechado a ser aplicado por todos os produtores, alertam. Vejamos algumas possibilidades. Alguns programas iniciam com trilha de abertura, nome do podcast e depois apresentação dos locutores; outros têm ape-

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nas trilha e apresentação; alguns não têm trilha, iniciando diretamente com a introdução dos participantes; dentre outras formas. Apesar de não haver padrão, percebemos que existe uma abertura, enquanto momento em que se identifica que está começando o episódio. Na trilha sonora também notamos diferenças. Alguns programas preferem só colocar músicas quando não há locução; outros, marcam a passagem de blocos, apenas; a maioria, no entanto, parece manter a música no fundo da voz dos apresentadores. Percebemos - e utilizamos no Imediato - a utilização da trilha como vírgula sonora, ou seja, subindo-lhe o volume e usando-a como marcação para a troca de assunto. Embora alguns podcasters manifestem que este recurso deve ser usado para identificar grandes trocas de assunto, no Imediato utilizamos para marcar os diferentes sub-tópicos de que tratávamos. Cabe destacar que muitos programas usam as músicas disponíveis gratuitamente em sites como o Podsafe Audio, mas é comum também a utilização de trilha com direito autoral. No entanto, à parte os entrevistados que confirmaram filiação à ABPod - a ao convênio desta com ECAD, para que podcasters possam usar essas canções -, não há como saber se os programas utilizam esses áudios pagando (ou não) direitos autorais. A questão, aliás, é controversa, uma vez que muitos produtores consideram, apesar do valor diferenciado acordado pelo ECAD com a ABPod, que a regra não se aplica a podcasts. Não entraremos neste mérito. Chama a atenção também o uso de vinhetas no podcasts, marcando às vezes o início dos blocos, às vezes também o seu final. Os efeitos de distorção de áudio como eco, a slow motion são recorrentes. Sobre efeitos, é válido notar que muitos programas usam estes recursos sonoros para marcar momentos específicos, como piadas sem graça, comentários que um mesmo integrante da equipe costuma repetir, ou até referências a determinado

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assunto - como a “voz” de Darth Vader quando se fala de Star Wars, por exemplo. Em determinados casos, são reproduzidos trechos (sonoros) de filmes ou outros materiais em áudio. Percebemos, na grande maioria dos podcasts, uma sessão para leitura de comentários e emails, em alguns casos mais curta e em outros mais longa. Alguns podcasters fazem brincadeiras com as mensagens recebidas. Notamos também, ainda no tocante à interatividade, que é comum passar os contatos do programa no início da transmissão, às vezes repetindo o endereço do site ou do email mais de uma vez. A tática de pedir comentários também é muito utilizada, e muitas vezes são sugeridos assuntos, como “se você também tem uma história sobre isso, conte pra gente” ou “você concorda ou discorda? mande sua opinião”. A locução variou muito em termos de estilo, (in)formalidade, tom e duração. Alguns programas são essencialmente falados, enquanto outros - principalmente os de música - alternam entre apresentador e trilha, e em alguns casos quase não há voz. Diferente do que ocorre no rádio, o tema do podcast não determina o estilo da locução, e assim encontramos programas sobre notícias e saúde, por exemplo, cheios de risadas, enquanto temos produções de música com fala mais sóbria e monotônica. De modo geral, os apresentadores são espontâneos, não leem roteiros, e usam linguagem coloquial, embora cuidando com a gramática. Destaca-se, sobre o vocabulário, o uso permitido de gírias e, muitas vezes, de termos chulos. No caso destes últimos, é variada a opção por censurar ou não tais palavras. Também achamos interessante a mistura de sotaques, muito comum uma vez que a maior parte dos podcasts com mais de um membro na equipe é gravada via Skype. Esta técnica permite que pessoas de cidades, estados e até países diferentes possam criar um programa juntos. Na questão da equipe, notamos também grande variedade na podosfera brasileira. Entre apresentadores solitários, aqueles que são os anfitriões de convidados diferentes, as duplas,

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os trios, e até mesmo os grupos com mais de cinco integrantes compõem uma comunidade diversificada e sem padrões. Sobre o assunto, os podcasters comentam que quanto mais pessoas, mais difícil é cruzar os horários para a gravação, e que por isso é preciso escolher parceiros com agendas aproximadas. Também destacam, por outro lado, que a multiplicidade de vozes dá mais dinamismo ao programa. Interessante notar, ainda, do ponto de vista humano, que apesar das facilidades do Skype, os podcasters que gravam juntos acabam se encontrando pessoalmente em algum(ns) momento(s).

4.3 Crossover e Twitter Embora alguns entrevistados tenham mencionado a falta de união da podosfera, e mesmo considerando que estas pessoas estão há mais tempo na comunidade, tivemos uma impressão diferente. É fato, sim, que existem grupos dentro desta “sociedade do podcast”, mas também experienciamos muito colaboracionismo e muita solidariedade. Talvez a falta de união a que se referem alguns convidados seja no sentido de juntar forças em prol de um objetivo comum, embora também tenha sido mencionado que os membros deste grande grupo brasileiro têm interesses bastante diferentes. De qualquer modo, nosso contato com os podcasters foi sempre muito bom, produtores prestativos, respostas rápidas, disponibilidade para participar do programa - mesmo os que não participaram foram gentis. O Twitter, no contexto de nossa interação com outros podcasters, teve papel indispensável. Primeiro, porque facilitou encontrar podcasters, tanto entrevistados como outros, e ouvintes. Pudemos observar como é a interação entre estas pessoas, e entre grupos mais próximos dentro da comunidade. A rede social baseada em 140 caracteres serviu, nesse sentido, para evidenciar um outro ajuntamento social, uma tribo formada a partir da “identificação entre os indivíduos” (SPECK,

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2009). A observação do comportamento social de produtores e audiência contextualiza o processo de desenvolvimento do podcast. Também delineia as relações estabelecidas no grupo, as tendências de comportamento e permite antever o que esperar dos membros, coletivamente falando. Do ponto de vista individual, a observação desta comunidade no Twitter permitiu a observação de aspectos que puderam, mais tarde, ser investigados nas entrevistas. Exemplo disso é o crossover, nome dado à participação de um podcaster no programa de outro colega. Além de ampliar a divulgação de ambos, com o cruzamento de públicos - interessados em ouvir seus apresentadores, independente do feed em que estejam -, o crossover aproxima os participantes, permite a troca de experiências e viabiliza momentos de intercâmbio social, independe dos “compromissos” com o podcast. Na rede de seguidos e seguidores, atentamos, como já mencionado, aos principais assuntos comentados, com quem, em que circunstâncias. Observamos que a maioria dos entrevistados tem o podcast muito presente em sua vida - pelo menos, no Twitter -, e se preocupa em dividir com os outros membros da tribo o que está ouvindo. Nesse sentido do compartilhamento, também observamos uma gama de assuntos que parecem exclusividade dos tuiteiros, temas que, às veze, são mencionados nos programas mas não são contextualizados: assuntos internos, que quem não acompanha a comunidade não entende completamente. Voltando-nos aos aspectos práticos em que o Twitter foi relevante para este TCC, já citamos a questão do contato e do relacionamento com outros podcasters. Detalhando este ponto, cabe observarmos que “contato” aqui não diz respeito apenas à relação com um indivíduo em si, mas engloba a facilitação junto a outros produtores. Como exemplo podemos citar emails e sites obtidos através de “terceiros”, quando pedimos a uma

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pessoa mais próxima a informação sobre uma mais distante. Ainda, a velocidade de interação nesta rede foi, de modo geral, maior do que a acontecida via email. A característica viral do Twitter, no quesito divulgação, também teve forte influência na realização do Imediato. Em um primeiro momento, dando a conhecer o programa que lançávamos, pois ao criar a conta passamos a seguir uma série de produtores, que nos seguiram de volta e eventualmente escutaram o podcast, mandando opiniões e sugestões. Depois, o perfil serviu como banco de novos episódios e novos programas, links recebidos de quem acompanhamos, complementando as referências já mencionadas para ampliar o debate durante as entrevistas. A divulgação dos episódios novos do Imediato via Twitter aumentou o número de ouvintes rapidamente, mais rápido do que seria o normal antes da utilização desta rede, de acordo com relatos de podcasters mais antigos. O número de retweets e menções que tivemos foi variado, mas observamos que os podcasts mais baixados - na entrega deste relatório, ainda não temos as estatísticas do especial #2 - são os que foram mais retuitados, com 14, 7 e 7 menções cada, desconsiderando os RTs de @deborahsalves. Para se ter ideia do potencial de um tweet: logo que encerramos a gravação do episódio #06, com a equipe do Podcast Irmãos.com, tuitamos comentando que a conversa estava interessante; @irmao_com retuitou a mensagem, por volta de meio-dia; às 21h, cada episódio do Imediato havia tido em média mais 20 downloads. Por último, o Twitter se apresenta como mais um canal de interação com os ouvintes, uma forma ágil de contato e que permite não somente conversar com a equipe como também compartilhar com os seguidores a opinião a respeito do programa. Curioso notar, ainda, que algumas das pessoas que tuitaram para o @podcastimediato acabaram, depois, enviando emails para a equipe.

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4.4 (Outras) redes sociais, divulgação e site O Twitter, como dissemos, é uma poderosa ferramenta para a divulgação do podcast, tanto de um programa específico, episódios novos, eventos relacionados à podosfera, crossovers, etc. Mas não é a única a contribuir nesta tarefa. Embora os entrevistados concordem que a difusão sofreu certa reconfiguração após a popularização das mensagens em até 140 caracteres, também destacam o papel das outras redes sociais - nesse sentido, e na questão da interatividade. Orkut e Facebook, por exemplo, trabalham com agrupamentos em comunidades, divididas por categoria e que congregam pessoas com interesses comuns. Estes espaços virtuais são muito úteis à divulgação, pois atingem um público específico. A criação de comunidades para os podcasts também é uma forma de manter os interessados bem informados, às vezes curiosos - através de teasers13 - e, mais uma vez, abrir um canal de comunicação entre os ouvintes, e destes com os produtores. Também unindo os pontos divulgação e rede social temos os portais de hospedagem. A maioria oferece, além do espaço para armazenagem dos arquivos, um perfil onde o podcaster pode inserir imagem, descrição do podcast, descrição de cada episódio, links externos, dentre outros. Em geral, também existe a janela de comentários e a opção de enviar email para o produtor, abrindo, novamente, o espaço interativo. Segundo Wikipédia, “O teaser (em inglês “aquele que provoca” (provocante), do verbo tease, “provocar”) é uma técnica usada em marketing para chamar a atenção para uma campanha publicitária, aumentando o interesse de um determinado público alvo a respeito de sua mensagem, por intermédio do uso de informação enigmáticas no início da campanha. A palavra é um dos muitos anglicismos cotidianamente usados no mundo empresarial dos países lusófonos.” Disponível online em http://pt.wikipedia.org/wiki/Teaser Acesso em 22/11/2009.

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Por último, como mencionamos no item 1.2 deste relatório, temos os sites dos programas. Sejam blogs em servidores gratuitos, como Wordpress ou Blogspot, ou endereços próprios, as páginas possibilitam, além da comunicação entre os envolvidos no processo, uma nova forma de apresentar e consumir o produto. Pode-se inserir uma ou mais imagens, disponibilizar links, descrever o episódio sem limitações de espaço, oferecer versões do áudio em diferentes formatos e tamanhos, apresentar outras páginas como “contato” ou “quem somos”, disponibilizar barra de links, nuvem de tags, mecanismo de pesquisa interno, dentre outras ferramentas. Também, nos sites pode-se apresentar conteúdo distinto do ou complementar ao podcast, criando o hábito do usuário de visitar a página, ou mesmo no caso de recebimento por feed, mantendo-se fora da zona de esquecimento do público. O suporte texto - e também há a possibilidade de postar vídeos, próprios ou de canais como o YouTube - apresenta-se de forma complementar ao podcast, mesmo quando o programa em áudio é um dos atrativos da página. Entendemos este “complementar” enquanto ferramentas fora do arquivo distribuído, oportunizando possibilidades que o som, invisível e imaterial, não pode ofertar.

4.5 Periodicidade, publicidade e perspectivas Por definição, o podcast é um aquivo digital distribuído periodicamente. No entanto, muitas vezes os programas não saem na periodicidade prometida, ou muitas vezes sequer prometem periodicidade. No caso de nossos entrevistados, todos têm frequência pré-estabelecida, e embora nem todos consigam mantê-la, destacam sua importância para o podcast. Dois fatores são associados a isso: a credibilidade do programa e o retorno gerado por ele. Em relação à credibilidade, os podcasters ressaltam o vínculo criado entre ouvinte e produtor, onde o primeiro cria o hábito de ter, no dia determinado, o conteúdo que deseja. Mesmo destacando que quem assina o feed não “perderá tempo” indo à

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pagina e percebendo que não houve, ainda, a atualização, os entrevistados entendem que existe a expectativa de receber o produto. A atenção à periodicidade confere credibilidade à medida que demonstra seriedade e, na palavra de alguns convidados, respeito com a audiência. Por outro lado, o maior problema levantado em relação à manutenção da frequência é o trabalho que se tem comparado ao retorno recebido. E o retorno, aqui, refere-se menos ao feedback do público e mais à compensação para o podcaster. A participação dos ouvintes é importante e estimulante, apontam, mas muitas vezes não é suficiente para compensar as horas dedicadas a gravação e edição. “É um tempo em que você não está com seus amigos ou sua família”, disseram alguns entrevistados. A maioria ressalta que não faz o podcast esperando retorno financeiro, e que ao contrário muitas vezes o programa representa um gasto, com hospedagem, equipamento, softwares, etc. No entanto, a monetização do programa é tida como um fator que estimula a produção e permite que mais tempo seja dedicado a ela. A questão da publicidade na micromídia é um ponto um tanto controverso entre os entrevistados. Diretamente, nenhum se manifestou contra a presença de propagandas, ainda que alguns tenham feito a ressalva de que a divulgação de outros produtos precisa ser claramente identificada como paga, sob pena de comprometer a credibilidade do podcaster. Porém, alguns mostraram-se desconfortáveis em relação à possível restrição editorial que a publicidade poderia acarretar, como ocorre com a mídia de massa, que sobrevive de patrocínio e muitas vezes se vê respondendo a interesses comerciais antes de corresponder às expectativas editoriais do produto. Sobre o tema, a maioria dos entrevistados concorda que há muito a ser feito, e que no Brasil os profissionais do marketing ainda não têm segurança para apostar nesta mídia. Os motivos levantados são a falta de número exatos, o desconhecimento do produto, e a dúvida quanto ao retorno do inves61

timento. A propaganda na internet, avaliam, vem sendo baseada na quantidade de cliques que o anúncio recebe, mas no podcast, enquanto áudio, não há onde colocar links - além do que, muitos ouvintes assinam o feed em vez de visitar a página. Pensando no anuncio em áudio, o problema é que não se pode acompanhar a quantidade de ouvintes do programa. Primeiro, porque os arquivos continuam disponíveis na rede e novas pessoas podem ouvir programas gravados há muito tempo, e em fazê-lo escutar propagandas que há muito foram pagas. Tem-se, nesse sentido, as estatísticas sobre a quantidade de downloads, número que talvez pudesse servir de parâmetro. Mas, para os produtores com quem conversamos, esses dados não refletem o potencial real da mídia, uma vez que o ouvinte pode, por exemplo, ter problemas com o download e precisar reiniciá-lo, contando assim como dois acessos quando na realidade apenas um episódio completo foi baixado. Além disso, com o arquivo em seu disco rígido, o ouvinte pode redistribuir o podcast, seja emprestando seus fones de ouvido a alguém, ouvindo em caixas de som com um grupo de pessoas ou repassando por email, dentre outras formas citadas. O desconhecimento sobre a mídia podcast - o que é, qual o público, que hábitos de consumo tem - aumenta o receio dos publicitários e clientes em investir em podcast. Os produtores avaliam que a especificidade dos assuntos tratados nos programas cria uma audiência bastante específica, o que, em teoria, aumenta as chances de atingir o público desejado, em comparação a investimentos feitos na mídia de massa, cujo público é maior porém mais eclético e disperso. É neste ponto, da informação de nicho, que alguns entrevistados apostam suas fichas para o futuro financeiramente rentável do podcast. À parte a questão da monetização, os convidados percebem o futuro do podcast com esperança. Atentam para a quantidade crescente de produtores e ouvintes, destacam que a podosfera ainda não atingiu seu nível de saturação e que produtos quali-

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ficados vêm surgindo, além de observar o amadurecimento dos programas brasileiros. A maioria também chama a atenção para a diversificação dos temas, ao mesmo tempo em que nota uma série de programas que acabam. Em algumas avaliação, o chamado podfade (declínio do podcast, em livre tradução) é fruto da falta de retorno; em outras, a isso se soma a falta de compromisso que alguns novos produtores têm; indicam, ainda, o fim de programas que copiam modelos sem se preocupar em imprimir marca própria, e desistem quando não têm o mesmo sucesso que suas inspirações. Apesar dos aspectos desfavoráveis sobre o atual cenário da podosfera, a maioria dos podcasters acredita no crescimento e no amadurecimento do cenário brasileiro. Como principais motivos para as boas perspectivas estão o potencial do podcast de dar voz a pessoas e assuntos ignorados pela mídia, as possibilidades de interação da micromídia, a facilidade de consumir o produto da forma e no momento que for melhor para o cliente, e a linguagem distinta da da grande mídia, além de experimental e divertida, sem deixar de ser séria.

4.6 É isso aí, a gente se vê na semana que vem Com esta frase acabavam os episódios do Podcast Imediato. E assim acabou, também, o episódio especial #2, encerrando a série de dez programas que compõe o Trabalho de Conclusão de Curso aqui relatado. A experiência de produção em áudio neste formato foi tão interessante e construtiva que decidimos continuar, abrindo a discussão da comunicação na web 2.0 para outras questões. Ampliar o debate, trocar ideias, criar uma comunidade de pessoas interessadas no assunto e continuar o aprendizado são os objetivos que mantemos a partir de agora. Nestas últimas linhas, voltando à primeira pessoa do singular, gostaria de reiterar os agradecimentos a todos que de alguma forma se envolveram na elaboração e execução deste TCC.

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A construção coletiva do conhecimento tornou o projeto mais que uma forma de aprender, transformou-o em pesquisa interativa, tomou rumos inesperados e apresentou um mundo absolutamente diferente para o (meu) jornalismo. Entender o jornalismo como forma de comunicação mais ampla que a compreendida durante a graduação foi, com certeza, o maior crescimento proporcionado por este TCC. Estou certa de que mesmo se minhas próximas atividades profissionais forem em veículos de mídia tradicionais, minha nova visão sobre interatividade, comprometimento, formalidade, diversão e ética dará sempre um viés de novas mídias para meu trabalho. O retorno recebido de ouvintes, podcasters, amigos e profissionais do jornalismo me deixou satisfeita com os resultados da pesquisa e da prática. Espero que o Podcast Imediato, bem como este relatório - longo e detalhado - possam ser úteis a outros pesquisadores, outros produtores, outros profissionais e outros ouvintes.

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5 Bibliografia comentada CEBRIÁN HERREROS, Mariano. La radio em internet. 2003. O autor analisa o atual formato da rádio, seus elementos e tipo de programação, e indica as adaptações que o meio precisa para continuar sendo relevante e influente no contexto atual. Afirma que a reconfiguração na comunicação com a internet vai além de uma questão meramente técnica, e precisa ser entendida como mudança na linguagem e na estrutura da transmissão de informações via rede. Aborda a produção de conteúdo por usuários não-comunicadores mas especializados em outras áreas de conhecimento, e aponta a necessidade dos profissionai da área de entender e se adaptarem ao novo contexto. CRISELL, Andrew. Understanding Radio. London: Routledge, 1996. Carcterização da rádio enquanto meio - incluindo outros usos que não apenas o jornalístico. Abordagem da história da rádio na Inglaterra, panorama que ajuda na compreensão do desenvolvimento do veículo em outros países também. Indicado para entender o formato, o conteúdo e o processo de produção ligado à rádio, de forma genérica e basilar. FAUS BELAU, Ángel. Reinventar la Radio. IN Chasqui - Revista Latinoamericana de Comunicación, n. 74, 2001. Relaciona os avanços tecnológicos às novas configurações da transmissão de informação na rede, e ressalta a necessidade de

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pensar as novas mídias como novas linguagens, sem querem impingir àquelas os modelos tradicionais de outros suportes. HERRERA DAMAS, Susana. Internet y las nuevas formas de participación de los oyentes en los programas de radio. IN Comunicação e Sociedade, vol. 9-10, 2006. Resume algumas características da interatividade na rede, e as relaciona com o rádio. Considera, também, as novas demandas da audiência com o surgimento e difusão da internet. HERSCHMANN, Micael; KISCHINHEVSKY, Marcelo. A “geração podcasting” e os novos usos do rádio na sociedade do espetáculo e do entretenimento. IN Revista FAMECOS, n. 37. Porto Alegre: 2008. Contextualiza o podcast, enquanto exemplo de mídia portátil, na sociedade do espetáculo, e pondera a relevância efetiva do produto na democratização da informação. No contraste com a mídia de passa, considera alcance, liberdade editorial e vanguardismo. KISCHINHEVSKY, Marcelo. Cultura da portabilidade - Novos usos do rádio e sociabilidades em mídia sonora. IN Observatorio (OBS*) Journal, n. 8. 2009. Trabalha a questão da sociabilidade na rádio e no podcast, analisando principalmente a interação entre os consumidores, e entre esses e os produtores. Também analisa os novos hábitos de consumo de informação, a partir da noção de portabilidade facilitada pela evolução tecnológica, e acompanha brevemente o histórico de transformação até o estado atual. LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2006. _______. Ideologia e técnica da notícia. Florianópolis: Insular, EdUFSC, 2001. Conceitos básicos sobre jornalismo, aconselháveis a qualquer trabalho acadêmico na área de Comunicação.

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LEMOS, André. Podcast. Emissão sonora, futuro do rádio e cibercultura. IN 404nOtF0und. vol. 1, n. 46, 2005. Salvador: Facom/ UFBA. Apresenta a noção de liberação do polo emissor e como o conceito se aplica ao podcast. Analisa as mudanças nos atores da comunicação, e como a internet propicia ou influencia esses movimentos. Também comenta sobre o modelo do rádio enquanto metáfora para o podcast, e afirma que as mídias não são excludentes, mas complementares. MEDEIROS, Macello. Transmissão Sonora Digital: Um Estudo de Caso dos Modelos Radiofônicos e Não Radiofônicos na Comunicação Contemporânea. Salvador: Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas, 2007. [Dissertação de mestrado] Identifica características da transmissão sonora digital na internet ou facilitada por ela, e compara mídias como web rádios, rádios online, rádio digitais, podcasts, dentre outros, a partir dos critérios, definindo o que é e o que não é feito a partir de um modelo radiofônico. Conclui que o podcast não pode ser considerado uma forma de rádio, e classifica as transmissões em três categorias. São elas: modelo “Metáfora”, feito à espelho da programação do rádio, “Editado da Grade”, quando o produto foi veiculado em uma rádio e é posteriormente editado e disponibilizado para download; e “Registro”, com liberdade de formato e conteúdo e que não busca asilo nas formas consagradas pelo rádio tradicional. MENESES, João Paulo. O Consumo activo de novos utilizadores na internet: ameaças e oportunidades para a rádio musical (digitalizada). Pontevedra: Programa de Doctorado “Comunicación”/Facultad de Ciencias Sociales y de la Comunicación, 2008. [Tese de doutorado] Apresenta as características do rádio, e percebe que o podcast não contém todas elas, por isso não pode ser considerado rádio. Traça a história do podcast, relaciona teorias como a de McLuhan

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(“Xerox makes everybody a publisher”) e de Brecht (comunicação em duas vias, em que todos possam receber e enviar), e comenta as novas demandas da audiência. Também analisa as mudanças no cenário de consumo de informação e música a partir da popularização dos tocadores portáteis de áudio, a relação do mais jovens com a internet e a proliferação de fontes de informação. Evidencia o caráter dialógico das novas relações na internet e aponta a necessidade de adaptação por parte do profissionais da Comunicação. Encerra constatando a necessidade de re-conceitualização do podcast e do rádio diante dos contextos atuais. PARADA, Marcelo. Rádio: 24 horas de jornalismo. São Paulo: Editora Panda, 2000. Características básicas do rádio. Linguagem simples e didática. Fornece elementos de comparação das transmissões com outras formas de difusão de conteúdo sonoro. PRIMO, A. F. T. Para além da emissão sonora: as interações no podcasting. Intexto. Porto Alegre, n. 13, 2005. Aplica conceitos da rede no entendimento do podcast enquanto mídia produzida por usuários e com linguagem própria, que se difere do rádio, dentre outros motivos, por seu alto grau de interatividade. Posiciona o podcast enquanto micromídia, conceito de Thornton (1996) que opõe o tipo de difusão característico das mídias de massa, broadcasting, com produção horizontalizada e o narrowcasting, das mídias de nicho, cuja estrutura se assemelha à dos grandes meios, embora seu público-alvo seja menos abrangente. RODERO ANTÓN, Emma. La radio en Internet. Cuarto Congreso de Periodismo Digital, 2002. Identifica na não linearidade e nos elementos atemporais fatores que alteram a configuração da transmissão de informação na rede. Indica a necessidade de entender as novas mídias, não

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apenas batizando-as com nome diferente, mas pesquisando suas especificidades de linguagem. Acredita que, atualmente, a única barreira comunicacional é a língua, já que as fonteiras especais são anuladas na rede mundial. Conclui que a disponibilidade crescente de conteúdo variado, ao aumentar a concorrência, força os produtores de conteúdo a apresentar material interativo, com aprofundamento no conteúdo e cuidado na edição. VAISBIH, Renato. Ganhos e perdas de uma renovada linguagem radiofônica jornalística, via podcast. IN Cenários da Comunicação, v. 5. São Paulo: 2006. Aborda brevemente o rádio, suas características e possibilidades que tem graças à portabilidade que apresenta. Atravessa a evolução tecnológica do transistor aos tocadores portáteis de MP3 e, mais recentemente, os celulares e PDAs, para inserir o podcast num contexto de comunicação móvel e horizontal. Conclui que o diferencial da micromídia estaria no viés analítico e/ou opinativo que tem a possibilidade de ter, diferente das mídias de massa.

Bibliografia completa ALMEIDA, Rodrigo. A hora e a vez do rádio digital. 2007. Disponível online em: http://www.itatiaia.com.br/valedoaco/ novidades_novidade.php?nk=427. Acesso em 22/11/2009. ASSIS, Pablo de; LUIZ, Lucio. O crescimento do podcast: origem e desenvolvimento de uma mídia da cibercultura. São Paulo: III Simpósio Nacional ABCiber, 2009. Disponível online em: http://www.lucioluiz.com.br/downloads/abciber2009_ ocrescimentodopodcast.pdf Acesso em 22/11/2009. CEBRIÁN HERREROS, Mariano. La radio em internet. 2003. CHANTLER, Paul; HARRIS, Sim. Radiojornalismo. São Paulo: Summus, 1998.

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ASSIS, Pablo de. Entrevista concedida a Déborah Salves e Filipe Speck. Novembro de 2009. Entrevista. CASTRO, Fernando. Entrevista concedida a Déborah Salves e Filipe Speck. Novembro de 2009. Entrevista. DEGASPARI, Adriana. Entrevista concedida a Déborah Salves. Novembro de 2009. Entrevista. DEGASPARI, Paulo. Entrevista concedida a Déborah Salves. Novembro de 2009. Entrevista. FRANZIN, Bárbara. Entrevista concedida a Déborah Salves e Filipe Speck. Outubro de 2009. Entrevista. KUNZE, Beatriz. Entrevista concedida a Déborah Salves. Outubro de 2009. Entrevista. LAURO, Marcos. Entrevista concedida a Déborah Salves e Filipe Speck. Novembro de 2009. Entrevista. LEITE, Guilherme. Entrevista concedida a Déborah Salves. Novembro de 2009. Entrevista. LIMA, Marco Aurélio. Entrevista concedida a Déborah Salves e Filipe Speck. Outubro de 2009. Entrevista. LUZ, Tiago. Entrevista concedida a Déborah Salves e Filipe Speck. Outubro de 2009. Entrevista. MAIA, Roberto. Entrevista concedida a Déborah Salves e Filipe Speck. Novembro de 2009. Entrevista. MOREIRA, Eduardo. Entrevista concedida a Déborah Salves e Filipe Speck. Novembro de 2009. Entrevista. RODRIGUES, Leandro. Entrevista concedida a Déborah Salves e Filipe Speck. Outubro de 2009. Entrevista. SALES, Eduardo. Entrevista concedida a Déborah Salves e Filipe Speck. Novembro de 2009. Entrevista. SANTOS, Waldir Leonel dos. Entrevista concedida a Déborah Salves e Filipe Speck. Outubro de 2009. Entrevista.

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SILVA, Eddie. Entrevista concedida a Déborah Salves. Novembro de 2009. Entrevista. SENA, Alexandre. Entrevista concedida a Déborah Salves. Novembro de 2009. Entrevista.

Podcasts entrevistados Alexandre Sena - http://alexandresena.jor.br/podcasts/ Eddie Silva News Talk Show - http://eddiesilva.com/?cat=4 Feedback News - http://www.feedbacknews.com.br/tag/podcast/ Café com Velocidade - http://www.velocidade.org/ Gui Leite - http://www.guileite.com/category/podcast/ Irmaos.com - http://www.irmaos.com/ Metacast - http://metacast.info/ Momento Maia - http://maiapodcast.podomatic.com/ Outra Versão - http://outraversao.podomatic.com/ Podsemfio - http://www.garotasemfio.com.br/blog Portal da Luta Livre - http://www.portaldalutalivre.com/ QGNet - http://www.qgnet.com.br/ SearchCast - http://www.searchcast.com.br/ Urbanação - http://www.urbanacao.com.br/

Outros podcasts sugeridos ADD - http://www.maestrobilly.com/podcast/ Código Livre - http://codigolivre.net/category/podcast/ Depois das 11 - http://www.depoisdas11.com/blog/

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Digital Minds - http://www.digitalminds.com.br/podcast DotCast - http://www.dotgospel.com/dotcast/ Escriba Café - http://www.escribacafe.com/ Fala Freela - http://falafreela.com.br/ Impressões Digitais - http://impressoes.vocepod.com/ Lente Aberta Fotocast - http://lenteaberta.wordpress.com/ Monacast - http://monalisadepijamas.virgula.uol.com.br/ NerdCast - http://jovemnerd.ig.com.br/categoria/nerdcast/ NerdExpress - http://universonerd.com.br/nerdexpress/ Papo de Gordo - http://www.papodegordo.com.br/ Papo de Pregrão - http://www.wintrade.com.br/Site/Analise/ Podcast/default.aspx PirataCast - http://www.baupirata.com/ Podcasting for Dumies Podcast [em inglês] - http://etips. dummies.com/rss/podcastingfd.xml RapaduraCast rapaduracast/

http://www.cinemacomrapadura.com.br/

School of Podcasting [em inglês] - http://schoolofpodcasting. com/ Spin-Off - http://feedbacknews.com.br/spinoff/ TragetHD - http://targethd.net/category/podcast/

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Anexos I. Estatísticas de acesso de cada episódio Estatísticas fornecidas pelo site Mevio.com – onde hospedamos os episódios do Podcast Imediato. Apresentamos os dados a cada 5 dias, ou a cada 3 para episódios recentes. A atualização das medições após a publicação dos episódios demorava cerca de 48 horas, por isso não apresentamos as informações sobre o episódio #08 e o especial #2.

Episódio #01 – Podcasts de Tecnologia

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Episódio #02 – Podcasts de Entretenimento

Episódio #03 – Podcasts de Esportes

78

Episódio #04 – Podcasts de Negócios

Episódio #05 – Podcasts de Música

79

Episódio #06 – Podcasts de Religião

Especial #1 – Dinossauros da Podosfera

80

Episódio #07 – Podcasts de Música

Especial #2 - De professor pra aluno

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II. Estatística comparada dos três episódios mais baixados

Em 96kbps – alta qualidade

Em 48kbps – baixa qualidade (lo-fi)

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Podcast Imediato www.podcastimediato.com.br [email protected] @podcastimediato Déborah Salves [email protected] @deborasalves Filipe Speck [email protected] @filipespeck Nanni Rios [email protected] @nannirios

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