Consciência Do Ser

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Consciência do SER

Reflexões por Sofia Morgado

Compilação de artigos publicados em http://www.universodeluz.net

Índice Prefácio ................................................................................................................3 Nota do autor ........................................................................................................4 Desabafo... Amar o Mundo ......................................................................................5 Desilusões .......................................................................................................... 10 Filosofando... Sobre acção e reacção ...................................................................... 12 Filosofando... Sobre a unidade ............................................................................... 15 Filosofando... Sobre consciência ............................................................................. 17 Filosofando... Sobre postura e atitude ..................................................................... 18 Magia ................................................................................................................. 20 Mestre Interior .................................................................................................... 21 Mundo Físico-Espiritual ......................................................................................... 23 Rumos ............................................................................................................... 31 Pequenas Alegrias ................................................................................................ 33 Amor ................................................................................................................. 34 Bem e Mal .......................................................................................................... 36 Crianças ............................................................................................................. 38 Trocas Energéticas ............................................................................................... 40 Diversão ............................................................................................................. 45 O Casamento ...................................................................................................... 47

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Prefácio Nos dias que correm muito se fala sobre o tempo, mas todos se esquecem que ele não existe. Somos nós que o fazemos, todos têm o seu tempo, ele é uma criação humana e ao mesmo tempo inexistente porque intemporal. O que é real é a nossa forma de vermos os outros e cada coisa que nos rodeia. Esta pequena compilação de textos, leva-nos a “parar no tempo” e pensar o que podemos mudar para que a vida mereça ser vivida e o que podemos fazer para alcançar a tão almejada felicidade. A solução passa segundo a autora por amarmo-nos mais como somos, com todas as nossas qualidades e com os nossos defeitos, só assim podemos dizer de “boca cheia” sim eu amo o meu próximo como a mim mesmo. O passado e futuro não podem fazer parte do vocabulário de cada um de nós: o passado porque já passou e não se repete e o futuro porque pode até não chegar. Viver o presente, o hoje é o lema que cada um deve levar ao expoente máximo. Outra solução para conseguirmos ser felizes passa por olharmos tudo e todos com os olhos do coração pois eles enxergam mais além, vêem a simplicidade das coisas, que é onde reside na maior parte das vezes a razão. A autora relembra-nos, como se de um mandamento se tratasse, que devemos assumir a responsabilidade das nossas acções pois nós somos o que fazemos, acabando essas acções inevitavelmente por se repercutir no mundo exterior. Faça de alma e coração aquilo que realmente gosta, sem olhar para o que ainda tem à sua frente; acredite no poder da sua mente (ela pode fazer milagres); leve até ao fim aquilo que se propõe fazer; E principalmente acredite em magia, ela realmente existe pois para que tudo aconteça da forma como idealizamos basta crer. Existe magia melhor do que essa?

Sara Cardoso

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Nota do autor Estas palavras

são partes

da minha

forma

de

ser

e

estar e

consequência da minha visão colorida do mundo. Só tenho a agradecer ao universo por todas as experiências que têm chegado até mim e a que tenho chegado e pelo arco-íris que é a própria vida.

Sofia Morgado

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Desabafo... Amar o Mundo Depois de muitas fases diferentes na minha vida, houve uma que me marcou muito e não deixa de influenciar o meu modo de ver as coisas. Houve uma altura em que lidei com muita gente muito diferente e tinha a calma interior necessária para parar um pouco e observar o que me rodeava. Comecei a olhar para as pessoas de uma outra forma, nem sei bem como... Como se as olhasse com outros olhos. Não havia uma única pessoa que não achasse bonita e quanto mais observava maior era essa beleza. Sabe muito bem sentir que os outros são lindos e encontrar a nossa beleza nos outros. Alguém um dia disse sabiamente que os outros são o espelho de nós próprios. E não digo isto porque procurava ver a minha beleza nos outros, mas sim que realmente encontrei a minha beleza nos outros. Quase como se o sentimento tivesse partido de fora para dentro e não de dentro para fora. Sentia-me bem ao encontrar beleza em cada pormenor quase como um pintor que, ao olhar um campo colorido, encontra a sua calma interior. Como poderei explicar o que encontrei naquele momento, não nos outros mas em mim? Quando um amigo verdadeiro (se é que a amizade pode alguma vez não o ser) mostra uma parte da sua maneira de ser que achamos menos positiva, não o julgo porque o amo tal como ele é. Posso-lhe deixar clara a minha posição em relação a isso, mas aceito-o tal como é. No entanto, é mais difícil aceitar da mesma forma alguém que me é indiferente. E nesse momento, em cada pessoa que encontrava, não atribuía a mínima importância a essas ‘falhas’ que me pareciam ínfimas perante a beleza de cada um. Por isso digo que me encontrei nos outros, tal qual um pintor encontra a paz ao olhar o seu quadro real. Apesar de, como todas as fases da nossa vida, essa também ter passado e já não ver as coisas assim tantas vezes quantas desejava, sinto que não perdi essa capacidade. E todos nós temos essa capacidade que por um ou outro motivo vem ao de cima e nos mostra um mundo completamente novo, com mais cor. Algumas pessoas sempre me consideraram uma pessoa com uma visão demasiado corde-rosa das coisas, mas até me acho bem moderada (porque realista é uma palavra completamente desadequada a seja que visão for). Mas será errado, para o meu caminho, dar cor à minha visão do mundo? Mesmo se isso me faz sentir bem? Se me enche o peito

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e me leva a outros estados de alma? Se serena a minha mente e me traz paz de espírito...? Quando me lembro desses momentos, consigo sentir amor pelas pessoas à minha volta instantaneamente e não acho isso errado de forma alguma. Tudo fica mais brilhante. E torna-se muito mais fácil a cada vez que o fazemos. Como não sou mais nem menos que os restantes, porque somos um só, você pode experienciar o mesmo e mais ainda. Experimente e sinta, respire, inspire a energia que está em todos nós e em tudo à nossa volta. A energia amorosa que teimamos em bloquear e não deixar fluir. Porque não conseguimos dizer ao outro que o amamos? Amo os meus pais, amo o meu irmão, amo a minha família, amo os meus amigos e tenho a mesma capacidade de amar cada um que encontro. Cabe-me a mim permiti-lo ou não. E quem dá essa permissão senão a nossa mente? Amar é um estado natural e inato, faz parte da nossa natureza. O nosso coração é realmente do tamanho do mundo e nós teimamos em manter as suas portas fechadas. Eu amo o que faço, eu amo a vida. Neste momento, ao ler este texto, poderá pensar que só posso estar apaixonada. É verdade, estou apaixonada pela vida. Aliás, sempre fui apaixonada pela vida, apesar de todas as cambalhotas que ela nos ‘obriga’ a dar para seguir o nosso caminho. Amo porque ao amar chamo mais amor à minha vida. Amo porque amar faz bem, porque me faz sentir bem. Como posso não ver o mundo cor-de-rosa, mesmo com todas as suas discórdias e nuvens cinzentas? Amo as nuvens cinzentas que dão uma luz diferente à paisagem, que permitem a humidade que dá vida a outros seres. Amo as discórdias que nos permitem apreciar de forma única os momentos de serenidade e plenitude. Amo a beleza do mundo como uma criança olha à sua volta e encontra a cada instante uma nova forma de se expressar, uma nova oportunidade de o fazer da melhor forma porque a cada instante consegue fazer cada vez melhor... é só querer. Amo cada instante de dúvida, mesmo que não no momento, mesmo me deixando cair pelo seu peso, porque a dúvida me faz continuar da melhor forma. A dúvida obriga-me a questionar os meus mecanismos e formas de pensar, obriga-me a largar certos automatismos e a crescer mais um pouco. Mesmo uma borboleta, antes de mostrar as suas asas, vai construindo a sua beleza interiormente até que ela se torne visível. Mesmo a borboleta tem um dia de largar o seu casulo para que possa crescer e voar. Assim são os nossos pensamentos e crenças, como

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um casulo que de vez em quando precisa ser renovado para podermos crescer mais um pouco, para podermos voar e mostrar um pouco da beleza que cada um tem dentro de si. Por isso, duvidar é saudável, empurra-nos para a frente, faz-nos pensar e chegar a conclusões. Duvide, cresça, liberte-se... ame!

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Onde está a Felicidade? Nós procuramos sempre ter mais e mais. Todos nós o fazemos. Procuramos sempre o que não temos. Queremos ter uma casa maior, um carro melhor, um computador novo... Corremos atrás da felicidade nessas coisas, mas será que a encontramos? Não. É apenas uma felicidade fugaz, que dura até descobrirmos outra coisa a almejar. Todos nós procuramos ser felizes e poucos se consideram como tal. Porquê? É assim tão difícil encontrar a felicidade? Não, se a procurarmos dentro de nós. A felicidade é um estado de ser e não algo exterior a nós. Porque é que umas pessoas sentem felicidade com certas coisas e outras nem por isso? A diferença está na forma de encarar as coisas. Quando não a procuramos fora de nós e nos encontramos connosco, encontramos a felicidade no riso duma criança, no desabrochar duma flor, no canto dos pássaros, no pôr do sol, num simples livro e em muitas outras pequenas coisas a que não costumamos ligar. E se nós vivermos momento a momento? Decerto seremos mais felizes. E não julgue que não tem tempo para apreciar todas estas coisas. Tem tempo, sim. Aprendi por mim própria que o tempo somos nós que o fazemos. Muitas vezes me ouviam dizer que não tinha tempo para isto ou aquilo, que tinha coisas para fazer e andava sempre a correr dum lado para o outro. Como tudo na vida é por fases, tive várias fases "sem tempo". Mas olhando de outra forma para as coisas, passei a andar mais devagar, a ter mais tempo e a fazer as mesmas coisas. Como?! Não deixando a vida passar por mim. Se calhar até demoro o mesmo tempo que demorava a fazer as mesmas coisas, mas estava sempre a pensar no que tinha de fazer a seguir, sempre a olhar para o relógio e não desfrutava o momento. Agora, ando mais devagar, sorrio mais para o que me rodeia e tento centrar-me apenas naquilo que estou a fazer no momento. Assim, quando chega o fim do dia, penso em tudo o que fiz com carinho, com um sorriso, em vez de lembrar que passei o dia a correr e ficar com a sensação que ficou algo por fazer. O segredo está na nossa forma de estar. Nós passamos a vida a pensar no que não fizemos ontem, no que alguém nos fez no outro dia ou naquilo que queremos vir a fazer... sempre passado e futuro. Mas segundo a nossa concepção do tempo, o passado nunca mais será e o futuro nunca vem. O que nos resta então? O presente. Que é exactamente o que significa, um presente, uma bênção. Resta-

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nos então o Aqui e Agora. Experimente viver um dia que seja centrando-se plenamente no Aqui e Agora. Vai ver que algo vai mudar. Dedique-se completamente ao momento, com carinho, com devoção e a vida lhe sorrirá. É mais do que viver o momento, é ser o momento. De certeza já reparou que os apaixonados vêem o mundo cor-de-rosa e as pessoas amarguradas vêm tudo cinzento. O que muda? O mundo? Não. Muda a forma de olhar as coisas, a forma de estar, a devoção. Então, viva o momento, seja aquilo que faz. Quando for a caminho de casa, olhe para tudo como se fosse a primeira vez, como se olhasse pelos olhos duma criança. Repare em cada pormenor. Mas em vez de se queixar porque está frio demais ou calor demais, barulho de mais, a chover demais... procure o lado bom de cada uma dessas coisas. É como a tal história do copo meio de água, enquanto uns olham e acham que está meio cheio, outros olham e acham que está meio vazio. Experimente olhar de outra forma. Quando for passear o cão, mesmo que esteja frio e não lhe apeteça, vista uma camisola mais grossa e desfrute o momento. Pense nesse momento como seu e dele, um intervalo naquilo que estava a fazer para passear e respirar fundo. Tem uma pilha de roupa para engomar e não gosta nada? Quais são as suas opções? Pode deixar para fazer depois e acumular mais ainda, pode pagar a alguém para o fazer por si, pode fazê-lo contrariado e lamentando-se o tempo todo, ou pode fazê-lo desfrutando o momento. O orçamento não permite contratar os serviços de alguém e tem mesmo de tratar daquela roupa? Se o fizer contrariado, o mais provável é correr-lhe mal, demorar mais tempo e depois lembrá-lo penosamente. Já que tem de o fazer, que seja um momento de qualidade. Se tentar desfrutar ao máximo o momento, o tempo parecerá até passar mais depressa. Como? Experimente ligar o rádio, escolha uma música gostosa, esqueça tudo o resto e vá cantarolando... Concentre a sua atenção no que está a fazer e faça-o com carinho. Experimente! Ponha o seu coração em cada tarefa e a vida será mais leve e alegre.

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Desilusões Nós queixamo-nos de sofrer desilusões ao longo da nossa caminhada e em como sofremos com elas. Erguemos até muros e outras barreiras para nos defendermos dessas desilusões, impedindo que muito mais chegue até à nossa vida. Mas o que é uma desilusão senão o fim duma ilusão? Nós damos significados às coisas, esperamos que estas sejam desta ou daquela forma sem darmos espaço para que se movam por si mesmas, para que se mostrem. E assim vamos criando uma ilusão de que algo ou alguém é de certa forma. Com o correr do tempo acabamos por ver que as coisas não são estáticas, imutáveis, e acabamos por sofrer uma desilusão. O que é a desilusão senão o fim duma ilusão? Quando apenas nós nos podemos deixar iludir... Preferimos iludir-nos, imaginando como será o momento seguinte? Imaginar não é a palavra certa a usar neste contexto porque é bom usar a nossa imaginação para criar. Mas por vezes agarramo-nos às nossas criações e não lhes damos asas, deixamo-las ali, dentro duma gaiola, onde as podemos controlar, e esperamos que elas cheguem até nós exactamente daquela forma e quando elas passam por nós nem as reconhecemos... e continuamos à espera... até que nos desiludimos. Preferimos continuar iludidos e não ver todas as oportunidades que nos vão chegando de tornar as nossas criações reais? Deixemo-las voar por si próprias, dando-lhes asas! Devemos dar-lhes margem de manobra porque nada é imutável, nós vamos alterando as nossas vidas a cada passo, mesmo que inconscientemente, e não podemos esperar que algo que criámos antes nos vá preencher da mesma forma quando as coisas já são diferentes. Então devemos confiar um pouco em tudo o que há de misterioso e inexplicável e deixar que as coisas tomem forma por si próprias, já fora da gaiola em que as criámos. Assim veremos que as coisas serão ainda melhores do que esperávamos e que cada desvio do plano original tem uma razão de ser, tornando mais possível o objectivo final. E deixemo-nos deslumbrar por cada descoberta... E porquê não querer desilusões? Por acaso preferimos viver na ilusão? Devemos então evitar iludir-nos pelos desejos criados na nossa mente. Há que saber distinguir as coisas. Já reparou em quantas vezes o seu raciocínio o levou a uma desilusão? E quantas vezes sentiu o mesmo ao ter seguido a sua intuição, em seguir apenas o que sentia?

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Nós habituámo-nos a usar exclusivamente a razão, usando maioritariamente o hemisfério esquerdo do cérebro e sofremos com essa escolha. Não abafe a voz da sua intuição e do seu coração. Verá que evitará enganos e ilusões porque esta ‘voz’ se baseia em percepções do que realmente é e não no nosso modo de pensar e sistema de crenças.

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Filosofando... Sobre acção e reacção Muitas vezes se cai na generalização sobre aquilo que nos acontece. Acontece-nos algo menos positivo e começamos com lamentos do tipo " a mim tudo me acontece " ou "mas porquê, fiz algum mal a alguém?". Ou então, caímos no outro extremo e dizemos que tudo aquilo tinha de ser e pronto. Na minha percepção, nenhuma das hipóteses está correcta e estão ambas correctas. Pois... Se é verdade que as coisas nos acontecem por um motivo, também o é que esse motivo partiu de nós. A lei do karma ajuda-nos a compreender isto um pouco melhor. Esta lei mostra-nos o delicado equilíbrio do universo e como todas as nossas acções têm consequências que passam muitas vezes por outras pessoas e voltam a nós como um boomerang. Essas acções não compreendem apenas aquilo que possamos fazer aos outros, mas também aquilo que fazemos a nós próprios com pensamentos, palavras e acções. Cada pensamento é uma acção, já foi até provado cientificamente. Vejamos as coisas duma outra forma... Tudo é composto por moléculas, átomos, protões, electrões, neutrões, etc. (lá vem ela com a história da energia...) E do ponto de vista destas partículas nós não somos sólidos, certo? Então, ao andarmos, além de provocarmos uma deslocação de ar (de outras partículas), há uma interacção entre as nossas partículas e as do ambiente que nos rodeia. Então, cada movimento nosso provoca sempre uma qualquer reacção consoante o que seja a acção. E, tendo em conta que o pensamento é uma forma de energia, é fácil de perceber que um simples pensamento possa causar também uma reacção. Esse movimento vai causar um outro movimento que por sua vez vai causar um outro porque está tudo interligado... tal como quando lançamos uma pequena pedra num lago. Podemos, então, imaginar o alcance que pode ter uma simples acção, um simples pensamento. E como não vivemos dentro dum buraco negro nem num saco de congelação a vácuo, todas estas trocas energéticas provocam uma resposta algures. Depois, além deste simples exemplo, intervêm mais factores que podem ter os mais variados nomes. E tendo em conta que o universo é vastíssimo, esse efeito pode não chegar de imediato (sendo o conceito de imediato muito subjectivo...). Mas este assunto dá pano para mangas e é óptimo para filosofar, por isso não me vou alargar mais por aqui. Como ia dizendo, aquilo que nos acontece tem uma razão de ser. Experimente olhar para trás, na sua vida, e observe calmamente cada experiência por que passou, mais ou menos positiva, e veja o que tirou dela. Não superficialmente, mas analise bem e verá que

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sempre tirou alguma coisa de bom: uma aprendizagem, um fortalecimento de algo... o que for. Procure bem e veja se não procurava ou não lhe fazia falta esse resultado na sua vida. Bem, até pode achar que não, mas veja se não lhe foi útil mais tarde ou talvez ainda venha a ser...! Então, se a cada momento da sua vida tem uma opção a tomar (se há-de fazer isto ou aquilo, se vai por um lado ou pelo outro, se sente aquilo ou aqueloutro...) e se cada acção tem uma reacção, pode perceber que a cada momento está a criar a sua vida. Depois, dependendo de outros factores e outras decisões/acções complementares, cada acção pode ter um efeito maior ou menor, tal como a pedra no lago, dependendo da forma como a atira, da força, do vento, da água - enfim, duma série de factores -, provocando ondas maiores ou menores. E essas ondas podem fazer-se sentir por mais ou menos tempo, criar uma onda de volta ou não... Sendo assim, cada acção é sempre diferente e nada pode ser comparado porque o conjunto de factores nunca é exactamente igual. Experimente meditar em tudo isto e ver onde as conclusões o levam. A cada momento estou a criar a minha vida. E se tenho a oportunidade de criar uma vida melhor porque não fazê-lo?! Tenho a oportunidade de escolher o que sinto (pode continuar a ser um processo automático ou pode tornar-se consciente), tenho a oportunidade de escolher aquilo que penso sobre os outros (para benefício de mim mesma)... Posso escolher uma série de coisas que passam pelos outros ou só por mim. Mesmo em situações que parecem surgir por imposição do destino, em que parecemos não ter hipótese de escolha... olhe de novo... no mínimo, podemos mostrar várias versões de nós mesmos. E não se desculpe perante a vida dizendo que não tem culpa de ser como é. Todos nós temos responsabilidade sobre a nossa maneira de ser. É verdade que muitos factores contribuem para nos moldarmos, mas nós temos sempre a palavra final, o aceitar ou não a forma como aquela experiência nos molda, escolhendo uma das várias hipóteses. Já viu como pessoas diferentes sob as mesmas circunstâncias de vida, são afectadas de formas diferentes? Então, aí tem. Existe algo chamado personalidade, carácter, maneira de ser, sim. Mas também aí temos responsabilidade. É fácil atirar as culpas para algo exterior a nós próprios, sentimos a consciência mais leve. Agora, imagine se cada um de nós assumir a sua responsabilidade. Claro que vamos querer o melhor para nós. E ao mesmo tempo, querer o bem ao próximo será fruto não de altruísmo, mas sim de egoísmo. Sim e não. Mas tudo varia consoante o conceito de cada um. E daí, seja por que razão for, dando-lhe o nome que queiramos, é muito mais benéfico para nós e em consequência... para os outros. Ou será ao contrário?

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Vale a pena pensar nisto!

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Filosofando... Sobre a unidade Se não compreende/percebe as coisas segundo o conceito de karma, experimente vê-las de outra forma. Tudo é composto por energia, então, somos parte de um todo, certo? Como se cada um de nós fosse uma parte dum corpo maior. Então, porque haveríamos de magoar deliberadamente a nossa perna, o nosso pé, a nossa orelha...? Podemos sempre magoar-nos sem querer, por inconsciência, distracção ou o que lhe quisermos chamar e decerto existem outras formas de lidar com esse facto, mas não temos porque fazê-lo deliberadamente. O que nos falta é essa consciência do todo, da unidade que somos e de que fazemos parte. Isto leva-nos à mesma conclusão, o fazer o bem ao "outro" (outro membro do mesmo corpo) por altruísmo ou por egoísmo. Mas e então? Somos nós que temos um conceito errado do egoísmo? Esquecemos também um outro ‘pormenor’. Todas as pessoas envolvidas num conflito, por exemplo, têm cada uma a sua parte da responsabilidade. Seja por terem feito algo, por ter criado a oportunidade de alguma forma (pensamento, etc.) ou por terem dado a oportunidade ao outro. Sim, porque muitas vezes uns dão a outros (inconscientemente) a oportunidade de expressarem as suas escolhas, de mostrarem a sua essência ou de poderem reaprender algo. Isto é muito complexo a nível mental porque podemos pensar “como pode uma ‘vítima’ de algum crime escolher que aquilo lhe aconteça?” Mas escolheo de alguma forma, não necessariamente a um nível consciente, mas a nível da alma. Claro que nós não gostamos de sofrer e não escolhemos passar por uma ou outra situação com esta consciência de que falamos, mas por vezes só assim compreendemos alguma coisa a um nível maior. E por outro lado será que não gostamos mesmo de sofrer? Se sofremos com algo que nos dizem, por exemplo, o que nos faz realmente sofrer? Serão as palavras, será o acto da outra pessoa ou será algo em nós mesmos? Se somos todos parte dum todo muito maior, a única forma de não nos magoarmos a nós próprios é se nos amarmos. Então, ame-se para poder amar os outros. É fácil dizermos que gostamos de nós próprios, mas geralmente fazemo-lo apenas superficialmente. No entanto, os outros costumam ser o espelho de nós próprios. E nos outros encontramos as nossas falhas, os nossos pormenores mais sombrios, tudo aquilo

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de que não gostamos em nós. Quando se encontrar em conflito com alguém, mesmo que seja um conflito interno, e se sentir irritado com essa pessoa, experimente parar e olhar bem dentro de si, procure a verdadeira razão dessa irritação. Esse espelho não traz as coisas exactamente da mesma forma que elas são em nós, ou seja, se não gostamos da nossa parte mais crítica, lidamos com pessoas críticas. Nem sempre é assim tão simples, temos de procurar bem fundo. Este exercício mostra-nos, se assim quisermos, a verdadeira razão dos nossos conflitos e mostra-nos que essa razão reside em nós, não é um factor externo como gostamos de fazer acreditar a nós próprios. E fácil dizer que reagimos assim ou assado, fizemos isto ou aquilo, porque alguém nos fez fazer assim. Mas essa pessoa apontou-nos uma arma e obrigou-nos a fazê-lo? Então sejamos honestos connosco. Experimente e descubra-se!

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Filosofando... Sobre consciência Já reparou como facilmente se dão acidentes quando estamos distraídos com qualquer coisa? E como geralmente temos de fazer as coisas de novo e levamos muito mais tempo a concluir qualquer tarefa? Acontece também que estas tarefas acabam por não ficar no seu melhor porque também não demos o nosso melhor para as realizar. Então e se experimentarmos colocar a nossa consciência em tudo o que fazemos? Não poupa tempo fazendo o contrário, acredite que sei o que digo, pois sempre me considerei uma pessoa e mente multitarefa. Mas vou descobrindo que fazer uma coisa de cada vez com plena consciência me traz mais benefícios. Fica a tarefa finalizada, dou o meu melhor, mais depressa (de certo modo) e com mais qualidade. É difícil para uma pessoa que costuma fazer várias coisas ao mesmo tempo, mas vou conseguindo... ás vezes, outras vezes ainda não. Mas há que começar por qualquer lado. Experimente! Ao lavar a louça, faça-o de pleno coração e em plena consciência, não a pensar no que tem de fazer a seguir ou no que deixou por fazer, mas encontre-se em cada movimento… na peça de louça que segura nas mãos... em como é bonita a sua forma... em como sente a água nas mãos... em como é divertido brincar com a espuma... sei lá! Invente! Divirtase com o que faz! Pode até pensar que não tem tempo para essas palermices. Mas serão palermices ou será realmente mais divertido? E já reparou como duas pessoas com o mesmo tempo para fazer a mesma tarefa, podem ter uma percepção do tempo completamente diferente? Pois é! O tempo é relativo. De certeza que já sentiu uma tarde no trabalho parecer interminável (se não, é bom sinal...) e outras vezes houve em que nem deu por ela. A percepção do tempo varia conforme muitos factores e um deles tem a ver com a diversão, ou melhor, com o espírito do momento. Experimente!

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Filosofando... Sobre postura e atitude Muitas vezes ouvimos alguém dizer que só faz as coisas certinhas e corre tudo mal, por isso tem de começar a fazer o mesmo que os outros, sem se importar com o sofrimento alheio. Se alguma vez pensar o mesmo em relação a algo, experimente então fazer o contrário do seu hábito. Mas não faça nada contra a sua natureza ou que lhe desagrade. Se acha que será mais feliz fazendo algo com que não se identifica, engana-se. O resultado passa mais pela atitude do que pela acção. É lógico que a acção condiciona o resultado, mas, a nível de 'dar certo ou falhar', é mais uma questão de atitude. Experimente fazer seja o que for que vá contra a sua natureza e veja se isso o faz sentirse melhor. Dificilmente. Agora experimente fazer algo em que acredita profundamente e veja a diferença. Sentese bem só pelo facto de agir de acordo com as suas convicções. Então, não pense que quanto mais mal se faz, mais sorte se tem. Isto é uma ilusão. Independentemente da acção, se você acredita profundamente no que faz tem mais probabilidades de sucesso. E por vezes este acreditar, quando acreditamos, é muito superficial. Porquê? Um dos motivos é pensar assim mesmo, que só de outra forma conseguiria, ou se fizesse como fulano, ou que já tentou antes e nunca conseguiu. A nossa mente tem um poder enorme, poder que nós menosprezamos e usamos inconscientemente da pior forma. Se já fazemos as coisas a pensar que vamos tentar, já estamos a criar obstáculos, já estamos com reservas. Tentar e fazer ou conseguir não são de forma alguma sinónimos. É muito importante a nossa postura, a nossa atitude, os nossos pensamentos e as nossas palavras. Este é um conjunto de factores muito importante para o sucesso dos nossos empreendimentos. Experimente mudar pequenos detalhes na sua forma de falar, a forma como emprega certas palavras. Use menos ses, menos 'tentar', mais 'vou', mais 'escolho' em vez de 'quero' ou, pior, 'queria', mais 'sim' e menos 'não'... As palavras são apenas nomes que se dão a ideias, a palavra em si é como um símbolo isolado, apenas uma representação gráfica.

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Se lhe pedir para fechar os olhos e serenar um pouco e, então, pedir para pensar num elefante ou apenas falar num elefante, a primeira coisa que lhe vem a mente será um elefante. (Se não fechar os olhos nem serenar a mente acontece o mesmo, mas a nossa mente é constantemente bombardeada de pensamentos e mensagens e geralmente não nos damos conta do processo.) Agora, se lhe pedir para não pensar num elefante, o que lhe vem à mente? ...Um elefante. Então, a palavra 'não' não veio acrescentar nada a ideia. O mesmo se passa com tudo o resto. Se você está a tentar não fazer algo, coloque as coisas de outra forma. Deixe sempre claro à sua mente aquilo que quer fazer e não o contrário. Assim, pondo as coisas na prática, se quer ir jogar futebol logo à noite, não diga 'vou tentar não faltar ao futebol' porque a ideia da frase é faltar ao futebol. Isto parece uma coisa tão idiota quanto simples, mas comprovadamente real. Depois existe também o outro lado da questão. Desmontada a frase, ficamos com a ideia e a negativa. Já vimos que o 'não' não vai anular a ideia, mas como qualquer outra palavra também tem valor. E o valor que atribuímos à palavra não, desde que nos conhecemos como gente, é um valor negativo. Já deve ter ouvido dizer que se quer vender alguma coisa tem de perguntar 'quer um...?' em vez de 'não quer um...?'. Esta é uma das mais conhecidas técnicas de marketing e publicidade porque se sabe o impacto das palavras sim e não. Posto isto, enfatize o sim nas suas frases, substituindo o não. Com o tempo perceberá a diferença. Isto significa também estar mais atento às suas próprias palavras e pensamentos, coisa cada vez mais difícil no nosso dia a dia em que tornamos tudo automático e nos mantemos sempre ocupados com o que foi e o que está para ser. Esta atenção é importante por muitos motivos, inclusive enquanto está atento a alguma coisa está-lhe a transmitir energia e a dar espaço para que esse algo cresça e flua. Depois então, liberte essa ideia, para que se manifeste.

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Magia Há uns tempos atrás, a filha de uma amiga minha, com uns 8 anos, influenciada pelos livros de Harry Potter da irmã mais velha, veio-me perguntar se existia magia. Disse-lhe que sim e ela na sua inocência perguntou-me como poderia usar magia para o quarto ficar arrumado num piscar de olhos. Por um minuto fiquei sem saber o que lhe dizer, até que lhe disse que não lhe sabia responder, mas que nada era impossível. "Mas existe ou não magia?" perguntou-me ela. “Existe magia, sim,” respondi-lhe “e tu sabes isso no momento em que nasce um bebé, quando se abre uma flor, quando sentes a chuva cair-te na cara e fechas os olhos para a sentir... isso é magia!” Acho que ela não percebeu naquele momento, estava interessada em questões mais práticas, mas espero que numa dessas situações ela se lembre dessas palavras porque sei que as crianças absorvem tudo o que transpiramos para elas. Porque deixámos de acreditar na magia? Pode não se revelar como nós fantasiámos, mas existe de facto. Ela existe em cada pequena coisa que a vida nos dá. Podemos encontrar magia num olhar, num momento, num acontecimento. Podemos não encontrar magia ao agitar uma varinha de condão, mas encontramo-la certamente ao observar um simples nascer do sol, ao deixarmo-nos tocar pelo riso duma criança, ao encontrarmo-nos nos olhos de alguém... No entanto, deixámo-la nas nossas infâncias e reclamamos que a vida não tem qualquer magia. Pior ainda, ensinamos as crianças a cedo desacreditarem a magia. E acreditar em magia não é acreditar em Pai Natal, mas é acreditar que, se desejarmos com muita força, os nossos sonhos se podem concretizar. É encontrar a magia da vida em cada pedaço de nós e dos outros... A magia existe, cabe-nos a nós reconhecê-la ou não, fazê-la acontecer ou não...

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Mestre Interior Hoje em dia encontramos muitos mestres pelo nosso caminho. Todos eles têm o seu mérito, todos levam algo àqueles com quem contactam. Mas quem procura os mestres não se deve esquecer de aprender a levantar-se pelo próprio pé. Não deve agarrar-se a algo exterior. O nosso maior mestre somos nós próprios. Por mais difícil que seja aceitar isso, nós temos acesso ao conhecimento dentro de nós. Os outros trazem-nos algo, mostram-nos muitos caminhos, mas somos nós quem tem de decidir o que aproveitar para a nossa vida porque somos nós quem tem de viver com o resultado das nossas escolhas. Só nós sabemos qual o nosso caminho e por melhores que sejam as intenções, os outros não devem empurrarnos na direcção que eles acham ser melhor para nós próprios ou que consideram ser a mais acertada. Cada pessoa é única, assim como a sua percepção. O que me faz lembrar uma história daquelas que nos chegam por e-mail e que já li há alguns anos. Era algo assim, embora possa ser contada de diversas maneiras... Uma professora resolveu dar uma aula diferente e levou os alunos, crianças pequenas, a uma experiência no exterior. Chegados lá, ela colocou uma pequena venda nos olhos dos pequenos, levou-os até ao pé dum elefante e disse-lhes para identificarem o que tinham à sua frente através dos seus sentidos. Os pequenos, todos à volta do elefante, tocavam-no e imaginavam o que seria. O pequeno que estava por trás do elefante, sentiu o rabo do animal e achou que era uma corda com toda a certeza, pois tinha-a sentido. Outro que estava junto a uma pata, disse ser o tronco duma árvore com toda a certeza, pois sentia a textura, a dimensão e o formato. Outro sentiu um dos dentes do elefante, outro sentiu uma orelha e por aí adiante, dizendo serem coisas diferentes... Cada um deles dizia estar certo, pois falava do que tinha sentido e nada lhe podia tirar essa certeza. Mas nenhum deles tinha uma visão geral, apenas uma parte do todo e sempre baseado no seu próprio conhecimento do universo. Cada um deles estava certo na sua percepção, apesar de todas serem diferentes e indicarem coisas diferentes, mas era apenas uma parte de algo muito maior. Só quando conheceram o todo, compreenderam o que os outros sentiram e lhes deram também razão. Tal como estes alunos, nós vivemos a vida com um véu a cobrir-nos os olhos, algo idêntico àquilo a que muitas filosofias chamam de Maya. Maya significa ilusão.

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Mas este véu é necessário para podermos percepcionar as coisas desta maneira e é útil na nossa caminhada. Embora uns possam usar um véu mais opaco que outros, todos nós estamos acertados nas nossas percepções. E é natural que estas percepções se vão alterando ao longo da nossa vida. Como muitas vezes são contradizentes e seja comum sentirmos esta certeza interior, julgamos que antes estávamos errados. Mas estaríamos errados ou estaríamos num outro local da nossa caminhada em que sentimos o mesmo elefante duma outra forma? Por duas opiniões serem opostas, não significa que apenas uma esteja correcta. Isso só funciona na lógica e a lógica é racional e matemática. A matemática aplica-se na vida, mas não chega nunca a ser a própria vida. Por isso existem também tantas religiões diferentes, tantas quantas as percepções da espiritualidade. Apesar de nenhuma delas ser a própria espiritualidade, elas são percepções diferentes dum todo que servem a cada um naquele ponto da sua caminhada. O que não faz com que cada uma delas deixe de clamar ser a única verdadeira. Então, voltando à questão inicial, muitas vezes podemos sentir a tendência de seguir um mestre exterior e esquecer o nosso próprio conhecimento, a nossa própria maneira de sentir

o

mundo.

Não

é

bom

apoiarmo-nos

em

alguém

por

muito

tempo

e

incondicionalmente. Dê espaço à sua intuição, assim como à sua razão (porque somos o 'equilíbrio' de ambas) e permita-se caminhar pelo seu pé. Sinta o entusiasmo de aprender e de chegar lá por si. É muito grande a tentação de impormos as nossas ideias aos outros porque gostamos deles e achamos que estas os podiam ajudar. Mas já lhe deve ter acontecido dizer a mesma coisa vezes sem conta a determinada pessoa e a ideia não entrar até que acontece algo e essa pessoa compreende por si própria. Então você pensa "mas eu cansei-me de te repetir o mesmo". Pois...! Mas a informação só entra no momento certo, da maneira mais apropriada para cada um e quando essa pessoa permitir. É bom que partilhemos as nossas ideias para podermos tirar as nossas conclusões e darmos a mesma oportunidade aos que nos rodeiam, mas devemos dar apenas as ferramentas para que essa pessoa possa construir por ela própria.

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Mundo Físico-Espiritual Há muito tempo atrás, li algures um texto sobre a nossa ligação com os outros no contexto espiritual e sobre o conceito do todo e da individualidade aparente. O autor deste texto fazia uma analogia interessante deste conceito. Experimente tamborilar os dedos sobre uma folha de papel. Olhando por debaixo da folha de papel, vêm-se quatro cabeças de dedos a tocar a folha parecendo ser todos independentes. Ao ver por baixo, não há forma de saber que eles pertencem todos a uma mesma mão, parecem ser quatro 'coisas' separadas, cada uma tocando o papel a seu tempo. Só por cima da folha dá para ver que são quatro dedos, todos da mesma mão, do mesmo corpo. Olhando a nossa espiritualidade sob esta luz, podemos entender que neste mundo tridimensional em que vivemos, aparentamos ser pessoas separadas dum todo, indivíduos... Mas nem tudo o que parece é. Podemos dizer que sob uma folha invisível que separa o mundo físico do mundo espiritual, vemos tudo o que nos rodeia como formas separadas. Se nós víssemos o que nos rodeia como parte de nós e nós parte do resto, um todo, não faria muito sentido qualquer experiência física. Isto porque nós necessitamos 'ser' entidades separadas para nos podermos

(enquanto

todo)

experienciar

de

muitas

formas

diferentes

(enquanto

indivíduos). O que nos leva ao eterno equilíbrio entre a luz e a escuridão, o bem e o mal, etc. A luz não sabe que é luz se sempre viveu no meio da luz e foi a única coisa que conheceu. Para saber o que é a luz, tem de ir até à escuridão e poder ver a diferença, ver o efeito que a sua luz tem à sua volta e então poder experienciar-se da forma que preferir para atingir algum objectivo maior. Quando estamos na mais perfeita escuridão, não vemos nada à nossa volta porque tudo o que nos rodeia faz parte dum todo, faz parte dessa escuridão em que estamos envoltos. E ao andarmos no meio da escuridão, podemos sentir que estão lá outras coisas ao tropeçarmos nelas, mas mesmo para sentirmos os objectos que nos rodeiam dentro desse escuro, precisamos poder sentir. Enquanto alma, espírito, ou como lhe queiramos chamar as coisas apenas são, não existem formas nem densidade, não existem conceitos, não existem sentidos, não existem sentimentos ou emoções, tudo apenas é. Então, para este todo se poder sentir, se poder conhecer, necessita separar-se, experienciar-se nas mais diversas situações e só o mundo tridimensional o torna possível. Possível de se sentir no outro, sentir a tristeza, a alegria, o amor, o ódio, a compaixão... Possível de se conhecer através da comparação entre o que é e o que não é, apesar de tudo fazer parte de si.

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No entanto, torna-se difícil, mesmo sem conceitos, experienciar aquilo que se conhece de uma outra maneira, conhecendo a verdadeira natureza do todo. É preciso olhar, sentir, vivenciar, como um bebé olha para o mundo à sua volta, sem saber o que esperar do resto do todo, melhor... sem se saber parte do todo. Assim, cada parte de si mesmo tem de 'esquecer' a realidade maior para poder apreender da melhor forma. Imagine que tem um jogo que o vai ajudar a atingir um determinado objectivo. Esse jogo consiste numa qualquer acção passada entre algumas personagens diferentes e você tem de escolher uma delas. Depois de escolher a sua personagem, o seu peão, encontra diversas situações ao longo do jogo nas quais tem de agir conforme esse papel que assumiu (do tal personagem), de outra forma o jogo não fará sentido e terminará. Mas torna-se difícil pensar como aquele personagem que nem sabe bem como é, uma vez que sabe fazer parte dum jogo. Torna-se difícil porque tem o conhecimento maior (do jogo) e tem o seu conhecimento, a sua forma de ser, pensar e estar. Então, para poder passar essas etapas que vai encontrando pelo caminho (cujo objectivo final é levarem-no onde quer que o jogo o leve) vai ter de entrar na pele desse personagem, agir como ele agiria, mas sem que o seu conhecimento anterior interfira. Assim conseguirá chegar ao fim do jogo e atingir o seu objectivo. Agora imagine que houve qualquer coisa que faltou jogar pelo meio porque se esqueceu ou não teve oportunidade e você quer passar por essas outras etapas para que o seu objectivo seja plenamente atingido. Então, você volta a jogar, criando as condições para que possam surgir essas etapas nas suas jogadas. Imagine, então, que está a jogar com mais pessoas e que jogam a feijões ou que vão criando créditos. E imagine que cada uma das suas jogadas pode criar um débito ou um crédito a um dos outros jogadores e viceversa. No final do jogo, mesmo sabendo que é um jogo, pode sempre jogar de novo para saldar os créditos e tentar equilibrar as coisas. Então, você volta a jogar. E vai tentar criar todas as condições para que as coisas se equilibrem. A vida não é nenhum jogo passado na arena dos Deuses do Olimpo que se divertem com as reacções inconsequentes (para si) das suas jogadas. Mas se lhe quiser chamar um jogo, não se esqueça que ele é o seu jogo, em que as suas jogadas podem criar equilíbrios ou desequilíbrios mais ou menos aparentes na sua caminhada, prolongando ou encurtando, mais ou menos, a caminhada até às suas metas finais.

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Pedras no Caminho Ao lidarmos com outras pessoas e com o mundo, vamo-nos deixando afectar por uma série de situações, não pelas situações em si, mas pelo que elas representam para nós. E de onde vêm estas conotações que lhes damos? De tudo aquilo que vamos apreendendo, que vamos racionalizando e dos significados que vamos atribuindo às coisas. É trabalho da nossa mente. E se por vezes nos dá jeito esta identificação automática duma situação, outras vezes caímos em erros crassos. A nossa mente é muito útil, mas nós pegámos em algumas funções mínimas – porque ela é capaz de muito mais e generalizámos os conceitos. Não damos sequer margem para manobra. Ao darmos os significados que queremos às coisas, por mais certezas que tenhamos, muitas vezes enganamo-nos. Mas continuamos a fazê-lo. Quando alguém nos diz algo que nos magoa, o que nos magoa realmente? São as palavras? Os actos? Ou são aquilo que representam para nós (palavras e actos)? Cada um de nós, enquanto indivíduo, tem experiências diferentes e significados diferentes para as coisas que experiência. Então já pensou que aquilo que certa acção representa para si, pode não significar o mesmo para o outro? E acha mesmo que o outro devia adivinhar o que representa para si? Já lho disse? Porque não adivinha o que a situação representa para o outro? E mesmo quando acha que o outro fez de propósito para o tirar do sério, porque o faz? Porque ele quer? Deixe-se afectar ou não, mas a responsabilidade é sua. Todas estas situações se vão tornando pesos no nosso caminho, pesos que carregamos por nossa vontade e, quer queiramos ou não, nos vão afectando para o resto da caminhada. Estes pesos são como pedras na nossa mochila que tornam o caminho mais duro, tornam cada passo mais difícil que o anterior porque o cansaço se vai apoderando de nós e, mesmo levando a mochila nas nossas costas e fora da nossa vista, aquele peso vai sendo cada vez mais aparente. Mas no dia em que decidimos deitar fora algumas dessas pedras sentimos um alívio enorme e o caminho parece-nos outro. Se a sua mochila levar muitas pedras, dificilmente conseguirá manter-se direito, verá cada obstáculo no caminho com uma dimensão muito maior, não se deterá para observar as flores. E quanto às suas relações com os outros? Experimente abraçar alguém com um peso enorme nas costas. Não conseguirá fazê-lo plenamente, não conseguirá mantê-lo... Mas a mochila é nossa e fomos nós que lá colocámos as pedras, cabe-nos a nós atirá-las fora ou transportá-las ao longo do caminho.

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Faça uma pequena experiência. Ao lidar com alguém, ao lhe dizerem algo sobre si ou sobre o seu trabalho, por exemplo, não estabeleça quaisquer tipos de correspondências com o que essa pessoa disse, não pense muito no assunto, não racionalize, apenas observe. Experimente até fazê-lo com um sentimento de amor ou compaixão pela outra pessoa. Sinta o efeito que tem em si. Depois, faça como costuma fazer, lembre-se de outras situações idênticas ou espere que aconteça alguma outra situação. Pense sobre isso, pense no que a pessoa quereria realmente dizer, nos pensamentos escondidos por trás das palavras, dê-lhes o significado que quiser. Sinta a diferença. Deixou-se afectar mais pela situação em si ou pelo significado que lhe atribuiu na sua mente? Pense bem no assunto, sinta e observe com sinceridade. Faça este exercício só para si, não tem que justificar os seus sentimentos e reacções a ninguém. É bom pensarmos sobre aquilo que nos dizem, estarmos abertos ao conteúdo das mensagens que chegam até nós das mais diversas formas, mas há que fazê-lo com peso e medida, não sobrevalorizando, não generalizando... Agora experimente, numa outra situação, perguntar à outra pessoa aquilo que quer realmente dizer, pergunte aquilo que não compreender, aquilo que lhe fizer confusão. Diga e pergunte o que lhe vai dentro. Mas sem se deixar levar pela sua mente e as suas conjecturas, observe apenas. Faça como uma criança na idade dos porquês, que não se cala perante as suas dúvidas tentando imaginar o significado de cada coisa nova e atribuindo os significados já conhecidos às novas situações (como nós geralmente fazemos). Sinta a diferença. Se calhar até reparou como uma situação não tinha nada a ver com aquilo que pensava, era até bem mais leve. E sentiu a diferença de peso? O acréscimo

de

peso

que

a

sua

mente

lança

para

dentro

da

sua

mochila?

Sente-se, relaxe, feche os olhos, respire fundo e veja-se a percorrer um caminho com uma mochila pesada às costas. Veja-se a abrir a sua mochila e tirar lá de dentro algo que uma situação provocou em si, a emoção/reacção/sentimento preso à acção que alguém teve para consigo, veja-se a colocá-la dentro duma bonita caixa, faça um embrulho bonito e ofereça de volta à pessoa que lho deu. Faça-o com amor, diga-lhe que já não precisa de carregar esse peso consigo e que o liberta. Veja a outra pessoa a aceitá-lo e observe a caixa a desaparecer já fora do seu alcance. Aquele peso desapareceu, já não o incomoda a si nem à sua relação com a outra pessoa, bem pelo contrário.

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Mesmo que não se lembre quem lhe provocou certa ‘reacção’ - por exemplo, ao longo da vida muitas pessoas dizem coisas que nos marcam, que nos ajudam a não gostar de nós próprios ou nos deixam hábitos que não queremos para nós – não se preocupe com o rosto da pessoa ou com o facto de ser um ou mais indivíduos, use essa personagem simbolicamente. Se for alguma preocupação não causada por alguém, experimente atirar esse peso para dentro de um poço à sua frente, ouça-o chegar lá no fundo e tape de novo o poço, afastando-se muito mais leve do que lá chegou. Sinta a diferença. Assim é, também, com as perdas na nossa vida. É difícil lidar com perdas seja a que nível for, seja a perda dum ente querido, a perda dum amigo (mesmo por uma qualquer discussão/divergência), a perda dum companheiro, duma situação... sejam estas perdas físicas ou não. Tudo passa pela forma de encarar as perdas e principalmente pela forma de encarar a vida. Muitas vezes essas perdas lembram-nos de todas as coisas que gostávamos de ter feito e não fizemos. Por isso é tão importante fazer as coisas consoante as vamos sentindo, ir dizendo o que vamos sentindo... Então, quando enfrentamos uma perda a qualquer nível é bom processarmos tudo aquilo que temos a processar para não carregarmos pesos desnecessários ao longo do nosso caminho. Veja-se na frente da pessoa que perdeu, fisicamente ou não, diga-lhe aquilo que acha que ficou por dizer, observe, sinta o amor crescer dentro de si e envolvê-lo a si e à situação. Agradeça a essa pessoa todas as coisas boas que lhe proporcionou e aceite a sua parte da responsabilidade de todas as coisas menos boas. Não se justifique de nada, não tem de o fazer, sinta apenas e seja o seu próprio observador. Deixe, então, essa pessoa partir com amor (diga-lho mesmo) porque o maior amor é quando se abre mão, é um amor não egoísta, é quando se dá asas para que quem se ama voe, mesmo que para longe de nós. Esse amor não dói, não magoa, o que faz sofrer são os limites que a nossa mente impõe ao nosso coração. Esse amor é o dar e não o receber. Veja esse amor como um belo pássaro que voa das suas mãos para o cimo duma árvore, que canta de alegria pelo seu acto de amor, que mostra a sua plumagem voando majestosamente pelos céus, iluminando o seu sorriso e o sorriso de todos os que o vêm atravessar os seus horizontes.

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Pode até parecer-lhe difícil fazê-lo, senti-lo, mas se essa for a sua vontade então será fácil. E a sua vontade é você que a dita, não o seu corpo, não a sua cultura, não a sua educação, não os outros, não a forma como os astros o ‘influenciam’... A sua vontade é sua, é aquilo que a mente lhe diz e que nem sempre anda de mãos dadas com a voz do seu coração. Centre-se no seu coração, deixe-o falar, deixe-o crescer, deixe-o tomar forma. Torna tudo muito mais fácil, torna a caminhada muito mais leve e prazerosa. Vá libertando a sua mochila aos poucos e tenha atenção em todas as pedras que lá vai colocando. Serão mesmo necessárias? Qual seria a diferença na sua vida se não as carregasse consigo? Seria melhor? Então porque as carrega? Do que tem medo? De esquecer algo ou alguém? De se magoar? Será que está a impedir que se magoe ou a impedir a felicidade de chegar até si?

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Pré-conceitos Há algum tempo vi uma notícia na televisão sobre o lançamento duma nova Barbie, diferente e sem preconceitos. Achei piada às respostas dadas na rua sobre se as mães comprariam aquela boneca às suas filhas. A Barbie vem em lingerie e tem até um cinto de ligas vestido, mas... nada mais que isso! Surpreendeu-me imenso que todas as mulheres entrevistadas tivessem dito que nunca comprariam uma Barbie daquelas às filhas apesar de a acharem gira. No dia seguinte presenciei também um comentário menos feliz feito a uma criança bem pequena sobre umas pessoas de cor que passavam na rua. Não criticando os autores, porque cada um segue a sua opção de vida, apenas pergunto se gostaremos do mundo com todas as discórdias e confusões existentes geradas pelo preconceito (ou préconceito). Como podemos dizer às nossas crianças para não dizerem isto ou aquilo porque é ‘feio’, para não fazerem assim ou assado porque não se faz, se os primeiros exemplos partem de nós? É algo tão simples e tão importante que influencia alguém talvez por uma vida inteira. E que reflexos poderão ter estes actos inconscientes no futuro de quem nos é mais querido? Quereremos nós dificultar-lhes as coisas? Já pensou em como cada um destes nossos

actos

e

palavras

irreflectidas

vão

crescendo

e

todos

juntos

fazem

a

comunidade/sociedade, o país, o mundo e se reflectem nas vidas de todos? Não é exagero pensar assim porque cada um de nós é uma semente e não podemos fazer algo só porque o outro também faz. Os actos dos outros não servem de desculpa à nossa preguiça. Cada um de nós faz parte do todo. Lembro-me de há uns 8 anos atrás fazer uma viagem de comboio com outras duas pessoas e uma delas ter atirado lixo pela janela. Bem... hoje sou bem mais calma, mas posso dizer que fiquei como os cães quando eriçam o pêlo da nuca! Lembro-me dessa pessoa me responder que a beira da linha já estava cheia de lixo!... Mas se estava cheia de lixo é porque há mais pessoas a pensar assim! Agora imagine se todos pensassem da mesma forma... vivíamos numa enorme lixeira. E lá porque os outros fazem, será que nós gostamos de ver as coisas assim? Bem, para quem gostar pode sempre fazer o mesmo em casa, mas deixar quietas as nossas ruas porque são comuns.

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Mas se eu não gosto, vou contribuir para que fique ainda pior? Vou dar o exemplo para ainda mais pessoas fazerem o mesmo? Ou vou dar o exemplo a quem quiser estar atento, sem impor os meus hábitos a ninguém, mas mostrando que existem diferentes formas de estar? Mostrar que se calhar não é assim tão difícil fazer a diferença porque se virmos bem, existem tantos que a fazem... Li algures, um dia, umas analogias que se aplicam muito bem... nós agimos como se tivéssemos vindo ao planeta Terra passar férias ou, melhor ainda, teimamos em permanecer na pausa para o café...! Pior é, ainda, quando fazemos tudo isto à frente de crianças... Crianças que vêm os adultos como os grandes que querem ser um dia. Mas, voltando à questão inicial, ao ver a notícia fiquei a pensar nos preconceitos criados logo desde cedo. Qual o mal duma Barbie em cuecas? Lembro-me duma das mães dizer que depois a filha gostava e queria andar assim vestida pela rua. Não que eu veja algum mal nisso, mas e se a mãe lhe oferecesse uma roupa para ela vestir por cima para mostrar à criança que aquela era apenas uma roupa interior muito bonita? Também não estou a dizer que devam comprar aquela Barbie só porque é diferente ou porque têm de ter o brinquedo novo, mas fiquei surpreendida com as reacções à mesma. Não digo que estejam certas ou erradas (conceitos muito subjectivos), mas realmente o mal está na cabeça de quem o vê. Nós vamos sujando o que uma criança tem de puro e depois não sabemos ‘onde é que elas aprendem essas coisas’.

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Rumos “Quando aprendes a falar contigo próprio verificas que a Comunicação com os outros melhora, amplia-se e enriquece-se.” Marta Cabeza Como podemos esperar comunicar com os outros se não comunicamos connosco? Como podemos dizer e mostrar aos outros o que queremos se nós próprios não sabemos? É importante olhar bem dentro de nós e ouvirmos o coração... ouvirmos com o coração. É importante sabermos onde estamos e onde queremos ir para que possamos direccionar os nossos passos no sentido certo para aquilo que queremos atingir. Se soubermos o que sentimos e no que acreditamos, se conhecermos a nossa essência, podemos ser melhor quem somos e comunicar melhor com os outros, sem dúvida alguma. E podemos fazê-lo ouvindo-nos a nós próprios, comunicando connosco... Ao longo da nossa caminhada vamos ouvindo, lendo, vendo, captando muitas coisas de inúmeras formas e, se não existir essa comunicação interior, vamos ficando confusos, vamo-nos enchendo das opiniões dos outros, das experiências dos outros, dos gostos dos outros... Vamos fazendo as coisas só por fazer, damos por nós a viver a vida só por viver, sem objectivos nossos. É importante pararmos e sentirmos qual é o nosso verdadeiro caminho, se aquilo que fazemos é uma vontade nossa ou exterior a nós. É importante sermos sinceros com nós próprios... sermos autênticos. Muitas vezes tendemos a fazer o que os outros esperam de nós, mesmo não indo de encontro às nossas vontades, e por vezes até achamos que o fazemos por motivos muito nobres. Mas e a nossa vida, quem a vive? Se nós não estivermos bem, em algum ponto do caminho olhamos para trás e lamentamos tudo o que foi feito. E em prol de quê?... de quem? É bom fazermos algo pelos outros sim, desde que estejamos a ser sinceros connosco e que seja esse o caminho que queremos tomar de coração. Dessa forma nunca nos poderemos arrepender do que fazemos, desde que cada passo seja consciente, verdadeiro, dado de coração. E se achamos que deixámos de nos ouvir a nós próprios, algures pelo caminho, temos sempre a oportunidade de endireitar o rumo dos nossos passos, para que eles nos levem onde queremos ir.

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Não deixemos de viver as nossas vidas por nada. Não é egoísmo, não é crueldade. É amor pelo nosso ser. Se estivermos bem, podemos deixar os outros bem com maior facilidade. Claro que se estamos bem, não conseguimos ver ninguém mal e é inevitável querermos ajudar, mas essa vontade virá de dentro, não será um sentido de dever ou obrigação. É tudo uma questão de equilíbrio. E se nós estivermos bem e equilibrados não cairemos em extremos nem em excessos. Por tudo isto e muito mais, é muito importante conhecermo-nos, sabermos quem somos e para isso devemos olhar para dentro e escutar com atenção.

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Pequenas Alegrias Já reparou que quando ouve uma música triste o seu humor tende a alterar-se mesmo que por momentos? Especialmente se for uma música de que goste e não resista a entrar na onda e até cantarolar. E se ouvir mais que uma? O seu humor permanece alterado por mais tempo. Também já deve ter reparado o contrário - que uma canção alegre tem o condão de lhe levantar o espírito e a moral, especialmente se gostar muito e se ouvir várias seguidas. Então, porque temos a tendência para ouvir músicas tristes quando estamos tristes? Será porque gostamos de estar nesse estado de alma? Hummm... E se quando estamos tristes experimentarmos ouvir um álbum inteiro de música alegre? É inevitável que o nosso humor melhore um pouco. Quando estou tristonha por algum motivo, existe algo que me deixa para cima. Sempre deixou. A mim o que me deixa feliz é ver uma mulher grávida ou uma criança pequena. Se a criança se ri para mim então, derreto-me no instante e a tristeza some de vez. E a si? Quando estiver triste, curta a tristeza porque tem uma razão na certa, mas não a prolongue. Não deixe de ver os sorrisos que a vida lhe mostra nem fazer a vida perder outros sorrisos. Não se agarre à sua tristeza. Leve o seu tempo a curti-la e assim que ela mostrar as suas asas deixe-a voar. A não ser que goste de se sentir triste... Mas se prefere estar alegre, aproveite cada alegria que encontra no seu caminho. Quando o seu cachorro o chatear a pedir festas (e falo nos meus exemplos), em vez de respirar fundo e lhe chamar chato, olhe-o nos olhos e deixe-se enternecer pelo olhar carinhoso que ele lhe lança num pedido de festas ou de brincadeira. E sinta um momento de alegria antes de voltar ao que estava a fazer. Verá que a vida lhe parecerá mais leve.

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Amor Amor. Muitas vezes temos medo desta palavra, temos medo de a aplicar no nosso discurso racional. E porquê? Não é amor o que sentimos pelos nossos pais, irmãos, filhos, avós...? Não é amor o que sentimos pela pessoa ao lado de quem caminhamos na nossa vida, pelos nossos amigos? Então qual a dificuldade? Talvez esta dificuldade tenha várias causas como a responsabilidade que achamos que vem junto. Responsabilidade por exemplo de fazer feliz quem nos ama. Mas será essa responsabilidade real e sensata? Não devemos nós ser os responsáveis pela nossa felicidade? Não o seremos? A felicidade é um estado de alma, não algo que possa ser dado, trocado, vendido ou comprado. A felicidade sente-se e enquanto seres que pensam, aprendem e apreendem, os nossos sentimentos não são constantes, são como as águas dum lago que reflectem e reagem à interacção do meio que as envolve. A felicidade tem de partir de dentro de nós mesmos. O que é para si ser feliz? É não ter problemas de ordem alguma? Conhece alguém que seja feliz dessa maneira? É não ter desilusões emocionais? É ter mais dinheiro? É ter mais saúde? Uns são felizes duma maneira, outros de outra. Geralmente achamos que seríamos felizes apenas duma outra forma... com aquilo que nos falta. Experimente olhar para trás na sua vida e recordar um momento de intensa felicidade como o nascimento dum filho ou o alcançar duma meta que há muito ansiava. Recorde toda a situação. Sente? Neste momento está feliz. E o que mudou? O seu estado de alma. Tudo o resto continua igual há momentos atrás. Assim é também com outras emoções e sentimentos. Experimente fazer uma meditação, sentindo cada um deles: alegria, tristeza, raiva, amor, felicidade... Se consegue sentir a emoção a qualquer momento é porque você e ela não são um só. O problema é que nos identificamos com as nossas emoções como se fossemos elas próprias, identificamo-nos com as nossas imagens de nós mesmos como quem olha a sua imagem reflectida no lago e pensa que é ele próprio. Exercite a sua capacidade de sentir, exercite a sua mente e seja feliz quando quiser. Outro motivo para a dificuldade no uso da palavra amor vem da nossa tentativa de o quantificar. Porque é que temos de gostar mais de uns e menos de outros. Porque é que há amor de mãe, amor de irmãos e amor de relação amorosa? Quais os diferentes graus de amor? Amor é puro, é querer bem... é tantas coisas que não existem palavras que o definam em toda a sua essência.

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A nossa forma de amar os outros pode ser diferente consoante a nossa experiência com cada pessoa e consoante todos os outros sentimentos e emoções que vêm junto, mas amor é amor. Não há amar mais ou amar menos, há experiências diferentes, há o sentir melhor ou não, há o haver mais oportunidades de o experienciar da melhor forma ou não... há n variáveis, mas amar não é uma delas. Claro que todo este conceito faz parte da minha forma de estar neste momento e nem todos partilham da mesma opinião, mas o objectivo é apenas fazê-lo pensar e não fazê-lo pensar da mesma forma que eu. Porquê ter medo da palavra amor? Porquê ter medo do próprio amor? O amor é puro, é intrinsecamente bom e é uma nossa característica inata. Só temos de soltar as amarras que colocamos intencionalmente nos nossos corações e deixá-los bater e correr livremente.

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Bem e Mal "Afinal o que é o Bem e o Mal? Que é o mal senão o próprio bem torturado pela sua fome e sede? Nós somos bons quando nos esforçamos por dar de nós próprios, mas não somos maus quando nos limitamos a procurar o lucro. Quando lutamos pelo lucro, somos simples raízes que se agarram à terra e sugam o seu seio, mas, tal como a fruta não pode dizer à raiz "sê como eu, madura e plena e sempre generosa", pois para a fruta dar é uma necessidade, como para a raiz receber é uma necessidade. Nós somos bons quando andamos rumo ao nosso objectivo, firmemente e com passos intrépidos; porém, não somos maus quando caminhamos coxeando. Pena é que as gazelas não possam ensinar as tartarugas! Para uns a ânsia de alcançar o seu EuDivino é como uma torrente que se precipita impetuosamente para o mar, carregando os segredos das colinas e as canções das florestas. Para outros, é uma corrente preguiçosa que se perde em meandros e serpenteia, arrastando-se antes de atingir a costa. Mas, tanto uns como outros alcançarão esse Eu-Divino." Kalhil Gibran, O Profeta

O que é o Bem e o Mal? São apenas conceitos, ou melhor, pré-conceitos que variam de pessoa para pessoa, de situação para situação. Já deve ter reparado que algo que considerou errado e mau no passado, já não tem esse significado para si. Use a justificação que usar, tenha o motivo que tiver, o seu olhar sobre essa situação mudou e a situação continua a ser a mesma. Então, podemos compreender que o bem e o mal de alguma acção se resume a ser bom ou mau para algum objectivo que queiramos atingir. O caminho certo ou errado depende da nossa meta. Nós queremos atingir algo e determinada acção pode ser errada por nos deixar mais longe do nosso objectivo ou uma escolha pode ser certa por nos ajudar a lá chegar. Mas como somos todos diferentes e não há um caminho igual (embora todos nos levem ao mesmo sítio) uma opção errada para um pode ser a mais correcta para outro. E ao pensarmos nisto, devemos elevar um pouco a nossa mente e espírito porque tem um alcance muito maior. Um crime, um suicídio, um erro, são opções certas ou erradas para determinada pessoa, em determinado momento, para atingir determinado objectivo. Julgar as acções dos outros é como entrar num filme a meio e sair antes do fim. Nós tendemos a catalogar tudo em certos padrões e achamos que esses padrões devem ser comuns. É muito fácil dizer aos outros o que eles deveriam fazer, como se deveriam

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comportar. Mais difícil é dar a cada um a sua opção de escolha e respeitá-la. Sem a raiz, a fruta não chegaria a existir e nem o meio que a envolve poderia desfrutar da sua bela e rica presença. Existe algo mais belo que ver uma flor desabrochar por si só? O maior Amor é quando damos liberdade ao que 'está separado' de nós, quando abrimos mão do nosso egoísmo e deixamos os outros crescerem e desabrocharem por mérito próprio. Este egoísmo de que falo não é o de querer as coisas para nós, não é que não queiramos dividir/partilhar, mas porque não queremos abrir mão da sua presença. O mesmo acontece quando perdemos alguém, sentimos dor porque queremos essa pessoa ao pé de nós, porque amamos essa pessoa. Mas o maior amor é quando deixamos essa pessoa ir, e quando lhe damos liberdade para ela viver a sua opção. É necessário um ritual de despedida, mesmo para a nossa mente, mas é necessário também deixar ir. Tem tudo a ver com viver o momento ou ficar agarrado ao passado. Nós agarramo-nos ao que passou porque todas as emoções que sentimos nos dão o sentido da vida, mas sentimo-nos mais vivos se vivermos cada momento e cada emoção nova que ele possa trazer. É muito fácil dizer o que queremos para os outros, mas e o que queremos para nós? A maior parte das vezes nem sabemos bem o que queremos. Será que nos concentramos nos outros apenas para não nos vermos a nós próprios? Para não sentirmos o peso da nossa responsabilidade? Para não assumirmos os nossos actos? Acho graça quando alguém diz que não podia ter feito diferente porque desde que se conhece que é assim. Acho graça porque nós não somos pedras e até uma pedra pode deixar que o vento e a água a mudem, tem essa opção. Nós temos a opção de ser de uma forma ou de outra. Pode ser difícil deitar fora todas as cascas com que nos protegemos ao longo dos tempos, tudo aquilo que fomos apanhando à nossa volta. As coisas não se fazem de repente. Mas é nossa opção viver com essas cascas ou libertá-las. Dizemos que alguém é assim ou assado porque teve uma determinada infância. É verdade que tudo o que nos rodeia nos vai moldando, especialmente enquanto crianças, mas mesmo a este nível temos a opção de ser assim ou libertarmos certo padrão quando tomamos consciência dele. Somos os cocriadores da nossa vida e devemos tomar consciência disso se queremos obter o melhor da nossa caminhada.

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Crianças Se tem ou já teve crianças pequenas em casa, ou se tem convivência com crianças pequenas, já deve ter reparado como elas aprendem as coisas muito depressa. Aprendem com tudo o que vêm. Lembro-me de coisas mínimas de algumas crianças com quem já lidei, como fazermos um som estranho para captar a atenção do bebé ou fazermos uma brincadeira qualquer e passado um bocado ou num outro dia dar com ele a fazer-nos o mesmo ou a aplicar numa brincadeira, mesmo só tendo feito uma única vez. Faz-nos pensar na enorme responsabilidade que temos ao lidar com crianças. Não apenas relativa àquelas coisas que se tem de ter em atenção com um bebé, mas relativa ao facto de sermos um ponto de referência na aprendizagem da criança, mesmo com crianças que não fazem parte do nosso dia a dia. Eu não tenho e ainda não tive crianças pequenas em casa a não ser de visita, mas tenho como exemplo o meu sobrinho, o meu afilhado, os filhos dos amigos... E deixam-me maravilhada com estas pequenas/grandes aprendizagens. É uma enorme responsabilidade a nossa. Quando eles são bebés aprendem muito mais rápido porque ainda não ergueram muros, barreiras, conceitos, preconceitos, mas ao longo da sua vida continuam a captar duma maneira incrível tudo aquilo que se passa à sua volta. Este processo passa é a ser cada vez menos consciente... por eles e por nós. Assim sendo, podemos aceitar a responsabilidade de que somos nós, todos os que rodeamos as crianças, que vamos sendo os seus exemplos e modelos de futuro. Como podemos dizer que a juventude é assim ou assado sem assumir a nossa responsabilidade? Claro que não deveremos generalizar, comparar nem exagerar, mas e se pensarmos nisso a sério? Basta uma reacção, um dia, na frente duma criança, para que ela saiba que aquilo pode ser feito. Claro que se não pudesse, não o faríamos, mas o que queria dizer era que ela pensa que aquilo está bem, que não gera consequências. Isto enquanto pequenas porque quando maiores, elas já criaram mais ou menos um conjunto de valores e padrões que usam para identificar as reacções dos outros e delas próprias. Mas esse conjunto de valores é formado por tudo o que viram / ouviram / sentiram antes de chegarem a esse ponto. Com que consciência ralhamos com uma criança que diz que o outro menino é mau porque não brincou com ela, se lhe dizemos a ela própria que ela é má ou feia se não come a sopa toda? Com que consciência damos um sermão a uma criança por ela ter batido noutro menino por não ter feito o que ela queria, se dizemos e mostramos que não

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gostamos da criança se ela se porta mal? Estes são exemplos muito gerais e que podem ter resultados diversos, mas são decerto os suficientes para nos darem que pensar. Como podemos esperar “acreditar” no amor incondicional enquanto adultos, se quando fomos crianças nos mostraram que o amor tinha hora, razão e lugar? Como podemos amar tudo o que nos rodeia se crescemos com desamores, ódios e rancores à nossa volta? Veja o que esses desamores lhe trouxeram, de que forma afectam a sua vida no presente, como a afectaram no passado? Não estou a dizer que tudo isso foi errado, pois tudo teve o seu contexto e foi o melhor que cada um soube fazer no seu momento. Nem interessa arranjar culpados para o que se passou, resta-nos sim aprender com isso, ver o que nos trouxe e usar essa aprendizagem da melhor maneira possível – corrigindo os nossos erros, construindo um outro futuro e, mais importante, um outro presente.

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Trocas Energéticas Falando de novo de energia, da energia de que somos feitos e nos envolve... existem as mais variadas formas de nos recarregarmos energeticamente. Uma das formas de nos alimentarmos de energia é através da comida. Mas acabamos por deixar com o corpo a função de tirarmos do alimento tudo aquilo de que precisamos. Tornamos a refeição automática, breve, complemento de outros afazeres, olhando-a com um mal necessário. E deixamos que o corpo cumpra a sua função, tirando toda a nossa consciência do processo. Pois...! Com o acumular e acumular destas e doutras situações, não nos podemos queixar se o corpo não cumprir as suas funções como desejaríamos. A refeição é uma das formas de repor os níveis energéticos do nosso corpo e deveria ser um processo consciente, absolutamente consciente. Sem pano de fundo de jornais ou novelas - com sentimentos dissonantes à mistura -, sem as conversas acesas e carregadas que nos tempos que correm vão sendo substituídas pela televisão, sem o engolir apressado que se segue duma digestão dura - quase sem a ajuda das funções da nossa boca, e com uma série de outros empecilhos resumidos pelo nosso constante estado de confusão mental e conversa ensurdecedora que acontece dentro de nós. Já reparou como muitas vezes está tão embrenhado nesta sua conversa interior que não dá pelo resto que se passa à sua volta? Nunca lhe aconteceu ter chegado a casa sem sequer se lembrar do que encontrou pelo caminho? Digo isto porque já me aconteceu muitas vezes ir a conduzir em direcção a casa, começar a pensar, ligar o piloto automático e apagar literalmente... chegava a casa e não me lembrava nem por onde tinha vindo... Usar estes empecilhos na hora da refeição não é muito saudável para nós. Na hora da refeição, como em qualquer outra tarefa, devíamos dedicar-nos exclusivamente à tarefa que temos em mãos, alimentarmo-nos. Deveríamos desligar todos os outros aparelhos, incluindo a nossa mente, e usar apenas o nosso corpo, os nossos sentidos, a nossa consciência no acto de nos alimentarmos. Se é fácil de dizer, também é fácil de fazer, é só querer. Nós não nos alimentamos da comida e sim daquilo que ela nos proporciona, o corpo tira do que ingerimos aquilo que precisa para gerar energia, começando de seguida todos os processos de transformação. Então, deveríamos ter cuidado com tudo o que ingerimos, mas era preciso que nos importássemos connosco! Este cuidado passa desde os alimentos, que são na sua maioria muito pouco naturais, passando por todo o tipo de processos antes de chegar na nossa casa e na nossa boca -

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cada um desses processos deixando a sua marca e tirando a sua contrapartida -, até à sua preparação, feita muitas vezes sem vontade, e nas condições já referidas (tv, confusão mental, sentimentos e energias dissonantes). Se tudo aquilo que fazemos é uma constante troca de energia, o preparar duma refeição também o é. Então, imagine-se a cozinhar pensando nas suas tristezas, raivas e angústias, impregnando a comida com esse tipo de energias e imagine o resultado ao ingerir toda essa miscelânea. Consegue imaginar? Agora imagine-se a preparar uma refeição com amor, com gosto, com atenção e carinho, pensando que vai absorver tudo aquilo que der naquele momento. Imagine-se, então, a comer esse preparado e a ingerir todos esses sentimentos bons ao mesmo tempo, impregnados na comida, essa atenção, essa serenidade... Viu a diferença? Faz diferença mesmo. Até num restaurante pode notar quando a comida o deixa para cima ou quando fica mal disposto sem sequer saber porquê. Imagine como estaria o cozinheiro ou cozinheira ao preparar as refeições. Estaria sereno, a fazê-lo com carinho, com gosto, com pensamentos positivos? Ou estaria irritado porque lhe tinha corrido mal o dia desde que se tinha posto a pé ou porque o gás tinha acabado na altura mais incómoda? Pois...! Pense um pouco naquilo que quer ingerir porque depois não pode escolher ingerir os sentimentos positivos e deixar os outros na beira do prato. Temos,

também,

a

nossa

respiração,

uma

outra

forma

de

nos

alimentarmos

energeticamente. Aí está outra função sobre a qual tomamos consciência apenas de tempos a tempos. Nós, literalmente, esquecemo-nos de respirar, a nossa respiração tornou-se superficial, carregando o mínimo de ar e de energia a um sistema que vive de ambos. Já reparou como respira um bebé? E já reparou como geralmente um bebé tem uma barriga mais desenvolvida que se vai alterando depois com o tempo? Vai-se alterando precisamente quando ele vai desaprendendo de respirar. Nós e a nossa estética, a que damos tanto valor, não queremos nem pensar nisso! Os bebés respiram pela barriga, ou melhor, expandido o abdómen. Eles inspiram profundamente, dilatando a barriga, e soltam longamente o ar. Nós temos uma respiração apressada, muitas vezes contendo-a e damos ao nosso corpo o mínimo possível deste sopro vital. Não é por respirarmos menos que deixamos de inspirar todas as porcarias que lançamos na atmosfera. Mas é respirando que damos ao nosso ser a oportunidade de retirar o máximo daquilo que inspira e que damos oportunidade de desatrofiarmos todos os músculos que quase dormem há décadas.

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Mas além da respiração e da alimentação, podemos retirar energia de tudo o que nos rodeia. Quantas vezes paramos um pouco para cheirar as flores, para olhar o sol, as nuvens, as estrelas? Quantas vezes paramos para olhar o mar, sentir o vento soprar na cara, sentir a areia debaixo dos pés, em suma, tomar consciência da beleza de tudo o que nos rodeia? Quantas vezes reparou naquela árvore imensa por que passa todos os dias a caminho do trabalho? E quanto tempo olha as gaivotas quando faz o percurso diário de barco? Vê-as pelo canto do olho ou fica a observá-las nos seus voos e mergulhos que acompanham o barco? Todos os dias, a cada instante, desprezamos estas formas de nos ligarmos ao que nos rodeia e recarregarmos as nossas baterias. Preferimos tirar energia dos nossos relacionamentos. Há-de reparar, por exemplo enquanto nos transportes ou no café, nas trocas energéticas inconscientes entre as pessoas à sua volta. Entre pais e filhos, entre amigos, companheiros, há sempre uma 'luta' energética. Mesmo numa simples conversa há uma luta pela razão ou simplesmente pela atenção do outro. Quando numa conversa com alguém, ao dar-lhe atenção, ao ouvir, está a dar energia ao outro, energia essa que deveria vir de volta, mas nem sempre assim acontece. Já deve ter reparado como se sente cansado, irritado ou algo parecido, depois de conversar com certas pessoas. E também já deve ter reparado que há certas pessoas que o deixam a sentir-se muito bem depois de ter estado ou falado com elas. É tudo uma questão de energias, não só o padrão vibratório dessa pessoa, mas também o equilíbrio ou desequilíbrio dessa troca que houve. Muitos relacionamentos não resultam devido a esta nossa má gestão de recursos. Num casal, a troca é inevitável e talvez na maioria das vezes há um membro dominante no casal. Esse membro vai-se alimentando da energia do outro, alimentando um desequilíbrio nessa troca. Muitas vezes, no início duma relação, ainda naquela fase de conhecimento, de exploração, ou mesmo por ser uma nova situação, não há essa necessidade, mas com o passar do tempo o espaço de cada um vai sendo cada vez menor e ambos vão recarregando as suas energias cada vez menos do que os rodeia e cada vez mais um do outro. Esta situação começa a ser muito pesada, a energia acaba por não ser suficiente para ambos, vem a fadiga e a inevitável instabilidade de humor. Muitos relacionamentos acabam sem se saber muito bem quando ou porque começaram as brigas e os conflitos. Começam até pelas coisas mais pequenas gerando a tal bola de neve. É muito importante que cada pessoa, enquanto parte integrante de um casal ou não, mantenha o seu espaço. Um espaço onde se possa movimentar à sua medida, sem entrar

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nos limites dos outros e sem que entrem nos seus limites. É necessário e não vai contra nada a não ser a necessidade de controlo, mesmo que inconsciente, de alguns outros indivíduos. Mantenha o seu espaço e deixe que o seu companheiro mantenha o seu. Isto é importante para o bom funcionamento da vossa relação. Nós não somos donos de ninguém, nem os pais dos filhos, nem os filhos dos pais, nem as mulheres dos maridos, nem os maridos das mulheres. É necessário compreender este pormenor para atingir a nossa felicidade. Cada indivíduo tem de experienciar a vida por si, errar por si, atingir a vitória por si. Claro que nós podemos ajudar os outros naquilo que pudermos, 'devemos' mesmo fazê-lo, mas ajudar o outro não significa fazer as coisas por ele. Ajudar o outro pode ser mostrando-lhe onde pode encontrar uma bicicleta para chegar mais depressa ao seu destino, apontar-lhe a direcção que o leva onde ele quer ir (não por onde nós achamos que ele quer ou deve ir) ou por vezes até oferecendo-lhe o transporte, mas não lhe colocando os pés nos pedais da bicicleta ou segurando-lhe o volante numa dada direcção. Deixe que o outro (seja pai, mãe, filho, amigo...) escolha o seu próprio caminho, mesmo que este não seja paralelo ao seu. Mesmo que lhe pareça ser o caminho errado a tomar, certifique-se apenas de que ele sabe onde aquele caminho o leva (a ele, não a si) e sintase feliz por ele estar no caminho que escolheu para a vida dele e por ser o caminho que o faz feliz. Quem sabe até se o caminho dele não volta a se aproximar do seu, trazendo-o mais enriquecido? Já viu se todos nós caminhássemos na mesma direcção, na mesma altura, não faria sentido sequer haver o caminho, estaríamos todos parados no mesmo ponto sem sítio para onde ir. Assim temos muitas opções e cabe-nos mostrar a nós próprios o melhor de nós mesmos e do nosso sentido de orientação. No fim do caminho, podemos ver se realmente nos levou onde pensávamos. Se não levou, só temos de olhar para trás, ver onde devíamos ter virado ou não, aprender com a caminhada e encontrar um outro caminho, uma outra forma de lá chegar. Raramente nos levará onde os outros disseram que nos levava porque os outros não vêem pelos nossos olhos nem experienciam através da nossa vida e não existem duas mentes ou corpos em todo o mundo que sejam exactamente iguais. Mas podemos e devemos permanecer abertos ao que os outros nos mostram da sua experiência de vida, não julgando - porque nunca vamos poder estar naquele momento em que eles estiveram exactamente na mesma pele em que eles estiveram - mas apreendendo, retirando o que quer que faça sentido para nós e que queiramos experienciar por nós próprios ou não.

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Então, não vale a pena forçar o outro a mudar e a gostar do mesmo que nós gostamos, podemos, sim, mostrar-lhe o que é e dar-lhe a sua oportunidade de escolha, respeitando a sua opção. É preciso respeitar a individualidade aparente de cada um. E ao ajudar o outro, faça-o apenas porque quer, sempre. Ao ajudar sempre porque quer não cai no erro de cobrar a ajuda que prestou. O outro não lhe deve nada, nem você deve nada ao outro. Essa cobrança é outra responsável por muitos atritos em muitos relacionamentos. Para que só possa acontecer aquilo que já alguém dizia: "arrependa-se daquilo que não fez e nunca daquilo que fez", faça com que os seus actos sejam coerentes consigo mesmo. Pense em tudo isto, pense em como consciente ou inconscientemente controla as suas relações ou se deixa controlar por elas, pense em si, pense no outro, pense no que sente, pense no que o outro sente, pense naquilo que quer na sua vida e qual o melhor caminho neste momento que o leve até lá, pense de que formas se alimenta de energia, pense de que formas de energia se alimenta, pense como pode melhorar esse recarregar de energias... pense! Pense, mas não se perca a pensar... encontre-se. Mantenha o foco, mantenha a sua atenção, mantenha a sua consciência naquilo que faz, naquilo que sente, naquilo que pensa, naquilo que vê... naquilo que é. E apenas seja!

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Diversão Muitas vezes se tem uma ideia errada de que espiritualidade é sinónimo de seriedade. Espiritualidade é sinónimo de seriedade no sentido de responsabilidade perante a vida, mas não significa que não seja também sinónimo de muitas outras coisas como brincadeira e diversão. As pessoas estranham quando vêm que alguém dedicado ao seu lado mais espiritual tem imenso sentido de humor, mas isso não significa que essa pessoa não leve as coisas a sério. Há brincar e brincar. Uma coisa é literalmente brincar com a nossa vida e não a aproveitar. Outra coisa diferente é ir brincando ao longo da vida. Se em cada tarefa colocarmos um pouco de diversão, as coisas mudam radicalmente. Sorria mais... brinque mais... Deixe-se envolver por um simples espirro. Já reparou como os bebés se divertem quando descobrem o espirro? Com a idade e o hábito, acabamos por banalizar este pequeno gesto, mas espirrar é divertido! Descobri isso com uma criança. É algo que sai do nosso controle, é espontâneo, é intenso, faz cócegas, sabe bem, liberta... Já experimentou dar os bons dias ao sol? Ele dá-lhe os bons dias a si! Experimente dizer bom dia ao primeiro pássaro que vê pela manhã. Experimente dizer bom dia às suas plantinhas. Experimente dizer bom dia ao escritório quando é o primeiro a chegar. É divertido! Sabe bem. Deixa-nos bem-humorados. E quando estamos bem-humorados, divertidos, as coisas correm muito melhor e podemos descobrir o nosso lado espiritual em cada pormenor diário. Pode tornar estes pormenores monótonos ou não. A escolha é sua. Sei bem que nem sempre é fácil. Por vezes, deixamo-nos levar tão longe pela nossa mente que é difícil ficar no agora e encontrar o nosso centro. Mas assim que damos por isso, temos a oportunidade de escolha para centrar a nossa atenção na direcção que queremos... ou não. Então?!... Ânimo leve! Divirta-se com os pormenores mais simples da vida. Brinque ao longo do seu caminho sem que isso desvie a atenção do seu rumo e no caso de isso acontecer... é só voltar a corrigir a direcção. É comum olhar-se para trás e ver que queríamos muito ter feito algo de certa maneira e nunca chegámos a fazer por este ou por aquele motivo. Então, não é

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importante atribuir culpas, mas sim pô-lo em prática. Porque não? Já não pode? Ou já não quer? Se não quer, não vale a pena lamentá-lo. Se quer, faça-o. Vai sempre a tempo. A nossa espiritualidade deve ser posta em prática, não é só tecer teorias. É fácil falar sobre as coisas, o difícil é fazê-las. É fácil darmos conselhos sobre a melhor forma de levar a vida, dizer aos outros como deveríamos fazer as coisas, mas no que toca a colocá-los em prática as coisas mudam de figura. É fácil deixarmo-nos envolver por certos padrões e perdermos de vista as nossas convicções, mas também é muito fácil termos essa consciência. É só aproveitar essas tomadas de consciência para voltar a corrigir o nosso rumo. E é muito mais proveitoso e prazeroso do que ficar de braços cruzados só porque nos achamos numa posição confortável. Então ponhamos em prática aquilo em que acreditamos. Se acha que devia haver mais amor e compaixão, coloque mais amor e compaixão em tudo o que faz e na sua forma de lidar com os outros. Se acha que o mundo não devia ser tão egoísta, deixe os seus egoísmos de lado e partilhe mais da sua verdadeira essência com os outros. Quando falamos em partilha não é só no aspecto material da vida, é também a partilha de nós próprios, da nossa vida, das nossas emoções, sentimentos, alegrias, amores, momentos... Então... espiritualidade não é reclusão, celibato, ausência de riso, solidão... Espiritualidade é vida, é ser em total consciência e plenitude.

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O Casamento Afinal o que é o casamento? É um tema muito subjectivo, chegando mesmo a ser polémico, mas na minha maneira de ver é uma união entre duas pessoas que se amam. E será necessário provar essa união, esse amor? Não vejo o casamento como um contrato e, por isso, faz-me confusão o assinar de papéis. Não existindo razão para provar a quem quer que seja se um casamento foi realizado ou não, acho que o acto em si serve ou serviria apenas para mostrar ao mundo a felicidade dos dois ou como uma consagração do amor do casal. Mas na prática não é isso que acontece. Por muito frio que possa parecer o meu comentário, acho que hoje em dia quase só se casa por tradição, por costume. O casamento tornou-se na cerimónia, no contrato pré-nupcial, nos votos... A maior parte das pessoas que casa pela igreja, fá-lo porque fica bem, fá-lo porque os outros esperam que o faça, fá-lo porque existe um sonho herdado da noiva entrar de branco na igreja, fá-lo porque é bonito. Correndo o risco de parecer demasiado frívola, acho todo o ritual muito hipócrita. Atenção que não estou a falar das pessoas, mas do acto

em

si.

As

pessoas

deixam-se

levar

por

inúmeros

factores,

muitas

vezes

inconscientemente. Quanto à situação, poucas são as pessoas que sentem de facto aquilo que estão a fazer em toda a sua dimensão. As pessoas casam porque está assim instituído, porque uma união de facto ainda não é muito bem vista perante a sociedade. Porque, porque, porque... Na maior parte das vezes, os noivos nem seguem ou sequer acreditam na religião, tentando escapar o máximo às reuniões de preparação para o matrimónio. Então porquê fazer algo em que não se acredita? A noiva, ou alguém por ela, gasta um balúrdio num vestido que servirá um só dia quando muitas vezes falta tanto do básico... Muitas pessoas são capazes de sacrifícios por este símbolo, muitos se endividam por isso. E já nem entro no campo dos símbolos porque o vestido branco simboliza algo que já não faz sentido nos dias de hoje... tornou-se apenas numa vaidade. E não critico essa vaidade se é algo feito de coração... Gastam-se disparates numa recepção que só serve para mostrar que seguimos a tradição. Onde geralmente se convidam pessoas que já nem se vêem há imenso tempo, mas que fica bem convidar. Pela qual outros ficam ofendidos porque não foram convidados. Na

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minha opinião faz muito mais sentido ser uma comemoração a dois ou com aqueles de quem gostamos muito e que gostam muito de nós. Não acredito que os noivos se dêem assim tão bem com as 70 ou 150 pessoas que convidam para o casamento. Seja a razão porque fica bem ou porque significa uma lua-de-mel mais longe. Não estou desgostosa com nenhuma situação, não houve nenhum casamento que me tenha corrido mal (estou muito bem neste ponto do meu caminho), embora possa parecer... Simplesmente é a minha forma de ver as coisas até este momento. Mas existem mais coisas com que não concordo, como por exemplo com os votos que se fazem no altar. Primeiro porque não foram escolhidos pelos noivos. É algo que está instituído e quem vai casar ‘tem’ de dizer o sim àquilo que foi decidido que estaria bem (seja de que forma for e por quem for, o meu objectivo aqui não é discutir religião... não tenho absolutamente nada contra). Mas não foram os noivos - quem vai aceitar os votos quem decidiu aquilo a que vão dizer que sim. É certo que o fazem porque querem, mas farão de total consciência? Ou será porque é o que todos fazem? Então porquê fazê-lo por fazer? Será melhor prometer algo sem convicção? Fazer promessas vãs não prejudica só aqueles a quem fazemos as promessas, mas antes de mais a nós próprios. Não digo que o casal não gostasse de cumprir de alguma forma aquilo com que se compromete nesse momento, mas cumprir é algo muito diferente de fazer de coração e isso só sabemos no momento porque cada momento é diferente. Nós sabemos muito bem que a vida é feita de escolhas e é uma constante mudança e sabemos que muitas escolhas que fizemos no passado já não fazem o mínimo sentido no presente. Então como nos podemos comprometer com algo para o resto da vida sabendo isto? Sabendo que na vida tudo está em evolução... sabendo que corremos o risco de mudar de ideias em relação a tudo? E não é só uma questão de mudar de ideias, de achar que queria casar e depois já não querer, vai mais além do que isso. Nós crescemos, amadurecemos, evoluímos a cada passo do nosso caminho. É natural que as nossas ideias, pensamentos, objectivos também se vão desenvolvendo e evoluindo em direcções diferentes. Tendo tudo isso em mente, tendo em mente a quantidade de divórcios que existem, tudo aquilo que nos vai acontecendo ao longo do caminho por esta ou aquela razão, serão estes votos sinceros? Não será preferível fazer um voto sincero, estar numa relação de alma e coração? Será que não se evitariam muitos problemas causados pela obrigação, pelo compromisso tomado um dia em que tudo era diferente? Quantas histórias já ouvimos de casais que viveram felizes tantos anos até ao dia em que se casaram legalmente? Porque será que isso aconteceu quando a única coisa que mudou

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foi a assinatura no papel? Dá que pensar, mesmo sabendo que cada caso é um caso e que existem outros factores. Esta forma de ver as coisas não implica a anarquia numa relação, não implica a falta de compromisso ou responsabilidade (que são coisas muito diferentes), não implica relações etéreas, passageiras ou menos verdadeiras... De forma alguma! Não significa que uma relação não dure para toda a vida, se calhar até dura mais sem o peso dos votos e obrigações sobre os ombros porque os dois sabem que estão pelo puro prazer de estar, se é que me faço entender. Significa, isso sim, fazer algo de coração, estar por completo numa relação, numa situação, por escolha própria. Como em tudo o resto na vida... Hoje em dia já é um pouco diferente, mas existe uma idade própria para se casar, existe uma idade própria para se constituir família, ter filhos... existe uma idade para estudar, uma idade para começar a trabalhar... Não vou entrar em detalhes porque a responsabilidade nada tem a ver com a obrigação. O sentido de responsabilidade está em cada um de nós, não se pode obrigar ninguém a ser responsável e é claro que também não significa que deixemos de incutir esse sentido nos outros ou que sejamos demasiado permissivos em relação ao que se passa à nossa volta. Mas porquê seguir um padrão? Porque é que cada um tem de ser e fazer como os outros à volta? Porque fica mal se assim não for. Porque fica mal ser diferente. Não tenho problemas em admitir que já estive prestes a seguir o mesmo que todos os outros, por assim dizer, só pela sensação que tinha de seguir na mesma direcção. Confesso que tive casamento marcado e que mesmo estando de alma e coração na relação e não esperando que algum dia as coisas corressem menos bem, aceitei seguir algo em que não acreditava. Confesso que já antes pensava assim em relação ao casamento, mas me deixei levar pelo que ficava bem, pelos desejos daqueles que gostam de mim. Mas, mesmo não tendo sido por isso que não o tenha feito, temos oportunidade de escolher a cada momento, temos oportunidade de parar e nos centrarmos no nosso ser e fazer aquilo em que realmente acreditamos. A cada momento temos a oportunidade de escolher como nos queremos experienciar e estas tomadas de consciência são mesmo muito importantes. Especialmente se não queremos um dia olhar para trás e ver como desejaríamos que tudo tivesse sido diferente. Se dermos cada passo (ou o máximo) com consciência e vivermos cada situação verdadeiramente, tudo será diferente. Neste momento não o faria pelos outros, seja casar ou o que for. Escolho fazer apenas aquilo em que acredito. Porque o meu caminho é muito importante para mim e, não

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desrespeitando os caminhos de ninguém, especialmente daqueles de quem gosto, vou procurar sempre fazer as coisas da melhor forma para mim. Existem coisas que podemos fazer pelos outros, mesmo não sendo aquilo que procuramos, mas que fazemos porque queremos fazer e isso não vai contra tudo o que disse antes. Mas significa não fazer por obrigação ou muito menos com sacrifício. É do pior que podemos fazer a nós próprios e aos outros. Não é nenhuma forma de egoísmo. Tenho a certeza que não gostaria de saber que alguém fez alguma coisa por mim contrariado ou com sacrifício. Dificilmente qualquer um de nós gostaria. Quando duas pessoas se amam e querem caminhar lado a lado não precisam de o fazer de certa maneira só porque é o costume. Precisam, isso sim, não deixar de ser quem são e encontrarem-se cada vez mais a si próprias, seguindo de acordo com o que sentem, com o que acreditam, com o que a intuição lhes diz. Se forem sempre sinceros um com o outro e consigo próprios a cada momento, tenho a certeza que a relação chega mais longe e mesmo havendo uma separação ao longo da caminhada, terá valido cada momento, terá valido mais do que muitas relações mais longas porque foi realmente vivida. Fui criada de uma forma muito convencional, tenho os meus pais casados um com o outro e cresci numa família dentro do conceito de normalidade da sociedade, mas a tradição já não é o que era e penso duma forma um pouco diferente, como muitos outros, mas diferente do convencionado, do padronizado. É algo muitas vezes difícil, mas tento sentir mais do que pensar. Acho que o casamento não é aquela assinatura perante a lei e sim todo um conjunto de situações e formas de estar a dois, não concordo com os votos que são feitos quando se casa – como é que se pode prometer a alguém que se vai ficar junto até que a morte os separe se a vida é uma constante mudança e os caminhos de duas pessoas se podem afastar radicalmente a qualquer ponto do caminho? Não significa que não se queira estar junto, que não se goste o suficiente para querer ficar junto até ao resto da vida com aquela pessoa, mas é uma questão de consciência. Nós não sabemos como será o futuro e por vezes os nossos passos levam-nos para caminhos bem diferentes. Imagine que duas pessoas se amam e caminham lado a lado e ao longo caminho, naturalmente, os seus caminhos vão-se afastando muito um do outro até estarem tão longe, serem tão diferentes, que o continuar juntos implica o sacrifício de umas das partes, sacrifício de ideais, de sonhos, de partes de si mesmo. Preferia anularse para manter essa relação? Preferia que o outro se anulasse para continuarem juntos? Ou preferia que ambos se experienciassem no seu melhor, seguissem o seu caminho e suas aprendizagens? Quem sabe mais tarde os caminhos não se encontrariam de novo? Deste modo, ao olhar para trás é sempre com alegria e sensação de realização e plenitude e nunca de forma pesarosa e dorida. O hoje não volta mais e só temos uma oportunidade

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para viver cada experiência. A experiência seguinte já será outra. Cada passo nosso nos trás sempre algo. E mesmo havendo uma separação em algum momento no nosso caminho, se formos sempre verdadeiros e estivermos no momento com consciência, essa separação não poderá ser dolorosa. E se duas pessoas que se amam, casassem só porque lhes apetecia muito celebrar o seu amor e o fizessem duma forma muito sua, rodeadas de quem realmente queriam ou mesmo sozinhas, escolhessem fazer votos ou não, mas que pelo menos os fizessem de coração e consciência, com as suas próprias palavras e sentimentos? E se duas pessoas que se amam se unissem duma forma diferente do tradicional, fazendo apenas aquilo em que acreditam, fazendo da sua forma de estar a dois o casamento? Não vai contra as leis do homem e muito menos contra as leis de Deus, que são as leis do Amor e na certa encontrariam uma forma de experienciar duma maneira mais bonita e enriquecedora porque tudo seria único, verdadeiro, no momento. Não é uma utopia. Cabe a cada um de nós escolher experienciá-lo ou não. Eu escolho viver em plenitude, procurando fazer que cada momento seja eterno enquanto dure. E você, o que escolhe? Ficou tanto por dizer que precisava se tornar uma conversa a dois!

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FICHA TÉCNICA: Título: Consciência do SER Autor: Sofia Morgado Contacto: [email protected] Por: http://www.universodeluz.net Foto da capa por: Sofia Morgado Copyright © 2003 Sofia Morgado

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